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Ideologia e Poder_Ebook

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Prévia do material em texto

Prof. Me. Gil Barreto Ribeiro (PUC Goiás)
Diretor Editorial
Presidente do Conselho Editorial
Dr. Cristiano S. Araujo
Assessor
Larissa Rodrigues Ribeiro Pereira
Diretora Administrativa
Presidente da Editora
CONSELHO EDITORIAL
Profa. Dra. Solange Martins Oliveira Magalhães (UFG)
Profa. Dra. Rosane Castilho (UEG)
Profa. Dra. Helenides Mendonça (PUC Goiás)
Prof. Dr. Henryk Siewierski (UnB)
Prof. Dr. João Batista Cardoso (UFG Catalão)
Prof. Dr. Luiz Carlos Santana (UNESP)
Profa. Me. Margareth Leber Macedo (UFT)
Profa. Dra. Marilza Vanessa Rosa Suanno (UFG)
Prof. Dr. Nivaldo dos Santos (PUC Goiás)
Profa. Dra. Leila Bijos (UnB)
Prof. Dr. Ricardo Antunes de Sá (UFPR)
Profa. Dra. Telma do Nascimento Durães (UFG)
Profa. Dra. Terezinha Camargo Magalhães (UNEB)
Profa. Dra. Christiane de Holanda Camilo (UNITINS/UFG)
Profa. Dra. Elisangela Aparecida Pereira de Melo (UFT)
Maria Iracilda Gomes Cavalcante Bonifácio
Goiânia - Goiás
Editora Espaço Acadêmico
- 2020 -
1ª edição
IDEOLOGIA E PODER:
uma análise do discurso dos jornais O Rio Branco e 
Varadouro durante a Ditadura Civil-Militar (1977-1981)
Copyright © 2020 by Maria Iracilda Gomes Cavalcante Bonifácio
Editora Espaço Acadêmico
Endereço: Rua do Saveiro, Quadra 15, Lote 22, Casa 2
Jardim Atlântico - CEP: 74.343-510 - Goiânia/Goiás
CNPJ: 24.730.953/0001-73
Site: http://editoraespacoacademico.com.br/
Contatos:
Prof. Gil Barreto - (62) 98345-2156 / (62) 3946-1080
Larissa Pereira - (62) 98230-1212
Revisão: Paula Regina Moura Leão da Silva e Reginâmio Bonifácio de Lima
Editoração: Franco Jr.
Imagem da capa: Pixabay / Devanath - Sandid
CIP - Brasil - Catalogação na Fonte
B715i Bonifácio, Maria Iracilda Gomes Cavalcante.
Ideologia e poder : uma análise do discurso dos jornais O Rio Branco 
e Varadouro durante a ditadura civil-militar (1977-1981) [livro eletrôni-
co] / Maria Iracilda Gomes Cavalcante Bonifácio. – 1. ed. – Goiânia : 
Editora Espaço Acadêmico, 2020.
115 p. ; E-book
Bibliografia
ISBN: 978-65-00-01173-9
1. Imprensa - Acre - ditadura militar. I. Título. 
CDU 070:321.6(811.2)
O conteúdo da obra e sua revisão são de total responsabilidade do(s) autor(es).
DIREITOS RESERVADOS
É proibida a reprodução total ou parcial da obra, de qualquer forma ou 
por qualquer meio, sem a autorização prévia e por escrito dos autores. 
A violação dos Direitos Autorais (Lei nº 9.610/98) é crime estabelecido 
pelo artigo 184 do Código Penal.
Impresso no Brasil | Printed in Brazil
2020
5IDEOLOGIA E PODER: uma análise do discurso dos jornais 
O Rio Branco e Varadouro durante a Ditadura Civil-Militar (1977-1981)
A Deus, refúgio e fortaleza em todos os momentos;
A meu esposo, Prof. Dr. Reginâmio Bonifácio de Lima, co-orientador 
desse trabalho, pelo amor dedicado e por me fazer acreditar que é possí-
vel construir um mundo melhor para as gerações futuras;
A minha família pelo apoio e incentivo em todos os momentos. 
Meus pais: Selmo e Sebastiana pelo carinho e apoio nos momentos difí-
ceis, me ensinando a trabalhar com honestidade e a lutar pelas coisas nas 
quais acredito;
A minhas princesas, vovós Julieta (in memorian) e Luzia, que me 
fizeram apaixonar pelas histórias de outrora;
A meu irmão Erivan, minhas irmãs Edilene, Edileuza, Etilene, Ire-
nilza, minha irmã e bolsista Selyana, aos meus sobrinhos Thaylinne, João 
Marcos, Karoline, Ester, Emanuelle, Gabriel, Allys Beatriz, Stive e Kel-
ven, que proporcionaram o suporte moral, emocional e contribuíram di-
retamente para esta realização;
A Prof.ª Dr.ª Simone de Souza Lima, pelo incentivo e preciosa 
atenção durante a pesquisa, ajudando a pensar o discurso como marca 
identitária dos sujeitos dessa pesquisa;
A Prof.ª Dr.ª Margarete Edul Prado de Souza Lopes, pelas ricas 
contribuições que nos levaram a pensar no importante papel da mulher no 
contexto da História Acreana;
Ao Prof. Dr. Elder Andrade de Paula pelas sugestões que muito 
ajudaram na elaboração do texto final do trabalho;
Aos servidores do Museu da Borracha, Biblioteca Central do Esta-
do, CDIH e Biblioteca da Ufac, pela disponibilização do material analisa-
do e referências bibliográficas, bem como pela presteza no atendimento;
AGRADECIMENTOS
6
Maria Iracilda Gomes Cavalcante Bonifácio
IDEOLOGIA E PODER: uma análise do discurso dos jornais 
O Rio Branco e Varadouro durante a Ditadura Civil-Militar (1977-1981)
À senhora Odília Andrade da Silva, servidora do Museu da Bor-
racha, pelo reconhecimento do valor do patrimônio histórico com o qual 
trabalha e por tão prestativamente ter nos auxiliado durante anos de pes-
quisa, sempre sendo solícita e atenciosa;
Ao amigo Johny, da Karine Cópias, pela impressão das várias ver-
sões de esboços desta obra e apoio com os materiais de pesquisa;
Aos jornalistas que atuaram nos jornais acreanos durante a Ditadu-
ra Civil-Militar, sobretudo nos jornais que enfocamos neste trabalho, Va-
radouro e O Rio Branco, por transporem para as páginas dos jornais os 
embates e lutas políticas vivenciados pela sociedade acreana neste tão di-
fícil momento da História do país;
A todos que colaboraram direta e indiretamente para a elaboração 
deste trabalho, sem os quais não teria conseguido obter êxito.
7IDEOLOGIA E PODER: uma análise do discurso dos jornais 
O Rio Branco e Varadouro durante a Ditadura Civil-Militar (1977-1981)
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO À SEGUNDA EDIÇÃO.............................................. 9
PREFÁCIO À PRIMEIRA EDIÇÃO ....................................................... 11
APRESENTAÇÃO ............................................................................... 14
Capítulo I: OS DISCURSOS E OS EDITORIAIS ............................... 20
 ♦ A trajetória da imprensa riobranquense (1900-1985) ........................ 24
 ♦ A imprensa familiar e o jornalismo opinativo (1900-1929) ............... 25
 ♦ A era dos manuais de redação (1930-1962) ........................................... 29
 ♦ O jornalismo informativo: a ditadura do lead (1963-1985) ............... 31
Capítulo II: COMUNICAÇÃO, IDEOLOGIA E PODER NO 
CONTEXTO DA DITADURA CIVIL-MILITAR ................. 36
 ♦ A Ditadura Civil-Militar no Brasil e sua influência no sistema 
de comunicação da Amazônia Ocidental ............................................... 36
 ♦ A Ditadura Civil-Militar no Acre e sua influência na imprensa 
escrita ................................................................................................................... 43
8
Maria Iracilda Gomes Cavalcante Bonifácio
IDEOLOGIA E PODER: uma análise do discurso dos jornais 
O Rio Branco e Varadouro durante a Ditadura Civil-Militar (1977-1981)
Capítulo III: VARADOURO e O RIO BRANCO: A REPRESENTAÇÃO 
DOS SUJEITOS ATRAVÉS DO DISCURSO .................... 60
 ♦ A luta pela terra no Acre e os embates entre os sujeitos ................... 60
 ♦ Os movimentos sociais urbanos em Varadouro e O Rio Branco....... 71
 ♦ A Amazônia e a questão indígena: duelos no discurso da 
imprensa escrita acreana ............................................................................... 84
 ♦ A representação da luta pela sobrevivência nas “periferias” 
de Rio Branco ..................................................................................................... 98
 ♦ O discurso nas redes do poder ..................................................................107
REFERÊNCIAS ................................................................................. 110
 ♦ Entidades ..........................................................................................................113
9IDEOLOGIA E PODER: uma análise do discurso dos jornais 
O Rio Branco e Varadouro durante a Ditadura Civil-Militar (1977-1981)
“(...) o sentido de uma obra (ou dum texto) não pode fazer-se sozi-
nho; o autor nunca produz mais do que presunções de sentido (...). 
Todos os textos dados aqui são como elos de uma cadeia de senti-
do, mas essa cadeia é flutuante”.
Roland Barthes 
Ideologia e Poder é uma obra que nasceu de um anseiode com-preender fragmentos de uma memória traumática vivenciada no Brasil do período da Ditadura Civil-Militar. Se hoje esse momen-
to histórico ainda apresenta inúmeras lacunas em termos nacionais, mes-
mo já havendo se passado mais de meio século, em se tratando do Esta-
do do Acre esse hiato se torna ainda maior, dados os esparsos trabalhos 
sobre o tema. 
Durante quase uma década de estudos sobre essa temática, por in-
contáveis vezes ouvi de diversas pessoas, surpresas com os resultados da 
pesquisa que então empreendia, questionamentos como: “Houve Ditadu-
ra no Acre? Mas isso não foi só lá nos outros estados do Brasil?”. Essas 
indagações recorrentes foram a força motriz para que esta segunda edição 
de “Ideologia e Poder” se concretizasse. 
Ao observar os inúmeros estudos sobre a imprensa acreana que não 
apenas citam esta obra mas também que deram continuidade aos questio-
namentos que ela levanta decidimos reeditá-la. Ao mesmo tempo, inten-
tamos contribuir com o debate sobre as questões em torno das relações 
entre mídia e poder, além de abrir o espaço para novos questionamentos 
que esta obra, pela própria natureza de sua proposta, não teve como in-
tenção abarcar.
APRESENTAÇÃO À SEGUNDA EDIÇÃO
10
Maria Iracilda Gomes Cavalcante Bonifácio
IDEOLOGIA E PODER: uma análise do discurso dos jornais 
O Rio Branco e Varadouro durante a Ditadura Civil-Militar (1977-1981)
Optamos por não fazer alterações significativas na obra, apenas 
algumas mudanças de terminologia que acompanham os debates atuais, 
como uma tentativa de deixar latente o modo cáustico em que foi conce-
bida. Em primeira instância, esta obra trata-se de um texto de uma pes-
quisadora tentando compreender a trajetória da imprensa riobranquen-
se e um momento histórico importante para seu país e seu Estado. Mas, 
em um camada mais profunda, este livro representa a busca de sentido 
para sua própria história de migração de uma cidade do interior para a 
Capital acreana, ocasionada sob os efeitos do projeto de integração da 
Amazônia empreendido pelos governos militares, que resultou na trans-
formação das áreas agrícolas e antigos seringais em pastagens para a 
agropecuária. 
 Nosso intento, ao apresentar esta segunda edição é que as vozes 
sociais que saltam das páginas dos antigos jornais Varadouro e O Rio 
Branco possam nos fazer pensar na importância da luta pela liberdade de 
expressão e na necessidade de haver sempre resistência em meio aos con-
textos de silenciamentos. Que “Ideologia e poder” seja uma voz contra o 
cerceamento de dizeres não apenas da imprensa, que seja uma fonte de 
reflexão sobre as mazelas da Ditadura... “Para que não se esqueça, para 
que nunca mais aconteça!”.
Maria Iracilda Gomes Cavalcante Bonifácio
Filha e neta de migrantes acreanos
11IDEOLOGIA E PODER: uma análise do discurso dos jornais 
O Rio Branco e Varadouro durante a Ditadura Civil-Militar (1977-1981)
Ideologia e Poder: uma análise do discurso dos jornais O Rio Branco e Varadouro durante a Ditadura Civil-Militar (1977-1981) é uma das mais belas e mais bem escritas obras sobre a 
imprensa acreana. Uma mistura de literatura e jornalismo, incidindo na 
linha tênue entre ambos, onde o saber das ideias e formulações é tempe-
rado pelos estudos culturais, buscando analisar “os discursos e suas con-
dições de produção”.
Tive o privilégio de ser convidado pela autora para escrever estas 
modestas linhas, contudo, fica-nos a dúvida sobre quem é maior, a obra 
para a literatura, os estudos da linguagem e para o jornalismo de forma 
geral, por abordar temas tão complexos quanto apaixonantes com a ri-
queza de informações consistentes e a profundidade necessárias para uma 
obra expressiva, valorosa e sem pedantismo, ou a autora, pelos trabalhos 
que tem desenvolvido na sociedade riobranquense e a contribuição atuan-
te nas relações entre pesquisa, ensino e sociedade.
Maria Iracilda já escreveu obras como O Imaginário Social: estu-
dos dos editoriais nos jornais de Rio Branco – século XX; Habitantes e 
Habitat; Sonhos em BVA - Volume I e II; e este, Ideologia e Poder. Sua 
atuação é interessante porque enquanto prefacio este trabalho, que é fru-
to de sua Pós-Graduação em Cultura, Natureza e Movimentos Sociais na 
Amazônia/Ufac, no qual obteve nota máxima com distinção e louvor, te-
nho a grata surpresa de saber que a continuação dele, intitulada O Discur-
so nas Redes do Poder, já se encontra em sua segunda edição.
Lendo o título deste trabalho somos tentados a teorizar sobre o que 
é ideologia e o que é poder, permeados por pensamentos logitudinais, 
impelidos a nos lembrar de Homi Bhabha, Mircea Elíade, Stuart Hall, 
PREFÁCIO À PRIMEIRA EDIÇÃO
12
Maria Iracilda Gomes Cavalcante Bonifácio
IDEOLOGIA E PODER: uma análise do discurso dos jornais 
O Rio Branco e Varadouro durante a Ditadura Civil-Militar (1977-1981)
Bernardo Kucinski, quem sabe Eclea Bosi ou Paul Thompson, contudo, 
acredito que Iracilda escolheu bem para este trabalho os conceitos desen-
volvidos por Michel Foucault, onde afirma que “o discurso não é sim-
plesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas é 
aquilo pelo qual e com o qual se luta, é o próprio poder do qual queremos 
nos apoderar” (Foucault - A Ordem do Discurso).
As ideologias e os poderes envoltos nas linhas, nas fissuras e nas 
interjeições propostas neste livro dão conta de uma realidade móvel en-
volta na tempolabilidade da memória escrita dos jornais que foram pro-
duzidos durante o período da Ditadura Civil-Militar.
A divisão em três partes enseja uma pretensa iniciativa de projeção 
tempo-espaço ao leitor. Num primeiro momento, contudo, percebemos a 
parte inicial como uma exposição de motivos seguida de um breve histó-
rico da imprensa riobranquense, que se liga diretamente com a segunda 
parte em que contextualiza as relações de poder, comunicação e ideolo-
gia, no contexto das representações sociais que ensejam coadjuvantes no 
cenário de transição dos anos de 1970 para 1980, tendo seu ápice com as 
representações dos sujeitos nos discursos dos jornais O Rio Branco e Va-
radouro, sendo o breve último capítulo o desfecho de uma fase de estudo 
que já aponta para o que está por vir.
Tentando responder e pensar as várias questões que vão surgindo 
no percurso do livro, Maria Iracilda aborda, na primeira parte, intitulada 
Os discursos e os editoriais, uma breve reconstituição do itinerário da 
imprensa acreana desde seu surgimento até o período da Ditadura Civil-
-Militar. Na segunda parte, intitulada Comunicação, Ideologia e Poder 
no contexto da Ditadura Civil-Militar são trabalhadas as influências do 
regime ditatorial na constituição dos discursos da imprensa na Amazônia 
Ocidental e no Acre. Na terceira parte denominada Varadouro e O Rio 
Branco: a representação dos sujeitos através do discurso é feita uma 
discussão sobre a representação dos sujeitos discursivos, a partir do con-
traste entre editoriais dos dois jornais pesquisados. Nessa parte, a análise 
é feita a partir de quatro temáticas que se repetiram constantemente nos 
jornais Varadouro e O Rio Branco: a luta pela terra no Acre e os embates 
entre os sujeitos, os movimentos sociais urbanos, a Amazônia e a questão 
13
Maria Iracilda Gomes Cavalcante Bonifácio
IDEOLOGIA E PODER: uma análise do discurso dos jornais 
O Rio Branco e Varadouro durante a Ditadura Civil-Militar (1977-1981)
indígena: duelos no discurso da mídia escrita acreana e a representação 
da luta pela sobrevivência nas “periferias” de Rio Branco.
Sem dúvida alguma, vale a pena ler este livro que não esgota as 
possibilidades de leitura, mas, de forma dinâmica, enfoca as informações 
que circulavam nos referidos jornais, num período em que os cerceamen-
tos de direitos e o controle à liberdade de expressão intentavam insisten-
temente reprimir as diversas manifestações contra o regime militar.
O discurso jornalístico produzido em meio ao emaranhado de ativi-
dades que compõem as redes do poder, torna- se latente nesta obra,apre-
sentando “o dito” e os “silenciamentos” circunstanciados pelos grupos 
políticos e ideológicos atuantes nos jornais riobranquenses durante a Di-
tadura Civil-Militar.
Neste trabalho, percebemos um considerável avanço na consistên-
cia das informações produzidas pela autora se comparado ao de mesmo 
gênero, produzido anteriormente. Ao passo que, esperamos já sem surpre-
sa que a continuação desta obra seja ainda mais bem trabalhada e de ela-
boração progressivamente melhorada.
Com as abordagens aqui contidas, Iracilda contribui para o apro-
fundamento dos estudos referentes às interfaces do regime ditatorial ins-
taurado no Acre, investigando suas especificidades no contexto da histó-
ria nacional e como se deu a inserção da imprensa no contexto das rela-
ções de poder vigentes no Estado durante o período de 1977 a 1981.
Prof. Dr. Reginâmio Bonifácio de Lima
14IDEOLOGIA E PODER: uma análise do discurso dos jornais 
O Rio Branco e Varadouro durante a Ditadura Civil-Militar (1977-1981)
APRESENTAÇÃO
A imprensa constitui valioso material de pesquisa, pois parti-cipa, produz e veicula representações da realidade, acompa-nhando o percurso dos homens através da história. Por isso 
mesmo, ela é alvo dos interesses dos grupos de poder, que a adulam, vi-
giam e/ou controlam. Por seu poder de irradiação, a imprensa, durante a 
Ditadura Civil-Militar, sofreu várias investidas dos líderes militares, tanto 
para endossar seu projeto de homogeneização de ideias, quanto para si-
lenciar as vozes dissonantes que resistiam ao processo de cerceamento de 
liberdades imposto pelo regime.
Mais de 50 anos se passaram desde que surgiu no cenário nacio-
nal o regime ditatorial, entretanto, a análise das relações entre impren-
sa e poder neste período ainda constitui uma lacuna nos estudos sobre 
a sociedade acreana. Buscamos, com este estudo, trazer à discussão os 
acontecimentos que marcaram o contexto da Ditadura em âmbito na-
cional e acreano, contribuindo para o aprofundamento dos estudos re-
ferentes às interfaces do regime militar instaurado no Acre. Muitos es-
tudos já foram realizados enfocando o contexto sócio-político das dé-
cadas de 1970 e 1980 no Estado, entretanto, o viés da imprensa e de sua 
participação nessas transformações sociais foi tema de raros e esparsos 
trabalhos.
A partir de uma pesquisa realizada nas bibliotecas públicas exis-
tentes na capital acreana, encontramos apenas uma obra específica refe-
rente ao período da Ditadura Civil-Militar e sua relação com a imprensa 
acreana, a qual se intitula Comunicação Alternativa e Movimentos So-
ciais na Amazônia Ocidental, escrita pelo Prof. Dr. Pedro Vicente Costa 
Sobrinho. Neste livro, Costa Sobrinho (2001) resgata e analisa a contri-
15
Maria Iracilda Gomes Cavalcante Bonifácio
IDEOLOGIA E PODER: uma análise do discurso dos jornais 
O Rio Branco e Varadouro durante a Ditadura Civil-Militar (1977-1981)
buição e o apoio que o jornal Varadouro e o boletim diocesano Nós, Ir-
mãos deram aos movimentos sociais no Acre durante o período de 1971 
a 1981.
Diante da carência de produção escrita sobre a imprensa acreana, 
publicamos em conjunto com a Prof.ª Dr.ª Olinda Batista Assmar e o Prof. 
Gleyson Moura de Lima o livro O Imaginário Social: Estudo dos Edito-
riais nos Jornais de Rio Branco - Séc. XX (ASSMAR; BONIFÁCIO; LI-
MA, 2007). Este trabalho foi fruto da Pesquisa de Iniciação Científica, 
desenvolvida durante três anos, acerca das mudanças identificadas nas 
tendências discursivas dos jornais de Rio Branco no período do Acre Ter-
ritório (1900-1962) e Acre Estado (1963-1999).
Em Ideologia e Poder temos como foco o período da Ditadura Ci-
vil-Militar e sua relação com a imprensa. Neste livro, os jornais escolhi-
dos para análise são O Rio Branco, que circula na capital acreana desde 
1969, e Varadouro, que circulou no período de 1977 a 1981. A escolha 
desses dois periódicos se fez em virtude do desejo de contrapor dois po-
sicionamentos antagônicos, de um lado, um jornal considerado “de linha 
oficial” que apoiava a ideologia dos grupos dominantes e, de outro, um 
jornal alternativo, que se posicionava ideologicamente a favor dos mo-
vimentos sociais e contra os atos do poder oficial. O quinquênio 1977 a 
1981, época em que coincide a circulação dos jornais O Rio Branco e Va-
radouro, foi marcado por grandes transformações na estrutura social e na 
organização econômica e política do Acre.
A partir da análise dos editoriais, buscamos investigar como se ar-
ticulavam as relações de ideologia e poder através do discurso dos jornais 
pesquisados e qual a influência desses textos na sociedade de hoje, tendo 
em vista que as instituições alcançaram sua forma atual através de altera-
ções de suas partes constitutivas, ao longo do tempo, influenciadas pelo 
contexto cultural particular de cada época.
A escolha do editorial como texto base para estudar os escritos da 
imprensa riobranquense neste período se deu por seu alto caráter argu-
mentativo, sendo um texto estruturado no sentido de expressar a linha de 
conduta do jornal e por sua vocação de focalizar assuntos do cotidiano. 
Nas palavras de Luiz Beltrão (1980), o editorial caracteriza-se por ex-
pressar “a opinião do editor o qual representa o grupo mantenedor da em-
16
Maria Iracilda Gomes Cavalcante Bonifácio
IDEOLOGIA E PODER: uma análise do discurso dos jornais 
O Rio Branco e Varadouro durante a Ditadura Civil-Militar (1977-1981)
presa jornal, logo apresenta o julgamento do grupo de elite do jornal so-
bre o problema em questão”.
O fato de representar interesses antagônicos torna o editorial um 
discurso jornalístico de dupla competência, que mascara e desmascara, 
defendendo os interesses do jornal, ao mesmo tempo em que se arvora 
como porta-voz dos anseios dos grupos sociais. A opinião do editor atua 
como representação do grupo mantenedor da empresa jornal, trazendo o 
julgamento do grupo de elite do jornal sobre os problemas que o edito-
rial aborda.
Lugar de discussão dos assuntos de relevância política, econômica 
e social, o editorial tem como função básica situar a posição corporificada 
dos grupos de interesse que regem o jornal em relação ao acontecimento 
que aborda, oferecendo a perspectiva de interpretação tida como a mais 
convincente pelos representantes do veículo de comunicação. Dessa for-
ma, os limites de influência do editorial perpassam obrigatoriamente por 
sua repercussão na esfera política e econômica.
O editorial pode auxiliar na compreensão das visões de mundo que 
circularam na sociedade riobranquense durante o período investigado, 
atuando como forma de reescrita da história, dado seu alto grau de per-
suasão através de imagens e símbolos, que podem ser percebidos pelas 
suas próprias estratégias, utilizadas pelos donos do poder para dominar o 
imaginário social.
Segundo os Manuais de Redação Jornalística, que passaram a ser 
adotados na década de 1950 por jornais como o Diário Carioca e Tribuna 
da Imprensa e serviram de modelo para o fazer jornalístico do restante do 
Brasil, os editoriais não devem ser assinados, sendo sempre redigidos em 
terceira pessoa para reforçar a imparcialidade do veículo de comunica-
ção. A disposição do texto nas páginas iniciais do jornal serve para consa-
grar o editorial enquanto espaço destinado a assegurar a ilusão de isenção 
jornalística, numa tentativa de apagamento da autoria.
A concepção de que o editorial não pode ser assinado, ditada pelos 
padrões da grande imprensa, trouxe alguns problemas quanto à identifica-
ção desses textos nos jornais do período da Ditadura Civil-Militar. Nessa 
época, quase não havia textos intitulados “editoriais” nos jornais riobran-
quenses, principalmente nos períodos em que se intensificava o estado 
17
Maria Iracilda Gomes Cavalcante Bonifácio
IDEOLOGIA E PODER: uma análise do discurso dos jornais 
O Rio Branco e Varadouro durante a Ditadura Civil-Militar (1977-1981)
de vigilância por parte dos militares, os jornais se reservavam a publicar 
textosessencialmente informativos. Em vista desta reflexão do contexto 
histórico sobre a produção jornalística local, os editoriais apareciam de 
forma camuflada. É bom lembrar que, embora a escrita dos jornais do pe-
ríodo ditatorial em questão se caracterizasse pela linguagem informativa, 
a direção do jornal veiculava sua opinião em todos os números, o que per-
cebemos pelo tratamento dado às notícias e pelo modo como eram cons-
truídas as imagens dos opositores do regime.
Assim, a identificação dos textos foi realizada por meio da obser-
vação de características essenciais na produção dos editoriais: a estrutu-
ração com vistas à persuasão, buscando direcionar a opinião do público, a 
apresentação gráfica destacada, o fato de vir nas páginas iniciais, o desta-
que entre as demais notas e a escrita em terceira pessoa tentando demons-
trar imparcialidade. Além disso, buscamos perceber uma outra particula-
ridade nesses textos: a abordagem de acontecimentos da realidade coti-
diana. O responsável pelo editorial, em linhas gerais, privilegia fatos da 
realidade local, ocorridos no contexto do tempo presente.
É conveniente destacar que não se está afirmando que os jornais 
não se referiam a fatos acontecidos no passado, mas que essas referências 
ocorriam com menor frequência, girando em torno, geralmente da exal-
tação dos combatentes da “Revolução Acreana” ou de personagens con-
sagrados da história nacional. Os editoriais dos jornais riobranquenses do 
período da Ditadura Civil-Militar, quando retomavam essas temáticas de 
mitificação dos “heróis” e dos valores nacionalistas, buscavam a legiti-
mação do poder oficial através da presentificação de ações pretéritas, por 
meio da comparação dos “feitos ilustres” desses personagens de outrora 
ao “empreendedorismo” dos líderes militares.
Através das tramas do emaranhado de redes do poder midiático é 
possível entrever os movimentos de resgate da memória e o estabeleci-
mento de alguns traços das várias identidades sociais que circulam na so-
ciedade acreana. E, tendo como ponto de partida a análise das relações de 
ideologia e poder expressas no discurso dos editoriais de jornais riobran-
quenses que circularam durante o regime de exceção, é preciso atentar pa-
ra o fato de que essas múltiplas relações de poder que atravessam, carac-
terizam e constituem o corpo social, não podem se dissociar, se estabele-
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IDEOLOGIA E PODER: uma análise do discurso dos jornais 
O Rio Branco e Varadouro durante a Ditadura Civil-Militar (1977-1981)
cer nem funcionar sem uma produção, uma acumulação, uma circulação 
e um funcionamento do discurso.
O contraste entre os editoriais dos dois periódicos leva-nos a perce-
ber que o discurso é artefato de manipulação e resistência. Por mais que 
no jornal O Rio Branco imperasse a linha editorial vinculada à ideologia 
dominante, alguns jornalistas não compactuavam com os cerceamentos 
impostos pelo regime militar. Ao se observar as páginas amarelecidas pe-
lo tempo é possível entrever as rupturas, os movimentos de resistência e 
o modo singular com que vários jornalistas driblaram a censura, como, 
por exemplo, no caso da divulgação de notas sobre torturas nas delega-
cias acreanas e da violência que imperava nos conflitos de terras ocorri-
dos com a implantação da pecuária na década de 1970.
Nossa intenção, neste livro foi aliar os estudos da linguagem aos 
estudos da história, por isso dialogamos com as ideias de Michel Fou-
cault sobre o discurso enquanto espaço atravessado pelas relações de po-
der. Para Foucault, o discurso não se resume àquilo que traduz as lutas ou 
sistemas de dominação, mas é aquilo pelo qual o sujeito luta, o poder do 
qual queremos nos apoderar.
A contribuição do pensamento de Foucault se faz, principalmente, 
pela relação que estabelece entre saber e poder, ao afirmar que a concep-
ção de discurso transcende o sentido “literal” dos enunciados, buscando 
numa relação com a exterioridade perceber o não dito, as condições de 
produção, o funcionamento e o porquê de o que foi dito ter sido expresso 
de uma e não de outra forma.
Escolher partir do editorial jornalístico é lidar com o que há de 
mais refinado no discurso dos jornais. Não que as demais categorias jor-
nalísticas sejam menos importantes, mas o editorial é maquinalmente ar-
quitetado, por estar a cargo de expressar a posição oficial dos grupos de 
interesses que comandam o jornal. Um editorial mal estruturado discur-
sivamente poderia comprometer gravemente a própria permanência do 
jornal nas bancas. A partir da pretensão de representar fielmente a vida 
social, essa modalidade textual permite uma apreciação específica dos 
acontecimentos, auxiliando na produção da realidade dentro do jornal 
através da criação de sentidos e interpretações para os acontecimentos 
da vida social.
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O Rio Branco e Varadouro durante a Ditadura Civil-Militar (1977-1981)
A análise do editorial enquanto elemento do gênero opinativo ofe-
rece subsídios para uma reflexão acerca das problemáticas históricas, po-
líticas, sociais e econômicas da sociedade riobranquense do período in-
vestigado. O contexto em que esses editoriais foram escritos auxilia na 
compreensão de como estes influenciavam a vida da sociedade de sua 
época.
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O Rio Branco e Varadouro durante a Ditadura Civil-Militar (1977-1981)
C a p í t u l o I
OS DISCURSOS E OS EDITORIAIS
A mídia apresenta-se como uma das principais agências sim-bólicas, fazendo circular imagens da sociedade e de legiti-mação das posições políticas, produzindo sentidos por meio 
de um constante retorno de representações que compõem o imaginário 
social. A legitimação desse discurso, portanto, vai buscar sua origem no 
passado coletivo, que se organiza em uma tradição.
Durante o período em que vigorou o regime militar no Brasil, os 
meios de comunicação estiveram sob permanente vigilância dos órgãos 
de censura, através dos quais os militares impunham o silenciamento pela 
proibição de vozes discordantes. Um discurso monolítico, que os autoin-
titulava salvadores da pátria, era um dos meios mais eficazes para silen-
ciar as vozes discordantes, expressando o medo da voz do Outro.
A noção de Outro é aqui entendida como o “estrangeiro”, o “que 
vem de fora”, a representação de tudo que há de diferente, portanto, aqui-
lo que deve ser temido, por não ser compreendido. No caso da Ditadu-
ra Civil-Militar, o Outro é o “sujeito subversivo”, todos aqueles que se 
opõem ao regime. Assim, diante da ameaça das vozes dissonantes, a vio-
lência, imposta de forma simbólica ou através das armas, a tortura e a 
censura foram ações arquitetadas pelos líderes do regime militar para si-
lenciar os que discordavam da palavra única ou das ações cometidas em 
seu nome.
Cada sociedade tem seus próprios “procedimentos gerais da verda-
de”. Os vários discursos que circulam na sociedade, sejam eles de ordem 
política, religiosa, econômica, médica, não podem ser dissociados dessa 
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O Rio Branco e Varadouro durante a Ditadura Civil-Militar (1977-1981)
prática que determina para os sujeitos que falam tanto propriedades sin-
gulares quanto papéis preestabelecidos. Os discursos midiáticos, assim, 
ganham legitimidade quando proferidos por pessoas que detêm o saber/
poder em uma sociedade, ficando, na maioria das vezes, silenciadas as 
vozes dos oprimidos.
Embora silenciada, não significa que a voz dessas pessoas excluí-
das da ordem do discurso não exista. Não se deve ignorar que a existên-
cia do poder não aniquila a possibilidade de resistência. O próprio apa-
gamento desse discurso marginal denuncia os procedimentos de controle 
dos detentores do poder.
Mesmo sendo maioria, os pobres são banidos do espaço de dis-
cussãodos jornais. As raras vezes em que os jornais faziam menção des-
tes era para tachá-los de bárbaros, subversivos, baderneiros, geralmente 
em notícias de “motins”, como nas greves de professores, de “invasões”, 
conflitos de terras na zona rural e nos bairros que então se formavam, ou 
ainda nas matérias sensacionalistas de crimes bizarros, publicadas em pri-
meira página dos jornais de maior circulação na capital acreana.
Diante deste conturbado contexto, convém perguntar: Por que es-
sas tensões sociais não estão explícitas nos jornais? Quais os reais objeti-
vos dos grupos que comandavam a mídia escrita local ao promover essa 
homogeneização de discursos? Evidentemente para se manter no poder. 
Era de interesse dos donos do poder manter a “ordem” na estrutura social, 
continuar manipulando as camadas mais baixas da população através da 
produção de “ideias” que legitimassem sua dominação. Assim, através da 
preservação de certos valores culturais, as elites dominantes procuravam 
manter coesos grupos de interesses diversos.
Ao levantar esses questionamentos, entretanto, não estamos ape-
lando a uma visão fatalista e reducionista, o que estamos afirmando é que 
as ideias dos grupos detentores do poder são as que têm se demonstrado 
em maior evidência através da história, justamente porque são essas elites 
que detêm a concessão dos meios de comunicação de abrangência exten-
siva a um maior número de pessoas em termos de doutrinação.
É certo que existem ideias múltiplas e diversas a esta dominação, 
mas, muitas vezes, acabam sendo sufocadas pela crueldade do discurso 
midiático homogeneizador. Mas, ao contrário do que se pensa, a resistên-
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cia existe, embora não circule pelos espaços protagonizados pela grande 
elite. Se o discurso dos grupos dominantes predominou na imprensa escri-
ta acreana, os próprios silenciamentos existentes nesses jornais apontam 
para os procedimentos de exclusão dos pobres da “ordem do discurso”.
Por mais que o discurso dos jornais atrelados ao poder oficial apre-
sentasse as populações excluídas socialmente como “invasoras” das “pro-
priedades alheias”, “baderneiros” e “responsáveis” pela marginalidade 
que aumentava na capital acreana, as vozes desses sujeitos “resistiram” 
ao processo de apagamento que vigorou durante a Ditadura Civil-Militar 
e chegaram até nós, encontrando uma outra forma de vir à tona que não as 
estruturas de poder que tentaram silenciá-las, sendo possível percebê-las 
nas entrelinhas do que foi dito e escrito a respeito desses sujeitos sociais.
Para Foucault, existem três noções imprescindíveis para se com-
preender o discurso e suas manifestações no corpo social: a verdade, o 
saber e o poder. Esses três conceitos estão indissociavelmente interliga-
dos, através de práticas contextualmente específicas. Foucault (1996) tra-
balha de forma inovadora as definições de poder e saber, ao afirmar que 
o poder não é algo que se possui ou detém, mas sim, algo que se exerce. 
Nesse sentido, o poder não precisa, necessariamente, se apresentar como 
repressivo, pois se assim o fosse estaria constantemente ameaçado. É pre-
ciso que esse poder se efetive de maneira simbólica, através da produção 
de imagens e sua disseminação como verdade nas várias esferas sociais.
Segundo Foucault, nenhum poder é absoluto, tampouco existe um 
poder indestrutível, que determina a dominação de um grupo sobre outras 
pessoas; o poder deve ser concebido como uma estratégia, cujos efeitos 
de dominação não devem ser atribuídos a uma apropriação, mas a um ela-
borado jogo de manobras, táticas, técnicas e funcionamentos. Logo, onde 
há poder há também resistência. É preciso considerar que todas as estru-
turas de poder são marcadas também por fissuras. Nesse sentido, o poder 
se estende por todas as camadas sociais, embrenhando-se pelos interstí-
cios mais profundos das relações em sociedade.
Nesse sentido, o saber está intimamente relacionado com o poder, 
pois saber gera poder e o poder gera mecanismos de saber para constituí-
-lo, legitimá-lo e garantir sua manutenção. Nessa perspectiva, tudo está 
envolto em relações de saber/poder que se sobrepõem num jogo dialógi-
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co. Assim, as posições sociais mais privilegiadas nas relações de poder 
correspondem àquelas que exigem saberes mais especializados, estando, 
banidos dos lugares privilegiados os sujeitos desprovidos de saber reco-
nhecido institucionalmente. Logo, textos e instituições constituem práti-
cas sociais permanentemente amarradas às relações de poder, que as res-
paldam e as transformam.
Nesse sentido, “o discurso não é uma estreita superfície de contato 
entre uma realidade e uma língua”, pelo contrário, ele extrapola a mera 
referência a “coisas”, existindo além do mero agrupamento de letras, pa-
lavras e frases. A proposta foucaultiana, então, é que as relações de po-
der sejam vistas a partir do próprio discurso, pois, segundo ele, as regras 
de formação dos conceitos não se prendem à consciência dos indivíduos. 
Essas regras residem, antes, no próprio discurso, organizando os saberes 
e impondo-se a todos aqueles que falam ou tentam falar dentro de um de-
terminado campo discursivo.
Ao recusar interpretações pautadas na causalidade, Foucault con-
sidera que a realidade caracteriza-se, antes de tudo, por estar atravessa-
da por lutas regidas pela imposição de sentidos. Assim, as práticas dis-
cursivas estão limitadas por uma “ordem do discurso”, que pré-determi-
na o que pode ou não ser dito. Para o autor, “não se pode falar em qual-
quer época de qualquer coisa”, assim, antes, de se indagar as implicações 
quanto ao sentido, ao modo e às ações suscitadas pelo que foi dito, é con-
veniente refletir sobre o que possibilitou a existência desse discurso.
A “ordem do discurso” está centrada na linguagem, na lógica cons-
titutiva de seu conteúdo e na relação com os poderes que se ocultam sob a 
capa desses discursos. O discurso não é apenas “ordenação de objetos”, ou 
grupo de signos, mas está centrado nas relações de poder. Assim, não exis-
te discurso “neutro”, pois ele traduz as lutas ou sistemas de dominação.
É nesse ponto que as proposições de Foucault contribuem para o 
presente trabalho, na proporção em que as condições de produção do dis-
curso interferem diretamente na configuração dos dizeres, sendo possível, 
através da suspensão das continuidades tratar cada momento do discurso, 
analisando as relações de poder em que estão imersos, a fim de perceber 
em um dado conjunto de enunciados por que foi possível tal singularida-
de acontecer ali, e não em outro lugar.
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O debate com as teorias sobre o discurso aliadas às leituras so-
bre jornalismo e o contexto histórico suscitaram alguns questionamen-
tos que nos conduziram durante o “passeio” que fazemos pela imprensa 
acreana durante a Ditadura Civil-Militar. Ao trazer à tona esses questio-
namentos sobre um passado que “insiste em não passar”, percebemos a 
atualidade do tema e o quanto precisamos voltar os olhos para trás e re-
pensar os prejuízos que os silenciamentos trouxeram, o efeito das mar-
cas que mancharam nossa história. Relembrando as palavras de Caetano 
Veloso, terá realmente passado de nós esse “cálice” ou ainda permanece 
o “cale-se”?
Que influência tem esses editoriais na construção da memória rio-
branquense? Que forças impulsionaram a produção discursiva desses jor-
nais? Quem são os sujeitos constituintes dos discursos e como suas ima-
gens eram construídas a partir dos editoriais? Como se deu a resistênciados jornais “alternativos” à tentativa política de silenciamento e domina-
ção e como os jornais ligados ao poder oficial manipulavam a linguagem 
a fim de legitimar as ações dos donos do poder?
A ideia inicial de que o discurso dos jornais O Rio Branco e Vara-
douro representavam, respectivamente, o posicionamento de apoio e de 
oposição ao poder oficial, no percurso das discussões levantadas no livro 
convidam a perceber as rupturas. O que está posto deve ser questionado. 
Não há um jogo de “mocinhos” e “bandidos”, pelo contrário, os interes-
ses que influenciaram a produção discursiva dos dois jornais se entrecru-
zam, mostrando que esta ideia inicial de que estamos diante de um “jornal 
que apoia o poder” e outro que o “critica mordazmente” era apenas uma 
face do fragmentário espelho do discurso. 
A trajetória da imprensa riobranquense (1900-1985)
A compreensão do papel da imprensa nos embates político-sociais 
ocorridos durante a Ditadura Civil-Militar requer que pensemos nos fatos 
que influenciaram o fazer jornalístico nesse período. Antes disso, porém, 
faremos uma “viagem no tempo”, retornando à época de surgimento dos 
primeiros jornais da cidade de Rio Branco. Com o objetivo de entender 
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melhor a trajetória da imprensa escrita na capital acreana, fizemos a se-
guinte divisão, tendo como marco as mudanças mais importantes tanto no 
contexto histórico quanto no projeto gráfico e na linguagem dos jornais. 
Vale ressaltar que esta divisão deve ser entendida em termos mui-
to gerais, já que o jornalismo de cada época se apresenta com muitas fa-
ces. É válido lembrar também que o período enfocado neste trabalho es-
tende-se até o ano 1981, mas escolhemos trabalhar a reconstituição da 
trajetória da imprensa acreana até o ano de 1985. Para tanto, aprofunda-
mos alguns conceitos que desenvolvemos inicialmente no livro “O ima-
ginário social: estudo dos editoriais nos jornais de Rio Branco, séc. XX” 
(ASSMAR; BONIFÁCIO; LIMA, 2007).
A imprensa familiar e o jornalismo opinativo (1900-1929)
O interdiscurso entre os acontecimentos históricos e as estruturas 
dos textos publicados nos jornais revela que o estilo jornalístico como 
existe hoje não surgiu por acaso, é resultado de uma série de transforma-
ções que estão intimamente ligadas com a evolução do próprio jornalis-
mo. A compreensão do discurso jornalístico requer que analisemos tanto 
as técnicas redacionais e os procedimentos gráficos utilizados para per-
suadir o leitor, quanto seu aspecto simbólico expresso nas ideologias que 
o regem.
Os padrões jornalísticos riobranquenses do início do século XX re-
ceberam influência do estilo adotado pela imprensa nacional e mundial, 
sendo marcados por uma linguagem permeada de adjetivismos. Nessa 
época, as fronteiras entre o discurso jornalístico e o literário eram muito 
tênues. O fato de alguns jornalistas se dedicarem também à produção de 
textos ficcionais fez com que o jornalismo esboçasse durante muito tem-
po nuances próprias de textos literários. Além disso, o jornal figurava co-
mo meio de veiculação dos textos literários, através da publicação de po-
esias, contos, crônicas.
O estilo jornalístico adotado durante as primeiras décadas do sé-
culo XX é balizado no modelo francês, cuja técnica de escrita remete de 
imediato ao estilo literário. Os “excessos” de comentários, com textos 
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marcadamente longos, matizados por um discurso mais livre e opinativo 
são aspectos que estão presentes nos jornais riobranquenses desta épo-
ca. O aspecto gráfico privilegiava o texto longo, fazendo pouco uso de 
imagens. Neste primeiro momento da imprensa local quase não se utili-
zam ícones e fotografias; a palavra era o principal recurso apelativo dos 
redatores. Com o passar do tempo, a imprensa evoluiu com a aquisição 
de novas máquinas que conferiram uma nova estética aos textos jorna-
lísticos.
Produzidos semi-artesanalmente, os jornais riobranquenses, desde 
seu surgimento, eram essencialmente opinativos, com pequena tiragem, 
circulavam entre grupos restritos, devido à falta de recursos financeiros 
para sua manutenção. Afora isto, a própria característica da sociedade rio-
branquense, fundamentalmente voltada para o extrativismo da borracha, 
revela que a mídia na região, desde os primórdios, atuava como produto-
ra por excelência de imagens e símbolos destinados à manutenção de pe-
quenos grupos no poder.
Prédio da Imprensa Oficial do Acre, inaugurada em 1925.
Fonte: Álbum Fotográfico do Território Federal do Acre.
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De acordo com Bezerra (1993), a Imprensa Oficial Acreana, criada 
em 1925, recebeu em 1948, um conjunto de máquinas movidas a eletrici-
dade que aumentaram o rendimento dos impressos no Território do Acre, 
sendo responsável pelas publicações das repartições públicas. Por ser a 
única oficina tipográfica existente na capital naquela época era também 
responsável pelas publicações particulares. A cargo da Imprensa Oficial 
foi editado e publicado o primeiro Diário Oficial do Acre, o jornal O Acre, 
criado em 1929.
O atrelamento da imprensa de Rio Branco, desde seu surgimento, 
ao poder oficial traz em seu bojo um estruturado jogo de interesses entre 
mídia e política. Os periódicos das primeiras décadas do século XX eram 
verdadeiros porta-vozes do Estado ou de grupos políticos que financia-
vam sua produção. A linguagem de alguns jornais era agressiva, marcada 
pelas paixões políticas comuns aos debates da época. O humor era utili-
zado, neste jogo pela detenção do poder, como parte constituinte do jor-
nalismo desse período, que, sendo altamente moralizador e doutrinário, 
colocava-se constantemente a serviço das elites veiculando suas lutas po-
líticas e ideológicas.
Alguns jornais do início do século XX destacavam-se pela exce-
lente qualidade na editoração, apresentando bom acabamento e qualidade 
gráfica, sendo impressos em máquinas Marioni, bastante modernas para 
a época (ASSMAR; BONIFÁCIO; LIMA, 2007, p. 51). Contudo, o que 
imperava na maioria dos jornais era a precariedade dos recursos tipográ-
ficos, ressaltando-se que a imprensa riobranquense surgiu vencendo de-
safios que iam desde a dificuldade imposta pela confecção artesanal dos 
jornais até as sanções políticas que, muitas vezes, determinavam o caráter 
efêmero da produção jornalística.
A marca da linguagem do jornalismo desta época era o caráter al-
tamente moralizador e doutrinário. Os textos publicados nesses periódi-
cos caracterizavam-se pela defesa dos interesses políticos e ideológicos, 
não apenas do Estado, mas também de outros grupos, como o comércio e 
grandes seringalistas. A produção jornalística riobranquense das primei-
ras décadas do século XX e as lutas de forças políticas e ideológicas que a 
determinaram podem ser melhor compreendidas se considerarmos que o 
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corpo de escritores dos jornais era composto, em sua maioria, por pessoas 
que exerciam funções junto ao aparelho estatal, além de representantes de 
partidos políticos, seringalistas e altos comerciantes da região.
Um outro aspecto a ser analisado neste período inicial da impren-
sa riobranquense é a grandiloquente estrutura de marketing, destinada a 
promover o distanciamento do sujeito de sua origem e condição histórica, 
uma vez que os imigrantes, em sua maioria, nordestinos e sírio-libaneses, 
eram personagens que aqui chegavamtrazendo consigo uma experiência 
própria de seu lugar de origem. Os grupos dominantes, utilizando-se des-
te recurso, tinham como objetivo unificar o imaginário social, fazendo 
com que grupos heterogêneos compartilhassem os mesmos ideais. Assim, 
a produção jornalística do início do século XX buscava, através da mitifi-
cação dos heróis e da região, fixar a força de trabalho no território, defen-
dendo os interesses do capital monopolista internacional, da exportação e 
apropriação de matérias-primas.
Durante as primeiras décadas do século XX, a produção jornalís-
tica local optou por uma linguagem rica em opiniões e juízos de valor, 
apresentando forte caráter doutrinário através da exaltação dos fatos e 
personagens da história regional e local. Tal fato justifica-se pelos inte-
resses determinados por meio das condições de formação da sociedade 
local.
As manchetes dos jornais dessa época versavam prioritariamente 
sobre a mitificação da região e de seus heróis, propaganda dos coronéis 
da borracha, partidos políticos ou associações às quais os jornais estavam 
subordinados, além da defesa da autonomia do Território. As principais 
notícias arranjadas na capa do jornal, eram geralmente, de cunho político; 
informativos diversos; anúncios de utilidade pública; notas de aniversá-
rio, num esboço do que viria a se tornar a coluna social; eventos culturais, 
textos literários; etc. Algumas matérias eram extensas, necessitando de 
continuação nas páginas internas do jornal, pois o que importava não era 
apenas noticiar o fato, mas também as reflexões desenvolvidas pelo reda-
tor. O acontecimento era contado com riqueza de detalhes, principiando 
com introduções complexas, para se chegar ao entendimento da impor-
tância dos fatos.
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A era dos manuais de redação (1930-1962)
A segunda fase da imprensa riobranquense inicia-se em 1930, com 
ascensão de Getúlio Vargas à Presidência da República, indo até 1962, 
ano em que o Território do Acre foi elevado à categoria de Estado da Fe-
deração Brasileira. Neste período, os jornais começavam a perder a ex-
pressão de veiculadores das discussões acaloradas em defesa de causas e 
bandeiras políticas e passavam a apresentar um caráter mais informativo.
O regime ditatorial instaurado por Getúlio Vargas ajudou, de cer-
ta forma, a consolidar o crescimento das empresas de comunicação, uma 
vez que o poder oficial passou a financiar os jornais e emissoras de rádio. 
Com isso, esses meios de comunicação se tornaram órgãos de divulgação 
do governo, sendo proibidos pelo serviço de censura de publicar notícias 
contrárias aos atos do Presidente e, consequentemente, contra seus inter-
ventores.
Os jornais deste período passaram, então, a seguir regras impostas 
não apenas pela renovação dos padrões jornalísticos, mas também pelo 
modelo de relações determinadas com o crescente fechamento do regime 
político, começando com o movimento constitucionalista de 1932, pas-
sando pela Intentona Comunista, em 1935, se consolidando com o Esta-
do Novo, em 1937, quando Getúlio Vargas implantou o Departamento de 
Imprensa e Propaganda - D.I.P. A implantação deste órgão de controle da 
imprensa, em 1941, acentuou a vigilância e o controle sobre as mídias, 
concentrando nas mãos de Getúlio Vargas o poder total de censura, atra-
vés da montagem de uma vasta rede de comunicação.
Os acontecimentos do contexto político nacional vão se refletir di-
retamente na produção jornalística local. Evidentemente, não era interes-
sante para os donos do poder a continuação de um modelo jornalístico 
marcado pela opinião e determinada liberdade de expressão, era neces-
sário silenciar toda e qualquer posição contrária ao regime varguista. Em 
1930, os partidos políticos acreanos foram extintos com a implantação do 
Estado Novo. A repercussão da Ditadura Civil-Militar de Getúlio Vargas 
intensificou o estado de isolamento do Acre em relação ao resto do pa-
ís. A chefia do Território Federal do Acre foi entregue a interventores da 
confiança do Presidente, que aqui chegavam, desconhecendo a realidade 
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local e impondo a lei do silêncio a um povo que já desconhecia o direito 
de se fazer ouvir, devido à indiferença com que era tratado pelo Governo 
Federal desde a anexação do Território ao Brasil.
Na década de 1950 o jornalismo brasileiro ganhava novas feições, 
resultantes de reestruturações surgidas nas redações inglesas e norte-ame-
ricanas desde o final da Primeira Guerra Mundial. Foi introduzido um no-
vo estilo que se orientava em um modo particularmente objetivo de nar-
ração ou relato de acontecimentos, baseando-se na economia de palavras.
Com a chegada ao Brasil dos primeiros Manuais de Redação e sua 
automática adoção pelos grandes jornais cariocas como Jornal do Brasil, 
Tribuna da Imprensa e Diário Carioca, foi implementado um novo esti-
lo de escrita na imprensa nacional. Iniciava-se um processo de transfor-
mações que alteraria profundamente o fazer jornalístico. A efervescência 
cultural dos anos 1950 serviu como pano de fundo para esta mutação jor-
nalística, uma vez que a sociedade brasileira rompia com uma série de pa-
drões culturais, políticos e comportamentais.
Os Manuais de Redação adotados inicialmente nos grandes jor-
nais cariocas consagravam a linguagem impessoal, ocultando o sujeito 
da enunciação, tendo como grande novidade a introdução da técnica do 
lead, na qual o jornalista elenca no primeiro parágrafo os cinco elemen-
tos da notícia: o que, quem, quando, onde, como e por que (LUSTOSA, 
1996, p.77). A adoção desta técnica norte-americana, inspirada no discur-
so telegráfico figura como uma tentativa de excluir de vez a subjetivida-
de do espaço da imprensa. O modelo possuía outras exigências que ainda 
perduram como requisito para a redação de um bom texto jornalístico: a 
ordem direta do discurso e o máximo de clareza possível. De acordo com 
Nilson Lage (1987), a origem do lead é uma referência à dessacraliza-
ção da linguagem, estando ligada à oralidade, é a manifestação do rela-
to de alguém que assistiu o fato e possui, portanto autoridade no assunto 
para falar:
Um jornalismo que fosse a um só tempo objetivo, imparcial e ver-
dadeiro excluiria toda outra forma de conhecimento, criando o 
objeto mitológico da sabedoria absoluta. Não é por acaso que o 
jornalista do século XX mantém, às vezes, a ilusão de dominar o 
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IDEOLOGIA E PODER: uma análise do discurso dos jornais 
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fluxo dos acontecimentos apenas porque os contempla, sob a for-
ma de notícias, na batida mecânica e constante dos teletipos (...) 
(LAGE, 1987).
A lógica que passava a reger os textos jornalísticos, era a da veloci-
dade e da falta de tempo da sociedade industrial do século XX. O discurso 
da imprensa abandonava o caráter opinativo, deixando de ser espaço de 
experimentação literária e embates políticos para adotar um estilo pauta-
do no caráter informativo. O mito da “objetividade” jornalística ganhava 
corpo a partir de então, pela pretensão de deixar clara a distinção entre 
“opinião” e “informação”. O editorial, neste contexto, surge como forma 
de marcar esta distinção, o jornal informaria nas demais notas, cabendo 
à direção do jornal opinar no espaço dos editoriais. Evidentemente, isto 
nunca ocorreu, nem ocorre, já que o os editores do jornal opinam desde a 
escolha da matéria central até nas notas “puramente informativas”. Logo, 
o discurso jornalístico não é, nem poderá ser neutro.
Ainda na década de 1950 os jornais riobranquenses já começavam 
a introduzir estas novas técnicas de redação, principalmente olead. Du-
rante algum tempo o novo e o velho dividiram o mesmo espaço nos jor-
nais da capital acreana, o estilo opinativo, com textos longos e combati-
vos, ia aos poucos dando lugar ao informativo, marcado pelas notas ob-
jetivas e curtas.
O jornalismo informativo: a ditadura do lead (1963-1985)
Embora ainda na década de 1950 os jornais riobranquenses já apre-
sentassem um princípio de transformação do caráter opinativo para o in-
formativo, esse processo só se consolidaria no período da Ditadura Civil-
-Militar, quando a vigilância da censura tornou necessária a criação de 
novas estratégias de noticiar e veicular os fatos.
O ideal dos manuais normativos da década de 1950 ganhava for-
ça com a padronização dos textos, caracterizando o discurso jornalístico 
pelo latente apagamento da autoria na redação das notícias; o silêncio e a 
neutralidade passavam a ser sinônimos de bom jornalismo. Essas trans-
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IDEOLOGIA E PODER: uma análise do discurso dos jornais 
O Rio Branco e Varadouro durante a Ditadura Civil-Militar (1977-1981)
formações marcariam de forma incisiva os padrões da imprensa dessa 
época, influenciando ainda hoje o fazer jornalístico.
Um dos fatos que influenciaram esta nova fase da imprensa da ca-
pital acreana, a qual estendeu-se até 1985, foi o golpe militar de 1964, 
quando a imprensa passou a estar sob vigilância permanente dos órgãos 
de censura. O surgimento do primeiro jornal-empresa da capital acreana, 
o jornal O Rio Branco, em 1969, marcou na prática a transformação do 
jornalismo riobranquense segundo os padrões da nova imprensa. Órgão 
dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand, com primeira edição em 
circulação no dia 20 de abril de 1969, este jornal apresentava uma nova 
proposta jornalística pautada na especialização da imprensa nacional ini-
ciada com a implantação de vários cursos de Comunicação Social no país.
Elcias Lustosa (1996) afirma que, a partir de 1969, a influência di-
reta da cultura visual, principalmente da televisão, passava a moldar o pa-
drão estético dos jornais impressos no Brasil. Nessa época, a televisão se 
consolidava como o mais importante meio de comunicação, surgindo o 
que o autor chama de notícia plástica ou iconográfica, marcada pela apre-
sentação de gráficos, ilustrações e desenhos, que representam nos jornais 
o modelo imposto pela revolução da informática. O autor aponta esse ano 
como início de uma nova fase da imprensa brasileira por coincidir com a 
decretação do Ato Institucional nº 5, quando começa o período mais duro 
da Ditadura Civil-Militar e a intensificação dos ditames da censura sobre 
os meios de comunicação.
A influência não apenas da televisão, mas também do cinema e do 
rádio, obrigou os jornais impressos a investir em uma diferenciada apre-
sentação da informação, buscando oferecer maiores detalhes aos leito-
res. A interferência da televisão no jornalismo impresso ocorreu de modo 
gradual até consolidar seu império absoluto por volta da década de 1980.
Com o avanço da eletrônica foi possível também divulgar infor-
mações mais amplas e rápidas (ERBOLATO, 1991, p. 16). Mesmo com 
a relativa facilidade na disseminação de informações, o isolamento do 
Acre em relação ao eixo Rio-São Paulo retardou a implementação das 
mudanças gráficas nos jornais. A irregularidade e a efemeridade continu-
aram como características da produção jornalística local durante a Dita-
dura Civil-Militar.
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IDEOLOGIA E PODER: uma análise do discurso dos jornais 
O Rio Branco e Varadouro durante a Ditadura Civil-Militar (1977-1981)
Nessa época eram raros os textos opinativos nos jornais de linha 
oficial, a opinião era artigo abjeto nesses jornais, o que imperava era a di-
tadura da “informação”. Nas palavras do “Repórter Édison”, em sua co-
luna no jornal O Rio Branco, o lema da imprensa era “o mínimo de adje-
tivo, com um pouco de objetivo”. Desde a implantação do jornal O Rio 
Branco principia o processo de profissionalização da imprensa local, com 
a regularização da atividade junto à Delegacia Regional do Trabalho. Nas 
redações dos jornais, aumentava o quadro de funcionários, figuras como 
o revisor de textos, o foto-jornalista e o diretor comercial passavam a par-
ticipar de maneira mais latente no processo de dinamização da apresenta-
ção gráfica e retórica dos jornais, atuando na importante articulação entre 
o jornal, os interesses mercantis de seus mantenedores e o público leitor.
A divisão do trabalho nas redações jornalísticas acompanhou a di-
visão estrutural dos jornais com a criação das várias editorias temáticas, 
agrupando os assuntos mais comuns da publicação. Assim, as colunas fo-
ram se especializando e as áreas de interesse do público leitor foram sen-
do setorizadas. A tendência, então, passou a ser agrupar as colunas social, 
de esportes, policial, política, que foram sendo marcadas em um lugar es-
pecífico do jornal, como forma de otimizar a leitura. A distribuição dos 
assuntos entre essas páginas de variedades também revela a influência do 
contexto do regime militar sobre os jornais, quando se observa, por exem-
plo, que os acontecimentos sobre os movimentos de “subversão”, muitas 
vezes, compunham a página policial e não a política.
Os jornais riobranquenses que circulavam durante a Ditadura Ci-
vil-Militar eram caracteristicamente irregulares, com publicações ora 
mensais, ora semanais, ora quinzenais, variando conforme a disponibili-
dade de recursos para manutenção dos mesmos. Com isso, tem-se o qua-
dro de extrema dependência de incentivos financeiros do governo, consti-
tuindo uma imprensa oscilante e vulnerável. A aproximação com esta di-
versidade de interesses reforçou a adoção do princípio de imparcialidade 
no discurso jornalístico. Assim, a imprensa passa a incorporar seletiva-
mente os discursos de outras instâncias de poderes, tornando-se legitima-
dora e organizadora destes discursos.
Apesar da aspiração à neutralidade, não se pode perder de vista 
que a imprensa não está imune às pressões destes mesmos setores cujos 
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O Rio Branco e Varadouro durante a Ditadura Civil-Militar (1977-1981)
discursos ela disciplina, organiza e legitima. E isso implica não apenas 
mudanças no campo estético do jornal, mas também da concepção de pú-
blico e das linguagens que utiliza. O controle ideológico criado com as 
imagens que circulam nos jornais passou, nas últimas décadas do século 
XX, a incluir novas representações através da propaganda e da informa-
ção jornalística, criando condições para a existência de formas veladas de 
controle, muitas vezes, alicerçadas em linguagens subliminares tendentes 
a exercer controle massivo através da persuasão.
Nesse contexto de transformações da imprensa brasileira, vale re-
gistrar, no Acre, o surgimento do jornal alternativo Varadouro, em 1977. 
“O Jornal das Selvas” surgiu da necessidade, percebida por líderes de se-
tores progressistas ligados à Igreja Católica, da existência de um espaço 
para veiculação das causas defendidas pelos movimentos sociais acrea-
nos. De acordo com Costa Sobrinho (2001, p. 153), era necessária a cria-
ção de um outro periódico, além do Boletim Diocesano Nós, Irmãos, que 
deveria ser impresso em um formato diferenciado, impresso em gráfica e 
que veiculasse as questões exigidas pelo momento histórico vivenciado 
pelo povo acreano no final da década de 1970.
A linha editorial de Varadouro retratava o turbulento período de 
chegada dos pecuaristas do Centro-Sul às terras acreanas, a transforma-
ção dos seringais em pastagens para o gado, a expulsão de milhares de 
famílias de seringueiros, posseiros e indígenas da floresta acreana. A pro-
posta desse jornal alternativo era, pois, registrar as consequências da ex-
pansão agropecuária no Acre, trazendo em suas páginas as vozes de indí-
genas, posseiros, seringueiros e tantos outrosexcluídos socialmente.
A disparidade de posicionamentos existente entre os jornais O Rio 
Branco e Varadouro, como se percebe, não se manifesta apenas no proje-
to gráfico e retórico, mas principalmente no jogo de forças político-ideo-
lógicas que estão por trás dessas duas produções jornalísticas. Se, por um 
lado, a padronização e a informatividade marcavam a escrita no jornal 
O Rio Branco, em Varadouro a preocupação era produzir um jornalismo 
o mais próximo possível das camadas mais baixas da sociedade, apre-
sentando os textos com uma linguagem clara e simples. Comparando-se 
a produção jornalística antes e depois dos Manuais de Redação da déca-
da de 1950, percebemos que, mesmo se perdendo em termos de limita-
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IDEOLOGIA E PODER: uma análise do discurso dos jornais 
O Rio Branco e Varadouro durante a Ditadura Civil-Militar (1977-1981)
ção do discurso filosófico e reflexivo, o jornalismo deste período ganhou, 
em certas proporções, com a abertura para abordagem dos problemas vi-
venciados por grupos menos favorecidos economicamente. As mudanças 
nos padrões jornalísticos ocorridas no final da década de 1970 e início 
da década de 1980, de certa forma, ajudaram a pôr em circulação opini-
ões divergentes do poder oficial. Os grupos responsáveis pela veiculação 
dos jornais alternativos começaram a perceber, então, que a divulgação 
de suas ideias seria um caminho para organização dos movimentos so-
ciais de base.
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O Rio Branco e Varadouro durante a Ditadura Civil-Militar (1977-1981)
C a p í t u l o I I
COMUNICAÇÃO, IDEOLOGIA E PODER NO 
CONTEXTO DA DITADURA CIVIL-MILITAR
A Ditadura Civil-Militar no Brasil e sua influência no sistema de 
comunicação da Amazônia Ocidental
A Ditadura Civil-Militar representou uma grande mudança nas relações entre mídia e poder político. O discurso da im-prensa e a propaganda foram instrumentos utilizados pelos 
líderes militares para promover suas ideias de “defesa dos interesses da 
nação”. Após a deposição de João Goulart, os novos donos do poder pas-
saram a articular suas ações no sentido de estruturar um elaborado pro-
grama ideológico que assegurasse a legitimação de seu domínio.
Diante da necessidade de afirmação de seu poderio, os militares 
precisavam contar com algo além da força, eles elegeram como sua arma 
mais poderosa o discurso. De acordo com Freda Indursky, é justamente 
por apoiar-se em uma pretensa “naturalidade” e “familiaridade” que uma 
ditadura se sustenta. É essa normalidade que representa a maior violência 
dos regimes ditatoriais, a violência “simbólica, representada em seu efei-
to de senso comum, de discurso social estável, e fato de opinião pública, 
de não alteração da vida comum”.
Os líderes militares necessitavam dialogar com as elites e as cama-
das médias da sociedade para reforçar estratégias de convencimento que 
validassem suas ações. Assim, foi necessário “conhecer” os valores tidos 
por válidos para esses grupos sociais para, então, criar estratégias de per-
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suasão. Por estar essencialmente voltado às elites e à classe média, o dis-
curso dos jornais acabou incorporando valores indiscutivelmente aceitos 
por esses grupos sociais. Os jornais atuaram de forma decisiva no proces-
so de desagregação do governo de João Goulart, partilhando praticamente 
os mesmos ideais dos ditadores militares.
Segundo Balandier (1982), o poder fundado exclusivamente sobre 
a força ou sobre a violência descontrolada teria uma existência constante-
mente ameaçada, por outro lado, se exposto debaixo unicamente da razão 
teria pouca credibilidade. É preciso que esse poder se efetive de manei-
ra simbólica, pela produção de imagens, pela manipulação de símbolos e 
sua organização em um quadro ritual.
Como estratégia para se manter no poder, os militares buscaram 
na imprensa a legitimação de seus atos. Justificados pela burguesia, que, 
contraditoriamente, via o regime como salvaguarda dos “direitos demo-
cráticos”, os militares deixaram a marca da arbitrariedade em suas ações. 
Os decretos-leis constituíram-se no mecanismo mais viável para driblar o 
Legislativo, sendo possível por meio destes, expurgar políticos e servido-
res públicos que representassem ameaça para o regime. No Acre, pode-se 
ver, examinando o Diário Oficial no período que sucede a ascensão dos 
governantes militares, o grande número de demissões de funcionários pú-
blicos, possivelmente “suspeitos” de serem aliados ao governador José 
Augusto de Araújo, deposto em 1964.
A manutenção de relativa liberdade de imprensa logo que o golpe 
militar foi deflagrado era estratégia para firmar alianças a fim de garantir 
a legitimação do poder oficial. A aliança entre mídia e política era dupla-
mente vantajosa, de um lado, o controle do simbólico era alvo dos gover-
nos militares para aumentar seu poderio, de outro, os grupos que contro-
lavam a grande imprensa se mostravam exultantes com a possibilidade de 
desfrutar os privilégios do regime.
Embora a censura prévia fosse decretada em 1970, antes desse 
período os jornais já recebiam represálias por parte do governo. Prova 
de que o governo militar estava temeroso em relação ao posicionamen-
to daqueles que controlavam os meios de comunicação e decidido, por-
tanto, a tomar ele próprio o controle destes, foi a decretação do AI-2, de 
15 de março de 1967, que lhe permitia intervir diretamente na imprensa. 
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O AI-2 excluiu da competência do júri os julgamentos de crimes de im-
prensa e modificou a redação da última alínea do § 5º do art. 141 da 
Constituição Federal, que passava a vigorar com o seguinte texto: “Não 
será, porém, tolerada a propaganda de guerra, de subversão da ordem ou 
preconceitos de raça ou classe”. 
Esse Ato Institucional disciplinou também a situação jurídica dos 
cassados, vedando-lhes qualquer manifestação sobre assuntos de natu-
reza política. A intolerância agora, se estendia à imprensa e a qualquer 
propaganda de subversão e não apenas aos “processos violentos de sub-
versão”.
Com a promulgação do AI-5, entretanto, é que as coisas se torna-
riam ainda piores, pois a censura, agora definitivamente instalada, muda-
ria ainda mais a rotina nas redações da grande imprensa, fosse pela vigi-
lância dos censores ou pelo jogo de interesses que ditava a autocensura 
das matérias. Esse Ato Institucional afetava diretamente a legislação de 
imprensa, conferindo, em seu artigo nove, ao presidente da República, 
poderes para a imposição de censura prévia sobre os meios de comunica-
ção, bastando-lhe para tanto que julgasse tal ato “necessário à defesa da 
Revolução”. Durante os anos seguintes, a vigilância e o controle foram 
largamente utilizados e todos os veículos de comunicação foram dura-
mente censurados.
Havia também a censura ideológica no que concerne à manuten-
ção de direitos ou status quo por parte dos donos de jornais ligados ao vi-
és político dominante. De acordo com Kushnir (2004), parte da imprensa 
não recebia censura pelo militares. A censura das notícias, muitas vezes, 
era feita pelo próprio dono do jornal, que censurava algumas notícias con-
forme seus interesses. Outra prática comum era a de publicar informes 
vindos do governo como se fossem produzidos pelos próprios jornalistas.
O efeito devastador do AI-5 trouxe sobre o país as sombras dos 
anos mais duros do regime militar. À revelia dos novos donos do poder 
o Congresso era aberto e fechado, a esquerda, que até ainda conseguia se 
manifestar, foi condenada à ilegalidade, seus membros perseguidos e tor-
turados, a imprensa sofreu violentas investidas dos órgãos de censura,as 
represálias políticas foram mordazmente intensificadas, com o aumento 
de torturas, assassinatos e desaparecimentos de presos políticos.
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Institucionalizava-se, assim, a violência e a repressão contra quem 
se arriscasse a questionar o regime. Apesar desse clima de suspeição e 
silenciamentos, a contradição se revelava no fictício “milagre econômi-
co”. Buscando associar a meta de crescimento econômico ao controle 
autoritário da política, os militares pretendiam alcançar a legitimação do 
regime esperando encontrar as condições adequadas para consagrar su-
as imagens como responsáveis pelo “repentino sucesso” que vivencia-
va o país.
Elder Andrade de Paula considera que o Estado “desenvolvimen-
tista”, fortalecido pelas medidas ditatoriais, tinha como objetivo alcan-
çar um novo ciclo de acumulação, apoiando-se num forte apelo ideoló-
gico à doutrina da segurança nacional. Como advogado dessa doutrina, 
o poder ditatorial investiu violentamente contra a liberdade de imprensa 
através da censura, pressionando as redações dos jornais a não veicula-
rem matérias contrárias ao regime. Em nome da defesa das fronteiras 
nacionais, o Estado passou a articular uma série de medidas destinadas 
a instaurar um modelo de desenvolvimento subjugado ao capital inter-
nacional.
As políticas públicas definidas pelos militares para a Amazônia es-
tavam pautadas na incorporação dessa imensa faixa de terras ao conjunto 
da economia nacional, habilitando-a à exploração do capital forâneo. En-
tretanto, as estratégias para a “integração da Amazônia” foram fadadas ao 
insucesso, tendo em vista que apenas a ligação espacial não é suficiente 
para inserir a região na macroeconomia da acumulação capitalista.
A tentativa de integração da Amazônia desenvolvida pelos gover-
nantes militares dispôs de um grande aparato estatal, que envolvia desde 
a construção de grandes rodovias – como a Transamazônica e Perimetral 
Norte –, até a criação de programas como o PIN (Plano de Integração 
Nacional –1970) e I e II PND (Plano Nacional de Desenvolvimento Eco-
nômico e Social) e os grandes projetos industriais e hidrelétricos – como 
o Programa Ferro Carajás, ALBRÁS, ALUMAR, as usinas de Tucuruí 
e Balbina, Mineração Rio do Norte, entre outros. Toda essa infraestru-
tura foi montada com o objetivo de viabilizar a cooptação das riquezas 
naturais amazônicas pela iniciativa privada, em especial a propriedade 
da terra.
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Sob o pretexto de “ocupar para desenvolver” a região amazônica, 
os estabelecimentos bancários públicos reservaram crédito rápido e fácil 
para atrair os investidores. Diversos incentivos fiscais foram disponibili-
zados para promover o deslocamento de migrantes, capitalistas nacionais 
e estrangeiros, dispostos a contribuir com o projeto de ocupação ideali-
zado para a Amazônia. A imposição de mecanismos estatais para a inte-
gração da Amazônia, entretanto, encontrou nos movimentos populares de 
defesa dos direitos dos povos indígenas, dos seringueiros, posseiros, ri-
beirinhos, entre outros, resistência contra a expropriação que o capital fo-
râneo instaurou na região. Os “empates” foram uma das formas de resis-
tência encontradas pelas populações da floresta para assegurar seu direito 
a permanecer na terra e lutar pela sobrevivência ao combater a destruição 
de seu habitat. Por meio desse movimento de resistência, os posseiros e 
seringueiros “empatavam”, ou seja, impediam que os jagunços dos gran-
des fazendeiros agropecuaristas os expulsassem das terras em que já vi-
viam há anos ou desmatassem a floresta.
Trabalhadores rurais reunidos para um empate contra os fazendeiros pe-
cuaristas do Centro-Sul.
Fonte: Acervo Digital do Memorial dos Autonomistas.
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Segundo Elder Andrade de Paula, a luta pela terra era uma cons-
tante e os governos procuravam usar de todos os meios para expulsar as 
populações que nela habitavam.
Dado que a permanência na terra passa a constituir-se como ele-
mento fundamental de resistência, os desmatamentos para fins de 
implantação de projetos agropecuários expressam uma séria ame-
aça aos posseiros em geral e aos seringueiros em particular. Em 
outras palavras, a derrubada da mata representava a eliminação 
das possibilidades materiais de sua sobrevivência, via destruição 
de suas fontes de renda baseadas no extrativismo (principalmente 
as árvores de seringa e as castanheiras), bem como a progressiva 
extinção da fauna e flora que compõem a base de sua alimentação 
(PAULA, 2006, p. 112).
Os empates representaram uma das mais brilhantes formas de re-
sistência do chamado contrapoder em defesa das populações da floresta. 
É no contexto das lutas que muitas forças de reação se avolumam contra-
pondo-se à sujeição. Movimentos de resistência como os empates surgem 
das fortes pressões, aliando a população em torno de bandeiras comuns 
pela defesa de sua permanência na terra.
É justamente no conflito que se trava nas lutas sociais que ganham 
força os princípios da universalidade de cidadania. Assim, quando os di-
versos movimentos sociais como de indígenas, posseiros, seringueiros, 
lavadeiras, agricultores, colonos sem terra e sem teto, desempregados, le-
vantam-se em defesa de seus direitos, passam a atuar como desencadea-
dores do debate, inscrevendo-se na cena pública como forças de resistên-
cia. Essa tentativa de resistência, entretanto, não significa que liberdades 
e direitos estão totalmente salvaguardados, basta voltar os olhos para o 
estado de cerceamento de liberdades que há não muito tempo submete-
ram, e ainda submetem países inteiros.
A Amazônia, no contexto da “mercantilização de tudo”, foi alvo, 
durante a Ditadura Civil-Militar, de um intenso processo de legitimação 
do discurso capitalista. O poder ditatorial não apenas objetivava integrar 
o Brasil espacialmente, mas também ideologicamente. Para tanto, o ideal 
militar de unificar o país perpassava obviamente por iniciativas no cam-
po das telecomunicações. Assim, a criação, em 1965, da Empresa Brasi-
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leira de Telecomunicações - EMBRATEL – sob o lema: “a comunicação 
é a integração” revela os esforços dos donos do poder para perpetuar sua 
dominação através dos meios de comunicação de massa.
Como bem coloca Altvater, “os poderes inconstitucionais na eco-
nomia e o mundo da mídia precisam apresentar um mercado atrativo pa-
ra os clientes, acenar com o lucro para os acionistas e alcançar uma taxa 
de audiência alta”. Assim, esses poderes ditos inconstitucionais não estão 
vinculados às decisões políticas, pois veem os cidadãos que constituem 
essa comunidade política como meros consumidores.
O jogo de interesses políticos durante a Ditadura Civil-Militar evi-
dencia-se, sobretudo, pela celebração da aliança entre os jornais e o po-
der político. O poder oficial, que já manipulava a produção jornalística 
local, passou a financiar de forma mais latente os gastos com os jornais. 
Prova disto é o fato de que, durante esse período quase não se observa, 
em nenhum veículo de comunicação, resistência ou crítica aos atos pre-
sidenciais, o que comprova, ainda, a “eficiência” do aparato de controle 
ideológico montado pela classe dirigente a fim de tornar “homogêneas” 
as opiniões dos diversos jornais existentes no país.
A maioria dos jornais riobranquenses do período da Ditadura Civil- 
Militar apresentava linha editorial

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