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O olho do dono protege o gado jornalismo e Ditadura Militar no ES

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O olho do dono protege o gado: jornalismo e Ditadura Militar no 
Espírito Santo12 
 
RONCHI, Ana Carolina (graduanda)3 
PORTO, Camille (graduanda)4 
DORNELAS, Raquel (mestre)5 
Universidade Vila Velha - ES 
 
 
Resumo: O presente artigo visa investigar um momento crucial da história da imprensa no Brasil, marcado 
por um triplo movimento: a) a transição do modelo opinativo para o informativo; b) o processo de 
profissionalização dos jornalistas; c) a censura e a autocensura impostas pela Ditadura Militar (1964-1985). 
Para tanto, será discutido o processo de estandardização da notícia, em um período de forte controle 
governamental, enfocando a realidade do Espírito Santo. Além da pesquisa bibliográfica e documental, o 
trabalho traz na metodologia a entrevista em profundidade com Carlos Lindenberg Filho (Cariê), que em 
1964 era diretor comercial de A Gazeta (jornal capixaba de maior circulação durante a Ditadura Militar) e 
mais tarde se tornou presidente da empresa, sendo atualmente o proprietário do grupo que compreende 
jornal impresso, rádio, televisão e portal na Internet. Problematiza-se, nesse contexto, a visão do 
proprietário da empresa jornalística e a relação do jornalismo com os circuitos do poder. 
 
Palavras-chave: Empresa Jornalística; A Gazeta; Ditadura Militar; Censura; Espírito Santo. 
 
Introdução 
Este trabalho pretende abordar no contexto da Ditadura Militar a relação entre a imprensa 
e a censura. Partimos do pressuposto de que esse período acarretou diversas 
transformações na sociedade brasileira, tendo forte influência na imprensa nacional. 
Revestidas pela vigilância, repressão e censura governamental, as redações 
 
1 Trabalho apresentado no GT de História do Jornalismo, integrante do 10º Encontro Nacional de História 
da Mídia, 2015. 
2 Trabalho Concorrente ao Prêmio José Marques de Melo de Estímulo à Memória da Mídia 2015. 
3 Graduanda do curso de Jornalismo da Universidade de Vila Velha. Bolsista de iniciação científica do 
projeto Relatos Ausentes, financiado pela Fundação Nacional de Desenvolvimento do Ensino Superior 
Privado (FUNADESP). E-mail: ana.ronchi.acr@gmail.com 
4 Graduanda do curso de Jornalismo da Universidade de Vila Velha. Bolsista de iniciação científica do 
projeto Relatos Ausentes, financiado pela Fundação Nacional de Desenvolvimento do Ensino Superior 
Privado (FUNADESP). E-mail: mille_pm@hotmail.com 
5 Mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Professora do curso de 
Jornalismo da Universidade Vila Velha (UVV). Co-orientadora do projeto Relatos Ausentes, financiado 
pela Fundação Nacional de Desenvolvimento do Ensino Superior Privado (FUNADESP). E-mail: 
raqueldornelas@gmail.com 
 
 
experimentaram outro movimento concomitante que modificou o modo de produção 
jornalística: a transição de um modelo opinativo (que historicamente atrelou os jornais 
brasileiros a disputas político-partidárias e ideológicas) para um formato informativo, que 
discursivamente prima pela descrição dos fatos, sem assumir um ponto de vista. Desse 
modo, a imprensa partidária, que vigorou no país até a primeira metade do século XX, 
acabou dando lugar a um modelo empresarial, que se serve do discurso da objetividade, 
neutralidade e profissionalização de seus agentes como forma de se posicionar e existir 
(COSTA, 2005). 
O tema traz como cenário os anos de chumbo e o endurecimento do regime, materializado 
pelo crescente cerceamento da liberdade de expressão e suspensão dos direitos 
sociopolíticos operados pelos Atos Institucionais. Estes, por sua vez, foram responsáveis 
por levar às redações brasileiras tanto o fortalecimento do golpe, quanto influenciaram 
mudanças no que diz respeito ao tipo de jornalismo praticado no país. A busca por 
produzir um modelo de imprensa informativo para substituição daquele exercido até 
então – muitas vezes, de orientação político-partidária – foi facilitada com a chegada do 
AI 2, que rompe com o padrão de pluralidade de partidos. 
Destaca-se também a presença das mais variadas formas de censura e autocensura e 
busca-se problematizar como o cerceamento da informação era estabelecido no contexto 
das redações. Aprofundando na esfera capixaba, encontramos como objeto empírico o 
jornal A Gazeta, que durante o regime possuía dentro da redação um militar-diretor, 
espécie de escudo para a empresa e seus profissionais, que permitiu a sobrevivência do 
veículo durante os 21 anos do regime militar. 
Os materiais analisados fazem parte do projeto de iniciação científica “Relatos Ausentes” 
desenvolvido por alunos e professores do curso de Jornalismo na Universidade Vila Velha 
(UVV). Buscamos problematizar a relação entre jornalismo e censura na imprensa 
capixaba no período ditatorial, através do resgate da memória de profissionais atuantes 
na imprensa no período em questão. Neste artigo, enfocamos um olhar em particular: o 
do proprietário da empresa jornalística e a gestão de um veículo noticioso num período 
de intenso cerceamento da liberdade de expressão. 
 
 
 
A imprensa nacional, a censura e o golpe de 1964: um breve resgate histórico 
A relação entre imprensa brasileira e censura não se restringe à Ditadura Militar. O 
primeiro jornal brasileiro nomeado de Correio Braziliense era impresso em Londres pelo 
jornalista Hipólito da Costa e foi perseguido pela inquisição, circulando durante 14 anos 
(1808-1822), sempre com a intervenção direta da coroa portuguesa sobre o seu conteúdo. 
Em 1808, com a vinda da corte portuguesa, o Brasil passa a sofrer transformações tanto 
estruturais como intelectuais. Foram necessárias algumas alterações para receber a 
monarquia – esta necessitava expor informações de seu interesse. Nasce então a Gazeta 
do Rio de Janeiro, primeiro jornal impresso no Brasil. Em 1820, é decretada a liberdade 
de imprensa e a liberação para circular impressos portugueses fora de Portugal. Contudo, 
ainda assim, a censura se fazia presente pela Impressa Régia. 
BARBOSA (2013, p. 75), ao refletir a respeito da história da comunicação no Brasil, 
esclarece que no campo ideológico considerava-se que os jornais possuíam funções 
como: discutir as palavras da ordem do dia; definir a posição política adotada; ampliar 
conhecimentos; e expressar juízo de valor e opinião. Em suma, no imaginário social 
vigorava a ideia de que os agentes sociais que manejavam a imprensa eram dotados do 
privilégio de educar, levar luz e instruir àqueles que ainda estavam obscurecidos pela 
ignorância. 
Contudo, com o desenvolvimento do jornalismo como campo profissional, os jornais 
começaram a ser vistos não só como suporte informativo e de formação das massas, mas 
como empresas, tendo como marcos o investimento na área visual e o apelo comercial da 
notícia, entre outros. Em tempos em que aqueles que detêm a informação de certo modo 
também detêm o poder, a tarefa de narrar o cotidiano se torna uma moeda valiosa, passível 
de ser ambicionada econômica e politicamente (MEDINA, 1988). 
A história brasileira é repleta de exemplos do uso dos meios de comunicação e do próprio 
jornalismo para controle e influência política. O Estado Novo (1937-1945) buscava 
orientar as massas e fazer com que Getúlio Vargas conquistasse a adesão da popular. Esse 
período mostrou também um rigoroso controle sobre a mídia em geral. 
 
Os anos de 1960 chegaram, assistiram à mudança da capital do país para Brasília e a 
implantação do regime militar, se constituindo em mais um período marcadopor grande 
censura sobre os meios de comunicação. A maior parte da chamada imprensa de 
referência ou tradicional, no primeiro momento, estava ao lado da intervenção militar; 
porém, não era esperado que tal intervenção chegasse às redações e trouxesse 
consequências tão severas. Nesse período, observa-se a concentração e o poder de jornais 
que ainda hoje ocupam espaço: 
De certo modo, os anos 1960 e 1970 foram o auge da grande imprensa 
tradicional, se forem consideradas a vendagem e a circulação dos 
diários. Eram vendidos aproximadamente 5 milhões de jornais e os 
diários mais influentes haviam passado por reformas recentes, 
tornando-se empresas mais sólidas. Também houve diversificação no 
perfil da imprensa, com a entrada em cena de diários que disputavam o 
público de mais baixa renda. O acirramento da competição e as pressões 
exercidas pelo regime militar levariam à redução do número de jornais 
no início dos anos 1970, gerando fenômeno de concentração nas 
empresas maiores, ao mesmo tempo que as tiragens aumentavam 
(MOTA, 2013, p.63). 
 
 
Nesse ponto, é importante ressalvar que já estava presente uma censura de ordem moral, 
balizada pelos chamados bons costumes da população brasileira. Nos anos da ditadura, 
as regras de conduta continuaram vigorando. Contudo, com o passar dos anos – e a 
censura cada vez mais presente e violenta –, os jornais que conseguiram se manter 
estáveis se tornaram mais do que instrumentos educativos: se constituíram como 
empresas que visavam a viabilidade econômica e, para tanto, tiveram que se alinhar, em 
maior ou menor grau, com os circuitos do poder vigente. 
 
Entra em vigor o AI5 
O ano de 1968 foi marcado por um endurecimento no regime, que teve como 
consequência muitos protestos contra a censura, a restrição de direitos políticos e a 
repressão por parte dos militares no poder. Curiosamente, dois anos antes, os ex-
presidentes Juscelino Kubitschek e João Goulart, além do ex-governador da Guanabara 
Carlos Lacerda, haviam iniciado o movimento “Frente Ampla”, em defesa do retorno à 
democracia, que surgia como demanda em parte da classe política e em outros setores da 
sociedade (KUSHNIR, 2004). 
 
O movimento estudantil também se fortalecia na oposição ao regime e esteve à frente de 
manifestações como a “Passeata dos Cem Mil”, em junho de 1968, no Rio de Janeiro, que 
reuniu também professores, religiosos, intelectuais e artistas, entre outros. Em resposta a 
essa pressão e como forma de garantir o controle sobre o país, o governo edita o Ato 
Institucional nº 5 (AI-5), em 13 de dezembro de 1968. 
No discurso dos militares, a decisão prometia reforçar um regime que “assegurasse 
autêntica ordem democrática, baseada na liberdade” e “no respeito à dignidade da pessoa 
humana” (Ato Institucional nº 5, 1968, preâmbulo). No entanto, o AI-5 deixava claro 
desde o início que se tratava de uma ferramenta de controle do Estado sobre a imprensa, 
a política e outros aspectos da vida social do país. 
O ato dava ao presidente o poder de cassar mandatos políticos, decretar o recesso do 
Congresso Nacional (em estado de sítio ou fora dele), suspender os direitos políticos de 
quaisquer cidadãos (pelo prazo de 10 anos), demitir funcionários públicos, aposentá-los 
ou coloca-los em disponibilidade. Em consequência, o habeas corpus perde sua aplicação 
legal. (Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968). 
 
 
Com o AI5, o presidente da República pode tudo (...) A linha dura e os 
órgãos de repressão ganham mais espaço e poder. Os direitos e garantias 
individuais são esmagados (...) A censura à imprensa alcança o ápice; a 
repressão espalha-se, inclusive pelo sistema educacional. Muitos 
opositores do regime militar, sobretudo jovens, não vêm outra saída 
para atuarem que não a clandestinidade e a luta armada (COUTO, 1999, 
p. 96). 
 
 
A violência com que o AI-5 seria imposto e que o caracterizou nos anos seguintes foi 
sentida pela imprensa antes mesmo de sua edição. No dia 12 de dezembro, “censores 
invadem as redações de rádios, jornais e televisões. No dia seguinte, centenas de 
jornalistas, intelectuais, estudantes e artistas vão para as celas em todo o país” (COUTO, 
1999, p. 97). Muitos jornais foram também apreendidos e proibidos de circular. 
 
O general Emílio Garrastazu Médici foi empossado na presidência no dia 30 de outubro 
de 1969 e o período em que governou o país ficou caracterizado por um endurecimento 
do regime ao restringir liberdades democráticas, promover a censura, perseguir e oprimir 
os opositores, entre outras ações. A tortura se tornou prática sistemática do Estado contra 
 
aqueles que eram considerados uma ameaça à segurança nacional. Nesse contexto, muitos 
jornalistas assumiram o papel de militantes, buscando meios de combater a ditadura, 
ainda que indiretamente. 
A repressão e a censura se estendiam também para todo tipo de expressão artística. Muitas 
peças de teatro sofreram cortes de cenas, músicas foram vedadas, assim como diversos 
filmes e obras de artes plásticas. Artistas e intelectuais usavam o humor e a arte para 
criticar o governo, na tentativa de incentivar as pessoas à reflexão sobre o contexto 
político do país. 
Em algumas redações capixabas estavam presentes os censores, que controlavam a 
veiculação das notícias e avaliavam cada matéria, permitindo ou não a publicação do 
produto. Com a censura, os jornalistas procuravam “enganar” os censores, e acabavam 
ofertando narrativas que nas entrelinhas cumpriam o papel de narrar uma nação proibida 
de pensar a respeito de si própria. 
No início de abril de 1975, o jornal Pasquim circula nas bancas de jornal de todo o país 
com o editorial intitulado “Sem censura”, assinado por Millôr Fernandes, que informava 
ao público que o jornal estava livre da censura prévia desde 24 de março daquele ano 
(KUSHNIR, 2004, p. 18). 
A censura preventiva ou prévia é o direito que o governo tem de exercer vigilância sobre 
a publicação de matérias, livros, obras, fora da intervenção dos tribunais. Segundo 
Martinuzzo (2009), os jornais capixabas quase não enfrentaram esse tipo de censura 
direta. Privados da presença dos censores na redação, os jornalistas estavam sujeitos a 
publicar matérias consideradas ofensivas ao governo e serem punidos por essa atitude. 
Para evitar punições, os profissionais passaram a controlar o que escreviam: exerciam a 
autocensura – o ato de alguém aplicar a censura sobre sua própria ação, seu próprio 
comportamento, suas próprias obras. 
Existe também a visão de que a autocensura é uma forma de anular parte de uma 
informação pelo jornalista, privando o leitor de receber informações completas de fatos 
relevantes. Seguindo essa lógica, acredita-se que se torna difícil discernir se o texto foi 
 
censurado ou não, pois, se os fatos são controlados, eles não deixam cicatrizes – marcas 
visíveis para tal entendimento (MARTINUZZO, 2009). 
Houve um caso isolado em que o jornal Pasquim se viu na necessidade da presença de 
um censor nas redações, para que os jornalistas parassem de exercer a autocensura e de 
assumir o risco de publicar matérias consideradas ofensivas ao Governo (KUSHNIR, 
2004, p. 18). 
 
Imprensa capixaba e censura 
 
Pode-se falar dos primórdios da imprensa no Espírito Santo em 1840 quando “O Estafeta’’ 
é criado ainda no governo provincial a fim de gerar a publicação de atos oficiais 
prevalecendo dessa forma a divulgação da política, assim como nos mostra MATTEDI 
(2010, p. 25): 
 
[...] o foco principal dosperiódicos, até o início do século XX, era a 
propaganda política, o que dava às publicações um caráter panfletário. 
Usados como ferramentas partidárias, os jornais serviam ao 
denuncismo ou para mandar recados para desafetos. A linguagem 
desabrida e a troca de ofensas faziam dos impressos verdadeiros 
jornais-trincheiras. 
 
A censura e análise de publicações capixabas se dá antes mesmo do ano de 1964. Pode-
se citar já na Era Vargas o Departamento de Imprensa e Propaganda (DEIP), além da 
Delegacia de Ordem Política e Social do Espírito Santo (DOPS/ES) criada em 1930 
buscando a vigilância principalmente sobre o movimento comunista. 
Esse órgão foi de suma importância para os vinte anos em que se seguiu a Ditadura Militar 
(1964-1985), já que realizava a manutenção, vigilância e até mesmo a contenção de 
movimentos contrários ao regime vigente. Quando é criado o Sistema Nacional de 
Informações (SNI) em 1964, e anos depois a promulgação dos Atos Institucionais que só 
intensificaram as decisões já tomadas. E assim que os órgãos de repressão começam a ser 
comandados pelas forças armadas, o combate a “elementos subversivos” chega a seu auge 
(FAGUNDES, 2011, p.23). 
 
Falar de mídia impressa no período de ditadura significa falar de luta, repressão, censura, 
omissão e de afirmação do poder das empresas de comunicação. No Espírito Santo, a 
situação não foi diferente, e podemos analisá-la a partir de algumas publicações locais, 
como A Gazeta, O Diário, Jornal da Cidade e o jornal alternativo Posição. 
Em A Gazeta, por exemplo, – um dos jornais de maior circulação atualmente e no período 
de 1964 até 1985 -, por exemplo, a encontrava em três estágios: O primeiro era bilhetes 
oriundos dos órgãos de controle de imprensa do Governo (comunicado dos assuntos que 
não poderiam constar nos noticiários e páginas de jornais). 
Em um segundo momento editores dos jornais que em busca de proteção acabavam por 
censurar textos dos próprios repórteres. No terceiro estágio os responsáveis eram os 
profissionais, que em busca da aprovação de seu texto realizavam a autocensura. 
Metáforas, sutis colocações, jogo de palavras. Alguns profissionais buscavam encontrar 
formas de enfrentar a censura. Jornalistas eram levados a dar esclarecimentos e algumas 
vezes até presos, isso tudo para buscar intimidar os profissionais que nem sempre 
desistiam facilmente. 
Falar de economia, circular à tarde, ter liberdade de escrita e formato, ser uma verdadeira 
escola de jornalismo. Assim era conhecido O Diário, o jornal da Rua Sete. Buscaram 
inovações, a estruturação da área financeira, porém, não era o grande forte e em 1980 é 
decretado o fim do mesmo (TATAGIBA, 2010, p.78-83). 
 
Em 1970, com o investimento para descentralizar a industrialização e a busca em 
transformar a economia do Espírito Santo surgem os jornais alternativos já que os 
veículos considerados como grande imprensa encontravam-se presos pela censura. No 
Espírito Santo, ao falar de imprensa alternativa é necessário a inserção de Posição: 
 
Apesar de jornalistas capixabas, por sua militância, em função da 
postura cotidiana nas redações e por brechas que abriam nas coberturas, 
terem sido detidos diversas vezes, presos, perseguidos e trabalharem 
sob vigilância patronal e policial, apenas o jornal alternativo Posição 
(1976-1979) conseguiu produzir uma pauta crítica dos anos de chumbo. 
(MARTINUZZO, 2009, p.13) 
 
 
Apesar de a época do regime ditatorial ter sido um período de tensão dentro das redações, 
foi nesse tempo também que se estabeleceram as grandes empresas nacionais e locais de 
comunicação. Esses grupos assimilaram a censura oficial de maneira mais intensa, mais 
por questão de sobrevivência empresarial do que propriamente por ideologia, haja vista 
que a ditadura recaiu por todos os setores da sociedade brasileira que, de alguma maneira, 
discordavam do regime imposto. 
 
Outro jornal Espírito-Santense, o Jornal da Cidade (1972-1992) teve toda sua edição 
apreendida em 15 de outubro de 1975 pela polícia Civil, sendo que antes já havia recebido 
represálias devido às publicações. O Governo do Estado passou a não dar mais nenhum 
dinheiro em publicidade para o jornal e coagir as empresas a fazer o mesmo 
(MARTINUZZO, 2005, p.186). 
 
Em outras palavras, tanto profissionais quanto empresas encontravam-se em uma difícil 
relação. Havia ocorrência de torturas, perseguições e mortes pelo regime imposto. Existia 
a censura que quando não explicitada antes do desenvolvimento da matéria já quase que 
inerente ao jornalista se fazia presente a autocensura. E como se já não bastasse, o poder 
econômico do governo sobre o jornal era tamanho que as chances de que caso não 
acatasse as ordens do mesmo dificilmente teria futuro os veículos relacionados. 
 
Cariê: o olhar do dono de A Gazeta 
Entre os jornais capixabas do período, aquele que mais se aproxima do perfil editorial da 
grande imprensa nacional é A Gazeta, ainda hoje um veículo de grande importância no 
estado. Fundado por Thiers Vellozo em 1928, o matutino passou ao controle da família 
Lindemberg em 1949, e serviu de instrumento político para o então governador Carlos 
Lindemberg e o PSD no Espírito Santo. 
A Gazeta circulou durante os 21 anos do regime militar e, nesse período, se consolidou 
como um interlocutor da elite política e intelectual do estado. Na década de 1970, a 
empresa pagava os melhores salários do mercado local e atraía profissionais de destaque. 
Dessa forma, o jornal se constitui num objeto privilegiado para se compreender a maneira 
como a censura se comportou em relação à grande imprensa no Espírito Santo. 
 
Conforme já explicitado, a breve análise a seguir busca mostrar a relação entre o jornal e 
os órgãos de repressão durante a ditadura militar, com ênfase no ponto de vista da 
empresa. Para isso, além do levantamento bibliográfico e da pesquisa no Centro de 
Documentação da Gazeta, este artigo utilizará entrevistas com o atual presidente do 
Conselho de Administração da Rede Gazeta, Cariê Lindemberg, filho de Carlos 
Lindemberg e presidente da empresa durante a maior parte dos anos de chumbo. 
Nos meses anteriores ao golpe de 1964, A Gazeta apoiava o governo de João Goulart e 
seu projeto de reformas de base, refletindo a posição de Carlos Lindemberg, então 
senador, com quem Jango tinha uma relação pessoal bastante próxima. Entretanto, a crise 
política que levou à queda de Goulart e a ascensão dos militares ao poder fez com o jornal 
respaldasse a derrubada do presidente. 
Em uma já conjuntura de ditadura militar A Gazeta encontrava em sua redação a presença 
de alguns comunistas, estes por sua vez, não foram esquecidos por aqueles que se 
encontravam no poder. A todo momento deveriam lembrar que como jornalistas, suas 
ações eram vigiadas: 
A Gazeta tinhas muitos comunistas. Mas não eram contra revolucionar, 
não tinham negócio de armas. Eram simplesmente comunistas e todos 
eles foram, cada um em sua vez chamados no quartel onde ouviam o 
seguinte: se você não fizer nada errado não vai te acontecer nada. Agora 
se mexer comigo vai ser preso, vai se ver conosco. Todos eles aceitaram 
essa situação e ficaram quietinhos” (LINDEMBERG, 2014). 
 
Poucos dias após o golpe – 08/04/1964 – ocorre a substituição do diretor Eloy Nogueira 
da Silva por Darcy Pacheco de Queiroz, general da reserva, cunhado de Carlos 
Lindemberg. Essa mudança possibilitou a sinalização de que o jornal possivelmente não 
iria de encontro ao regime, estando de acordo com as novasnormas regentes. Cariê – 
sobrinho de Darcy – relata o general como alguém de “mente aberta”, militar reformado, 
homem da área de esporte e lazer. Pacheco seria uma “um camarada à paisana”, uma 
espécie de escudo para que não se imaginasse qualquer reação no jornal (LINDEMBERG, 
2014). 
Nós tínhamos um diretor de redação chamado Marien Calixte que teve 
a ideia de colocar um quadro enorme nas escadarias da redação e a 
censura vinha em forma de bilhetinhos: “Não publicar nada sobre Noel 
de Câmara, por exemplo. Aquele quadro era mais visitado do que o 
 
jornal A Gazeta do dia seguinte. Era uma beleza, todo mundo que queria 
saber novidade ia ali, porque ali é que estava o quente. E assim foi por 
um longo período. Nunca vi um censor, eu sei que eles estiveram 
presentes porque eu ouvi falar. Não vinha, não bisbilhotava o que estava 
escrito. Ele mandava um bilhete e ele era pregado lá no quadro 
(LINDEMBERG, 2014). 
Ao falar sobre a Ditadura Militar, Lindemberg (2014) aborda os Atos Institucionais de 
forma recorrente. O AI2, por exemplo, entra em vigor no ano de 1965 ampliando os 
poderes presidenciais e fortalecendo mais do que seu antecessor (AI-1) o poder executivo. 
Introduziu o bipartidarismo no país com as agremiações MDB -Movimento Democrático 
Brasileiro - e Arena - Aliança Renovadora Nacional- (FAGUNDES, 2011, p. 26-27). Para 
A Gazeta em especial, o acontecimento gerou a oportunidade de quebrar a amarração ao 
PSD (Partido Social Democrático) já citada acima: 
Olha, isso foi para nós uma bênção. Desde que eu comecei a ficar mais 
na área editorial do jornal que eu tinha um propósito muito firme e 
muito vibrante de levar A Gazeta de uma situação de atrelamento a um 
partido político, porque ela era atrelada, assim como todos os jornais do 
Brasil. Até mesmo para ser mais acreditada, ter mais prestígio. Isso era 
uma tarefa extremamente difícil enquanto você tinha o PSD vivo e uma 
oposição viva ao PSD. Quando veio esse fechamento dos partidos 
políticos vigentes, com a criação de um a favor de outro que é a ARENA 
e o MDB não tinha mais PSD, não tinha mais o que ser atrelado 
(LINDEMBERG, 2014). 
Além do abandono do caráter opinativo e a adoção de um modelo desligado de questões 
político-partidárias, Lindemberg (2014) reforça outras características assumidas pelo 
jornal ao longo do período ditatorial, tais como o investimento na editoria de economia 
(primeiramente para narrar os avanços do chamado “milagre econômico”, em especial, 
entre 1969 e 1973); o destaque ocupado no periódico pelas charges, usadas como meio 
para criticar as arbitrariedades sofridas no período de forma leve, mas reflexiva; e a 
sistemática substituição dos profissionais ligados à política e à literatura por jovens 
jornalistas oriundos das universidades. 
Nesse ponto, o processo de organização empresarial da atividade jornalística e a 
consequente profissionalização de seus agentes são apontados como fatores que 
contribuíram para a adoção de um texto cada vez mais objetivo, que se serve de técnicas 
de apuração e escrita específicas, visando materializar os ideais de busca da verdade, 
credibilidade, isenção e pretensa neutralidade. Além disso, observa-se que a inserção do 
jornalismo na lógica de uma sociedade capitalista não eximiu a sua autoinstituição como 
 
uma instância mediadora do interesse público, mesmo diante de um contexto 
sociopolítico de cerceamento da liberdade de expressão. 
Considerações finais 
A trajetória do jornalismo demonstra que a censura já se fazia presente muito antes da 
entrada no ano de 1964 e consequentemente com o início do golpe militar. Os anos de 
chumbo trouxeram consequências tanto ao lado profissional, quanto à empresa e seu 
dono. A censura presente impossibilitava a divulgação de temas que iam contra o regime 
vigente e se manifestava tanto por papéis enviados e fixados na redação quanto pelos 
próprios editores e jornalistas que buscavam prezar pela empresa e seus ofícios. 
Na esfera capixaba, A Gazeta encontrou nos Atos Institucionais a solução para acabar 
com partidarismo que definia a existência dos periódicos jornalísticos no estado até então. 
Nasce, assim, a possibilidade de uma linha editorial livre de questões partidárias e mais 
alinhada com o modelo empresarial informativo que configura, na segunda metade do 
século XX, um novo perfil de imprensa por todo o país. A presença de um diretor-militar 
garantiu uma pseudo-segurança e a estabilidade para circulação diária. Mas, ainda que o 
olhar do dono veja certo avanço no que diz respeito à implantação de um formato 
jornalístico apartidário, nada se destaca mais no período do que aquilo marcou a ditadura 
militar: a censura, a tortura e a morte. 
Referências 
 
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