Buscar

TCC PRONTO - Copia (1)

Prévia do material em texto

FACULDADE DO VALE DO JAGUARIBE – FVJ 
 CURSO DE BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL 
 
 
 
 
 
 ROBERTA REINALDO DE OLIVEIRA 
 
 
 
 
 
 A VISÃO DO ASSISTENTE SOCIAL EM RELAÇÃO ÀS MEDIDAS 
 SOCIOEDUCATIVAS NO MUNICÍPIO DE RUSSAS-CE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ARACATI-CE 
2018 
 ROBERTA REINALDO DE OLIVEIRA 
 
 
 
 
 
 
 
A VISÃO DO ASSISTENTE SOCIAL EM RELAÇÃO ÀS MEDIDAS 
SOCIOEDUCATIVAS NO MUNICÍPIO DE RUSSAS-CE 
 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de 
Bacharelado em Serviço Social da 
Faculdade do Vale do Jaguaribe, como 
requisito parcial para a obtenção do Título 
de Bacharel em Serviço Social. 
 
Orientadora: Prof.ª Patrícia de Pontes 
Teixeira Alhadef 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 ARACATI-CE 
 2018 
 
 
 AGRADECIMENTOS 
 
 
Primeiramente a Deus, que permitiu que tudo isso acontecesse, ao longo de 
minha vida, e não somente nestes anos como universitária, mas que em todos os 
momentos é o maior mestre que alguém pode conhecer. 
À Faculdade do Vale do Jaguaribe, pela oportunidade de fazer o curso. 
Agradeço a todos os professores por me proporcionar conhecimento não 
apenas racional, mas a manifestação do caráter e afetividade da educação no 
processo de formação profissional, e, especialmente, à minha orientadora Patrícia 
Teixeira, pelo exemplo de profissional, pela compreensão, pelas correções, confiança 
e apoio. 
Aos meus pais, por todo amor, dedicação, pela educação e por me ensinarem 
a ser uma mulher forte. 
Ao meu irmão Robson, pela ajuda e pelo incentivo na concretização do meu 
sonho. 
Ao meu namorado e melhor amigo Gabriel, pelo amor, carinho e 
companheirismo. Por estar ao meu lado, apesar das distâncias, me apoiando em 
todos os momentos. 
À minha tia Eliete e à minha prima Cintia, por todo amor, apoio e zelo 
dedicados a mim. 
Às minhas amigas e companheiras de curso Ariane e Mariana, por todos os 
momentos compartilhados ao longo da nossa carreira acadêmica. Às minhas amigas 
Ana Karoline, Valdilene e Roseane, pela amizade sincera de muitos anos. À minha 
querida Alice, pela ajuda ofertada a mim. 
 A todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação, o meu 
muito obrigada. 
 
 
 
 
 
 RESUMO 
 
O presente estudo buscou fazer uma análise da visão do assistente social em relação 
às medidas socioeducativas, previstas no artigo 121 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, efetivadas no município de Russas-CE. Buscou-se verificar a relação 
entre o profissional de Serviço Social e o adolescente em conflito com a lei no CREAS. 
Indicar quais as dificuldades apontadas pelos profissionais de Serviço Social para 
aplicar a medida socioeducativa. Discutir os princípios norteadores da Lei do SINASE, 
em consonância com o projeto ético-político da profissão. Este estudo de caso foi 
realizado com assistentes sociais que atuaram no CREAS do referido município, 
através de uma entrevista semiestruturada por meio de um questionário, usando como 
aporte teórico a pesquisa bibliográfica e a pesquisa documental. Observou-se que os 
adolescentes em conflito com a lei sofrem preconceito por parte das instituições ao 
aceitá-los para o cumprimento da medida. Verificou-se também a falta de políticas 
sociais de inclusão voltadas aos jovens após a execução da medida. Pode-se 
constatar que o trabalho do assistente social é fundamental na efetivação das medidas 
socioeducativas, pois o profissional está diretamente envolvido em todo processo de 
realização do serviço, sob a égide das leis que regem o Sistema Socioeducativo. Os 
resultados podem colaborar futuramente, como subsídio a outros profissionais e 
pesquisadores em novas formas de intervenção no enfrentamento a essa expressão 
da Questão Social. 
 
PALAVRAS-CHAVE: Medida socioeducativa. Assistente social. Adolescente em 
conflito com a lei. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 ABSRACT 
 
The present study sought to analyze the social worker's vision in relation to socio-
educational measures, provided for in article 121 of the Statute of the Child and 
Adolescent, carried out in the municipality of Russas-CE. We sought to verify the 
relationship between the Social Work professional and the teenager in conflict with the 
law in CREAS. Indicate the difficulties pointed out by Social Work professionals to 
apply the socio-educational measure. Discuss the guiding principles of the SINASE 
Law, in line with the ethical-political project of the profession. This case study was 
carried out with social assistants who worked in the CREAS of the mentioned 
municipality, through a semi-structured interview through a questionnaire, using as 
theoretical contribution the bibliographic research and the documentary research. It 
was observed that adolescents in conflict with the law suffer prejudice from the 
institutions when accepting them to comply with the measure. There was also a lack 
of social inclusion policies aimed at young people after implementation of the measure. 
It can be verified that the work of the social worker is fundamental in the 
accomplishment of socio-educational measures, since the professional is directly 
involved in every process of performing the service, under the aegis of the laws that 
govern the Socio-educational System. The results can collaborate in the future, as a 
subsidy to other professionals and researchers in new forms of intervention in coping 
with this expression of the Social Question. 
 
Keywords: Socio-educational measure. Social worker. Adolescent in conflict with the 
law. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................... 9 
2. CRIANÇA E ADOLESCENTE ..............................................................11 
2.1 A história da criança e do adolescente no Brasil .............................12 
 2.2 A trajetória da família brasileira ...................................................... 22 
3. LEGISLAÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS ......................................... 29 
 3.1 Legislação de proteção à criança e ao adolescente ..................... 29 
3.2 Das políticas públicas voltadas à juventude ..................................37 
4. DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS ................................................44 
4.1 O que são as medidas socioeducativas ..........................................44 
 4.1.1 Da Advertência ....................................................................................49 
4.1.2 Da Obrigação de Reparar o Dano .......................................................49 
4.1.3 Da Prestação de Serviços à Comunidade ...........................................49 
4.1.4 Liberdade Assistida .............................................................................50 
4.1.5 Regime de Semiliberdade ...................................................................51 
4.1.6 Internação ............................................................................................52 
 4.2 Das políticas públicas de assistência social e o sistema 
socioeducativo ...................................................................................54 
4.3 Do processo de efetivação das medidas socioeducativas ...........57 
4.4 Dos técnicos envolvidos ...................................................................61 
5. ESTUDO DE CASO ............................................................................63 
5.1 Sobre o CREAS e a sua atuação no município de Russas-CE .....63 
5.2 O assistentesocial e o seu trabalho com as medidas 
socioeducativas .................................................................................66 
5.3 A visão do assistente social em relação às medidas 
socioeducativas efetivadas no município de Russas-CE ..............70 
5.4 Metodologia de pesquisa ..................................................................79 
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................80 
 REFERÊNCIAS ................................................................................. 82 
 APÊNDICE ..........................................................................................88 
 ANEXOS .............................................................................................89 
 
9 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
Atualmente, no Brasil, está em vigor o programa de Medidas Socioeducativas 
(MSE), que são medidas aplicáveis a pessoas na faixa etária de 12 a 18 anos, e em 
casos excepcionais, pode estender-se a jovens com até 21 anos. Não apresentam 
caráter punitivo, apesar de configurar como resposta a um ato infracional, mas de 
cunho pedagógico com intuito de responsabilizar o adolescente. Está previsto no 
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e são aplicadas pelo Juiz da Infância e 
da Juventude, após proferir sentença. 
 Esta pesquisa tem por objetivo analisar a visão do profissional de Serviço 
Social em relação às medidas socioeducativas (MSE) na cidade de Russas-CE, bem 
como verificar a relação entre o assistente social e o adolescente em conflito com a 
lei no Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS); indicar 
quais as quais as dificuldades apontadas pelos profissionais de Serviço Social para 
efetivar o serviço de medida socioeducativa e discutir os princípios norteadores da Lei 
do SINASE, em consonância com o projeto ético-político da profissão. 
Primeiro, percorremos a história da criança e do adolescente no Brasil, desde 
a sua vinda nas embarcações portuguesas, onde as crianças pobres e órfãos eram 
submetidos a todo tipo de abuso e violência pela tripulação; o histórico de 
negligências, abandono e doenças das crianças desvalidas no período colonial, e a 
criação das primeiras instituições de acolhimento. Retratamos também, a trajetória e 
transformação da família brasileira ao longo dos séculos, da família patriarcal, a 
inserção da mulher no mercado de trabalho, e as inúmeras composições familiares 
que existem atualmente. 
Em seguida, tratamos da legislação de proteção à criança e ao adolescente, 
e das políticas públicas voltadas à juventude. A problemática que levou a elaboração 
do Código de Menores, em 1927, que após sua implantação iniciou uma fase de maior 
interferência do Estado no trato aos menores abandonados e delinquentes juvenis, e 
mais tarde, com a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990, 
foi instaurada a doutrina de proteção integral a esse público, com leis que os amparam 
10 
 
e garantem direitos, bem como as políticas governamentais destinadas à juventude 
brasileira nos últimos anos. 
No capítulo seguinte, exploramos as medidas socioeducativas do ECA, cada 
um de seus princípios, processo de efetivação e os técnicos envolvidos, o público-
alvo que são os adolescentes em conflito com a lei, sondando os possíveis motivos 
que os levam a cometer os atos infracionais. As políticas públicas de assistência 
social, o Sistema Socioeducativo e as leis que os regem. 
Por conseguinte, procuramos analisar a visão do assistente social que 
trabalha no serviço de medidas socioeducativas executadas no CREAS do município 
de Russas-CE, o ponto de vista do profissional quanto as leis do Sistema 
Socioeducativo, o perfil do adolescente que comete o ato infracional, o 
comprometimento do jovem e sua família no cumprimento da medida, e as 
dificuldades enfrentadas pelo profissional de Serviço Social para efetivação do 
serviço. 
 Para tanto, utilizamos a técnica de pesquisa de campo através uma entrevista 
semiestruturada por meio de questionário aplicado às Assistentes Sociais. Pesquisas 
bibliográficas e pesquisa documental na instituição CREAS do referido município, 
foram usadas como aporte teórico para embasar o tema proposto, e assim, obter o 
resultado pretendido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
 
 
2 . CRIANÇA E ADOLESCENTE 
 
2.1 A história da criança e do adolescente no Brasil 
 
A história da criança e do adolescente no Brasil é marcada por uma série de 
privações de direitos essenciais como saúde, educação e alimentação. 
 
A negação desses direitos produziu um alto contingente de crianças e 
adolescentes vítimas de maus-tratos, brutalidade, negligência aos casos de 
deficiência, fome, abuso sexual, exploração do trabalho, privação de brincar, 
perambulação, extermínio e mortalidade precoce. (SAETA, 2004, p.1) 
 
Para que se possa compreender como se deu esse histórico de privações de 
direitos, será preciso compreender qual o significado imputado à infância e 
adolescência no decorrer da história. 
“A criança como indivíduo percorreu a história da humanidade recebendo 
diferentes tratamentos em função das diferentes relações que foram estabelecendo.” 
(BERNARTT, 2009, p.2) 
No Brasil, o significado de infância começou a ser construído do país na 
colonização do país, a partir de 1530, com sua nova população de imigrantes. 
 
Com a colonização no início do século XVI, o Brasil passava por um processo 
de povoamento. Junto com os imigrantes vinham seus filhos e outras 
crianças; órfãos e crianças pobres recrutados pela Coroa Portuguesa. 
(BERNARTT, 2009, p.5) 
 
Durante as viagens nas embarcações lusitanas, as crianças eram as que mais 
sofriam: 
 Grumetes e pagens eram obrigados a aceitar abusos sexuais de marujos 
rudes e violentos. Crianças, mesmo acompanhados dos pais eram violadas 
por pedófilos e as órfãs tinham que ser guardadas e vigiadas cuidadosamente 
a fim de manter-se virgens pelo menos, até que chegassem à Colônia. 
(RAMOS, 1999, p.19) 
 
12 
 
Por causa da alta taxa de mortalidade infantil na Idade Média, a expectativa 
de vida, durante um período, chegava aos 14 anos, o que fazia com que não 
tivessem valor algum, assim, sendo forçadas a trabalharem durante o curto período 
de vida que tinham. Como faltava mão-de-obra adulta, a Coroa recrutava meninos 
órfãos e de famílias pobres para trabalharem como grumetes1 nas naus portuguesas. 
Eram enviadas também nas embarcações, meninos que exerciam a tarefa de 
pagens, mais livres e menos perigosas que as tarefas dos grumetes, pagens tinham 
mais proximidade com os oficiais, o que lhes garantiam algumas vantagens, mesmo 
assim não estavam livres de sofrerem abuso por parte dos marinheiros. 
Faziam parte também dos imigrantes as órfãs do Rei, meninas sem família e 
pobres que moravam em abrigos. E crianças que iam como passageiras 
acompanhadas de suas famílias, na qual chamavam de miúdos. 
“Diferente das outras crianças a bordo, esses pequenos passageiros podiam 
ter menos de cinco anos ou ser ainda de colo.” (RAMOS, 1999, p.34) 
Os maus tratos e violência não ficaram apenas restritos às crianças 
imigrantes: 
“Já no Brasil colonial, milhares de crianças indígenas morreram com a 
chegada dos primeiros colonizadores que tentavam “domesticar” as tribos.” (SAETA, 
2004, p.1) 
Os colonizadores impuseram sua cultura cristã aos indígenas e suas crianças, 
na tentativa de destruir a cultura ancestral das tribos. 
Os jesuítas acreditavam que a salvação das crianças indígenas viria através 
da catequização, mantê-los obedientes até a fase adulta e assim, levá-los a esquecer 
sua própria cultura. 
 
Os jesuítas acreditavam trazer aos índios o benefício inestimável da “graça 
do batismo cristão”. Esta exigência da Coroa portuguesa, entre outros, 
ajudavaa escamotear a exploração do trabalho indígena e das riquezas 
naturais da Colônia como os minérios e o pau-brasil. (SAETA, 2004, p.2) 
 
 
1 Os Grumetes eram os aprendizes de marinheiro, tinham em torno de 12 anos e realizavam inúmeras tarefas 
como limpeza e auxílio no carregamento de ferramenta dos carpinteiros, quando havia algum reparo na Nau, o 
que levava a ser a classe menos favorecida nas embarcações. Disponível em: 
http://oficinadohistoriador.blogspot.com.br/2010/10/quem-eram-e-o-que-faziam-os-grumetes.html?m=1. 
Acesso em: 23 fev. 2018 
http://oficinadohistoriador.blogspot.com.br/2010/10/quem-eram-e-o-que-faziam-os-grumetes.html?m=1
13 
 
O histórico de negligências e trabalhos forçados não ficou apenas nas 
embarcações lusitanas, no Brasil quinhentista o trabalho fazia parte do cotidiano das 
crianças escravas, incorporando-as ao mundo adulto. 
Diferentemente das crianças brancas e ricas, que no nascimento eram 
confiadas às amas de leite e quando estavam maiores, ingressavam nos colégios 
religiosos onde recebiam aprendizados e boas maneiras. 
Com o passar do tempo, cresceu o número da população pobre, e 
consequentemente, o aumento do abandono e da rejeição infantil. 
 
É difícil definir os motivos que levaram as mães ao abandono dos filhos, mas 
tudo faz crer que as razões eram principalmente de ordem econômica e 
social. A doutrina cristã, no decorrer da história, consolidou o valor ético da 
família e condenou severamente o adultério, a ponto de o Direito Canônico 
não admitir a ordenação sacerdotal de um filho bastardo. Na sociedade 
patriarcal brasileira, o adultério era um delito que recaí a mulher e a criança. 
Enquanto a rejeição se resolvia pelo infanticídio nas sociedades primitivas, o 
abandono ou confinamento em instituições de caridade era uma prática 
comum nas sociedades urbanas “civilizadas”. (SAETA, 2004, p.2) 
 
Os recém-nascidos eram deixados em terrenos baldios e ali abandonados, 
onde quase sempre morriam de fome, frio e por ferimentos causados por bichos que 
viviam nas ruas. Tal visão causava escândalo na população daquela época, inclusive 
os governadores portugueses que eram sempre indiferentes ao sofrimento daquele 
povo. 
As leis portuguesas da época colonial, diziam que os hospitais, 
primeiramente, teriam a responsabilidade de dar assistência aos meninos e meninas 
entregues ao abandono. 
 
No Rio de Janeiro, a referência mais remota a respeito da fundação de 
hospital é de 1582, e, em Salvador, 1552. As então denominadas Santas 
Casas eram mantidas por irmandades leigas sob a invocação de Santana, 
Nossa Senhora do Bonsucesso ou da Misericórdia. Em sua maior parte, os 
membros dirigentes dessas irmandades originavam-se das elites da 
sociedade soteropolitana e carioca. O principal objetivo das confrarias 
consistia em preparar a “boa morte”, ou seja, garantir que os irmãos fossem 
atendidos espiritualmente no momento derradeiro. (VENÂNCIO, 1999, p.25) 
14 
 
Em Portugal, as Câmaras contratavam funcionários encarregados de 
recolherem os recém-nascidos abandonados em locais públicos ou nas portas dos 
domicílios, a essas pessoas dava-se a denominação de pais ou mães dos enjeitados. 
Depois que recolhiam os recém-nascidos, comunicava ao presidente da Câmara que 
analisava o pedido, inscrevia e nome da criança no Livro de Matrícula dos Expostos. 
Depois de cumprir as determinações, a criança era trazida para ser cuidada. 
 
...o bebê era entregue a uma ama-de-leite paga as expensas da 
municipalidade por um período de três anos; finda a época de amamentação, 
o menino ou a menina permanecia na casa da ama, que a partir dessa data, 
tinha o salário reduzido, sendo contratada como ama-seca até os expostos 
completarem sete anos de idade. Quando chegavam à dita idade da razão, 
os enjeitados submetidos a tutores e ao Juiz dos Órfãos deveriam ser dados 
a lavradores para, como mandavam as Ordenações, no livro I, título 88, poder 
“servirem-se deles em guardar o gado e bestas outros serviços, quando lhes 
cumprir, com tanto que principalmente os ocupem na lavoura. (VENÂNCIO, 
1999, p.27) 
 
Porém, em Salvador e no Rio, nunca foram contratados esses funcionários 
encarregados do recolhimento das criança abandonadas, o que permitia que os 
vereadores contratassem, de forma clientelista, famílias que os mesmos conheciam 
para serem criadeiras, e assim, receberem o auxílio. 
Como a quantidade de enjeitados e as despesas que os mesmos 
demandavam aumentavam cada vez mais, o governador achou necessário formular 
um meio de proibir os pais e mães de procurarem subsídios, assim, implantaram a 
Roda dos Expostos, um recurso que já era usado há muito tempo em Portugal e todo 
continente europeu. 
A Rodas dos Expostos consistia numa roda de formato cilíndrico que girava 
sobre o próprio eixo, que continha duas partes, uma voltada para o exterior da Santa 
Casa onde o recém-nascido era deixado, que ao ser girada, levava-o ao interior da 
instituição. 
“As primeiras “rodas” foram instaladas em Salvador e no Rio de Janeiro no 
século XVIII, o que caracterizava em problema urbano. A deposição da criança na 
“roda” garantia o anonimato dos genitores.” (SAETA, 2004, p.2) 
15 
 
Depois de acolhidos, muitos funcionários do hospital eram responsáveis por 
cuidar das crianças. 
As Santas Casas disponibilizavam de vários setores, entre eles a Mesa dos 
Expostos, que formava o setor administrativo composto pelo presidente Mesa que 
também era o responsável por administrar o hospital. O segundo cargo era ocupado 
pelo escrivão, responsável pelas Receitas e o conhecimento das mesmas, lançando-
as no livro das Despesas, que o tesoureiro realizar. Depois do escrivão, vinha o 
tesoureiro, que determinava a data de pagamento das amas e serventes empregados. 
 
Da mesma maneira que o escrivão, o tesoureiro não entrava em contato 
direto com os expostos; por ocasião de pagamento das amas, ele recorria ao 
mordomo da Casa da Roda. [...] No último grupo, era selecionado o 
secretário, a quem cabia [...] elaborar e conservar vários registros 
administrativos. [...] Por fim, faziam parte da Mesa, o visitador e dois 
mordomos. (VENÂNCIO, 1999, p.28 e 29) 
 
Simultaneamente às funções administrativas da Mesa, havia outros 
funcionários da Casa da Roda que lidavam diretamente com as crianças, como ama 
seca ou rodeira e as amas-de-leite internas. 
Mesmo com tantas pessoas envolvidas nos cuidados aos enjeitados, o índice 
de morte nas Casas dos Expostos era bastante elevado. A grande maioria falecia 
antes de chegar a um ano de vida. 
 
Diante dessa situação, os médicos ficavam perplexos; os sábios doutores 
arriscavam explicações, alguns acusavam as criadeiras de maltratar as 
crianças, outros reclamavam melhores instalações de acolhida, todos porém 
concordavam num ponto: alguma medida precisava ser tomada. 
(VENÂNCIO, 1999, p.99) 
 
Muitos escritos guardam a visão perplexa dos médicos em relação ao sistema 
de assistência da Casa da Roda, pelo fato do alto índice de mortalidade. 
 
Justamente a obra de caridade mais reverenciada, mais imbuída de espírito 
cristão, era a que pior tratava as crianças. Perante essa cruel constatação, 
os doutores procuraram soluções. Alguns atribuíram a mortalidade dos 
expostos à doenças, confundindo quase sempre os sintomas com as causas 
das moléstias; outros procuravam responsabilizar os pais das crianças ou 
16 
 
então as amas escravas e os “miasmas” urbanos pelas múltiplas mortes 
registradas na Casa da Roda. (VENÂNCIO, 1999, p.11) 
 
As causas das mortes só começaram a ser divulgadas muito tarde. Sarnas, 
dentição, doenças do aparelho digestivo e tétano foram algumas doenças registradas 
nos enjeitados baianos. Assim como em Salvador, no Rio foram realizadas avaliações 
com resultados vagos. 
Outras possíveis causas apontadas pelos médicos e administradores eram ospais doentes e amas desleixadas: 
 
Os pais eram culpados pela morte dos filhos; se os progenitores sofriam de 
mal sifilítico, alcoolismo ou taras sexuais, a criança necessariamente herdava 
essas aberrações, falecendo precocemente. Segundo outros doutores, os 
bebês chegavam à instituição já fragilizados. Uma vez que matriculados, eles 
eram amamentados por amas escravas que lhes transmitiam novas 
doenças.” (VENÂNCIO, 1999, p.115) 
 
Os miasmas, hoje nominados bactérias ou vírus, também era uma das 
grandes causas de mortes das crianças, devido as péssimas condições insalubres 
dos estabelecimentos hospitalares. 
Com o aval dos irmãos da Mesa, os doutores propuseram formas de diminuir 
a mortandade, como a mudança na Casa da Roda, onde defendiam a extinção da 
criação externa, o aumento da quantidade de administradores e um médico encontrar-
se obrigatoriamente dentro da instituição. Defendia-se também o aumento do 
pagamento das criadeiras e a troca da residência em que as crianças se encontravam. 
 
Evidentemente, várias transferências deviam-se a morte, doenças ou viagens 
das amas externas, mas, vez por outra, era a saúde do bebê que os irmãos 
da Misericórdia tinham em vista proteger. Infelizmente, na maioria das 
ocorrências, não era mencionado o motivo da mudança de domicílio. 
Contudo, a grande incidência desse expediente sugere que os 
administradores estavam atentos às desventuras sofridas pelos 
abandonados resistentes nos lares de amas mercenárias. (VENÂNCIO, 
1999, p.119) 
 
Quando as crianças conseguiam sobreviver aos primários anos de vida, 
surgia uma série de oportunidades como, seminários religiosos e os abrigos de órfãos. 
17 
 
O Estado passou a valorizar os serviços dos expostos: as meninas nas ocupações de 
fiandeiras e costureiras e os meninos teriam que aprender ofícios manuais, ou seriam 
direcionados à Marinha de Guerra. 
Havia, porém, a possibilidade da criança se rebelar contra esse destino a ela 
imposto e fugir para as ruas, voltando assim, a situação de abandono. 
Infelizmente, o destino de muitas crianças abandonadas era a escravização. 
Apesar da condição de enjeitadas as tornarem livres, muitas vezes as criadeiras as 
levavam e vendiam como escravas. 
 
Para realizar o intento malévolo, as criadeiras nem mesmo precisavam 
inventar estratagemas complicados; bastava dar nome e endereço falsos e 
depois desaparecer com o bebê. Situações como essa foram recorrentes no 
século XVIII e XIX. (VENÂNCIO, 1999, p.132) 
 
Nos registros de matrícula da Casa dos Expostos, continha a data que a 
criança dava entrada, a data que ela era repassada à criadeira, a data que encerrava 
a fase da criação, seja por motivo do enjeitado atingir a idade regulamentada ou por 
morte. Mas, foi observado que em algumas matrículas não havia a data do período 
que encerrava a criação. Em Salvador, o número de desaparecidos aumentou 
consideravelmente no começo do século XIX. 
 
Obviamente, muitos dos “desaparecidos” eram crianças que haviam falecido 
ainda bebês. Nesses casos, as criadeiras consideravam que não valia a pena 
voltar à Santa Casa para receber míseros réis. O provável destino desses 
recém-nascidos mortos era o de serem enterrados em um canto qualquer, 
enterrados em campos baldios ou mesmo no fundo do quintal, fugindo ao 
controle da Misericórdia. Por outro lado, tal situação não excluía a 
possibilidade de que inúmeros enjeitados desaparecidos tenham sobrevivido, 
sendo postos à venda no mercado de escravos. (VENÂNCIO, 1999, p. 133) 
 
Em contrapartida, em inúmeros casos acontecia o inverso: muitas crianças 
eram adotadas pelas famílias que a acolhiam. 
 
Tais ocorrências, porém, não deviam ser frequentes, pois a entrega da 
criança à Casa da Roda não implicava a perda do pátrio poder. Só podiam 
ser legalmente adotados os meninas e meninas acompanhados de 
documentos que comprovassem seu estado de orfandade. Em Salvador, um 
18 
 
levantamento minucioso dos livros cartoriais revelou 14 adoções durante o 
século XIX. (VENÂNCIO, 1999, p. 137) 
 
As famílias interessadas em adotar legalmente as crianças enjeitadas 
enfrentavam normas restritivas, o que dificultava o processo de adoção e integração 
ao novo lar. 
Outro assunto era motivo de preocupação dos legisladores portugueses: o 
destino das crianças que retornavam à Santa Casa. Ao completar sete anos, a criança 
que não permanecia na residência das amas seriam inscritas no Juizado dos Órfãos. 
Caso não aparecesse nenhum interessado, o juiz faria a distribuição dos órfãos pelas 
casas que poderiam dar sustento, educação e designá-los a serviços conforme sua 
idade. 
 
Se, por um lado, por meio do trabalho gratuito, o dispositivo legal estimulava 
a permanência dos expostos no seio de famílias adotivas, por outro, abria 
caminho para a escravização da criança. Afinal, tal qual os cativos, os 
enjeitados trabalhavam em troca de um prato de comida e de um abrigo para 
dormir à noite. (VENÂNCIO, 1999, p. 143) 
 
Entretanto, havia o alerta com relação ao envio de meninas muito novas ao 
serviço nas residências, pois por serem pobres e incultas “...podiam enveredar em 
uma vida de escandalosos e “devassos costumes”.” (VENÂNCIO, 1999, p.144) 
As Santas Casas sustentavam algumas meninas até sua maioridade ou se 
casarem. Conventos e abrigos também resguardaram muitas expostas ameaçadas 
em residências: 
“Em alguns casos, as meninas aceitas a título de “educandas” substituíam a 
mão-de-obra cativa. [...] Ser uma pequena trabalhadora era o destino das recolhidas 
de origem humilde.” (VENÂNCIO, 1999, p.145) 
No caso dos meninos, ocasionalmente, eram aceitos em recolhimentos. 
Quando não eram aceitos em nenhuma família, recorria aos seminários religiosos. 
Sucedia a necessidade de ensinar algum ofício manual aos sem-família. O 
Juiz dos Órfãos escolhia os mais aptos e os enviava aos mestres de ofício. A lista de 
ofícios mecânicos incluía diversas atividades: as meninas deviam aprender fiação e 
costura e os meninos, ferreiros, pedreiros, pintores, marceneiros entre outras. 
19 
 
Outra possibilidade de ensino profissional eram os Arsenais da Marinha, que 
recebiam aprendizes acima de sete anos e podia estender-se por nove anos, onde 
recebiam instrução de escrita, desenho e poderiam aprender outro ofício. 
“As aulas de primeiras letras ficavam a cargo de um pedagogo. Já o ensino 
dos ofícios manuais cabia a mestres e contramestres, distribuídos em 21 oficiais de 
tanoaria, carpintaria, serralheria, latoaria e espingardaria.” (VENÂNCIO, 1999, p. 151) 
Infelizmente, as condições de vida da maioria da população brasileira 
mostravam-se muito difíceis no século XIX, sobretudo nas grandes cidades, onde a 
população tentava sobreviver, devastada pelo desemprego se amontoava nas 
periferias em péssimas condições. Como sempre, os mais atingidos nessa situação 
eram as crianças e jovens, que abandonados vivam inúmeras carências. Devido a 
essa situação, o índice de mortalidade infantil chegou ao dado impressionante de 51% 
em crianças com até dez anos de idade. 
Em decorrência dessa realidade, as crianças se tornaram o centro do 
movimento higienista que nasceu no final do século XIX e começo do século XX, que 
tinha como meta mudar o comportamento da população. Os médicos higienistas 
acreditavam que a maior parte dos problemas do país estava ligado a questões 
sanitárias. 
 
Para eles, esta influência era a fim de manter e melhorar a vida da 
coletividade – classe trabalhadora – no que diz respeito à educação, salário, 
saúde, ou seja, pretendiam valorizar a população do Brasil. [...] As classes 
ditas perigosas representadas pelos pobres, apresentavam perigo social 
devido aos problemas que ofereciam à organização do trabalho, a 
manutenção ordem pública e perigo de contágio. (FERNANDES e OLIVEIRA, 
s.d., p.3) 
 
Ao passo de que por um lado, as propostas dos higienistas auxiliariam no 
progresso dasaúde da população, por outro era um reforço aos interesses do Estado. 
 No século XIX, acompanhou-se o progresso da infância e o interesse de 
especialistas no conhecimento o assunto: 
 
A temática da infância abriu as portas para esses especialistas (os médicos 
higienistas) por meio de três pontos principais: a elevada taxa de mortalidade 
infantil, o problema do menor abandonado e a necessidade do médico na 
medicalização da família. O poder médico defendeu a preservação da saúde 
20 
 
(higienização) na cultura popular – mudança dos hábitos diários do 
trabalhador e de sua família, principalmente na criança e no recém-nascido. 
(FERNANDES e OLIVEIRA, s.d., p.5) 
 
A autoridade médica procurou projetar-se no mundo político através da 
apropriação da infância, conseguindo uma progressiva participação no governo, 
discutindo projetos de construções de escola, apresentação de sugestões para todas 
as áreas do ensino, especialmente para a educação primária e infantil. 
 
Neste período surgem as primeiras instituições profissionalizantes, como o 
Instituto de Proteção e Assistência à Infância no Rio de Janeiro, fundada pelo 
Dr. Moncorvo Filho em 1901; o Instituto Disciplinar de São Paulo surgido em 
1902; 1909 são criados os institutos profissionais para menores pobres e, em 
1911 as escolas profissionais masculinas e femininas. (FERNANDES E 
OLIVEIRA, s.d., p.6) 
 
Na concepção higienista, a rua era o lugar público onde surgiam os criminosos 
e delinquentes, e que era de preocupação do Estado formar o caráter da criança 
influenciado nos princípios morais da burguesia. 
 
Para os médicos, filantropos e para a classe dominante, a maneira mais 
eficaz de adestrar a criança pobre era trancá-la em espaços disciplinares, 
defendiam também o aprendizado de uma atividade profissionalizante 
incutindo-lhe hábitos de trabalho para mantê-la ocupada. No que diz respeito 
às crianças das famílias abastadas, os médicos indicavam paras as horas 
vagas, leituras e ginástica. (FERNANDES e OLIVEIRA, s.d., p. 7) 
 
 A preocupação dos médicos com o alto índice de mortalidade infantil era tanto 
com as classes mais pobres como com as classes mais ricas, por isso procuravam 
descobrir as causas gerais. Dentre essas causas estão a falta de conhecimento da 
mulheres pobres, que sem informações não sabiam cuidar da higiene dos bebês; a 
pobreza que era refletida na falta de recursos para uma boa alimentação; doenças 
digestivas e respiratórias; causas pré-natais e natais e aleitamento mercenário. 
A ocupação com a criança, tratava-se principalmente do aproveitamento do 
seu aprendizado que poderia ser utilizado na geração de um trabalhador “perfeito”, 
saudável, disciplinado, de modo a propiciar o aumento da produção e a eliminação 
dos conflitos sociais. 
21 
 
Pode-se observar que as instituições de educação infantil surgiram com a 
implantação do capitalismo, que tinha por objetivo ampliar a força de trabalho. As 
instituições que atendiam os filhos de famílias pobres surgiram em 1899, enquanto 
que os jardins-de-infância, criados para atender os filhos da elite, em 1875. 
 
 Observamos que o modelo de educação proposto pela medicina higienista, 
objetivava controlar a população carente, a fim de proteger a paz e a 
integridade da elite. Para que isso fosse possível, introduzir-se-iam, a cultura 
e os costumes do homem europeu. (IANISKI, 2009, p.6). 
 
A situação da criança e do adolescente não pode ser estudada fora do 
contexto econômico do país. Apesar de algumas leis como o Código do Menor de 
1917 e a Constituição de 1932, garantirem que a criança não trabalharia antes do 12 
anos de idade, era permitido o trabalho antes dos 12 ou 14 somente na condição de 
aprendiz. Os empresários sempre encontravam uma maneira de fraudar as leis 
empregando crianças. 
Na década de 1940, foi fundada a Legião Brasileira de Assistência (LBA), que 
entre os objetivos incluía a proteção da família. 
Em 1987, foi divulgada pela CNBB a existência de 36 milhões de menores 
pauperizados no Brasil, dos quais 7 milhões eram desvalidos. 
 
A falta de políticas sociais bem estabelecidas no Brasil, articuladas com a 
sociedade civil e circunscritas nas relações produtivas, delineia um quadro de 
políticas do mal-estar social, que compreendemos num contexto de 
desenvolvimento desigual/combinado. Isto significa que não acreditamos que 
exista uma política de bem-estar e outra do “mal-estar” social desarticuladas. 
(SAETA, 2004, p.5) 
 
Séculos de práticas desacertadas da sociedade civil e do Estado brasileiro, 
levaram a um desequilíbrio da distribuição da riqueza nacional: 
“... em 1990, 1% da população brasileira detinha 17,3% da riqueza nacional, 
no topo da pirâmide, enquanto os 10% mais pobres eram forçados a sobreviver com 
0,6% da riqueza nacional.” (SAETA, 2004, p.5) 
O resultado foi a morte de 250 mil crianças por ano, antes de chegar a um ano 
de idade. Quatro milhões entre sete e quatorze anos estavam fora da escola no 
Nordeste. 
22 
 
A temática da Constituição de 1969 e do Código do Menor de 1979, era de 
responder ao problema do menor carente e abandonado, pela institucionalização, 
porém, a finalidade pedagógica era de puni-lo pela sua pobreza, como exposto a 
seguir: 
 
Até os anos trinta, a pobreza era julgada como uma questão policial. Esse 
procedimento sempre acabava por responsabilizar o menor por sua sina e o 
classificava pelos rótulos de “marginal, trombadinha e delinquente”. (SAETA, 
2004, p.6) 
 
Diante dessa realidade de mal-estar, nos anos setenta, forças sindicais 
dedicaram-se na construção da liberdade, democracia e cidadania. Ampliaram as 
pesquisas e estudos a respeito da privação de direitos da infância e juventude. 
Somente na década de 1980, que a sociedade conseguiu integrar as 
legislações internacionais de defesa dos direitos e converter em políticas. 
 
Na Constituição de 1988 e no ECA, há um novo desenho da sociedade, capaz 
de impulsionar uma nova história a ser redigida pelos próprios protagonistas, 
uma vez que oferecem sustentação jurídica para garantir as conquistas 
sociais. Na construção dessas leis, houve a participação de meninos e 
meninas de todo o Brasil. [...] Demonstraram a maturidade de seu 
desenvolvimento no período Constituinte, souberam pressionar os 
parlamentares [...] O ECA é uma lei escrita por muitas mãos e pensada por 
vários segmentos sociais. (SAETA, 2004, p. 8) 
 
No início dos anos 2000, o IBGE calculou que quase 28 milhões de crianças 
e adolescentes vêm de famílias com renda mensal igual ou menor a R$ 120,00 (cento 
e vinte reais). Esses dados demonstram a fragilidade das políticas sociais, os direitos 
enxergados como favores e os programas impactados pelas práticas de corrupção, 
dificultando assim, o caminho ao bem-estar social. 
 
 2.2 A trajetória da família brasileira 
 
A família brasileira passou por muitas transformações, seguindo os eventos 
históricos, sociais, demográficos e econômicos ao longo dos séculos. Nas últimas 
décadas, mais precisamente, inúmeras mudanças foram verificadas como; diminuição 
23 
 
da mortalidade infantil e aumento da expectativa de vida ao nascer, viabilizadas por 
melhores condições básicas de vida e saúde; no papel da mulher dentro e fora do 
ambiente domiciliar e na ampliação no número de uniões consensuais, etc. 
 
A vida familiar se modificou para todos os segmentos da população brasileira. 
É um fenômeno marcante que as estatísticas, desde o primeiro Censo, 
realizado em 1892, até o atual, realizado em 2000, vêm demonstrando. São 
números cada vez mais desagregados e informações amplamente 
detalhadas que ajudam a entender um País que tem se transformado a cada 
Censo, a conhecer a evolução de sua população e o caminho percorrido pela 
família. (NASCIMENTO, 2006, p.1) 
 
A história da família no Brasil começa desdea época do império, com a 
chegada e adaptação da família portuguesa, com seu modelo patriarcal e 
conservador, mas ao que tudo indica esse modelo não era hegemônico: 
“No entanto, pesquisas recentes tem tornado evidente que as famílias 
extensas do tipo patriarcal não foram as predominantes, sendo mais comuns aquelas 
com estruturas mais simples e menor número de integrantes.” (SAMARA, 2002, p. 28) 
Os primeiros estudos sobre a família no Brasil, iniciaram a partir das primeiras 
décadas do século XX. 
 
Os primeiros estudos, que, de um lado, tendem a afirmar que a família pode 
ser considerada a instituição social fundamental, da qual dependem todas as 
demais e, de outro, podem se vincular a dois posicionamentos conceituais 
específicos, que retomam três modelos básicos de família – a patriarcal, a 
nuclear e a atual. (ALVES, 2009, p.1) 
 
 Nos séculos XVI e XVII, a economia da Colônia era baseada nas plantações 
de cana no Nordeste. Foi nesse mundo rural que as famílias elitistas viviam nos 
casarões, com muitos dependentes e escravos. Nos casamentos, os papéis de cada 
cônjuge eram bem estabelecidos pelas tradições e amparados pelas leis, deixando 
explícita a autoridade masculina: “O poder de decisão formal pertencia ao marido, 
como protetor e provedor da mulher e dos filhos, cabendo à esposa o governo da casa 
e a assistência moral à família.” (SAMARA, 2002, p. 32) 
24 
 
Como na sociedade portuguesa, no Brasil a figura masculina exercia uma 
grande influência nas relações do campo jurídico e que apesar dos variados modelos 
de famílias, o dominante era famílias grandes e com base no modelo patriarcal. 
Neste contexto, a estrutura familiar funcionava como um núcleo constituído 
pelo patriarca (chefe da família), sua esposa, filhos e netos, representantes principais; 
e o núcleo secundário, composto por filhos ilegítimos ou de criação, afilhados, 
parentes, serviçais, amigos e escravos. 
Ainda dento deste sistema, desenvolveu-se a tradição da primogenitura, em 
que o filho mais velho herdava todos os bens do pai. Se a família tivesse mais de um 
filho, os outros eram mandados para estudar e se formar em Medicina, Direito ou se 
quisessem, seriam padres. 
As meninas, na maioria das vezes, eram levadas aos conventos para 
aprenderem a ler, escrever, cantar e bordar, enquanto estavam solteiras. 
No caso dos escravos, sua família geralmente era formada de maneira 
complexa e até violenta, visto que a disputa por uma esposa era acirrada, pois o 
número de mulheres era bem inferior ao número de homens. Preferiam casar com 
pessoas da mesma etnia, apesar de existirem diferentes grupos étnicos africanos. 
A família patriarcal era, portanto, a base da sociedade e exercia as funções 
de procriação, administração econômica e política. A riqueza e organização da família 
se mantinha sob a chefia do patriarca. 
 
Percebe-se, então, que a família patriarcal era o mundo do homem por 
excelência. Crianças e mulheres não passavam de seres insignificantes e 
amedrontados, cuja maior aspiração eram as boas graças do patriarca. A 
situação de mando masculino era de tal natureza que os varões não 
reconheciam sequer a autoridade religiosa dos padres. (ALVES, 2009, p. 5) 
 
Na década de 1690, foram descobertas as minas de ouro, constituindo-se em 
um novo núcleo de colonização antes localizado no Nordeste e agora no Sul do país. 
Esse novo ramo atraiu muitas pessoas na caça ao ouro e aventuras, direcionando o 
tráfico de escravo durante o século XVIII. A sociedade que se formou a partir daí era 
um misto de diversas raças difíceis de serem controladas, apesar da Coroa e a Igreja 
tentarem diversas vezes. 
 
25 
 
O número de celibatários era alto, proliferavam os concubinatos e a 
ilegitimidade era comum. Mulheres exerciam atividades econômicas fora do 
âmbito doméstico e as solteiras com prole natural chefiavam famílias. Nessas 
paragens, não era fácil para os poderes constituídos, tentar fixar os padrões 
impostos pela colonização, que não eram seguidos pela maior parte da 
população. (SAMARA, 2002, p. 33) 
 
A situação era semelhante nas áreas mais desfavorecidas do Sul, que girava 
em torno das Minas que nem a Capitania de São Paulo, com centros urbanos em fase 
de expansão e uma vida rural mais reduzida que a do Nordeste. Nos engenhos 
paulista como havia a falta de mão-de-obra escrava, agricultores pobres trabalhavam 
a terra com seus familiares e sempre aceitavam integrantes auxiliares para ajudar no 
cultivo da terra. Nos centros urbanos, pequenos negócios e uma série de serviços 
vinculados ao abastecimento ofereciam oportunidades para as pessoas que não eram 
ligadas ao setor exportador, o que favoreceu as mulheres atuarem e ocuparem as 
vagas deixadas pelos homens que migraram e pelos escravos. A presença feminina 
podia ser vista em todas as partes. Esses fatores contribuíram para alterar as relações 
de gênero e consequentemente, o quadro familiar. 
 
Assim, especialmente no meio urbano, os papéis informais, embora não 
oficialmente reconhecidos e pouco valorizados, integravam a vida cotidiana, 
servindo também para desmistificar, no sistema patriarcal brasileiro, o papel 
reservado aos sexos e a rígida divisão de tarefas e incumbências. (SAMARA, 
2002, p.34) 
 
Ao longo do século XIX, ocorreu o desenvolvimento econômico gerado pela 
cafeicultura, estimulando a imigração em dimensões maiores do que as oportunidades 
de emprego no campo. Além disso, eventos importantes como a Independência em 
1822, a República em 1889, abolição da escravatura em 1888 e a chegada dos 
imigrantes, contribuíram na distribuição da população e refletiu no mercado de 
trabalho. 
A quantidade de trabalhadores ultrapassou a carência do mercado, 
ocasionando variadas formas de trabalhos informais como temporário e em domicílios, 
tornando-se significativa para as mulheres. 
 
26 
 
O que se nota, ainda nessa fase, é que, apesar da República e das mudanças 
que estavam ocorrendo, a vida continuou girando em torno da família e que 
a legislação reforçou, uma vez mais, o privilégio masculino. O marido 
continuava, legalmente, com a designação de chefe da família. [...] O Código 
Civil de 1916 reconheceu a supremacia masculina. [...] As mulheres casadas 
ainda eram, legalmente, incapacitadas e apenas na ausência do marido 
podiam assumir a liderança da família. (SAMARA, 2002, p.35) 
 
 Algumas mudanças ocorreram no início do século XX entre as mulheres da 
elite e das classes médias. Progressivamente, foram ocupando espaços nas áreas da 
Física, Direito, Farmácia e Arquitetura. Porém, até 1930, o número de mulheres nos 
cursos superiores era bastante limitado, concentrando o maior número de 
universitárias na área farmacêutica. 
Entretanto, as mulheres contribuíram de forma significativa para a expansão 
do mercado de trabalho industrial, sendo maioria na indústria têxtil. Deve-se ressaltar 
que a inserção feminina no mercado informal, contribui no orçamento familiar, porém, 
não aparece contabilizada. 
Em contrapartida, durante o século XX, a atuação das mulheres no mercado 
de trabalho, caracteriza-se pela sua incorporação em profissões que não haviam nos 
séculos passados, algumas como, médicas, advogadas e empregadas públicas. 
 
Nos séculos anteriores, a maioria das mulheres trabalhadoras apareciam nas 
chamadas atividades femininas tradicionais, marginais ao processo de 
produção e sendo remuneradas abaixo do padrão de pagamento masculino, 
na mesma função. O Primeiro Censo Geral do Brasil, realizado no Império 
em 1872, mostra essa setorização de atividades por gênero, predominando 
entre as mulheres, as lavradoras, as costureiras e aquelas nos serviços 
domésticos. (SAMARA, 2002, p.37) 
 
Constatou-se também que a maioria das profissões como artistas, 
proprietários, comerciantes, guarda-livros e caixeiros eram do sexo masculino, 
indicando assim, que o gêneroera um fator determinante, mas que também a 
presença das mulheres era relevante, se for levado em consideração as áreas 
específicas de atividades, especialmente a esfera informal. 
27 
 
Apesar das mudanças demográficas e econômicas que ocorreram ao final do 
período imperial, terem influenciado as famílias patriarcais, esse modelo ainda é 
disseminado hoje em dia e tido como sinônimo de família brasileira. 
A família nuclear, difere da patriarcal, pois é composta apenas pelo núcleo 
principal, pai (chefe), esposa e seus filhos legítimos, também teve grande importância 
no processo de construção da sociedade brasileira. A família ficou limitada a um 
pequeno espaço, separando os criados do restante da casa, gerando assim, uma vida 
particular. 
 
A reorganização da casa e a reforma dos costumes deixaram um espaço 
maior para a intimidade, que foi preenchida por uma família reduzida aos pais 
e às crianças, e da qual se excluíam os criados, os clientes e os amigos. A 
preocupação maior com a formação dos filhos passou a canalizar a maior 
parte da energia da família e, sendo o estudo privilégio de poucas pessoas, 
essa educação dos filhos também passou a depender muito da experiência 
de vida dos próprios pais. (ALVES, 2009 p.8) 
 
Assim como a saída da mulher de casa para o mercado de trabalho, outras 
mudanças ocorreram em todo o mundo modificaram o conceito de família nuclear e o 
casamento. As mudanças mais significantes ocorreram no final do anos de 1960; 
aumentou o número de separações e divórcios, a religião foi perdendo a relevância, 
não conseguindo mais manter os casamentos fracassados. 
A partir disso, surgiram inúmeras composições familiares: 
 
Casamentos sucessivos com parceiros distintos e filhos de diferentes uniões; 
casais homossexuais adotando filhos legalmente; casais com filhos ou 
parceiros isolados ou mesmo cada um vivendo com uma das famílias de 
origem; as chamadas “produções independentes” tornam-se mais frequentes; 
e, mais ultimamente, duplas mães solteiras ou já separadas compartilham a 
criação de seus filhos. (ALVES, 2009, p.10) 
 
O século XXI apresenta um modelo de família mais pluralista, assim chamada, 
por causa dos tipos alternativos que a compõe. 
Uma característica de grande relevância da família atual é a redução do seu 
tamanho. São formadas por pais, ou mães, e filhos. Outro aspecto foi a diminuição da 
28 
 
quantidade de filhos por mulher, restringindo-se na maioria das vezes a um ou dois 
filhos. 
Outro ponto que chama atenção se insere nas famílias mais das camadas 
mais pobres. Cresceu o número de famílias compostas apenas por mulheres e seus 
filhos menores de idade 
E por fim observa-se a existência de famílias, principalmente nas cidades 
maiores e regiões metropolitanas, vivendo em situações de risco, com doenças, 
desemprego, desavenças conjugais, envolvimento com atividades ilícitas e problemas 
com a polícia, dependência com drogas, entre outros fatores. Sem condições de 
manterem os cuidados básicos de seus membros, o que leva a necessidade de 
receberem uma atenção diferenciada do Estado para garantir seus direitos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29 
 
3. LEGISLAÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS 
 
 3.1 A legislação de proteção à criança e ao adolescente 
 
A discussão sobre os direitos da criança e do adolescente têm ganhado cada 
vez mais espaço em nossa sociedade, nas últimas décadas. 
Durante muito tempo, esses direitos se mantiveram quase inexistentes e 
pouco relevantes no contexto jurídico mundial. 
A existência de um sistema de proteção ineficaz passou a ser motivo de temor 
da população, visto que o índice de abandono e exploração infantil aumentava 
vertiginosamente. Essa questão ganhou, progressivamente, espaço na sociedade, 
que exigia uma resposta eficiente a essa situação 
Atualmente, o conceito de criança e adolescente é ditado pela idade. De 
acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA): 
 
Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze 
anos de idade incompletos, e adolescentes aqueles entre doze e dezoito anos 
de idade. 
 Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente 
este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade. (BRASIL, 
1990, p.25) 
 
Esse conceito nem sempre existiu. A criança só começou a ser vista como 
indivíduo no século XIX, período em que ela passou a ser o centro de atenção no meio 
familiar. 
No final do século XIX, as crianças abandonadas eram o motivo de 
preocupação de vários médicos, juristas e filantropos. Essa preocupação se baseava 
nos altíssimos números de mortalidade infantil e no crescente número de crianças 
moradoras de ruas. 
O aumento da população devido a imigração estrangeira e de outros estados 
do país para as maiores cidades brasileiras, como São Paulo, em busca de emprego 
e melhores condições de vida, foram fatores que contribuíram para o aumento da 
pobreza, das condições precárias de higiene e moradia, e o aumento da mortalidade 
30 
 
infantil, levaram, consequentemente, a um quadro de desproteção e negligência à 
criança. 
A roda dos expostos, no século XIX, no Brasil, também era considerada 
responsável pela alta taxa de mortalidade infantil, atribuída às amas de leite, que 
muitas vezes moravam em locais insalubres, o que favorecia a proliferação de 
doenças, como também os maus tratos causados por estas às crianças. 
Muitas crianças achavam-se em situação de abandono e desamparo nas 
ruas, esta realidade as empurrava para uma vida delinquência, prostituição e 
vadiagem, tornando-os assim, um problema social: 
 
 A delinquência juvenil era, portanto, tratada com repressão, não havendo 
preocupação com a intervenção educativa como forma de prevenção. A 
criança estava inserida nesse mesmo contexto e era percebida como um 
problema social. Muitos menores encontravam-se sem amparo familiar, o que 
os impelia a condutas impróprias: a mendicância, a vadiagem, a prostituição, 
a delinqüência e o crime (MOURA, 1999 apud SILVA, s.d., p. 3) 
 
O Código Penal de 1890, incumbia à polícia a função de reprimir e controlar a 
desordem e a vadiagem. Portanto, a criança que cometesse algum crime estava 
sujeita a esse Código, tratadas de maneira repressiva. 
 
Pelas disposições do Código de 1890, a partir de nove anos a criança estava 
sujeita a sofrer processo criminal, sendo portanto, tratada como adulto, sendo 
que, entre 9 e 14 anos, o “menor” que tivesse cometido algum delito “sem 
discernimento” não seria responsabilizado criminalmente. (SILVA, s.d. p.3) 
 
Visando resolver o problema social da criança abandonada e da delinquência 
juvenil, formas de prevenção através da educação e da assistência, alguns juristas, 
médicos e filantropos se responsabilizaram em lutar por novas formas de prática, e 
passaram a exigir ações da parte do Estado. 
Neste contexto, o Juiz José Cândido de Albuquerque Mello Mattos, elaborou 
o Código de Menores, regulamentado em 12 de outubro de 1927, através do decreto 
nº 17.943 A, que também teve a contribuição para sua formulação, juristas, 
pedagogos, parlamentares e higienistas brasileiros. 
31 
 
De acordo com Silva (s.d., p.6), houveram muitas divergências com relação 
ao Código de Menores: 
 
Um dos principais argumentos dos adversários contra sua aplicação é o fato 
do código resultar de uma delegação de poderes do Congresso ao Executivo 
e de conter disposições novas que alteram os Códigos Civil e Penal da 
República. O Sr. Ministro Pedro Santos, apesar de não ter negado a 
constitucionalidade do Código, afirmou que: “Não sendo oriundo do 
Legislativo, o Código de Menores não é lei. Não é também consolidação 
porque o executivo não é o consolidador.” (BRITO, 1929). Já o Supremo 
Tribunal Federal, intérprete da constituição, se manifestou pela 
constitucionalidade do Código, assim como o Sr.Ministro Heitor de Sousa. 
 
Depois da implantação do Código de Menores, o Estado iniciou uma fase com 
maior interferência no que refere ao trato aos menores abandonados e delinquentes 
juvenis. No governo de Getúlio Vargas, entre 1940 e 1943, foram criados: o 
Departamento Nacional da Criança (DNCr), o Serviço de Assistência ao Menor (SAM), 
a Legião Brasileira de Assistência (LBA), o Serviço Nacional de Aprendizagem 
Industrial, o Serviço Nacional do Comércio e a Campanha Nacional de Educandários 
Gratuitos. Todos com a finalidade de amparar as crianças pobres e suas famílias. 
O SAM funcionava como um sistema penitenciário voltado somente para os 
menores de idade, na qual adolescentes que haviam praticado o ato infracional era 
internado em reformatórios ou casas de correção, e o menor abandonado seria 
encaminhado para ser ensinado algum ofício. 
O Serviço de Assistência ao Menor se configurou pelas internações, 
acreditava ser o mecanismo mais eficiente na recuperação de crianças e 
adolescentes, o que divergia do objetivo de promover assistência aos mesmos. 
 “O objetivo do Estado nesse período era fazer com que menores se 
adequassem ao comportamento por ele estabelecido.” (OLIVEIRA, s.d., p.348) 
 A Ditadura Militar em 1964, estabeleceu um estado de autoritarismo e 
congelamento do avanço da democracia no país. Com a elaboração de uma nova 
Constituição em 1967, instituiu-se os Atos Institucionais, que permitia repressões à 
liberdade de expressão. Neste período foram pautados dois documentos para a área 
da infância: A Lei 4.513 de 01/12/1964, que deu origem a Fundação Nacional do Bem-
Estar do Menor e o Código de Menores, Lei 6.697 de 10/10/1979. 
32 
 
Na década de 1960, a SAM passou a utilizar um sistema repressivo e 
desumano, não cumprindo o seu objetivo inicial que era de promover assistência, o 
que acabou por levar na extinção e a criação da Fundação Nacional do Bem-Estar do 
Menor (FUNABEM). 
O regulamento estabelecido pela FUNABEM era contrário à metodologia 
utilizada pela SAM. Visava a integração de crianças e adolescentes na comunidade 
através de programas, sempre buscando valorizar a família. 
 
A Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor que tinha como objetivo 
formular e implantar a Política Nacional do Bem Estar do Menor, herdando da 
SAM o prédio e pessoal e com isso, toda sua cultura organizacional. A 
FUNABEM propunha-se a ser a grande instituição de assistência à infância, 
cuja linha de ação tinha na internação, tantos dos abandonados e carentes 
como dos infratores, seu principal foco. (LORENZI, 2007, p.2) 
 
O Código de Menores de 1979, foi uma releitura do de 27, mantendo a mesma 
linha arbitrária, repressiva e assistencialista perante crianças e adolescentes. Essa lei 
também adotou a doutrina da situação irregular, que ocupou espaço no âmbito jurídico 
infanto-juvenil, era restrita e tratava aqueles que se encaixavam no perfil estabelecido 
no art. 2º do Código de Menores: 
 
Compreendia o menor privado de condições essenciais à sua subsistência, 
saúde, e instrução obrigatória, em razão da falta, ação ou omissão dos pais 
ou responsável; as vítimas de maus-tratos; os que estavam em perigo moral 
por se encontrarem em ambientes ou atividades contrárias aos bons 
costumes; o autor da infração penal e ainda todos os menores que 
apresentassem “desvio de conduta em virtude da grave inadaptação familiar 
ou comunitária”. (AMIN, s.d., p.54) 
 
O Juiz de Menores era o responsável por controlar as funções a 
administrativas e jurisdicionais. 
O atendimento efetuado pelas entidades de internação eram pautados no 
controle social. A responsabilidade de educar esses menores era de suas famílias, 
porém, se as mesmas fracassassem nessa obrigação, por questões de incapacidade 
material ou emocional, ou por não conseguirem afastá-los da marginalidade, ficaria a 
cargo do Estado, o dever de corrigi-los através da internação. Era uma prática de 
33 
 
segregação, pois apenas menores de famílias pobres eram mantidos em detenção 
por instituições mantidas pela Febem. 
 
Ao mesmo tempo que o sistema educacional brasileiro foi afetado pela 
Doutrina da Segurança Nacional, com a introdução de elementos curriculares 
que reforçassem os sentimentos de patriotismo e de nacionalismo, a 
educação das crianças e sob a tutela da Funabem/Febem passou a ser feita 
segundo os preceitos do militarismo, com ênfase na segurança, na disciplina 
e na obediência. (SILVA, 2001, p.6) 
 
 Em síntese, a situação irregular era restrita apenas ao público infanto-juvenil. 
Não era uma doutrina que garantia direitos, agia apenas na consequência do 
problema, e não na sua causa. 
 
Era um Direito do Menor, ou seja, que agia sobre ele, como objeto de 
proteção e não como sujeito de direitos. Daí a grande dificuldade de, por 
exemplo, exigir do Poder Público construção de escolas, atendimento pré-
natal, transporte escolar, direitos fundamentais que, por não se encontrarem 
previsão no código menorista, não eram, em princípio, possíveis de tutela 
jurídica. (AMIN, s.d., p.55) 
 
Os princípios da Declaração de Genebra, em 1924, sobre os Direitos da 
Criança e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, não tiveram 
nenhuma relevância na elaboração dos Códigos de 1927 e 1979, apesar da postura 
receptiva dos profissionais à discussões sobre o tema. 
 
A Doutrina da Proteção Integral do Menor foi enunciada inicialmente na 
Declaração dos Direitos da Criança, em 1959, mas o 8º Congresso da 
Associação Internacional dos Juízes de Menores, (Genebra, 1959) 
posicionou-se no sentido de que não era função do Poder Judiciário 
assegurar à criança direitos tão amplos como o direito ao nome, à 
nacionalidade, à saúde, à educação, ao lazer e ao tratamento médico dos 
deficientes. (SILVA, 2001, p.7) 
 
Em contrapartida, a doutrina da proteção integral rompe com esse padrão 
estabelecido de situação irregular e adquire os valores inscritos na Convenção 
Internacional sobre os Direitos da Criança. 
34 
 
A Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança foi um marco 
bastante significativo, pois foi a partir dela que estabeleceram-se bases para 
a implantação de uma doutrina de proteção integral. Seus efeitos foram tão 
significativos que, logo em seguida, outras medidas visando à proteção à 
infância foram tomadas, como a Cúpula Mundial de Presidentes 
(estabelecendo um plano de ação de 10 anos em favor da infância) e a 
instituição do Estatuto da Criança e do Adolescente no Brasil, por meio da Lei 
nº 8.069/90. (OLIVEIRA, s.d., p.344) 
 
 Vale ressaltar, que o primeiro documento internacional que apresentou 
preocupação em reconhecer os direitos da criança e do adolescente foi a Declaração 
dos Direitos da Criança de Genebra, em 1924, favorecida pela Liga das Nações. 
A Declaração Universal dos Direitos da Criança, amparada pela ONU, em 
1959, foi a grande referência no reconhecimento de crianças como sujeitos de direitos, 
merecedores de proteção e cuidados excepcionais. 
 
O documento estabeleceu, dentre outros princípios: proteção especial para o 
desenvolvimento físico, mental, moral e espiritual; educação gratuita e 
compulsória; prioridade em proteção e socorro; proteção contra negligência, 
crueldade e exploração; proteção contra os atos de discriminação. (AMIN, 
s.d., p.53) 
 
A ONU, em 1979, preocupada principalmente com os direitos fundamentais, 
organizou um grupo para planejar o documento da Convenção dos Direitos da 
Criança, que foi aprovado em novembro de 1989. 
 
Pela primeira vez, foi adotada a doutrina da proteção integral fundada em três 
pilares: 1) reconhecimento da peculiar condição da criança e jovem como 
pessoa em desenvolvimento, titular de proteção especial; 2) crianças e jovens 
têm direito à convivência familiar; 3) as Nações subscritoras obrigam-se a 
assegurar os direitos insculpidos na Convenção com absoluta prioridade.(AMIN, s.d., p.54) 
 
Em 1990, foi realizado o Encontro Mundial de Cúpula pela Criança, na ocasião 
foi assinada a Declaração Mundial sobre a Sobrevivência, a Proteção e o 
Desenvolvimento da Criança, por representantes de 80 países, incluindo o Brasil. 
35 
 
No Brasil, no início dos anos 1980, diante do cenário político e social de 
repressão e autoritarismo causado pela Ditadura Militar, buscava-se avidamente o 
resgate da democracia e dos direitos humanos, a pressão da população juntamente 
com as organizações sociais, levou a promulgação da Constituição Federal em 1988, 
que assegurava prioridade às crianças, adolescentes e aos jovens, direitos 
fundamentais como saúde, educação, direito à vida, respeito, lazer, entre outros. 
 
O Artigo 226 incorporou todos os preceitos das Cartas Internacionais de 45, 
48, 51, 66, 68, 69 e 79, no que se refere à proteção à mulher e a família, mas 
foi no Artigo 227, ao exigir uma lei específica que o regulamentasse, que 
possibilitou, através do Estatuto da Criança e do Adolescente, finalmente 
aprovado em 13 de julho de 1990, que o constituinte incorporou como 
obrigação, da família da sociedade e do Estado, assegurar com absoluta 
prioridade, os direitos da criança e do adolescente. (SILVA, 2001, p.8) 
 
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), foi assinado, pelo então 
presidente na época, Fernando Collor de Mello, após o rompimento com a Ditadura 
Militar. 
O Estatuto instaurou a doutrina da proteção integral à criança e ao 
adolescente, na qual conceituou como criança pessoa até doze anos incompletos, e 
adolescente pessoa entre doze e dezoito anos, impondo-lhes direitos e deveres 
legais. 
A partir daí, os estereótipos de “menor”, “abandonado” e “infrator” foram 
eliminados e todos foram classificados como crianças e adolescentes em situação de 
risco. 
O ECA possibilitou que crianças e adolescentes se tornassem indivíduos 
detentores de direitos fundamentais, como está explícito no Art. 7º: 
 
A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e a saúde, mediante 
a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o 
desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência. 
(BRASIL, 1990, p.26) 
 
Nesse mesmo contexto, torna-os livres de todas as formas de maus-tratos, causados 
tanto pela família, como por agentes públicos: 
36 
 
Art.18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, 
pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, 
vexatório ou constrangedor. 
Art.18-A. A criança e o adolescente têm o direito de ser educados e cuidados 
sem o uso de castigo físico ou tratamento cruel ou degradante, como formas 
de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais, 
pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes 
públicos executores de medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa 
encarregada de cuidar deles, trata-los, educá-los ou protegê-los. (BRASIL, 
1990, p.28) 
 
A família, seja ela natural ou substituta, tem o dever de assegurar o bem-estar 
e a convivência familiar de suas crianças e adolescentes, com poder exercido 
igualmente pelo pai e pela mãe, cabendo aos mesmos a responsabilidade de 
sustentar os filhos menores e resguardá-los em um ambiente isento de pessoas 
usuárias de substâncias entorpecentes. 
O conceito de família natural é descrito no Art. 25 do ECA: “Entende-se por 
família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus 
descendentes.” (BRASIL, 1990, p.30) 
No caso da família substituta, a inserção da criança ou adolescente se fará 
por meio da guarda, tutela ou adoção, nos termos da lei e sob supervisão periódica 
de uma equipe interprofissional, na qual a opinião dos indivíduos (crianças e 
adolescentes) será sempre considerada. 
A comunidade, fração da sociedade que é mais próxima das crianças e 
adolescentes, morando mesma região, compartilhando dos mesmos costumes, por 
exemplos, vizinhos, integrantes da escola e da igreja, é também responsável por 
resguardar os direitos deste grupo. 
 
Pela proximidade com suas crianças e jovens, possui melhores condições de 
identificar violação de seus direito ou comportamento desregrado da criança 
ou adolescente, que os colocam em risco ou que prejudiquem a boa 
convivência. (AMIN, s.d., p.61) 
 
O Estatuto determina ao Poder Público em todas as esferas legislativa, 
judiciária e executiva, preservar e respeitar, com superioridade, os direitos 
fundamentais infanto-juvenis. 
37 
 
Ao Poder Judiciário é atribuído a defesa dos direitos, promovidos e 
fiscalizados pelo Ministério Público e Conselhos Tutelares. A responsabilidade de 
formular as políticas nacionais, estaduais e municipais, estão a cargo dos Conselhos 
Nacional, Estaduais e Municipais. 
 
Mesmo no ECA, a Justiça da Infância e da Juventude e o juiz continuaram 
com a possibilidade de intervenção junto à família e a criança nos casos 
típicos de Direito Processual Civil e Penal, como guarda, tutela, adoção, 
investigação de paternidade e maus-tratos. (SILVA, 2001, p.9) 
 
O juiz passou a ser assessorado por uma equipe técnica composta por no 
mínimo, um psicólogo e um assistente social, sendo do juiz a maior autoridade, 
concedida pelo ECA ao Poder Judiciário. Diferentemente do Código de 1979, ao qual 
conferia ao magistrado total liberdade de consulta ou não. 
 
O ECA inaugurou uma nova ordem jurídica e institucional para o trato das 
questões da criança e do adolescente, estabelecendo limites à ação do 
Estado, do Juiz, da Polícia, das Empresas, dos adultos e mesmo dos pais, 
mas não foi capaz ainda de alterar significativamente a realidade da criança 
e do adolescente. A mudança de nomenclatura, substituindo os rótulos 
pejorativos de “menor”, “infrator”, “abandonado” e etc., estabeleceu a cultura 
do “politicamente correto”, mas quem estava nas ruas ou nas instituições 
antes do ECA, hoje, se adulto, está no Sistema Penitenciário ou continua 
sendo portador das marcas e dos estigmas incorporados durante a infância. 
(SILVA, 2001, p.9) 
 
Hoje em dia, o ECA é alvo de preconceito por uma parte da sociedade, que 
ao determinar limites com relação a autoridade sobre a criança e ao adolescente, 
reforça o pensamento de impunidade às infrações cometidas por estes. 
 
 
2.2 Das políticas públicas voltadas à juventude 
 
Segundo a UNESCO, a definição de juventude se caracteriza como o ciclo 
etário dos 15 aos 21 anos de idade. Porém, essa definição é um tanto limitada, pois 
38 
 
determinar o conceito de juventude envolve uma série de fatores culturais, sociais, 
biológicos e psicológicos que variam de acordo com cada sociedade ou país. 
 
 Embora a juventude seja considerada, geralmente, como uma totalidade cujo 
principal atributo é dado pela faixa etária na qual está circunscrita, deve-se 
tomá-la também como um conjunto social diversificado, para que classe 
social, à situação econômica, aos interesses e oportunidades ocupacionais e 
educacionais, específicos. (KERBAUY, 2005, p.195) 
 
No Brasil, segundo a Lei nº 11.129/2005, é considerado jovem pessoas com 
idade entre 15 e 29 anos de idade, subdividos em três categorias: adolescente – jovem 
(15 a 17 anos); jovem – jovem (18 a 25 anos) e adulto – jovem (26 a 29 anos). 
O tema juventude como um período de transição de um ciclo de vida, quando 
os jovens tornam-se membros da sociedade assumindo papéis adultos, é constituído 
como categoria de análise pela sociologia funcionalista. 
 
É nesse sentido que a ênfase da sociologia funcionalista e quase que de toda 
sociologia preocupada com o tema da juventude recai sobre o processo de 
socialização vivido pelos jovens e sobre as possíveis disfunções nele 
encontradas. Como a juventude é pensada como um processo de 
desenvolvimento social e pessoal de capacidades e ajustes aos papéis 
adultos, são falhas nesse desenvolvimentoe ajuste que se constituem em 
temas de preocupação social. É nesse sentido que a juventude só está 
presente para o pensamento e a para a ação social como “problema”: como 
objeto de falha, disfunção ou anomia no processo de integração social; e, 
numa perspectiva mais abrangente, como tema de risco para a própria 
continuidade social. (ABRAMO,1997, p.29) 
 
O principal foco dessa preocupação é do jovem como futuro componente da 
sociedade e adaptado a ela. 
Existem propostas que procuram determinar uma nova condição juvenil na 
sociedade contemporânea associadas: 
 
. ao quase desaparecimento da infância – e ao consequente 
prolongamento da juventude -, com o adiantamento precoce da adolescência 
e o retardamento da juventude até depois dos 30 anos; 
39 
 
 . às dificuldades das sociedades atuais em facilitar o trânsito da juventude 
pelo circuito família-escola-emprego, no mundo adulto; 
 . à influência dos meios de comunicação que (1) traduzem uma cultura 
juvenil com características quase universais, heterogêneas e inconstantes, e 
que (2) estabelecem um paralelo contraditório com a transmissão cultural das 
instituições tradicionais (família, escola e emprego), que se debilitaram devido 
ao não-cumprimento de suas promessas e à perda de sua eficácia simbólica, 
como ordenadoras da sociedade. (KERBAUY, 2005, p.195) 
 
Com relação às políticas públicas, no Brasil, até então, não havia a prática de 
políticas destinadas exclusivamente aos jovens, diferentemente do resto do mundo. 
 
Na Europa e Estados Unidos a formulação de políticas para jovens e a 
designação de instituições governamentais responsáveis por sua 
implementação têm se desenvolvido ao longo do século; nos países de língua 
espanhola da América Latina, esse fenômeno, de modo geral, ganha 
significação a partir dos anos 80, principalmente como a CEPAL, ONU e o 
governo da Espanha, gerando algumas iniciativas de cooperação regional e 
Ibero-americana, com intercâmbio de informações e experiências, promoção 
de capacitação técnica, de encontros para realização de diagnósticos e 
discussão de políticas. (ABRAMO, 1997, p.26) 
 
No Brasil e no mundo, o processo de elaboração de políticas públicas para a 
juventude se construiu de maneira complexa e constante, onde não havia uma 
participação conjunta entre as esferas de poder do Estado. 
 O investimento na educação se tornou a principal política na busca pela 
inserção social das futuras gerações. Na década de 1950, o maior problema social da 
juventude era o grande número de envolvimentos em atos de transgressão e 
delinquência. A educação se tornou um importante mecanismo de ascensão social, 
mas ao longo do tempo esse artifício perdeu seu valor devido a decadência na 
qualidade do ensino. 
 
... década de 50, considerada como um momento de inclusão dos jovens aos 
processos de modernização, por meio de políticas educativas. Os dados 
estatísticos mostram que é a partir desse período que se processa a 
admissão maciça de crianças, adolescentes e jovens nos ensino primário e 
40 
 
médio, tendo o Estado como instância definidora da formulação e 
implementação destas políticas. (KERBAUY, 2005, p.197) 
 
Os jovens eram incentivados a ocupar seu tempo livre com atividades de 
profissionalização, preparando-se assim, para tornar-se um adulto produtivo, 
responsável pelo progresso do país. 
 Diante dos altos índices de delinquência juvenil nos setores marginalizados 
da sociedade, o Estado buscou medidas educacionais e controladoras a fim de conter 
a delinquência que afetava os setores operários e de classe média. 
 
O Código de Menores, de 1927 – (...) orientou as políticas para os jovens até 
sua revogação, no final da década de 70. A tônica da tutela esteve presente 
também no Serviço de Atendimento ao Menor (SAM), criado em 1941. 
A substituição da SAM pela, em 1964, pela Política Nacional de Bem-Estar 
do Menor (PNBEM), serviu também como que para consagrar definitivamente 
a idéia de o jovem (especialmente o pobre) ser um “infrator em potencial” (...). 
Ao Estado caberia o papel de intervir para garantir o modelo de integração 
defendido pela sociedade. (KERBAUY, 2005, p.198) 
 
 No Brasil, nas décadas de 1960 e 1970, jovens de classe média, envolvidos 
com partidos de esquerda, influenciados pela revolução cubana, apropriaram-se de 
um perfil desafiador e contestatório ao sistema político, cultural e moral. 
Através dos movimentos estudantis, a juventude apareceu como portadora de 
uma transformação na sociedade contra o sistema autoritário do Estado, que em 
resposta às recusas da juventude de se adaptar a esse sistema, foi a execução de 
violência e repressão policial, visando a total extinção desses movimentos. 
A juventude dos anos 1970 foi considerada o modelo ideal de atuação jovem 
frente ao cenário político e cultural e moral da época, diferentemente da geração dos 
anos 80, categorizada como conservadora, apática e individualista. 
 
Apesar dessa imagem formada sobre os jovens dos anos 80, o Estado não 
cedeu em nada no exercício de seu papel controlador, especialmente ao lidar 
com jovens pertencentes ou ligados aos grupos surgidos em estratos 
populares (as gangues juvenis, de punks, as “galeras” de modo geral) e com 
jovens de vivência e expressão urbanas, principais vítimas da deterioração 
da qualidade de vida, que atinge principalmente as camadas populares, e do 
41 
 
empobrecimento generalizado da população latino-americana. (KERBAUY, 
2005, p.199) 
 
 Somente a partir dos anos 1990 no Brasil, pode-se notar uma preocupação 
especial para com os jovens na elaboração e implementação de políticas específicas. 
Porém, os governos ao planejarem políticas de juventude como destinadas a 
uma determinada realidade, criaram apenas políticas de governo, tendo em vista que 
percebe-se a ausência da participação dos jovens e suas sentenças coletivas no 
desenvolvimento das políticas de juventude, o que levou a criação de um modelo 
hegemônico e com características imediatistas e compensatórias. 
 
Um importante referencial sobre infância e adolescência no Brasil é o Estatuto 
da Criança e do Adolescente (ECA). Desde a sua publicação, em 1990, 
passou a considerar crianças e adolescentes como cidadãos em 
desenvolvimento, ancorados numa concepção plena de direitos. No entanto, 
a juventude não surge, nesse contexto, como protagonista com identidade 
própria, uma vez que parece reforçar a imagem do jovem como um problema, 
especialmente em questões relacionadas à violência (...). A partir dessa 
concepção limitada, os programas governamentais procuram apenas – e nem 
sempre com sucesso – minimizar a potencial ameaça que os jovens parecem 
representar para a sociedade. (KERBAUY, 2005, p.194) 
 
Aprovada em 1993, a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), 
implementou o Sistema Descentralizado e Participativo da Assistência Social, na qual 
foram pautadas também ações para a adolescência e juventude. 
Na década de 1990, os índices de desemprego juvenil e a intensificação da 
precarização social impulsionaram a efetivação de políticas de inclusão na sociedade, 
em meio a uma crise do Estado decorrente da soberania das políticas neoliberais. 
 
Observa-se, a partir dos meados dos anos 1990, nos planos local e regional, 
o aparecimento de organismos públicos destinados a articular ações no 
âmbito do poder executivo e estabelecer parcerias com a sociedade civil, 
tendo em vista a implantação de projetos ou programas de ações para jovens, 
alguns financiados pela esfera federal. (...) Constata-se que debates e 
programas desenvolvidos por organizações não-governamentais foram 
importantes como fomentadores de novas idéias para a ação do governo 
municipal. (SPOSITO; CARRANO, 2003, p.33) 
42 
 
 
 ONGs, associações beneficentes, instituições de assistência, entre outras, há 
mais tempo e em maior quantidade, têm realizado

Continue navegando