Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
INVESTIGAÇÕES DIVERSAS A atividade investigatória não é exclusiva da Polícia Judiciária. Com efeito, o próprio Código de Processo Penal, em seu art. 4º, parágrafo único, acentua que a atribuição para a apuração das infrações penais e de sua autoria não excluirá a de autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função. Elaborado por colaborador Anotações extraídas do Manual Processo Penal - Vol. Único, 2020; Renato Brasileiro de Lima Revisado e publicado por @muraljuridico O procedimento investigatório criminal s e r á i n s t a u r a d o p o r p o r t a r i a fundamentada, devidamente registrada e autuada, com a indicação dos fatos a serem investigados e deverá conter, sempre que possível, o nome e a qualificação do autor da representação e a determinação das diligências iniciais. Se, durante a instrução do proced imento invest igatór io c r i m i n a l , f o r c o n s t a t a d a a necessidade de investigação de out ros fa tos , o membro do Ministério Público poderá aditar a portaria inicial ou determinar a e x t r a ç ã o d e p e ç a s p a r a i n s t a u r a ç ã o d e o u t r o procedimento. INVESTIGAÇÃO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO Na hipótese de o investigado ser membro do Ministério Público, a investigação não é atribuição da polícia judiciária, mas sim do respectivo Procurador-Geral, por força do art. 18, parágrafo único, da LC nº 75/93, e art. 41, parágrafo único, da Lei nº 8.625/93. Portanto, quando o investigado for membro da instituição, não há dúvidas de que sua conduta delituosa deve ser investigada pelo próprio Ministério Público. A controvérsia acerca do poder investigatório criminal do Ministério Público diz respeito às infrações penais que não tenham como investigado um membro do Ministério Público. CORRENTE CONTRÁRIA AO PODER INVESTIGATÓRIO DO MINISTÉRIO PÚBLICO Parte da doutrina e dos Tribunais Superiores posicionava-se contrariamente a esse poder investigatório ministerial com base nos seguintes argumentos: a) a investigação pelo Parquet atentaria contra o sistema acusatório, criando um desequilíbrio na paridade de armas; b) a Constituição Federal teria dotado o Parquet do poder de requisitar diligências e a instauração de inquéritos policiais (art. 129, VIII), mas não lhe conferira o poder de realizar e presidir inquéritos policiais; c) a atividade investigatória seria exclusiva da Polícia Judiciária (CF, art. 144, § 1º, IV, c/c art. 144, § 4º); d) não haveria previsão legal de instrumento idôneo para a realização das investigações pelo Ministério Público. CORRENTE FAVORÁVEL AO PODER INVESTIGATÓRIO DO MINISTÉRIO PÚBLICO Em sentido diverso, grande parte da doutrina sempre admitiu a possibilidade de investigação pelo Ministério Público, sob os seguintes argumentos: a) Não há falar em violação ao sistema acusatório, nem tampouco à paridade de armas, porquanto os elementos colhidos pelo Ministério Público terão o mesmo tratamento dispensado àqueles colhidos em investigações policias, leia- se, são elementos de informação, aptos a servir de base para a denúncia, devendo ser ratificados judicialmente sob crivo do contraditório e da ampla defesa, para embasamento da eventual condenação; b) Teoria dos poderes implícitos: segundo essa teoria, nascida na Suprema Corte dos EUA, no precedente Mc CulloCh vs. Maryland (1819), a Constituição, ao conceder uma atividade-fim a determinado órgão ou instituição, culmina por, implícita e simultaneamente, a ele também conceder todos os meios necessários para a consecução daquele objetivo. Se a última palavra acerca de um fato criminoso cabe ao Ministério Público, porquanto é o Parquet o titular da ação penal pública (CF, art. 129, inc. I), deve-se outorgar a ele todos os meios para firmar seu convencimento, aí incluída a possibilidade de realizar investigações criminais, sob pena de não se lhe garantir o meio idôneo para realizar a persecução criminal, ao menos em relação a certos tipos de delito; c) A Constituição Federal confere à Polícia Federal a exclusividade do exercício das funções de Polícia Judiciária da União, mas, como exposto anteriormente, funções de polícia judiciária não se confundem com funções de polícia investigativa; d) A possibilidade de o Ministério Público investigar pode ser extraída de diversos dispositivos constitucionais e legais, como, por exemplo, o art. 129, incisos I, VI e VIII, da Constituição Federal, arts. 7º e 8º da Lei Complementar n. 75/93, constando da Resolução n. 181 do CNMP farta regulamentação acerca do procedimento investigatório criminal. No âmbito do Superior Tribunal de Justiça, sempre prevaleceu o entendimento de que a Constituição Federal e a legislação infraconstitucional asseguram ao Ministério Público o poder de realizar investigações no âmbito criminal. Aliás, a súmula nº 234 do STJ dispõe que a participação de membro do Ministério Público na fase investigatória criminal não acarreta o seu impedimento ou suspeição para o oferecimento da denúncia. Para a 2ª Turma do STF, o Ministério Público dispõe de atribuições para promover, por autoridade própria, investigações de natureza penal, desde que respeitados os direitos e garantias que assistem a qualquer pessoa sob investigação do Estado. Isso não significa retirar da Polícia Judiciária as atribuições previstas constitucionalmente, mas apenas harmonizar as normas constitucionais (arts. 129 e 144) de modo a compatibilizá-las para permitir não apenas a correta e regular apuração dos fatos supostamente delituosos, mas também a formação da opinio delicti. Ora, é princípio basilar da hermenêutica constitucional o dos “poderes implícitos”, segundo o qual, quando a Constituição Federal concede os fins, dá os meios. Se a atividade fim – promoção da ação penal pública – foi outorgada ao Parquet em foro de privatividade, não se concebe como não lhe oportunizar a colheita de prova para tanto, já que o CPP autoriza que “peças de informação” embasem a denúncia. Também não há falar em violação ao princípio do contraditório. Afinal, mesmo quando conduzida, unilateralmente, pelo Ministério Público, a investigação penal não legitima qualquer condenação criminal, se os elementos de convicção nela produzidos – porém não reproduzidos em juízo, sob a garantia do contraditório – fossem os únicos dados probatórios existentes contra a pessoa investigada. Em julgamento histórico ocorrido em data de 14 de maio de 2015, o Plenário do Supremo Tribunal Federal reconheceu, enfim, que o Ministério Público dispõe de competência para promover, por autoridade própria, e por prazo razoável, investigações de natureza penal, desde que respeitados os direitos e garantias que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado, observadas, sempre, por seus agentes, as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais de que se acham investidos, em nosso País, os advogados, sem prejuízo da possibilidade – sempre presente no Estado democrático de Direito – do permanente controle jurisdicional dos atos, necessariamente documentados (Enunciado 14 da Súmula Vinculante), praticados pelos membros do Parquet. Nesse caso, é imperioso observar: a) ritos claros quanto à pertinência do sujeito investigado; b) formalização do ato investigativo; c) comunicação imediata ao Procurador-Chefe ou ao Procurador-Geral; d) autuação, numeração, controle, distribuição e publicidade dos atos; e) pleno conhecimento da atividade de investigação à parte; f) princípios e regras que orientariam o inquérito e os procedimentos administrativos sancionatórios; g) ampla defesa, contraditório, prazo para a conclusão e controle judicial. A função investigatória do Ministério Público não se converteria em atividade ordinária, mas excepcional a legitimar a sua atuação em casos de abuso de autoridade, prática de delito por policiais, crimes contra a Administração Pública, inérciados organismos policiais, ou procrastinação indevida no desempenho de investigação penal, situações que exemplificativamente justificariam a intervenção subsidiária do órgão ministerial. PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO CRIMINAL PIC RESOLUÇÃO CNMP N. 181/2017 Em poder de quaisquer peças de informação, o membro do Ministério Público poderá: (artigo 2º) PROMOVER A AÇÃO PENAL CABÍVEL ENCAMINHAR PEÇAS PARA O JECRIM, caso a infração seja de menor potencial ofensivo INSTAURAR PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO CRIMINAL A distribuição de peças de informação deverá observar as regras internas previstas no sistema de divisão de serviços. No caso de instauração de ofício, o PIC será distribuído livremente entre os membros da instituição que tenham atribuição para apreciá-lo, incluído aquele que determinou a sua instauração, observados os critérios ficados pelos órgãos especializados de cada MP e respeitadas as regras de competência temporária em razão da matéria, a exemplo de grupos específicos criados para apoio e assessoramento e de forças- tarefa devidamente designadas pelo Procurador-Geral competente, e as relativas à conexão e à continência. PORTARIA DE INSTAURAÇÃO DA INSTRUÇÃO REQUISIÇÕES PRAZO PARA RESPOSTA até 10 DIAS ÚTEIS DESTINATÁRIOS ESPECÍFICOS As correspondências, notificações, requisições e intimações do Ministério Público quando tiverem como destinatário o Presidente da República, o Vice-Presidente da República, membro do Congresso Nacional, Ministro do Supremo Tribunal Federal, Ministro de Estado, Ministro de Tribunal Superior, Ministro do Tribunal de Contas da União ou chefe de missão diplomática de caráter permanente serão encaminhadas e levadas a efeito pelo Procurador-Geral da República ou outro órgão do Ministério Público a quem essa atribuição seja delegada. As notificações e requisições previstas neste artigo, quando tiverem como destinatários o Governador do Estado, os membros do Poder Legislativo e os desembargadores, serão encaminhadas pelo Procurador-Geral de Justiça ou outro órgão do Ministério Público a quem essa atribuição seja delegada. As autoridades referidas poderão fixar data, hora e local em que puderem ser ouvidas, se for o caso. D a i n s t a u r a ç ã o d o procedimento investigatório criminal far-se-á comunicação imediata e, preferencialmente, eletrônica ao Órgão Superior competente, sendo dispensada tal comunicação em caso de registro em sistema eletrônico. A par de outras providências que poderão ser adotadas, na condução das investigações, o órgão do Ministério Público poderá: I – fazer ou determinar vistorias, inspeções e quaisquer outras diligências; II – requisitar informações, exames, perícias e documentos de autoridades, órgãos e entidades da Administração Pública direta e indireta, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; III – requisitar informações e documentos de entidades privadas, inclusive de natureza cadastral; IV – notificar testemunhas e vítimas e requisitar sua condução coercitiva, nos casos de ausência injustificada, ressalvadas as prerrogativas legais; V – acompanhar buscas e apreensões deferidas pela autoridade judiciária; VI – acompanhar cumprimento de mandados de prisão preventiva ou temporária deferidas pela autoridade judiciária; VII – expedir notificações e intimações necessárias; VIII – realizar oitivas para colheita de informações e esclarecimentos; IX – ter acesso incondicional a qualquer banco de dados de caráter público ou relativo a serviço de relevância pública; X – requisitar auxílio de força policial. PRAZO PARA CONCLUSÃO 90 DIAS + CONCLUSÃO Oferecimento de DENÚNCIA DECLÍNIO DE COMPETÊNCIA em favor de outro órgão do MP ARQUIVAMENTO Deve observar o art. 28 do CPP Comunicação da vítima PRAZO PARA PROVIDÊNCIAS 30 DIAS Pode ser prorrogado, fundamentadamente ATÉ 90 DIAS PROMOVER FUNDAMENTADAMENTE O RESPECTIVO ARQUIVAMENTO REQUISITAR A INSTAURAÇÃO DE IPL, indicando, sempre que possível, as diligências necessárias à elucidação dos fatos, sem prejuízo daquelas que vierem a ser realizadas por iniciativa da autoridade policial competente. Prorrogável mediante solicitação justificada Admitidas prorrogações sucessivas, por decisão fundamentada. Como o Ministério Público não pode presidir inquéritos policiais, o meio a ser usado pelo Parquet para a realização das investigações é o procedimento investigatório criminal (PIC), o qual não exclui a possibilidade de formalização de invest igação por outros órgãos leg i t imados da Administração Pública. Objeto de regramento pela Resolução n. 181 do CNMP, o PIC consiste no instrumento sumário e desburocratizado de natureza administrativa e inquisitorial, instaurado e presidido pelo membro do Ministério Público com atribuição criminal, e terá como finalidade apurar a ocorrência de infrações penais de natureza pública, servindo como preparação e embasamento para o juízo de propositura, ou não, da respectiva ação penal. Esse procedimento poderá ser instaurado de ofício, por membro do Ministério Público, no âmbito de suas atribuições criminais, ao tomar conhecimento de infração penal, por qualquer meio, ainda que informal, ou mediante provocação. Também poderá ser instaurado por grupo de atuação especial composto por membros do Ministério Público. Essa instauração deve se dar por portaria fundamentada, devidamente registrada e autuada, com a indicação dos fatos a serem investigados e deverá conter, sempre que possível, o nome e a qualificação do autor da representação e a determinação das diligências iniciais. O PIC deverá tramitar, comunicar seus atos e transmitir suas peças, preferencialmente, por meio eletrônico (art. 3º, §1º). O membro do Ministério Público, no exercício de suas atribuições criminais, deverá dar andamento às representações, requerimentos, petições e peças de informação que lhe sejam encaminhadas. Investigação pelo PODER LEGISLATIVO COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO CPI De acordo com o art. 58, § 3º, da Carta Magna, as comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo S e n a d o F e d e r a l , e m c o n j u n t o o u separadamente, mediante requerimento de um terço de seus membros, para a apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores. As comissões parlamentares de inquérito são órgãos que instauram procedimento administrativo de feição política, de cunho meramente investigatório, semelhante ao inquérito policial e ao inquérito civil público. Diferenciam-se destes, no entanto, não só em virtude dos poderes de investigação de que são dotados seus membros, equiparados aos poderes de investigação dos juízes, como também pelo fato de as CPI’s não assumirem, obrigatoriamente, natureza preparatória de ações judiciais. Não se destinam a apurar crimes nem a puni-los, o que é da competência dos Poderes Executivo e Judiciário; entretanto, se no curso de uma investigação, vem a deparar com fato criminoso, dele dará ciência ao Ministério Público, para os fins de direito, como qualquer autoridade, e mesmo como qualquer do povo. PODERES E LIMITAÇÕES A atuação das comissões parlamentares de inquérito está sujeita à cláusula de reserva de jurisdição, segundo a qual, por expressa previsão constitucional, compete EXCLUSIVAMENTE aos órgãos do Poder Judiciário, com total exclusão de qualquer outro órgão estatal, a prática de determinadas restrições a direitos e garantias individuais: 1) violação ao domicílio durante o dia (CF, art. 5º, inciso XI); 2) prisão, salvo o flagrante delito (CF, art. 5º, inciso LXI); 3) interceptação telefônica (CF, art. 5º, inciso XII); 4) afastamento desigilo de processos judiciais O princípio constitucional da reserva de jurisdição não se estende ao tema da quebra de sigilo, pois, em tal matéria, e por efeito de expressa autorização dada pela própria Constituição da República (CF, art. 58, § 3º), assiste competência à Comissão Parlamentar de Inquérito, para decretar, sempre em ato necessariamente motivado, a excepcional ruptura dessa esfera de privacidade das pessoas. Para decretar a quebra de tais sigilos, devem as Comissões Parlamentares de inquérito demonstrar, a partir de meros indícios, a existência concreta de causa provável que legitime a medida excepcional, justificando a necessidade de sua efetivação no procedimento; Uma comissão parlamentar de inquérito, “destinada a investigar fatos relacionados com as atribuições congressuais, tem poderes imanentes ao natural exercício de suas atribuições, como de colher depoimentos, ouvir indiciados, inquirir testemunhas, notificando-as a comparecer perante ela e a depor; a este poder corresponde o dever de, comparecendo a pessoa perante a comissão, prestar-lhe depoimento, não podendo calar a verdade. Comete crime a testemunha que o fizer. A Constituição, art. 58, § 3º, a Lei 1579, art. 4º, e a jurisprudência são nesse sentido. […] Ao poder de investigar corresponde, necessariamente, a posse dos meios coercitivos adequados para o bom desempenho de suas finalidades; eles são diretos, até onde se revelam eficazes, e indiretos, quando falharem aqueles, caso em que se servirá da colaboração do aparelho judiciário;” Se as comissões parlamentares de inquérito “detêm o poder instrutório das autoridades judiciais – e não maior que o dessas – a elas se poderão opor os mesmos limites formais e substancias oponíveis aos juízes, dentre os quais os derivados das garantias constitucionais contra a autoincriminação, que tem sua manifestação mais eloquente no direito ao silêncio dos acusados. Não importa que, na CPI – que tem poderes de instrução, mas nenhum poder de processar nem de julgar – a rigor não haja acusados: a garantia contra a autoincriminação se estende a qualquer indagação por autoridade pública de cuja resposta possa advir à imputação ao declarante da prática de crime, ainda que em procedimento e foro diversos;” Ninguém pode escusar-se de comparecer a comissão parlamentar de inquérito para depor. Ninguém pode recusar-se a depor. Contudo, “a testemunha pode escusar-se a prestar depoimento se este colidir com o dever de guardar sigilo. O sigilo profissional tem alcance geral e se aplica a qualquer juízo, cível, criminal, administrativo ou parlamentar. Não basta invocar sigilo profissional para que a pessoa fique isenta de prestar depoimento. É preciso haver um mínimo de credibilidade na alegação e só a posteriori pode ser apreciado caso a caso. A testemunha, não pode prever todas as perguntas que lhe serão feitas. O Judiciário deve ser prudente nessa matéria, para evitar que a pessoa venha a obter HC para calar a verdade, o que é modalidade de falso testemunho;” Não é dado a uma Comissão Parlamentar de Inquérito querer controlar a regularidade ou a legalidade de atos jurisdicionais, obrigando magistrado a dar, além daquelas que constam dos autos do processo judicial, outras razões de sua prática, ou a revelar as cobertas por segredo de justiça, sob pena de violação frontal ao princípio da separação e independência dos poderes; Comissão Parlamentar de Inquérito não tem competência para expedir decreto de indisponibilidade de bens de particular, que não é medida de instrução – a cujo âmbito se restringem os poderes de autoridade judicial a elas conferidos no art. 58, § 3º – mas de provimento cautelar de eventual sentença futura, que só pode caber ao Juiz competente para proferi-la; O art. 3º, §1º, da Lei n. 1.579/52, com redação dada pela Lei n. 13.367/16, dispõe que, em caso de não comparecimento da testemunha sem motivo justificado perante a Comissão Parlamentar de Inquérito, sua intimação será solicitada ao juiz criminal da localidade em que resida ou se encontre, nos termos dos arts. 218 e 219 do CPP. Como se percebe, os poderes de investigação próprios das autoridades judiciais outorgados às Comissões Parlamentares de Inquérito não abrangem a possibilidade de decretação de conduções coercitivas. CONCLUSÕES De acordo com o art. 1º da Lei nº 10.001/00, os Presidentes da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional encaminharão o relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito respectiva, e a resolução que o aprovar, aos chefes do Ministério Público da União ou dos Estados, ou a inda às autor idades administrativas ou judiciais com poder de decisão, conforme o caso, para a prática de atos de sua competência. As Casas Legislativas dos Estados-membros, do Distrito Federal e dos Municípios também são dotadas de função fiscalizadora, mas só poderão investigar os fatos que se inserirem no âmbito de suas respectivas competências legislativas e materiais. Daí por que concluiu o Supremo que, ainda que seja omissa a Lei Complementar nº 105/01, é possível que uma CPI estadual determine a quebra de sigilo de dados bancários, com base no art. 58, § 3º, da Constituição. Segundo a referida lei, a autoridade a quem for encaminhada a resolução informará ao remetente, no prazo de trinta dias, as providências adotadas ou a justificativa pela omissão. Ademais, a autoridade que presidir processo ou procedimento, administrativo ou judicial, instaurado em decorrência de conclusões de Comissão Parlamentar de Inquérito, comunicará, semestralmente, a fase em que se encontra, até a sua conclusão. CONSELHO DE CONTROLE DE ATIVIDADES FINANCEIRAS COAF O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) foi criado pela Lei nº 9.613/98. Dispõe de autonomia técnica e operacional, atua em todo território nacional e vincula-se administrativamente ao Banco Central do Brasil (Lei n. 13.974/19, art. 2º). Grosso modo, a ele compete produzir e gerir informações de inteligência financeira para a prevenção e o combate à lavagem de dinheiro, assim como promover a interlocução institucional com órgãos e entidades nacionais, estrangeiros e internacionais que tenham conexão com suas atividades. Tendo em conta que o processo de lavagem de capitais envolve, obrigatoriamente, a movimentação de bens, valores ou direitos, estabeleceram-se mecanismos de controle dos registros de operações consideradas suspeitas. Determinou a Lei nº 9.613/98, em seu art. 9º, as espécies de atividades sujeitas à fiscalização permanente por parte da correspondente pessoa jurídica ou física, que se vê obrigada a comunicar ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) a relação de operações suspeitas, de forma a viabilizar uma investigação mais detalhada. A maior parte dos encargos é dirigida às pessoas jurídicas que mantenham atividades ligadas aos sistemas financeiros e econômicos, compelindo-as a identificar seus clientes, manter registros das operações com eles realizadas e comunicar reservadamente as transações suspeitas que ultrapassem o valor- limite fixado pela autoridade. No entanto, o art. 9º também abarca outras instituições, e inclusive pessoas físicas (inciso XII acrescentado pela Lei 10.701/2003) que, por terem como atividade principal ou acessória, o giro de médias e grandes quantidades de dinheiro, podem ser utilizadas como canais para a lavagem de capitais. O art. 10 da Lei 9.613/98 consagra a chamada política do know your costumer, uma das armas mais poderosas no combate à lavagem de capitais, segundo a qual é dever da instituição financeira conhecer o perfil de seu correntista de forma que seja possível a definição de um padrão de mov imentação finance i ra compatível com seus rendimentos declarados. Existindo incompatibilidade de movimentação, a notícia dessa operação suspeita deve ser encaminhada à autoridade administrativa responsável que adotará as providênciascabíveis quanto à verificação da legalidade da operação. O COAF comunicará às autor idades competentes para a instauração dos procedimentos cabíveis, quando concluir pela existência de crimes previstos na Lei de lavagem de capitais, de fundados indícios de sua prática, ou de qualquer outro ilícito. Investigação por DETETIVE PARTICULAR Em vigor desde o dia 12 de abril de 2017, a Lei n. 13.432 passou a dispor sobre o exercício da profissão de detetive particular, assim considerado “o profissional que, habitualmente, por conta própria ou na forma de sociedade civil ou empresarial, planeje e execute coleta de dados e informações de natureza não criminal, com conhecimento técnico e utilizando recursos e meios tecnológicos permitidos, visando ao esclarecimento de assuntos de interesse privado do contratante” (art. 2º). A regulamentação da matéria é complementada pelo Decreto n. 50.532/61 e pela Lei n. 3.099/57, que não foram revogados pela Lei n. 13.432/17. A redação do art. 2º da Lei n. 13.432/17 deixa evidente que a atuação do detetive particular não terá natureza criminal. Ou seja, sua função está relacionada à coleta de d a d o s e i n f o r m a ç õ e s e x t r a p e n a i s , v i s a n d o a o esclarecimento de assuntos de interesse privado, que, pelo menos em tese, não devem ter qualquer relevância penal, como, por exemplo, situações envolvendo questões famil iares, conjugais e identificação de fil iação, desaparecimento e localização de pessoas ou de animais, idoneidade de prepostos e empregados para fins de possível contratação, etc. Fica evidente, portanto, que a investigação criminal continua sendo uma atividade essencial e exclusiva do Estado. E nem poderia ser diferente. Afinal, à luz do princípio da oficialidade, a apuração das infrações penais fica, em regra, a cargo da polícia investigativa, enquanto que a promoção da ação penal pública incumbe ao Ministério Público. Elaborado por colaborador Anotações extraídas do Manual Processo Penal - Vol. Único, 2020; Renato Brasileiro de Lima Revisado e publicado por @muraljuridico Para Renato Brasileiro: “é fato que o d ispos i t ivo em questão não fo i recepcionado pela Constituição Federal. Com efeito, essa concentração de poderes nas mãos de uma única pessoa, in casu, no Ministro inquisidor, além de violar a imparcialidade e o devido processo legal, revela-se absolutamente incompatível com o próprio Estado Democrático de Direito, assemelhando-se à reunião dos poderes de administrar, legislar e julgar em uma única pessoa, o ditador, nos regimes absolutistas”. Investigação pelo PODER JUDICIÁRIO O inquérito judicial previsto na antiga Lei de Falência e a Lei 9034/95 (antiga Lei das Organizações Criminosas) previam, no primeiro caso, um procedimento preparatório presidido por um juiz de direito, e, no segundo caso, quebra de sigilo decretada de ofício pelo juiz. Os diplomas foram revogados por novos regulamentos, que vão ao encontro do sistema acusatório, impondo ao juiz um distanciamento das funções investigatórias. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL A discussão em torno da possibilidade, ou não, de instauração de Inquérito, de ofício, pelo STF tomou relevância em virtude do pedido de abertura de inquérito pelo seu Presidente, Min. Dias Toffoli, para fins de investigação de crimes contra a honra e ameaças a alguns Ministros da Corte. O pedido de abertura de inquérito encontra fundamento no artigo 43 do RI/STF: “Ocorrendo infração à lei penal na sede ou dependência do Tribunal, o Presidente instaurará inquérito, se envolver autoridade ou pessoa sujeita à sua jurisdição, ou delegará esta atribuição a outro Ministro”. O inquérito foi autuado sob o n. 4.781 e distribuído à relatoria do Min. Alexandre de Moraes.
Compartilhar