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A LEITURA DA CHARGE, A ANÁLISE DE DISCURSO E O SUJEITO PROFESSOR: 
REFLEXÕES SOBRE A (DES)VALORIZAÇÃO DO PROFESSOR
	[footnoteRef:1]Elizane Aparecida Lehr [1: LEHR, Elizane Aparecida Lehr – Acadêmica da disciplina de Discurso, Identidade e Formação de Professores do Curso de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos da Universidade Federal Fronteira Sul. E-mail: elizane.lehr.lisa@gmail.com] 
	[footnoteRef:2]Mary Neiva Surdi da Luz [2: SURDI DA LUZ, Mary Neiva - Doutora do Mestrado em Estudos Linguísticos da Universidade Federal Fronteira Sul. E-mail: neivadaluz@uffs.edu.br] 
	[footnoteRef:3]Angela Derlise Stübe [3: STÜBE, Angela Derlise. - Professora Doutora do Mestrado em Estudos Linguísticos da Universidade Federal Fronteira Sul. E-mail: angelastube@uffs.edu.br] 
RESUMO
A charge é um gênero discursivo da atualidade que circula em jornais e revistas e principalmente nos meios midiáticos da internet, permitindo que o leitor adquira uma visão social do meio em que vive. Diante disso, temos como objetivo observar a relação entre os discursos presentes nas charges, especificamente do dia do professor e analisar como as imagens reportam ao meio social contribuindo para a produção de sentidos e reflexões acerca da (des)valorização do professor. Para a realização deste artigo, tomamos como base os estudos referentes à Análise do Discurso de linha francesa, sobretudo nas ideias de Orlandi (2012). O corpus da pesquisa consta de charges coletadas no google, site de pesquisa da internet, do dia 15 de outubro de 2019, dia do professor. Assim, nossa pesquisa é de cunho documental, visto que selecionamos um material gráfico como objeto de estudo. Esperamos que a pesquisa possa contribuir para a percepção do leitor, assim contribuindo para concepção de um olhar crítico diante de tais discursos que circulam socialmente. Notamos também, que as charges apresentam uma relação com discursos e imagens já existentes, que fazem com que os sujeitos acionem a memória discursiva para a sua compreensão, uma vez que a produção de sentidos nesse gênero é construída por meio do não-dito, no que ficou por dizer.
Palavras-Chave: Charge, Discurso, o Sujeito Professor.
ABSTRACT
The cartoon is a current discursive genre that circulates in newspapers and magazines and especially in the internet media, allowing the reader to acquire a social vision of the environment in which he lives. Given this, we aim to observe the relationship between the discourses present in the cartoons, specifically the day of the teacher and analyze how the images report to the social environment contributing to the production of meanings and reflections about the (de) valorization of the teacher. For the realization of this article, we base our studies on French Discourse Analysis, especially on Orlandi's (2012) ideas. The corpus of the research consists of cartoons collected on google, internet research site, of October 15, 2019, Teacher's Day. Thus, our research is documentary, since we selected a graphic material as the object of study. We hope that the research can contribute to the reader's perception, thus contributing to the conception of a critical look at such socially circulating discourses. We also note that the cartoons present a relationship with existing discourses and images, which make the subjects trigger the discursive memory for their comprehension, since the production of meanings in this genre is constructed through the unsaid, in the that was left unsaid.
Keywords: Charge, Speech, the Subject Teacher.
1. Introdução 
	Os discursos produzidos nas mídias e difundidos na sociedade colaboram para a produção de imagem aproximando o sujeito social. As charges, neste sentido são ferramentas de denúncia de fatos do cotidiano que atraem o leitor por meio da imagem e do texto geralmente humorismo e irônico. 
Com base nessas reflexões, surgiu o interesse de realizar uma análise das imagens das charges, cujo objetivo é observar a relação entre os discursos presentes nas charges do dia do professor e analisar como as imagens reportam a outras já existentes contribuindo para a produção de sentidos.
O corpus é constituído por três charges, todas coletadas no Google, famoso website de busca, que hospeda e desenvolve vários serviços e produtos para usuários no mundo inteiro.
Como suporte teórico, nos respaldamos na Análise do Discurso Francesa, sobretudo nas ideias de Orlandi (2012). A partir das análises, observamos que as charges se constituem como um gênero que pode ser estudado e explorado de modos diferentes, porque além de se tratar de um texto humorístico é também um texto de reflexão e análise crítica no meio que está inserida, auxiliando outros entrelaçamentos de discursos para a sua compreensão. 
O objetivo desta pesquisa será observar a relação entre os discursos presentes nas charges, especificamente do dia do professor e analisar como as imagens reportam ao meio social contribuindo para a produção de sentidos e reflexões acerca da (des)valorização do professor.
Para desenvolver a análise, serão consideradas: a materialidade linguística, as imagens, bem como a integração destas com os discursos presentes nas charges.
2. Alguns conceitos da Análise do Discurso
A Análise de Discurso (AD) francesa, fundada por Michel Pêcheux, na década de 60, na França, e trazida por Eni Orlandi, para o Brasil, busca examinar como os sentidos são produzidos e as condições de produção, bem como os efeitos de sentidos que levando em conta as condições de produção dos discursos e os efeitos de sentido que deles aparecem. Para a AD a linguagem não é transparente, logo, todo texto pode ter mais de um sentido.
Segundo essa teoria, a língua não é vista como estrutura, mas como acontecimento, como o lugar em que a ideologia se materializa. Conforme Orlandi (2012, p.15), a língua faz sentido, porque é “[...] parte do trabalho social geral, constitutivo do homem e de sua história”. Ela é o lugar onde a ideologia se materializa e está sempre sujeita ao equívoco. 
Por meio do dispositivo teórico da AD, a Charge deve ser interpretada como um gênero social onde a ideologia e outros discursos se entrecruzam e memórias são acionadas para sua compreensão e análise crítica.
Conforme Orlandi, 
A Análise de Discurso, como o próprio nome indica, não trata da língua, não trata da gramática, embora todas essas coisas lhe interessem. Ela trata do discurso. E a palavra discurso, etimologicamente, tem em si a ideia de curso, de percurso, de correr por, de movimento. O discurso é assim palavra em movimento, prática de linguagem: com o estudo do discurso observa-se o homem falando. (ORLANDI, 2012, p.15)
	Observa-se assim na Charge “o homem falando” inserido na realidade e em sua atualidade, por isso esse gênero é importante para análise, por trazer à memória outras vivências oportunizando a reflexão.
[...] não trabalha com a língua enquanto sistema abstrato, mas com a língua no mundo, com maneiras de significar, com homens falando, considerando a produção de sentidos enquanto parte de suas vidas, seja enquanto sujeitos, seja enquanto membros de uma determinada forma de sociedade (ORLANDI, 2012, p. 15-16). 
Para Orlandi (2012, p. 21) “as relações de linguagem são relações de sujeitos e de sentidos e seus efeitos são múltiplos e variados". Portanto, o discurso não é apenas um texto, mas um conjunto de relações que se estabelecem nos momentos antes e durante a produção desse texto e também dos efeitos que são produzidos após a enunciação dele. Esses efeitos de sentidos são os que permeiam a Charge e produzem o seu significado ao leitor, oportunizando assim a criticidade perante o lúdico da imagem e o texto, relacionando a língua com a história. 
2. A charge – dia do professor
A charge é um texto construído pela linguagem verbal/não verbal e recheada por humor e criticidade, o que atrai o leitor para o interesse desta leitura e contribui para a construção de sentidos.
Para Bakhtin “cada esfera de utilização de língua elabora tipos relativamente estáveis de enunciados denominadosgêneros do discurso” (1997, p. 279). Verifica-se assim, que os gêneros são inesgotáveis e, levando em consideração a imensidão de gêneros discursivos existentes, optamos pelo gênero charge por se tratar de imagem acreditamos que tem o poder de instigar o interesse dos leitores, pois possui um humor crítico que desperta curiosidade.
O gênero charge mistura, geralmente, de forma harmoniosa as duas linguagens – a verbal e a não-verbal, constituindo a fusão destas, e efeitos de sentidos na oscilação entre o já-dito e o não-dito.
Segundo BAKHTIN (1979), cada gênero possui composição, conteúdo e estilo.  Bakhtin (1953[1979], p. 321) salienta que, "Cada um dos gêneros do discurso, em cada uma das áreas da comunicação verbal, tem sua concepção padrão do destinatário que o determina como gênero." Do ponto de vista composicional, há uma relação entre o verbal e o não-verbal que são distribuídos na cor, no padrão gráfico e nas ilustrações. O conteúdo temático esperado, na maioria das vezes, é a crítica de forma bem humorada. Em se tratando de estilo, na charge, devido a uma escassez de espaço, a produção escrita é breve e a linguagem marcada pela informalidade.
	A charge, por meio da imagem é que de rápida leitura, atrai a atenção do leitor, assim, tem o poder de conduzir diversas informações de maneira sucinta, provocando por meio do humor e crítica, leva o leitor a refletir sobre a atualidade do país.
3. O sujeito professor na charge em circulação do dia do professor- Análises
CHARGE 1:
Autor: Tacho
https://diariocachoeirinha.com.br/index.php?id=/noticias/regiao/materia.php&cd_matia=93330&dinamico=1
Fonte: www.google.com.br (2019).
Este cenário nos reporta para o ambiente da sala de aula, pelas imagens da professora em sua mesa escrevendo, pelo contexto no diário de classe, fazendo a chamada. A professora está arqueada com uma postura cansada e uma vestimenta de aspecto velho. Sua posição na imagem emite desânimo e exaustão. Em sua mesa uma maça, simbologia do professor, que dentre as teorias encontradas, escolhemos aquela em que a maçã representa o conhecimento. Quanto à linguagem verbal, a chamada não se refere aos nomes de alunos, mas ao seu contexto de trabalho: “Salario Justo? Ausente”, “Desrespeito? Presente”, “Condições de trabalho? Ausente”. 
Historicamente o salário do professor é extremamente baixo. O que desanima o profissional, que no final do mês, mal consegue cumprir com seus compromissos de subsistência. Ele precisa trabalhar muitas horas e em várias escolas para conseguir viver com o mínimo de dignidade e, contudo privando-se de muitas coisas que contribuiriam para a qualidade de vida do docente. Segundo pesquisas do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) o Brasil ocupa a 40º posição dos países pesquisados em termos de salário dos professores. Vale destacar que foram pesquisados 40 países e o Brasil ocupa a última posição. 
Não se trata somente de salário baixo, os professores precisam complementar a carga horária, dedicando-se muitas vezes 60h/a semanais, e trabalhando em várias escolas, não conseguem se dedicar ao mesmo grupo de alunos, convivem menos com a família, o rendimento cai e os professores adoecem. 
O segundo “aluno” chamado na lista de presença da professora da nossa Charge é o “desrespeito”.
A atuação do professor nas escolas públicas, muitas vezes, limita ou lhe é tirada totalmente a autonomia plena em relação à aprovação e reprovação do aluno, especialmente no segundo caso. Isso ocorre porque o próprio sistema determina o percentual de aprovação e reprovação que deve acontecer com a finalidade de cumprir acordos para recebimento de verbas para a educação. Esta questão é delicada. Muitos professores não podem nem falar sobre o assunto, pois podem sofrer possíveis retaliações. Esse quesito é altamente desrespeitoso com o professor, faz com que o aluno não o respeite, pois sabe que não terá autonomia para reprová-lo. O sistema engessa o fazer do professor, que precisa cumprir com metas e números de aprovações, tirando o seu respaldo para fazer uma avaliação autônoma do ensino aprendizagem. 
Há uma grande incidência de casos em que alunos agridem fisicamente ou verbalmente os professores, que muitas vezes têm que sair correndo para que não sofram algo pior. O professor sofre todos os dias, em sala de aula, com rompantes de adolescentes, o uso de drogas e álcool pelos mesmos, e atitudes como o uso do celular descaradamente do início ao fim da explicação da aula. A lei que proíbe o uso do celular em sala de aula, não se aplica, os alunos desrespeitam completamente. O professor passa boa parte do tempo, pedindo para que guarde, ou desligue o celular, e recebe olhares de reprovação e deboche dos alunos. Esta é uma árdua realidade chamada desrespeito para com o professor.
Quando o professor toma uma atitude mais severa, como retirar o aluno da sala devido um ato de desrespeito, muitas vezes o culpado não é o aluno e sim o professor por ter constrangido o mesmo. Dessa forma, a legislação protege somente uma parte, ou seja, somente o aluno sofre constrangimento, e o professor, não sofre? Em algumas situações, a direção pode chamar os pais para resolver o assunto, mas o professor criou um problema para ser resolvido na escola. O aluno fica bravo, os pais vêm à escola, na maioria das vezes, na defensiva de seu filho, e ocorre em alguns casos, de o professor ter que desculpar-se pelo ocorrido. Isso é uma lástima. A situação do professor em sala de aula quando ao desrespeito está horrível. Contudo, isso não ocorre em todas as escolas, mas infelizmente, na maioria é uma realidade. A lei de desacato ao servidor público parece não se aplicar ao professor. Percebe-se que há uma normalização do desacato ao professor, pois percebemos sendo cada vez mais frequentes as ofensas verbais e ameaças a integridade física; como se violência fosse sinônimo de adolescência. 
Sobre as condições de trabalho do professor brasileiro, da mesma forma não temos muitas coisas boas a dizer. O professor brasileiro é cercado de um arsenal de burocracias, como: diários manuscritos ou on line, planos de aula, fichas avaliativas, formulários, avaliações, formações, participação no Projeto Político Pedagógico da Escola entre outros. Incluindo ainda a imensa quantidade de trabalho que o professor leva para casa, tais como: plano de aula, elaboração de atividades, provas, trabalhos, correções, testes, projetos etc. Está é a demanda de seu trabalho, além de preparar aulas atraentes para que ocorra o processo ensino-aprendizagem.
A priori, os aspectos destacados acima, são alguns problemas enfrentados diariamente pelos professores da maioria das escolas brasileiras, e que mostra claro o descaso com a educação que é a única maneira de mudar esta visão do futuro em vários sentidos, como ambiental, social, emprego, tecnologia, entre muitos outros que somente com uma educação de qualidade se pode alcançar. Percebe-se assim que a educação é vista como um gasto e não como um investimento
Todas essas condições citadas pela professora na hora da chamada, retrata a (des)valorização do professor no Brasil. 
Como os discursos têm movimentos que se cruzam com outras vozes já-ditas pela memória discursiva, alguns fatos são resgatados, e compreendemos que certos acontecimentos do passado ainda perduram nos dias atuais. Nesse sentido, fazendo uma leitura além do significado literal do texto, é possível interpretar que o “já dito” desperta no leitor a percepção do descompromisso dos governantes em relação à educação no nosso país.
CHARGE 2:
Charge de Luiz Fernando Cazo
https://br.pinterest.com/pin/4644405841104018/?autologin=true
Fonte: www.google.com.br (2019).
	A Charge 2, aborda um dos assuntos citados pela Charge 1: os baixos salários da categoria professor, com o agravante de que o mesmo deveria trabalhar por amor à profissão.
	Percebe-se na imagem, o espaço de uma sala de aula pelo quadro negro ao fundo, e as letras do alfabeto acima do quadro negro, uma imagem clássica da sala de aula, possivelmentede alfabetização. Neste espaço, aparece a figura de um político, que usa terno e gravata com o símbolo de um cifrão, que remete a dinheiro. O diálogo é antecedido pela fala do político: “Na minha opinião, professor deveria trabalhar por amor e não por dinheiro”. Na sequência, a fala da professora: “Será que eu consigo pagar o aluguel desse mês com um abraço?”. Na primeira fala o discurso político e a “briga” por não reajustar o salário dos professores é evidente. Estes tentam passar para a sociedade que o professor deveria ensinar pelo amor e não pelo dinheiro. Assim, de certa forma, dividem a opinião pública e colocam grande parte da sociedade contra os professores, que são criticados quando reivindicam melhores salários. É um discurso errôneo e cheio de significados que tem por finalidade deixar os professores no banco dos réus, como se ganhar um salário justo fosse uma arbitrariedade contra a sociedade. A reflexão da Charge está na fala da professora que contesta o discurso político perguntando se com um abraço poderia pagar o aluguel. Denuncia com sua fala que professor é um profissional e que também tem contas para pagar.
Tal interpretação pode ser compreendida, uma vez que se resgate na memória discursiva o baixo valor de mercado que a profissão docente carrega ao longo dos anos no país. A perda do status enquanto profissão valorizada, isto é, a má remuneração atrelada à profissão docente, torna-se um dos aspectos que constitui um forte elemento de crise de identidade que afeta o sujeito professor.
Charge 3: 
Autor: desconhecido.
https://www.mensagens10.com.br/mensagens-de-dia-do-professor
Fonte: www.google.com.br (2019).
	Na charge 3, observa-se um professor, um aluno e um pai. A charge mostra os três personagens em postura amistosa. O professor usa jaleco e está com um livro do qual emerge uma estrela, representando o conhecimento à sua frente o aluno e o pai; suas fisionomias refletem o respeito e valorização ao professor. Podemos compreender também que o menino presenteou o professor com o livro, no dia do professor. A figura do pai pode representar que é em casa que se deve ensinar que respeito e reconhecimento são muito importantes na construção da valorização do professor. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Da análise desenvolvida resta claro que a charge enquanto fenômeno discursivo constitui um importante recurso de crítica e de análise social. A condição inerente aos enunciados de construírem espaços de representação e os próprios objetos de que falam à medida que os descrevem pode ser evidenciada pela capacidade não apenas de leitura, mas de questionamento e de reflexão que a charge em sua manifestação textual e imagética encerra. Mais do que lançar luz sobre uma condição existente a charge, sob a ótica da A.D, deve ser compreendida como elemento que contribui para consubstanciar essa própria realidade, deixando de ser um elemento puramente analítico para assumir uma condição de materialidade. 
Deste modo, como se pode notar dos e nos exemplos trabalhados, para além de problematizarem o quadro de dificuldades enfrentado pelos professores, as charges acabam por criar o próprio conjunto de elementos de que são críticas. Objeto e discurso sobre o objeto, deste modo, fundem-se e complementam-se de modo a criar aquela que talvez seja a mais fiel manifestação destes fenômenos, a saber, a capacidade de serem, ao mesmo tempo, enunciado e acontecimento. 
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. In: Estética da criação verbal. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, [1953] 1997.
ROMUALDO, E. C. Charge jornalística: intertextualidade e polifonia. Maringá: Ed. da UEM, 2000.
CAVALCANTI, Maria Clara. Charge: intertextualidade e humor. RevLet –Revista Virtual de Letras, v. 04, nº 02, ago/dez, 2012 ISSN: 2176-9125
ORLANDI, Eni Puccinelli. As formas do silêncio no movimento dos sentidos. Campinas: Editora da Unicamp, 1997. 
_______________________Análise de Discurso: princípios e procedimentos. 5 ed. Campinas, SP: Pontes, 2003.
_______________________. O discurso: estrutura ou acontecimento. 4. ed. Campinas: Pontes, 2006.
________________________. Discurso e Leitura. 9ª ed. São Paulo. SP. Cortez, 2012.
______________________. Análise de Discurso: Princípios e Procedimentos. Editora Pontes, 2015.
PÊCHEUX, M. Semântica e discurso. Uma crítica à afirmação do óbvio. Tradução Eni Pulcinelli Orlandi [et al.] Campinas: Editora da Unicamp, 1997a.
https://educacao.uol.com.br/noticias/2019/06/22/salario-de-professor-no-brasil-e-horrivel-diz-ex-presidente-do-inep.htm

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