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OS EFEITOS DE SENTIDO PRODUZIDOS PELAS CHARGES E TIRINHAS NO LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA DO ENSINO MÉDIO

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Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE ALAGOAS 
CAMPUS I – ARAPIRACA 
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM LINGUAGEM 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Maria Sara Alves Rodrigues 
 
 
 
 
 
 
 
 
OS EFEITOS DE SENTIDO PRODUZIDOS PELAS CHARGES E TIRINHAS NO 
LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA DO ENSINO MÉDIO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ARAPIRACA – AL 
2020 
 
 
MARIA SARA ALVES RODRIGUES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
OS EFEITOS DE SENTIDO PRODUZIDOS PELAS CHARGES E TIRINHAS NO 
LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA DO ENSINO MÉDIO 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização 
apresentado ao Curso de Linguagem da Universidade 
Estadual de Alagoas, como requisito parcial para 
obtenção do título de Especialista em Linguagem. 
 
Orientadora: Profa. Dr. Ahiranie Sales Manzoni 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ARAPIRACA – AL 
2020 
 
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE ALAGOAS 
CAMPUS I – ARAPIRACA 
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM LINGUAGEM 
 
 
 
MARIA SARA ALVES RODRIGUES 
 
 
 
OS EFEITOS DE SENTIDO PRODUZIDOS PELAS CHARGES E TIRINHAS NO 
LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA DO ENSINO MÉDIO 
 
Monografia apresentada ao Curso de Linguagem da Universidade Estadual de Alagoas, como 
requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Linguagem. 
 
 
 
Banca Examinadora: 
 
__________________________________________ 
Orientadora Profa. Dr. Ahiranie Sales Manzoni 
 
__________________________________________ 
Profa. 
 
 
__________________________________________ 
Profa. 
 
 
 
 
 
Arapiraca – Al, de 2020. 
 
 
 
DEDICATÓRIA 
 
Dedico a Deus que com sua infinita sabedoria foi um verdadeiro guia nessa minha jornada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço primeiramente a Deus, por todas as bênçãos concedidas, sem Ele eu não seria 
capaz de ter chegado até aqui. 
A meus pais, Josevaldo e Valdirene, por terem se esforçado para garantir o meu futuro, 
pela minha criação, pelo incentivo e encorajamento diante dos obstáculos no caminho. 
Ao meu noivo, Jônatas, pelo amor, motivação e ajuda, nos momentos em que mais 
precisei. 
A minha família e amigos, que sempre anseiam pela minha felicidade e sucesso. 
A minha orientadora, professora Ahiranie, pela contribuição na minha formação, pelo 
apoio e ajuda no desenvolvimento desse trabalho. 
A minha turma do curso de Especialização em Linguagem, pelos momentos 
compartilhados nesse percurso. 
A todos os professores, que contribuíram de alguma forma em minha formação ao 
decorrer da Especialização. 
A todos que contribuíram direta ou indiretamente para que essa etapa fosse concluída 
com sucesso, obrigada! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Quem me dera ao menos uma vez 
 que o mais simples fosse visto 
 como o mais importante, mas nos 
 deram espelhos e vimos um mun- 
 do doente...” 
 
(Legião Urbana – Índios) 
 
 
 
RESUMO 
Diante da crescente inserção do trabalho em sala de aula com as charges e tirinhas, buscaremos a partir 
deste trabalho nos deter nos aspectos teóricos baseados na Análise Discursiva de origem francesa, para 
compreender como o docente poderia inserir esse uso de maneira efetiva em suas aulas. Visto que, o 
trabalho em sala de aula que envolve a utilização das tirinhas e charges possibilita ao professor trabalhar 
a respeito dos problemas sociais que podem ser debatidos em sala de aula. Desse modo, apresentou-se 
um problema: Como o docente poderia inserir o uso das charges e tirinhas como um recurso para o 
trabalho da criticidade e estímulo para a análise discursiva em sala de aula? Com base nessa 
problemática, o presente trabalho tem como objetivo analisar os possíveis efeitos de sentido presentes 
nas tirinhas e charges selecionadas em livros didáticos de uma coleção específica. Trata-se de uma 
pesquisa bibliográfica e pesquisa em documentos extraídos em meio eletrônico (entre eles páginas da 
internet e artigos). Para o referencial teórico dessa pesquisa, foram utilizados os autores: Florêncio et al. 
(2009), Garcia (2007), Gregolin (2007), Orlandi (2002), dentre outros. Onde foi possível perceber com 
este trabalho, que o docente pode trabalhar as percepções críticas e estimular a análise discursiva dos 
gêneros, podendo apresentar aos alunos o contexto histórico em que a charge ou a tirinha estão inseridas, 
visando mostrar as relações sociais e a incentivar a compreensão do aluno, atribuindo as concepções de 
mundo de cada um, conforme a perspectiva social. Assim, a partir das análises feitas das charges e 
tirinhas, percebe-se que só ocorre a compreensão através da percepção do que já é conhecido, levando 
em consideração o conhecimento histórico que está relacionado com os já-ditos, isto é, com os discursos 
que estão nas formações discursivas, criadas a partir do contexto em que os sujeitos estão inseridos. 
 
Palavras-chave: Análise Discursiva. Efeitos de sentido. Charges, Tirinhas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
In view of the increasing insertion of work in the classroom with cartoons and comic strips, we will seek 
from this work to stop us in the theoretical aspects based on the Discursive Analysis of French origin, 
to understand how the teacher could effectively insert this use in his classes. Since, the work in the 
classroom that involves the use of comic strips and cartoons allows the teacher to work on the social 
problems that can be discussed in the classroom. Thus, a problem was presented: How could the teacher 
insert the use of cartoons and comic strips as a resource for the work of criticality and stimulus for 
discursive analysis in the classroom? Based on this problem, the present work aims to analyze the 
possible effects of meaning present in the comic strips and cartoons selected in textbooks of a specific 
collection. It is a bibliographic research and research in documents extracted in electronic medium 
(among them web pages and articles). For the theoretical framework of this research, the authors: 
Florêncio et al. (2009), Garcia (2007), Gregolin (2007), Orlandi (2002), among others, were used. 
Where it was possible to perceive with this work that the teacher can work on critical perceptions and 
stimulate the discursive analysis of genders, being able to present to the students the historical context 
in which the cartoon or comic strip is inserted, aiming to show social relations and encourage the 
understanding of the student, attributing the conceptions of each one's world, according to the social 
perspective. Thus, from the analyses made of the cartoons and comic strips, it is perceived that only 
understanding occurs through the perception of what is already known, taking into account the historical 
knowledge that are related to the already-said, that is, with the discourses that are in the discursive 
formations, created from the context in which the subjects are inserted. 
 
Keywords: Discursive Analysis. Effects of meaning. Cartoons, Comic Strips. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
AD – Análise Discursiva 
CF – Constituição Federal 
PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais 
SUS – Sistema Único de Saúde 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................10 
1 - A ANÁLISE DO DISCURSO DE ORIGEMFRANCESA..............................................12 
1.1 Discurso..............................................................................................................................14 
1.2 Sujeito.................................................................................................................................16 
1.3 Ideologia..............................................................................................................................17 
1.4 Condições de produção........................................................................................................18 
1.5 Dito, não dito e silenciado....................................................................................................19 
1.6 Efeitos de sentido.................................................................................................................20 
 
2 - A INSERÇÃO DAS CHARGES E TIRINHAS COMO UM RECURSO PARA O 
TRABALHO DA CRITICIDADE E ESTÍMULO PARA A ANÁLISE DISCURSIVA EM 
SALA DE AULA......................................................................................................................23 
2.1 A importância de ressaltar a relação entre o verbal e o não verbal......................................25 
2.2 Os sentidos presentes nas charges e tirinhas........................................................................26 
 
3 - ANÁLISE DISCURSIVA DOS GÊNEROS TIRINHA E CHARGES EM LIVROS 
DIDÁTICOS............................................................................................................................30 
3.1 Caracterização da pesquisa..................................................................................................30 
3.2 Análises...............................................................................................................................30 
3.2.1 Análise da Primeira Tirinha..............................................................................................30 
3.2.2 Análise da Segunda Tirinha..............................................................................................32 
3.2.3 Análise da Terceira Tirinha...............................................................................................32 
3.2.4 Análise da Primeira Charge..............................................................................................33 
3.2.5 Análise da Segunda Charge..............................................................................................35 
3.2.6 Análise da Terceira Charge...............................................................................................36 
3.2.7 Análise da Quarta Charge.................................................................................................37 
 
CONCLUSÃO.........................................................................................................................39 
REFERÊNCIAS......................................................................................................................41 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
O presente trabalho tem como propósito analisar os efeitos de sentido presentes nos 
gêneros tirinha e charge em uma coleção de livros didáticos de Língua Portuguesa do Ensino 
Médio. O uso dos gêneros tirinha e charge como objetos de ensino nos livros didáticos tem 
aumentado consideravelmente, podendo associar o ensino, a reflexão e a criticidade. Esses 
gêneros apresentam textos verbais e não verbais, fazendo com que o leitor raciocine, argumente, 
interprete e analise os conceitos que estão ocultos neles, inserindo-o nas relações sociais, 
desenvolvendo-se como sujeito proficiente e crítico. 
Podendo observar as diversas e amplas formas de produção de sentido que as charges e 
tirinhas presentes em livros didáticos trazem em sala de aula e a importância do surgimento de 
discussões sobre temas presentes em nossa sociedade, surgiu então um anseio específico pelo 
estudo e investigação dos efeitos de sentido presentes nos gêneros tirinha e charge em uma 
coleção de livros didáticos de Língua Portuguesa do Ensino Médio. 
O discurso presente nas tirinhas analisadas caracteriza críticas de forma humorística, 
trazendo determinado fato social. Nas charges são apresentadas na maioria das vezes sátiras de 
acontecimentos atuais, trazendo uma crítica aos valores sociais. Os efeitos de sentido que são 
criados vão além do que está exposto no discurso, visto que as tirinhas e as charges reproduzem 
situações, permitindo novas possibilidades de significação para aquilo que já é conhecido. 
Diante do que foi exposto, propomos neste trabalho analisar os possíveis efeitos de 
sentido presentes nas tirinhas e charges selecionadas, além de verificar a relação do verbal e 
não verbal na produção de sentido. Mostrando assim, para os profissionais da educação, o 
quanto é relevante adotar e aplicar em suas aulas esses gêneros e instigar os discentes a enxergar 
além do que está exposto, levantando questões e discussões reflexivas. Surgindo então o 
seguinte problema: Como o docente poderia inserir o uso das charges e tirinhas como um 
recurso para o trabalho da criticidade e estímulo para a análise discursiva em sala de aula? A 
hipótese elaborada é a de que o docente pode trabalhar as percepções críticas e estimular a 
análise discursiva dos gêneros, podendo apresentar aos alunos o contexto histórico em que a 
charge ou a tirinha estão inseridas, visando mostrar as relações sociais e a incentivar a 
compreensão do aluno, atribuindo as concepções de mundo de cada um, conforme a perspectiva 
social. Assim ele pode levantar possíveis discussões entre as análises feitas por cada aluno, pois 
os enunciados despertarão opiniões e valores diversos sobre determinada temática social. 
11 
 
Enriquecendo a metodologia de ensino, no sentido de garantir não somente a problematização 
dos conteúdos que estão presentes em cada um desses gêneros, mas permitindo também a 
valorização dos conhecimentos prévios dos estudantes. 
A partir desse problema e hipótese elaborados, temos como objetivo geral: analisar os 
efeitos de sentido produzidos por tirinhas e charges em livros didáticos de uma coleção 
específica. E como objetivos específicos: destacar a relação entre o verbal e não verbal; 
identificar o sujeito do discurso nas charges e tirinhas; compreender as relações de sentido 
presentes no discurso; estudar as categorias da AD que permitam chegar ao que está silenciado 
nos discursos das charges e das tirinhas; refletir sobre as questões sociais apresentadas e a 
problematização em sala de aula. 
Para obter os objetivos desse trabalho, será realizada a pesquisa bibliográfica, na busca 
de enriquecer e fundamentar o estudo. Esse trabalho é baseado na corrente teórica da análise 
do discurso de linha francesa, mais precisamente, nas formulações de Pêcheux e Eni Orlandi. 
Quanto à estrutura, o trabalho foi dividido em três capítulos: o primeiro intitulado - A 
análise do discurso de origem francesa - que faz uma breve síntese sobre o seu surgimento, a 
sua definição, objetivos, relevância, categorias, o procedimento entre o dito, não dito e 
silenciado e os efeitos de sentido. 
O segundo capítulo - A inserção das charges e tirinhas como um recurso para o trabalho 
da criticidade e estímulo da análise discursiva em sala de aula – tenta compreender como o 
docente pode utilizar esses gêneros como recurso para o trabalho da criticidade e estímulo para 
a análise discursiva em sala de aula, ressaltando a relação do verbal e não verbal e trabalhando 
os efeitos de sentido produzidos. 
E o terceiro e último capítulo - Análise discursiva dos gêneros tirinha e charges em 
livros didáticos – traz a caracterização da pesquisa e as análises dos gêneros textuais tirinha e 
charge em uma coleção de livros didáticos de língua portuguesa do Ensino Médio 
Por fim, apresentaremos as considerações finais, em que mostraremosque as análises 
da compreensão de sentido das charges e tirinhas analisadas só ocorrem através da percepção 
do que já é conhecido, levando em consideração o conhecimento histórico que está relacionado 
com os já-ditos, isto é, com os discursos que estão nas formações discursivas, criadas a partir 
do contexto em que os sujeitos estão inseridos. 
 
 
 
12 
 
1- A ANÁLISE DO DISCURSO DE ORIGEM FRANCESA 
 
Falaremos brevemente, da origem, da definição e da relevância da Análise do Discurso 
Pecheutiana de origem francesa, que daqui em diante será abreviada por AD. Sabe-se que a AD 
surgiu na França, nos anos 1960, tomando o discurso como seu objeto de estudo, a partir de três 
segmentos do conhecimento: a linguística, o marxismo e a psicanálise. E foram os estudos de 
Michel Pêcheux que permitiram uma base teórico-metodológica para o desenvolvimento da 
disciplina. 
 
Michel Pêcheux nasceu em Tours em 1938 e morreu em Paris em 1983. Ele é o 
fundador da Escola Francesa de Análise do Discurso que teoriza como a linguagem é 
materializada na ideologia e como esta se manifesta na linguagem. Concebe o discurso 
como um lugar particular em que esta relação ocorre e, pela análise do funcionamento 
discursivo, ele objetiva explicitar os mecanismos da determinação histórica dos 
processos de significação. (ORLANDI, 2005, p. 10) 
 
Nesse contexto, Silva e Araújo (2016, p. 18) trazem que “A Análise do Discurso é uma 
vertente da linguística que se ocupa em estudar o discurso e como tal, evidencia a relação entre 
língua, discurso e ideologia”. Ao propor o estudo do discurso, a AD procura enxergar a língua 
não apenas como uma forma de comunicação ou recepção de informações, mas a língua numa 
perspectiva discursiva que procura os fatores ideológicos e sociais. 
De acordo com Florêncio et al. (2009, p.20), a partir da década de 1960, estudiosos 
começam a procurar compreender o fenômeno da linguagem, não mais focalizado na língua. 
Mas incluindo a fala, o sujeito e as relações sociais para as discussões linguísticas. 
Quatro nomes, fundamentalmente, estão no horizonte da análise do discurso derivada de 
Pêcheux e vão influenciar suas propostas: Althusser, com sua releitura das teses marxistas; 
Foucault, com a noção de formação discursiva, da qual derivam vários outros conceitos 
(interdiscurso; memória discursiva; práticas discursivas etc.); Lacan e sua leitura das teses de 
Freud sobre o inconsciente; Bakhtin e o fundamento dialógico da linguagem, que leva a AD a 
tratar da heterogeneidade constitutiva do discurso. A natureza complexa do objeto discurso – 
no qual confluem a língua, o sujeito, a história – exigiu que Michel Pêcheux propusesse a 
constituição de um campo em que se cruzam várias teorias, um campo transdisciplinar 
(GREGOLIN, 2007, p.14). 
A AD de origem francesa é uma ferramenta utilizada para analisar discursos, sejam eles 
orais ou não, buscando, neles, os possíveis sentidos que trazem ou podem trazer, sem deixar de 
considerar o sujeito, sua história, a ideologia e o contexto social no qual este sujeito está 
inserido. Para construir a concepção de discurso, Pêcheux ampara-se criticamente em Saussure, 
13 
 
reconhecendo nele o ponto de origem da ciência linguística. De acordo com Gregolin (2007, 
p.13): 
 
A análise do discurso (AD) é um campo de estudo que oferece ferramentas conceituais 
para a análise desses acontecimentos discursivos, na medida em que toma como objeto 
de estudos a produção de efeitos de sentido, realizada por sujeitos sociais, que usam 
a materialidade da linguagem e estão inseridos na história. 
 
 Fica claro que os sentidos são alcançados através da relação entre sujeito, história e 
linguagem. A produção dos discursos será determinada por algumas condições, que levam em 
consideração o contexto do qual emerge o discurso. Nessa perspectiva, Florêncio et al. (2009, 
p.76) traz que “A relação entre o já-dito e o que se diz, melhor dizendo, entre sentidos 
anteriormente constituídos e uma formulação atual é o que a AD vai denominar de Interdiscurso 
e Intradiscurso, respectivamente ”. Assim, compreende-se que o processo discursivo que busca 
os ditos do discurso é a AD, que busca o interdiscurso (já dito), nas bases do dizível 
(intradiscurso). 
É impossível pensar em já-dito, na AD, sem pensar em memória discursiva. O sujeito, 
ao produzir um enunciado, toma as palavras presentes no interdiscurso e, a partir do 
esquecimento, se sente origem daquele discurso. A AD não considera os indivíduos como livres 
para dizer o que quiserem, com intenções dirigidas por plena consciência. A noção de sujeito 
da AD é de um sujeito constituído pela língua, pela história, pela ideologia e pelo esquecimento. 
Não há, nessa perspectiva, como afirmam, alguns estudiosos de AD, discurso sem ideologia, 
assim como, não há discurso que não tenha ou apresente a influência de outros, visto que todos 
eles nascem a partir da perspectiva de suas relações com outros discursos. Segundo Orlandi 
(2002, p.26): 
 
Em suma, a Análise de Discurso visa a compreensão de como um objeto simbólico 
produz sentidos, como ele está investido de significância para e por sujeitos. Essa 
compreensão, por sua vez, implica em explicitar como o texto organiza os gestos de 
interpretação que relacionam sujeito e sentido. Produzem-se assim novas práticas de 
leitura. 
 
A AD pretende compreender a produção de sentidos de um dado objeto e suas diversas 
significâncias para os sujeitos, pois o sentido não é algo já determinado no discurso, mas algo 
desenvolvido a partir da relação entre a história, a língua e as experiências. E através da 
compreensão manifesta a organização do texto na relação sujeito e sentido. 
A Análise do Discurso visa fazer compreender como os objetos simbólicos produzem 
sentidos, analisando assim os próprios gestos de interpretação que ela considera como atos no 
domínio simbólico, pois eles intervêm no real do sentido. A Análise do Discurso não estaciona 
14 
 
na interpretação, trabalha seus limites, seus mecanismos, como parte dos processos de 
significação. Também não procura um sentido verdadeiro através de uma “chave” de 
interpretação. Não há esta chave, há método, há construção de um dispositivo teórico. Não há 
uma verdade oculta atrás do texto. Há gestos de interpretação que o constituem e que o analista, 
com seu dispositivo, deve ser capaz de compreender (ORLANDI, 2002, p.26). 
A AD afirma que os sentidos só são possíveis a partir de sua materialização na 
linguagem. Então a língua é entendida como uma forma material de chegar ao sujeito. E através 
do discurso surgirá a compreensão de como um material simbólico produz sentidos e como o 
sujeito se estabelece. 
Para Florêncio et al. (2009, p.23), “Essa é a função da AD: explicar os caminhos do 
sentido e os mecanismos de estruturação do texto. Ou seja: explicar porque o texto produz 
sentido; não os sentidos contidos no texto ”. 
Compreender a AD, quer dizer, tentar entender e explicar como se constrói o sentido de 
um texto e como esse texto se relaciona com a história e a sociedade que o produziu. Atualmente 
a AD pode tornar-se uma importante ferramenta de trabalho no ensino de língua portuguesa, 
pois apresenta o caminho para a reflexão sobre a estrutura e a produção do sentido do texto. Por 
meio da AD, o docente pode orientar os alunos na descoberta das informações que podem levá-
los à compreensão dos sentidos, encontrando assim as marcas estruturais e ideológicas dos 
textos. A compreensão do discurso pode enriquecer a metodologia de ensino nas atividades 
produzidas em sala de aula na medida em que possibilita trabalhar com vários gêneros textuais 
como a notícia, a charge, a tirinha etc. Esses textos certamente ajudarão no trabalho de resgatar 
o discurso dos alunos, levando-os a construir seus próprios textos estimulando a criatividade e 
criticidade. Por isso, vamos a posteriori estudar as categoriasda AD que permitem chegar ao 
que está silenciado nos discursos das charges e das tirinhas, compreendendo as relações de 
sentido que estão presentes no discurso. 
 
1.1 Discurso 
 
 O discurso vai se referir a utilização da língua em um determinado contexto histórico e 
social, precisamos associar os fatores extralinguísticos ao contexto da produção de um discurso, 
onde perceberemos a produção de sentido, na definição de uma formação ideológica. De acordo 
com nosso âmbito social, temos contato com a formação discursiva própria do grupo que 
estamos inseridos. Essa formação se torna a base dos discursos que produzimos, mesmo que 
não tenhamos consciência disso. Ele não será neutro, ele parte de uma situação dotada de 
15 
 
formações ideológicas e discursivas. Então, de acordo com Silva e Rodrigues (2017, p.10) “É 
na formação discursiva que o analista vai se deparar com a constituição do sujeito, dos sentidos 
e as ideologias que predominam”. 
Existe uma relação indispensável entre o discurso e o texto, porque todo texto está ligado 
ao discurso que lhe deu origem. A forma como um determinado texto evidencia um discurso 
específico é o que define o seu caráter subjetivo. O autor tem seu olhar e ideias particulares 
sobre determinados temas e tem sua posição como sujeito, mas nunca terá liberdade total em 
sua produção, pois sofre a influência do grupo social que está inserido, que de alguma forma 
irá refletir na sua ideologia. O autor produz então sentidos, enquanto sujeito e enquanto membro 
da sociedade. 
 
Os textos individualizam – com unidade – um conjunto de relações significativas. Eles 
são assim unidades, complexas, constituem um todo que resulta de uma articulação 
de natureza linguístico-histórica. Todo texto é heterogêneo: quanto à natureza dos 
diferentes materiais simbólicos (imagem, som, grafia etc.); quanto à natureza das 
linguagens (oral, escrita, científica, literária, narrativa, descrição etc); quanto às 
posições do sujeito. (ORLANDI, 2002, p.70) 
 
Todo texto faz referência a determinadas circunstâncias de caráter cultural, político, 
social, que precisam ser conhecidas pelos seus interlocutores para a construção de sentido do 
texto. No discurso, devemos reconhecer as referências expostas e resgatar possíveis 
pressupostos, levando em consideração também o conjunto de informações recuperadas. Para 
a produção de sentidos, o interlocutor necessita compreender as referências contextuais. 
Orlandi (2002, p.30) ressalta que: 
 
Os dizeres não são, como dissemos, apenas mensagens a serem decodificadas. São 
efeitos de sentidos que são produzidos em condições determinadas e que estão de 
alguma forma presentes no modo como se diz, deixando vestígios que o analista de 
discurso tem de aprender. São pistas que ele aprende a seguir para compreender os 
sentidos aí produzidos, pondo em relação. 
 
 A AD procura a compreensão do processo discursivo. Então, a função do analista de 
discurso não é interpretar, mas compreender como o discurso funciona, como ele produz 
sentidos. Nem sempre o discurso trará explícitos todos elementos que participam da construção 
do seu sentido. Na maioria das vezes para a compreensão do discurso é necessário descobrir o 
que não foi dito, mas está ali presente, o implícito. Em diferentes gêneros é possível encontrar 
exemplos de circunstâncias em que algo não dito participa da construção final do sentido. Por 
exemplo, a explicitação de um implícito em uma tira ou uma charge costuma ser uma condição 
necessária para compreender o efeito de sentido que trazem. 
 
16 
 
Compreender o que é efeito de sentidos, em suma, é compreender a necessidade da 
ideologia na constituição dos sentidos e dos sujeitos. É da relação regulada 
historicamente entre as muitas formações discursivas (com seus muitos sentidos 
possíveis que se limitam reciprocamente) que se constituem os diferentes efeitos de 
sentidos entre locutores. (ORLANDI, 2007, p.21) 
 
 Os sentidos dos discursos são possíveis em virtude da relação histórica e da memória 
discursiva. Diante disso, os sentidos são flexíveis e podem ganhar uma ressignificação de 
acordo com a situação. Na relação entre a historicidade com as formações discursivas são 
gerados diversos efeitos de sentido. Nessa mesma direção, Rosa et al. (2012, p. 148) apresentam 
que, “Assim, percebemos que os sentidos no discurso emanam exatamente dessa relação do 
sujeito com o meio social, com a história, com o seu tempo e com as influências a que é 
submetido, através da ideologia”. 
 Em alguns casos, busca-se recuperar compreender o sentido do discurso através de 
informações fornecidas pelo mesmo. Uma vez resgatadas, são defrontadas com as concepções 
já conhecidas na realidade para fazer uma inferência, a partir daí será encontrado o sentido a 
partir de algo já conhecido. Em muitos textos, a compreensão do sentido pode depender dessa 
informação já conhecida do leitor e que está subentendida, sugerida pelo texto. Por exemplo, 
nos gêneros tirinha e charge podemos nos deparar com textos e imagens que nos provocam a 
sensação de estar diante de algo conhecido, mas para alguns pode ser incompreensível à 
primeira vista, sendo necessário analisar o texto e a imagem minuciosamente, para assim 
compreender o sentido que trazem. Então na AD é evidenciado como é importante ser capaz 
de fazer inferências, de reconhecer pressupostos e implícitos presentes no discurso, construídos 
a partir do contexto que o sujeito está inserido. 
 
1.2 Sujeito 
 
 O sujeito se constitui a partir das falas de outros sujeitos, então, o sujeito é resultado da 
interação de várias vozes, da relação com o social e ideológico. Na perspectiva da AD, o sujeito 
é permeado tanto pela ideologia quanto pelo inconsciente. Sendo assim, esse sujeito tem a 
ilusão de ser origem do seu discurso, mas segundo Silva e Araújo (2016, p.28), “O sujeito na 
AD não é dono do que diz, não é dono de seu discurso, é apenas o produtor dos dizeres 
possíveis”. 
O sujeito é criado pela ideologia, dotado de inconsciente e sem liberdade discursiva. E por 
conta da inconsciência, o sujeito não tem alcance das condições de produção do próprio 
discurso. Em outras palavras, para a AD, o dizer do sujeito é determinado sempre por outros 
17 
 
dizeres, isto é, todo discurso é determinado por um interdiscurso. Silva e Rodrigues (2017, p. 
13) destacam que: 
 
Ao enunciarmos marcamos espaço, um território na discursividade seja ela da religião, 
politica, família (ou qualquer outro aparelho ideológico) não nos damos conta do 
processo interpelatório (não sem uma abstenção e distanciamento para reflexão), pois 
cremos ter controle sobre o que somos (enquanto sujeito), sobre nossas escolhas e 
como nos relacionamos (discursivamente). 
 
Então, como o enunciado é sempre produzido de um lugar determinado marcado por algum 
aparelho ideológico e a partir de uma certa posição do sujeito, logo, o sujeito será influenciado 
por uma relação social e ideológica, que levará a sua formação discursiva. Na mesma linha, 
Silva e Araújo (2016, p.23) trazem que: 
 
O sujeito se coloca como a origem de tudo o que diz e busca rejeitar, apagar, de forma 
inconsciente, o que não está inserido na sua formação discursiva, o que lhe dá a ilusão 
de ser o criador absoluto de seu discurso, quando, na verdade, apenas retoma sentidos 
já— produzidos, partindo da influência que o inconsciente e a ideologia têm sobre ele. 
 
O linguístico e o histórico são inerentes do processo de produção do sujeito do discurso e 
dos sentidos que o significam, o que permite concluir que o sujeito é um lugar de significação 
historicamente produzido. Descontrói-se então a ilusão de que o sujeito é a fonte do discurso e 
produtor de sentido, e compreende-se que ele é apenas um suporte. Salientando que o sujeito é 
assujeitado, assim, constituído pelo inconsciente e interpelado pela ideologia, além de 
absorvido nointerior da história. 
 
 
1.3 Ideologia 
 
As ideologias existentes em um discurso são desenvolvidas e influenciadas pelo 
contexto político-social em que o seu autor está inserido, onde surge a necessidade de entender 
e explicar como se constrói o sentido do discurso e como esse discurso se articula com a história 
e com a sociedade que o produziu. Conforme Orlandi (2007, p.20): 
 
A ideologia se produz justamente no ponto de encontro da materialidade da língua 
com a materialidade da história. Como o discurso é o lugar desse encontro, é no 
discurso (materialidade específica da ideologia) que melhor podemos observar esse 
ponto de articulação. 
 
Materializando-se na linguagem, a ideologia é mostrada como o princípio norteador das 
matrizes de sentidos presentes nas formações discursivas. Através da linguagem os seres 
humanos expressam suas ideias, vontades e sentimentos. Em diferentes contextos e situações 
18 
 
são produzidos discursos, cada discurso nasce da relação de diferentes agentes, mas sempre 
expressam características ideológicas próprias do contexto em que são produzidos. Cada classe 
social tem sua perspectiva de mundo, dos valores e das crenças, trata-se da sua ideologia. Ela é 
construída historicamente a partir de uma série de filtros ideológicos que construímos. A partir 
desses filtros é criada a formação ideológica, isto é, um conjunto de crenças e valores de acordo 
com o que avaliamos e vivenciamos no contexto em que estamos inseridos. Diante disso, o 
discurso é o espaço da materialização das formações ideológicas, sendo por elas determinado. 
Então para a compreensão da proposta da AD, Orlandi (2002, p. 70) afirma que: 
 
Para compreender – como se propõe a análise de discurso – o leitor deve-se relacionar 
com diferentes processos de significação que acontecem em um texto. Esses 
processos, por sua vez, são função da sua historicidade. Compreender como um texto 
funciona, como ele produz sentidos, é compreendê-lo enquanto objeto linguístico-
histórico, é explicar como ele realiza a discursividade que constitui. 
 
Uma das perspectivas principais da AD é o significado dado à noção de ideologia, trata-
se de uma definição discursiva de ideologia, isto é, a compreensão de que a ideologia de acordo 
com Silva e Rodrigues (2017, p.9), “[...] possui caráter modelador das ações humanas, pois atua 
de forma inconsciente e nos leva a reproduzi-la, reforçá-la e a defendê-la. Um exemplo mais 
nítido é alcançado quando voltamos nos para o discurso religioso, político partidário, 
publicitário etc.” 
 Assim como existem várias classes, existem também várias ideologias presentes na 
sociedade. A ideologia é, pois, uma perspectiva de mundo de determinada classe, a forma como 
ela representa a ordem social. Então os valores ideológicos de uma formação social estarão 
presentes e serão evidenciados no discurso por inúmeras formações discursivas. 
 
 
1.4 Condições de produção 
 
As condições de produção de um enunciado abarcam o sujeito, a memória e a situação. 
Segundo Silva e Rodrigues (2017, p. 13), “Em seu aspecto estrito é o contexto imediato que 
circunda o discurso (Quem enuncia? Pra quem enuncia? Qual a posição social? De qual 
aparelho de estado? Etc.), visto de modo amplificado podemos considerar esse discurso sob a 
égide da história”. Pode-se considerar as condições de produção em sentido estrito, ou seja, o 
contexto imediato e considerá-las em sentido mais amplo, abrangendo o contexto social, 
histórico e ideológico. 
19 
 
O discurso irá variar de acordo com as condições de produção e o seu sentido irá 
depender da posição de quem fala, para quem fala, do lugar que fala. E conforme a análise dos 
enunciados apresentados poderá se expor as várias atribuições de significados e interpretações 
que produzem sentido em função das suas condições de produção, estimulando os leitores à 
análise de questões sociais, por exemplo. Então Silva e Araújo (2016, p.25), afirmam que a 
incumbência do analista é levar em conta as condições de produção que o interlocutor está 
assujeitado ideologicamente, determinando uma relação entre o discurso e o texto. 
As condições de produção incluem os sujeitos e a posição social, pois as palavras 
significam de acordo com as formações ideológicas e as posições do sujeito, relacionadas às 
vozes presentes no discurso e inseridas em diferentes formações discursivas. 
Silva e Rodrigues (2017, p. 16) trazem que, “Em suas duas apresentações as condições 
de produção são determinantes da constituição do sujeito bem como do sentido de seu discurso. 
E esses contextos norteiam o modo como todo e qualquer discurso se apresentará, na sua relação 
com o silêncio e o não dito”. 
É importante ressaltar também, que não tem um sujeito que tenha consciência daquilo 
que diz, porém, esse sujeito sempre produzirá um discurso de uma maneira e não de outra, 
conforme a formação ideológica em determinadas condições de produção. Pois de acordo com 
Silva e Araújo (2016, p.27), “O dizer não nasce no sujeito, nasce em determinado contexto. O 
sujeito é social, é histórico e cultural”. 
O significado de alguma coisa, seja ela uma opinião, uma história, uma mensagem irá 
depender das condições de produção em que o sujeito e a história se relacionam nos processos 
de determinação, levando em consideração o silenciado e o não dito. Conclui-se, então, que 
analisar o discurso nada mais é que determinar as condições de produção do texto. 
 
1.5 Dito, não dito e silenciado 
 
É de grande relevância conduzir o dito em relação ao não dito, o que o sujeito diz em 
um lugar com o que é dito em outro lugar, o que é dito de uma maneira com o que é dito de 
outra maneira. Então para a AD, torna-se necessário que os sentidos possam ser lidos mesmo 
não estando explícitos no texto, sendo imprescindível que se leve em consideração tanto o que 
o texto diz quanto o que ele não diz, que é aquilo que se encontra implícito, não dito, mas dotado 
de significado. Então, nessa mesma direção, Florêncio et al. (2009, p. 85) apresentam em sua 
obra, Análise do Discurso: fundamentos e práticas, os conceitos: 
a) dito: “[...] a materialidade discursiva apresenta uma forma que pretende dizer, um conteúdo”. 
20 
 
b) não dito: “[...] só poderá ser apreendido através do dito. Aqui os processos metafóricos, 
metonímicos, os lapsos, os equívocos, constituirão chaves das explicações”. 
c) silenciado: “[...] o desvelamento do silenciado, que só acontece a partir do não dito, isto é, a 
partir da captação do interdiscurso que atravessa a materialidade discursiva, derivado das 
condensações e deslocamentos”. 
 No discurso se inscreve o não dito, o que não é falado, mas que está presente. Logo, 
concluir que os sentidos vão além do que se encontra explícito no texto, carrega a necessidade 
de se considerar que as palavras ganham sentido a partir das formações discursivas nas quais 
são produzidas. Nessa mesma direção, Rosa et al. (2012, p.150) defendem que “É no 
silenciamento que buscaremos desvelar os sentidos que não estão na superficialidade do 
discurso (aparentes) ”. 
 No caso do silêncio, para compreendê-lo, é necessário considerar os processos de 
construção dos sentidos e a historicidade. Depois da enunciação, o silêncio pode ser visto como 
o que deixou de ser dito, mas que também poderia ter sido dito. Então Silva e Rodrigues (2017, 
p.17), trazem que “Todo discurso carrega consigo uma margem de não ditos e se constitui a 
partir do silêncio, não silêncio inerente a ausência sonora, mas sim de significação”. A AD irá 
perguntar por aquilo que um texto silenciou e por que o fez. 
 O que pretendemos com essa explanação, é expor a relação indissociável do discurso 
com os não-ditos e silêncios, posto que esses são integrantes das relações discursivas e fazem 
com que todo e qualquer dizer signifique e faça sentido, haja visto que, a presença/ausência 
caminham juntas, e se digoisso é para não dizer aquilo, ou fazer silenciar uma possiblidade de 
sentido que não é de interesse do “eu” enunciador, visto que o contexto imediato e sócio 
histórico ideológico não requerem o que fora silenciado (SILVA E RODRIGUES, 2017, p.18). 
 Conclui-se que, não devemos compreender o silêncio como a falta ou como um 
implícito, que, estando entre o dito e o não dito, provém do sentido das palavras para significar. 
É preciso ir além das identificações de implícitos ou subtendidos, a fim de, notar o silêncio e 
suas maneiras de silenciar, sendo imprescindível perceber as condições de produção 
discursivas, assim como o contexto social e histórico de onde falam ou calam os sujeitos 
envolvidos na produção do discurso. 
 
1.6 Efeitos de sentido 
 
A AD vai além da interpretação, existe um resgate das circunstâncias evocadas pelo 
discurso. Existe a busca pela compreensão não apenas da mensagem, mas do sentido. Porém, 
21 
 
não há a busca de um único sentido dotado de verdade, pois existe uma construção de sentidos, 
dotados de construções ideológicas. Os sentidos serão alcançados através da relação entre 
sujeito, história e linguagem. 
Orlandi (2007, p.21) destaca que “uma mesma coisa pode ter diferentes sentidos para os 
sujeitos. E é aí que se manifestam a relação contraditória da materialidade da língua e a da 
história”. Sendo assim, compreende-se que cada sujeito poderá trazer um sentido diferente para 
uma determinada coisa, pois há diferentes formações discursivas, construídas a partir da 
historicidade e materializadas através da língua. Conforme Rosa et al. (2012, p.150) sobre os 
efeitos de sentido: 
 
Efeitos de sentido e silenciamento são duas categorias que estão intrinsecamente 
relacionadas, o funcionamento de uma depende da outra. Ou seja, quando 
elaboramos/produzimos o discurso, que é repleto de sentidos, sempre colocamos em 
silêncio outros dizeres, outros sentidos. 
 
Orlandi (2002, p.27) aponta que as análises são diferentes porque trabalham com 
concepções diferentes e isso resultará na materialização. Um mesmo analista, que cria um 
argumento diferente, também poderia criar outras concepções, possibilitando diversas formas 
conceituais. 
Os enunciados surgem de diferentes campos associados e trazem consigo discursos que 
produzem diferentes efeitos de sentidos. De acordo com os diferentes efeitos de sentido existe 
a interação de ideias diferentes para a construção do sentido. Orlandi (2007, p.20) destaca então 
que: 
 
Compreender o que é efeito de sentidos é compreender que o sentido não está 
(alocado) em lugar nenhum, mas se produz nas relações: dos sujeitos, dos sentidos, e 
isso só é possível, já que sujeito e sentido se constituem mutuamente, pela sua 
inscrição no jogo das múltiplas formações discursivas (que constituem as distintas 
regiões do dizível para o sujeito). 
 
O sentido não tem um lugar determinado, mas sim é construído através das interações 
entre sujeito e sentido, exercendo uma relação de reciprocidade. A partir do jogo das múltiplas 
formações discursivas haverá a união entre sujeito e sentido, possibilitando uma visão ampla 
ao sujeito, advinda dos diferentes sentidos que ele absorve. Dito isso, a AD não vê os sentidos 
como algo dado, estável. Já que eles estão sempre se movimentando e se transformando, sendo 
flexíveis. Silva e Araújo (2016, p.18), defendem que “Dessa forma, podemos dizer que o 
discurso é o local onde se pode verificar a relação entre a língua e a ideologia, além de verificar 
como os efeitos de sentidos são gerados através dos enunciados”. 
22 
 
Orlandi (2007, p.22) traz também que “Falar em “efeitos de sentido” é, pois, aceitar que 
se está sempre no jogo, na relação das diferentes formações discursivas, na relação entre 
diferentes sentidos”. Sendo assim, é possível compreender a importância das diferentes 
formações discursivas, para se obter assim a compreensão da relação dos diferentes sentidos. 
Os sentidos se darão a partir do lugar de onde estão sendo enunciados os discursos e 
também levam em consideração o sujeito que os enunciam, então os efeitos de sentido se 
constroem a partir das condições de produção discursivas, visto que esta produção depende do 
contexto e da situação. Silva e Rodrigues (2017, p.16) defendem que “Com isso verifica se que 
os sentidos são construídos pelo contexto de enunciação, cujas formações discursivas atuam 
como determinantes desses processos de construção, além é claro do contexto histórico”. Pois 
na perspectiva da AD, os sentidos são historicamente construídos, visto que uma parte relevante 
da atribuição de sentidos, necessita da época em que é construído, sendo assim, um discurso 
pode ter outra interpretação dependendo do contexto histórico. 
Portanto, o discurso para a AD, não é visto como fala ou como texto, mas como um 
efeito de sentido entre os enunciadores, marcado pelos já-ditos, mas que está ligado a um sujeito 
de maneira inevitável. Logo, nem os sujeitos, nem os discursos e nem os sentidos estão prontos 
e finalizados. Eles se encontram num eterno processo de construção, no movimento constante 
da história. Diante disso, o leitor precisa interpretar e compreender o enunciado de acordo com 
os seus conhecimentos e vivências, pois ao produzir um discurso, o sujeito relaciona-o com o 
interdiscurso ou memória discursiva. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
 
2- A INSERÇÃO DAS CHARGES E TIRINHAS COMO UM RECURSO PARA O 
TRABALHO DA CRITICIDADE E ESTÍMULO PARA A ANÁLISE DISCURSIVA 
EM SALA DE AULA 
 
 Diante da crescente inserção do trabalho em sala de aula com as charges e tirinhas, 
buscaremos a partir deste momento nos deter nos aspectos teóricos baseados na AD de origem 
francesa, para compreender como o docente pode utilizar esses gêneros como recurso para o 
trabalho da criticidade e estímulo para a análise discursiva em sala de aula. 
 Nessa situação, a escola como um âmbito de interações sociais cumpre, então, um papel 
relevante pela sua ação de desenvolver, socializar e reconhecer os conteúdos que orientam o 
processo de ensino e aprendizagem. Assim, o trabalho em sala de aula que envolve o uso das 
tirinhas e charges possibilita ao professor trabalhar a respeito dos problemas sociais que podem 
ser debatidos em sala de aula. Diante desses gêneros, Garcia (2007, p.6) apresenta que: 
 
O humor crítico inserido nas Charges, Tiras e Quadrinhos, apresentam episódios ou 
fatos do cotidiano, propiciando momentos de entretenimento, de riso e de reflexão; 
através destas leituras pode-se interpretar a sociedade em seus hábitos cotidianos, 
enfim, compreender o efeito de sentido produzido em cada ato discursivo, constituído 
histórica, ideológica e socialmente. 
 
À vista disso, analisaremos o verbal e o não verbal presentes nas charges e tirinhas, e 
como se relacionam, para propor a discussão sobre o dito, o não dito e silenciado no discurso. 
Sendo assim, as charges e tirinhas trabalhadas serão retiradas de livros didáticos de uma coleção 
específica do ensino médio. 
 Assim, compreendemos que o livro didático é o instrumento, em geral, mais utilizado 
pelo docente em sala de aula. Atualmente, no que se refere ao ensino de Língua Portuguesa, a 
orientação é explorar o trabalho nos gêneros textuais, visto que, o livro didático é um suporte, 
já que ele serve de base para o estudo dos gêneros textuais, tornando-se um importante aliado 
para o professor no auxílio do processo de ensino-aprendizagem. 
 O trabalho com os gêneros textuais em aulas de Língua Portuguesa tem como propósito 
melhorar a prática dos alunos com relação à leitura e à produção de texto, visto que os gêneros 
fazem parte do dia a dia das pessoas. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), PCN, 
conduzem os professores de língua uma proposta de estudo marcada no texto que, por sua vez, 
deve estar introduzido dentro de um gênero distinto. Assim, o convívio com a multiplicidadede gêneros textuais possibilita ao aluno o desenvolvimento de um leitor proficiente e crítico. A 
necessidade de inserir na escola práticas que destacam situações de interação social é criada 
24 
 
pelos PCN, já que em acordo com suas orientações o objeto de ensino passa a ser os gêneros 
do discurso, que estão juntos à vida social e cultural. 
 Porém, uma dificuldade aparente que precisa ser superada é a resistência apresentada 
pelos alunos no que diz respeito ao trabalho com a leitura e interpretação de texto em sala de 
aula. Por isso, para solucionar essa dificuldade, um recurso considerável é o uso de charges e 
tirinhas, com o objetivo de orientar o aluno a fazer suas próprias compreensões e provocar um 
debate acerca de um determinado assunto para produção de textos. Segundo Peron (2016, p.5), 
“[...] a tirinha, a charge, os posts constituem recursos pedagógicos muito ricos a serem 
explorados em sala de aula porque não se circunscrevem a apenas dois modos de representação 
(ler e escrever, por exemplo) ”. Dessa forma, o uso das charges e tirinhas possibilita trabalhar 
desde análises de sentidos, relação entre o verbal e não verbal, reflexão das questões sociais, 
até produções de textos. 
 Torna-se mais fácil o trabalho com os gêneros charge e tirinha como recurso didático, 
além de que, esses gêneros podem mostrar conteúdos heterogêneos e conduzir o discente a uma 
interpretação crítica de conteúdos da atualidade, visto que, esses gêneros podem levar em seu 
lado humorístico assuntos políticos e sociais que podem ser trabalhados em sala de aula. São 
gêneros discursivos que podem proporcionar uma praticidade na aplicação das atividades de 
ensino e são capazes de auxiliar na perspectiva do contexto do qual estão inseridos. 
 Esses gêneros são textos geralmente curtos, porém trazem em sua estrutura todas as 
possibilidades de se trabalhar questões referentes à nossa língua de forma inovadora, 
quebrando-se os padrões tradicionais de ensino. Além de ser uma leitura agradável, atrativa e 
que se torna um facilitador para realização de um debate. 
 
[...] o uso dessas ferramentas em sala, é uma maneira dinâmica e eficiente dos alunos 
adquirirem de forma autônoma a sua aprendizagem, pois a leitura e até mesmo a 
escrita propiciada pelos gêneros permite que o aprendizado aconteça não como 
repetição, pois, a partir da apropriação dessa linguagem, seja ela verbal ou não verbal, 
torna-os mais criativos por esses enunciados trabalharem diversos níveis de 
aprendizado tais como: a imagem, as entrelinhas, as informações dialógicas e sub-
reptícias, a intertextualidade, dentre outras e permite, dessa forma, que o professor 
possa trabalhar diferentes competências e habilidades. (PERON, 2016, p. 10) 
 
As charges e tirinhas devem ser trabalhadas durante o processo educativo, já que não só 
instigam a relevância da leitura, como de fato são boas leituras, exibindo conhecimentos, 
gerando possíveis debates em sala de aula. Diante disso, esses gêneros, além de estabelecerem 
uma excelente possibilidade para inserir os discentes no mundo da leitura, também se 
25 
 
caracterizam como úteis para o trabalho com a compreensão de sentido do texto, atuando como 
um recurso para o trabalho da criticidade e estímulo para a análise discursiva em sala de aula. 
Logo, a AD nos proporcionará possibilidades, pois podem ser produzidos diversos 
sentidos e leituras diferentes acerca do enunciado. Para Florêncio et al. (2009, p.25), “[...] 
podemos entender que todo discurso é uma resposta a outros discursos com quem dialoga, 
reiterando, discordando, polemizando”. Nesse sentido, todo discurso sempre ocorre dentro de 
outros discursos e do processamento da memória, a partir da análise do não dito nas memórias 
discursivas, da ideologia do texto e dos efeitos de sentido no contexto. Conclui-se, então, que 
investigar o entendimento dos sentidos produzidos é abrir um leque de possibilidades e de 
outras leituras, propiciando assim novas compreensões. 
 
2.1 A importância de ressaltar a relação entre o verbal e o não verbal 
 
Já ficou claro que a língua não é exclusivamente uma ferramenta para a comunicação, 
ela é ideológica, e o seu desempenho e modo de produção de sentidos são ideologicamente 
marcados pelo contexto social que ela emerge. Então Silva e Rodrigues (2017, p.7) trazem que, 
“Nesse sentido entende-se que os gestos de interpretação remetem as ideologias às quais o 
indivíduo está submetido. Por isso, um mesmo fato pode ser entendido e assimilado de maneiras 
diferentes, dado o contexto imediato de ocorrência e contexto histórico, e de quem enuncia”. O 
sujeito precisa desenvolver gestos de interpretação, por meio de um método verbal e teórico, 
destacando que um dizer se estrutura sobre outro. 
Espera-se que, diante da leitura, o aluno seja capaz de comparar opiniões e pontos de 
vista sobre diversos textos e as expressões da linguagem verbal e não verbal, gerando 
inferências, julgamentos e avaliações diante do que leu. O que leva o aluno a ler o explícito e o 
implícito, auxiliando nas habilidades de inferências e de seus conhecimentos culturais de 
mundo. Por isso, as charges e tirinhas são de extrema relevância por se constituir de um texto 
que trabalha com palavra e imagem, convidando o aluno a pensar e a inferir acerca do dito e do 
não dito. 
As charges e tirinhas permitem a combinação do verbal (palavra) com o não verbal 
(imagem), construindo diversos caminhos de leitura. Não devemos analisar a linguagem verbal 
e a imagem como elementos separados e que se unidos formam sentidos, e sim ter em mente 
que as materialidades atuam em ambas, com o propósito de estabelecer um conjunto 
significativo. Dessa forma, a relação entre a linguagem verbal e o não verbal pode ser 
compreendida como os efeitos de sentido produzidos. Para Florêncio et al. (2009, p.93), “[...] 
26 
 
é preciso lembrar que o discurso é efeito de sentidos entre interlocutores, desse modo, a 
imagem, por ser uma materialidade significante, também produz sentidos entre os sujeitos, por 
isso, é também uma materialidade discursiva”. 
A utilização da imagem auxilia o efeito dos sentidos e a produção das interpretações. 
As imagens em conformidade são determinadas como o texto não verbal, pode-se dizer que o 
sentido ocorre após a análise da imagem e diante desse pressuposto, compreende-se que a 
memória discursiva, direciona o sentido do que está sendo dito. 
 
A produção de sentido dentro da linguagem não verbal dá-se de forma natural, pois é 
comum lermos as imagens mesmo sem uma alfabetização prévia. Entretanto, a 
imagem não traduz a palavra, ela traduz a idéia. A palavra fala da imagem e até mesmo 
pode descrever, mas não pode desvendar seu valor significativo. (GARCIA, 2007, p. 
3) 
 
No conjunto não verbal e verbal, a imagem e o texto são inerentes. O sentido da imagem 
acontece em sua interpretação, determinando-se em discurso. Em vista disso, a interpretação da 
imagem, assim como a interpretação do verbal, causa o elo entre o sujeito e o contexto. Para 
Garcia (2017, p.3), a imagem representará a linguagem não verbal, através da cor, forma, 
movimento, etc. Atuando como parte da relação interacional entre língua e indivíduo, 
desempenhando um papel de grande influência na produção de sentido. 
 Esses gêneros trabalham com o apelo visual e frequentemente trazem uma abordagem 
cômica e crítica. Ao perceber a imagem na relação com a exterioridade, procura-se o 
entendimento do discurso ligado ao simbólico, criado em uma organização composta por um 
meio cultural, histórico e político de produção. A imagem, como discurso determinado pelo não 
verbal, apresenta muita das vezes análises não abordadas. Então, torna-se necessário considerar 
os elementos visuais também como criadores de discurso. 
 Os leitores necessitam reconhecer as marcas presentes no contexto, que são possíveis 
através da relação entre verbal enão verbal. Conclui-se, então, que a linguagem não verbal não 
é de menos importância, pelo contrário, é uma forma extremamente eficaz para a contribuição 
do sentido. 
 
2.2 Os sentidos presentes nas charges e tirinhas 
 
Os sentidos do discurso podem ser manifestados através de diversos gêneros, não apenas 
através da linguagem verbal. A imagem é dotada de significados, logo, se estabelece como um 
instrumento de comunicação. Porém, não devemos observar apenas os elementos que a 
27 
 
compõem, mas sim, compreender como se estabelecem os efeitos de sentidos gerados por esses 
elementos. Assim sendo, no gênero charge e tirinha o sentido é obtido através da relação entre 
o verbal e o não verbal, demonstrando tanto as formações ideológicas quanto discursivas 
presentes no discurso. Então Florêncio et al. (2009, p.64) trazem que, “[...] concebemos o 
discurso como ideológico, pois sua produção requer um sujeito socialmente situado; e é este 
lugar que define uma posição ideológica e aponta como o sujeito participa da produção de uma 
sociedade”. Nesse sentido, o discurso é dotado de ideologia e baseado no âmbito social que o 
sujeito está inserido, o que definirá seu posicionamento ideológico. 
Aliando linguagem verbal e não verbal, os gêneros em questão são utilizados 
normalmente como mediadores na problematização de assuntos sociais, revelando problemas 
enfrentados pela sociedade. Além de evidenciar ideologias, crenças e posturas determinadas. 
Funcionando como um processo de significação, onde os sentidos não estão prontos, mas são 
construídos a partir do espaço discursivo constituído pelos interlocutores, onde o sentido não é 
fechado, mas construído de acordo com as experiências ideológicas e conhecimentos dos 
interlocutores. Para Silva e Rodrigues (2017, p.12): 
 
[...] na materialidade discursiva do sujeito constituído estão as ideologias que o 
interpelaram, isto é, ao enunciar ele registra materialmente, por meio da linguagem, 
precisamente nas formações discursivas, as formações ideológicas que o constitui em 
sujeito de seu discurso. 
 
Dessa forma, diante dos gêneros charge e tirinha, o sentido é construído através da 
relação entre o verbal e não verbal e da determinação histórica, visto que o conhecimento prévio 
sobre o fato apresentado pode influenciar na compreensão do interlocutor. De acordo com 
Florêncio et al. (2009, p.109), “Como sujeito e sentido não são transparentes, precisamos 
desconfiar do óbvio, pois não há discurso sem sujeito, nem sujeito sem ideologia”. Os sentidos 
produzidos no interior das charges e tirinhas são imagens do mundo, envolvem a interpretação 
de acontecimentos que podem estar associados a diferentes formações discursivas. Outro 
aspecto importante sobre esses gêneros é o fato de costumarem ser tão ricos quanto outros textos 
opinativos, como uma resenha, que apresenta um posicionamento crítico sobre determinada 
pessoa, texto ou fato. Segundo Garcia (2017, p.4): 
 
O humor utilizado nas Charges, Tiras e Quadrinhos cumprem um papel fundamental 
na cultura de um país, pois circulam com desenvoltura em todas as camadas sociais, 
e têm como função um papel ideológico, que é o de retratar instantaneamente uma 
crise que pode ser governamental, social ou individual. 
 
É preciso compreender como os diversos recursos presentes na charge colaboram para 
que o leitor possa construir o sentido, permitindo compreender melhor o gênero charge, o verbal 
https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/redacao/linguagem-verbal-naoverbal.htm
28 
 
e não verbal e o conteúdo temático abordado, possibilitando concluir com o dito, não dito e 
silenciado. Além disso, nas tirinhas, também são explorados diversos recursos, tanto verbais 
quanto não verbais, se constituindo a partir da exploração dos diferentes sentidos produzidos, 
assim como as charges. 
Garcia (2017, p.4) traz o conceito de charges como “[...] um desenho pesado, crítico, 
relacionado com as atividades de uma localidade, e tem um poder muito grande de denúncia. A 
charge não tem a obrigatoriedade de provocar o riso, o autor denuncia determinada situação, 
que também pode vir a ser uma tragédia”. E em contrapartida apresenta também o conceito para 
tirinhas, “As Tiras podem ou não ter uma abordagem política. Elas podem ser tão somente 
humorísticas, representando uma visão bem-humorada dos acontecimentos e do mundo, e de 
acordo com os autores das Tiras, sem posicionamento ideológico ou crítico”. 
Então, para desenvolver uma análise de charges e tirinhas deve-se determinar o seu 
contexto histórico e analisar as condições de produção, identificando as opiniões colocadas 
numa dada circunstância. Além de observar o dito e o não dito e decifrar as marcas do sujeito. 
Segundo os fundamentos de Florêncio et al. (2009, p.93), “Fazer perguntas, questionar o que 
se mostra na imediaticidade é fundamental porque mexe com a capacidade do analista de 
descontruir o óbvio”. Fica claro, assim, a capacidade de o analista produzir diferentes sentidos 
do discurso, trazendo reflexões e conseguindo ir além do que está exposto, auxiliando assim no 
desenvolvimento intelectual e no desenvolvimento cognitivo do mesmo. 
As análises direcionam para a importância desses gêneros nas práticas de leitura em sala 
de aula, introduzindo o desenvolvimento da habilidade leitora dos alunos. Essa afirmação 
justifica-se pelo motivo de que, ao se trabalhar o gênero charge e tirinha, encontra-se à 
disposição um recurso didático rico em aspectos da significação, com os elementos que o 
compõem, como a relação do verbal e o não verbal, entre outros, que indicam um processo 
eficaz de ensino de leitura. 
A escolha das charges e tirinhas, por meio das quais se pensa em aplicar atividades de 
ensino que busquem analisar essa relação de sentidos com o mundo do leitor, requer do 
professor um conhecimento prévio das condições de produção. O conhecimento sobre o 
contexto em que seus alunos estão inseridos também é bastante relevante, para assim, saber se 
eles compreenderão os sentidos presentes nos enunciados. Cabe ao professor trazer reflexões 
para dentro do âmbito educacional, no sentido de colaborar para a formação cultural, política e 
ética dos alunos. Diante disso, Garcia (2007, p.2) traz que: 
 
29 
 
O discurso é a linguagem em ação, o sentido social, histórico e ideológico construído, 
refletindo uma visão de mundo determinante e as possíveis estratégias utilizadas na 
sua estrutura, os intercâmbios no interior dos grupos sociais, que sobredeterminam o 
indivíduo vivendo em coletividade, e os efeitos produzidos por meio de seu uso. 
 
Procurar familiarizar esses gêneros com a turma faz com que o professor seja mais 
criativo em seu trabalho, o que se torna também mais produtivo e eficiente quando ele consegue 
explorar as categorias discursivas de uma forma efetiva. 
Enfim, a charge e a tirinha demonstram suas capacidades produtivas para o 
desenvolvimento da proficiência leitora, da criticidade e da reflexão, pois são textos construídos 
a partir de problemáticas sociais, o que pode ser um estímulo para alunos do ensino fundamental 
e do médio. Além de que, a charge e a tirinha necessitam que o leitor possua conhecimentos 
prévios, como o contexto social, político e cultural da sociedade para compreender os 
pressupostos e implícitos, e posteriormente produzir as inferências. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30 
 
3- ANÁLISE DISCURSIVA DOS GÊNEROS TIRINHA E CHARGES EM LIVROS 
DIDÁTICOS 
 
Neste capítulo, procuramos evidenciar o processo metodológico do nosso trabalho, 
analisando os gêneros textuais tirinha e charge em uma coleção de livros didáticos de língua 
portuguesa do Ensino Médio, os procedimentos teórico-metodológicos utilizados para análise 
e os passos que nos conduziram para a realização da presente pesquisa. 
 
3.1 Caracterização da pesquisa 
 
A constituição do corpus se deu por meioda coleção de Livros Didáticos do Ensino 
Médio de Maria Luiza M. Abaurre, Maria Bernadete M. Abaurre e Marcela Pontara: 
PORTUGUÊS contexto, interlocução e sentido da Editora Moderna 2013, organizada em três 
volumes (1, 2 e 3), constitui o objeto para análise desta pesquisa, uma vez que a coleção 
escolhida foi aprovada pelo PNLD. 
Logo, a escolha dessa coleção parte da confirmação de que os exemplares a serem 
analisados trabalham a língua como prática social, através de orientações de trabalho associadas 
aos gêneros. Então a justificativa para tal escolha é o fato dessa coleção abordar tão bem os 
gêneros textuais, em especial, os gêneros tirinha e charge. 
Como já foi citado anteriormente, a preocupação desta pesquisa fundamenta-se em 
analisar os efeitos de sentido produzidos nos gêneros tirinhas e charges em uma coleção de 
livros didáticos do Ensino Médio, então foram escolhidas tirinhas e charges aleatórias para a 
análise. 
 
3.2 Análises 
 
 Conforme apresentado anteriormente, este trabalho tem como objetivo analisar os 
efeitos de sentido produzidos por tirinhas e charges em livros didáticos da coleção do Ensino 
Médio, PORTUGUÊS contexto, interlocução e sentido da Editora Moderna 2013. Para tanto, 
temos, então, 3 tirinhas e 4 charges que foram escolhidas aleatoriamente para análise. 
 
3.2.1 Análise da Primeira Tirinha 
31 
 
 
Esta tirinha foi retirada do livro Português Contexto, Interlocução e Sentido do 1° ano 
do Ensino Médio. O texto em análise está presente na página 300: 
 
A tirinha traz em seu primeiro quadrinho dois homens observando uma pessoa ao longe 
e um deles questiona “Mas que diabos é aquilo?”, demonstrando seu espanto com aquela 
situação estranha. No quadrinho seguinte é exposto o motivo da inquietação dos dois homens, 
pois aparece um homem segurando uma coleira flutuando, supostamente “vazia”. Então no 
último quadrinho o homem de camisa listrada irá responder o questionamento feito no primeiro 
quadrinho, “Apenas um político saindo com a sua honestidade para passear”. 
Sabemos que ninguém leva suas qualidades para passear presas a uma coleira. Então 
algo leva o homem a fazer essa afirmação, há algo não dito, mas pensado por ele, partido de 
um pressuposto. Pois, já estamos acostumados a fazer uma generalização a respeito da falta de 
caráter dos políticos. Acontecem tantos casos envolvendo políticos e corrupção que se criou 
uma imagem que todos os políticos são desonestos. Por isso, diante dessa visão estereotipada, 
o homem de camisa listrada afirma que a coleira que flutua no ar é levada por um político, pois 
nela está algo que ele não tem, a honestidade. Logo, torna-se necessário a identificação do 
pressuposto que não existem políticos honestos para que se tenha a compreensão da tirinha. 
Somente na leitura do último quadrinho foi possível inferir sobre os políticos, 
percebendo que o pensamento exposto foi construído culturalmente de forma antecedente 
àquele evento. O silenciado se encontra nessa visão do político que foi criada no Brasil pela 
sociedade, pelo fato das decepções e das tantas vezes que o povo se sentiu enganado pelos 
políticos que colocaram no poder, fazendo com que desacreditassem na honestidade dos 
políticos e duvidassem do seu caráter. 
 
32 
 
3.2.2 Análise da Segunda Tirinha 
Esta tirinha foi retirada do livro Português Contexto, Interlocução e Sentido do 2° ano 
do Ensino Médio. O texto em análise está presente na página 311: 
 
No primeiro quadrinho, duas cobras pedem um conselho ao pássaro Queromeu, que 
aparentemente pode ser identificado como uma autoridade no assunto referente à corrupção, 
pois as cobras questionam “Queromeu, que conselho você daria ao corrupto que está 
começando? ”. No quadrinho seguinte, Queromeu responde “Lembrem-se: a justiça tarda...” 
e conclui no último quadrinho, “Portanto, aproveitem. ”. 
Diante disso lembramos do dito popular “A justiça tarda, mas não falha”, que traz a 
certeza de que a justiça será feita, mesmo que demore. Então Queromeu sugere que os corruptos 
devem aproveitar a lentidão da justiça para ganhar vantagens. Essa adaptação do dito popular 
acaba sendo surpreendente, porque sugere uma crítica à justiça, em vez de uma defesa, pois a 
sua lentidão possibilita o aumento da corrupção. 
Também podemos analisar o nome dado ao personagem Queromeu, que traz o 
enunciado “Quero o meu”, sugerindo que ele também quer sua parte em lucros financeiros e 
em vantagens pessoais (tirar o seu), permitindo o pressuposto que o pássaro seja egoísta e 
apegado a coisas materiais, trazendo já em seu nome uma postura corrupta, que sempre 
procurará ter benefícios. No silenciado, podemos associar os personagens aos políticos e o 
quanto a justiça é lenta para agir diante de seus crimes, por isso tentam tirar suas “vantagens”. 
 
3.2.3 Análise da Terceira Tirinha 
 
Esta tirinha foi retirada do livro Português Contexto, Interlocução e Sentido do 3° ano 
do Ensino Médio. O texto em análise está presente na página 287: 
33 
 
 
No primeiro quadrinho, o personagem (Caramelo) afirma ter muitos medos. No segundo 
quadrinho, o personagem expõe esses medos (Medo da culpa, da ignorância, da solidão, de 
mudanças, da enfermidade, da vida...). Entretanto no terceiro e quarto quadrinho, explicita, 
“Mas o medo mais terrível e apavorante de todos...” “... É perder esse celular!”. Neste 
momento o personagem enfatiza o seu lugar na fala e afirma que este medo é maior que os 
anteriores por motivos quantitativos: Beleza, função e joguinhos. O medo de perder o celular 
torna-se superior aos outros medos existentes. 
“Como viver sem isso?” A pergunta feita por Caramelo no último quadrinho obtém como 
resposta: “Num dá...”, a resposta é condizente com as ideias defendidas por Caramelo. O interlocutor 
acabou partilhando da opinião de Caramelo, isso foi possível porque provavelmente o interlocutor ao 
qual Caramelo dirigiu seu discurso possuía um conhecimento compartilhado. 
No dito, abstraímos o humor da tirinha, que se constitui pelo fato de os personagens 
concordarem que, dentre muitos medos listados por Caramelo, o que ele considera como pior é 
a possível perda do celular, onde o não dito denuncia que a sociedade está cada vez mais 
vulnerável e dependente do uso da tecnologia e das diversas funções e facilidades oferecidas 
por ele. 
O silenciado traz a presente realidade da evolução tecnológica, que acarreta a 
preferência pelo mundo virtual, onde as pessoas acabam utilizando de uma forma que as 
afastam da realidade. Mostrando a influência e a alienação que esses recursos podem trazer aos 
usuários. 
 
3.2.4 Análise da Primeira Charge 
 
Esta charge foi retirada do livro Português Contexto, Interlocução e Sentido do 1° ano 
do Ensino Médio. O texto em análise está presente na página 242: 
34 
 
 
O título que a charge apresenta remete ao salário mínimo definido, os dois homens que 
a charge traz trocam comentários enquanto esperam o ônibus, ambos expressam a insatisfação 
sobre a situação de miséria em que vivem muitos brasileiros, pois não têm o suficiente para 
garantir os seus direitos básicos de cidadão, como alimentação e moradia. Identificamos aqui o 
dito e o não dito presentes na charge. 
Percebemos também um jogo de palavras entre o verbo comemorar e a sua divisão em 
dois verbos diferentes: comer e morar. Demarcando uma ironia na frase “comer e morar 
então...”, de maneira em que essa “brincadeira” com as palavras demonstre uma crítica. Sendo 
a alimentação e moradia quase inacessíveis devido ao baixo salário. 
Quando se resolve criticar algo é assumida uma postura ideológica específica, sendo 
importante o reconhecimento e a análise da situação para poder resgatar o contexto no qual o 
discurso está inserido, para a compreensão de sentido do mesmo. 
No silenciado, se consequentemente há um aumento do salário mínimo, há também um 
aumento dos impostos, deixando a situaçãoequivalente ou pior. Além do salário mínimo não 
atender as necessidades “mínimas” do cidadão. Mas segundo o artigo 7º, inciso IV 
da Constituição Federal (CF): "São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros 
que visem à melhoria de sua condição social: salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente 
unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, 
alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com 
reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para 
https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI162726,101048-Da+vinculacao+do+salario+minimo+para+estipulacao+do+salario
35 
 
qualquer fim". Onde percebemos que a lei expressa na CF garante algo que não acontece na 
realidade, sendo visto apenas na teoria. A partir disso, o cidadão torna-se refém do governo, 
trabalhando para “sobreviver” e não para “viver”. 
 
3.2.5 Análise da Segunda Charge 
 
Esta charge foi retirada do livro Português Contexto, Interlocução e Sentido do 1° ano 
do Ensino Médio. O texto em análise está presente na página 250: 
 
 A charge apresenta a expressão “Era do Gelo” que é título de um filme de animação 
que se passa na Era Glacial. Em contrapartida a charge apresenta também a “Era do Degelo”, 
supostamente na atualidade, onde o substantivo degelo indicará a transformação do estado 
sólido em estado líquido devido ao aumento de temperatura da Terra, causado pelas ações 
humanas. 
 Nessa charge, o efeito de sentido é construído através de um jogo de palavras que utiliza 
de um acréscimo de elemento que é capaz de alterar o sentido do termo original, nas palavras 
“Gelo” e “Degelo”. 
No dito e não dito, retiramos a comparação entre a ficção e a possível realidade, na qual 
o primeiro desenho traz a representação de uma “Era” natural, em que a predominância do 
ambiente era composta por gelo, porque não tinha intervenção humana e em paralelo vemos 
aspectos completamente diferentes no segundo desenho, em que encontramos a transformação 
feita pela ação do homem, onde a maioria do gelo presente no ambiente derreteu, devido ao 
aumento da temperatura, que pode ser acarretado pela poluição das indústrias que estão 
presentes no desenho. 
 Extraímos do silenciado que devido a interferência humana o meio ambiente e o habitat 
natural dos animais estão sendo destruídos. A atividade humana industrial acaba promovendo 
36 
 
o aquecimento global, e, consequentemente, o derretimento das calotas polares. Com a 
construção de diversas indústrias e o desenvolvimento das grandes cidades, surge uma 
interferência em todo meio, mas o homem na maioria das vezes não se preocupa com essa 
questão, mas sim com o lucro e sua produção, onde se leva em consideração o capitalismo. 
 
3.2.6 Análise da Terceira Charge 
 
Esta charge foi retirada do livro Português Contexto, Interlocução e Sentido do 1° ano 
do Ensino Médio. O texto em análise está presente na página 302: 
 
 A charge acima mostra que o plano de saúde enviou um cartão a um paciente que se 
encontra internado em um hospital. No cartão, além do desejo de melhoras, há um último aviso. 
Então para a compreensão da charge, devemos reorganizar o sentido do texto, respondendo os 
questionamentos que podem surgir: Por que um plano de saúde enviaria um cartão desejando 
uma pronta recuperação do paciente? Por que seria o último aviso? 
Diante da análise dos personagens, da situação e do discurso, podemos compreender 
que o plano de saúde é o responsável por pagar as despesas hospitalares de seus associados. E 
os planos de saúde têm sempre como interesse cortar e reduzir essas despesas. 
 Logo, compreendemos no não dito que se o plano de saúde é o responsável por pagar as 
despesas hospitalares de seus associados e o paciente recebeu um cartão com um desejo de 
pronta recuperação como um último aviso, então podemos afirmar que esse aviso deixa 
subentendido que o plano não pretende continuar pagando as despesas hospitalares do paciente, 
esse aviso pode ser traduzido como uma ameaça velada pelo plano ao associado, “...fique bom 
o mais rápido possível, pois pararemos de pagar suas despesas!”. 
 O texto do cartão contém algo que está subentendido, que é apontado pelo contexto 
determinado e que, para ser explicitado, o leitor necessita resgatar informações (nesse caso, 
sobre os planos de saúde). Então a partir do silenciado, pode-se salientar que o plano de saúde 
37 
 
é um recurso para se fugir do precário atendimento do SUS (Sistema Único de Saúde), podendo 
com ele ter um acesso mais eficiente à saúde. Então de um lado se o cidadão desejar um melhor 
atendimento é necessário buscar um plano de saúde que atenda suas necessidades, pois a Saúde 
Pública é deficiente. E do outro lado está o plano de saúde visando o seu próprio lucro. 
 
3.2.7 Análise da Quarta Charge 
 
Esta charge foi retirada do livro Português Contexto, Interlocução e Sentido do 2° ano 
do Ensino Médio. O texto em análise está presente na página 345: 
 
A charge apresenta um contraste entre a fisionomia dos dois primeiros meninos e a do 
último. Percebemos que os dois primeiros meninos estão bem vestidos, têm uma expressão de 
alegria e são associados, respectivamente, ao ensino público e ao ensino privado. Já o terceiro 
menino está vestido com uma roupa simples, que possui remendos e expressa uma fisionomia 
apática, sendo associado a expressão privado de ensino. 
O dito da charge expõe uma crítica a uma preocupante questão social, onde o terceiro 
menino representa todos aqueles que não têm acesso ao ensino, seja ele público ou privado. 
Evidenciando o fato de que no Brasil muitas crianças não têm acesso à educação, ou seja, são 
“privadas de ensino”. Expondo este problema da educação, mais especificamente de como a 
falta de ensino ajuda a aumentar as desigualdades sociais, percebe-se a dificuldade de acesso 
das crianças pobres à uma educação de qualidade. 
O não dito e o silenciado podem ser extraídos da representação das crianças que são 
privadas de ensino, que não podem frequentar a escola por inúmeros fatores, desde situações 
38 
 
que necessitam trabalhar para ajudar no sustento da família, até casos de dificuldade de 
deslocamento, pelo fato da Escola ser distante de casa e não haver transporte escolar. Diante 
disso, algumas dessas crianças não veem escolha e às vezes acabam optando por um caminho 
alternativo, que as levam para o mundo do crime e/ou para o envolvimento com drogas. Já que 
a educação é a base para a construção de um futuro próspero, onde as pessoas tenham acesso à 
cultura, oportunidades de crescimento, melhoria de vida, etc. 
 E nessa perspectiva, o governo muita das vezes não toma uma providência, pois 
preferem privar o cidadão de se ter um ensino de qualidade, pois quanto mais conhecimento o 
cidadão tiver, mais liberdade de expressão vai adquirir. 
Diante de todas análises, fica claro que é necessário recorrer ao interdiscurso para 
complementar e reforçar seus discursos, além de levar em consideração o contexto histórico, 
do qual emerge este discurso. Ficando nítida também a importância

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