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Livro de Teologia

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Josué
Comentário	expositivo
James	Montgomery	Boice
Copyright	©	1989,	de	James	Montgomery	Boice
Publicado	originalmente	em	inglês	sob	o	título	
Joshua
pela	Baker	Books,	uma	divisão	da	Baker	Publishing	House,
Grand	Rapids,	MI,	49516,	EUA.
Todos	os	direitos	em	língua	portuguesa	reservados	por
EDITORA	MONERGISMO
SCRN	712/713,	Bloco	B,	Loja	28	—	Ed.	Francisco	Morato	Brasília,	DF,	Brasil	—	CEP	70.760-620
www.editoramonergismo.com.br
1ª	edição,	2020
Tradução:	Lidiane	Cecílio	e	Thiago	McHertt	
Revisão:	Felipe	Sabino	de	Araújo	Neto	e	Rogério	Portella
PROIBIDA	A	REPRODUÇÃO	POR	QUAISQUER	MEIOS,	SALVO	EM	BREVES	CITAÇÕES,	COM	INDICAÇÃO	DA	FONTE.
Todas	as	citações	bíblicas	foram	extraídas	da	Versão	Almeida	Revista	e	Atualizada	(ARA),	salvo	indicação	em	contrário.
Para	o	Príncipe	do	exército	do	SENHOR.
Índice
Prefácio
1.	O	comissionamento	do	soldado	(Josué	1.1-9)
2.	No	comando	(Josué	1.10-18)
3.	Raabe	contra	mundum	(Josué	2.1-24)
4.	A	travessia	do	Jordão	e	o	fim	da	jornada	(Josué	3.1-5.12)
5.	O	Comandante	do	comandante	(Josué	5.13-15)
6.	Hora	de	gritar	(Josué	6.1-27)
7.	Pecado	no	acampamento	(Josué	7.1-8.29)
8.	Monte	Ebal	e	monte	Gerizim	(Josué	8.30-35)
9.	O	erro	de	andar	pelo	que	vê	(Josué	9.1-27)
10.	O	dia	mais	longo	(Josué	10.1-5)
11.	As	campanhas	militares	do	sul	e	do	norte	(Josué	10.16-12.24)
12.	Repartição	da	terra	(Josué	13.1-19.51)
13.	O	Ancião	magnífico	(Josué	14.6-15)
14.	As	cidades	especiais	(Josué	20.1-21.45)
15.	Adeus	às	armas	(Josué	22.1-34)
16.	Passando	a	tocha	(Josué	23.1-16)
17.	O	último	sermão	do	capitão	(Josué	24.1-33)
Prefácio
	
Há	muitas	pessoas	influentes	de	épocas	passadas	que,	por	um	motivo	ou	outro,	foram	ignoradas	por	seus
sucessores.	 Isso	seria	verdade	sobre	Josué,	sucessor	de	Moisés,	não	fosse	o	 livro	do	Antigo	Testamento
(AT)	 que	 leva	 seu	 nome.	 Josué	 é	 a	 história	 desse	 importante	 comandante	militar,	 o	 líder	 da	 conquista
judaica	de	Canaã,	e	a	inclusão	do	livro	de	Josué	em	nossa	Bíblia	é,	sem	dúvida,	o	modo	divino	de	chamar	a
atenção	para	quem,	sem	essa	inclusão,	teria	sido	ofuscado	por	completo	pelo	antecessor.
No	 entanto,	 a	 ironia	 é	 esta:	 apesar	 de	 termos	 o	 livro	 de	 Josué	 na	 Bíblia	 —	 o	 primeiro	 livro	 após	 o
Pentateuco	 —	 muitos	 cristãos	 são	 lamentavelmente	 ignorantes	 sobre	 esse	 homem	 e	 sobre	 o	 que	 foi
realizado	por	meio	dele	nessa	importante	etapa	da	história	de	Israel.
Josué	era	um	soldado.	Ele	era	um	soldado	brilhante,	um	dos	comandantes	militares	mais	extraordinários
de	todos	os	tempos.	Mas	ele	não	era	uma	pessoa	contagiante,	até	onde	sabemos.	É	provável	que	ele	fosse
apenas	um	 trabalhador,	um	homem	bastante	direto	 cuja	principal	preocupação	era	 realizar	 a	 comissão
divina	à	risca.	Não	foi	marcado	por	grandes	pecados,	e	cometeu	pouquíssimos	erros.	Em	suma,	não	era	o
tipo	de	pessoa	que	se	tornaria	o	bom	herói	de	um	romance.	No	entanto,	Josué	era	um	homem	de	Deus.
Deus	disse	a	ele	no	começo	da	conquista:	“Tão	somente	sê	forte	e	mui	corajoso	para	teres	o	cuidado	de
fazer	segundo	toda	a	lei	que	meu	servo	Moisés	te	ordenou;	dela	não	te	desvies,	nem	para	a	direita	nem
para	a	esquerda,	para	que	sejas	bem-sucedido	por	onde	quer	que	andares”	(Js	1.7).	Josué	fez	exatamente
isso!	E	foi	bem-sucedido!	Ele	dirigiu	a	conquista	judaica	de	Canaã	durante	sete	longos	anos,	e	subjugou
todas	as	grandes	fortalezas	e	cidades	da	terra.	Ele	liderou	o	povo	na	renovação	da	aliança	com	Deus.	E	no
final,	quando	contava	pelo	menos	90	anos,	desafiou	a	nova	geração	a	permanecer	fiel:	Agora,	pois,	temei
ao	SENHOR	e	servi-o	com	integridade	e	com	fidelidade;	deitai	fora	os	deuses	aos	quais	serviram	vossos	pais
dalém	do	Eufrates	e	no	Egito	e	servi	ao	SENHOR.	Porém,	se	vos	parece	mal	servir	ao	SENHOR,	escolhei,	hoje,
a	quem	sirvais:	se	aos	deuses	a	quem	serviram	vossos	pais	que	estavam	dalém	do	Eufrates	ou	aos	deuses
dos	amorreus	em	cuja	terra	habitais.	Eu	e	a	minha	casa	serviremos	ao	SENHOR.	(Js	24.14,	15)	Esse	foi	um
grande	desafio,	alicerçado	pela	vida	de	serviço	fiel	ao	Senhor.
O	livro	de	Josué	é	importante	por	outras	coisas	além	da	história	de	sua	vida.	Ele	é	o	que	Francis	Schaeffer
chamou	 livro-ponte	 —	 algo	 como	 o	 livro	 de	 Atos.	 Atos	 é	 a	 ponte	 entre	 os	 Evangelhos,	 que	 contam	 a
história	de	 Jesus,	e	as	Epístolas,	que	 lidam	com	a	 fé,	a	vida	e	os	problemas	da	 igreja.	 Josué	é	a	ponte
entre	os	anos	da	peregrinação	desordenada	de	Israel	no	deserto	e	seu	estabelecimento	na	terra.
Isso	significa	que	Josué	também	é	um	livro	de	continuidades,	e	o	principal	veículo	dessas	continuidades	é
a	Palavra	de	Deus.	É	verdade	que	não	havia	muito	da	Bíblia	naquele	tempo	—	apenas	os	livros	que	Deus
dera	 ao	 povo	 por	 meio	 de	 Moisés	 —	 os	 primeiros	 livros	 do	 Pentateuco.	 Mas	 essas	 foram	 revelações
suficientes	para	a	época.	Elas	disseram	ao	povo	escolhido	como	Deus	era	e	o	que	esperava	deles.	Por	isso
Josué	foi	instruído	a	obedecer	tudo	que	eles	ensinavam	e	a	não	se	desviar	nem	para	a	direita	nem	para	a
esquerda.
À	medida	que	tenho	estudado	Josué,	convenci-me	da	necessidade	de	sua	mensagem	para	os	nossos	dias.
Existem	 muitos	 cristãos	 professos	 hoje:	 cerca	 de	 50	 milhões	 apenas	 nos	 Estados	 Unidos,	 segundo
algumas	estimativas.	Todavia,	parece	que	não	 temos	muitos	 Josués.	Não	são	muitos	os	que,	sem	tentar
ser	 originais	 ou	 espetaculares,	 decidem	 obedecer	 à	 lei	 divina	 em	 todos	 os	 aspectos	 e,	 na	 verdade,
obedecem	a	 ela	 durante	 uma	 vida	 longa	de	 serviço	 fiel.	Não	 é	 esse	 o	 principal	motivo	 da	 fraqueza	da
igreja	 em	 nosso	 país	 atualmente?	 E	 a	 principal	 razão	 do	 fracasso	 não	 é	 causada	 pela	 falta	 de	 leitura,
estudo,	digestão	e	obediência	à	Palavra	de	Deus?
Vivemos	na	era	da	alfabetização,	mas	milhares	de	cristãos	são	analfabetos	bíblicos.
Nosso	 tempo	valoriza	 a	 liderança,	mas	muitos	 se	 curvam	ao	 vento	do	 secularismo	ou	 são	 levados	pela
maré.
Ao	 publicar	 esses	 estudos	 neste	 importante	 e	 fascinante	 livro	 desejo	 expressar	 meu	 profundo
agradecimento	 à	 minha	 igreja,	 a	 Tenth	 Presbyterian	 Church,	 a	 quem	 apresentei	 originariamente	 o
material	no	inverno	entre	1985	e	1986,	e	The	Above	Bar	Church	em	Southampton,	Inglaterra,	a	quem	os
estudos	 também	 foram	apresentados	 (em	 versão	 abreviada)	 no	 verão	 seguinte.	Cada	 grupo	me	 ajudou
com	muitos	comentários	úteis.	Em	especial,	 sou	grato	aos	 irmãos	da	congregação	da	Filadélfia	por	me
permitirem	investir	grande	parte	do	meu	tempo	a	pesquisar	e	escrever.
Como	sempre,	minha	fiel	secretária	e	assistente	editorial	Caecilie	M.	Foelster	conferiu	o	livro	e	orientou
comigo	sua	produção.	Sou	sempre	muito	grato	a	ela.
1.	O	comissionamento	do	soldado	(Josué	1.1-9)
Sê	 forte	 e	 corajoso,	 porque	 tu	 farás	 este	 pov	 o	 herdar	 a	 terra	 que,	 sob	 juramento,	 prometi	 dar	 a	 seus	 pais.	 Tão
somente	sê	forte	e	mui	corajoso	para	teres	o	cuidado	de	fazer	segundo	toda	a	lei	que	meu	servo	Moisés	te	ordenou;
dela	não	te	desvies,	nem	para	a	direita	nem	para	a	esquerda,	para	que	sejas	bem-sucedido	por	onde	quer	que	andares.
Não	cesses	de	falar	deste	Livro	da	lei;	antes,	medita	nele	dia	e	noite,	para	que	tenhas	cuidado	de	fazer	segundo	tudo
quanto	nele	está	escrito;	então,	farás	prosperar	o	teu	caminho	e	serás	bem-sucedido.	Não	to	mandei	eu?	Sê	forte	e
corajoso;	não	temas,	nem	te	espantes,	porque	o	SENHOR,	teu	Deus,	é	contigo	por	onde	quer	que	andares.	(Jo	1.6-9)	O
livro	de	Josué	pertence	à	classe	especial	de	livros	bíblicos	que	recebem	o	nome	da	personagem
principal.	De	fato,	ele	é	o	primeiro	livro	desse	tipo.	Nenhum	dos	cinco	primeiros	livros	da	Bíblia
têm	nome	próprio,	 embora	 lide	 com	alguns	dos	maiores	personagens	da	história:	Adão,	Noé,
Abraão,	José,	Moisés	e	outros.	O	livro	de	Josué	narra	a	conquista	de	Canaã	pelas	tribos	de	Israel
sob	 o	 comando	do	 sucessor	 de	Moisés,	 e	 recebe	dele	 o	 nome.	Nesse	 aspecto,	 ele	 pertence	 à
classe	de	livros	bíblicos	como	Rute,	1	e	2	Samuel,	Esdras,	Neemias,	Ester	e	Jó.
É	 apropriado	 que	 o	 livro	 seja	 designado	 Josué.	 Embora	 lide	 comoutros	 assuntos,	 com	 certeza	 ele	 nos
mostra	o	caráter	e	registra	as	realizações	desse	homem	extraordinário.	Muitas	vezes	Josué	é	esquecido,
como	 costuma	acontecer	 com	quem	 sucede	um	 indivíduo	de	 importância	 especial.	Quem	 se	 lembra	do
presidente	que	sucedeu	Abraham	Lincoln?	Ou	do	primeiro-ministro	depois	de	Winston	Churchill?	Como
costuma	 ocorrer,	 os	 sucessores	 geralmente	 são	 obscurecidos	 pelos	 antecessores.	 Isso	 aconteceu	 com
Josué.	Pode	ser	por	isso	que	o	livro	tenha	recebido	seu	nome.	Talvez	seja	a	maneira	de	Deus	dizer:	“Você
já	 considerou	 meu	 servo	 Josué?	 Ele	 foi	 extraordinário,	 fiel	 e	 trabalhador.	 Totalmente	 dedicado	 a	 meu
serviço.	Você	deveria	aprender	com	a	história	dele”.
Suponho	que	W.	Phillip	Keller	pensava	nesse	sentido	quando	escreveu:	“[Josué]	raras	vezes	recebe	todo	o
crédito	merecido	como,	talvez,	o	maior	homem	de	fé	que	já	pisou	no	palco	da	história	humana.	De	fato,
toda	a	sua	brilhante	carreira	consistiu	no	relato	simples	de	apenas	dar	passos	sucessivos	em	obediência
silenciosa	aos	mandamentos	divinos”.[1]
Josué	não	era	perfeito,	e	a	façanha	de	“dar	passos	sucessivos	em	obediência	silenciosa	aos	mandamentos
divinos”	não	é	o	modo	de	chamar	a	atenç	ão	e	admiração	do	mundo.	No	entanto,	a	obediência	é	a	chave
para	a	vitória	a	serviço	de	Deus,	e	Josué	é	um	exemplo	notável	desse	ponto.
PONTE	NA	HISTÓRIA
O	livro	de	Josué,	porém,	não	é	apenas	a	história	de	um	homem.	É	também	a	história	de	uma	conquista	—
a	 conquista	 de	 Canaã	 pelas	 tribos	 que	 Moisés	 tirou	 do	 Egito.	 Isso	 significa	 tratar-se	 de	 um	 livro	 de
transição:	 a	 mudança	 da	 era	 patriarcal,	 em	 que	 a	 nação	 de	 Israel	 estava	 sendo	 chamada,	 formada,
libertada	e	treinada,	para	a	era	da	ocupação	estabelecida	da	terra.	Até	Josué,	não	vimos	o	cumprimento
da	promessa	feita	originariamente	a	Abraão:	“Darei	à	tua	descendência	esta	terra”	(Gn	12.7).	Haviam	se
passado	mais	 de	 500	 anos	 desde	 o	 anúncio	 da	 promessa	 e,	 finalmente	 chegou	 o	 tempo	designado	 por
Deus	e	o	povo	avançou	para	tomar	posse	dos	seus	bens.
Francis	A.	Schaeffer	ficou	impressionado	com	o	elemento	da	transição	e	chamou	Josué	de	um	livro-ponte.
[2]
Percebi	três	abordagens	principais	do	livro	de	Josué	ao	pesquisar	os	comentários	básicos.	Primeira,	existe
a	abordagem	liberal:	o	livro	é	considerado	principalmente	um	quebra-cabeça.	Ao	rejei	tar	suas	alegações
históricas,	os	liberais	se	esforçam	para	tentar	decidir	quem	de	fato	escreveu	o	livro,	quando	ele	foi	escrito
e	 o	 que	 aconteceu	 de	 verdade.	 Ao	 agir	 assim,	 os	 estudiosos	 podem	 produzir	 centenas	 de	 páginas	 de
especulações	 inúteis.	Segunda,	há	a	abordagem	conservadora	ou	 fundamentalista:	 Josué	é	 considerado
principalmente	uma	alegoria	 da	 vida	 cristã.	Os	 conservadores	não	duvidam	da	historicidade	 factual	 de
Josué;	no	entanto,	para	eles,	a	história	contida	ali	é	muito	menos	interessante	que	os	paralelos	percebidos
entre	a	era	antiga	e	a	experiência	“espiritual”	contemporânea.	A	terceira	abordagem,	representada	por
Schaeffer,	considera	 Josué	a	ponte	histórica	em	que	se	enfatiza	a	continuidade	na	 forma	de	Deus	 lidar
com	seu	povo.
Arthur	W.	 Pink	 observa,	 acho	 que	 com	 alguma	 justificativa,	 que	 essa	 abordagem	 pode	muito	 bem	 ser
sugerida	pela	primeira	palavra	do	texto	hebraico,	a	conjunção	hebraica	waw,	traduzida	de	modo	geral	por
e.	 Sim,	 sei	 que	 se	 trata	 muitas	 vezes	 só	 de	 uma	 questão	 de	 estilo	 literário	 hebraico.	 Diversas	 frases
hebraicas	começam	com	e.	Mas	não	é	apenas	algo	casual.	Pense	comigo.	Gênesis	não	começa	com	e.	Isso
já	 é	 esperado,	 pois	 se	 trata	 do	 livro	 dos	 começos	 e,	 como	 resultado,	 não	 há	 nada	 a	 que	 possa	 estar
vinculado	 antes.	 Gênesis	 começa	 com	 “Bere’shit	 bara’	 ’Elohim”	 (“No	 princípio	 criou	 Deus”).	 O	 livro
seguinte	 da	Bíblia,	 Êxodo,	 começa	 com	a	 conjunção	e,	 bem	 como	Levítico	 e	Números.[3]	 Isso	 indica	—
corretamente	—	que	os	livros	pertencem	um	ao	outro.	Gênesis,	Êxodo,	Levítico	e	Números	formam	uma
unidade	e	são	a	primeira	divisão	natural	da	nossa	Bíblia.
À	primeira	vista,	pode-se	pensar	que	Deuteronômio,	o	quinto	livro	da	Bíblia,	apresenta	um	problema		para
a	nossa	teoria.	O	livro	não	começa	com	a	letra	“e”,	embora	seja	o	livro	culminante	do	Pentateuco,	a	pedra
angular	da	lei.	No	entanto,	refletindo,	vemos	por	que	isso	é	razoável.	Deuteronômio	significa	literalmente
“a	segunda	lei”.[4]	Trata-se	da	reafirmação	da	lei,	fato	evidenciado	pela	repetição	dos	Dez	Mandamentos,
apresentados	pela	primeira	vez	em	Êxodo	20,	e	depois	repetidos	em	Deuteronômio	5.	Como	lei,	os	cinco
primeiros	livros	estão	conectados.	Mas,	como	história,	Deuteronômio	marca	um	novo	começo,	e	o	livro	de
Josué	se	inicia	de	acordo	com	ele.	De	Josué	em	diante	,	cada	livro	começa	com	a	conjunção	e,	conectando
assim	cada	novo	livro	ao	anterior,	até	chegar	a	1	Crônicas.	Logo,	os	livros	de	Deuteronômio	até	o	final	de
2	Reis	se	reúnem	e	formam	a	segunda	maior	divisão	histórica	da	nossa	Bíblia.
Também	por	isso	Josué	é	uma	ponte.	Em	Deuteronômio,	Moisés	é	o	líder	do	povo.	O	livro	de	Josué	começa
assim:	“Sucedeu,	depois	da	morte	de	Moisés”	(Js	1.1).	A	partir	daí,	Josué,	o	assessor	de	Moisés,	é	o	líder.
Deuteronômio	contém	instruções	sobre	o	que	o	povo	deve	fazer	quando	conquistar	a	terra.	Josué	cita	o
Senhor	dizendo:	“Dispõe-te,	agora,	passa	este	Jordão,	tu	e	todo	este	povo,	à	terra	que	eu	dou	—	aos	filhos
de	Israel.	Todo	lugar	que	pisar	a	planta	do	vosso	pé,	vo-lo	tenho	dado,	como	eu	prometi	a	Moisés”	(Js	1.2,
3).	O	 livro	 de	 Josué	 registra	 essa	 conquista,	 bem	como	a	 divisão	da	 terra	 após	 a	 conquista	—	 tudo	de
acordo	com	as	promessas	e	o	plano	de	Deus,	estabelecido	em	detalhes	específicos	em	Deuteronômio.
Portanto,	 o	 primeiro	 ponto	 importante	 de	 Josué	 é	 que	 os	 propósitos	 de	 Deus	 não	mudam.	 As	 pessoas
mudam:	todos	os	que	contavam	20	anos	ou	mais	e	que	saíram	do	Egito	com	Moisés	morreram	no	deserto.
Só	a	nova	geração	entrou	na	terra.	Os	líderes	mudam:	Josué	substituiu	Moisés.	Mas	Deus	não	muda.	Deus
é	o	mesmo,	e	os	propósitos	estabelecidos	por	ele	para	seu	povo	redimido	também	são	os	mesmos.
PALAVRA	ESCRITA
A	continuidade	entre	o	período	patriarcal	e	o	período	do	assentamento	judaico,	baseada	no	caráter	e	na
vontade	divina,	está	focada	na	Palavra	de	Deus	escrita	—	constituída	nesse	período	pelo	Pentateuco,	os
cinco	primeiros	livros	da	nossa	Bíblia.	Este	é	o	segundo	ponto	principal	de	Josué.	Em	Josué	1.1-9,	existem
dois	 parágrafos.	 O	 primeiro	 (v.	 1-5)	 articula	 a	 natureza	 do	 registro	 como	 um	 livro-ponte:	Moisés	 está
morto	e	agora	Josué	deve	assumir,	sabendo	que	Deus	estaria	com	ele	como	esteve	com	Moisés	(v.	5).	O
segundo	 parágrafo	 (v.	 6-9)	 destaca	 a	 Palavra	 de	 Deus	 escrita	 que	 Josué	 deveria	 obedecer	 enquanto
tomava	seu	lugar	na	sucessão.
De	 certa	 forma,	 esses	 versículos	 são	 os	mais	 importantes	 de	 todo	 o	 livro;	 Josué	 é	 uma	 grande	 figura
bíblica	pelo	fato	de	ter	obedecido	a	eles.
Sê	forte	e	corajoso,	porque	tu	farás	este	povo	herdar	a	terra	que,	sob	juramento,	prometi	dar	a	seus	pais.	Tão	somente
sê	forte	e	mui	corajoso	para	teres	o	cuidado	de	fazer	segundo	toda	a	lei	que	meu	servo	Moisés	te	ordenou;	dela	não	te
desvies,	 nem	 para	 a	 direita	 nem	 para	 a	 esquerda,	 para	 que	 sejas	 bem-sucedido	 por	 onde	 quer	 que	 andares.	 Não
cesses	 de	 falar	 deste	 Livro	 da	 lei;	 antes,	medita	 nele	 dia	 e	 noite,	 para	 que	 tenhas	 cuidado	 de	 fazer	 segundo	 tudo
quanto	nele	está	escrito;	então,	farás	prosperar	o	teu	caminho	e	serás	bem-sucedido.	Não	to	mandei	eu?	Sê	forte	e
corajoso;	não	temas,	nem	te	espantes,	porque	o	SENHOR,	teu	Deus,	é	contigo	por	onde	quer	que	andares.	(Js	1.6-9)	Os
versículos	detalham	o	relacionamento	especial	que	Josué	teria	com	a	lei	escrita	de	Moisés.	Algo
fundamental	aqui	é	o	fato	de	haver	a	lei	escrita	de	Moisés	e	que	era	essa	lei,	em	vez	de	alguma
intuição	natural	ou	experiência	esotérica,	que	deveria	ser	o	guia	e	a	fonte	de	bênção	de	Josué.
De	 todos	 os	muitos	 comentaristasque	 conheço	 sobre	 o	 livro	 de	 Josué,	 Francis	 Schaeffer	 é	 o
único	 que	 enfatiza	 isso	 de	 forma	 adequada,	 ao	 mostrar	 que	 a	 Palavra	 de	 Deus	 escrita	 é	 o
primeiro	e	o	maior	dos	muitos	fatores	imutáveis	da	história.	Os	liberais	não	lhe	dão	destaque;
de	fato,	nem	creem	nisso,	pois	para	o	liberalismo	é	fundamental	supor	que	os	livros	do	Antigo
Testamento	tenham	sido	escritos	muito	depois	dos	acontecimentos	descritos	neles.	Esses	livros
têm	a	 intenção	de	apresentar	os	pontos	 teológicos	de	uma	era	posterior,	 em	vez	de	 relatar	a
obra	de	Deus	real	na	história.	Segundo	a	maioria	dos	estudiosos	liberais,	o	Pentateuco	não	foi
escrito	nem	mesmo	na	época	da	conquista,	e	Deuteronômio,	o	último	dos	cinco	livros,	chegou
muito	tarde	nesse	longo	período	de	desenvolvimento.
O	entendimento	 liberal	 do	Pentateuco	está	 envolto	no	que	é	 chamado	 teoria	 JEPD.[5]	 Cada	 uma	 dessas
letras	representa	uma	fonte	ou	período	no	desenvolvimento	do	Pentateuco.	A	letra	J	representa	a	“fonte
javista”,	as	partes	mais	antigas	da	lei,	que	usam	o	nome	Javé	para	Deus.	A	letra	E	significa	“fonte	eloísta”.
Esse	 material	 usava	 a	 designação	 Elohim	 para	 Deus.	 Em	 seguida	 vem	 a	 letra	 P	 para	 designar	 os
documentos	 sacerdotais[6]	 e,	 por	 último,	 a	 letra	 D	 que	 repres	 enta	 as	 compilações	 da	 escola
deuteronomista	ou	deuteronômica.	Julius	Wellhausen,	que	publicou	essa	teoria	em	1878,	datou	os	escritos
da	lei	no	século	5	a.C.,	após	o	exílio	na	Babilônia.
Essa	não	é	a	imagem	em	Josué.	De	acordo	com	os	primeiros	parágrafos	deste	livro,	Josué	tinha	a	lei	de
Moisés.	Além	disso,	a	lei	de	Moisés	já	contava	com	o	status	elevado	de	revelação	divina.
	
Isso	 é	 algo	 realmente	 extraordinário	 e	 terrivelmente	 importante.	 Aqui	 está	 como	 Francis	 A.	 Schaeffer
expõe	isso:
Josué	 conhecia	Moisés,	 o	 escritor	 do	 Pentateuco,	 pessoalmente;	 ele	 conhecia	 as	 forças	 e	 fraquezas	 dele	 como	 um
homem;	ele	sabia	que	Moisés	era	pecador,	que	Moisés	cometia	enganos,	que	Moisés	era	apenas	um	homem.	Apesar	de
tudo,	 imediatamente	 depois	 da	 morte	 de	 Moisés,	 Josué	 aceitou	 o	 Pentateuco	 como	 algo	 mais	 que	 os	 escritos	 de
Moisés.	Ele	o	aceitou	como	escritos	de	Deus.	Não	foram	necessários	duzentos	ou	trezentos	anos	para	que	o	livro	se
tornasse	sagrado.	Para	Josué,	o	Pentateuco	era	o	cânon,	e	o	cânon	era	a	Palavra	de	Deus.	A	concepção	bíblica	sobre	a
ampliação	e	a	aceitação	do	cânon	é	simples	assim:	quando	ele	foi	dado,	o	povo	de	Deus	compreendeu	que	ele	era	a
Palavra.	No	mesmo	instante	ele	teve	autoridade.[7]
Isso	torna	Josué	o	primeiro	dos	 livros	bíblicos	modernos,	no	sentido	de	refletir	uma	situação	realmente
paralela	 à	 nossa.	 A	 Bíblia	 apresenta	 uma	 verdade	 atemporal;	 o	 Deus	 de	 Gênesis,	 Êxodo,	 Levítico,
Números	 e	 Deuteronômio	 é	 o	 Deus	 imutável	 —	 e	 também	 o	 nosso	 Deus.	 Mas	 nos	 livros	 anteriores	 a
situação	 era	 diferente.	 Deus	 falou	 diretamente	 a	 Abraão.	 Deus	 se	 encontrou	 com	 Moisés	 no	 monte.
Embora	 Josué	 seja	 pessoalmente	 confrontado	 pelo	 “príncipe	 do	 exército	 do	 SENHOR”	 no	 capítulo	 5,	 e
revelações	 específicas	 lhe	 sejam	dadas	para	 a	 condução	da	guerra	pelo	 	 sumo	 sacerdote,	 a	 situação	 é
diferente.	Como	nós,	 Josué	deveria	viver	em	obediência	à	Palavra	divina	escrita	e	não	na	esperança	de
revelações	especiais.
Mais	ainda:	é	a	Palavra	escrita	que	nos	 liga	a	 Josué	—	assim	ela	consistiu	no	vínculo	com	Moisés,	 seu
ilustre	predecessor.	De	fato,	a	Bíblia	nos	liga	a	Deus,	pois	Deus	decretou	que	ele	se	tornará	conhecido	só
por	meio	de	sua	Palavra.
COMISSÃO	DO	COMANDANTE
Por	mais	importante	que	fosse	possuir	a	Palavra	de	Deus	por	escrito,	como	também	a	possuímos,	isso	não
foi	suficiente	para	garantir	o	sucesso	de	Josué	como	o	novo	comandante	de	Israel.	Ele	não	devia	apenas
possuir	 a	 Bíblia	 em	 sentido	 técnico;	 deveria	 possuí-la	 de	 modo	 pessoal.	 Esse	 é	 o	 cerne	 do
comissionamento	divino.	Existem	quatro	partes	nele.	 Josué	deveria:	1.	Conhecer	a	Palavra	de	Deus.	Ou
seja,	 ele	 deveria	 lê-la	 e	 estudá-la.	 As	 palavras	 saber	 e	 estudar	 não	 são	 usadas	 na	 seção,	 mas	 outras
palavras	 as	 pressupõem.	 Se	 a	 lei	 de	 Moisés	 era	 o	 guia	 de	 Josué,	 como	 esses	 versículos	 indicam
claramente	 ser,	 então	 Josué	deveria	 saber	o	que	essa	 lei	dizia.	Os	cinco	primeiros	 livros	—	a	Bíblia	da
época	 —	 não	 seriam	 colocados	 na	 arca	 da	 aliança	 como	 relíquia	 reverenciada	 para	 ser	 vista	 com
admiração	de	tempos	em	tempos	e	nunca	tocada.	Ao	contrário,	Josué	teria	de	pegar	o	livro	regularmente
ou	fazer	uma	cópia	que	pudesse	manter	consigo	e,	então,	ler	e	estudar	enquanto	procurava	adequar	seu
pensamento	à	mente	de	Deus,	o	autor	do	livro.
Este	é	um	ponto	muito	 importante.	É	verdade	que	no	período	antigo,	antes	de	Gutenberg	ou	antes	dos
escribas	 conseguirem	 fazer	 um	 número	 razoável	 de	 cópias	 do	 texto	 de	 Moisés,	 o	 povo	 não	 possuía
exemplares	próprios	da	Bíblia.	Mas	isso	não	significa	que	a	Bíblia	era	inacessível	ou	que	eles	tinham	uma
desculpa	 para	 não	 conhecê-la.	 Josué	 deveria	 ler	 o	 livro.	Mais	 tarde,	 como	 na	 cerimônia	 realizada	 nos
montes	Ebal	e	Gerizim,	a	lei	deveria	ser	lida	na	íntegra	diante	de	todo	o	povo	(v.	Dt	31.11-13).
Também	não	acho	que	essa	fosse	uma	ideia	nova	para	Josué,	pois	não	duvido	que	ele	tivesse	captado	a
importância	da	lei	de	Moisés	nos	anos	de	convívio.	Se	Moisés	passou	grande	parte	dos	38	anos	anteriores
trabalhando	nesses	documentos	escritos	 (como	ele	sem	dúvida	 fez),	 Josué	deve	 ter	sido	 testemunha	do
trabalho,	tendo	chegado	a	valorizar	a	lei	e	conhecê-la	até	certo	ponto.	Em	outras	palavras,	ele	já	deveria
ser	 um	 estudante	 da	 Palavra,	 mesmo	 antes	 de	 Deus	 tê-lo	 comissionado	 para	 assumir	 suas	 novas
responsabilidades.
Você	procura	ser	líder	em	círculos	cristãos?	Está	desejoso	de	servir	a	Deus?	Um	desejo	como	esse	não	é
ruim;	é	bom.	Mas	se	 seu	desejo	é	 servir	a	Deus	como	 Josué,	então	você	deve	se	preparar	para	 isso.	A
melhor	maneira	possível	de	se	preparar	é	estudar	e	conhecer	a	Palavra	de	Deus.
2.	Falar	sobre	a	Palavra	de	Deus.	O	texto	diz:	“Não	cesses	de	falar	deste	Livro	da	lei”	(Js	1.8).	Claramente,
Josué	deveria	conversar	sobre	a	Bíblia	em	seu	convívio	diário	habitual	com	a	família,	soldados,	amigos	e
outras	pessoas	que	faziam	parte	da	nação.
Como	 isso	 é	 contrário	 ao	 que	 acontece	 com	 o	 cristianismo	 em	 muitos	 lugares	 hoje	 em	 dia.	 Nossos
contemporâneos	 são	 bastante	 tolerantes	 com	 as	 pessoas	 religiosas	 em	 alguns	 aspectos.	 Considera-se
esclarecido	 respeitar	 a	 prática	 religiosa	 alheia	 —	 desde	 que	 ela	 esteja	 no	 devido	 lugar	 (na	 igreja	 ou
sinagoga,	 no	 domingo	 ou	 no	 sábado)	 e	 não	 afete	 o	 restante	 da	 vida.	Mas	 deixe	 um	 discípulo	 de	Deus
começar	a	falar	sobre	a	Palavra	divina	no	trabalho	ou	enquanto	janta	com	amigos	ou	joga	golfe	no	clube
e,	de	repente,	a	tolerância	começa	a	desaparecer.	“Este	não	é	o	lugar	para	conversarmos	sobre	religião”,
dizem.	Se	a	prática	continuar,	é	provável	que	o	crente	tenha	de	procurar	novos	amigos.
3.	Meditar	na	Palavra	de	Deus.	A	meditação	é	um	passo	além	do	mero	conhecimento	da	Escritura	ou	de
apenas	 falar	 sobre	 ela.	 Ela	 abarca	 o	 raciocínio	 sobre	 a	 Palavra	 e	 a	 dedução	 de	 coisas	 a	 partir	 dela.	 A
meditação	objetiva	a	aplicação.	 Infelizmente,	essa	é	uma	disciplina	conhecida	por	poucos	cristãos	hoje.
Vivemos	 em	 uma	 época	 de	 superficialidade	 e	 papinha	 na	 boca.	 Como	 consequência,	 muitos	 cristãos
pensam	que	o	necessário	a	ser	feito	para	alguém	alcançar	o	sucesso	na	vida	cristã	consiste	em	ir	à	igreja,
prestar	atenção	ao	sermão,	ter	alguns	amigos	cristãos	e	continuar	seus	negócios	como	qualquer	um	faria.
Por	 isso	 os	 cristãos	 fazem	 tão	 pouca	 diferença	 na	 sociedade.	 Eles	 pensam	 como	 o	 mundo	 e,	 como
resultado,	 agem	 como	 ele.	 Sua	 conduta	 e	 a	 conduta	 dos	 pagãos,	 com	 exceção	 dos	 pecados	 mais
grosseiros,	são	indistinguíveis.	O	que	está	faltando?	O	elemento	ausente	é	meditação	profunda,	genuínae
persistente	na	Palavra	de	Deus.	Só	quando	a	Palavra	divina	entra	na	mente	e	começa	a	se	tornar	parte	do
raciocínio	e	pensamento	cotidiano	habitual	que	começamos	a	agir	de	maneira	diferente	e,	assim,	fazer	a
diferença.
4.	 Obedecer	 à	 totalidade	 da	 Palavra	 de	 Deus.	 O	 último	 elemento	 na	 lista	 de	 requisitos	 é	 o	 mais
importante.	 Josué	 não	 deveria	 apenas	 conhecer,	 falar	 e	 meditar	 sobre	 a	 lei	 de	 Moisés,	 mas	 devia
principalmente	obedecê-la.	Deus	disse:	 “[Tenhas]	o	cuidado	de	 fazer	segundo	 toda	a	 lei	que	meu	servo
Moisés	te	ordenou;	dela	não	te	desvies,	nem	para	a	direita	nem	para	a	esquerda	[...]	tenhas	cuidado	de
fazer	segundo	tudo	quanto	nele	está	escrito”	(Js	1.7-8).
Penso	que	aqui	fracassa	grande	parte	do	cristianismo	atual.	É	verdade	que	muitas	vezes	não	conhecemos
a	 Palavra	 de	 Deus	 como	 deveríamos.	 Não	 falamos	 disso	 com	 tanta	 frequência	 nem	 meditamos	 com
persistência	e	proveito	o	quanto	deveríamos.	Mas	na	era	de	erudição	amplamente	difundida	e	com	muitas
igrejas	biblicamente	orientadas	(embora	muitas	vezes	superficiais),	a	maioria	de	nós	conhece	o	suficiente
da	lei	de	Deus	para	se	sair	muito	melhor	na	vida	cristã.	Sabemos	o	que	é	certo;	apenas	não	praticamos	o
que	sabemos.	Não	somos	como	o	homem	justo	do	salmo	1:	“É	como	árvore	plantada	junto	a	corrente	de
águas,	que,	no	devido	tempo,	dá	o	seu	fruto,	e	cuja	folhagem	não	murcha;	e	tudo	quanto	ele	faz	será	bem-
sucedido”	(v.	3).	Somos	como	os	iníquos	cujas	obras,	mesmo	que	(no	caso	de	crentes	genuínos)	não	sejam
eles	mesmos,	são	“como	a	palha	que	o	vento	dispersa”	(v.	4).
HOMEM	PRÓSPERO
Quase	todos	querem	ser	prósperos	no	que	fazem,	mas	a	maioria	falha.	Qual	é	o	problema?	O	problema	é
que	não	seguimos	a	fórmula	divina	para	o	sucesso	dada	a	Josué.	Segundo	a	Bíblia,	o	segredo	do	sucesso
consiste	em	conhecer	a	Palavra	de	Deus,	falar	sobre	ela,	meditar	nela	e,	acima	de	tudo,	vivê-la.	No	mundo
de	Deus	não	há	substituição	para	a	obediência	total.
Por	 isso	 Josué	 foi	 tão	 bem-sucedido.	 Ele	 era	 um	 bom	 soldado,	 mas	 não	 era	 mais	 brilhante	 como
comandante	que	vários	outros	que	percorreram	os	campos	de	batalha	da	história	do	mundo.	Josué	era	um
líder	 de	 homens,	mas	 não	 era	mais	 talentoso	 que	muitos	 outros.	O	 grande	 segredo	 de	 Josué	 consistiu
transformar	em	sua	 função	conhecer	a	 lei	de	Deus	e	vivê-la.	Em	Deuteronômio	27,	há	 instruções	sobre
como	a	lei	deveria	ser	lida	no	monte	Ebal	e	no	monte	Gerizim	depois	que	o	povo	entrasse	e	começasse	a
se	 apossar	 da	 terra.	 Quando	 Josué	 chegou	 a	 esse	 ponto	 no	 desenrolar	 do	 plano	 divino,	 ele	 agiu
exatamente	assim	—	nos	mínimos	detalhes.	Josué	não	tentou	dar	palpites	sobre	as	instruções	de	Deus	ou
melhorá-las.	Além	disso,	quando	chegou	ao	 fim	da	vida,	essa	ainda	era	sua	principal	preocupação,	pois
instruiu	o	povo	com	quase	as	mesmas	palavras	pronunciadas	a	ele	por	Deus:	“Esforçai-vos,	pois,	muito
para	guardardes	e	cumprirdes	tudo	quanto	está	escrito	no	Livro	da	lei	de	Moisés,	para	que	dela	não	vos
aparteis,	nem	para	a	direita	nem	para	a	esquerda”	(Js	23.6).
Precisamos	disso	hoje,	não	de	métodos	cada	vez	mais	engenhosos,	menos	ainda	de	pessoas	cada	vez	mais
inteligentes,	mas	de	obediência	inteligente	e	motivada	pela	Palavra	viva	e	permanente	de	Deus.
2.	No	comando	(Josué	1.10-18)
Então,	 deu	 ordem	 Josué	 aos	 príncipes	 do	 povo,	 dizendo:	 Passai	 pelo	 meio	 do	 arraial	 e	 ordenai	 ao	 povo,	 dizendo:
Provede-vos	de	comida,	porque,	dentro	de	 três	dias,	passareis	 este	 Jordão,	para	que	entreis	na	 terra	que	vos	dá	o
SENHOR,	 vosso	 Deus,	 para	 a	 possuirdes.	 (Jo	 1.10,	 11)	O	primeiro	 capítulo	de	 Josué	 contém	duas	partes
principais:	 a	 que	 relata	 o	 chamado	 e	 comissionamento	 de	 Josué	 e	 a	 que	 conta	 como	 Josué
assumiu	o	comando	da	nação	e	começou	a	dar	instruções	para	a	entrada	na	Terra	Prometida.	A
ascensão	de	Josué	ao	comando	ocorreu	logo	após	seu	comissionamento.	O	mais	notável	é	que
Josué	parecia	temer	essa	responsabilidade.	Digo	isso	pois	as	palavras	mais	repetidas	no	capítulo
são	as	que	lhe	ordenam	não	ter	medo.	Deus	diz	a	Josué	que	seja	forte	e	cora	joso	três	vezes	(v.
6,	7,	9)	e	acrescenta:	“Não	temas;	nem	te	espante”	(v.	9).	No	final	do	capítulo,	o	povo	diz	a	Josué
a	mesma	coisa:	 “Sê	 forte	e	corajoso”	 (v.	18).	Portanto,	apesar	do	que	deve	 ter	sido	um	senso
muito	agudo	de	inadequação,	Josué	assumiu	de	fato	o	comando.	Desde	o	início,	ele	mostrou	ser
o	homem	de	Deus	para	o	momento.
Onde	 Josué	 obteve	 essa	 coragem?	 Como	 ele	 se	 tornou	 líder?	 As	 respostas	 para	 essas	 perguntas	 são
importantes	quando	procuramos	líderes	cristãos	nos	dias	atuais.
PASSADO	FIEL
O	primeiro	 ingrediente	para	 a	boa	 liderança	 é	 o	 que	Frederick	B.	Meyer,	 no	 seu	 comentário	de	 Josué,
designa	passado	fiel.[8]	Josué	é	a	personagem	principal	do	livro	que	leva	seu	nome,	mas	sua	história	não
começa	em	Josué.	Na	verdade,	começa	em	Êxodo	e	continua	nos	livros	de	Números	e	Deuteronômio.	De
fato,	 Josué	 aparece	 27	 vezes	 nessas	 narrativas,	 cada	 vez	 exemplificando	 uma	 imagem	 de	 fidelidade
exemplar.
Primeira	batalha
A	primeira	aparição	de	Josué	na	Bíblia	ocorre	em	Êxodo	17.8-16,	que	conta	a	primeira	batalha	travada
pelas	tribos	de	Israel	depois	de	terem	sido	guiadas	para	fora	do	Egito	por	Moisés	e	terem	atravessado	o
deserto	 até	 Refidim.	 A	 batalha	 foi	 contra	 os	 amalequitas,	 uma	 tribo	 semissemita	 que	 ocupava	 a	 vasta
região	desértica	entre	as	fronteiras	do	sul	da	Palestina	e	o	monte	Sinai.	Moisés	entregou	o	comando	das
tropas	judaicas	na	batalha	a	Josué.
Isso	significa	que		desde	o	início,	Josué	era	o	principal	soldado	de	Israel	sob	o	comando	geral	de	Moisés.
A	parte	significativa	da	história	é	a	descrição	de	como	a	batalha	foi	vencida	e	o	fato	de	seu	registro	no
livro	da	lei	como	recordação	posterior	e	para	beneficiar	Josué.	Afirma-se	que	enquanto	Josué	liderava	os
exércitos	 do	 Senhor	 contra	 os	 amalequitas,	 Moisés	 subiu	 em	 uma	 colina	 com	 vista	 para	 o	 campo	 de
batalha	 e	 levantou	 as	mãos	 como	 sinal	 da	 bênção	 divina.	 Enquanto	 suas	mãos	 estavam	 levantadas,	 os
israelitas	 venciam.	No	entanto,	quando	ele	 se	 cansou	e	abaixou	as	mãos,	 os	amalequitas	 começaram	a
derrotar	 Israel.	 Isso	 ficou	 claro	 para	Arão	 e	Hur,	 que	 estavam	 com	Moisés,	 de	modo	 que	 eles	 fizeram
Moisés	 se	 sentar	 sobre	 uma	grande	pedra	 enquanto	 se	 postaram	cada	um	ao	 lado	 dele	 apoiando	 seus
braços.	Eles	 fizeram	isso	até	o	pôr	do	sol,	quando	o	exército	amalequita	 foi	derrotado.	Não	duvido	que
isso	tenha	sido	uma	lição	para	Josué,	e	que	ele	a	aprendeu	de	forma	definitiva	e	bem.	Deus	poderia	ter
lhes	dado	a	vitória	sem	os	braços	erguidos	de	Moisés,	como	ele	fez	em	várias	outras	ocasiões.	Mas	nesta,
a	primeira	batalha	de	Israel,	os	braços	erguidos	de	Moisés	foram,	sem	dúvida,	o	modo	de	Deus	mostrar
que	a	batalha	não	pertence	aos	ágeis	nem	aos	poderosos,	mas	ao	Senhor.	Deus	concede	a	vitória.
Josué	 deve	 ter	 aprendido	—	 e	 a	 história	 foi	 registrada	 de	 forma	 explícita	 para	 seu	 benefício	 posterior
nessa	área	(Êx	17.14-16)	—	que	embora	ele	sempre	 fizesse	o	possível	para	ser	um	general	notável,	ele
teria	sucesso	apenas	na	medida	exata	da	bênção	do	Senhor.	Ele	teria	de	buscá-la.
Monte	Sinai
A	segunda	vez	que	vemos	Josué	é	no	monte	Sinai,	onde	Moisés	foi	chamado	por	Deus	para	receber	a	lei.
Quando	Moisés	subiu	ao	monte,	Josué	foi	com	ele,	parando	no	meio	do	caminho.	Ele	permaneceu	em	seu
posto	 no	 monte	 durante	 os	 40	 dias	 nos	 quais	 Moisés	 se	 reuniu	 com	 Deus:	 de	 Êxodo	 24.13,	 onde	 é
mencionado	pela	primeira	vez,	a	Êxodo	32,	quando	Moisés	desce	o	monte,	junta-se	a	Josué	e	volta	para	o
arraial	a	fim	de	reprimir	a	rebelião	que	surgiu.
Este	deve	ter	sido	um	período	extremamente	formativo	na	vida	de	Josué.	Êxodo	24.13,	que	o	menciona
especificamente,	é	precedido	por	versículos	que	contam	como	Moisés,	Arão,	Nadabe,	Abiú	e	os	70	anciãos
de	Israel	(incluindo	Josué)	“subiram	[o	monte]	e	viram	o	Deus	de	Israel,	sob	cujos	pés	havia	uma	como
pavimentaçãode	pedra	de	 safira,	que	 se	parecia	com	o	céu	na	 sua	claridade.	Ele	não	estendeu	a	mão
sobre	os	escolhidos	dos	filhos	de	Israel;	porém	eles	viram	a	Deus,	e	comeram,	e	beberam”	(Êx	24.9-11).
Essa	passagem	surpreendente	parece	descrever	uma	antecipação	de	algo	 similar	 ao	que	 chamamos	as
grandes	bodas	do	Cordeiro.	Eles	viram	Deus	e	realmente	comeram	e	beberam	em	sua	presença.
Se	essa	experiência	foi	de	alguma	forma	parecida	com	a	experiência	de	Isaías	ao	ver	o	Senhor	elevado
nas	alturas,	que	ele	descreve	no	sexto	capítulo	da	sua	profecia,	Josué	e	os	outros	devem	ter	sido	afetados
por	 essa	 revelação	 inescapável	 da	 santidade	 divina.	 Isso	 aumentaria	 o	 pavor	 de	 Josué	 em	 relação	 ao
pecado	 desenfreado,	 mais	 tarde	 descoberto	 no	 arraial,	 quando	 os	 israelitas	 se	 entregaram	 à	 orgia	 ao
redor	 do	 bezerro	 de	 ouro.	 Josué	 teria	 aprendido	 que	 o	 pecado	 é	 uma	 abominação	 que	 não	 pode	 ser
tolerada	entre	quem	professa	constituir	o	povo	de	Deus.
Espias
A	mais	 reveladora	das	muitas	 referências	 a	 Josué	em	Êxodo,	Números	 e	Deuteronômio	 é	 a	história	do
envio	dos	doze	espias	à	Terra	Prometida	em	Números	13	e	14.	No	que	diz	respeito	à	terra,	o	relato	dos
doze	espias	concordavam:	era	uma	terra	que	mana	leite	e	mel,	uma	boa	terra.	Eles	até	trouxeram	de	volta
um	imenso	cacho	de	uvas,	romãs	e	figos	como	prova	da	fertilidade	da	terra.	Mas	é	aí	que	a	semelhança
termina.	Dez	dos	doze	espias	acrescentaram:	O	 povo,	 porém,	 que	 habita	 nessa	 terra	 é	 poderoso,	 e	 as	 cidades,	mui
grandes	 e	 fortificadas;	 também	 vimos	 ali	 os	 filhos	 de	 Anaque.	 Os	 amalequitas	 habitam	 na	 terra	 do	 Neguebe;	 os	 heteus,	 os
jebuseus	e	os	amorreus	habitam	na	montanha;	os	cananeus	habitam	ao	pé	do	mar	e	pela	ribeira	do	Jordão	[...]	Não	poderemos
subir	contra	aquele	povo,	porque	é	mais	forte	do	que	nós.	A	terra	pelo	meio	da	qual	passamos	a	espiar	é	terra	que	devora	os	seus
moradores;	e	 todo	o	povo	que	vimos	nela	são	homens	de	grande	estatura.	Também	vimos	ali	gigantes	(os	 filhos	de	Anaque	são
descendentes	de	gigantes),	e	éramos,	aos	nossos	próprios	olhos,	como	gafanhotos	e	assim	também	o	éramos	aos	seus	olhos.	(Nm
13.28,	29,	31-33)	De	todos	os	espias,	somente	dois,	Josué	e	Calebe,	pensaram	diferente.	Calebe	disse,	“Eia!
Subamos	e	possuamos	a	terra,	porque,	certamente,	prevaleceremos	contra	ela”	(Nm	13.30).
As	pessoas	da	terra	eram	as	mesmas,	independente	de	quem	estivesse	olhando.	A	diferença	no	relato	se
devia	apenas	ao	fato	de	os	espias	estarem	ou	com	os	olhos	em	Deus,	como	ocorreu	com	Josué	e	Calebe,
ou	 terem	 se	 esquecido	 de	Deus,	 como	 aconteceu	 com	 os	 outros	 dez.	 Algumas	 pessoas	 eram	 gigantes;
Calebe	mais	tarde	pediu	para	conquistar	alguns	deles.	Mas	quando	os	espias	mantiveram	seus	olhos	em
Deus,	 os	 gigantes	 encolheram-se	 em	 proporções	 razoáveis.	 Os	 dois	 espias	 estavam	 certos	 em	 dizer:
“Certamente,	prevaleceremos	contra	ela”.	Mais	adiante	na	história,	acrescentam:	“A	terra	pelo	meio	da
qual	 passamos	 a	 espiar	 é	 terra	muitíssimo	 boa.	 Se	 o	 SENHOR	 se	 agradar	 de	 nós,	 então,	 nos	 fará	 entrar
nessa	terra	e	no-la	dará,	terra	que	mana	leite	e	mel”	(Nm	14.7,	8).	Quando	os	dez	se	esqueceram	de	Deus,
os	gigantes	pareciam	enormes	e	eles,	como	gafanhotos	aos	seus	próprios	olhos.
Sabemos,	 é	 claro,	 que	 o	 povo	 de	 Israel	 decidiu	 seguir	 o	 relato	 da	 maioria,	 esquecendo-se	 de	 Deus	 e
desprezando	sua	promessa.	Por	isso,	tiveram	de	perambular	pelo	deserto	pelos	próximos	38	anos,	até	que
todas	 as	 pessoas	 com	 mais	 de	 20	 anos	 de	 idade	 tivessem	 morrido.	 Esse	 foi	 um	 momento	 decisivo	 e
trágico.	 No	 entanto,	 foi	 um	 grande	 momento	 para	 Calebe	 e	 Josué.	 Os	 dois	 defenderam	 Deus	 e	 suas
promessas,	e	ainda	agiam	dessa	maneira	quase	40	anos	depois,	quando	chegaram	de	novo	à	fronteira	da
terra.
Josué	aprendeu	que	nem	sempre	a	maioria	está	correta.
Ele	aprendeu	que	a	descrença	é	fatal.
Ele	aprendeu	que,	no	fim,	a	única	coisa	que	realmente	importa	é	confiar	e	obedecer	a	Deus.	Ele	de	fato
obedeceu,	foi	fiel	até	o	fim.
Comissionamento	de	Josué
O	quarto	 incidente	 importante	na	carreira	de	 Josué,	anterior	aos	dos	acontecimentos	descritos	no	 livro
que	 leva	 seu	 nome,	 foi	 o	 comissionamento	 humano	 para	 suceder	 Moisés.	 A	 história	 se	 encontra	 em
Números	27.18-23,	mas	seus	ecos	ressoam	muitas	vezes	depois.	Lê-se	no	relato:	Disse	o	SENHOR	a	Moisés:	Toma
Josué,	filho	de	Num,	homem	em	quem	há	o	Espírito,	e	impõe-lhe	as	mãos;	apresenta-o	perante	Eleazar,	o	sacerdote,	e	perante	toda
a	congregação;	e	dá-lhe,	à	vista	deles,	as	tuas	ordens.	Põe	sobre	ele	da	tua	autoridade,	para	que	lhe	obedeça	toda	a	congregação
dos	filhos	de	Israel.	Apresentar-se-á	perante	Eleazar,	o	sacerdote,	o	qual	por	ele	consultará,	segundo	o	juízo	do	Urim,	perante	o
SENHOR;	 segundo	 a	 sua	 palavra,	 sairão	 e,	 segundo	 a	 sua	 palavra,	 entrarão,	 ele,	 e	 todos	 os	 filhos	 de	 Israel	 com	 ele,	 e	 toda	 a
congregação.
Fez	Moisés	como	lhe	ordenara	o	SENHOR,	porque	tomou	a	Josué	e	apresentou-o	perante	Eleazar,	o	sacerdote,	e	perante
toda	a	congregação;	e	lhe	impôs	as	mãos	e	lhe	deu	as	suas	ordens,	como	o	SENHOR	falara	por	intermédio	de	Moisés.
(Nm	 27.18-23)	 Mais	 tarde	 o	 SENHOR	 ordenou	 a	 Josué	 dizendo:	 “Sê	 forte	 e	 corajoso,	 porque	 tu
introduzirás	os	filhos	de	Israel	na	terra	que,	sob	juramento,	lhes	prometi;	e	eu	serei	contigo”	(Dt
31.23).
Suponho	que	o	comissionamento	tenha	ocorrido	alguns	anos	antes	da	morte	de	Moisés.	Portanto,	houve
um	período	 em	que	 Josué	havia	 sido	 apontado	 como	 sucessor	 de	Moisés,	mas	 ainda	 era	 o	 segundo	na
cadeia	de	comando	—	como	Davi	que	foi	ungido	rei,	enquanto	Saul	ocupava	o	trono.	Em	casos	como	esse
o	sucessor	poderia	se	comportar	mal.	Poderia	se	vangloriar	dizendo:	“Eu	sou	o	sucessor	de	Moisés”.	Ou
poderia	tentar	acelerar	a	transição:	“Não	dê	ouvidos	a	Moisés;	ele	está	ficando	velho.	Ouçam-me”.	Josué
não	fez	nada	disso.	Ele	continuou	a	se	comportar	de	maneira	modesta	e	leal	até	que,	no	tempo	perfeito	de
Deus,	a	transição	ocorreu	de	fato.	No	final	de	Deuteronômio,	no	mesmo	capítulo	que	relata	a	morte	de
Moisés,	diz-se	de	 Josué:	“Josué,	 filho	de	Num,	estava	cheio	do	espírito	de	sabedoria,	porquanto	Moisés
impôs	sobre	ele	as	mãos;	assim,	os	filhos	de	Israel	lhe	deram	ouvidos	e	fizeram	como	o	SENHOR	ordenara	a
Moisés”	(Dt	34.9).
Frederick	B.	Meyer	escreveu	a	respeito	dos	anos	de	preparação	de	Josué	para	a	liderança:	“No	caso	dele,
como	sempre,	a	regra	eterna	se	manteve	válida:	a	fidelidade	em	algumas	coisas	é	a	condição	para	reinar
sobre	muitas;	e	a	lealdade	do	servo	é	o	trampolim	para	a	realeza	do	trono”.[9]
CHAMADO	ESPECÍFICO
O	segundo	ingrediente	necessário	para	a	liderança	cristã	forte	é	o	chamado.	Há	um	sentido	importante
em	que	 todos	somos	chamados	a	servir	a	Deus.	Devemos	ser	discípulos	de	 Jesus	Cristo	e	realizar	boas
obras	(v.	Lc	9.23;	Ef	2.10).	Entretanto,	estou	me	referindo	a	algo	que	vai	além	disso.	É	o	chamado	para
uma	 tarefa	 específica,	 e	 dá	 ao	 líder	 força	 na	 execução	 dela	—	 força	 de	 que	 ele	 não	 disporia	 se	 não	 a
tivesse	recebido.	Josué	recebeu	o	chamado	de	duas	maneiras:	primeira,	no	comissionamento	por	Moisés,
registrado	em	Números	27;	segunda,	na	ordem	detalhada	de	Deus	logo	antes	da	conquista.	Por	causa	de
Deus	ter	dito:	“Dispõe-te,	agora,	passa	este	Jordão,	tu	e	todo	este	povo,	à	terra	que	eu	dou	—	aos	filhos	de
Israel”	(Js	1.2),	que	Josué	declarou:	“Provede-vos	de	comida,	porque,	dentro	de	três	dias,	passareis	este
Jordão,	para	que	entreis	na	terra	que	vos	dá	o	SENHOR,	vosso	Deus,	para	a	possuirdes”	(Js	1.11).
No	momento	da	chegada	do	chamado,	 Josué	era	um	dos	dois	únicos	homens	em	 Israel	qu	e	realmente
sabia	o	que	estava	por	 vir.	 Josué	e	Calebe	haviam	entrado	em	Canaã	com	os	12	espias	38	anos	antes.
Assim,	ele	conhecia	a	força	do	inimigo.	Vira	as	cidades	muradas.	Olhara	para	os	gigantes	com	reverência.
Humanamente	 falando,	o	relato	da	maioria	estava	certo:	as	pessoas	daquela	terra	eram	invencíveis.	Se
Deus	não	estivesse	com	os	judeusna	conquista	eles	seriam	derrotados	e	destruídos	por	completo.
Mas	Josué	não	enxergava	as	coisas	apenas	do	ponto	de	vista	humano.	Ele	nunca	elaborou	uma	equação
militar	sem	Deus	como	fator	determinante.	Quando	Deus	o	chamou,	a	possibilidade	de	conquistar	a	terra
—	 que	 sempre	 existiu	 para	 ele,	 pois	 com	 Deus	 todas	 as	 coisas	 são	 possíveis	—	 agora	 se	 tornou	 uma
certeza,	e	ele	avançou	com	vigor.	Nenhuma	pessoa	é	tão	invencível	quanto	quem	tem	certeza	de	que	Deus
a	chamou	para	uma	tarefa.	Ninguém	é	tão	ousado	quanto	quem	sabe	que	Deus	já	lhe	concedeu	a	vitória.
O	 chamado	 específico	 de	Deus	 vem	de	maneiras	 diferentes,	 e	 é	 importante	 aguardá-lo	 ou	 buscá-lo,	 se
ainda	não	tiver	chegado.	Muitas	pessoas	receberam	o	chamado	específico	de	Deus	enquanto	estudavam
as	 Escrituras,	 reconhecendo	 que	 o	 que	 liam	 continha	 uma	 aplicação	 específica	 para	 sua	 vida.	 Alguns
receberam	o	chamado	específico	por	meio	das	circunstâncias,	alguns	por	intermédio	da	ação	divina	em
outras	pessoas.	Calvino	foi	chamado	para	sua	grande	obra	em	Genebra	por	William	Farel,	que	o	ameaçou
com	 o	 juízo	 divino	 se	 ele	 não	 permanecesse	 e	 ajudasse	 na	 Reforma.	 Recebi	 meu	 chamado	 para	 o
ministério	de	maneira	subjetiva	quando	era	bem	jovem.	Eu	sabia	que	Deus	me	havia	chamado	para	fazer
isso.	Como	digo,	chamados	específicos	chegam	ao	povo	de	Deus	de	maneiras	diferentes;	mas	sem	levar
em	consideração	como	eles	 vêm,	 são	um	 ingrediente	 importante	na	 liderança.	Quem	 foi	 chamado	para
uma	obra	por	Deus	não	pode	ter	outra	prioridade.
REVELAÇÃO	OBJETIVA
O	terceiro	ingrediente	para	a	liderança	cristã	forte	é	a	revelação	objetiva.	A	Bíblia	não	deve	ser	apenas
algo	que	nos	pertence,	como	se	pode	ter	outro	livro	e	colocá-lo	em	uma	prateleira	para	fins	decorativos
ou	 como	 referência.	 Ao	 contrário,	 devemos	 tomar	 posse	 dela	 internamente	 à	 medida	 que	 estudamos,
falamos,	meditamos	e	obedecemos	às	palavras	dessa	revelação.	Como	vimos	no	último	estudo,	nada	é	tão
essencial	para	o	sucesso	no	serviço	a	Deus	quanto	o	conhecimento	e	a	fundamentação	na	Bíblia.
O	 importante	 aqui	 é	 reconhecer	 a	 necessidade	 desse	 padrão	 objetivo	 para	 controlar	 nossas	 sugestões
subjetivas	sobre	a	direção	divina.	Se	somos	chamados	para	um	trabalho	específico	é	inevitável	que	uma
medida	 desse	 chamado	 seja	 subjetivo.	 A	 Bíblia	 não	 diz	 de	 forma	 específica	 o	 que	 você	 deve	 fazer	 em
termos	 de	 vocação	 para	 a	 vida.	 Se	 Deus	 o	 chamou	 para	 ser	 diplomata,	 você	 não	 encontrará	 a	 Bíblia
dizendo:	“João,	eu	quero	que	você	trabalhe	no	 ‘ministério	de	relações	exteriores’”.	Deus	pode	chamá-lo
para	 essa	 responsabilidade,	 mas	 se	 o	 fizer,	 terá	 de	 ser	 de	 maneira	 subjetiva,	 mediante	 o	 senso	 de
chamado	pessoal,	por	meio	de	outras	pessoas	(talvez	da	igreja)	ou	das	circunstâncias.
Mas,	se	for	esse	o	caso,	como	uma	pessoa	pode	evitar	ser	levada	pela	subjetividade?	Como	você	pode	se
proteger	de	responder	de	modo	subjetivo	a	toda	multidão	conflitante	de	circunstâncias?	A	resposta	é	por
meio	do	conhecimento	das	Escrituras,	colocando-a	no	coração	para	que	as	categorias	da	Bíblia	comecem
a	formar	o	padrão	do	seu	pensamento	e	você	comece	a	avaliar	as	circunstâncias	e	os	conselhos	dos	outros
como	o	próprio	Jesus	faria	se	estivesse	no	seu	lugar.
Sugiro	que	a	condução	específica	de	Deus	ocorre	99%	das	vezes	por	meio	das	Escrituras	e,	na	melhor
hipótese,	apenas	1%	das	vezes	por	intermédio	de	algo	subjetivo.	Mesmo	assim,	os	elementos	subjetivos
devem	ser	avaliados	e	corrigidos	pelas	Escrituras.	Vemos	um	exemplo	em	Josué	1.	Deus	disse	a	Josué	que
havia	chegado	a	hora	de	o	povo	de	Israel	tomar	posse	da	Terra	Prometida.	Isso	pode	ter	sugerido	vários
planos	específicos	para	Josué,	planos	que	ele	pode	ter	validado	com	base	no	chamado	pessoal	para	ser	o
líder	do	povo.	Embora	seu	chamado	fosse	real,	e	parte	do	sucesso	de	Josué	como	líder,	ainda	assim	ele
formou	os	planos	de	acordo	com	a	revelação	escrita.
Em	Números	32	e	Deuteronômio	3.18-20	estava	registrado	que	as	duas	tribos	de	Rúben	e	Gade	e	a	meia
tribo	de	Manassés	deveriam	receber	a	terra	a	leste	do	Jordão,	mas	seus	homens	deveriam	lutar	ao	lado
dos	 guerreiros	 das	 outras	 tribos,	 a	 oeste	 do	 Jordão,	 até	 que	 a	 Terra	 Prometida	 fosse	 tomada.	 Josué
lembrou-se	desse	 trecho	das	Escrituras	e	 fez	 isso	se	 tornar	parte	das	ordens	para	essas	 tribos	desde	o
início	(v.	Js	1.13-15).
FÉ	EM	DEUS
O	último	ingrediente	para	a	liderança	cristã	eficiente	é	a	fé	em	Deus.	Isso	é	tão	necessário	hoje	quanto
nos	dias	de	Josué.
Na	primeira	parte	de	Josué	1,	há	um	versículo	citado	no	Novo	Testamento	(NT)	e	aplicado	a	nós	que	diz
respeito	ao	assunto.	No	versículo	5,	Deus	diz	ao	grande	comandante	militar:	“Assim	serei	contigo;	não	te
deixarei,	nem	te	desampararei”.	(A	mesma	coisa	é	dita	a	Israel	por	Moisés	em	Dt	31.6.)	O	texto	é	citado
pelo	autor	de	Hebreus	em	13.5:	“De	maneira	alguma	te	deixarei,	nunca	jamais	te	abandonarei”,	ao	que	o
escritor	acrescenta:	“Assim,	afirmemos	confiantemente:	O	Senhor	é	o	meu	auxílio,	não	temerei;	que	me
poderá	 fazer	o	homem?”	 (v.	6).	Foi	exatamente	 isso	que	 Josué	experimentou	e	o	que	deve	 ter	dito	a	 si
mesmo	centenas	de	vezes.	Deus	era	por	ele.	Deus	o	havia	chamado.	Ele	confiava	em	Deus.	Portanto,	Josué
levaria	o	povo	à	batalha	sabendo	que	seria	invencível	enquanto	Deus	continuasse	a	seu	lado.
As	pessoas	seguem	um	líder	assim	porque	segui-lo	é	o	mesmo	que	seguir	a	Deus.	Por	isso	encontramos	o
encerramento	desse	capítulo	com	as	palavras:	 “Então,	 responderam	a	 Josué,	dizendo:	Tudo	quanto	nos
ordenaste	 faremos	e	aonde	quer	que	nos	enviares	 iremos.	Como	em	 tudo	obedecemos	a	Moisés,	assim
obedeceremos	a	ti;	tão	somente	seja	o	SENHOR,	teu	Deus,	contigo,	como	foi	com	Moisés.	Todo	homem	que
se	 rebelar	 contra	 as	 tuas	 ordens	 e	 não	 obedecer	 às	 tuas	 palavras	 em	 tudo	 quanto	 lhe	 ordenares	 será
morto;	tão	somente	sê	forte	e	corajoso”	(Js	1.16-18).
O	povo	não	havia	“obedecido	em	tudo”	a	Moisés,	é	claro,	e	não	obedeceria	a	Josué	em	tudo.	Mas	isso	não
perturbou	Josué.	Ele	se	manteve	firme	e	cumpriu	seu	dever	até	o	fim.
3.	Raabe	contra	mundum	(Josué	2.1-24)
Bem	sei	que	o	SENHOR	vos	deu	esta	terra,	e	que	o	pavor	que	 infundis	caiu	sobre	nós,	e	que	todos	os	moradores	da
terra	estão	desmaiados.	Porque	temos	ouvido	que	o	SENHOR	secou	as	águas	do	mar	Vermelho	diante	de	vós,	quando
saíeis	do	Egito;	e	também	o	que	fizestes	aos	dois	reis	dos	amorreus,	Seom	e	Ogue,	que	estavam	além	do	Jordão,	os
quais	 destruístes.	Ouvindo	 isto,	 desmaiou-nos	 o	 coração,	 e	 em	ninguém	mais	 há	 ânimo	 algum,	 por	 causa	 da	 vossa
presença;	porque	o	SENHOR,	vosso	Deus,	é	Deus	em	cima	nos	céus	e	embaixo	na	terra.	Agora,	pois,	jurai-me,	vos	peço,
pelo	SENHOR	que,	assim	como	usei	de	misericórdia	para	convosco,	também	dela	usareis	para	com	a	casa	de	meu	pai;	e
que	me	dareis	um	sinal	certo	de	que	conservareis	a	vida	a	meu	pai	e	a	minha	mãe,	como	também	a	meus	irmãos	e	a
minhas	 irmãs,	com	tudo	o	que	têm,	e	de	que	 livrareis	a	nossa	vida	da	morte.	 (Jo	2.9-13)	Seria	um	milagre	tão
grande	quanto	a	travessia	do	Jordão	ou	a	destruição	dos	muros	de	Jericó	se	Raabe,	a	meretriz
amorreia,	 conhecesse	 latim.	O	 latim	 só	 chegou	 à	 Palestina	 na	 ocupação	 romana	mais	 de	mil
anos	depois	de	seu	tempo.	Ainda	assim,	se	ela	soubesse	latim,	Raabe	poderia	ter	descrito	s	ua
situação	em	Jericó,	na	época	da	conquista	judaica	como,	Raabe	contra	mundum:	Raabe	“contra
o	mundo”.
Estudantes	da	história	da	igreja	conhecem	a	expressão	contra	mundum,	pois	ela	foi	usada	por	Atanásio,
Pai	da	Igreja	Primitiva,	para	descrever	sua	situação	no	século	IV.	Atanásio	nasceu	em	Alexandria	(Egito),
por	volta	de	295	d.C.,	e	morreu	em	373	d.C.,	cheio	de	dias	e	honras.	Sua	vida	não	foi	fácil.	Esses	foram	os
anos	das	grandes	controvérsias	trinitárias	e,	durante	grande	parte	do	período,	Atanásio	foi	quase	o	único
defensor	 do	 que	 reconhecemos	 hoje	 como	 cristianismo	 ortodoxo.	 Em	 suma,	 Atanásio	 defendeu	 a
divindade	de	Jesus	ao	reconhecer	que	a	salvação	dependede	ele	ser	totalmente	Deus.	Ele	sofreu	oposição
de	todos	os	lados.	Imperadores	o	denunciaram	e	o	enviaram	ao	exílio.	Foi	exilado	do	bispado	cinco	vezes.
A	igreja	se	voltou	contra	ele.	Durante	décadas,	foi	realmente	Atanásio	contra	todos.	No	entanto,	apesar
de	sua	posição	ter	sido	dura	e	dolorosa,	ele	defendia	a	causa	do	verdadeiro	Deus,	e	Deus	o	preservou	e
deu-lhe	a	vitória	total	no	final.
Imagino	assim	Raabe	e	seu	posicionamento	contra	o	mundo	de	Canaã.	De	fato,	de	certa	forma,	a	história
dela	 é	 maior	 que	 a	 de	 Atanásio,	 pois	 Raabe	 não	 conhecia	 Jesus	 Cristo.	 Ela	 não	 dispunha	 da	 Bíblia.
Nenhum	pregador	proclamou	a	verdade	de	Deus	para	ela.	No	entanto,	Raabe	ouviu	sobre	Deus	e	decidiu
segui-lo,	sem	levar	em	consideração	o	que	a	decisão	lhe	custaria.
RAABE	E	OS	ESPIAS
A	história	de	Raabe	se	passa	no	contexto	da	conquista	de	Canaã.	Ela	está	entrelaçada	com	a	história	do
envio	de	dois	espias	por	Josué	a	Jericó,	como	Moisés	havia	enviado	12	espias	para	relatar	o	que	viram	na
terra	 anos	 antes.	 É	 interessante	 Josué	 ter	 enviado	 dois	 espias.	 Quando	 Moisés	 enviou	 os	 12	 judeus
infiltrados,	38	anos	antes,	apenas	dois	retornaram	com	o	relatório	fiel	de	que	Deus	daria	a	terra	ao	povo.
Josué	era	um	deles,	e	seu	bom	amigo	Calebe	o	outro.
Na	 ocasião,	 Josué	 não	 quis	 repetir	 o	 desastre	 anterior	 e,	 talvez	 de	 maneira	 simbólica,	 escolheu	 dois
homens	que,	sem	dúvida,	foram	selecionados	com	cuidado	e	de	quem	se	esperava	um	relatório	de	fé,	não
de	descrença.	Além	disso,	creio	que	ele	foi	dirigido	por	Deus	na	ação.	O	texto	não	diz	isso	diretamente,	e
alguns	 supõem	 que	 Josué	 tenha	 errado	 ao	 enviar	 espias,	 dizendo	 que	 ele	 deveria	 apenas	 confiar	 no
Senhor	e	seguir	em	frente.	Mas	Deus	dissera	a	Moisés	para	enviar	os	12	espias	antes,	apesar	do	resultado
(Nm	13.1-2),	e	é	razoável	supor	que	Deus	havia	instruído	Josué	a	fazer	o	mesmo.	Os	espias	deveriam	se
dirigir	a	Jericó	e	então	reportar	o	que	viram	para	servir	de	preparação	para	o	ataque	que	ocorreria	uns
dias	depois.
Se	os	espias	 foram	enviados	em	obediência	ao	mandamento	divino,	 como	 temos	 todos	os	motivos	para
crer,	provavelmente	também	estamos	certos	em	pensar	no	seu	envio	para	salvar	Raabe	e	não	apenas	para
trazer	 informações	 de	 volta.	 Josué	 não	 precisava	 de	 informações	 sobre	 Jericó.	 Eram	 necessários	 os
arranjos	pelos	quais	Raabe	e	sua	família	seriam	salvos	quando	Jericó	fosse	tomada.
A	situação	aqui	é	semelhante	à	de	João	4.4,	passagem	que	nos	informa	sobre	Jesus:	“Era-lhe	necessário
atravessar	a	província	de	Samaria”.	A	estrada	samaritana	não	era	a	única	via	para	a	Galileia.	De	modo
geral,	 tomava-se	 outro	 caminho.	 Contudo,	 Deus	 tinha	 um	 de	 seus	 filhos	 eleitos	 residindo	 na	 cidade	 e,
como	 Jesus	 ensinou,	 nenhuma	 ovelha	 eleita	 perecerá.	 Jesus	 entrou	 em	 Samaria	 para	 salvar	 a	 mulher
samaritana.	Da	mesma	forma,	os	dois	espias	foram	enviados	a	Jericó	para	salvar	Raabe.	Eles	não	sabiam
disso,	 é	 claro,	 como	 não	 sabemos	 o	 resultado	 quando	 somos	 enviados	 por	 Deus	 em	 alguma	 missão.
Todavia,	 na	 visão	 divina	 das	 coisas,	 esse	 era	 o	motivo.	Deus	 atuava	 no	 coração	 de	Raabe,	 levando-a	 à
verdadeira	 fé,	 e	 agora	 ele	 enviava	 seus	mensageiros	 para	 lhe	 confirmar	 a	 fé	 e	 salvá-la	 fisicamente.	 É
interessante	 que	 a	 primeira	 personagem	 do	 grande	 livro	 de	 Josué,	 além	 do	 próprio	 Josué,	 seja	 essa
mulher,	e	a	primeira	história	real	seja	a	dela.
GRAÇA	ABUNDANTE
Outra	maneira	de	dizer	o	mesmo	é	afirmar	que	a	primeira	história	de	Josué	é	um	relato	da	misericórdia
divina,	 não	 da	 ira.	 Josué	 é	 um	 livro	 de	 conquistas	 duras,	 e	 a	 premissa	 da	 natureza	 particularmente
destrutiva	da	conquista	é	que	“a	iniquidade	dos	amorreus”	havia	atingido	a	medida	plena	(v.	Gn	15.16).
Ou	 seja,	 estava	na	hora	do	 juízo	do	povo.	Por	 todo	o	 livro	de	 Josué,	 vemos	Deus	ordenar	aos	 judeus	a
destruição	 total	 das	 nações	 que	 ocupavam	 a	 terra,	 um	 julgamento	 com	 o	 paralelo	 mais	 próximo	 na
destruição	do	povo	da	terra	(exceto	Noé	e	sua	família)	no	momento	do	grande	Dilúvio.	No	entanto,	mesmo
neste	livro	de	juízo	severo	e	absoluto,	a	primeira	história	é	sobre	a	salvação	da	meretriz	de	Jericó.
Esta	é	uma	história	de	grande	misericórdia,	pois,	humanamente	falando,	não	acontecia	nada	na	vida	de
Raabe.	Isso	é	tão	impressionante	que	vale	a	pena	listar	as	desvantagens	de	Raabe.	Ela	era:	1.	Gentia.	É
verdade	que,	 ao	 longo	da	 longa	história	 do	povo	 judeu,	Deus	demonstrara	 a	 tendência	maravilhosa	de
alcançar	e	salvar	certos	representantes	gentios.	Pensamos	em	Rute,	a	moabita,	ou	Naamã,	o	sírio.	Ainda
assim,	como	Jesus	disse	mais	tarde:	“A	salvação	vem	dos	judeus”	(Jo	4.22),	e	as	únicas	vantagens	reais	em
relação	 à	 verdadeira	 religião	 estavam	 no	 judaísmo.	 Paulo	 perguntou	 retoricamente:	 “Qual	 é,	 pois,	 a
vantagem	 do	 judeu?”.	 E	 respondeu:	 “Muita,	 sob	 todos	 os	 aspectos.	 Principalmente	 porque	 aos	 judeus
foram	confiados	os	oráculos	de	Deus”	(Rm	3.1,2);	“Pertence-lhes	a	adoção	e	também	a	glória,	as	alianças,
a	legislação,	o	culto	e	as	promessas;	deles	são	os	patriarcas,	e	também	deles	descende	o	Cristo”	(Rm	9.4,
5).	 Nem	 todas	 as	 vantagens	 foram	 totalmente	 possuídas	 por	 Israel	 no	 momento	 da	 conquista,	 mas	 a
maioria	delas	era,	e	—	eis	o	ponto	—	Israel	as	possuía.	Raabe	não	contava	com	nada	disso.	Ela	era	gentia
e,	portanto,	como	Paulo	disse	mais	tarde	aos	efésios,	os	estrangeiros	naquele	tempo	eram	“estranhos	às
alianças	da	promessa,	não	tendo	esperança	e	sem	Deus	no	mundo”	(Ef	2.12).
2.	Amorreia.	Os	amorreus	eram	apenas	um	dos	muitos	povos	que	ocupavam	Canaã	nesse	tempo.	A	lista
padrão	inclui:	“O	queneu,	o	quenezeu,	o	cadmoneu,	o	heteu,	o	ferezeu,	os	refains,	o	amorreu,	o	cananeu,
o	 girgaseu	 e	 o	 jebuseu”	 (Gn	 15.19-21;	 v.	Nm	13.29).	Mas	 entre	 esses	muitos	 povos,	 que	 deveriam	 ser
destruídos	 pela	 iniquidade,	 os	 amorreus	 foram	 escolhidos	 para	 uma	 condenação	 particular	 por	 seus
pecados.	Eles	eram	um	povo	corrupto	e	vil,	até	as	crianças	eram	sacrificadas	em	suas	práticas	religiosas
depravadas.
3.	Prostituta.	Foram	feitas	tentativas	diferentes	de	isentar	Raabe	da	plena	implicação	da	palavra,	e	alguns
sugeriram	que,	pelo	fato	de	ela	aparentemente	haver	crido	no	Deus	verdadeiro	antes	da	visita	dos	espias,
ela	 já	não	vivia	a	vida	pecaminosa	de	antes.	Argumenta-se	que	os	espias	não	teriam	ido	à	casa	de	uma
mulher	imoral.	Arthur	W.	Pink	ainda	afirma,	pela	presença	de	linho	no	telhado	de	sua	casa	(Js	2.6),	que
ela	se	ocupava	com	um	trabalho	moral	—	e	cita	Provérbios	31,	onde	se	diz	que	a	mulher	virtuosa	busca	lã
e	linho	e	de	bom	grado	trabalha	com	as	mãos.[10]
Bem,	 Raabe	 pode	 muito	 bem	 ter	 sido	 convertida	 antes	 da	 chegada	 dos	 dois	 espias	 —	 acho	 que	 a
linguagem	sugere	isso	—	mas	ela	é	identificada	como	prostituta,	e	os	espias	foram	até	ela	pelo	fato	de	ser
quem	 ela	 era.	 Não	 sugiro	 que	 eles	 a	 procuraram	 para	 propósitos	 imorais.	 Mas,	 diga-me,	 aonde	 dois
estranhos	poderiam	ir	com	a	menor	probabilidade	de	responder	perguntas	comprometedoras?	Dirigir-se
para	lá	foi	genial.	Além	disso,	quando	o	rei	soube	que	os	espias	haviam	ido	a	Raabe	e	mandou	colocá-los
para	fora,	ele	pareceu	aceitar	com	normalidade	o	fato	de	homens	visitarem	Raabe	e	aceitou	o	relato	dela
de	que	os	homens	haviam	saído	quase	tão	rapidamente	quanto	entraram.	Não,	não	há	dúvida	de	que	ela
era	 prostituta,	 como	 a	 samaritana	 também	 era	 sexualmente	 imoral.	 É	 apenas	 outro	 caso	 da	 grande	 e
inexplicável	graça	divina	que	estende	a	mão	para	salvar	essa	pessoa.
Francis	A.	Schaeffer	pergunta	se	é	“apropriado”	Deus	salvar	uma	pessoa	assim,	e	responde	corretamente:
“Completamente!”.[11]	 Raabe	 não	 era	 pior	 que	 nós;	 no	 entanto,	 Deus	 nos	 salvou.	 Cristo	 redime	 os
pecadores,	não	os	justos.
A	FÉ	VEM	PELO	OUVIR
Apesar	da	lista	sombria	de	desvantagens	—	gentia,	amorreia	e	prostituta	—,	essa	mulher	pagã	tinha	pelo
menos	uma	grande	coisa	a	seu	favor:	ouvira	falar	do	Deus	de	Israel.	Comoresultado	disso,	ela	creu	no
Deus	verdadeiro,	pois:	“A	fé	vem	por	ouvir	a	mensagem”	(Rm	10.17,	NVI).
Aqui	e	ntra	a	grande	confissão	de	Raabe:
Antes	que	os	espias	se	deitassem,	foi	ela	ter	com	eles	ao	eirado	e	lhes	disse:	Bem	sei	que	o	SENHOR	vos	deu	esta	terra,
e	que	o	pavor	que	infundis	caiu	sobre	nós,	e	que	todos	os	moradores	da	terra	estão	desmaiados.	Porque	temos	ouvido
que	o	SENHOR	secou	as	águas	do	mar	Vermelho	diante	de	vós,	quando	saíeis	do	Egito;	e	também	o	que	fizestes	aos	dois
reis	 dos	 amorreus,	 Seom	e	Ogue,	 que	 estavam	além	do	 Jordão,	 os	 quais	 destruístes.	Ouvindo	 isto,	 desmaiou-nos	 o
coração,	e	em	ninguém	mais	há	ânimo	algum,	por	causa	da	vossa	presença;	porque	o	SENHOR,	vosso	Deus,	é	Deus	em
cima	nos	céus	e	embaixo	na	terra.	(Js	2.8-11)	Sem	dúvida,	havia	muitos	aspectos	da	fé	e	da	história	de
Israel	desconhecidos	por	Raabe.	Ela	só	ouviu	falar	dos	atos	de	Deus	para	libertar	os	judeus	do
Egito	e	a	respeito	da	vitória	que	ele	lhes	dera	sobre	os	dois	grupos	amorreus	a	leste	do	Jordão.
Entretanto,	 isso	 bastou!	 Ela	 desconhecia	 a	 adoção,	 as	 alianças,	 a	 lei,	 a	 adoração	 e	 as
	promessas.	Mas	tinha	ouvidos	e	ouviu	sobre	o	que	Deus	fez;	como	resultado,	ela	creu	nele.
Um	 pensamento	 interessante	 me	 ocorre	 aqui,	 pois	 se	 perguntarmos:	 “De	 quem	 Raabe	 ouviu	 essas
histórias	 sobre	 o	 Deus	 de	 Israel?”.	 A	 resposta	 provavelmente	 é	 dos	 homens	 que	 frequentavam	 seu
estabelecimento.	Sua	casa	teria	sido	um	lugar	de	grandes	fofocas	quando	estranhos	da	região	e	de	longe
relatavam	histórias	das	maravilhas	do	exterior.
“Você	já	ouviu	sobre	o	que	aconteceu	no	Egito?”,	um	deles	poderia	ter	perguntado.	E	teria	contado	como
Deus	enviou	as	pragas	aos	egípcios,	pragas	que	transformaram	a	água	do	rio	Nilo	em	sangue,	trouxeram
moscas	e	rãs	sobre	a	terra,	destruíram	o	gado	e	escureceu	o	sol.	E	por	último,	matou	os	primogênitos.
“Você	ouviu	o	que	aconteceu	no	mar	Vermelho?”,	outro	continuaria.	“O	Deus	judeu	separou	as	águas	para
que	o	povo	atravessasse	em	terra	seca.	Então	permitiu	que	as	águas	voltassem	e	afogassem	os	soldados
egípcios	que	os	seguiam”.
“Essas	 pessoas	 ainda	 estão	 por	 aí”,	 poderia	 dizer	 um	 terceiro	 cliente.	 “Não	 faz	 muito	 tempo,	 eles
derrotaram	e	mataram	Seom	e	Ogue,	os	dois	reis	amorreus	a	leste	do	rio	Jordão”.
Acho	 isso	 interessante	 pois,	 embora	 a	Bíblia	 não	 escuse	 a	 prostituição	 de	Raabe,	 foi	 em	 certa	medida
devido	ao	fato	de	ser	prostituta	que	ela	recebeu	os	relatos	de	tudo	isso	em	primeira	mão.
Afirmei	antes	que	uma	coisa	favorável	a	Raabe	era	o	fato	de	ela	ter	ouvido	falar	do	Deus	de	Israel,	mas
acrescento	que	a	coisa	maravilhosa	(e	salvadora)	é	ouvir	a	respeito	de	Deus	não	só	com	os	ouvidos,	mas
também	com	o	coração.	Ali	estava	uma	mulher	pagã	imoral	que,	no	meio	da	prática	da	prostituição,	ouviu
falar	do	verdadeiro	Deus	de	Israel	e	acreditou	que	o	Deus	de	quem	ela	ouviu	falar	era	o	Deus	verdadeiro.
Uma	vez	que	 isso	pode	acontecer	—	e	acontece	—	nunca	podemos	nos	desesperar	quanto	a	ninguém	e
não	precisamos	nos	desesperar	quanto	a	nós	mesmos.
PELA	FÉ,	RAABE...
Quando	dizemos	que	Raabe	ouviu	com	o	coração	e	com	os	ouvidos,	referimo-nos	ao	fato	de	ela	ter	crido
em	Deus,	ou	ter	fé.	Por	isso	ela	é	elogiada	no	NT.	Você	sabia	que	Raabe	é	declarada	modelo	de	fé	duas
vezes	 no	 NT?	 Primeira,	 ela	 aparece	 na	 lista	 dos	 heróis	 da	 fé	 em	 Hebreus	 11.31:	 “Pela	 fé,	 Raabe,	 a
meretriz,	não	foi	destruída	com	os	desobedientes,	porque	acolheu	com	paz	aos	espias”.	Segunda,	o	livro
de	Tiago	diz:	“De	igual	modo,	não	foi	também	justificada	por	obras	a	meretriz	Raabe,	quando	acolheu	os
emissários	e	os	fez	partir	por	outro	caminho”	(Tg	2.25).	Aqui	está	a	verdadeira	fé,	pois	é	fé	em	ação.
Devemos	nos	maravilhar	com	os	atos	dessa	mulher.	É	verdade	que	ela	demonstrou	fé	em	Deus	ao	acolher
e	esconder	os	espias	—	representantes	de	Deus.	É	o	que	dizem	os	textos	de	Hebreus	e	Tiago.	Mas	Raabe
fez	 mais	 que	 isso,	 ela:	 1.	 Colocou	 sua	 vida	 em	 perigo.	 Ela	 arriscou	 a	 própria	 vida	 e	 a	 vida	 de	 seus
familiares	por	causa	dos	espias.	Jericó	não	era	um	lugar	agradável.	Na	verdade,	era	uma	espécie	de	posto
militar	avançado,	e	não	estamos	errados	em	pensar	que	a	vida	de	Raabe	não	valeria	um	tostão	da	época
se	 seu	 erro	 fosse	 descoberto.	 Se	 os	mensageiros	 do	 rei	 não	 tivessem	aceitado	 a	 declaração	 de	 que	 os
espias	 haviam	 saído	 antes	 do	 pôr	 do	 sol	 e	 tivessem	 entrado	 em	 sua	 casa	 e	 descoberto	 os	 homens	 no
telhado,	 ela	 seria	 arrastada	 de	 imediato	 até	 o	 rei	 e,	 é	 provável	 que	 teria	 sido	 terrivelmente	 torturada
antes	de	ser	morta.	Sua	família	provavelmente	teria	sido	levada	e	morta	com	ela.	Raabe	deveria	saber	o
risco	que	assumia,	mas	arriscou	tudo	com	base	na	descoberta	espiritual	e	nova	vida.
2.	 Rejeitou	 seu	 passado	 e	 o	 próprio	 povo.	 Era	 uma	 situação	 militar,	 e	 Raabe	 sabia,	 como	 os	 outros
moradores	 da	 cidade,	 que	 quando	 os	 judeus	 os	 atacassem,	 não	 haveria	 escapatória.	 Se	 os	 judeus
conseguissem	invadir	a	cidade,	todos	seriam	mortos,	como	os	habitantes	de	Canaã	matariam	os	judeus	se
tivessem	 oportunidade.	 Raabe	 morava	 em	 Jericó.	 Humanamente	 falando,	 ela	 deveria	 ter	 sido	 leal	 à
própria	cidade	e	povo.	Mas	ela	rejeitou	o	passado	por	causa	da	nova	fé	no	Deus	de	Israel.
3.	 Identificou-se	 com	 o	 povo	 judeu.	 Ela	 não	 era	 judia.	 Por	 ter	 crido	 no	 Deus	 judeu,	 agora	 ela
instintivamente	entendeu	que	seu	lugar	era	com	o	novo	povo,	e	não	com	o	dela.	Em	outras	palavras,	ao
deixar	o	reino	das	trevas	para	o	reino	da	 luz,	ela	também	passou	da	cidadania	natural	de	Jericó	para	a
cidadania	dos	filhos	de	Deus.	De	fato,	como	nem	todos	os	judeus	acreditavam	de	forma	tão	genuína	como
ela,	na	verdade	ela	se	tornou	mais	judia,	espiritualmente	falando,	que	muitos	dos	novos	concidadãos.
Deus	 aceitou	 sua	 nova	 lealdade.	 Podemos	 imaginar	 como,	 por	 misericórdia,	 Deus	 a	 receberia	 sob	 a
proteção	da	nação	escolhida	e	permitiria	que	ela	habitasse	no	meio	das	pessoas	favorecidas	em	um	plano
inferior	—	à	semelhança	dos	gibeonitas,	autorizados	a	viver	entre	os	judeus	como	“rachadores	de	lenha	e
tiradores	 de	 água	 para	 a	 congregação”	 (Js	 9.27).	 Mas	 não	 foi	 isso	 o	 que	 aconteceu.	 Embora	 gentia,
amorreia	e	prostituta,	ela	foi	aceita	de	imediato	como	membro	pleno	da	nação	favorecida.	Ela	se	casou
com	um	judeu	e	tornou-se	ancestral	do	Senhor	Jesus	Cristo.	Ela	se	casou	com	um	homem	da	tribo	de	Judá
chamado	Salmom.	O	filho	deles	era	Boaz,	que	se	casou	com	Rute,	a	moabita.	O	filho	deles	era	Obede,	pai
de	Jessé,	o	pai	do	rei	Davi	(v.	Mt	1.5,	6).	Isso	não	é	tremendo?	Raabe	não	recebeu	um	tipo	de	salvação	de
segunda	 classe;	 desde	 o	 início,	 ela	 recebeu	 o	 pacote	 completo.	 Sua	 posição	 era	 igual	 à	 de	 qualquer
cidadão	de	Israel,	e	como	prova	disso,	ela	foi	trazida	para	a	nobre	linhagem	da	tribo	de	Judá	e	tornou-se
ancestral	de	nosso	Senhor.
CORDÃO	DE	FIO	DE	ESCARLATA
A	experiência	de	Raabe	é	paralela	a	de	quem	vai	a	Deus	pela	fé	em	Jesus	Cristo	hoje.	Josué	nos	diz	que
depois	de	Raabe	ter	ajudado	os	espias,	eles	concordaram	em	poupá-la,	e	também	sua	família,	quando	a
cidade	 fosse	 tomada.	 Disseram:	 “Desobrigados	 seremos	 deste	 teu	 juramento	 que	 nos	 fizeste	 jurar,	 se,
vindo	nós	à	terra,	não	atares	este	cordão	de	fio	de	escarlata	à	janela	por	onde	nos	fizeste	descer;	e	se	não
recolheres	em	casa	contigo	teu	pai,	e	tua	mãe,	e	teus	irmãos,	e	a	toda	a	família	de	teu	pai”	(Js	2.17,18).
Raabe	concordou	e	amarrou	o	cordão	de	fio	de	escarlata	na	janela.	Existe	uma	tradição	na	igreja,	desde
Clemente	de	Roma	e,	possivelmente,	mais	cedo,	de	que	o	cordão	de	fio	de	escarlata	representa	o	sangue
de	Jesus	Cristo,	e	professores	falam	sobre	o	cordão	ao	longo	de	toda	a	Bíblia,	desde	o	sacrifício	de	Abel
até	o	Calvário.
Não	sei	se	o	cordão	de	fio	de	escarlata	de	Raabe	representava	 isso	especificamente,	embora	exista	um
paralelo	 notável	 entre	 o	 cordão	 que	 identificou	 sua	 casa	 e	 o	 sangue	 dos	 cordeiros	 espalhados	 nos
batentesdas	portas	e	nas	vergas	das	casas	judaicas	no	Egito	quando	o	anjo	da	morte	preteriu	o	lar	e	a
família	dos	judeus.	Sei	que,	explícito	ou	não,	o	caminho	da	salvação	sempre	foi	o	mesmo	e	a	experiência
dos	salvos	por	Deus	é	paralela.
Somos	como	Raabe,	 se	de	 fato	entendemos	 sua	história.	Não	 fazíamos	parte	da	 família	de	Deus	ou	de
dentro	 do	 escopo	do	 que	Deus	 faz	 de	maneira	 salvadora	 na	 história	 humana.	O	 pior:	 éramos	 parte	 da
sociedade	 corrupta	 e	 degenerada;	 cada	 um	 de	 nós	 tinha	 pecados	 repreensíveis	 próprios.	 Mas	 Deus
colocou	sua	mão	sobre	nós.	Ele	nos	fez	conhecer	seus	grandes	atos	salvadores	na	história	e	depois	nos
colocou	em	contato	com	seus	mensageiros	e	representantes.	Ele	suscitou	a	fé	em	nós,	pela	qual,	por	sua
graça,	 também	colocamos	 a	 vida	 em	 risco.	Em	sentido	 espiritual,	 fomos	 chamados	 a	 rejeitar	 o	 próprio
povo	e	nos	identificar	com	o	povo	de	Deus.	Como	sinal	disso,	o	sangue	de	Cristo,	como	um	cordão	de	fio
de	escarlata,	foi	espalhado	por	nossa	casa	e	vida.
E	 agora?	 Agora	 vivemos	 em	 uma	 terra	 estrangeira	 entre	 o	momento	 do	 nosso	 compromisso	 de	 fé	 e	 o
momento	 do	 juízo	 final,	 que	 será	 o	 dia	 de	 nossa	 libertação.	 Nesse	 importante	 ínterim,	 devemos
permanecer	firmes	em	Deus	como	Raabe	fez:	Contra	mundum!	Devemos	ser	o	povo	de	Deus	em	oposição
à	cultura	sem	Deus	que	nos	rodeia.
E	se	você	não	fizer	isso?	Então	sua	situação	é	a	mesma	dos	cidadãos	de	Jericó.	Você	olha	as	muralhas	ao
redor	da	grande	cidade	secular	e	diz	a	si	mesmo:	“Certamente	estou	seguro	aqui.	As	paredes	são	fortes.
Esta	cidade	existe	há	milhares	de	anos”.	Mas	por	dentro,	o	coração	está	enfraquecido	pelo	medo,	e	sabe
que	o	dia	do	acerto	de	contas	é	inevitável	e	o	juízo	se	aproxima.	Por	que	não	ser	como	Raabe?	Ela	não
contava	com	nada	além	do	relato	verbal	—	seletivo	e	limitado	—	dos	poderosos	atos	de	Jeová.	Você	dispõe
da	lei	e	do	evangelho,	a	lei	que	o	condena	seu	pecado	e	o	evangelho	que	mostra	a	solução	para	o	pecado
pela	 morte	 e	 pelo	 sangue	 vertido	 de	 Jesus	 Cristo.	 Por	 que	 você	 deveria	 viver	 mais	 sob	 a	 justa	 ira	 e
condenação	de	Deus?	Por	que	não	crer	em	Cristo,	deixar	seu	passado	pecaminoso	e	tomar	o	lugar	com	o
povo	de	Deus?
4.	A	travessia	do	Jordão	e	o	fim	da	jornada	(Josué	3.1-5.12)
E,	quando	os	que	levavam	a	arca	chegaram	até	ao	Jordão,	e	os	seus	pés	se	molharam	na	borda	das	águas	(porque	o
Jordão	transbordava	sobre	todas	as	suas	ribanceiras,	todos	os	dias	da	sega),	pararam-se	as	águas	que	vinham	de	cima;
levantaram-se	num	montão,	mui	longe	da	cidade	de	Adã,	que	fica	ao	lado	de	Sartã;	e	as	que	desciam	ao	mar	da	Arabá,
que	 é	 o	mar	 Salgado,	 foram	 de	 todo	 cortadas;	 então,	 passou	 o	 povo	 defronte	 de	 Jericó.	 (Js	 3.15-17)	 Você	pode
pensar	no	passado	distante	de	sua	vida,	 talvez	quando	era	criança,	mas	tenho	certeza	de	que
consegue	 se	 lembrar	 da	 emoção	 de	 um	 dia	 pelo	 qual	 esperou	 muito	 tempo	 e	 que,	 por	 fim,
chegou.	Talvez	tenha	sido	um	aniversário	especial.	Talvez	fosse	o	natal	ou	o	dia	em	que	você	e
sua	família	saíram	de	férias.	Pode	ter	sido	o	nascimento	do	primeiro	filho.	Por	semanas,	talvez
meses,	você	esperou,	ansiava	esse	dia.	Então,	de	repente,	ele	chegou.
Deve	 ter	sido	um	dia	como	esse	quando	os	 israelitas	passaram	pelo	deserto	através	do	rio	 Jordão	para
entrar	em	Canaã.	Eles	esperaram	por	esse	momento	por	muito,	muito	tempo.	A	maioria	havia	nascido	no
deserto	 como	parte	 da	nova	geração	que	 substituiu	 a	 que	 se	 recusou	 a	 confiar	 em	Deus	 em	 relação	 à
conquista	da	terra	anos	antes.	Josué	e	Calebe	haviam	esperado	ainda	mais.	Esses	homens	contavam	cerca
de	80	anos	e	aguardaram	a	conquista	a	maior	parte	da	vida.	Ainda	assim,	isso	não	esgota	o	tamanho	da
antecipação	do	momento.	Deus	prometera	a	conquista	a	Abraão	mais	de	500	anos	antes	(v.	Gn	15.18-21).
A	promessa	foi	repetida	aos	patriarcas	por	séculos.	Considerado	de	forma	adequada,	houve	meio	milênio
de	fervorosa	antecipação	e,	agora,	o	momento	chegou.
Josué	disse	ao	povo:	“Santificai-vos,	porque	amanhã	o	SENHOR	fará	maravilhas	no	meio	de	vós”	(Js	3.5).
NARRATIVA	COMPLETA
	
Em	nossas	versões	bíblicas,	o	relato	da	travessia	do	rio	Jordão	está	espalhado	por	três	capítulos,	Josué	3-
5.	Mas,	na	 verdade,	 trata-se	de	uma	 só	história,	 e	 os	 capítulos	devem	ser	 considerados	 juntos	para	 se
obter	o	efeito	completo.
Percebe-se	a	unidade	dos	capítulos	de	várias	maneiras.	No	capítulo	3,	Deus	diz	a	Josué:	“Hoje,	começarei
a	engrandecer-te	perante	os	olhos	de	 todo	o	 Israel,	para	que	saibam	que,	 como	 fui	 com	Moisés,	assim
serei	 contigo”	 (v.	 7).	No	 capítulo	 4,	 repete-se	 o	 tema:	 “Naquele	 dia,	 o	 SENHOR	 engrandeceu	 a	 Josué	 na
presença	de	todo	o	Israel;	e	respeitaram-no	todos	os	dias	da	sua	vida,	como	haviam	respeitado	a	Moisés”
(v.	14).	Da	mesma	 forma,	no	 capítulo	3,	 Josué	diz	 aos	 israelitas:	 “Tomai,	pois,	 agora,	doze	homens	das
tribos	de	Israel,	um	de	cada	tribo”	(v.	12).	Não	somos	informados	aqui	do	motivo	da	escolha	deles,	mas	no
capítulo	 seguinte	 a	 ordem	 é	 repetida	 e	 explicada:	 “Tomai	 do	 povo	 doze	 homens,	 um	 de	 cada	 tribo,	 e
ordenai-lhes,	dizendo:	Daqui	do	meio	do	Jordão,	tomai	doze	pedras”	(Js	4.2,	3).	As	pedras	escolhidas	pelos
doze	homens	deveriam	ser	um	memorial.	Os	três	capítulos	estão	ligados	pela	ênfase	na	aliança.
Nos	 capítulos,	 há	 três	 acontecimentos	 intimamente	 relacionados:	 1)	 A	 travessia	 do	 Jordão;	 2)	 A
construção	do	memorial	da	travessia;	e	3)	A	renovação	da	aliança	e	a	efetivação	do	sinal	da	aliança	em
Gilgal	após	a	travessia	do	Jordão	e	antes	do	início	da	conquista	da	terra.
ARCA	DA	ALIANÇA
O	aspecto	mais	 importante	da	 travessia	do	 rio	 Jordão,	além	do	modo	que	ocorreu	—	paralelo	exato	da
travessia	do	mar	Vermelho	na	época	da	saída	do	Egito	sob	Moisés	—	é	o	destaque	da	arca	da	aliança	na
travessia.	 Isso	 é	 proeminente	 até	mesmo	 na	 narrativa,	 uma	 vez	 que	 a	 arca	 é	mencionada	 9	 vezes	 no
capítulo	3,	7	vezes	no	capítulo	4,	e	mais	quatro	referências	indiretas	pelo	uso	de	pronomes.
O	que	há	de	tão	importante	na	arca?	Ela	simboliza	a	presença	de	Deus	no	meio	do	povo.
As	instruções	para	a	construção	da	arca	são	encontradas	em	Êxodo	25,	o	primeiro	capítulo	na	Bíblia	em
que	ela	é	mencionada.	A	partir	de	 lá,	aprende-se	que	a	arca	não	era	muito	grande.	Tratava-se	de	uma
caixa	 de	 cerca	 de	 110	 centímetros	 de	 comprimento,	 e	 70	 centímetros	 de	 altura	 e	 de	 largura.	 Ela	 era
revestida	de	 ouro	por	 dentro	 e	 por	 fora,	 com	uma	 tampa	de	 ouro	puro.	Nela	havia	 dois	 querubins,	 ou
anjos,	de	 frente	um	para	o	outro	nas	extremidades.	As	asas	dos	querubins	estavam	abertas	e	postadas
para	 cima,	 próximas	 uma	 da	 outra	 logo	 acima	 da	 tampa.	 Entendia-se	 que	 Deus	 habitava	 de	 forma
simbólica	no	espaço	acima	da	tampa	da	arca,	entre	as	asas	dos	querubins.	A	arca	era	carregada	por	varas
passadas	por	argolas	anexas	a	cada	lado	da	arca.	Quando	a	arca	era	movida,	carregada	pelos	sacerdotes,
“Moisés	 dizia:	 Levanta-te,	 SENHOR,	 e	 dissipados	 sejam	 os	 teus	 inimigos,	 e	 fujam	 diante	 de	 ti	 os	 que	 te
odeiam”.	Quando	parava,	ele	dizia:	“Volta,	ó	SENHOR,	para	os	milhares	de	milhares	de	Israel”	(Nm	10.35-
36).
Então	eis	a	primeira	coisa	 importante.	Quando	o	povo	de	 Israel	partiu	para	atravessar	o	 rio	 Jordão	no
início	da	invasão	da	Terra	Prometida,	o	próprio	Deus	seguiu	adiante	deles,	como	sempre	deve	ser	o	caso
em	qualquer	 iniciativa	espiritual	bem-sucedida.	Antes,	quando	Deus	estava	pronto	para	 liderar,	 eles	 se
recusaram	a	segui-lo.	Então,	tentaram	avançar	mesmo	que	Deus	não	liderasse.	Em	cada	caso,	o	resultado
foi	 um	 desastre.	 A	 única	maneira	 adequada	 de	 avançar	 em	 qualquer	 lugar	 ou	 a	 qualquer	momento	 é
seguir	a	liderança	de	Deus.	Só	ele	pode	conceder	a	vitória.
Ou	seja,	o	significado	da	arca	da	aliança	senso	transportadas	na	frente	de	todos	no	Jordão	não	consiste	só
em	demonstrar	que	Deus	deve	liderar	toda	iniciativa	bem-sucedida,	e	sim	que	o	próprio	Deus	deve	tomar
a	frente	e	ser	seguido.	O	Deus	que	liderouJosué	era	o	mesmo	que	liderou	Moisés	e	agiu	por	meio	dele.	O
Deus	da	conquista	era	o	mesmo	da	saída	do	Egito	—	e	assim	por	diante,	no	tempo	de	Abraão	e	da	criação.
Deus	é	eterno;	é	sempre	o	mesmo	em	seu	eterno	ser.
A	 arca	 simbolizava	 isso.	 Ela	 era	 o	 símbolo	 da	 soberania,	 do	 poder	 ou	 governo	 de	 Deus.	 O	 aspecto
principal	destacado	pela	travessia	do	Jordão	orientada	pela	arca	era	o	mesmo	poder	divino	em	ação	nesse
momento	—	como	ocorrera	antes	quando	o	povo	atravessou	o	mar	Vermelho	sob	a	liderança	de	Moisés.
Os	dois	milagres	foram	intencionalmente	paralelos.	Deus	não	era	menos	soberano	nessa	ocasião	que	40
anos	antes.
A	arca	era	símbolo	da	santidade	de	Deus.	Na	caixa,	ou	baú,	que	era	a	própria	arca,	havia	as	tábuas	de
pedra	da	lei	que	haviam	sido	dadas	a	Moisés	no	monte	Sinai.	A	arca	era	a	fonte	da	expressão	escrita	do
caráter	moral	de	Deus,	o	lembrete	constante	da	santidade	divina.	A	violação	da	sua	lei	era	uma	afronta	à
sua	natureza	e	uma	rebelião	contra	seu	governo	legítimo.
A	arca	 também	simbolizava	a	 justiça	de	Deus.	Não	 foi	apenas	o	 fato	de	a	 justiça	 ter	sido	executada	na
presença	 da	 arca,	 embora	 isso	 fosse	 verdade.	 (Quando	 Arão	 e	 Miriã	 falaram	 contra	 a	 autoridade	 de
Moisés,	os	 três	 foram	convocados	à	 tenda	da	congregação,	que	continha	a	arca,	e	Miriã	 foi	 julgada	ali
[Nm	12.1-15].)	 Antes,	 a	 arca	 era	 a	 imagem	do	 juízo	 de	 divino.	Dentro	 dela	 estava	 a	 lei	 que	 o	 povo	de
Israel	 havia	 transgredido.	 Acima,	 entre	 as	 asas	 dos	 querubins,	 a	 presença	 do	 Deus	 três	 vezes	 santo.
Quando	 olhava	 para	 baixo,	Deus	 via	 a	 transgressão	 da	 lei.	 Assim,	 a	 arca	 era	 o	 lembrete	 constante	 da
necessidade	do	Juiz	de	toda	a	terra	fazer	o	que	era	certo.	O	juízo	deve	sobrevir	ao	pecado.
Mas	isso	não	era	tudo	que	a	arca	simbolizava.	Se	 isso	fosse	tudo,	seria	de	fato	uma	imagem	terrível.	A
arca	 também	 simbolizava	 a	 misericórdia	 de	 Deus.	 A	 cobertura	 da	 arca	 era	 chamada	 “propiciatório”,
porque	 ali	 —	 uma	 vez	 por	 ano,	 no	 Dia	 da	 Expiação	 —,	 o	 sumo	 sacerdote	 aspergia	 o	 sangue	 vertido
momentos	 antes	 pelo	 pecado	 do	 povo.	 O	 pecado	 do	 povo	 era	 confessado	 sobre	 a	 cabeça	 do	 animal,	 o
animal	era	morto	no	lugar	das	pessoas	cujo	pecado	merecia	a	morte	(“o	salário	do	pecado	é	a	morte”	[Rm
6.23]).	 Então	 o	 sangue	 era	 levado	 para	 a	 parte	 mais	 sagrada	 do	 tabernáculo	 e	 aspergido	 sobre	 o
propiciatório	 —	 entre	 a	 santa	 presença	 de	 Deus	 e	 a	 lei	 transgredida	 pelo	 povo.	 Desse	 modo,	 a	 arca
testemunhava	 o	 princípio	 da	 expiação	 substitutiva,	 o	 fato	 de	 que	 uma	 vítima	 inocente	 poderia	morrer
pelos	culpados.	Esse	princípio	pode	ser	 rastreado	até	o	 jardim	do	Éden,	quando	o	próprio	Deus	matou
animais	para	Adão	e	Eva	e	os	vestiu	com	a	pele	deles.	Isso	culmina	na	morte	de	Jesus	Cristo	no	Calvário.
Assim,	a	arca	apontava	para	o	caráter	imutável	de	Deus.	Ao	nos	ensinar	que	Deus	é	sempre	o	mesmo	em
sua	soberania,	santidade,	justiça,	misericórdia	e	demais	atributos.
NÃO	NOS	ESQUEÇAMOS
O	segundo	acontecimento	relacionado	à	travessia	do	rio	Jordão	foi	o	estabelecimento	de	um	memorial	de
pedras	retiradas	do	rio.	O	texto	diz:
Chamou,	pois,	Josué	os	doze	homens	que	escolhera	dos	filhos	de	Israel,	um	de	cada	tribo,	e	disselhes:	Passai	adiante
da	arca	do	SENHOR,	vosso	Deus,	ao	meio	do	Jordão;	e	cada	um	levante	sobre	o	ombro	uma	pedra,	segundo	o	número
das	tribos	dos	filhos	de	Israel,	para	que	isto	seja	por	sinal	entre	vós;	e,	quando	vossos	filhos,	no	futuro,	perguntarem,
dizendo:	Que	vos	significam	estas	pedras?,	então,	lhes	direis	que	as	águas	do	Jordão	foram	cortadas	diante	da	arca	da
Aliança	 do	 SENHOR;	 em	 passando	 ela,	 foram	 as	 águas	 do	 Jordão	 cortadas.	 Estas	 pedras	 serão,	 para	 sempre,	 por
memorial	 aos	 filhos	 de	 Israel.	 (Js	 4.4-7)	 Há	 um	 problema	 técnico	 que	 deve	 chamar	 a	 atenção	 de
qualquer	pessoa	que	leia	atentamente	o	relato	da	colocação	dessas	pedras.	Claramente,	os	doze
homens	selecionados	por	Josué	deveriam	pegar	doze	pedras	do	leito	do	rio	Jordão	e	montá-las
como	um	memorial	na	margem	oeste	do	rio.	Esse	não	é	o	problema.	A	dificuldade	vem	do	fato
de	Josué	no	4.9	dizer,	 literalmente,	que	Josué	colocou	doze	pedras	no	meio	do	Jordão	no	local
onde	estavam	os	sacerdotes	que	carregavam	a	arca	da	aliança.	Isso	parece	sugerir	que	havia	de
fato	 dois	memoriais:	 um	 feito	 de	 pedras	 retiradas	 do	meio	 do	 Jordão	 e	 erguidas	 na	margem
oeste	de	Gilgal	e	outra	de	pedras	retiradas	da	margem,	mas	erguidas	no	Jordão.	É	assim	que	as
versões	mais	 antigas	 lidam	 com	 a	 passagem	 e,	 como	 resultado,	 a	maioria	 dos	 comentaristas
(Meyer,	Redpath,	Schaeffer,	Woudstra	e	outros)	fala	de	dois	memoriais.
Havia	dois	memoriais?	Poderia	ser,	é	claro.	Mas,	em	meu	julgamento,	a	New	International	Version	[Nova
Versão	Internacional]	está	certa	em	sua	tradução	ao	pensar	que	o	termo	estavam	deveria	ser	presumido
no	versículo	9.	Se	sim,	a	frase	diz	respeito	à	colocação	das	“doze	pedras	que	que	estiveram	no	meio	do
Jordão”,	onde	os	sacerdotes	haviam	 ficado,	em	vez	de	colocar	doze	pedras	adicionais	no	rio.	Em	outras
palavras,	havia	apenas	um	memorial.
Creio	no	acerto	disso	por	duas	razões.	Primeira,	o	mandamento	de	Deus	a	Josué	e,	por	meio	dele,	ao	povo
diz	respeito	a	apenas	um	memorial.	Josué	poderia	ter	decidido	adicionar	o	segundo	por	conta	própria,	é
claro,	mas	isso	não	está	de	acordo	com	seu	caráter	ou	com	as	instruções	divinas	para	que	ele	obedecesse
ao	Senhor	de	maneira	implícita	em	todas	as	coisas,	não	se	afastando	da	lei	de	Deus	nem	para	a	direita	ou
para	a	esquerda.	Seria	mais	comum	Josué	obedecer	ao	mandamento	específico	de	Deus	e	não	acrescentar
nada.	 Segunda,	 ao	 contar	 a	 história,	 o	 versículo	 9	 parece	 explicar	 o	 que	 aconteceu	 com	 as	 pedras
retiradas	 do	 Jordão,	 não	 explicar	 como	 um	 conjunto	 adicional	 de	 pedras	 foi	 colocado.	 Na	 sequência,
somos	 informados	 primeiro	 que	 os	 doze	 homens	 apanharam	 as	 pedras	 do	 Jordão	 e	 as	 levaram	 ao
acampamento	 (v.	 8).	 Então	 nos	 dizem	que	 o	 próprio	 Josué	 as	 ergueu	 como	memorial	 (v.	 9).	 Também	é
significativo	que,	no	final	do	capítulo,	quando	as	pedras	são	mencionadas	de	novo,	nada	se	diga	sobre	o
segundo	memorial	no	Jordão.	Os	versículos	mencionam	apenas	as	pedras	colocadas	por	Josué	em	Gilgal
(v.	20).
Obviamente,	se	havia	um	memorial	ou	dois,	o	objetivo	da	ação	era	o	mesmo.	As	pessoas	precisavam	do
memorial	pois,	como	nós,	tendiam	a	se	esquecer	da	bondade	e	dos	poderosos	atos	divinos.
A	história	apresenta	três	razões	específicas	para	este	memorial.	Primeira,	a	geração	que	estava	entrando
na	 terra	 para	 conquistá-la	 precisava	 de	 um	memorial,	 pois	 o	 caminho	 a	 seguir	 seria	 difícil	 e	 haveria
momentos	 em	 que	 as	 pessoas	 ficariam	 desencorajadas.	 O	 texto	 se	 refere	 a	 essa	 geração	 quando	 diz:
“Cada	um	levante	sobre	o	ombro	uma	pedra,	segundo	o	número	das	tribos	dos	filhos	de	Israel,	para	que
isto	seja	por	sinal	entre	vós”	(Js	4.5,	6).	Ao	retornar	regularmente	a	Gilgal,	como	o	faziam,	já	que	Gilgal
era	sua	base	de	operações,	veriam	as	pedras	e	se	lembrariam	do	poder	e	da	fidelidade	do	grande	Deus
que	estava	com	eles,	liderando-os	na	conquista.
Segunda,	as	gerações	futuras	precisariam	do	memorial,	pois	os	filhos	se	esquecem	com	facilidade	da	fé	e
as	instruções	dos	pais.	Essa	razão	é	destacada	na	história,	no	início	e	no	fim	do	capítulo	4.
Quando	vossos	 filhos,	no	 futuro,	perguntarem,	dizendo:	Que	vos	significam	estas	pedras?,	então,	 lhes	direis	que	as
águas	do	 Jordão	 foram	cortadas	diante	da	arca	da	Aliança	do	SENHOR;	 em	passando	ela,	 foram	as	águas	do	 Jordão
cortadas.	Estas	pedras	 serão,	para	 sempre,	por	memorial	 aos	 filhos	de	 Israel.	 [...]	Quando,	no	 futuro,	 vossos	 filhos
perguntarem	a	seus	pais,	dizendo:	Que	significam	estas	pedras?,	fareis	saber	a	vossos	filhos,	dizendo:	Israel	passou
em	seco	este	Jordão.	Porque	o	SENHOR,	vosso	Deus,	 fez	secar	as	águas	do	Jordão	diante	de	vós,	até	que	passásseis,
como	o	SENHOR,	 vosso

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