Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DISCIPLINA: ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA AULA 4 Prof. Ernani João Silva 2 CONVERSA INICIAL Neste encontro, vamos estudar a importância da Contabilidade, principalmente pela ótica do paradigma gerencial, no processo da AVEF por meio de cinco temas principais: aspectos lógicos de um processo Contábil; custeio por absorção e implicação de suas possíveis formas de aplicação na AVEF; custeio variável e percepção do custo/volume/lucro na AVEF: parte I – Ponto de equilíbrio; custeio variável e a percepção do custo/volume/lucro na AVEF: parte II – Grau de comprometimento da receita; custeio variável e a percepção do custo/volume/lucro na AVEF: parte III – margem de segurança. Com base nesses temas, você será capaz de entender a relevância da Contabilidade para a AVEF. Boa aula! CONTEXTUALIZANDO Para a Ciência Econômica, a espécie humana é constituída por seres racionais. Por isso, as decisões que tomam na alocação dos recursos escassos são direcionadas para maximizar o resultado que almejam. E quanto maior for consequência da decisão a ser tomada, maior será a necessidade de informações relevantes e confiáveis. Neste sentido, a Contabilidade se desenvolveu durante os séculos para ser o instrumento informacional qualificado para aqueles que precisam tomar decisões sobre investimentos, uma vez que é ela quem apura, registra e distribui a informação útil sobre o status quo de uma entidade. Dado esse cenário, temos um motivo a mais do que é relevante para nos aventurar em sua essência quando nos aprofundamos nos processos da Análise de Viabilidade Econômico-Financeira. 3 Pesquise O diretor da empresa “Nós vamos ter sucesso Ltda.” foi até um banco buscar um empréstimo. O gerente da instituição financeira perguntou se o diretor da empresa tinha trazido os relatórios contábeis. O diretor disse que sim, e complementou: O senhor quer os documentos da Contabilidade gerencial também? Ao escutar isso, o gerente do banco, com tom áspero, respondeu que não estava interessado em informações sobre caixa dois, pois aquele era um banco sério... bem, será que contabilidade gerencial é mesmo um processo ilícito? Ou será que o gerente do banco é que errou em seu julgamento? Reflita sobre isso, pois, no final da aula, voltaremos a essa questão. TEMA 01: ASPECTOS LÓGICOS DE UM PROCESSO CONTÁBIL A Contabilidade nada mais é que a linguagem dos negócios, um verdadeiro sistema integrado cujo objetivo mister é gerar informações confiáveis, íntegras e tempestivas sobre o patrimônio e a situação econômica e financeira de uma entidade. Para tanto, suas ações são coordenadas para identificar os dados relevantes de uma entidade; mensurar em unidades físicas e monetárias tudo aquilo que é tido como relevante; processar dados mensurados segundo necessidades informacionais desejadas; sumarizar as informações de forma objetiva e imparcial; divulgar o produto da sumarização oportunamente às partes interessadas, os usuários contábeis. Com relação a esses usuários das informações contábeis, eles são, basicamente, de duas categorias: externos e internos. a) Usuários Externos Simbolicamente falando, são os atores econômicos que estão do lado de fora dos portões da empresa. Ou seja, são aqueles indivíduos que não participam do processo de condução da empresa. Pessoas que buscam informações sobre a entidade contabilizada para fins decisórios diversos ao dá empresa, dado os distintos impactos que esta entidade contabilizada tem ou 4 poderá ter em suas vidas. Entre estes, podemos destacar: investidores, autoridades governamentais, clientes, fornecedores e concorrentes. b) Usuários Internos Esses atores econômicos são os gestores internos da entidade, isto é, usam a informação para tomar decisões sobre questões referentes à condução da empresa, garantindo sua continuidade. Ou seja, simbolicamente falando, estão no lado de dentro dos portões da empresa, vivenciando-a dia a dia. Além do que já dito, convém salientar que esses usuários internos também podem ser subdivididos em três grupos distintos: 1. Gestores Internos de decisões operacionais – precisam da informação contábil para planejar, executar e controlar as operações rotineiras. Isto é, a preocupação desses usuários está no curtíssimo/curto prazo. Estamos falando do nível operacional da entidade. 2. Gestores Internos de decisões tácitas – usam a informação para tomar decisões não rotineiras de planos de médio prazo, como: investir em equipamentos, determinar a política de preço de produtos etc. Estamos falando dos indivíduos do Nível Gerencial da entidade. 3. Gestores Internos de decisões estratégicas – usam a informação para tomar decisões não rotineiras que alcançam reformulação de políticas e planos de longo prazo. Estamos falando dos indivíduos do Nível de diretoria (equivalente ou mais) da entidade. Neste contexto, tanto os usuários internos quanto externos precisam da informação contábil para a tomada de decisão, todavia, seus objetivos são diferentes entre si. Então, por certo, a informação que precisam (e a maneira como vão utilizá-la) também é diferente. E é exatamente nesse ponto que temos um problema. Se a função fundamental da Contabilidade é fornecer informação útil aos usuários, para que eles possam tomar decisões com maior segurança, então... como a Contabilidade poderá, com um mesmo relatório contábil, atender com eficiência a dois grupos de usuários contábeis tão diferentes em suas necessidades? A resposta é... Ela não pode! Talvez, você tenha ficado boquiaberto com a revelação feita, mas fique tranquilo. O que foi dito é que a Contabilidade não pode atender, com um mesmo relatório, os diferentes interesses dos usuários internos e externos. Em nenhum 5 momento, foi dito que ela não pode atender a esses usuários com diferentes formas de relatórios. Vou explicar, acontece que a Contabilidade, para resolver o impasse informacional entre o público interno e externo, se ramificou em duas linhas distintas de informação, porém complementares entre si, as quais são: Contabilidade Gerencial => para usuários internos Contabilidade Financeira => “principalmente” para usuários externos (obs.: “principalmente” porque os internos também podem e devem usá-la) Na Figura a seguir, os autores Horngren, Sundem e Stratton (2004, p. 5) apresentam uma tabela que ilustra muito bem a diferença entra essas duas correntes contábeis. Tabelas como estas são comuns em livros de controle gerencial, controladoria, contabilidade gerencial e administração financeira. Assim, por certo, essas diferenças são itens importantes, caso contrário, não seriam tão expostas. Não acha? Figura 1 – Contabilidade Gerencial “versus” Contabilidade Financeira Autores: Horngren, Sundem, Stratton (2004, p. 5) Como exposto, existem possibilidades e limites bem interessantes em cada uma dessas linhas contábeis. Entre as informações expostas, destacam- se, além da diferença dos usuários, o fato de a Contabilidade Gerencial ser mais flexível do que a Financeira, quanto à estrutura metodológica e à temporalidade de seus relatórios. Por exemplo, na Gerencial, o principal limite (e talvez o único) dos relatórios contábeis é “o custo da geração da informação” em relação “ao benefício que desta se extrai”. Já na Financeira, esta tem como limite os 6 “Princípios Contábeis Geralmente Aceitos”: Postulados, Princípios, Convenções e Características qualitativas. Todavia, não significa que apenas a contabilidade financeira é que precisa se curvar aos “Princípios Contábeis Geralmente Aceitos”. O que está sendo dito é que a Contabilidade Gerencial tem mais liberdade de escolha quanto ao seu nível de adesão em relaçãoa estes, dada às características e necessidades presentes no ambiente da empresa. Por exemplo: enquanto a financeira precisa usar o valor de reposição em seus cálculos, a gerencial, por ser um instrumento preditivo, tem a possibilidade de usar tanto o valor histórico quanto o de reposição conforme seu diagnóstico sobre o mercado. Agora que já estudamos o que é a Contabilidade e como ela atende a seus usuários, vamos tentar entender como é que ela realiza sua missão informacional. Quanto ao que informa, a Contabilidade nos apresenta, entre outros itens importantes para AVEF, os seguintes: a necessidade de investimento e de financiamento; a forma das estruturas de capital e financeira; os cenários de retorno econômico e financeiro. Com relação à forma como transmite essas informações, temos aqui, como exemplo, dois macrogrupos informacionais bem interessantes: indicadores operacionais (liquidez, estrutura, rentabilidade, etc.) e Volumes transacionais (ponto de equilíbrio, margem de segurança, etc.). Por fim, resta apresentar que, quanto ao método que estes utilizam, temos a presença dos sistemas de custeios. Os indicadores de liquidez, por exemplo, para serem gerados, fazem uso dos sistemas de custeios por absorção (contab. financeira) e o ponto de equilíbrio, por sua vez, somente é possível graças ao sistema de custeio variável (contab. gerencial). Portanto, dada essa grande relevância dos custeios para a Contabilidade e, logicamente, AVEF, vamos tê-los como pauta para os próximos temas de nossa aula. TEMA 02: CUSTEIO POR ABSORÇÃO E A IMPLICAÇÃO DE SUAS POSSÍVEIS FORMAS DE APLICAÇÃO NA AVEF Neste tema, vamos estudar as diferentes formas de constituição do custeio de absorção e... O quê? Você não lembra o que é custeio? O custeio é um método que estabelece a forma de contabilização do custo (o gasto incorrido 7 na produção) e das despesas (o gasto incorrido para geração da receita). Pois bem, durante esta jornada, vamos refletir como cada uma dessas formas de realizar o custeio por absorção (parcial, modificado e pleno) pode contribuir com informações relevantes para a análise de viabilidade econômico-financeira (AVEF). Então, vamos lá! a) Custeio por absorção parcial Nesta forma parcial de reconhecimento dos gastos, as despesas são lançadas no período. Por isso, quando ocorrem, impactam no resultado; já o custo não, pois ele é absorvido pelo produto (de forma direta ou indireta/rateio) e somente muda o resultado da empresa quando sai o produto do estoque (caso contrário, o custo aparece como um investimento no ativo circulante = estoque de produto acabado). b) Custeio por absorção modificado Na forma modificada do reconhecimento dos gastos, as despesas e os custos estruturais (aqueles relacionados à estrutura da produção) são lançados no período. Por isso, quando ocorrem, impactam no resultado; já os custos variáveis e os custos fixos operacionais não. Estes são absorvidos pelo produto (de forma direta ou indireta/rateio) e somente mudam o resultado da empresa quando sai o produto do estoque (caso contrário, os custos fixos operacionais e variáveis 8 aparecem como um investimento no ativo circulante = estoque de produto acabado). c) Custeio por absorção plena Na forma plena do reconhecimento dos gastos (também chamada de RKW), as despesas e os custos são absorvidos pelo produto (de forma direta ou indireta/rateio) e somente mudam o resultado da empresa quando sai o produto do estoque (caso contrário, aparecem como um investimento no ativo circulante = estoque de produto acabado). Das três formas de absorção, a que mais se adequa aos princípios contábeis é a “parcial”, pois separa a despesa e o custo no reconhecimento dos gastos para a apuração do resultado. Todavia, para fins gerenciais, as formas modificada e plena não são menos importante. A primeira, por separar na análise gerencial o que é gasto com estrutura (portanto, do período) e o que é gasto efetivamente produtivo. A segunda, por transferir para o produto transacionado todo o sacrifício para a obtenção da receita (despesas + custo). Por fim, sobre seu aspecto lógico, precisamos dizer que, apesar de todas suas qualidades, nenhuma delas é 100% confiável/imparcial em um processo de análise, pois todas precisam utilizar uma forma subjetiva de alocação dos “gastos não diretos”, 9 ou seja, fazer uso de um critério de rateio! Em poucas palavras, em Análise de Viabilidade Econômico-Financeira (AVEF), sempre solicite a forma de custeio e, se ele for absorção, peça o critério de rateio utilizado. Com relação aos instrumentos analíticos relevantes que o custeio por absorção nos permite gerar, podemos destacar, quanto ao conteúdo informacional, três pontos fundamentais para o processo gerencial: a) natureza do capital investido (estrutura): Análise Vertical; b) evolução da estrutura investida ao longo do tempo: Análise Horizontal; c) mensuração dos resultados oriundos de tal aplicação: Análise por Indicadores. Nesse último item (a mensuração dos resultados por indicadores) a avaliação da entidade ocorre em relação a quatro pontos principais: c1) Grau de Endividamento ............................. : Situação da Estrutura de Capital c2) Nível de Liquidez ....................................... : Situação Financeira c3) Nível de Rentabilidade .............................. : Situação Econômica c4) Ciclo de Atividade ..................................... : Situação Operacional Não entraremos nos pormenores sobre suas formas de cálculo porque, primeiramente, você já viu tais elementos na disciplina de análise de demonstrações (ou em equivalentes), depois porque, como foi dito no início da aula (e no início deste tópico), nosso foco é o instrumental da análise gerencial. TEMA 03: CUSTEIO VARIÁVEL E A PERCEPÇÃO DO CUSTO/VOLUME/LUCRO NA AVEF: PARTE I – PONTO DE EQUILÍBRIO Neste tema da aula, vamos conversar sobre o custeio variável e como este permite a construção do instrumento analítico denominado ponto de equilíbrio. Sobre esse artefato, estudaremos como ele nos permite analisar as regiões transacionais que geram prejuízo, equilíbrio e lucro, quando respeitados os critérios apresentados pela teoria neoclássica da firma (Aula 3). Então, vamos começar! Lá em teoria econômica vimos que, com a curva da receita em confronto com a curva do custo, era possível determinar qual seria a curva do lucro. 10 Com base no gráfico, desde que não ultrapassemos o ponto de lucro máximo da empresa, podemos isolar uma área para realizar uma análise do impacto do volume de venda sobre o custo e o lucro das transações. Estamos nos referindo ao instrumento contábil denominado de Custo/Volume/Lucro (C/V/L). Na área recortada, gráfico acima, o movimento transacional que está abaixo do ponto de equilíbrio é prejuízo (resultado econômico negativo), o que está acima deste ponto é lucro (resultado econômico positivo) e, por fim, o volume transacional que está exatamente neste ponto tem resultado econômico nulo (nem lucro, nem prejuízo). O quê? Você quer saber como podemos trabalhar com esse conceito por meio de fórmulas? Boa pergunta, e ela é bem simples de ser respondida, por sinal. Para tanto, teremos que seguir três passos: identificar o que é custo fixo e o que é custo variável; depois, encontrar o valor da margem de contribuição para cada unidade de produto vendido; por fim, dividir o valor do custo fixo pelo valor da margem de contribuição e... Pronto, temos a quantidade de venda que não nos dá nem lucro, nem prejuízo! Agora, 11 vamos observar as fórmulas, mas por uma ótica gerencial, ou seja, vamos considerar tanto os custos quanto as despesas em nossos cálculos: a) Levantamento dos dados Pv: Preço de venda (sempre é “por unidade”; casocontrário, é receita). CVu: Custo variável por unidade. DVu: Despesa variável por unidade. GVu: Gasto variável por unidade (CVu + DVu ). CF: Custo fixo do período (sempre indique qual é o período: semana, mês etc.). DF: Despesa fixa do período (sempre indique qual é o período: semana, mês etc.). GF: Gasto fixo do período (CF + DF). b) Margem de contribuição (MC) MC = Pv – GVu MC = Pv – (CVu+DVu) Ou seja, MC é um valor monetário por unidade vendida que é obtido após tirarmos do preço os gastos variáveis unitários. Se ele for negativo, a operação é inviável, se for positivo, quanto maior for seu valor, mais viável será a operação. c) Ponto de equilíbrio (PE) PE = GF / MC Em poucas palavras, PE é a quantidade de venda que não gera nem lucro, nem prejuízo. E aqui fica claro o que é MC: quando operamos abaixo do ponto de PE, seu valor indica quanto cada unidade vendida contribui para reduzir o prejuízo; quando operamos acima do PE, seu valor indica quanto cada unidade vendida contribui para gerar lucro. Veja este exemplo: Uma empresa tem um gasto fixo mensal de R$ 15 mil com a produção e de R$ 5 mil com as áreas comercial, administrativa e financeira. Essa empresa vende camisetas cujo custo variável por unidade é de cerca de R$ 2,00. Também tem uma despesa variável com venda, a título de comissão, de R$ 3,00 por 12 unidade vendida. Sabendo que as camisetas podem e serão vendidas no mercado pelo valor de R$ 15,00 a unidade, qual é o ponto de equilíbrio? a) Levantamento dos dados Pv: R$ 15,00 CVu: R$ 2,00 DVu: R$ 3,00 GVu: R$ 5,00 (= R$ 2 + R$ 3) CF: R$ 15 mil DF: R$ 5 mil GF: R$ 20 mil (= R$ 15 + R$ 5 mil) b) Margem de contribuição (MC) MC = Pv – GVu MC = R$ 15,00 – R$ 5,00 MC = R$ 10,00 por unidade c) Ponto de equilíbrio (PE) PE = GF / MC PE = R$ 20 mil / R$ 10,00 PE = 2 mil unidades (RESPOSTA) Bem simples, não foi? Agora, vamos para o próximo tema, o do grau de comprometimento da receita, o qual nada mais é que um desdobramento informacional do PE. TEMA 04: CUSTEIO VARIÁVEL E A PERCEPÇÃO DO CUSTO/VOLUME/LUCRO NA AVEF: PARTE II – GRAU DE COMPROMETIMENTO DA RECEITA Neste tema, vamos trabalhar o desdobramento dos elementos informacionais do ponto de equilíbrio no indicador denominado "grau de comprometimento da receita". Neste momento de nossa aula, estudaremos 13 quanto da receita da empresa está comprometida para atingir o volume de equilíbrio da entidade – informação muito importante para análise de viabilidade econômico-financeira (AVEF) por nos permitir avaliar o grau de risco de uma operação. Olhando a figura do ponto de equilíbrio, se considerarmos a área que vai do ponto zero (quando não foi vendido nada ainda) até o valor extremo do lado direito (o que representa a capacidade máxima da empresa), tudo na região abaixo do ponto de equilíbrio (PE) precisa acontecer para a empresa ser viável. Ou seja, da capacidade total que a empresa tem para comercializar, esta última parte que citamos é aquela que está comprometida na operação para cobrir os gastos que foram incorridos. Com base nessa lógica, podemos tirar a seguinte equação: GCR = RE/RCM GCR = (Pv PE · PE) / (Pv CM · CM) em que... GCR: Grau de comprometimento da receita RE: Receita de equilíbrio (<= RE = Pvpe . PE) RCM: Receita da capacidade máxima (<= RCM = PvCM . CM) Pvpe .: Preço de venda no ponto de equilíbrio PE: Quantidade de equilíbrio PvCM: Preço de venda no ponto de capacidade máxima CM: Quantidade máxima de venda Bem, a melhor forma de entender o GCR é aplicando-o! Então, mão na massa! 14 Exemplo: Uma empresa tem um ponto de equilíbrio mensal de 2 mil camisetas para um preço de R$ 15 cada. Sabendo que sua capacidade máxima é de 5 mil camisetas/mês e que nesse ponto o preço de venda é de R$ 10,00/camiseta (lembre-se da questão da utilidade vista na aula 3 que você vai entender o porquê do preço ter abaixado), qual será o grau de comprometimento da receita? 1º Passo: estabelecer os dados Pvpe .: R$15,00 PE: 2 mil camisetas RE: R$ 30 mil (<= R$15 · 2 mil) PvCM: R$ 10,00 CM: 5 mil camisetas RCM: R$ 50 mil (<= R$ 10 · 5 mil) 2º Passo: realizar o cálculo GCR = RE / RCM GCR = 30 mil / 50 mil = 0,6 (como é uma razão vamos transformar em %) GCR = 60% (<= 0,6 · 100) Bem, vamos entender o que significa um GCR de 60%. Ele indica que a empresa está usando 60% da sua capacidade de gerar receita apenas para obter a condição de equilíbrio. Portanto, essa medida nos fornece que a entidade analisada tem 40% da sua capacidade (<= 100% – 60%) livre para gerar lucro. O que podemos tirar dessa análise? Quanto maior for o valor GCR, maior será o risco da empresa, pois isso indica que muito da capacidade de geração está comprometida apenas com o PE. Na mesma forma, quanto menor for este valor, menor será o risco da empresa, uma vez que pouca quantidade da sua capacidade está comprometida com o PE. Todavia, fica o alerta: para que tudo isso faça sentido, precisamos ter Margem de Segurança (MS) positiva, não podemos ultrapassar o ponto de lucro máximo nem estar nas regiões inviáveis de produção (aquela que foi vista na aula 03). 15 TEMA 05: CUSTEIO VARIÁVEL E A PERCEPÇÃO DO CUSTO/VOLUME/LUCRO NA AVEF: PARTE III – MARGEM DE SEGURANÇA Neste último tema, a pauta será o desdobramento dos elementos informacionais do ponto de equilíbrio no indicador analítico "margem de segurança". Neste momento, estudaremos quanto da receita da empresa está acima do volume de equilíbrio da entidade – informação muito importante para a AVEF, por nos permitir, como ocorre no caso do “grau de comprometimento da receita”, avaliar o grau de risco de uma operação. O conceito é o seguinte: o ponto de Equilíbrio tem duas áreas bem definidas: prejuízo (abaixo do PE) e lucro (acima do PE). Uma empresa realiza seus orçamentos de venda partindo da premissa que ela é conduzida por pessoas racionais, em volumes de venda que estejam na região de lucro. A questão é quanto esta venda orçada está acima do PE. Quanto maior a distância da quantidade vendida em relação ao PE, menor o risco; quanto menor a distância, maior é o risco da empresa no caso de imprevistos. O valor que mede essa distância é denominado de Margem de Segurança: 16 Sua forma de cálculo exige a execução de duas equações: uma absoluta (MSA) e outra relativa (MS%). a) Margem de Segurança Absoluta (MSA) MSA = Qo – PE Onde: Qo: Quant. Orçada PE: Ponto de Equilíbrio b) Margem de Segurança Relativa ou Percentual (MS%) MS% = MSA / Qo Onde: MSA: Margem de Segurança Absoluta Qo: Quant. Orçada Obs.: Na prática, quando se fala em margem de segurança (MS), o que está sendo analisado é a forma relativa (MS%). 17 Bem, a melhor forma de entender a MS é aplicando-a... Então, mãos na massa! Exemplo: Uma empresa tem um ponto de equilíbrio mensal de 2 mil camisetas e em seu orçamento a quantidade estimada de venda é de 3 mil camisetas. Qual é o grau de comprometimento da receita? 1º Passo: estabelecer os dados PE: 2 mil camisetas Qo: 3 mil camisetas 2º Passo: realizar o cálculo MSA = Qo – PE MSA = 3 mil – 2 mil = 1 mil MS% = MSA / Qo MS% = 1 / 3 mil = 0,3333 (como é uma razão vamos transformar em %) MS% = 33,33% (<= 0,333 · 100) <= RESPOSTA! Bem, vamos entender o que significa uma GCR de 33,33%. Ele indica que a empresa está em uma posição na qual 33,33% de sua venda estão acima do valor do Ponto de Equilíbrio. Assim, isso significa que, caso ela sofra uma queda de 33,33% no volume de venda, mesmo assim, não registrará resultados negativos em seus demonstrativos econômicos. O que podemos tirar dessa análise? Quanto maior for o valor da MS, menor será o risco da empresa,pois isso indica que ela tem muito da gordura para queimar até chegar ao PE. Na mesma forma, quanto menor for este valor, maior será o risco da empresa, uma vez que isso demonstra que ela tem pouca margem para aguentar desaforos do mercado, ou seja, pequenas quedas de venda podem jogá-la na região de prejuízo. Bem legal, as informações que geram os instrumentos do C/V/L (PE, GCR e MS), não acha? 18 Antes de encerrarmos, lembre-se de que a validade desses instrumentos está ligada nos preceitos das curvas explicadas lá nos paradigmas econômicos, portanto, para usar o C/V/L, precisamos ter MS positiva, não podemos ultrapassar o ponto de lucro máximo nem estar nas regiões inviáveis de produção. CURIOSIDADE Se você ficou curioso sobre os artefatos do C/V/L (MC, PE; MS, GCR), saiba que existem vários livros e artigos bem legais e agradáveis sobre o tema, entre eles: Análise das relações custo-volume-lucro como instrumento gerencial: um estudo multicaso em indústrias de grande porte do Rio Grande do Sul. Revista de Contabilidade e Organizações. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/rco/article/view/34797/37535 TROCANDO IDEIAS Durante os temas vistos nesta aula, analisamos a importância da Contabilidade e vimos, sinteticamente, algumas das bases teóricas para sua mensuração de gastos, os custeios e também os instrumentos do C/V/L (PE, GCR, MS). Agora, acesse o fórum da disciplina e, com base no que estudou, reflita com seus pares a situação a seguir: Você acredita que o Custeio Variável é a única forma útil para uma análise de viabilidade econômica? Ou será que existe espaço para o uso do custeio por absorção? Se você respondeu sim, então deveríamos usar estes dois custeios de forma conjunta? NA PRÁTICA a) Leitura do caso Uma empresa de barra de cereais levantou os seguintes dados sobre suas operações: quantidade orçada de vendas para o mês: 125 mil barras; http://www.revistas.usp.br/rco/article/view/34797/37535 19 preço de venda que será praticado: R$ 2,50 / barra; gasto fixo mensal: R$ 150 mil; gasto variável unitário: R$ 1,00 por barra; Qual é a margem de segurança da empresa? b) Identificação do que deve ser feito e teoria/conteúdo que resolve o problema Primeiramente, precisamos separar os dados e, depois, aplicar as fórmulas vistas no tema 3 (ponto de equilíbrio) e 5 (margem de segurança). c) Apresentação da solução do problema. 1º Passo: estabelecer os dados Qo: 125 mil barras PV: R$ 2,50/barra GF: R$ 150 mil GVu: R$ 1,00 por barra 2º Passo: realizar os cálculos MC = PV – GVu MC = R$ 2,50 – R$1,00 = R$ 1,5 por barra PE = GF / MC PE = 150 mil / 1,50 = 100 mil barras MSA = Qo – PE MSA = 125 mil – 100 mil = 25 mil MS% = MSA / Qo MS% = 25 mil / 125 mil MS% = 20% (RESPOSTA) 20 SÍNTESE Neste encontro, abordamos alguns elementos importantes para o processo de análise viabilidade econômica considerando o comportamento do custo e do lucro com relação ao movimento da transação projetada, entre os quais, estão: margem de contribuição; ponto de equilíbrio; margem de segurança; grau de comprometimento da receita. Também estudamos como os indicadores econômicos contábeis são influenciados pela forma de custeio utilizada no método por absorção: parcial, modificado e pleno. Ah! A reposta do problema do diretor... O gerente do banco errou feio. Um relatório de contabilidade gerencial não é (e nunca foi) caixa dois (sonegação), trata-se apenas de cunho gerencial (por exemplo, o valor do estoque a preço de reposição). REFERÊNCIAS ANDRICH, E. G.; CRUZ, J. A. W.; et al. Finanças corporativas: análise de demonstrativos contábeis e de investimentos. Curitiba: Intersaberes, 2014. MACEDO, J. J.; CORBARI, E. C. Análise de projeto e orçamento empresarial. Curitiba: Intersaberes, 2014. MARTINS, Eliseu; ROCHA, Welington. Métodos de custeio comparados: custos e margens analisadas sob diferentes perspectivas. São Paulo: Atlas, 2010. SOUZA, A.; CLEMENTE, A. Gestão de custos. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2011. RYBA, A.; LENZI, E. K.; LENZI, M. K. Elementos da Engenharia Econômica. Curitiba: Ibpex, 2011.
Compartilhar