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FARMACOEPIDEMIOLOGIA E FARMACOVIGILÂNCIA PROF. DR. JOSÉ GILBERTO PEREIRA Reitor: Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira Pró-Reitoria Acadêmica Maria Albertina Ferreira do Nascimento Diretoria EAD: Prof.a Dra. Gisele Caroline Novakowski PRODUÇÃO DE MATERIAIS Diagramação: Alan Michel Bariani Thiago Bruno Peraro Revisão Textual: Fernando Sachetti Bomfim Marta Yumi Ando Produção Audiovisual: Adriano Vieira Marques Márcio Alexandre Júnior Lara Osmar da Conceição Calisto Gestão de Produção: Aliana de Araújo Camolez © Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo (a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá. Primeiramente, deixo uma frase de Sócrates para reflexão: “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida.” Cada um de nós tem uma grande responsabilidade sobre as escolhas que fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica e profissional, refletindo diretamente em nossa vida pessoal e em nossas relações com a sociedade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente e busca por tecnologia, informação e conhecimento advindos de profissionais que possuam novas habilidades para liderança e sobrevivência no mercado de trabalho. De fato, a tecnologia e a comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e nos proporcionando momentos inesquecíveis. Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a Distância, a proporcionar um ensino de qualidade, capaz de formar cidadãos integrantes de uma sociedade justa, preparados para o mercado de trabalho, como planejadores e líderes atuantes. Que esta nova caminhada lhes traga muita experiência, conhecimento e sucesso. Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira REITOR 33WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 01 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................5 1. FARMACOEPIDEMIOLOGIA ......................................................................................................... 6 2. USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS ....................................................................................................................6 3. INVESTIGAÇÃO FARMACOEPIDEMIOLÓGICA .......................................................................................................8 4. ESTUDOS DE UTILIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS - EUM .....................................................................................9 4.1 VISÃO GERAL DO DELINEAMENTO DOS EUM .................................................................................................... 12 4.1.1 OBJETIVOS DA PESQUISA ................................................................................................................................... 12 4.1.2 PRINCÍPIOS DE DELINEAMENTO DO ESTUDO ............................................................................................... 13 4.1.3 DELINEAMENTOS EXPERIMENTAIS E QUASE-EXPERIMENTAIS ................................................................ 14 4.1.4 DELINEAMENTOS OBSERVACIONAIS .............................................................................................................. 15 4.2 FERRAMENTAS METODOLÓGICAS EMPREGADAS NOS EUM ......................................................................... 19 4.2.1 SISTEMA ATC/DDD ............................................................................................................................................. 19 FUNDAMENTOS DE FARMACOEPIDEMIOLOGIA PROF. DR. JOSÉ GILBERTO PEREIRA ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: FARMACOEPIDEMIOLOGIA E FARMACOVIGILÂNCIA 4WWW.UNINGA.BR 4.2.2 O CÓDIGO ATC: ESTRUTURAS E PRINCÍPIOS ................................................................................................ 20 4.2.3 USO TERAPÊUTICO OU CLASSE FARMACOLÓGICA ...................................................................................... 21 4.2.4 APENAS UM CÓDIGO ATC PARA CADA VIA DE ADMINISTRAÇÃO ............................................................... 21 4.2.5 MAIS DE UM CÓDIGO ATC PARA UMA SUBSTÂNCIA MEDICINAL .............................................................. 22 4.2.6 NOVOS GRUPOS ATC E “OUTROS” GRUPOS (GRUPOS X) ........................................................................... 22 4.2.7 OUTROS PRINCÍPIOS GERAIS .......................................................................................................................... 22 4.2.8 CLASSIFICAÇÃO DE PRODUTOS COMBINADOS (EM ASSOCIAÇÃO) ........................................................... 23 4.2.9 DOSE DIÁRIA DEFINIDA (DDD)......................................................................................................................... 24 4.2.10 CÁLCULO DO CONSUMO DE MEDICAMENTOS PELA DDD .......................................................................... 26 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................................... 27 5WWW.UNINGA.BR FA RM AC OE PI DE M IO LO GI A E FA RM AC OV IG IL ÂN CI A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO A inserção no mercado de um número elevado de novos fármacos nos últimos 50 anos e a extensão do seu uso impulsionaram o desenvolvimento de novas possibilidades farmacoterapêuticas. No entanto, quando se observam os indicadores gerais de saúde, pode-se verificar que mais de um quarto dos medicamentos produzidos mundialmente é consumido nos países desenvolvidos e pela minoria da população mais rica. Ao mesmo tempo, nos países mais ricos e em certos segmentos da população dos países pobres, se observa uma verdadeira epidemia de todos os tipos de enfermidades induzidas por fármacos, como consequência do uso excessivo de tratamentos medicamentosos a princípio desnecessários. Quando se empregou pela primeira vez a penicilina, seus efeitos benéficos no tratamento da sepse foram percebidos imediatamente sem necessidade de realizar ensaios clínicos para confirmação. O relatório sobre o primeiro uso clínico da penicilina constituiu um documento de grande valor sobre o desenvolvimento histórico da pesquisa clínica com novos medicamentos. Os efeitos terapêuticos observados nos primeiros pacientes que receberam penicilina, analisados à luz da ciência na atualidade, dispensam a realização de Ensaios Clínicos Randomizados (ECR), que comprovem sua eficácia e segurança. Nos últimos anos, tem-se conferido uma importância crescente sobre as medidas de qualidade de vida do paciente, de impacto econômico e social, e a forma como os tratamentos farmacológicos influenciam esses indicadores. Neste contexto, é imperativo definir três termos, que a princípio se confundem entre si, mas que expressam conceitos diferentes e complementares: eficácia, efetividade e eficiência. Eficácia define-se como o ‘grau em que uma determinada intervenção, esquema terapêutico ou serviço assistencial podem ser benéficos, quando colocados em prática, em condições ideais. Ou seja, a determinação da eficácia advém dos resultados de um ECR’. Efetividade é o ‘grau em que uma determinada intervenção, esquema terapêutico ou serviço assistencial podem ser benéficos, quando colocados em prática, em condições reais. Ou seja, quando se aplicam com sucesso em uma determinada população’. Eficiência pode ser definida como os ‘efeitos ou resultados finais (desfechos) alcançados em relação ao esforço empregado, em termos monetários, de recursos e tempo’. Ou seja, refere-se à medida de economia gasta para obtenção de desfechos favoráveis de uma intervenção, esquema terapêutico ou serviço assistencial de eficácia e efetividade conhecidas. A preocupação com os custos dos medicamentos abrange diversas áreas: o gasto com farmácia como parte do gasto geral em saúde; o custo de determinados medicamentos ou gruposde medicamentos em comparação com outros; a prescrição médica excessiva; o uso excessivo ou desperdício de determinados medicamentos por um país ou região, que supõe o uso de medicamentos de eficácia não aprovada ou duvidosa. Outra vertente que perpassa a farmacoepidemiologia é a segurança no uso de medicamentos, que implica o desenvolvimento de ações preventivas para reduzir ou evitar a ocorrência de Efeitos Adversos. Os achados farmacoepidemiológicos permitem aos profissionais de saúde a melhor compreensão dos riscos e benefícios de medicamentos utilizados em populações diversificadas, de forma a subsidiar as tomadas de decisão. 6WWW.UNINGA.BR FA RM AC OE PI DE M IO LO GI A E FA RM AC OV IG IL ÂN CI A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. FARMACOEPIDEMIOLOGIA A história de um fármaco começa quando este é comercializado. Nesse momento, o novo produto foi submetido a Ensaios Clínicos, envolvendo desde dezenas até milhares de pacientes. Na denominada Fase III dos Ensaios Clínicos, o fármaco é experimentado comparativamente sob um controle rigoroso em grupos reduzidos de pacientes, mas que são plenamente representativos dos futuros usuários. O objetivo da Fase III é justificar e conseguir o registro do fármaco junto à autoridade sanitária para sua comercialização. Sobretudo, não se avalia a situação do novo fármaco no arsenal terapêutico disponível, em comparação com alternativas em uso corrente. Nesse contexto, é indiscutível a necessidade de conhecer como se usa o fármaco e quais efeitos produz na sua “vida real”. Utilização de medicamentos compreende a comercialização, distribuição, prescrição e uso de medicamentos numa sociedade, com ênfase sobre as consequências médicas, sociais e econômicas resultantes. Com os mesmos critérios, pode-se propor inicialmente a seguinte definição de Farmacovigilância: a identificação e valoração dos efeitos do uso agudo e crônico dos tratamentos farmacológicos no conjunto da população geral ou em subgrupos de pacientes expostos a tratamentos específicos. Ambas as definições ilustram os dois lados complementares de uma atividade geral, cujo objeto é o seguimento da vida dos medicamentos na comunidade (BRASIL, 2012). Farmacoepidemiologia é o estudo do uso e dos efeitos dos fármacos em um grande número de pessoas. É uma disciplina em desenvolvimento que aplica técnicas epidemiológicas para estudar o uso dos medicamentos em uma grande população. Como a própria palavra sugere, farmacoepidemiologia combina farmacologia clínica com epidemiologia (YANG, 2013). Os elementos ora apresentados constituem a base para definir a Relação Benefício/Risco do uso de um fármaco, como sendo um meio para se expressar o juízo referente ao seu papel na prática médica, baseado em dados de eficácia e segurança, somados às considerações sobre a enfermidade que se pretende tratar. O ideal é que se encontrem formas de tratar as condições clínicas e enfermidades sem atribuir qualquer risco ao tratamento, no entanto isso é muito difícil de estabelecer. Por isso, o objetivo realístico na regulação dos produtos farmacêuticos é aprovar apenas aqueles que proporcionem mais benefícios de tratamento do que riscos e monitorar a segurança desses produtos de forma que novas informações sejam continuamente obtidas para avaliar o equilíbrio benefício-risco dos produtos comercializados (YANG, 2013). 2. USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS A Organização Mundial da Saúde (OMS) define que há uso racional de medicamentos quando pacientes recebem medicamentos para suas condições clínicas em doses adequadas às suas necessidades individuais, por um período adequado e ao menor custo para si e para a comunidade (WHO, 1985). No Brasil, o uso racional de medicamentos foi definido como o processo que compreende prescrição apropriada, disponibilidade oportuna, dispensação adequada e consumo em doses, intervalos e períodos de tempo indicados de medicamentos eficazes, seguros e de qualidade (BRASIL, 1998). 7WWW.UNINGA.BR FA RM AC OE PI DE M IO LO GI A E FA RM AC OV IG IL ÂN CI A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA O uso irracional ou inadequado de medicamentos é um dos maiores problemas de saúde em nível mundial. A Organização Mundial da Saúde estima que mais da metade de todos os medicamentos são prescritos, dispensados ou vendidos de forma inadequada, e que metade de todos os pacientes não os utiliza corretamente. Exemplos de uso irracional de medicamentos incluem: uso de muitos medicamentos por paciente (“polifarmácia”); uso inadequado de antibacterianos, muitas vezes em dosagem inadequada, para infecções não bacterianas; excesso de uso de injeções quando formulações orais seriam mais apropriadas; falta de prescrição em acordo com as diretrizes clínicas; automedicação inapropriada, muitas vezes com medicamentos de venda sob prescrição; não adesão aos regimes de dosagem, entre outros. Os medicamentos têm papel central na terapêutica contemporânea, com potencial de aliviar sintomas e, em alguns casos, curar doenças. O acesso a eles é considerado um direito humano fundamental, porém, mundialmente, os medicamentos estão incorporados à lógica capitalista de consumo. A forte pressão para a uniformização do comportamento humano, influenciado pelo modelo biomédico, e as estratégias de vendas da indústria farmacêutica incentivam o uso inadequado e intensificam o processo de medicalização da sociedade (MONTEIRO; LACERDA, 2016). Um exemplo atual de uso irracional de medicamentos é o caso do uso de psicofármacos no sistema escolar, com atenção ao uso de medicamentos para o tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção com ou sem Hiperatividade (TDA e TDAH). Segundo o relatório da Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes, a partir dos anos 2000, o uso do metilfenidato cresceu em todo mundo, acompanhado das discussões sobre o seu mau uso. Em 2014, no mundo, foram fabricadas 62 toneladas desse medicamento, e em 2016, esse número aumentou para 74 toneladas, a maior taxa já observada, considerando que a Dose Diária Definida (DDD) para tratar um paciente é 30 mg (BRASIL, 2018). Adquirir a quantidade exata de medicamento receitada pelo médico ainda é uma tarefa quase impossível no Brasil. Apesar de autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2006, a venda fracionada de remédios nunca saiu do papel. O consumidor acaba comprando além do necessário, aumentando os riscos da automedicação e da contaminação do meio ambiente com o descarte inapropriado. Mas um projeto em análise no Senado (PLS 98/2017) obriga drogarias e indústria farmacêutica a se adequarem para vender exatamente o que for prescrito ao paciente. Esse assunto é tratado no vídeo Venda fracionada de medicamentos evita desperdício e automedicação, dizem especialistas, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=g6rs1pQ8xWQ&feature=youtu.be. 8WWW.UNINGA.BR FA RM AC OE PI DE M IO LO GI A E FA RM AC OV IG IL ÂN CI A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 3. INVESTIGAÇÃO FARMACOEPIDEMIOLÓGICA A epidemiologia, ao longo do tempo, evoluiu da observação sistemática da ocorrência natural da doença para a pesquisa das causas e fatores de risco e, atualmente, para a avaliação das medidas de prevenção e controle das doenças na população. A farmacoepidemiologia aplica conceitos e metodologias da epidemiologia da doença crônica para o estudo dos medicamentos na população (YANG, 2013). Taxas, razões e proporções correspondem a medidas de presença e ausência de doença e outros desfechos. Taxa é a expressão de frequência em que um evento ocorre em uma população em risco, durante um período específico (dia, mês ou ano). A taxa é a comparação de dois números e possui quatro componentes: numerador, que é a frequência do evento; denominador, que é a população de risco para o evento; período específico; e multiplicador. Como exemplo, temos a Taxa de Mortalidade Infantil, que é dada pelo número de óbitosde menores de um ano de idade, por mil nascidos vivos, em determinado espaço geográfico, no ano considerado. Razão é o valor obtido pela divisão de um número por outro. Ela descreve a relação entre o numerador e o denominador, que são duas quantidades separadas e não associadas, por exemplo, a Razão de Sexo, que é a divisão do número de mulheres pelo número de homens residentes num determinado espaço geográfico, num dado momento. Proporção também é obtida pela divisão de um número por outro e o resultado é expresso em porcentagem (%). No entanto, na proporção, diferente da razão, o numerador e o denominador estão sempre associados. O numerador é sempre um subconjunto do denominador. Um exemplo é a proporção de idosos vacinados contra gripe em relação à população idosa residente num determinado espaço geográfico, num dado período. Há dois tipos de medidas básicas da frequência da ocorrência de doença na população que podem ser aplicadas aos estudos farmacoepidemiológicos: Incidência e Prevalência. A Incidência mede a ocorrência de novos casos de uma doença ou início da doença, a Prevalência mede o número de casos de uma doença já manifestada na população. Incidência de uma doença é definida como o número de novos casos que ocorrem em uma população em risco para desenvolver a doença, durante um período especificado (em geral, um ano). No início, as pessoas do grupo em risco não apresentam doença. Para doenças comuns, a incidência pode ser expressa como um percentual ou número de novos casos para uma população de mil habitantes; para condições raras, em geral, ela é expressa com um denominador grande, por exemplo, para 100 mil habitantes. Prevalência da doença é definida como o número de casos existentes (antigos ou novos) na população (doente, saudável, de risco e não de risco). Ela foca o estado da doença de interesse e mede a proporção da população que a apresenta. Para mais informações sobre Uso Racional de Medicamentos, acesse a página do Ministério da Saúde na internet por meio do link http://saude.gov.br/saude-de-a-z/uso-racional-de-medicamentos. 9WWW.UNINGA.BR FA RM AC OE PI DE M IO LO GI A E FA RM AC OV IG IL ÂN CI A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Alguns indivíduos podem ter desenvolvido a enfermidade há muito tempo, e outros mais recentemente. Entretanto, todos eles devem apresentar a doença de interesse no momento da avaliação. Na farmacoepidemiologia, Incidência e Prevalência podem ser empregadas para medir eventos ocorridos com medicamentos, em como identificar novos usuários de medicamentos, medir a utilização existente de medicamentos e assim por diante. Uma análise farmacoepidemiológica da utilização de medicamentos está, por natureza, baseada na população. 4. ESTUDOS DE UTILIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS - EUM Os medicamentos constituem um elemento com características especiais no contexto global da medicina por duas razões: em primeiro lugar, por seu papel como parte da assistência médica e, em segundo lugar, pelo valor que se tem em conhecer o modo como são utilizados na prática médica (LAPORTE; TOGNONI, 2007). Vejamos primeiramente o seu papel: • Os medicamentos são utilizados como ferramenta quase em todas as disciplinas médicas, nos diferentes níveis do Sistema de Atenção à Saúde e em diversas situações sanitárias. • Como resultado final de um processo de diagnóstico e decisão, a prescrição reflete a atitude e as expectativas de um médico em relação ao curso de uma doença. Sacarina, ciclamato e câncer de bexiga – Testes com animais sugerem que a sacarina, um adoçante dietético, seja cancerígeno sobre a bexiga de certas espécies. Estudos de Casos e Controles realizados para verificar essa questão na espécie humana não obtiveram resposta conclusiva, pois os resultados foram discordantes. Para examinar esse problema, têm sido muito úteis os dados de estatísticas vitais e incidência de câncer, obtidos de registros de ocorrências de tumores. As bebidas gaseificadas dietéticas que contêm sacarina e ciclamato tornaram-se muito populares, principalmente entre os diabéticos. Se esses adoçantes fossem causa do câncer de bexiga, seria esperado aumento da incidência dessa enfermidade nos diabéticos, comparados aos não diabéticos. Todavia, a análise da incidência de câncer de bexiga entre a população geral e entre os diabéticos não demonstrou nenhum efeito dos adoçantes. Mas o que se encontrou foi o registro de um aumento lento e constante da incidência de câncer de bexiga associado ao hábito de fumar. Esse exemplo mostra como a análise das taxas de morbidade (adoecimento) em populações específicas, expostas a doses elevadas ou ao uso continuado de medicamentos ou produtos químicos suspeitos pode constituir um dado acessório útil para outras investigações (BURBANK; FRAUMENI, 1970). 10WWW.UNINGA.BR FA RM AC OE PI DE M IO LO GI A E FA RM AC OV IG IL ÂN CI A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA • Considerando a prescrição um compromisso entre duas partes, os medicamentos são o ponto de contato mais direto entre as estruturas sanitárias e seus usuários, e para estes uma memória simbólica de seu contato com o Sistema de Atenção à Saúde. • Os medicamentos simbolizam o desejo e a capacidade de modificar o curso natural da maioria das doenças. Assim, tornam-se uma característica cultural cujas implicações vão mais além da atividade terapêutica específica, podendo ser considerados como indicadores de resultados que as Ciências Médicas esperam obter sobre a enfermidade. Considera-se, em segundo lugar, a maneira como os medicamentos são usados na prática médica e os problemas que seu uso implica: • Os medicamentos transformaram-se no objeto tão familiar da prática médica atual que, mais do que qualquer outra medida terapêutica, correm o risco de serem utilizados em condições não controladas e, em consequência, de maneira incorreta. • Criou-se por parte da indústria farmacêutica um campo de pressão em torno do medicamento como ferramenta terapêutica. Essa pressão tem afetado os responsáveis pela prescrição e os usuários, de forma que o setor farmacêutico se encontre numa disjuntiva permanente entre cobrir uma necessidade sanitária real e assegurar uma expansão constante do mercado. • Quanto mais se desenvolvem, como resultado de pesquisas, produtos muito potentes, que modificam delicadas funções fisiológicas e bioquímicas, maior é a importância de suas possibilidades iatrogênicas. O estudo do modo como os medicamentos são pensados, desenvolvidos, promovidos e depois utilizados pode ajudar a caracterizar o próprio Sistema de Saúde. O objetivo principal dos EUM é conhecer sua interação com o processo global de Atenção à Saúde, em que as doenças são diagnosticadas, selecionadas para serem tratadas e modificadas em seu curso natural. Assim, os medicamentos formam parte do modo como, culturalmente, a saúde é assumida em uma sociedade. Em consequência, os medicamentos não só devem ser definidos como ferramentas terapêuticas, mas também como pontos de convergência com diversos fatores e atores que conduzem ao seu uso ou não. Medicamentos constituem-se sinais ou indicadores da prevalência de problemas médicos e a maneira que a comunidade científica e médica interatuam com os usuários na seleção terapêutica através da intervenção farmacológica. Iatrogenia é qualquer situação adversa que ocorre com um paciente como resultado de tratamento por um médico, cirurgião, ou outro profissional da área de saúde (DESCRITORES EM CIÊNCIAS DA SAÚDE, 2017). 11WWW.UNINGA.BR FA RM AC OE PI DE M IO LO GI A E FA RM AC OV IG IL ÂN CI A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Objetivo Fontes Principal informação obtida Oferta de medicamentos Registros nacionais Rename Bulário Nacional Oficial Catálogos das Indústrias Farmacêuticas Qualidade da oferta Qualidade da informação oferecida Estudos quantitativos de consumo Faturamento de empresas privadas Relatórios de produçãode Laboratórios Públicos Valores de aquisição pelos setores Público e Privado Amostras de prescrições hospitalares e ambulatoriais Tendências comparadas de consumo de diversos medicamentos Motivações de médicos para a prescrição Comparação de uso entre uma região e outra ou de um período a outro Estudos sobre a qualidade do consumo Amostra dos medicamentos mais vendidos, mais prescritos ou adquiridos sem prescrição médica com maior frequência Qualidade farmacêutica, farmacológica e terapêutica dos medicamentos mais utilizados e sua evolução Caracterização da utilidade potencial dos medicamentos no Sistema de Saúde Estudos de hábitos de prescrição médica Amostras de prescrições hospitalares e ambulatoriais Prontuário médico do paciente Prevalência da prescrição médica Relação entre indicação e prescrição Estudos de cumprimento das prescrições Técnicas indiretas: curso clínico, detecção de marcadores fisiológicos, impressão do médico, entrevistas estruturadas, supervisão da repetição de prescrições, contagem de comprimidos, registro eletrônico de envase e monitorização do uso de medicamentos Técnicas diretas: determinação plasmática ou em outros fluidos orgânicos da concentração de um fármaco, metabólito ou marcador Prescrição comparada com uso real pelo usuário Fatores de modificação e de confusão nas avaliações da relação risco/benefício Grau de informação do paciente sobre a doença e os efeitos dos medicamentos (indicadores de qualidade da relação médico- paciente) Vigilância orientada a problemas Histórias clínicas Subgrupos de alto risco Tratamentos de alto risco Descrição detalhada de critérios de utilização de medicamentos, diretrizes e protocolos terapêuticos Quadro 1 - Quadro geral de estratégias e métodos empregados em EUM. Fonte: Adaptado de Laporte e Tognoni (2007). 12WWW.UNINGA.BR FA RM AC OE PI DE M IO LO GI A E FA RM AC OV IG IL ÂN CI A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA De acordo com a Organização Mundial da Saúde, os estudos de utilização de medicamentos atendem importantes fins, dependendo da metodologia empregada, tais como: descrição de padrões de uso de medicamentos; constatação de variações nos perfis terapêuticos no curso do tempo; avaliação dos efeitos de medidas educativas, informativas, reguladoras; estimativa do número de indivíduos expostos a medicamentos; detecção de doses excessivas, mau uso, doses insuficientes se abuso dos medicamentos; estimativa das necessidades de medicamentos de uma sociedade, entre outros. Os estudos de utilização incluem aqueles que podem ser realizados dentro do seu conceito, entre os quais se mencionam (ver Quadro 1): estudo de oferta de medicamentos; estudos quantitativos de consumo de medicamentos; estudos qualitativos sobre a qualidade da prescrição; estudos sobre hábitos de prescrição médica; estudos de cumprimento da prescrição médica; vigilância orientada a problemas específicos; planejamento; orçamento; estudos para avaliar o impacto de intervenções específicas (MELO; RIBEIRO; STORPIRTIS, 2006). 4.1 Visão Geral do Delineamento dos EUM 4.1.1 Objetivos da pesquisa Antes de selecionar um determinado delineamento de estudo, é importante considerar o objetivo geral da realização do estudo. É interessante categorizar um estudo em um dos três objetivos gerais: descrição, identificação/exploração de associações ou determinação das relações causais (ver Quadro 2). Objetivo Delineamentos potenciais de estudo Exemplos de questões de pesquisa Descrição Estudos de casos, série de casos, estudos de prevalência, estudos transversais. • Quantos pacientes aderem ao regi- me terapêutico? • Quantos médicos trocaram a te- rapia medicamentosa por causa dos efeitos adversos? Identificação/ exploração das associações Estudos quase-experimentais, estu- dos de coorte, estudos de caso-con- trole, estudos transversais. • Quais fatores estão associados à adesão do paciente à terapia medica- mentosa? • É provável que os médicos que trocam a terapia medicamentosa tenham mais pacientes relatando efeitos adversos do que aqueles que não trocam a terapia? Determinação das relações causais Ensaios clínicos randomizados, qua- se-experimentais. • Um novo programa de adesão do paciente resulta em aumento de adesão? • A introdução de um novo alerta eletrônico reduz a taxa de prescrição de medicamentos inadequados? Quadro 2 - Objetivos gerais da pesquisa e exemplos. Fonte: Adaptado de Yang (2013). 13WWW.UNINGA.BR FA RM AC OE PI DE M IO LO GI A E FA RM AC OV IG IL ÂN CI A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Os delineamentos epidemiológicos tradicionais (p. ex., coorte e caso-controle) são vantajosos ao possibilitarem que o pesquisador desenvolva hipóteses. O processo de testar com precisão uma hipótese é o alvo na elaboração de alguma afirmativa causal (p. ex., usar um medicamento X causará uma redução na pressão arterial) e, quase sempre, é o objetivo subjetivo da realização de uma pesquisa. Alguns tipos de estudo de intervenção, como o ensaio clínico randomizado ou quase-experimental, costumam ser considerados necessários para testar uma hipótese com precisão e chegar a uma conclusão causal; no entanto, avanços nas técnicas estatísticas aumentam a soberania das afirmativas causais de alguns delineamentos de estudo observacional. 4.1.2 Princípios de delineamento do estudo Desenhar estudos de pesquisa requer a consideração de certos conceitos importantes, independentemente da abordagem específica utilizada. A capacidade de elaborar afirmativas ou conclusões precisas é uma das mais importantes considerações. Essa ideia de precisão está no núcleo do conceito de validade. Esse conceito pode ser dividido em duas partes complementares: validade interna e validade externa. Um conceito geral de validade interna é o grau de certeza de que os efeitos declarados são realmente o resultado da exposição de interesse (p. ex., algum medicamento ou programa) e não de outra variável de interferência. A validade externa pode ser considerada na medida em que as conclusões de certo estudo podem ser generalizadas para além da amostra atual e da população-alvo, ou seja, para a população geral ou para outra situação. A validade costuma ser afetada pela introdução de alguns tipos de erro sistemático, ou viés, em virtude de um delineamento de estudo inadequado, da amostra de indivíduos imprópria ou mesmo da análise de dados inadequada. Alguns perigos comuns à validade interna, no contexto epidemiológico, incluem viés de confundimento, viés de seleção e viés de informação. Além da validade, a confiabilidade é outro conceito importante ao se desenhar estudos. Em geral, a confiabilidade é descrita como a precisão de uma estimativa, sua consistência ao longo do tempo ou por meio dos indivíduos do estudo, ou a extensão da reprodução da estimativa. Em relação à exposição ao medicamento, o autorrelato do uso do fármaco, por exemplo, pode ser menos confiável como método de medição do que aquele que considera os dados de prescrição. 14WWW.UNINGA.BR FA RM AC OE PI DE M IO LO GI A E FA RM AC OV IG IL ÂN CI A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 4.1.3 Delineamentos experimentais e quase-experimentais Trata-se de estudos de intervenção, pois o pesquisador, em diferentes graus, implementa de forma ativa uma intervenção ou um tratamento (Figura 1). Figura 1 - Desenho geral do ECR. Fonte: O autor. Embora existam outras diferenças, a característica primária que distingue um delineamento experimental do quase-experimental reside no fato de que a aleatorização (randomização) das pessoas para os grupos de tratamento não é realizada nos estudos quase-experimentais. O ensaio clínico randomizado (ECR) costuma ser considerado o delineamento mais vantajoso na pesquisa biomédica, do ponto de vista de testar hipóteses e de confirmar conclusões causais. A randomização é o processo de designar aleatoriamente os indivíduospara um ou mais grupos de forma a permitir que cada pessoa tenha a mesma probabilidade de estar em qualquer grupo. ECR podem ser utilizados, por exemplo, para melhorar o uso de medicamentos com base na prescrição mais apropriada, examinar padrões de prescrição entre grupos específicos de pacientes. Os estudos quase-experimentais podem servir para comparar um efeito entre grupos, aplicando-se repetidas medidas, antes e depois da intervenção ou da ocorrência evidente de uma alteração. São úteis para avaliar a implementação de programas ou políticas de saúde e assistência farmacêutica (Figura 2). 15WWW.UNINGA.BR FA RM AC OE PI DE M IO LO GI A E FA RM AC OV IG IL ÂN CI A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 2 - Representação esquemática dos resultados de um ECR. Fonte: O autor. 4.1.4 Delineamentos observacionais Os delineamentos de estudos observacionais são extremamente úteis na avaliação do uso de medicamentos e de seus resultados associados, incluindo efeitos benéficos involuntários dos fármacos. Os diversos delineamentos observacionais, empregados em farmacoepidemiologia, são apresentados a seguir: a. Relatos de casos e séries de casos – descrevem a experiência clínica de um paciente com um determinado medicamento, e uma série de casos é similar ao relato de caso, exceto pelo fato de descrever a experiência de vários pacientes. Exemplos muito comuns são os relatos da ocorrência de eventos adversos a medicamentos raros e graves. Pelo fato de não existir controle ou randomização, esses tipos de estudos não oferecem evidências para elaborar quaisquer relações causais. b. Estudos ecológicos – em situações nas quais dados em nível de paciente não estão disponíveis, uma maneira de conseguir informações é no nível coletivo de forma que indivíduos não sejam identificados. O uso desses dados do nível coletivo resulta em estudos ecológicos. Algumas informações de grupo que costumam ser utilizadas na farmacoepidemiologia envolvem o uso do medicamento em âmbito nacional ou estadual. Uma fonte importante de dados coletivos em saúde é o Departamento de Informática do SUS – DATASUS (Figura 3). Um exemplo de estudo ecológico é o emprego de dados do âmbito hospitalar em múltiplos anos para examinar a relação entre o uso de antibiótico e a resistência bacteriana. Os estudos ecológicos devem ser interpretados com cuidado para evitar o viés de tirar conclusões no nível do paciente quando apenas os dados coletivos foram utilizados. 16WWW.UNINGA.BR FA RM AC OE PI DE M IO LO GI A E FA RM AC OV IG IL ÂN CI A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 3 - Informações de Saúde (TABNET). Fonte: Brasil (2020). c. Estudos transversais – também chamados de estudos de prevalência, procuram por amostras de uma população de interesse em um dado momento, em geral, o presente. Diferentemente de outros delineamentos de estudos epidemiológicos, o resultado de interesse e a exposição de interesse são determinados simultaneamente (Figura 4). Embora os estudos transversais não gerem estimativas de incidência, eles são bem adaptados para fornecer estimativas de prevalência de uma condição ou exposição e podem ser conduzidos ao longo de múltiplos momentos (semanas, meses, anos). Como exemplo, os estudos transversais permitem determinar a frequência mensal do uso de anti-hipertensivos em pacientes com idade entre 50 e 60 anos num grupo populacional assistido por uma equipe do Programa Saúde da Família. 17WWW.UNINGA.BR FA RM AC OE PI DE M IO LO GI A E FA RM AC OV IG IL ÂN CI A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 4 - Representação esquemática dos resultados de um Estudo Transversal. Fonte: O autor. d. Estudos de caso-controle – iniciam pela identificação de uma amostra de indivíduos (expostos) com o desfecho de interesse (p. ex., câncer ou óbito), para servir como casos, e outra amostra (não expostos) sem o resultado de interesse, mas com as mesmas características, para servir de controles. Em seguida, o pesquisador determina o estado de exposição de cada indivíduo em ambas as amostras. As proporções relativas àquelas pessoas expostas dos casos são comparadas com aquelas dos controles, gerando a razão de chances (chances de exposição nos casos versus chances de exposição no controle), também conhecida como odds ratio (Figura 5). Figura 5 - Representação esquemática dos resultados de um Estudo de Caso-Controle. Fonte: O autor. 18WWW.UNINGA.BR FA RM AC OE PI DE M IO LO GI A E FA RM AC OV IG IL ÂN CI A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Esses estudos apresentam especial utilidade quando o desfecho examinado é relativamente raro e são muito empregados para estudar os efeitos adversos dos fármacos, como no câncer ou na insuficiência renal, ou a ocorrência de erros de prescrição. e. Estudos de coorte – uma população exposta a um determinado fator de risco, da qual se faz o seguimento até a ocorrência do desfecho esperado (de interesse) é denominada coorte. O objetivo geral desses estudos é estimar o risco ou a taxa de algum resultado entre os indivíduos de uma coorte. Para estimar esses valores, todos os indivíduos no estudo (ou seja, a coorte) devem estar livres do desfecho de interesse no início do estudo. Os estudos de coorte podem ser realizados de maneira totalmente prospectiva, em que a identificação da coorte livre do desfecho inicia no presente e os indivíduos são acompanhados até o futuro (Figura 6). Em oposição, os estudos de coorte retrospectiva envolvem analisar o passado para identificar um momento em que os indivíduos estiveram livres do desfecho e, em seguida, acompanhá-los até o presente ou até o futuro para determinar a ocorrência de um desfecho. Figura 6 - Representação esquemática dos resultados de um Estudo de Coorte. Fonte: O autor. 19WWW.UNINGA.BR FA RM AC OE PI DE M IO LO GI A E FA RM AC OV IG IL ÂN CI A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 4.2 Ferramentas Metodológicas Empregadas nos EUM 4.2.1 Sistema ATC/DDD O campo da Pesquisa de Utilização de Medicamentos (DUR) começou a atrair atenção nos anos 1960. Um simpósio da OMS em 1969 destacou a necessidade de um sistema de classificação aceito internacionalmente para estudos de utilização de medicamentos. Como resultado, o Grupo de Pesquisa sobre Utilização de Medicamentos (DURG) foi estabelecido e encarregado do desenvolvimento de métodos internacionalmente aplicáveis para o DUR. Inspirada por esse interesse, a classificação Anatômica-Terapêutica-Química (ATC) foi desenvolvida na Noruega como uma modificação e extensão do sistema de classificação da Associação Europeia de Pesquisa do Mercado Farmacêutico (EphMRA). Para medir o uso de medicamentos, é importante ter um sistema de classificação e uma unidade de medida. Para lidar com as objeções contra as unidades de medida tradicionais, uma unidade técnica de medida chamada Dose Diária Definida (DDD) foi desenvolvida para uso em EUM. Em 1981, o sistema ATC / DDD foi recomendado pela OMS como padrão internacional para EUM e, em 1982, o Centro Colaborador da OMS para Metodologia Estatística de Medicamentos foi estabelecido e recebeu a responsabilidade de coordenar o desenvolvimento e uso do sistema ATC / DDD. Em 1996, o Centro foi reconhecido como um centro global. Isso foi visto como importante para permitir uma estreita integração dos estudos internacionais sobre utilização de medicamentos e das iniciativas da OMS para alcançar acesso universal aos medicamentos necessários e uso racional de medicamentos, particularmente nos países em desenvolvimento. O acesso às informações padronizadas e validadas sobre o uso de medicamentos é essencial para permitir auditoria dos padrões de utilização, identificação de problemas, intervenções educacionais e monitoramento dos seus resultados (WHO, 2020). O objetivo do sistema ATC / DDD é servir como uma ferramenta para monitorar e pesquisar a utilização de medicamentos, a fim demelhorar a qualidade do uso de medicamentos. Um componente disso é a apresentação e comparação das estatísticas de consumo de medicamentos em níveis internacionais e outros. Um objetivo principal do Centro e do Grupo de Trabalho é manter códigos ATC e DDD estáveis ao longo do tempo para permitir que as tendências no consumo de medicamentos sejam estudadas sem a complicação de mudanças frequentes no sistema. Existe uma forte relutância em fazer alterações nas classificações ou DDD, quando tais alterações são solicitadas por razões não diretamente relacionadas aos estudos de consumo de medicamentos. Por esse motivo, o sistema ATC / DDD por si só não é adequado para orientar decisões sobre reembolso, preço e substituição terapêutica. É essencial que uma ferramenta para monitoramento e pesquisa da utilização de medicamentos possa cobrir a maioria dos medicamentos disponíveis no mercado. Um objetivo importante da utilização de medicamentos é monitorar seu uso racional e irracional, como um passo importante na melhoria da qualidade desse uso. A classificação de uma substância no sistema ATC / DDD não é, portanto, uma recomendação para uso e não implica nenhum julgamento sobre a eficácia ou eficácia relativa de medicamentos e grupos de medicamentos. 20WWW.UNINGA.BR FA RM AC OE PI DE M IO LO GI A E FA RM AC OV IG IL ÂN CI A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 4.2.2 O código ATC: estruturas e princípios No sistema de classificação ATC, as substâncias ativas são classificadas em uma hierarquia com cinco níveis diferentes. O sistema possui quatorze principais grupos anatômicos / farmacológicos ou 1º nível (Quadro 3). Cada grupo principal do ATC é dividido em 2º nível, que pode ser grupos farmacológicos ou terapêuticos. Os terceiro e quarto níveis são subgrupos químicos, farmacológicos ou terapêuticos e o quinto nível é a substância química. Os níveis 2, 3 e 4 são frequentemente usados para identificar subgrupos farmacológicos quando isso é considerado mais apropriado do que subgrupos terapêuticos ou químicos (Quadro 4). A Trato Alimentar e Metabolismo B Sangue e Órgãos Hematopoiéticos C Sistema Cardiovascular D Dermatológicos G Sistema Geniturinário e Hormônios Sexuais H Preparações Hormonais Sistêmicas (Exclui Hormônios Sexuais e Insulinas) J Anti-infecciosos para Uso Sistêmico L Antineoplásicos e Agentes Imunomoduladores M Sistema Musculoesquelético N Sistema Nervoso P Produtos Antiparasitários, Inseticidas e Repelentes R Sistema Respiratório S Órgãos dos Sentidos V Vários (Não Classificados em Outros Grupos) Quadro 3 - Grupos Anatômicos Principais da Classificação ATC. Fonte: Adaptado de WHO Collaborating Centre for Drug Statistics Methodology (2020). A classificação completa da metformina ilustra a estrutura do código ATC: A Trato Alimentar e metabolismo (1º nível, grupo anatômico principal) A10 Fármacos usados em Diabetes (2º nível, subgrupo terapêutico) A10B Fármacos que reduzem a glicemia; excluindo-se insulinas (3º nível, subgrupo farmacológico) A10BA Biguanidas (4º nível, subgrupo químico) A10BA02 Metformina (5º nível, substância química) Quadro 4 - Níveis da Classificação ATC da Metformina. Fonte: Adaptado de WHO Collaborating Centre for Drug Statistics Methodology (2020). 21WWW.UNINGA.BR FA RM AC OE PI DE M IO LO GI A E FA RM AC OV IG IL ÂN CI A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 4.2.3 Uso terapêutico ou classe farmacológica Os medicamentos são classificados de acordo com o principal uso terapêutico do ingrediente ativo principal. O sistema ATC não é, contudo, estritamente um sistema de classificação terapêutica. Em muitos grupos principais do ATC, os grupos farmacológicos foram designados nos níveis 2, 3 e 4, permitindo a inclusão de medicamentos com vários usos terapêuticos sem especificar a indicação principal. Por exemplo, os bloqueadores dos canais de cálcio são classificados no grupo farmacológico C08 - bloqueadores dos canais de cálcio, que evita especificar se a principal indicação é doença cardíaca coronária ou hipertensão. A subdivisão do mecanismo de ação, no entanto, costuma ser bastante ampla (por exemplo, antidepressivos), uma vez que uma classificação muito detalhada de acordo com o modo de ação geralmente resulta em ter uma substância por subgrupo que, na medida do possível, é evitada. Alguns grupos ATC são subdivididos em grupos químicos e farmacológicos (por exemplo, grupo ATC J05A – antivirais de ação direta). Será dada preferência ao estabelecimento de um novo 4º nível farmacológico, em vez de um subgrupo químico. Muitos medicamentos são usados e aprovados para duas ou mais indicações, enquanto normalmente apenas um código ATC será atribuído. Além disso, os códigos ATC são frequentemente atribuídos de acordo com o mecanismo de ação e não com a terapia. Um grupo ATC pode, portanto, incluir medicamentos com muitas indicações diferentes, e medicamentos com uso terapêutico semelhante podem ser classificados em diferentes grupos. 4.2.4 Apenas um código ATC para cada via de administração As substâncias medicinais são classificadas de acordo com o principal uso terapêutico ou classe farmacológica, segundo o princípio básico de apenas um código ATC para cada via de administração (por exemplo, formulações orais com ingredientes e força semelhantes terão o mesmo código ATC). Esse é um princípio importante para a classificação ATC, pois permite a agregação de dados no monitoramento e pesquisa da utilização de medicamentos, sem contar um produto farmacêutico mais de uma vez. Esse princípio é estritamente tratado pelo Centro da OMS, para que usuários de diferentes países possam classificar um produto farmacêutico (definido pelo(s) ingrediente(s) ativo(s), via de administração e força) da mesma maneira. Um produto farmacêutico pode ser aprovado para duas ou mais indicações igualmente importantes e o principal uso terapêutico pode diferir de um país para outro. Isso geralmente oferece várias alternativas de classificação. Esses medicamentos recebem apenas um código, sendo a principal indicação decidida com base nas informações disponíveis. Os problemas são discutidos no Grupo de Trabalho Internacional da OMS para Metodologia de Estatísticas de Medicamentos, onde a classificação final é decidida. Serão fornecidas referências cruzadas nas diretrizes para indicar os vários usos desses medicamentos. 22WWW.UNINGA.BR FA RM AC OE PI DE M IO LO GI A E FA RM AC OV IG IL ÂN CI A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 4.2.5 Mais de um código ATC para uma substância medicinal Uma substância medicinal pode receber mais de um código ATC se estiver disponível em dois ou mais pontos fortes ou vias de administração com usos terapêuticos claramente diferentes. Exemplo de diferentes concentrações: A finasterida está disponível em duas concentrações diferentes. Um comprimido de baixa concentração para o tratamento da calvície masculina é classificado em D11AX – Outros dermatológicos. Um comprimido de alta concentração usado no tratamento da hipertrofia Prostática Benigna (HPB) é classificado em G04C - Medicamentos usados na HPB. Exemplo de diferentes formas de administração: A prednisolona como monodroga recebe vários códigos ATC devido a diferentes usos terapêuticos e diferentes formulações. A07EA01 Agentes anti-inflamatórios intestinais (enemas e espumas). C05AA04 Anti-hemorroidas para uso tópico (supositórios). D07AA03 Preparações dermatológicas (cremes, pomadas e loções). H02AB06 Corticosteroides para uso sistêmico (comprimidos, injeções). R01AD02 Descongestionantes nasais (sprays / gotas nasais). S01BA04 Oftalmológicos (colírio). S02BA03 Otológicos (gotas para os ouvidos). 4.2.6 Novos grupos ATC e “outros” grupos (grupos X) Como regra principal, uma nova substância medicinal que não pertença claramente a nenhum 4º nível existente do ATC será colocada em um grupo X (grupo “outro”) no 3º nível relevante. Para evitar uma situação de vários níveis 4 comapenas uma substância em cada um, novos 4º níveis específicos são geralmente estabelecidos somente quando, pelo menos, duas substâncias com autorização de introdução no mercado se enquadram no grupo. Além disso, um novo nível 4 deve ser considerado um benefício para a pesquisa de utilização de medicamentos. Portanto, produtos farmacêuticos novos e inovadores serão frequentemente classificados em um grupo X e esses grupos poderiam ser estabelecidos para apenas uma substância. 4.2.7 Outros princípios gerais Os comprimidos de liberação imediata e lenta normalmente terão o mesmo código ATC. Diferentes formas estereoisoméricas normalmente terão códigos ATC distintos. Exceções serão descritas nas diretrizes para os respectivos grupos ATC. Os pró-fármacos geralmente recebem códigos ATC distintos, se as dosagens utilizadas forem diferentes e/ou o nome não proprietário (DCI) do pró-fármaco e os medicamentos ativos forem diferentes. Exemplo: J01CA08 pivmecilinam J01CA11 mecilinam Fármacos obsoletos ou retirados do mercado são mantidos no sistema ATC, uma vez que a exclusão de substâncias do sistema ATC pode criar dificuldades para os usuários do sistema ao considerar dados históricos. 23WWW.UNINGA.BR FA RM AC OE PI DE M IO LO GI A E FA RM AC OV IG IL ÂN CI A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 4.2.8 Classificação de produtos combinados (em associação) Os produtos farmacêuticos que contêm dois ou mais ingredientes ativos são considerados combinações (incluindo embalagens combinadas) e recebem códigos ATC diferentes dos produtos simples que contêm um ingrediente ativo. Misturas estereoisoméricas são consideradas produtos simples. Medicamentos que, além de um ingrediente ativo, contêm substâncias auxiliares destinadas a aumentar a estabilidade do produto (por exemplo, vacinas contendo pequenas quantidades de antibacterianos) aumentam a duração (por exemplo, formulações de depósito) e/ou aumentam a absorção (por exemplo, diferentes solventes em vários dermatológicos) são considerados produtos simples. A classificação de produtos combinados é um desafio em qualquer sistema de classificação. Quanto aos produtos simples, as combinações são geralmente classificadas de acordo com seu principal uso terapêutico ou classe farmacológica. Um medicamento contendo um analgésico e um tranquilizante, e usado principalmente para aliviar a dor, deve ser classificado como analgésico. Da mesma forma, as combinações de analgésicos e antiespasmódicos serão classificadas nos medicamentos A03 para distúrbios gastrointestinais funcionais se o efeito antiespasmódico do produto for considerado mais importante. Em alguns grupos ATC, é introduzida uma classificação para ajudar na classificação de produtos combinados (por exemplo, combinações de diferentes anti-hipertensivos e combinações de diferentes analgésicos). Essa posição mostra qual medicamento tem precedência sobre outros quando a classificação é decidida. Um princípio comumente usado para combinações com ingredientes ativos que não pertencem ao mesmo nível 4 de ATC é que o ingrediente principal da combinação seja identificado e a combinação receba um código de 5º nível separado no mesmo 4º nível do ingrediente principal classificado. Exemplo: N02BE01 paracetamol N02BE51 paracetamol, combinações, excluindo-se psicolépticos Neste exemplo, diferentes produtos combinados compartilham o mesmo ingrediente ativo principal (paracetamol no exemplo acima) e recebem o mesmo código ATC. Combinações de paracetamol + ácido acetilsalicílico e paracetamol + cafeína são assim classificadas no mesmo código N02BE51 paracetamol, combinações. Os nomes de todos os ingredientes ativos de uma combinação são dados em alguns níveis 5 do ATC. Esse princípio tem sido usado com mais frequência nos últimos anos, a fim de fornecer uma melhor identificação das várias combinações. Exemplo: M01AE02 naproxeno M01AE52 naproxeno e esomeprazol M01AE56 naproxeno e misoprostol Alguns produtos combinados contendo fármacos psicolépticos, que não são classificados em N05 - Psicolépticos ou N06 - Psicoanalépticos, são classificados em níveis 5 separados, por exemplo. N02BE71 paracetamol, combinações com psicolépticos. As combinações que contêm dois ou mais ingredientes ativos pertencentes ao mesmo 4º nível são, em alguns casos, classificadas usando o código do 5º nível. Exemplo: B01AC06 ácido acetilsalicílico B01AC07 dipiridamol B01AC30 combinações (por exemplo, ácido acetilsalicílico e dipiridamol) 24WWW.UNINGA.BR FA RM AC OE PI DE M IO LO GI A E FA RM AC OV IG IL ÂN CI A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Um princípio importante usado com mais frequência nos últimos anos à medida que mais combinações racionais foram comercializadas é atribuir níveis 3 ou 4 do ATC separados para combinações. Exemplos: C10B Agentes modificadores de lipídios, combinações. J05AR Antivirais para tratamento de infecções por HIV, combinações. N02AJ Opioide sem combinação com analgésicos não opioides. R03AL Adrenérgicos em combinação com anticolinérgicos, incluindo combinações triplas com corticosteroides. Nesses grupos ATC para combinações, o código do 5º nível ATC frequentemente especifica os ingredientes ativos (por exemplo, C10BX04 sinvastatina, ácido acetilsalicílico e ramipril). O quão específica e “visível” uma combinação aparece na classificação ATC dependerá, em certa medida, da necessidade de uma classificação detalhada do ponto de vista da utilização de medicamentos. 4.2.9 Dose Diária Definida (DDD) DDD é uma unidade de medida e não reflete necessariamente a dose diária recomendada ou prescrita. As doses terapêuticas para pacientes individuais e grupos de pacientes geralmente diferem da DDD, pois serão baseadas em características individuais (como idade, peso, diferenças étnicas, tipo e gravidade da doença) e considerações farmacocinéticas. Apenas uma DDD é atribuída por código ATC e via de administração (por exemplo, formulação oral). DDD quase sempre é um consenso baseado em uma revisão das informações disponíveis, incluindo doses usadas em vários países quando essas informações estão disponíveis. DDD às vezes é uma “dose” que raramente é prescrita, se é que alguma vez é prescrita, porque pode ser uma média de duas ou mais doses usadas com frequência. Os dados de utilização de medicamentos apresentados nas DDD fornecem apenas uma estimativa aproximada do consumo e não uma imagem exata do uso real. DDD fornecem uma unidade de medida fixa independente do preço, moeda, tamanho da embalagem, e a força que permite que o pesquisador avalie tendências no consumo de medicamentos e faça comparações entre grupos populacionais. DDD são atribuídas apenas a medicamentos com um código ATC e uma DDD normalmente não será atribuída a uma substância antes que um produto seja aprovado e comercializado em, pelo menos, um país. O princípio básico é atribuir apenas uma DDD por via de administração em um código ATC. DDD para substâncias únicas são normalmente baseadas em monoterapia. Para substâncias indicadas para distúrbios raros com esquemas de dosagem altamente individuais, o Grupo de Trabalho pode decidir não atribuir uma DDD. DDD não são estabelecidas para produtos tópicos, soros, vacinas, agentes antineoplásicos, extratos de alérgenos, anestésicos gerais e locais e meios de contraste. 25WWW.UNINGA.BR FA RM AC OE PI DE M IO LO GI A E FA RM AC OV IG IL ÂN CI A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Para expressar a DDD, várias abreviações são usadas para unidades e vias de administração: a) Unidades g grama mg miligrama mcg micrograma U unidade mmol milimoles mL mililitros Quadro 5 - Unidades. Fonte: O autor. b) Vias de administração Implant Implante Inhal Inalação Instil Instilação N Nasal O Oral P Parenteral R Retal SL Sublingual TD Transdérmica V Vaginal Quadro 6 - Vias de administração. Fonte: O autor. DDD é baseada no uso em adultos (salvo se for medicamento para crianças), nestecaso pode-se também fazer a aproximação à dose de adultos (Quadro 7). Quando a dose inicial é diferente da dose de manutenção, a DDD corresponde a esta última. Para fármacos indicados para profilaxia e tratamento, a DDD se refere à dose terapêutica. Se a principal indicação é para profilaxia, a DDD corresponde a esta última. Idade Proporção da DDD adulto Neonato até 10 meses 0,20 De 1 até 3 anos 0,33 De 4 até 7 anos 0,50 Quadro 7 - Aproximação da DDD de adultos à pediátrica. Fonte: Altimiras, Bautista e Puigventós (2002). DDD proporciona uma ideia aproximada do volume de população tratada com uma dose habitual de um determinado fármaco por dia e geralmente é expressa por 1000 habitantes e por dia. 26WWW.UNINGA.BR FA RM AC OE PI DE M IO LO GI A E FA RM AC OV IG IL ÂN CI A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 4.2.10 Cálculo do Consumo de Medicamentos pela DDD Exemplo de cálculo de consumo pela DDD: A DDD da metformina é de 2 g. Se numa população de 37 milhões de habitantes forem vendidos 240 milhões de comprimidos de 500 mg em um ano, a quantidade expressa em DDD/ hab/dia seria: 27WWW.UNINGA.BR FA RM AC OE PI DE M IO LO GI A E FA RM AC OV IG IL ÂN CI A | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA CONSIDERAÇÕES FINAIS A Farmacoepidemiologia é uma disciplina ponte entre a farmacologia clínica, a terapêutica, a epidemiologia e a estatística. O objetivo dessa nova área de estudo é caracterizar, controlar e predizer os usos e efeitos dos tratamentos farmacológicos. É uma nova disciplina, que detém uma metodologia própria e adequada para detectar os efeitos benéficos e adversos dos fármacos, o que a torna extremamente importante para o uso racional de medicamentos e consequentemente para a saúde pública, principalmente nos países em desenvolvimento (CASTRO, 1997). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 50% de todos os medicamentos são incorretamente prescritos e dispensados; e mais de 50% dos pacientes os utilizam incorretamente. Aproximadamente 50% de todos os países não elaboram políticas básicas para promover o Uso Racional de Medicamentos (URM), e a situação ainda é mais agravante em países subdesenvolvidos, onde cerca de 40% dos pacientes do setor público e menos de 30% do privado são tratados de acordo com diretrizes clínicas (WHO, 2010). Os Estudos de Utilização de Medicamentos desenvolvem uma metodologia própria para conhecer como os profissionais e a sociedade em geral utilizam os medicamentos. Pioneiros dessa área de pesquisa entenderam que uma interpretação correta dos dados sobre a utilização de medicamentos requer investigações no nível do paciente. Isso deixou claro que precisamos saber as respostas às seguintes perguntas: a) por que os medicamentos são prescritos? b) quem são os prescritores? c) para quem os prescritores prescrevem? d) os pacientes tomam seus medicamentos corretamente? e) quais são os benefícios e riscos dos medicamentos? A pesquisa de utilização de medicamentos pode aumentar nossa compreensão de como os medicamentos estão sendo usados; pode ser usada para estimar o número de pacientes expostos a medicamentos específicos em um determinado período de tempo; tais estimativas podem se referir a todos os usuários de medicamentos, independentemente de quando começaram a usar o medicamento (prevalência) ou concentrar-se nos pacientes que começaram a usar o medicamento dentro do período (incidência); ainda, podem descrever a extensão do uso em um determinado momento e/ou em determinada área (por exemplo, em um país, região, comunidade ou hospital). Tais descrições são mais significativas quando formam parte de um sistema de avaliação contínua, ou seja, quando os padrões são seguidos ao longo do tempo e as tendências do uso de medicamentos podem ser compreendidas. 2828WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 02 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ...............................................................................................................................................................30 1. DESENVOLVIMENTO DE MEDICAMENTOS E SETOR REGULADOR ................................................................... 31 1.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE MEDICAMENTOS ............................... 31 1.1.1 PESQUISA TRANSLACIONAL NA DESCOBERTA E DESENVOLVIMENTO DE FÁRMACOS .............................32 1.1.2 O PROCESSO DA DESCOBERTA DE UMA NOVA MOLÉCULA ..........................................................................33 1.1.3 A DESCOBERTA DO FÁRMACO: DA SUBSTÂNCIA ATIVA AO PROTÓTIPO .....................................................34 1.1.4 DO PROTÓTIPO AO CANDIDATO A FÁRMACO ..................................................................................................35 1.1.5 TESTES PRÉ-CLÍNICOS ......................................................................................................................................35 1.1.6 PROTOCOLO DE ENSAIOS CLÍNICOS ................................................................................................................36 1.1.7 ENSAIO CLÍNICO FASE I .....................................................................................................................................37 1.1.8 ENSAIO CLÍNICO FASE II ....................................................................................................................................37 1.1.9 ENSAIO CLÍNICO FASE III ...................................................................................................................................37 APLICAÇÃO DA FARMACOEPIDEMIOLOGIA NOS SISTEMAS DE SAÚDE PROF. DR. JOSÉ GILBERTO PEREIRA ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: FARMACOEPIDEMIOLOGIA E FARMACOVIGILÂNCIA 29WWW.UNINGA.BR 1.1.10 PRODUÇÃO DO MEDICAMENTO EM LARGA ESCALA .................................................................................... 38 1.1.11 ENSAIO CLÍNICO FASE IV: ESTUDOS EM ANDAMENTO ................................................................................. 38 2. MEDICAMENTOS ESSENCIAIS .............................................................................................................................. 39 2.1 RELAÇÃO NACIONAL DE MEDICAMENTOS ESSENCIAIS .................................................................................. 39 2.2 OS COMPONENTES DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA E O ACESSO A MEDICAMENTOS NO SUS ........... 41 2.3 PROTOCOLOS CLÍNICOS E DIRETRIZES TERAPÊUTICAS ................................................................................44 3. INDICADORES SELECIONADOS DO USO DE MEDICAMENTOS ......................................................................... 45 3.1 COMO INVESTIGAR O USO DE MEDICAMENTOS NOS SERVIÇOS DE SAÚDE ................................................ 46 3.1.1 TIPOS DE INDICADORES ..................................................................................................................................... 47 3.1.2 TIPOS DE ESTUDOS DE UTILIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS COM INDICADOR ............................................ 48 3.1.3 INDICADORES PRINCIPAIS DE USO DE MEDICAMENTOS ............................................................................ 48 3.1.4 DESENHO DO ESTUDO E TAMANHO DA AMOSTRA ........................................................................................ 55 3.1.5 DEFINIR OS TIPOS DE CONSULTAS COM PRESCRIÇÃO A SEREM INCLUÍDAS .......................................... 57 3.1.6 ESCOLHA ENTRE DADOS RETROSPECTIVOS E PROSPECTIVOS .................................................................. 57 4. PRINCÍPIOS DE FARMACOECONOMIA ................................................................................................................ 58 4.1 ANÁLISES FARMACOECONÔMICAS DO CUSTO DE MEDICAMENTOS ............................................................ 59 4.1.1 ANÁLISES DE MINIMIZAÇÃO DE CUSTOS ........................................................................................................59 4.1.2 ANÁLISE DE CUSTO-EFETIVIDADE ...................................................................................................................60 4.1.3 ANÁLISE DE CUSTO-UTILIDADE .......................................................................................................................60 4.1.4 ANÁLISE DE CUSTO-BENEFÍCIO ....................................................................................................................... 61 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................................... 62 30WWW.UNINGA.BR FA RM AC OE PI DE M IO LO GI A E FA RM AC OV IG IL ÂN CI A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO A descoberta de medicamentos é um processo que visa identificar uma pequena molécula sintética ou uma grande biomolécula para avaliação abrangente como potencial candidato a medicamento. Em termos gerais, o processo moderno de descoberta de medicamentos inclui a identificação da doença a ser tratada e sua necessidade médica não atendida, a seleção de um alvo molecular farmacológico e sua validação. Envolve o desenvolvimento de ensaios in vitro seguidos de triagem de alto desempenho de bibliotecas de compostos em relação ao alvo para identificar acertos e aprimoramento de acertos para gerar compostos vantajosos que exibam potência e seletividade adequadas em relação ao alvo biológico in vitro e que demonstram eficácia em modelos animais de doença. Posteriormente, os compostos principais são aprimorados ainda mais para melhorar sua eficácia e farmacocinética antes de avançarem para o desenvolvimento do medicamento. O processo de desenvolvimento de medicamentos pode ser dividido nos estágios clínico e pré-clínico. No pré-clínico, são realizados estudos toxicológicos e de segurança farmacológica, a fim de estabelecer as concentrações máximas seguras em animais e determinar o potencial de efeitos adversos. Além disso, são realizados estudos para finalizar os processos econômicos necessários para a fabricação do medicamento, bem como para decidir sua melhor formulação. Se o medicamento exibir eficácia e segurança suficientes na avaliação pré-clínica, solicita-se permissão das agências reguladoras para iniciar seu desenvolvimento clínico. A Política Nacional de Medicamentos (BRASIL, 1998) estabelece diretrizes para garantir a necessária segurança, eficácia e qualidade dos medicamentos, além da promoção do seu uso racional e o acesso da população àqueles considerados essenciais. Entre essas diretrizes, destaca- se a Regulamentação Sanitária de Medicamentos, que deve enfatizar os aspectos relativos ao registro de medicamentos. O medicamento é o produto farmacêutico, tecnicamente obtido ou elaborado, com a finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins diagnósticos. O registro de medicamento é um instrumento por meio do qual o Ministério da Saúde, no uso de sua atribuição específica, determina a inscrição prévia na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pela avaliação do cumprimento de caráter jurídico-administrativo e técnico-científico para sua introdução no mercado, comercialização e uso. 31WWW.UNINGA.BR FA RM AC OE PI DE M IO LO GI A E FA RM AC OV IG IL ÂN CI A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. DESENVOLVIMENTO DE MEDICAMENTOS E SETOR REGULADOR 1.1 Considerações Sobre o Processo de Desenvolvimento de Medicamentos Na maioria das vezes, o desenvolvimento de um novo medicamento começa quando os pesquisadores de base aprendem sobre um alvo biológico (por exemplo, um receptor, enzima, proteína, gene etc.) envolvido em um processo biológico que se pensa ser disfuncional em pacientes com uma doença. Consideram-se a descoberta e o desenvolvimento de medicamentos totalmente novos aqueles com um modo de ação diferente de medicamentos já aprovados e destinados a uma indicação clínica que não é abordada por medicamentos aprovados. Medicamentos inovadores, que são cópias melhoradas dos medicamentos atuais, são valiosos, pois podem oferecer benefícios sobre os medicamentos existentes em termos de potência, segurança, tolerabilidade ou conveniência, mas geralmente não envolvem a manipulação de alvos biológicos diferentes daqueles diretamente afetados pelos medicamentos existentes. As análises em todas as áreas terapêuticas indicam que o desenvolvimento de um novo medicamento, desde a identificação do alvo até a aprovação para comercialização, leva mais de 12 anos e muitas vezes mais. O custo para desenvolver uma Nova Entidade Molecular (um composto de molécula pequena) ou Nova Entidade Biológica (um anticorpo, proteína, terapia genética ou outro medicamento biológico) é certamente superior a US $ 1 bilhão e, em média, foi estimado em cerca de US$ 2,6 bilhões. O Quadro 1 mostra um esquema dos estágios envolvidos no desenvolvimento de um novo medicamento juntamente com os tempos médios em anos necessários para cada estágio e o custo aproximado em milhões de dólares para cada fase do desenvolvimento (MOHS; GREIG, 2017). O objetivo de um programa pré-clínico de descoberta de medicamentos é fornecer uma ou mais moléculas candidatas clínicas, cada uma das quais com evidência suficiente de atividade biológica a um nível relevante para uma doença, bem como propriedades suficientes de segurança e semelhantes a medicamentos para que possa ser submetida a testes em humanos. A maioria dos programas de descoberta procura produzir mais do que a molécula candidata porque muitas moléculas não avançam durante todo o processo devido a problemas de segurança, cinética, potência, proteção de propriedade intelectual ou outros fatores. Não existe uma fórmula simples para a produção de uma molécula candidata clínica viável, embora a extensa colaboração da química, biologia, toxicologia e farmacocinética seja quase universalmente a norma nos modernos programas de descoberta de medicamentos. Programas de descoberta de fármacos de moléculas pequenas geralmente produzem quantidades maciças de dados usando técnicas de triagem de alto rendimento que avaliam muitos compostos em muitas doses e em muitos ensaios. 32WWW.UNINGA.BR FA RM AC OE PI DE M IO LO GI A E FA RM AC OV IG IL ÂN CI A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Quadro 1 - Tempo médio (anos) e custo aproximado (milhões de US$) de cada etapa de desenvolvimento de um novo fármaco. Fonte: Adaptado de Mohs e Greig (2017). 1.1.1 Pesquisa translacional na descoberta e desenvolvimento de fármacos A pesquisa translacional facilita a aplicação de descobertas científicas básicas em contextos clínicos e comunitários para prevenir e tratar doenças humanas. A tradução de conhecimentos e inovações de experimentos básicos de laboratório para aplicações de pacientes no ponto de atendimento; produção de novos medicamentos, dispositivos e produtos de saúde; e tratamentos promissores para os pacientes são chamados de transição de bancada para cabeceira. Inúmeras oportunidades abrangem pesquisa translacional. No entanto, existem vários obstáculos envolvidos no processo que tornam a jornada de tradução bastante desafiadora. Os principais desafios que dificultam o crescimento da pesquisa translacional incluem recursos insuficientes, financiamento e infraestrutura inadequados, escassez de pesquisadores qualificados e falta de experiência suficiente em técnicas essenciais. A descoberta e o desenvolvimento de medicamentos translacionais são um processo extremamente difícil, caro, demorado e arriscado. Apesar de milhares de empresas farmacêuticas trabalharem para desenvolver e colocar novos medicamentos no mercado e bilhões de dólares gastos todos os anos, apenas algumas novas entidades moleculares recebem aprovação de marketing do Food and Drug Administration (FDA) por ano. A descoberta translacional de medicamentos exige tanto a necessidade de cooperação entre a pesquisa clínica e farmacológicaquanto a importância do papel da academia na identificação de alvos e na descoberta, design e desenvolvimento de medicamentos. Segundo o National Institutes of Health Norte-Americano (2016), A pesquisa translacional inclui duas áreas de tradução. Uma é o processo de aplicação de descobertas geradas durante pesquisas em laboratório e em estudos pré-clínicos ao desenvolvimento de ensaios e estudos em humanos. A segunda área de tradução diz respeito à pesquisa que visa aprimorar a adoção das melhores práticas na comunidade. A relação custo-benefício das estratégias de prevenção e tratamento também é uma parte importante da ciência translacional. O modelo proposto (veja a Figura 1) captura a interação dinâmica inerente ao conceito de pesquisa translacional. A estrutura circular do modelo sugere que a pesquisa é um ciclo contínuo e suas setas bidirecionais enfatizam que novos conhecimentos e hipóteses são gerados a cada etapa. Algumas pesquisas básicas e de base populacional são translacionais, mas nenhum tipo de pesquisa é, por definição, translacional. Por outro lado, a pesquisa orientada ao paciente aborda fundamentalmente questões que têm o potencial de se traduzir em prática clínica e, portanto, afetam a saúde. Por esses motivos, o modelo inclui apenas parte da pesquisa básica e da população na estrutura circular, mas inclui toda a pesquisa orientada ao paciente nessa estrutura. 33WWW.UNINGA.BR FA RM AC OE PI DE M IO LO GI A E FA RM AC OV IG IL ÂN CI A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Figura 1 - Modelo de pesquisa translacional, conforme proposto pelo Evaluation Committee of the Association for Clinical Research Training. Fonte: Adaptado de National Institutes of Health (2007). No modelo, as setas T1, T2 e T3 representam pontes de um tipo de pesquisa para outro. Exemplos de pesquisas em T1 são desenvolvimento de medicamentos, farmacogenômica e alguns estudos sobre mecanismos de doenças e pesquisas sobre novas áreas, como genética, genômica e proteômica. Exemplos de T2 são epidemiologia clínica, pesquisa em serviços de saúde (resultados) e a metodologia recém-desenvolvida de pesquisa participativa baseada na comunidade. Exemplos de T3 são disciplinas emergentes, como epidemiologia molecular e genética. A pesquisa T3 destaca, por exemplo, como a pesquisa em populações informa hipóteses que podem ser testadas em laboratórios de ciências básicas e como os biomarcadores em modelos animais podem se traduzir em ferramentas de triagem baseadas na população. 1.1.2 O processo da descoberta de uma nova molécula a. Pré-descoberta Antes que qualquer novo medicamento em potencial possa ser descoberto, os cientistas trabalham para compreender a doença a ser tratada da melhor maneira possível e desvendar a causa subjacente da condição. Eles tentam entender como os genes são alterados, como isso afeta as proteínas que eles codificam e como essas proteínas interagem umas com as outras na vida das células, como essas células afetadas alteram o tecido específico em que estão e finalmente como a doença afeta todo o paciente. Esse conhecimento é a base para o tratamento do problema. Pesquisadores do governo, da academia e da indústria contribuem para essa base de conhecimento. No entanto, mesmo com novas ferramentas e ideias, essa pesquisa leva muitos anos de trabalho e, com muita frequência, leva a becos sem saída frustrantes. E mesmo que a pesquisa seja bem-sucedida, serão necessários muitos anos de trabalho para transformar esse entendimento básico do que causa uma doença em um novo tratamento. 34WWW.UNINGA.BR FA RM AC OE PI DE M IO LO GI A E FA RM AC OV IG IL ÂN CI A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA b. Identificação do alvo Uma vez que eles tenham entendimento suficiente da causa subjacente, os pesquisadores farmacêuticos selecionam um “alvo” para um potencial novo medicamento. Um alvo geralmente é uma molécula única, como um gene ou proteína, que está envolvida em uma doença específica. Mesmo no estágio da descoberta de fármacos, é fundamental que os pesquisadores escolham um alvo que seja “suscetível a fármaco”, ou seja, aquele que pode potencialmente interagir e ser afetado por uma molécula de fármaco. c. Validação do alvo Depois de escolher um alvo em potencial, os cientistas devem mostrar que ele realmente está envolvido na doença e pode ser acionado por um medicamento. Validação do alvo é crucial para ajudar os cientistas a evitar caminhos de pesquisa que parecem promissores, mas acabam levando a becos sem saída. Pesquisadores demonstram que um alvo em particular é relevante para a doença em estudo por meio de experiências complicadas em células vivas e em modelos animais de doença. 1.1.3 A descoberta do fármaco: da substância ativa ao protótipo Armados com sua compreensão da doença, os cientistas estão prontos para começar a procurar um fármaco. Eles procuram por uma molécula, ou “composto protótipo”, que pode atuar em seu alvo para alterar o curso da doença. Se for bem sucedido em longas probabilidades e anos de testes, o composto principal pode finalmente tornar-se um novo medicamento. Existem algumas maneiras de encontrar um composto protótipo: • Natureza: até recentemente, os cientistas usavam a natureza para encontrar compostos interessantes para combater doenças. Bactérias encontradas no solo e plantas mofadas levaram a novos tratamentos importantes, por exemplo. A natureza ainda oferece muitas substâncias úteis, mas agora existem outras maneiras de abordar a descoberta de fármacos. • De novo: graças aos avanços da química, os cientistas também podem criar moléculas a partir do zero. Eles podem usar computadores sofisticados, modelagem para prever que tipo de molécula pode funcionar. • Triagem de alto rendimento: esse processo é a maneira mais comum por meio da qual esses protótipos são encontrados. Avanços em robótica e computação poder permitir que os pesquisadores testem centenas de milhares de compostos contra o alvo para identificar qualquer um que possa ser promissor. Com base nos resultados, vários compostos protótipos geralmente são selecionados para estudo adicional. • Biotecnologia: os cientistas também podem projetar geneticamente sistemas vivos para produzir moléculas biológicas de combate a doenças. 35WWW.UNINGA.BR FA RM AC OE PI DE M IO LO GI A E FA RM AC OV IG IL ÂN CI A | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1.1.4 Do protótipo ao candidato a fármaco a. Testes iniciais de segurança Os compostos protótipos passam por uma série de testes para fornecer uma avaliação da segurança do composto principal. São testadas Absorção, Distribuição, Metabolismo, Excreção e Toxicologia (ADME / Tox) ou “farmacocinética” de cada protótipo. Os medicamentos bem- sucedidos devem ser absorvidos na corrente sanguínea, distribuídos para o local apropriado de ação no corpo, metabolizados de forma eficiente e eficaz, excretados com sucesso do corpo e ter demonstrado não serem tóxicos. Esses estudos ajudam os pesquisadores a priorizar compostos de chumbo no início do processo de descoberta. Os estudos ADME e Toxicológicos são realizados em células, em animais e via modelos computacionais. b. Otimização do protótipo Os protótipos que sobrevivem à triagem inicial são então “otimizados” ou alterados para torná-los mais eficazes e seguros. Mudando a estrutura de um composto, os cientistas podem definir propriedades diferentes. Por exemplo, eles podem diminuir a probabilidade de interação com outras vias químicas do organismo, reduzindo assim o potencial de efeitos colaterais. Centenas de diferentes variações ou “análogos” dos protótipos iniciais são feitos e testados. Equipes de biólogos e químicos trabalham em conjunto: os biólogos testam os efeitos de análogos em sistemas, enquanto os químicos usam essas informações para fazer alterações que são então testadas novamente pelos biólogos. O composto resultante é o medicamento candidato. Mesmo nesta fase
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