Buscar

F9-Literatura-cearense-MÓDULO 9 - DA VANGUARDA À DITADURA: LITERATURA EM ENCRUZILHADAS

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

i
9
Fernanda Diniz e Kedma Damasceno
Da Vanguarda 
à Ditadura
Literatura em Encruzilhadasl
i
t
e
r
a
t
u
r
a
CURSO
c
e
a
r
e
n
s
e
Realização
1.
A PALO SECO
omo você já deve ter percebi-
do, nossos módulos têm atra-
vessado variados períodos da 
história. Em cada um deles, a 
literatura e as artes em geral se 
manifestam de forma distinta, a 
partir de influências e de novas 
contribuições. Neste módulo, 
também situado em um deter-
minado recorte de tempo, trazemos a você 
um estudo que impulsiona a reflexão acerca 
dos conceitos de vanguarda e de geração, 
tanto no âmbito nacional, quanto no local. 
Assim, você poderá acompanhar conosco 
como se deu a “encruzilhada” entre a literatu-
ra vanguardista e alguns dos principais fatos 
históricos e literários desse período, perpas-
sando a ditadura civil-militar brasileira e se es-
tendendo até a década seguinte, ou seja, es-
tamos entre as décadas de 1950, 1960 a 1970. 
Para você, que admira e busca cada vez 
mais aprofundar seus conhecimentos so-
bre a Literatura Cearense, é importante 
saber que durante esse período nossos es-
critores, a exemplo de seus antecessores, 
também se mantinham antenados com o 
que acontecia no país e procuravam acom-
panhar, renovando ou não, os demais mo-
vimentos e produções artístico-culturais. E, 
motivados pelo que o professor e escritor 
Batista de Lima denomina de “literatu-
ra de mutirão”, criariam por aqui, mesmo 
quando meteoricamente, novos grupos li-
terários. Seguindo a rota destes escritores 
que buscavam romper padrões estéticos 
e/ou político-sociais, esperamos contri-
buir para ampliar o debate sobre os estudos 
em Literatura Cearense. Sinta-se convidado 
para entoar conosco este canto de ruptura. 
Está curioso(a)? Pois tomemos as ruas!
2. 
VANGUARDA?
No sétimo módulo de nosso 
curso, soubemos um pouco 
sobre as vanguardas euro-
peias e as suas influências no 
surgimento do Modernismo 
brasileiro. A palavra vanguar-
da, partindo do pressuposto 
francês avant-garde – pois 
tem origem latina e alemã, 
ainda no século XII –, significa, literalmente, 
a “guarda avançada ou parte frontal de um 
exército”. Sabendo disso, você consegue 
associar o termo ao surgimento dos diver-
sos movimentos de ruptura artística do 
início do século XX, que tinham por obje-
tivo “tomar a dianteira” da esfera artística, 
rompendo esteticamente com tudo aquilo 
que para eles representava uma arte ultra-
passada e que privilegiava e atendia princi-
palmente aos interesses da classe burguesa. 
Para compreender melhor o contexto van-
guardista da literatura no Brasil e no Ceará, é 
preciso uma revisão no mínimo básica das 
principais vanguardas históricas da Europa, 
cientes que somos de suas significativas in-
fluências. Mas, claro, devido ao curto espaço 
de que dispomos, não poderemos fazê-la 
aqui mais profundamente, contudo é vasta a 
bibliografia que você poderá inclusive encon-
trar na internet sobre tais estéticas. Pesquise!
130 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
Futurismo, como o pró-
prio nome diz, caracteri-
zou-se como um movimen-
to de ruptura estética que 
enfatizava o “moderno” em 
busca do futuro, exaltando 
a velocidade dos automó-
veis, os avanços industriais, 
a eletricidade, o desenvol-
vimento das metrópoles, das engrenagens 
dos maquinários. Almejava deixar para trás 
o passado e lançava o olhar sobre um novo 
mundo colocado sob o signo da técnica, 
das multidões urbanas, da energia trepi-
dante das metrópoles modernas. 
O movimento foi liderado por F. T. Ma-
rinetti (1876-1944), que lançou em 1909 o 
famoso Manifesto Futurista, publicado 
no jornal Le Figaro. Embora inovador, esse 
“manifesto de violência agitada e incendi-
ária”, fascinado pela guerra e com discurso 
de excessivo patriotismo, como se apresen-
tava o autor, em seu parágrafo 9, dizia: “Nós 
queremos glorificar a guerra – única higiene 
do mundo –, o militarismo, o patriotismo, 
o gesto destrutor dos anarquistas, as belas 
ideias que matam e o menosprezo à mu-
lher.” (TELES, 2009, p.115). Assim, as suas 
ideias acabaram por deitar um tapete para 
o regime fascista de Mussolini em 1919. 
3.
FUTURISMO, CUBISMO E DADAÍSMO
CURSO literatura cearense 131
MALACA
CHETAS
BOLACHINHAS
BOLACHINHAS
Apollinaire seria também o criador 
da palavra “Surrealismo” e a sua obra 
Calligrammes (1918) é considerada 
uma das precursoras da nossa 
poesia concreta.
A palavra francesa dadá significa: 
cavalinho de madeira. Entretanto, 
para o poeta Tristan Tzara, “dadá” 
significava absolutamente nada! Tzara 
afirmava que encontrou essa palavra 
por acaso ao abrir o dicionário.
Segundo Gilberto Mendonça Teles, “No 
Brasil, é a partir de 1920 que as ideias futu-
ristas atingem, primeiro, os intelectuais de 
São Paulo, alastrando-se depois de 1925 
por todo o território brasileiro, numa trans-
formação em processo.” (2009, p.14)
Como vimos no módulo 7, Edigar de 
Alencar conta que o Modernismo não seria 
bem recebido pelos nossos autores adep-
tos de escolas literárias anteriores. Rodrigo 
Marques também nos diz que Antônio Sales 
“havia introduzido a oposição ao Movimen-
to antes mesmo que o Movimento Moder-
nista chegasse ao Ceará”. (MARQUES, 2018, 
p.158) Um exemplo disso é que, sob pseu-
dônimo, em 1923, Sales criou dezoito “Es-
tâncias Futuristas”, que seriam “poemas de 
humor que desferiam golpes contra os ‘her-
deiros de Marinetti’ e que findaram por 
criar uma pequena polêmica na imprensa 
local sobre as tentativas de renovação esté-
tica”. (MARQUES, 2018, p.158). 
O Cubismo é considerado um dos 
movimentos mais influentes do período 
vanguardista. O seu marco se deu em Paris 
(1907), com a exposição da tela “As senho-
ritas d’Avignon”, do pintor espanhol Pablo 
Picasso. O movimento passou a represen-
tar o Modernismo ou a avant-garde france-
sa, tendo a pintura como seu maior veículo. 
O cubismo literário só surgiria anos depois, 
em 1913, com o manifesto literário cubis-
ta do polêmico poeta italiano Guillaume 
Apollinaire (1880-1918) que, ao lado de ou-
tros poetas, como Max Jacob, Reverdy, Cen-
drars – este esteve no Brasil, às voltas com 
os “semanistas” – e outros, “desenvolveu 
um sistema poético de subjetivação e de-
sintegração da realidade, criando por volta 
de 1917, paralelamente ao dadaísmo, uma 
poesia cujas características são o ilogismo, o 
humor, o anti-intelectualíssimo, o instanta-
neísmo, a simultaneidade e uma linguagem 
predominantemente nominal e mais ou me-
nos caótica” (TELES, 2009, p.149). No Brasil, 
Oswald de Andrade seria um dos poetas que 
apresentariam influências cubistas.
Marinetti comemorou a Primeira 
Guerra Mundial, dizendo ser ela o 
mais belo poema futurista. Em 
1919, ingressou no Partido Nacional 
Fascista, e defendia que a ideologia 
do Partido era como uma extensão 
do pensamento futurista, 
chegando a publicar, em 1924, a obra 
Futurismo e Fascismo. Esteve em 
Recife, a convite de Joaquim Inojosa.
O Dadaísmo ou movimento Dadá teve 
sua origem em Zurique, na Suíça, onde um 
grupo de rapazes, refugiados de guerra, 
costumava se encontrar, em 1916, no Caba-
ret Voltaire, pequeno teatro de variedades 
fundado por Hugo Ball, para ler poemas e 
discutir sobre as incertezas da guerra e 
as ideias futuristas de Marinetti, sendo, 
porém, contrários à guerra, mas revoltados 
com a sociedade. Fundaram esse movi-
mento que se lançava contra todos os va-
lores culturais, utilizando-se, para isso, de 
certa irreverência. Assim, “a obra dadaísta 
passa a caracterizar-se pela improvisação, 
pela desordem, pela dúvida, pelo predo-
mínio da percepção, pelo agnosticismo e 
pela oposição a qualquer tipo de equilí-
Assista a esses vídeos e entenda um 
pouco mais sobre:
FUTURISMO
https://www.youtube.com/
watch?v=B2yySLkCva8& 
feature=emb_logo
CUBISMO
https://www.youtube.com/
watch?v=kX5urWpYCwg
DADAÍSMO
https://www.youtube.com/watch?v=
ZiESc3EiHwI&list=RDCMUCsgHWN8lY
veMUEWTDheTjZA&start_radio=1&t=0
BOLACHINHAS
132 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DONORDESTE
Contudo, faz-se necessário reconhecer que 
há enormes diferenças: o projeto dos da-
daístas tinha um propósito revolucionário 
de destruição da arte como instituição, en-
quanto Trívia, na década de 1990, asseme-
lha-se muito mais a uma brincadeira sem a 
mesma força revolucionária, mas com evi-
dente apuro estético que intenta jogar com 
os padrões de poesia disponíveis.
Essas são poucas considerações sobre 
apenas algumas das vanguardas que des-
pertaram o mundo artístico e literário em seu 
tempo – até os dias de hoje. Mas o que dis-
semos aqui é pouco mesmo, acredite. Vale a 
pena saber mais e refletir sobre essas ideias, 
está bem? Agora, vamos sair de Montmartre 
diretamente à praça do Ferreira, onde estuda-
remos um dos movimentos mais polêmicos 
da nossa literatura, visto, por alguns, como 
um significativo movimento vanguardista
4. 
O CONCRETISMO 
ARARAJUBA 
“É a poesia concreta quem inaugu-
ra o segundo ciclo vanguardista 
no contexto da modernidade lite-
rária brasileira. ” A professora de Te-
oria Literária Iumna Maria Simon, 
em seu ensaio “Esteticismo e parti-
cipação: as vanguardas poéticas no 
contexto brasileiro (1954-1969)”, faz 
essa afirmação para ratificar que, 
depois do Modernismo de 22, nos 
anos de 1950, o Concretismo surge no Bra-
sil e assume o posto de segundo momento 
vanguardista de relevância no país.
O movimento nacional de Poesia Concreta 
nasceu nos primeiros anos da década de 1950, 
pelo trabalho do grupo brasileiro Noigandres, 
de São Paulo, composto inicialmente por 
Augusto de Campos, Décio Pignatari e 
Haroldo de Campos. A primeira mostra do 
movimento aconteceu no Brasil, em 1956, no 
MAM (Museu de Arte Moderna) de São Paulo. 
A poesia concreta surgia no Brasil com o 
intuito de combater o retrocesso formal que a 
chamada “Geração de 45” representava – na 
visão desses artistas – para a poesia da épo-
ca. Os concretistas se inspiraram bastante na 
poesia “Pau-Brasil” de Oswald de Andrade, 
com suas reduções linguísticas e técnicas 
de montagem, assim como no rigor cons-
trutivo dos poemas de João Cabral de Melo 
Neto, para proporem suas inovações poéti-
cas. No âmbito internacional, Mallarmé, Ezra 
Pound, e.e.cummings, Apollinaire e James 
Joyce foram as principais influências dos 
poetas concretistas brasileiros. A poesia 
concreta rompeu com o uso de formas fixas 
e com a predominância do verso e passou a 
valorizar a utilização do espaço gráfico-
-visual, o caráter sintético da construção e 
outros artifícios que possibilitassem a criação 
de uma poesia dotada de objetividade.
O contexto social, político e econômi-
co da década de 50 no Brasil, o governo JK, 
a construção de Brasília (1957-1960), entre 
outros, contribuiu bastante para a inserção 
e fortalecimento das ideias de ruptura pos-
tuladas pelo movimento de poesia concreta 
no país. Perceba que, no âmbito dos grandes 
centros São Paulo e Rio de Janeiro, a vanguar-
da concretista encontrou o espaço ideal para 
o lançamento de suas ideias que claramente 
dialogavam com o anseio pela moderniza-
ção tão em voga. A valorização dos meios de 
comunicação de massa também foi bastante 
significativa nesse momento, como mencio-
na o crítico Antonio Candido em seu ensaio 
“Literatura e Subdesenvolvimento” (1970). 
E como aconteceu a chegada do Concre-
tismo ao Ceará, sabido que este era um es-
tado periférico e ainda predominantemente 
agrário, ou seja, longe deste afã urbanístico 
que predominava o eixo sul e sudeste brasi-
leiro? É o que veremos a seguir.
brio, tanto na forma quanto na homoge-
neidade de ideias e sentimentos”. (TELES, 
2009, p.171). Daí a afirmação do romeno 
Tristan Tzara (1896-1963), líder do movi-
mento e responsável pelos principais ma-
nifestos do dadaísmo: “A obra de arte não 
deve ser a beleza em si mesma, porque a 
beleza está morta”. Na Biblioteca Virtual 
do AVA, uma receita curiosa de Tzara para 
se escrever um poema dadaísta. Leia e des-
cubra-se também um poeta dadaísta!
No Ceará, a obra Trívia: 1 livro fora do 
com/um (1996), do poeta Pedro Henrique 
Saraiva Leão, em parceria com o produtor 
e artista gráfico Geraldo Jesuíno, apesar 
da distância temporal e ideológica, apro-
xima-se bastante das experimentações 
dadaístas, pois são inseridos na obra obje-
tos como uma pequena cruz, um alfinete, 
um grampo, alguns botões, um pente etc. 
CURSO literatura cearense 133
BOLACHINHAS
A revista ad: Arquitetura & Decoração 
não era um periódico do movimento 
concreto brasileiro, embora 
durante 1956 e 1957 ela abrigasse 
muitos artistas desse movimento, 
principalmente os poetas de 
Noigandres e Waldemar Cordeiro.
5. 
O CONCRETISMO 
CABEÇA-CHATA
aroldo de Campos, em 
“Contexto de uma van-
guarda”, afirmou que For-
taleza “foi a primeira ca-
pital brasileira, depois 
dos grandes centros São 
Paulo e Rio de Janeiro, a 
contribuir positivamente, 
com ideias e criações, para 
o movimento concreto”. 
(CAMPOS, 1987, p. 155). 
No Ceará, o poeta e ficcionista José 
Alcides Pinto (1923-2008) foi, em 1957, o 
principal responsável pela inserção do 
movimento no estado. Alcides se corres-
pondia frequentemente com os irmãos Ha-
roldo e Augusto de Campos. Inúmeras des-
sas cartas foram perdidas, mas, das que 
restaram, é interessante mostrar como os 
paulistas apoiavam e elogiavam a atuação 
dos cearenses: 
A atividade de vocês aí em Fortaleza con-
tinua a nos surpreender. Com o material 
enviado por você e pelo Girão [Antônio 
Girão Barroso], preparamos uma reporta-
gem sobre o front concreto no Ceará, que 
sairá num dos próximos números da revista 
ad.[Arquitetura & Decoração] (29.10.1957)
Além dos elogios às atividades do gru-
po concretista cearense, todas as cartas 
de Haroldo foram escritas no calor da 
primeira hora concretista e tratavam 
de contar detalhes das intermináveis de-
savenças dos irmãos Campos com a dissi-
dência liderada por Ferreira Gullar – fun-
dando o Neoconcretismo. É interessante 
observar a expressão “o front concreto no 
Ceará”, que, claramente demonstra que os 
concretistas paulistas realmente conside-
134 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
BOLACHINHASMALACA
CHETAS
ravam aquele movimento cearense repre-
sentante desta vanguarda. Porém, ao con-
trário dos irmãos Campos, Alcides Pinto 
continuaria suas boas relações com o au-
tor do “Poema sujo”, que, quando do fale-
cimento do primeiro, lamentaria a “perda 
pessoal” de um grande amigo:
A gente sempre tem a impressão que os 
nossos amigos nunca vão morrer. A morte 
do Zé é uma perda para a literatura cea-
rense, para a literatura brasileira e, para 
mim, uma perda pessoal. Ele foi meu com-
panheiro de descobertas nos anos 1950. Te-
nho ainda hoje um exemplar do Rimbaud 
autografado por ele. Aprendemos muito 
juntos. (GULLAR, “Adeus ao Poeta Maldito”, 
em 3 de junho de 2008)
Antônio Girão Barroso, Horácio Dídimo, 
Eusélio Oliveira, Eudes Oliveira e Pedro 
Henrique Saraiva Leão foram os poetas que, 
juntamente com José Alcides Pinto, forma-
vam esse grupo de poetas concretos do Ceará. 
José Alcides Pinto também foi um dos 
responsáveis pela realização das duas 
Mostras de Arte Concreta que ocorreram 
em Fortaleza. A primeira aconteceu, em 
julho de 1957, no “Clube do Advogado” 
(praça do Ferreira) e a segunda em feve-
reiro de 1959, no Ibeu. É importante res-
saltar que a primeira exposição aconteceu 
menos de um ano depois do lançamen-
to oficial do Movimento Concretista 
Brasileiro em São Paulo, e que as duas 
mostras contaram com a participação 
não apenas de poetas, mas também de 
pintores, desenhistas e artistas plásti-
cos que se identificavam com as ideias e 
com a forma concretista.
José Alcides, além de precursor do con-
cretismo cearense, transitou por diversos 
gêneros: foi poeta, ficcionista, teatrólogo, crí-
tico literário, ensaísta, contista e memorialis-
ta. É conhecido por muitos como o poeta 
“maldito”, pois cultivava temas relacionados 
com a morte, o diabo e a miséria humana. 
Assim o apresenta Dimas Macedo no prefá-
cio da obraPoemas Escolhidos (2003): 
Eusélio Oliveira, em 1957, 
juntamente com Eudes, o irmão, 
lançaria o Manifesto Recentista, 
da vanguarda. Foi, no Gazeta 
de Notícias, o responsável pelo 
suplemento literário “Literarte 
GN”. Segundo, Azevedo, figura em 
diversas antologias de vanguarda 
nacionais e internacionais e seria 
coautor das obras Três dedos de 
Orfeu (1955) e Poegramas (1958).
A primeira exposição contou com 
trabalhos de Antônio Girão Barroso 
(o poema “ó duquesa”, dito “quase 
concreto”), José Alcides Pinto (6 
poemas e 2 desenhos), Pedro Henrique 
Saraiva Leão (2 poemas, sendo um 
deles “lucialindaluciabela”), Estrigas 
(Nilo Firmeza: 2 guaches), Goebel 
Weyne (2 desenhos), J. Figueiredo (6 
desenhos), Zenon Barreto (1 desenho) 
e Liberal de Castro (3 desenhos). 
Desses, somente o pintor J. Figueiredo 
não era cearense. Ele nasceu em São 
Luís do Maranhão e somente, em 1956, 
transferiu-se para Fortaleza.
A segunda mostra reuniria alguns 
participantes da primeira (Antônio 
Girão Barroso, José Alcides Pinto, Pedro 
Henrique Saraiva Leão, J. Figueiredo 
e Goebel Weyne) e mais, do Ceará, 
Horácio Dídimo e os irmãos Eusélio e 
Eudes Oliveira. Como contribuições de 
fora a essa segunda mostra incluíam-
se poemas de Haroldo de Campos, 
Augusto de Campos, Décio Pignatari 
e Ronaldo de Azeredo, de São Paulo, 
Alberto Amêndola Heinzl, de Campinas, 
José Chagas e Deo Silva, do Maranhão, 
e Ivo Barroso, do Rio de Janeiro.
Vanguardista, insubmisso, desobediente 
e inovador na criação de processos fic-
cionais e na restauração da linguagem 
poética, José Alcides Pinto é considerado 
o mentor do Movimento Concretista no 
Ceará, e o seu representante mais des-
tacado, sendo por isto mesmo, luminosa 
sua trajetória literária. 
Suas produções percorrem as veredas 
do satanismo, através do erotismo e da lou-
cura. Prefaciando Cantos de Lúcifer (1954), 
Cassiano Ricardo diz que a obra confirma, 
a seu ver, “a inquietação do poeta múltiplo 
e uno que é José Alcides Pinto, nos vários 
selves que polifacetam a sua personalida-
de”. Aparentemente simples, no entanto 
complexa, a sua vasta obra poética e fic-
cional não segue nenhuma linha definida, 
pelo contrário, o autor mostra-se bastante 
versátil em suas produções. Cada obra ad-
quire seu próprio estilo, organiza seu siste-
ma único, demonstrando a preocupação do 
escritor em renovar-se constantemente e 
fazer que seu universo seja o mais possível 
multiforme e atual. Cassiano Ricardo, ainda 
neste prefácio, cita a seguinte afirmação de 
Gilberto Amado: “Concretismo, pós-surrea-
lismo, qualquer que seja o rótulo, seus poe-
mas rápidos, intensos, são poesia ressoan-
te, reveladora do seu talento admirável”. 
CURSO literatura cearense 135
Embora suas composições concretistas 
não tenham sido muitas, pode-se dizer que 
foram significativas. Entre suas obras con-
cretas estão: As águas novas (1975) e Con-
creto: estrutura visual-gráfica (1956), da qual 
destacamos o poema “máquina”:
Pedro Henrique Saraiva Leão era o 
mais jovem componente do grupo de poetas 
concretos do Ceará. Sua primeira publicação 
foi 12 poemas em inglês (1960). Apesar de 
terem sido suas publicações mais tardias, a 
sua participação foi importante para o mo-
vimento, como afirma José Alcides Pinto no 
prefácio de Concretemas (1983): 
O concretismo no Ceará foi por natureza 
um movimento de equipe, sem chefes nem 
papismos. Mas teve seu consultor, como 
acontece em todo grupo literário ou artís-
tico. E esse papel era desempenhado pelo 
mais jovem do grupo – Pedro Henrique 
Saraiva Leão. E foi na condição de acadê-
mico de medicina e professor de Inglês do 
Ibeu que cerrou fileiras ao nosso lado. 
O poema “Fábrica”, a seguir, presente na 
obra Concretemas, também foi apresentado 
na Exposição de Arte Concreta em Fortaleza.
Neste poema, a forma é predomi-
nante, pois o poema, gráfica e semanti-
camente, se “autofabrica”. O poeta, como 
um operário da linguagem, vai construin-
do a estética e a semântica do seu poema, 
de forma que o resultado remeta a um ob-
jeto concreto da realidade. No caso deste 
poema, o autor insere as letras de cima 
para baixo sempre acrescentando uma le-
tra no final do sintagma, passando uma 
ideia de construção. As duas últimas pa-
lavras se diferenciam apenas pelo acento 
agudo que está na última (“fabrica” – “fá-
brica”) e que faz toda a diferença, pois é 
na última palavra que está o núcleo do 
poema: o advento da industrialização 
e o aumento do número de fábricas em 
diversas partes do país.
Outro importante nome para o movi-
mento de poesia concreta cearense é o de 
Horácio Dídimo. A sua obra irá aos poucos 
desenvolvendo também um viés místico 
e religioso, aspecto que é tão importante 
na obra de Alcides Pinto. 
Dídimo, embora tenha participado so-
mente da II Mostra de Arte Concreta, seus 
poemas são importantes para esse estu-
do. Uma ironia: enquanto Horácio, poste-
riormente, desenvolveria uma poesia mais 
voltada para o sagrado, Alcides Pinto 
privilegiaria a outra face da moeda: o pro-
fano. Ressalte-se, entretanto, que as mar-
cas da religiosidade nas obras de Horácio 
Dídimo foram se acentuando com o passar 
dos anos, uma vez que, nos anos de 1950 e 
1960, esse viés religioso ainda não era tão 
forte em seus poemas. 
Em 1959, os seus poemas apresentados 
na II Mostra e, posteriormente publicados 
no Jornal de Letras do Rio de Janeiro, fo-
ram, entre outros: “A fumaça”, “O empare-
dado” e “Necessidade”. Esses poemas se-
ria publicados anos depois em A palavra 
e A PALAVRA (2002), mas com um impor-
tante diferencial que é o acréscimo das 
passagens bíblicas, que complementam 
ou mesmo modificam o sentido dos poe-
mas concretos. Além deste livro, completa 
sua obra concretista A nave de prata: livro 
de sonetos & Quadro verde: poemas visuais 
(1991). Leiamos, agora, o seu poema “luz 
azul” de A palavra e a PALAVRA.
EU VIM COMO LUZ AO MUNDO,
ASSIM TODO AQUELE QUE CRER EM MIM
NÃO FICARÁ NAS TREVAS. (Jó, 12,46)
136 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
 Utilizando-se apenas de dois vocábulos 
(“luz” e “azul”), o poeta dispõe as palavras 
no formato de uma cruz, colocando a letra 
“a” no centro, de modo que estas palavras 
formem o sintagma “luz azul” em qualquer 
sentido que se leia. Este poema é um dos 
mais famosos do autor e nele percebemos 
já haver o viés religioso pelo seu formato de 
cruz, sentido este reforçado, anos mais tarde, 
com o acréscimo da citação bíblica de Jó.
Antônio Girão Barroso foi poeta, con-
tista e crítico. Era um dos nomes mais im-
portantes do grupo CLÃ, como vimos no 
módulo anterior. A sua poesia caracteriza-se 
principalmente pela adesão às ideias mo-
dernistas de abandono das formas poéticas 
tradicionais, empregando livremente versos 
longos ou curtos, rimas ocasionais, explora-
ção de recursos sonoros e, o que lhe é mais 
interessante e peculiar, faz uso de uma lin-
guagem coloquial, privilegiando o português 
popular, pleno de brasileirismos, de neolo-
gismos, expressões populares e emprego 
irregular dos sinais de pontuação. Em rela-
ção à sua vertente concretista, pode-se 
dizer que o autor aderiu sim ao movimento 
de poesia concreta, inclusive participando 
das duas mostras ocorridas no Ceará, mas, 
principalmente atuando como crítico, pois 
quanto aos seus poemas, é notório que não 
seguem à risca as ideias formais de com-
posição dos concretistas de São Paulo. O 
seu poema “ó duquesa”, apresentado na pri-
meira exposição de Arte Concreta do Ceará, 
em 1957, é um ótimo exemplo disso:
Ó DUQUESA
Ou
Poema Quase Concreto
mansamente tua mão
é uma carícia cara
ó duquesa! teu hálito
habita meu coração
e dizem: engano ah! 
dá-me ganas de
longitudinalmente oh! 
não fosses tu
lipa e rosa enflorada
que me gusta – e que me’ima
não há dúvida, duquesa
rosa ou simplesmente poema
eomaples misuoasor
p/ i e d o s a m e n t e 
(BARROSO, 1994, p. 138).
Observando-se a estrutura formal do 
poema, poucos são os traços que o carac-
terizariam como um poema concreto. O 
própriopoeta contesta o seu caráter intei-
ramente concreto ao escrever nos primei-
ros versos “ou poema quase concreto”. A 
esse “quase” poderia muito bem ter sido 
acrescentada a palavra “nada”, que resul-
taria em “ou poema quase nada concreto”, 
ratificando que o poema foge quase que 
completamente às características formais 
desse tipo de poesia. Não se encontra nele 
um apelo visual, há a presença de versos, de 
rima (na primeira estrofe: mão - coração) e 
a utilização de uma linguagem culta (dá-me 
ganas de...), que se afasta propositalmente 
à tendência coloquial do autor. Somente no 
último verso é perceptível a experimenta-
ção concretista através da separação das 
letras na palavra “p/ i e d o s a m e n t e”.
CURSO literatura cearense 137
Assim como algumas das vanguardas his-
tóricas não alcançaram seu objetivo nem o 
público como desejavam, a poesia concreta 
brasileira também não conseguiu. Apesar de 
ter sido veiculada pelos meios de comunica-
ção de massa, acabou ficando restrita aos 
seus próprios teóricos e a alguns intelectuais 
que conseguiam acompanhar as técnicas 
da nova poesia. Em linhas gerais, pode-se 
dizer que o movimento da poesia concre-
ta no Ceará encontrou, aqui, solo fértil para 
seus adeptos e suas atividades e produções. 
6. 
A GERAÇÃO 60
Geração 60 do Modernis-
mo Brasileiro se caracteriza 
como um movimento que 
apresenta aspectos artísti-
cos e literários provenien-
tes de diferentes tempos 
e espaços. Nelly Novaes 
Coelho é uma das primeiras 
estudiosas a abordar, em 
plano nacional, autores dessa faixa geracio-
nal, reunindo-os na Geração 60. Em Carlos 
Nejar e a “Geração 60”, a autora escreve:
Chamamos de ‘Geração de 60’ aos poetas 
das mais variadas tendências que se reve-
laram ou firmaram na década que acaba 
de findar e que apresentam como denomi-
nador comum, a intensa pesquisa no sen-
tido do reajustamento da linguagem às 
solicitações dos novos tempos, e o impulso 
dinâmico da integração do homem e da 
poesia no processo histórico em desen-
volvimento. (COELHO, 1971, p. 170).
Notamos que no discurso de Coelho 
verifica-se na Geração 60 o surgimento de 
novas preocupações, tanto no que se refere 
à construção da linguagem quanto às te-
máticas a serem desenvolvidas. 
Em 1995, o poeta, teórico, ensaísta e crí-
tico cearense Pedro Lyra organizou uma 
antologia intitulada SINCRETISMO: a poesia 
da Geração 60. Trata-se de uma coletânea 
de 628 páginas, antecedida por um longo 
estudo inicial sobre o conceito de “Geração”. 
Nessa obra, o autor mapeia, classifica e ana-
Porém, desde o início, tendeu a um menor 
compromisso com as formas do movimento, 
pois enquanto os concretistas de São Paulo 
dedicavam-se prioritariamente à composi-
ção de poemas concretos, os do Ceará não 
assumiram tal obrigatoriedade e compu-
nham seus poemas mais livremente. Con-
tudo, apesar de não se dedicarem tanto ao 
projeto da poesia concreta, percebe-se que 
a manifestação dessa vanguarda no estado, 
além de legar aos poetas cearenses técni-
cas de composição e experimentação es-
tética, causou alguma estranheza no meio 
ainda fortemente tradicionalista, cumprin-
do assim, ao menos em parte, o desígnio de 
todas as vanguardas. 
138 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
MALACA
CHETAS
SABATINA
Para conhecer um pouco 
mais sobre Pedro Lyra
http://blogs.opovo.com.br/
leiturasdabel/2017/11/10/coluna- 
ao-pe-ouvido-baladas-para-leitores-
e-pedro-lyra/
Nelly Novaes Coelho incluía, no que 
denominou de “rótulo”, Geração 
de 60, o grupo paulista da Poesia 
Concreta, o grupo mineiro de 
Tendência e o movimento Práxis, além 
de outras vozes significativas que se 
firmaram independentemente de 
grupos em todo o país.
lisa o perfil geracional de quarenta e cinco 
escritores: Adélia Prado, Affonso Romano 
de Sant’Anna, Carlos Lima, Carlos Nejar, Fer-
nando Py, Ivan Junqueira, Marcus Accioly, 
Reynaldo Valinho Alvarez e, entre outros, os 
cearenses Linhares Filho, Roberto Pontes, 
Horácio Dídimo, Adriano Espínola e Oswald 
Barroso (filho de Antônio Girão Barroso).
É importante sabermos que em 1979 o 
poeta e crítico paraibano Sérgio de Castro 
Pinto, também incluído na antologia de 
Lyra, organizou a Antologia poética do grupo 
Sanhauá, focalizando as características lite-
rárias do grupo que representa a Geração 
60 na Paraíba. O livro reúne trabalhos de 
Marcos dos Anjos, Marcos Tavares, Marcus 
Vinícius, Sérgio de Castro, entre outros.
De acordo com Pedro Lyra, uma gera-
ção tem que superar a anterior. Superar 
não no sentido de ser melhor, mas de im-
pulsionar para o novo. Nessa superação, o 
escritor conta com a vantagem de acumular 
a experiência de todas as gerações que o an-
tecederam e desembocam na sua. Em SIN-
CRETISMO, Lyra explica que a Geração de 60 
“é compósita, com vários segmentos e ver-
tentes, estilos e tendências fundindo-se num 
amplo sincretismo”. (LYRA, 1995, p. 159). 
Para melhor fixar os limites geracionais, 
com os quais trabalha, Pedro Lyra (1995) 
apresenta alguns requisitos para a configu-
ração literária da Geração 60. Para conhe-
cer essas faixas, consulte na sua Bibliote-
ca Virtual do AVA.
Pedro Lyra destaca também quatro ver-
tentes do discurso dos escritores da referi-
da Geração que surgiu “com um sonho de 
mudanças no coração e depois com a corda 
da ditadura no pescoço” (LYRA, 1995, p. 24). 
Observe cada uma delas.
a. Primeira vertente: é a Herança Lí-
rica, que, de modo mais amplo, pode 
ser considerada um traço marcante 
da poesia ocidental. Essa vertente se 
subdivide em algumas diretrizes, tais 
como: um lirismo ostensivamente 
erotizado, do qual fazem parte, por 
exemplo, os poemas que compõem 
Minha gravata colorida, de Adriano 
Espínola; um lirismo universalista, 
de fundo cosmológico/metafísico 
e um lirismo de fundo místico. Tais 
aspectos reunidos formam o lirismo 
crítico de uma geração que se recusa 
a apresentar um simples desabafo 
do eu, buscando uma maior liberta-
ção e expressão do ser em relação à 
sociedade como um todo.
b. Segunda vertente: denominada 
Protesto Social, caracterizada por 
uma poesia de participação, envolvi-
da com a realidade social, tendo em 
vista a situação histórica e política do 
país e a iminente conquista do poder 
pela esquerda. Tal vertente também 
Compósito
Que é composto 
e caracterizado pela 
heterogeneidade 
de elementos.
apresenta múltiplas diretrizes, como 
o protesto de procedência regio-
nalista, voltado para o abandono 
do homem do interior. Um exemplo 
dessa diretriz é o livro Sumos do tem-
po, de Linhares Filho. Ressalta ainda 
três aspectos importantes da segun-
da vertente. São eles: (1) o protesto 
direcionado para o cotidiano, como 
exemplo, podemos citar Tempo de 
chuva, de Horácio Dídimo; (2) o 
protesto de alcance cosmopolita, 
a exemplo da obra Antiuniverso, de 
Fernando Py; (3) o protesto de pro-
cedência política, que pode ser visto 
em Poemas do cárcere e da liberdade, 
de Oswald Barroso. Os poemas do 
livro Verbo encarnado, de Roberto 
Pontes, também exemplificam essa 
vertente de poesia, levando em consi-
deração o seu caráter de insubmissão 
e de resistência à ditadura, bem como 
a presença da luta a favor da redemo-
cratização da sociedade brasileira. 
CURSO literatura cearense 139
MALACA
CHETAS
Para conhecer a obra 
indispensável de Juarez Barroso:
Juarez Barroso: obra completa (EDR)
Juarez Barroso: o poeta da crônica-
canção, de Natercia Rocha 
(Substânsia, 2018).
c. Terceira vertente: a chamada Explo-
são épica. É a diretriz mais importan-
te, não apenas deste segmento, mas 
de toda a Geração. Um exemplo des-
sa vertente é o livro Sísifo, de Marcus 
Accioly, no qual apresenta uma reto-
mada intertextual de toda a tradição 
do humanismo ocidental.
d. Quarta vertente: é a Convicção 
Metapoética, que pode ser exem-
plificada com O banquete, de Marly 
de Oliveira. Essa vertente se carac-
teriza pela consciência da carpinta-
ria poética. Sobre ela, Lyra ressalta 
relativamente à Geração:
7. 
O GRUPO SIN
s anos 60 no Ceará,cul-
turalmente, foram mar-
cados por diferentes 
levantes de resistência 
artístico-social, no que 
se refere à literatura, ao 
teatro e ao cinema.
É importante nunca 
esquecermos que apesar 
de tratarmos aqui de 
outros movimentos que surgiriam nos anos 
50, 60 e 70, o CLÃ continuaria suas atividades, 
entretanto, como afirma Sânzio de Azevedo, 
“perdendo este sentido de movimento revo-
lucionário (como aliás seria de se esperar), 
até transformar-se numa agremiação aber-
ta, na qual vão ingressando outros nomes 
de nossa literatura”. (AZEVEDO, 1976, p.500). 
Em conjunto: o ideal estético expresso 
nesses metapoemas é o de uma poesia 
concebida como expressão consciente do 
eu mediada pela técnica, a partir de uma 
séria pesquisa de temas e modelos, formas 
e atitudes, ensaiando uma reflexão sobre a 
condição do poeta e a natureza da poesia, 
num modo supremo de autoconhecimento 
e autorrealização. (LYRA, 1995, p. 111). 
Como você observou, a Geração 60 
representa, portanto, um momento de 
suma relevância para o contexto literário 
brasileiro, não só por ter lançado novos 
nomes da Literatura, mas também por ter 
impulsionado o processo de reafirma-
ção da poesia ocidental.
Eram anos complicados, também na 
música a palavra de ordem era o sincre-
tismo, e assim, pop, rock, samba, baião, 
bossa nova e folclore se amalgamavam 
em uma “geleia geral”.
Eduardo Saboia – da Padaria Espiritual – e 
esposa de Jáder de Carvalho), José Alcides 
Pinto (certamente um dos mais ativos no pe-
ríodo, sendo reconhecido e premiado nacio-
nalmente, publicando poesia, romance, no-
vela e contos), Rachel de Queiroz (na década 
de 60, com exceção de O menino mágico, só 
publicaria crônicas), Francisco Carvalho (um 
dos maiores poetas que o Ceará nos trouxe), 
Carlos d’Alge, Horácio Dídimo (aqui destaca-
do no movimento concretista, lançaria seus 
primeiros livros de poemas), Ciro Colares, 
Caio Cid (pseudônimo de Carlos Cavalcan-
ti), Juarez Barroso (seu único livro publicado 
em vida ganhou o Prêmio José Lins do Rêgo, 
em 1968), Sânzio de Azevedo (publicaria seu 
livro de estreia como poeta, sendo, entretan-
to, mais reconhecido futuramente pela ex-
tensa bibliografia sobre Literatura Cearense), 
Caio Porfírio Carneiro, entre outros.
É no meio desse contexto que, em 1967, 
surge o grupo SIN, tendo como principal 
diretriz o sincretismo literário e artístico. 
O movimento teve vida curta, porém 
produtiva. Iniciou-se com a articulação de 
estudantes, principalmente dos cursos de 
Direito e de Letras da Universidade Federal 
do Ceará (UFC), interessados por literatura e 
outras artes. Observe que o nome do grupo 
deriva de sincretismo, palavra oriunda do 
étimo grego (synkretismos), que, conforme 
o Dicionário online Caldas Aulete é um “sis-
tema filosófico que consiste em combinar 
as opiniões e os princípios de diversas esco-
las; mistura de opiniões combinadas para 
Ou seja, os anos de 1960, seriam de grande 
produção literária no Ceará, do CLÃ e de in-
dependentes, o que é facilmente constatado 
em uma breve lista de publicações do perío-
do que você poderá encontrar na Biblioteca 
Virtual do AVA. A seguir, alguns de nossos 
autores que publicaram na década de 
1960: Fran Martins, Aluízio Medeiros, Eduar-
do Campos (com grande profusão de gêne-
ros: contos, romances e dramaturgia), Artur 
Eduardo Benevides, Otacílio Colares, Morei-
ra Campos, Milton Dias, Lúcia Martins (es-
treando em livro), Durval Aires (publicando 
suas “novelas-reportagens”), João Jacques 
(irmão de Paulo Sarasate e redator-cronista 
de O POVO, que surgia na cabeça do Cipó 
de Fogo, em 1931, publicaria crônicas e con-
tos), Margarida Saboia de Carvalho (filha de 
140 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
BOLACHINHAS
Pedro Lyra, em 1968, receberia o 
Prêmio Esso: Jornal de Letras 
para Universitários Brasileiros 
com o ensaio “Quem tem medo 
de Augusto dos Anjos?”.
formar um sistema misto, eclético”. A diver-
sidade temática e as diferentes formas 
de posturas artísticas são, pois, o cerne 
do SIN, cuja poesia apresenta elementos do 
sincretismo poético, uma vez que assimila 
processos, técnicas e modos praticados pe-
los poetas brasileiros precedentes. Destaca-
mos, contudo, que alguns demonstravam 
certa reação à poesia do grupo CLÃ, sobre-
tudo no tocante aos seguidores do formalis-
mo Neoparnasiano da Geração de 45. 
Constitui-se inicialmente por Horácio Dídi-
mo, Linhares Filho, Pedro Lyra, Roberto Pon-
tes e Rogério Bessa. Aos fundadores uniram-
-se Barros Pinho, Yêda Estergilda, Leão Júnior, 
Rogério Franklin, Lêda Maria, Marly Vasconce-
los e Inês Figueiredo. Os, então, estudantes se 
reuniam nas residências dos integrantes e na 
antiga Livraria Universitária, à época, situada 
à praça do Ferreira. A primeira apresentação 
pública dos jovens poetas do SIN ocorreu na 
aula de encerramento do curso de Letras, da 
UFC, na disciplina de Literatura Brasileira, re-
gida pela professora Aglaeda Facó, em 1967. 
Na ocasião, foram distribuídos e declamados 
poemas dos participantes que, posteriormen-
te, foram reunidos em coletâneas: Minisinan-
tologia I e Minisinantologia II.
Como as duas primeiras publicações ob-
tiveram sucesso, os participantes decidiram 
imprimir a SINantologia, que foi editada 
pela Imprensa Universitária da UFC e lan-
çada no Museu de Arte da Universidade Fe-
deral do Ceará, o Mauc, em 20 de março de 
1968, com apresentação de Artur Eduardo 
Benevides, poeta do CLÃ. 
O SIN não contemplou apenas a literatu-
ra, mas também a outras linguagens, como 
o teatro, com as peças “Canga e crença, meu 
Padim”, de José Leão Júnior, dirigida pelo 
autor, e “A prostituta respeitosa”, de Jean 
Paul Sartre, dirigida e levada à cena no palco 
da Faculdade de Direito da UFC por Rogério 
Franklin de Lima. Na música, o SIN mante-
ve contatos com o movimento “Pessoal do 
Ceará”, que se articulava na Faculdade de Ar-
quitetura da UFC, por intermédio de Yêda Es-
tergilda e Roberto Pontes. O grupo também 
criou um selo editorial, a SINedições, que 
emprestou seu logotipo a seus integrantes. 
O contexto histórico no qual nasceu o 
SIN, no entanto, não era propício à articula-
ção de movimentos culturais, sociais e mui-
to menos políticos. Assim, o grupo nasceu 
e dissolveu-se no mesmo ano. Naquele 
momento, o Brasil vivia o regime ditatorial 
instaurado em 1964 e a censura era rígida. In-
telectuais como Alceu Amoroso Lima, Oscar 
Niemayer, Antonio Candido e Antonio Hou-
aiss posicionaram-se no sul do país contra a 
ditadura, por ocasião do episódio da assina-
tura do histórico “Manifesto dos Intelectuais 
Contra a Censura”. O apoio a esse manifesto, 
bem como as assinaturas de adesão dos in-
tegrantes do SIN foram solicitados por aque-
les intelectuais por meio do teatrólogo B. de 
Paiva, servindo o poeta Roberto Pontes de 
porta-voz junto ao grupo. Contudo, os es-
critores cearenses se mostraram divididos 
quanto à adesão que deveria ser prestada a 
esta manifestação. Roberto Pontes se propôs 
a assiná-lo, mas não havendo unanimidade 
nem consenso, o grupo se desfez em seu iní-
cio. Adriano Espínola examina esse contexto 
na apresentação intitulada “Uma geração 
entre o SIN e o Não”, escrita para a Revista de 
Letras, nº 15, comemorativa dos 25 anos de 
fundação do grupo SIN (1993):
É bom que se diga, entretanto, que o SIN logo 
se dissolveu devido, por um lado, a discordân-
cias ideológicas de seus membros e, por outro, 
à repressão e perseguições que se seguiram 
após a ditadura militar editar o sinistro 
AI-5. A partir daí, como se sabe, todo e qual-
quer agrupamento político, cultural ou literá-
rio tornou-se suspeito em potencial. Perigoso. 
Alvo dos militares era acabar com a cultura do 
país, silenciar os incômodos intelectuais, artis-
tas e críticos do regime. Amordaçar a palavra, 
sufocar a criatividade, baixar o cacete na mo-
çada mais rebelde e “subversiva”. Com a barra 
assim pesando, o grupo SIN – como de resto 
vários outros, se não totalidade das agremia-
ções culturais que existiamno Brasil – se desa-
gregou. (ESPÍNOLA, 1993, p. 10).
A imprensa também registrou a impor-
tante presença do SIN no panorama literá-
rio cearense. Caio Cid, prestigiado cronista 
de então, ressaltou a rápida, porém mar-
cante atuação do grupo. No artigo escrito 
no Correio do Ceará, em maio de 1968, sob 
o título “Recebo um livro esquisito”, a pro-
pósito da publicação da primeira coletânea 
do SIN, disse ele: “Trata-se como se vê, de 
gente nova e inovadora. Literatura moder-
na. Turma de vanguarda, com minúsculas 
nos nomes e ideias doidas nas cabeças in-
cendiadas pelo sentido da poesia revolu-
cionária.” (CID, 1968, p. 34).
O Gazeta de Notícias, de Fortaleza, publi-
cou em 19 de maio de 1968 o documento 
“Denúncia/Comunicado”, registrando o fim 
daquele grupo, que, mesmo breve, assim 
como o Orpheu em Portugal, muito contri-
buiu para a afirmação de seus integrantes 
no cenário da literatura brasileira, conforme 
ressalta a matéria “SIN, um grupo que a cen-
sura dividiu”, publicada no jornal O POVO. 
É importante acrescentar que os autores 
do grupo SIN se inserem na chamada Gera-
ção 60, tendo em vista a importância que 
têm no contexto nacional da arte e da cul-
tura, conforme demonstrou Pedro Lyra no 
livro SINCRETISMO: a poesia da Geração 60 
(Introdução e Antologia) (1995).
CURSO literatura cearense 141
BOLACHINHAS
Mário Gomes, biografado por 
Márcio Catunda em Poeta, santo e 
bandido, tornou-se uma lenda urbana 
em Fortaleza, o “poeta da praça 
do Ferreira”, o andarilho, o louco 
briguento, mas sempre reconhecido 
como poeta, mesmo por aqueles que 
nunca leram um verso sequer seu.
8. 
O CLUBE 
DOS POETAS 
CEARENSES
m 12 de abril de 1969, tem início 
o Clube dos Poetas Cearenses, 
tendo com fundadores Carneiro 
Portela, Pádua Lima e João Bosco 
Dantas. As reuniões aconteciam na 
Casa de Juvenal Galeno. A maioria 
de seus participantes eram jovens, 
que iam e vinham, chegavam e se 
despediam. Entre alguns de seus 
participantes: Cândido B. C. Neto, 
Dimas Macedo, Alex Studart, Edmilson Cami-
nha Jr, Juarez Leitão, Mário Nogueira, Vicente 
Freitas, Márcio Catunda, Guaracy Rodrigues, 
Stênio Freitas, Costa Senna, Ricardo Guilher-
me, Walden Luiz, Aluísio Gurgel do Amaral Jr. 
e Mário Gomes, entre muitos, muitos outros. 
Entre as atividades do Clube estava a or-
ganização e publicação de antologias – che-
gou a publicar quatro, sendo a última com 
organização de Carneiro Portela, capa de 
Rosemberg Cariry sobre desenho de Luiz Ca-
rimai –, bem como publicações em revistas e 
jornais, além da realização de eventos como 
a “Semana de Estudos de Literatura Cearen-
se” e o “Festival de Poesias”. 
9. 
LITERATURA 
N’O SACO
Nos dias primaveris, colherei flores / 
para meu jardim da saudade.
 Assim, exterminarei a lembrança 
de um passado sombrio.
Frei Tito de Alencar (12.10.72)
os anos de 1970, o cenário 
artístico nacional estava 
cada vez mais fragmentado. 
Os “anos de chumbo”, espe-
cialmente com o advento 
do cruel e sangrento Ato 
Institucional nº 5 (AI-5), 
ainda em 1968, perseguiram 
e levaram muitos artistas ao 
exílio e à clandestinidade, 
ao cárcere (como o poeta 
Gerardo Mello Mourão – na mesma cela de 
Zuenir Ventura, Ziraldo e Hélio Pellegrino – e 
a jornalista Heloneida Studart – quando 
iniciaria roteiros que seriam futuramente exi-
bidos pela Globo) ou à morte (frei Tito). Eram 
tempos inseguros, de medo e constante insa-
tisfação político-social, econômica e artísti-
co-cultural. Em 1971, foi criada a Associação 
Profissional dos Escritores do Ceará por 
Jáder de Carvalho (seu primeiro presidente), 
Artur Eduardo Benevides, Carlyle Martins, 
Ciro Colares, Antônio Girão Barroso, Cândida 
Galeno, Abdias Lima, entre outros. 
Nesse contexto conturbado, em 1976, o 
poeta e livreiro Manoel Coelho Raposo, o 
poeta e ficcionista Jackson Sampaio, o fic-
cionista e ensaísta Nilto Maciel e o romancis-
ta e poeta Carlos Emílio Corrêa Lima cria-
riam O Saco, “revista mensal de cultura”, um 
periódico que desde o primeiro número trazia 
colaborações de escritores de todo o Brasil e 
até do exterior. Foram apenas sete edições 
bimestrais, mas a publicação ganhou gran-
des proporções no cenário nacional, circu-
lando por bancas de revistas em dezessete 
estados do Brasil e contando com 12 cola-
boradores internacionais, de países como 
Portugal, Espanha, Suécia, Estados Unidos e 
Suíça. Alguns dos nossos escritores estreariam 
n’O Saco, como o cronista Airton Monte, por 
exemplo, que apenas em 1979 lançaria seu pri-
meiro livro de contos: O grande pânico.
Em 2006, em entrevista para um peri-
ódico local, Carlos Emílio argumentou: 
“algumas pessoas achavam a literatura ‘um 
saco’, então resolvemos colocá-la dentro de 
um para divulgá-la”. 
O objetivo do periódico era propor algo 
novo para os padrões da época e, para tanto, 
a publicação se valeu de um projeto experi-
mental, considerado até os dias atuais ainda 
arrojado. A revista não vinha encadernada, 
colada ou grampeada. Pelo contrário, suas 
folhas eram arrumadas em quatro encartes: 
prosa, poesia, artes plásticas e um anexo com 
entrevistas, críticas literárias, reflexões e ma-
térias jornalísticas. Esses encartes viam quase 
soltos num envelope de papel que era pendu-
rado nas bancas de revista.
Para Nilto Maciel, O Saco não se confi-
gurava como um movimento. Segundo 
142 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
SABATINA
Tentamos compensar o pouco espaço 
que tivemos nesse fascículo, inserindo 
o máximo de material complementar 
sobre os grupos e manifestos em nossa 
Biblioteca Virtual do AVA, que está 
fantástico. E por falar em FANTÁSTICO, 
não perca o módulo 10 de nosso curso.
o escritor, “o objetivo era, antes de tudo, 
editar uma revista sem bairrismo, regio-
nalismo, nacionalismo ou qualquer outro 
‘ismo’. Queríamos publicar nossas obras e 
encontrar espaço de destaque em resposta 
ao ‘Sul-Maravilha’ e aos veículos que só se 
interessavam pelos medalhões”.
Alexandre Barbalho, no livro Cultura e 
imprensa alternativa, destaca, inclusive, 
que a revista conseguiu dar visibilidade 
às diferentes ideias dos escritores da dé-
cada de 70, sem a preocupação de defi-
nir uma corrente estética a ser seguida. 
Segundo o autor, eram publicadas tanto 
poesias de denúncia quanto textos mais 
experimentais. Dessa forma, caracteriza-
va-se como uma revista democrática 
por reunir escritores de diversos gêneros, 
além da colaboração de diversos artistas 
plásticos que a ilustravam.
A revista circulou até 1977, mesmo ano 
de publicação do livro Queda de braço: uma 
antologia do conto marginal, publicado no 
Rio de Janeiro. Organizada por Glauco 
Mattoso e Nilto Maciel, a antologia reunia 
os escritores d’ O Saco ao lado de outros au-
tores marginais do país em um panorama 
artístico literário de sua época. No mesmo 
ano, no Ceará, era publicado o romance 
Parabélum, de Gilmar de Carvalho, obra 
considerada pouco compreendida quando 
de seu lançamento, fosse pelo estilo radical, 
na experimentação da linguagem, ou pelo 
próprio formato fragmentado do romance. 
A obra é considerada por críticos e pesqui-
sadores relevante para se refletir acerca dos 
anos 70 no Ceará. O que nos diz o autor: 
Parecia que estávamos na direção da cons-
trução de um país. Vivemos um momento 
de grande retrocesso. Esta onda moralizan-
te existia no tempo da ditadura militar com 
a TFP e o Comando de Caça aos Comunis-
tas. Ainda hoje, na enunciação deste dis-
curso retrógrado, temos palavras de ordem 
contra o comunismo que não existe mais, 
depois da queda do Muro de Berlim (1989) 
e muitas falas a favor da intervenção mili-
tar. Deus nos acuda! (CARVALHO, Gilmar, 
em entrevista: 17.11.2017)
Gilmar de Carvalho estava na mira da 
censura do regime que, para desautorizá-lo, 
o acusaria de escrever “pornografia” no Ga-
zeta de Notícias, periódico no qual colabo-
rava. O resultado foi a intimação para com-
parecer no temido Departamento de Ordem 
Política e Social (Dops). 
Dois anos depois, em 14 de julho de 
1979, remanescentesdo Clube dos Poetas 
Cearenses e d’O SACO, ao lado de outros jo-
vens escritores, lançariam o Manifesto Si-
riará, posicionando-se “contra a ritualística 
de um passado literário que formal e con-
teudisticamente não mais representa a rea-
lidade nordestina do momento. [...] Somen-
te dentro dessa roupagem nos permitem 
lançar nacionalmente nossa ‘mercadoria’”. 
Assinam o manifesto: Adriano Espínola, An-
tônio Rodrigues de Sousa, Batista de Lima, 
Airton Monte, Carlos Emílio Corrêa Lima, Eu-
gênio Leandro, Fernanda Teixeira Gurgel do 
Amaral, Floriano Martins, Geraldo Markan, 
Jackson Sampaio, Joyce Cavalcante, Lydia 
Teles, Paulo Barbosa, Paulo Veras, Rogacia-
no Leite Filho, Rosemberg Cariry, Sílvio Bar-
reira, Márcio Catunda, Maryse Sales Silveira, 
Marly Vasconcelos, Natalício Barroso, Nilto 
Maciel, Nirton Venâncio e Oswald Barroso.
Dimas Macedo, em seu ensaio “Literatura 
e Escritores Cearenses”, assegura que o grupo 
Siriará não deixou “uma contribuição signifi-
cativa, enquanto movimento de renovação 
estética e literária. Foi uma atitude muito 
mais do que um grupo literário com dispo-
sição de aglutinar uma proposta concreta de 
ação ou coisa que o valha” (MACEDO, 2011).
REFERÊNCIAS 
BARBALHO, Alexandre. Cultura e Imprensa alternativa. 
Fortaleza: UECE, 2000.
BARROSO, Antônio Girão. Mini SINantologia 2. In: Correio do 
Ceará. Fortaleza, 15 de junho de 1968.
BESSA, Rogério. Contracanto. In: Gazeta de Notícias de 
Letras. Fortaleza, 31/03 a 01/04 de 1968.
CANDIDO, Antonio. Literatura e Subdesenvolvimento in: A 
Educação pela Noite. Rio de Janeiro: Ouro Sobre Azul, 2006.
COELHO, Novaes Nelly. Carlos Nejar e a Geração de 60. São 
Paulo: Saraiva, 1971.
DAMASCENO, Kedma Janaina Freitas. A vanguarda concretista 
no contexto da literatura cearense. 2012. 139f. – Dissertação 
(Mestrado) – Universidade Federal do Ceará. Disponível em 
http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/8087. 
DÍDIMO, Horácio. A NAVE DE PRATA: livro de sonetos & 
QUADRO VERDE: poemas visuais. Fortaleza: Imprensa 
Universitária, 1991. 
 ________________. A palavra e a PALAVRA. 3 ed. Fortaleza: 
Editora UFC, 2002.
ESPÍNOLA, Adriano. Literatura no Ceará. In: Diário do 
Nordeste-DN Cultura. Fortaleza, 16 de janeiro de 1983.
_________________. Uma geração entre o SIN e o NÃO. 
In: Revista de Letras da Universidade Federal do Ceará, 
jan.1990/dez. 1993, p. 9-18.
LEÃO, Pedro Henrique Saraiva. Concretemas. Fortaleza: Xisto 
Colona Editor, 1983.
LEÃO, P.H.S, COSTA, G.J. Trívia: 1 livro fora do com/um. 
Fortaleza: Edições UFC, 1996.
MACEDO, Dimas. A obra literária de José Alcides Pinto. In: 
PINTO, José Alcides. Poemas escolhidos. Rio de Janeiro: 
Editora GRD, 2003. p. 17. 56 
MARQUES, Rodrigo. A nação vai à província: do 
romantismo ao modernismo no Ceará. Fortaleza: Imprensa 
Universitária, 2018.
PINTO, José Alcides. As Águas Novas. Fortaleza: Editora 
Henriqueta Galeno, 1975.
SIMON, Iumna Maria. Esteticismo e participação: as vanguardas 
poéticas no contexto brasileiro (1954-1969), in: PIZARRO, Ana (Org.) 
América Latina: Palavra, Literatura e Cultura. São Paulo: 
Memorial da América Latina; Campinas: Ed. UNICAMP, 1995. v.3.
SILVA, Fernanda Maria Diniz da. Tradição e modernidade 
na produção poética de Roberto Pontes. 2017. 281f. - Tese 
(Doutorado) - Universidade Federal do Ceará. Disponível em 
http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/28433
TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda Europeia e 
Modernismo Brasileiro: apresentação dos principais 
poemas, manifestos, prefácios e conferências vanguardistas, 
de 1857 a 1972. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.
CURSO literatura cearense 143
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR)
João Dummar Neto Presidente
André Avelino de Azevedo Diretor Administrativo-Financeiro
Marcos Tardin Gerente Geral
Raymundo Netto Gerente Editorial e de Projetos
Aurelino Freitas, Emanuela Fernandes 
e Fabrícia Góis Analistas de Projetos
UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE)
Viviane Pereira Gerente Pedagógica
Marisa Ferreira Coordenadora de Cursos
Joel Bruno Designer Educacional
CURSO LITERATURA CEARENSE
Raymundo Netto Coordenador Geral, 
Editorial e Estabelecimento de Texto
Lílian Martins Coordenadora de Conteúdo
Emanuela Fernandes Assistente Editorial
Amaurício Cortez Editor de Design e Projeto Gráfico
Miqueias Mesquita Diagramador
Carlus Campos Ilustrador
Luísa Duavy Produtora
ISBN: 978-65-86094-22-0 (Coleção)
ISBN: 978-65-86094-21-3 (Fascículo 9)
Este curso é parte integrante do programa 
Circuito de Artes e Juventudes 2019, Pronac nº 190198, 
processo nº 01400.000464/2019-94, em parceria com a 
Secretaria Especial da Cultura do Ministério da Cidadania.
Todos os direitos desta edição reservados à:
Fundação Demócrito Rocha
Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora 
CEP: 60.055-402 - Fortaleza-Ceará 
Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148
fdr.org.br 
fundacao@fdr.org.br
Realização
Apoio
Patrocínio
AUTOR
Fernanda Diniz
É graduada em Letras pela Universidade Federal do Ceará 
(UFC), com mestrado em Letras, MBA em Docência e 
Metodologia do Ensino Superior, especialização em Gestão 
e Coordenação Escolar, doutorado em Letras e pós-
doutorado em Educação, também pela UFC. Professora 
efetiva da Secretaria da Educação do Estado do Ceará. 
Tutora no curso de Letras da UFC Virtual. Coordenadora 
Pedagógica da Escola de Gestão Pública do Ceará (EGPCE). 
É membro da Academia Maracanauense de Letras (AML), 
na cadeira 25, cujo patrono é Pedro Lyra. Integra o Grupo de 
Pesquisa Estudos de Residualidade Literária e Cultural (UFC) 
e o Grupo de Pesquisa em História da Educação do Ceará 
(UFC). É organizadora das publicações do grupo Ceará em 
Letras e é acadêmica de Psicanálise (IAPB).
Kedma Damasceno
É graduada em Letras, com mestrado em Literatura 
Comparada e Graduação em Letras (Português/Literaturas) 
e é doutoranda em Letras pela Universidade Federal do 
Ceará (UFC). Professora efetiva da Secretaria da Educação 
do Estado do Ceará. Integrante do Grupo de Estudos de 
Literatura, Tradução e suas Teorias (GELTTTE/UFC/CNPQ) e 
do Grupo Antonio Candido/ História e Literatura, da UFC.
ILUSTRADOR
Carlus Campos 
Artista gráfico, pintor e gravador, começou a carreira em 
1987 como ilustrador no jornal O POVO. Na construção 
do seu trabalho, aborda várias técnicas como: xilogravura, 
pintura, infogravura, aquarelas e desenho. Ilustrou revistas 
nacionais importantes como a Caros Amigos e a Bravo. 
Dentro da produção gráfica ganhou prêmios em salões de 
Recife, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

Continue navegando