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1 Pré-Modernismo Aula 07 4C Português Apresentação No início do século 20, uma Europa industrializada vivencia uma forte tensão entre seus países pela disputa de mercados fornecedores/consumidores na África, que, aliada a outros fatores, resulta na deflagração de um grande conflito: a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), que decretava o fim da Belle Époque. A ordem política, social e econômica sofrerá profundas transformações. As artes também, desde o início do século, passavam por significativas mudanças. É nesse momento que começam a surgir as Vanguardas Artísticas Europeias (que estudaremos na próxima aula), tendências múltiplas e diferentes entre si que, no entanto, apre- sentavam como elementos comuns a forte ruptura com as concepções estéticas tradicionais e a busca por novas formas de expressão artística, tanto nas linguagens empregadas como nas temáticas abordadas. E no Brasil? Também passávamos por expressivas mudanças em diversas áreas. O poder estava consolidado nas mãos das oligarquias rurais de Minas e São Paulo, que constituíam a base da política do café com leite, elegendo presidentes e comandando os destinos da nação. Começavam a chegar ao Brasil significativas levas de imigrantes, nas regiões Sudeste e Sul, que seriam a mão de obra nas lavouras de café, substituindo a mão de obra escrava. Paradoxalmente, a população de ex-escravos não recebe nenhum tipo de apoio por parte do governo para que pudesse ser aproveitada no mercado de trabalho, restando-lhes os subúrbios, os morros e a vida em condições sub-humanas, em centros urbanos que cresciam de maneira desordenada, apesar de algumas iniciativas de projetos urbanísticos. Algumas revoltas de cunho popular – Guerra de Canudos (1896-1897), Revolta da Vacina (1904), Revolta da Chibata (1910), Guerra do Contesta- do (1912-1916) e outras – e algumas greves operárias ocorridas no eixo Rio-São Paulo assustavam a classe conservadora e criavam um clima de questionamento sobre a realidade brasileira. Com relação à nossa vida literária, vivemos, de 1900 a 1920, um período de enorme e contraditória efervescência artística. De um lado, tínhamos ainda em vigor as estéticas tradicionais do século 19: trializada ses pela umidores a na ra o e . lo, passavam por ue começam a surgir studaremos na próxima re si que, no entanto, apre- uptura com as concepções rmas de expressão artística, temáticas abordadas. udanças em diversas áreas. oligarquias rurais de Minas e ca do café com leite elegendo M ar ce lo B it te n co u rt . 2 01 6. D ig it al . •O Realismo-Naturalismo esta- va ainda em alta; Machado de Assis, maior nome do Realismo, morreria apenas em 1908, ab- solutamente consagrado; Aluí- sio Azevedo, maior nome do Naturalismo, morreria em 1913. Além disso, muitos novos auto- res também procuravam trazer em suas obras uma visão mais fidedigna da realidade. • O Parnasianismo caía nas graças do público, era a poesia vista como o “sorriso da sociedade”. Poetas como Olavo Bilac, Raimundo Correia e Alberto de Oliveira eram celebridades nacio- nais, além de modelos de escrita perfeita. 2 Semiextensivo • O Simbolismo passava a ser valorizado pela crítica e, além de se desenvolver em pequenos grupos pelo país (principalmente no Paraná e no Rio Grande do Sul), revelava novos poetas, como: Emiliano Perneta, Eduardo Guimaraens e Alceu Wamosy. Tratava-se de uma poesia sem maiores vínculos com os motivos e temas nacionais. Também não podemos esquecer que, justamente nesse período, surgira o poeta paraibano Augusto dos Anjos (1884- -1914), que vimos na aula passada e que lançou seu único livro, intitulado Eu, em 1912. Em Augusto, tendências mais inovadoras conviviam com traços mais tradicionais, sobretudo com relação à métrica extremamente regular, de origem parnasiana. Do lado oposto às tendências mais tradicionais, alguns escritores começam a ressaltar a necessidade de renovação em nossas letras, citando os exemplos de mudanças que ocorriam na Europa. Essa enorme mistura de tendências é que caracteriza a literatura nesses 20 primeiros anos do século 20. Den- tre os escritores e as obras desse período, destaca-se um pequeno grupo de autores, diferentes estilisticamente entre si, mas que trazem alguns pontos em comum. Características Considera-se como o início do Pré-Modernismo o ano de 1902, quando foram publicadas as obras Canaã, de Graça Aranha, e Os sertões, de Euclides da Cunha. O “término”? O ano de 1922, quando ocorre a Semana de Arte Moderna, trazendo expressivas mudanças em nossas artes. Este período se caracteriza assim: • Visão crítica da realidade brasileira – A literatura pré-modernista, bastante influenciada pelo Realis- mo-Naturalismo, resolve tocar o dedo nas feridas sociais brasileiras. O Brasil era um país pobre, doente e atrasado, muito diferente do Brasil pintado pelas sentimentais tintas românticas ou pelos classicizantes matizes parnasianos. Nota-se, portanto, nas obras ditas pré-modernistas, um nacionalismo crítico. • Retrato dos tipos humanos marginalizados – O sertanejo, o caboclo, o suburbano, o mulato, o pe- queno funcionário público são os personagens mais expressivos da literatura pré-modernista, uma vez que representam significativa parcela da população brasileira à época. • Regionalismo – Os pré-modernistas fazem um vasto painel do Brasil em suas obras, apresentando diversas regiões e os seus respectivos problemas. Euclides da Cunha nos mostra o sertão nordestino, com enorme carência de chuvas e de governo; Mon- teiro Lobato apresenta o vale do Paraíba, o interior de São Paulo; Graça Aranha, o Espírito Santo; Lima Barreto, o Rio de Janeiro não-Cidade-Maravilhosa, mas os subúrbios. Observação: Pré-Modernismo não se configura como uma escola literária de fato e, sim, um período de transição em nossa literatura. O termo foi estabelecido pelo crítico literário Alceu Amoroso Lima, na década de 1930, e só utilizado mais ostensivamente a partir dos anos 1950, quando todos os artistas ditos pré-modernistas já esta- vam mortos. Principais autores e obras Graça Aranha Sujeito que conquistou prestígio desde jovem, como magistrado e di- plomata de renome. Morou por quase vinte anos na Europa, justamente no período em que surgiam as vanguar- das artísticas europeias, no início do século 20. De volta ao Brasil, em 1921, apresentou contribuição definitiva ao movimento modernista que se instauraria no Brasil em 1922, com a Semana de Arte Moderna, pois emprestou seu prestígio e talento a um movimento que reunia ar- tistas até então desconhecidos. Dois anos mais tarde, em 1924, rompeu com a Academia Brasileira de Letras, em virtude do conservadorismo e mediocridade culturais da instituição da qual ele fora um dos fundadores em 1897. Graça Aranha apresentava uma visão artística assi- milada de fontes muito diferentes e às vezes contraditó- rias. Como autor pré-modernista, escreveu apenas uma obra de destaque, chamada... Canaã A obra principal de Graça Aranha, na linha do roman- ce de tese (tão ao gosto dos naturalistas), inaugurou na literatura brasileira a discussão sobre a imigração europeia e lançou em debate alguns temas polêmicos, como o arianismo. Porto do Cachoeiro, no Espírito Santo, onde há uma colônia de imigrantes alemães, é o espaço em que Milkau e Lentz discutem: o primeiro defende a igualdade das raças, enquanto o segundo prega a superioridade da raça ariana. Th e C o rd ei ro . 2 00 8. D ig it al . Jo sé A g u ia r. 20 08 . D ig it al . 1868-1931 Aula 07 3Português 4C Jo sé A g u ia r. 20 08 . D ig it al . A mestiçagem, a indolência e a pobreza geral dos brasileiros que vivem naquela região confirmam a teoria de Lentz. Milkau, livrando Maria Perutz das acusações que ela sofria de ter matado o próprio filho, quer comprovar que a terra da igualdade e da justiça existe. É o Brasil, que as futurasgerações construiriam. Neste livro misturam-se cenas realistas com medita- ções filosóficas; Simbolismo e Naturalismo convivem com elementos românticos. Monteiro Lobato Um país se faz com homens e livros. O próprio Monteiro Lobato Biografia mínima Nasceu em Taubaté (SP). Desde cedo demonstrou certo gosto pelas artes plásticas, o que era inadmissível para uma família pro- prietária de grandes lavouras de café. Como exigência do avô, o Visconde de Tremembé, foi estudar Direito na USP, onde começou a sua intensa vida jornalística e artística. Seu ritmo de vida foi absoluta- mente intenso, tendo feito de tudo um pouco: promotor, chefe de polícia, adido comercial brasileiro nos Estados Unidos, editor, crítico de artes plásticas e, principalmen- te, escritor, que deixou uma obra bastante variada, indo dos contos adultos sérios à literatura infanto-juvenil da mais alta qualidade. Principais obras publicadas • Livros de contos → Urupês (1918); Cidades mortas (1919); Negrinha (1920). • Romances → O choque das raças ou O presidente negro (1926). • Livros infantis → dezenas, alguns reunidos atualmen- te sob o título genérico Sítio do Picapau Amarelo. • Reportagens → O escândalo do petróleo (1936). Aspectos centrais da obra Com uma linguagem acessível, destacando os aspectos pitorescos e risíveis dos personagens, mas sem chegar a uma análise muito profunda dos problemas e das pessoas, Monteiro Lobato denuncia o descaso oficial para com a agricultura nacional, abandonando o traba- lhador da roça à própria sorte, à miséria e à ignorância. É o que se vê principalmente nas obras Urupês, Cidades mortas e Negrinha. É no artigo Urupês, publicado posteriormente no livro de contos de mesmo nome, que ele nos apresen- ta a legendária figura do anti-herói Jeca Tatu, espécie de símbolo do atraso e da miséria nacionais. Jeca é o autêntico retrato do homem do interior daquela época: analfabe- to, doente e abandonado à sua própria sorte, sem auxílio por parte do governo. Essas obras citadas representam a sua produção literária de fato considerada como pré-modernista. Já entre 1920 e 1940, fez uso da literatura em prol de causas nacionalistas. Imaginava ver um Brasil grande, em condições iguais às grandes potências mundiais. Defendia o desenvolvimento industrial e energético brasileiro, uma vez que nossa terra era tão rica em matéria-prima para a indústria e o petróleo poderia ser descoberto em abundância. Entretanto, aos poucos foi percebendo como era difícil lutar contra as forças multinacionais que pressionavam e patrocinavam o atraso industrial brasileiro, sempre associadas a setores políticos e econômicos reacionários e corruptos. Entrou em brigas homéricas contra tais grupos, protagonizou polêmicas com nossos governantes, o que lhe rendeu um período de 3 meses na cadeia, em 1941, acusado absurdamente de comunista, durante o Estado Novo de Getúlio Vargas, grande desafeto de Lobato. Como uma compensação diante da indiferença dos adultos às suas denúncias e preocupado com a formação de futuros cidadãos mais conscientes, Lobato promoveu campanhas para facilitar o acesso do povo e principalmen- te das crianças aos livros. Ao mesmo tempo, dedicou-se a escrever histórias infantis, utilizando temas, paisagens e personagens próximas da realidade de nossas crianças. Pedrinho, Narizinho, Dona Benta, Tia Nastácia, Visconde de Sabugosa, Marquês de Rabicó, Emília e muitos outros personagens de Lobato passam então a povoar as fanta- sias infantis, divertindo as crianças, educando-as e, até mesmo, desenvolvendo-lhes uma consciência crítica. Euclides da Cunha Biografia mínima Como correspondente do jornal O Estado de S. Paulo, foi designado a cobrir a última fase da Guerra de Ca- nudos, lá no interior da Bahia. Passou aproximadamente 2 meses no front, de onde enviava notícias que mais tarde seriam retrabalhadas e dariam origem ao livro Os sertões. Jo sé A g u ia r. 20 08 . D ig it al ado de H am ilt o n S an to s. 2 00 7. D ig it al . 1882-1948 1866-1909 4 Semiextensivo Após a publicação de Os sertões, em 1902, Euclides atingiu a notoriedade, logo ingressando no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e na Academia Brasileira de Letras. Passou a viajar pelo Brasil em estudos e palestras, morren- do, em 1909, com apenas 43 anos de idade. Deixou-nos, a rigor, apenas uma obra de destaque, que a seguir passaremos a estudá-la. Os sertões A principal obra de Euclides da Cunha tem um caráter histórico, dra- mático e acusatório. É a denúncia de um crime contra a nação: o massacre de sertanejos na Guerra de Canudos (1896-1897). Trata-se de um livro que transita entre a Literatura, a Sociologia e o Jornalismo, além de ser marcado também por outras influências (Antropologia, Geologia, etc.) Estilo adotado Euclides da Cunha escreve Os sertões se valendo de uma linguagem preciosista, rebuscada, de tendência barroquizante, até pelo grande número de contrastes, antíteses e paradoxos utilizados. Mas também, de certa forma, estava de acordo com o modelo de “bem escrever” dos parnasianos, que privilegiavam a escrita em estilo acadêmico. Em alguns momentos, o autor também se abre a certos registros colo- quiais dos sertanejos. Logo, temos nesta obra uma linguagem efetivamente literária, com um trabalho artístico de fato com a palavra. Estrutura da obra Seguindo uma rígida relação de causa-efeito, bem ao gosto do Determi- nismo e do Naturalismo, bem ao gosto de sua formação como engenheiro, Euclides da Cunha dividiu a obra em três partes distintas: 1. A terra Minucioso estudo das condições geofísicas do sertão brasileiro. Os conheci- mentos que Euclides tinha como engenheiro, aliados ao interesse pelas ciências naturais, permitiram a elaboração de um ensaio sobre o ambiente, a geologia nordestina. Elementos de geologia, botânica e zoologia convivem e se misturam com uma linguagem literária de alto nível, para mostrar ao leitor a imponência e a força da paisagem. A terra pobre e árida é descrita num painel gigantesco que a apresenta como elemento vivo, a torturar os seres que lutam para nela sobreviver. Paisagens do sertão nordestino Ed u S im õ es /C ad er n o s d e Li te ra tu ra B ra si le ir a/ A ce rv o In st it u to M o re ir a Sa lle s 2. O homem Uma terra árida e sem muitos recursos não permitiria que qualquer pessoa nela sobrevivesse, pois apenas os mais aptos e mais fortes resistiriam às péssimas con- dições de vida. Este é o sertanejo descrito por Euclides da Cunha: um sobrevivente. É interessante perceber, nesta parte da obra, como Euclides da Cunha teve de rever os seus (pre) conceitos a respeito do sertanejo. Enquanto estava em São Paulo, escre- vendo confortavelmente sobre uma realidade distante, costumava afirmar que o sertanejo era uma subespécie da raça humana, absolutamente degenerada e inferior em virtude da excessiva miscigenação. Ao perceber o sertanejo em seu meio, constatou que, diante do perigo ou na necessi- dade de uma atitude violenta, ele se transforma num cavaleiro gigante, forte e se transfigura num valoroso guerreiro. O jeito de ser, o comporta- mento e a personalidade do homem sertanejo são influenciados pela mistura das raças e pelo ambiente, segundo a teoria do Determinismo Científico, adotada pelo autor. Ed u S im õ es /C ad er n o s d e Li te ra tu ra B ra si le ir a/ A ce rv o In st it u to M o re ir a Sa lle s “O sertanejo é, antes de tudo, um forte.” Aula 07 5Português 4C 1881-1922 3. A luta Expedições militares contra Canudos M ar ilu d e So u za Finalmente, a narração do inevitável conflito em si. Esta terceira parte compreende mais de metade de toda a obra. Aqui são narradas, ora num tom mais jornalístico, ora num tom mais épico, todas as ações das quatro ex- pedições enviadas para destruir Canudos, com detalhes às vezes chocantes. O fanatismo dos jagunços esertanejos, habituados à vida na caatinga e conhecedores profundos do sertão, dificultou as ações militares, impondo desastrosas e humilhantes derrotas às forças do Governo. Desde 21 de novembro de 1896, data da primeira luta entre soldados e jagunços, até 5 de outubro do ano seguinte, quando morreram os últimos 4 defensores de Canudos, o Brasil, passivo e estupefato, assistiu a uma verdadeira carnificina nos sertões do norte da Bahia. Foi o embate entre o Brasil do litoral e o Brasil do interior. O governo brasileiro, recém-republicano, não conseguia chegar até o interior do Brasil, abandonado à sua má sorte. Lima Barreto Biografia mínima Filho de pais mulatos e pobres, Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro. Já aos sete anos, ficou órfão de sua mãe. Após os primeiros estudos em Niterói e uma passagem pelo tradicional Colégio D. Pedro II, ingressou na Escola Politécnica em 1897, onde cursou Engenharia, mas se viu obrigado a abandonar os estudos para cuidar de seu pai, doente mental. Passou a viver como pequeno funcionário da Secretaria da Guerra e a colaborar na imprensa. Lendo avidamente a literatura de ficção europeia do final do século 19, Lima fami- liarizou-se com a melhor tradição realista e social, além de ser um dos raros intelectuais brasileiros que conheceram, na época, os grandes romancistas russos. Jo sé A g u ia r. 20 08 . D ig it al . Sua vida errante e errada era motivo de escândalo a todos os intelectuais e a toda elite carioca da época. Atingido pelo alcoolismo, faleceu em 1o. de novembro de 1922, 48 horas antes do falecimento de seu pai, deixando uma obra que consiste, essencialmente, em romances, contos e crônicas. Principais obras publicadas • Recordações do escrivão Isaías Caminha (1909) • Triste fim de Policarpo Quaresma (1911/1915) • Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá (1919) • Os Bruzundangas (publicação póstuma) • Clara dos Anjos (publicação póstuma) Aspectos centrais da obra Representou com profundo realismo a sociedade carioca no início do século 20, principalmente o povo sofrido dos subúrbios, além de denunciar veementemente o preconceito racial contra o negro e o mulato, do qual também fora vítima. Seus romances são uma mistura de ficção, documentário, crônica e crítica, além de marcantemente au- tobiográficos. O preconceito racial, as oligarquias corruptas, a burocra- cia, o militarismo, os políticos e os intelectuais são os alvos prediletos de suas críticas. Sua linguagem é antiacadêmica, informal, jornalística e panfletária, marcada pela espontaneidade, o que o faz um antecipador das inovações formais propagadas pelos modernistas a partir de 1922. Colocou-se contra a moda da “Belle Époque”: o verbo ornamental e re- buscado de escritores como Coelho Neto; a solenidade retórica de um Rui Barbosa; o esteticismo vazio dos parnasianos e o purismo e a elegância “britânica” de Machado 6 Semiextensivo de Assis. Lima Barreto se levanta contra esse tipo de literatura utilizando-se do humor, da ironia e da sátira. Rompe com o estilo de modelo ornamental e com a gra- matiquice, não escrevendo “bonito” intencionalmente. Análise da principal obra Triste fim de Policarpo Quaresma Narrado em 3.ª pessoa, este é o romance mais im- portante de Lima Barreto. Para criticar o nacionalismo ingênuo e ufanista, o autor cria, nesta obra, um prota- gonista justamente ingênuo, puro e ufanista, que será aniquilado por seus próprios ideais e pelas instituições oficiais que perversamente esmagam toda iniciativa efetivamente patriótica. É nesse aspecto que reside o argumento principal de Lima Barreto: em sua época, um patriotismo genuíno e puro era sinônimo de suicídio. O livro é dividido em 3 partes, que representam três propostas de reforma nacional e, também, três derrotas do pequeno funcionário público Policarpo Quaresma, que “estudou a Pátria, nas suas riquezas naturais, na sua história, na sua geografia, na sua literatura e na sua polí- tica”, mas que acabou condenado à morte sob a absurda acusação de ser um traidor da pátria. Outros autores Simões Lopes Neto (1865-1916): contador de lendas e retratista dos tipos regionais do Rio Grande do Sul, com uma linguagem bem regional. Principais obras: Lendas do Sul e Contos gauchescos. Citamos também: Coelho Neto, Rui Barbosa, Afonso Arinos, Valdomiro Silveira e muitos outros de menor rele- vância artística. Testes Assimilação 07.01. (UNISC – RS) – Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas do texto a seguir: O início do chamado Pré-Modernismo na literatura brasileira data de 1902, com a publicação de __________. Além dessa obra relevante, de autoria de __________, merece desta- que o romance _________, publicado por __________ em 1911. Já na poesia, o principal nome deste período foi __________, autor de __________. a) Urupês / Graça Aranha / Macunaíma / Domingos Olím- pio / Mário de Andrade / Cinza das horas; b) Canaã / Euclides da Cunha / Triste fim de Policarpo Quaresma / Monteiro Lobato / Manuel Bandeira / Eu e outras poesias; c) Os sertões / Euclides da Cunha / Triste fim de Policarpo Quaresma / Lima Barreto / Augusto dos Anjos / Eu e outras poesias; d) Urupês / Monteiro Lobato / Macunaíma / Mário de Andrade / Manuel Bandeira / Cinza das horas; e) Canaã / Monteiro Lobato / Luzia-homem / Mário de Andrade / Manuel Bandeira / Cinza das horas. 07.02. (UPF – RS) – Leia as seguintes afirmações sobre três dos mais importantes autores da literatura brasileira e suas obras: I. A obra poética de Gregório de Matos é feita barrocamente de fortes contrastes: sátira irreverente versus poesia de devoção e arrependimento; poesia obscena versus poesia de amor idealizado. II. Cruz e Sousa é um romancista do período simbolista que representa e denuncia a injusta sociedade escravocrata do Brasil na sua época. III. A obra Os sertões, de Euclides da Cunha, constitui um dos momentos altos do Pré-Modernismo porque dá uma visão agudamente crítica de um Brasil ainda arcai- co, em linguagem dramaticamente expressiva, embora ainda distante das inovações que viriam a caracterizar a linguagem modernista. Está correto apenas o que se afirma em a) I e II d) II e III b) I e III e) III c) I 07.03. (URCA – CE) – Lima Barreto é um autor que se carac- teriza por criar tipos a) burgueses, ligados à cidade; b) rústicos, ligados ao campo; c) aristocratas, ligados ao campo; d) aristocratas, ligados à cidade; e) populares, ligados ao subúrbio; 07.04. (MACK – SP) – Sobre o Pré-Modernismo é incorreto afirmar que a) sua prosa aproxima-se da realidade, expondo e denuncian- do os contrastes e as mazelas socioeconômicas brasileiras. b) é um período de transição das prosas realista e naturalista e das poesias parnasiana e simbolista para produção literária modernista brasileira. c) são alguns de seus prosadores: Monteiro Lobato, Euclides da Cunha, Lima Barreto e Graça Aranha. d) é uma escola literária brasileira que sofreu forte influência do estilo moderno da prosa portuguesa. e) sua prosa retrata diferentes realidades brasileiras, dentre elas: os subúrbios cariocas, o interior paulista e o sertão nordestino. Aula 07 7Português 4C 07.05. (UCS – RS) – Sobre a literatura brasileira na transição entre o final do século XIX e o início do século XX, é correto afirmar que a) Aluísio Azevedo escreveu romances em que os seres humanos são determinados pela raça, pelo meio e pelo momento histórico, dada a influência do cientificismo. b) Machado de Assis era tido como o maior escritor brasileiro, porque foi o primeiro a aderir ao Naturalismo e por ter fundado a Academia Brasileira de Letras. c) Olavo Bilac, que retomou a estética romântica, era consi- derado o Príncipe dos Poetas. d) Os sertões, de Euclides da Cunha, foi a primeira obra naturalista do Brasil, pois nela se identificam as três raças em que se baseia a formação étnica brasileira. e) Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens foramos prin- cipais representantes do Simbolismo brasileiro, estética que uniu a objetividade científica ao rigor formal. 07.06. (UEPG – PR) – Texto: As datas que assinalam o início e o fim de cada época devem ser entendidas apenas como mar- cos. Toda época apresenta um período em que são lançadas novas propostas, um momento de aceitação e consolidação dessas propostas e um período em que essas ideias são questionadas por novas propostas. De acordo com a afirmação sobre as estéticas literárias, algu- mas produções literárias são consideradas como produção de transição ou precursoras de um novo estilo literário. Nesse contexto, assinale o que for correto: 01) Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, se distancia do ideal do Romantismo e se aproxima de certas posturas do Realismo. 02) A poesia social, de Castro Alves, possui tendências literárias da poesia nacionalista da primeira fase do Realismo brasileiro. 04) O guarani, de José de Alencar, se aproxima dos estilos de produção do Arcadismo, sendo precursor dessa estética literária. 08) O autor Olavo Bilac se distancia da forma de produção do Parnasianismo, sendo o precursor do Simbolismo. 16) Os sertões, de Euclides da Cunha, é uma importante obra do Pré-Modernismo. Aperfeiçoamento 07.07. (UEPG – PR) – Sobre os autores brasileiros, assinale o que for correto: 01) Machado de Assis e Monteiro Lobato defendiam em seus romances a figura do brasileiro sofrido, injustiçado e sem lugar na sociedade capitalista. A principal caracte- rística desses autores é a descrição de todos os detalhes carregada de sentimentalismo que os caracteriza como escritores do Realismo-Naturalismo. 02) Gregório de Matos, também conhecido como poeta Boca do Inferno, não foi reconhecido por suas poesias satíricas, mas por sua tendência lírica e religiosa. 04) Castro Alves é o principal representante da terceira geração da poesia do Romantismo brasileiro, também conhecido como poeta dos escravos, por sua denúncia da problemática da escravidão. 08) Gonçalves Dias, Aluísio de Azevedo e Visconde de Taunay são os principais representantes do romance regionalista do Romantismo. 16) Misticismo e inconsciente são algumas das palavras que sintetizam as características simbolistas dos autores Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens. 07.08. (UPF – RS) – O aspecto que caracteriza o elemento renovador do Pré-Modernismo e que situa a literatura produzida nesse período como um prenúncio da literatura modernista é a) o emprego das formas parnasianas; b) o exotismo europeizante; c) o interesse pela realidade brasileira; d) a temática simbolista; e) o Concretismo. 07.09. (UNIFESP) – Texto: É preciso ler esse livro singular sem a obses- são de enquadrá-lo em um determinado gênero literário, o que implicaria em prejuízo parali- sante. Ao contrário, a abertura a mais de uma perspectiva é o modo próprio de enfrentá-lo. A descrição minuciosa da terra, do homem e da luta situa-o no nível da cultura científica e his- tórica. Seu autor fez geografia humana e socio- logia como um espírito atilado poderia fazê-las no começo do século, em nosso meio intelectual, então avesso à observação demorada e à pesqui- sa pura. Situando a obra na evolução do pensa- mento brasileiro, diz lucidamente o crítico Antô- nio Cândido: “Livro posto entre a literatura e a sociologia naturalista, esta obra assinala um fim e um começo: o fim do imperialismo literário, o começo da análise científica aplicada aos aspec- tos mais importantes da sociedade brasileira (no caso, as contradições contidas na diferença de cultura entre as regiões litorâneas e o interior).” Alfredo Bosi. História concisa da literatura brasileira, 1994. Adaptado O excerto trata da obra a) Capitães da areia, de Jorge Amado; b) O cortiço, de Aluísio de Azevedo; c) Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa; d) Vidas secas, de Graciliano Ramos; e) Os sertões, de Euclides da Cunha. 8 Semiextensivo 07.10. (MACK – SP) – Assinale a alternativa incorreta a res- peito da produção literária de Monteiro Lobato: a) Traços de suas crenças, de sua indignação e de sua ideologia são apresentados em sua produção literária tanto adulta quanto infantil. b) Por meio da figura do caipira, “um Piraquara do Paraíba”, pretendeu retratar o atraso da região interiorana paulista do Vale do Paraíba. c) Em sua obra infantil existe o convívio de personagens tipicamente brasileiros com personagens advindos da mitologia e da literatura universal. d) A situação enfrentada pelos negros no período pós- -escravidão brasileira também faz parte de sua temática. e) Só passou a ser considerado um grande literato a partir da publicação do artigo “Paranoia ou mistificação”, em que critica a exposição de Anita Malfatti. 07.11. (MACK – SP) – Assinale a alternativa que não pode ser relacionada a Monteiro Lobato e sua obra: a) “[...] aparece na literatura brasileira como o consolidador do romance, um ficcionista que cai no gosto popular. Por um lado sua obra é um retrato fiel de suas posições políticas e sociais: grande proprietário rural, nacionalista exagerado, escravocrata.” (José de Nicola) b) “[...] sua ficção teve esse caráter; foi obra de imaginação, mas não perdeu de vista as carências do homem comum, denunciando-as em cores vivazes, não raro aprofundando as linhas da caricatura e da sátira.” (Guilhermino Cesar) c) ”[...] foi um grande publicista quando escrevia seus livros da literatura infantil. Trata-se de um terreno em que nós podemos com o mais legítimo orgulho dizer que ele não se coloca aí apenas entre os maiores escritores brasileiros.” (José Guilherme Merquior) d) “[...] sua prática literária foi, de certa forma, pioneira: ele inaugurou uma concepção de literatura que incluía a noção de livro como objeto sem aura, como linguagem, como texto, como mercadoria.” (Marisa Lajolo) e) “[...] é considerado por vários críticos como um homem à frente de seu tempo. Acreditando na educação, no sani- tarismo, na técnica profissionalizante, pensou caminhos para solucionar problemas sociais, políticos e econômicos do país.” (Lígia Militz da Costa) 07.12. (UNICISAL – AL) – O livro Os sertões foi publicado pela primeira vez em 1902 e recebeu grande atenção da crítica e do público. Leia o trecho a seguir e assinale a opção correta: Canudos tinha muito apropriadamente, em roda, uma cercadura de montanhas. Era um parêntesis; era um hiato. Era um vácuo. Não existia. Transposto aquele cordão de serras, ninguém mais pecava. Os sertões. São Paulo: Círculo do Livro, 1975. p. 444 a) Trata-se de um romance modernista, em que a personagem central, Fabiano, vive uma vida miserável no sertão nordes- tino, em companhia de sua esposa e de seus dois filhos. b) Este livro foi escrito por João Cabral de Melo Neto, escritor pernambucano, cuja obra aborda com frequência temas e personagens vinculados ao sertão nordestino. c) O romance de Euclides da Cunha tem como centro um episódio da história brasileira, conhecido como a Guerra de Canudos, que ocorreu no sertão baiano, no final do século XIX, e tinha como principal líder Antônio Conselheiro. d) É uma peça de teatro, na qual as personagens centrais são jagunços e fanáticos que enfrentam o exército brasileiro no sertão baiano. e) O poema épico escrito por Euclides da Cunha, em versos decassílabos, é uma obra consagrada da literatura bra- sileira e apresenta descrições muito líricas da paisagem nordestina, acentuando seus elementos fantásticos. 07.13. (UNICISAL – AL) – Triste fim de Policarpo Quares- ma, romance de Lima Barreto lançado em 1911, é conside- rado uma das obras mais significativas do Pré-Modernismo brasileiro. Nesse contexto, constata-se que a) empreende uma crítica impiedosa aos costumes da sociedade carioca do começo do século XX, particular- mente ao preconceito racial sofrido pelos praticantes da capoeira. b) oferece, especialmente nas passagens em que Policarpo sugere a mudança do idiomabrasileiro para o Tupi, uma visão baseada na vasta experiência de Lima Barreto como professor de línguas indígenas no Amazonas. c) dialoga diretamente com Memórias póstumas de Brás Cubas, romance de Machado de Assis, em que Brás Cubas também propõe uma mudança no idioma nacional, quando consegue ser eleito deputado. d) opera, por meio das ideias extravagantes do Major Quaresma, uma problematização da ideia de naciona- lidade, antecipando procedimentos críticos que seriam radicalizados depois da Semana de 22. e) é o relato autobiográfico de Lima Barreto, uma vez que o escritor, assim como Policarpo Quaresma, acabou a vida num hospício depois de diversas tentativas de fazer as pessoas se conscientizarem das riquezas nacionais. Aprofundamento 07.14. (UFPE) – Machado de Assis, Aluísio de Azevedo e Lima Barreto, em suas narrativas, retratam o Rio de Janeiro com foco em questões étnicas e sociais. Os dois primeiros representam a sociedade da segunda metade do século XIX, e o terceiro, as primeiras duas décadas do século XX. Em relação aos temas abordados por esses autores, analise as afirmações seguintes: 0) Machado de Assis revela-se, principalmente em seus romances da segunda fase, um profundo observador da sociedade carioca, ao criar personagens burguesas, como Brás Cubas, que se apresentavam vulneráveis e, por vezes, possuidoras de uma visão de mundo cética e pessimista. Aula 07 9Português 4C 1) Em Dom Casmurro, romance escrito, narrado e vivido por um autor-personagem, que pretende “atar as duas pontas da vida e restaurar na velhice a adolescência”, Machado de Assis retrata a burguesia carioca em seus mínimos detalhes e apresenta um triângulo amoroso explícito, composto por Capitu, Bento Santiago e Escobar, o melhor amigo da família. 2) Em O Cortiço, Aluísio de Azevedo apresenta a cidade do Rio de Janeiro, através de um narrador que retrata a realidade do Cortiço, antiga estrutura habitacional. Nes- ses ambientes, residiam pessoas de classes sociais mais humildes e de origens étnicas distintas. Assim, negros, mulatos e portugueses convivem no mesmo ambiente e por ele são influenciados. 3) A ficção de Lima Barreto retrata o Rio de Janeiro do começo da República, em que personagens, como Poli- carpo Quaresma, ao defenderem os fracos e injustiçados, terminam condenados pelo próprio sistema do qual participam. Além disso, o autor condena o preconceito contra negros e mulatos, moradores dos subúrbios ca- riocas, no início do século XX. 4) A produção romanesca dos três autores narra situações vividas por personagens pertencentes às mesmas classes sociais, tendo em vista essas personagens terem sido construídas com base em características de um mesmo movimento literário. 07.15. (UFPE) – Monteiro Lobato, criador de obras em que aborda a realidade brasileira, é ora exaltado pela crítica, ora depreciado. Contudo, sua produção satisfaz as expectativas de crianças, jovens e adultos. Desenvolve temas e explora tipos do folclore nacional e as tradições indígena e africana. Chega, inclusive, a caracterizar a identidade do homem brasileiro pela sua etnia híbrida, ao criar o personagem Jeca Tatu. Com relação à obra de Lobato, considere as afirmações a seguir: 0) Em Sítio do picapau amarelo, Monteiro Lobato reúne personagens, como Tia Nastácia, Visconde de Sabugosa, Pedrinho e Narizinho. Essa narrativa tornou conhecidas figuras do nosso folclore, como o Saci-Pererê. 1) Urupês, coletânea de contos, contém 14 pequenas narrativas. Em algumas delas, o tema recai sobre o dia a dia do caboclo, personagem que, distante do mundo rural, sofre as durezas do cotidiano das cidades grandes, como a atitude dos que rejeitam sua condição étnica híbrida, de fusão do negro com o índio. 2) Reinações de Narizinho é uma obra que tem como público-alvo as crianças. Apesar disso, existem nessa obra poucos elementos que remetem ao mundo infantil do cenário brasileiro. 3) Além de Urupês, Reinações de Narizinho e Sítio do picapau amarelo, Lobato também escreveu Negrinha e O presidente negro, essas duas últimas obras destinadas a adultos. Em O presidente negro, Lobato aborda o tema da segregação racial. 4) A produção de Lobato antecipa o Modernismo pela valori- zação da cultura nacional, pela presença de tipos populares, de aspectos folclóricos e da etnia brasileira. Tais elementos permitem enquadrar esse autor na fase pré-modernista. 07.16. (UFPE) – Ao se referir à obra de Euclides da Cunha, Alfredo Bosi declarou: “Os sertões são um livro de ciência e de paixão, de análise e de protesto: eis o paradoxo que assistiu à gênese daquelas páginas em que se alternam a certeza do fim das ‘raças retrógradas’ e a denúncia do crime que a carnificina de Canudos representou”. Tomando como foco características referentes a Os sertões e ao seu momento histórico, analise as proposições a seguir: 0) Tendo sofrido influência das teorias deterministas de seu tempo, Euclides, em Os sertões, analisa o sertanejo como sujeito determinado pelo espaço geográfico e pela raça. Isso permite inserir a obra no movimento naturalista, que, no Brasil, contou com a adesão de alguns grandes escritores. 1) Em sua obra grandiosa, Euclides da Cunha, para chegar ao relato da luta travada em Canudos, percorre, com sua pena, o espaço inóspito que conduz ao local da chacina (no livro A terra) e envereda pela análise do homem dessa árida região (no livro O homem). 2) Considerando o que diz Alfredo Bosi, é possível compre- ender que, em Os sertões, Euclides da Cunha, defensor do governo republicano, justifica a matança em Canudos em razão de ser necessário pôr fim a uma raça atrasada. 3) Se, em Os sertões, Euclides da Cunha escreve com paixão, é possível identificar traços significativos do Romantismo, daí por que sua visão do sertão pouco se aproxima da realidade do sertão nordestino. 4) Do ponto de vista literário, é tarefa complexa enquadrar Os sertões num determinado gênero literário, pois seu texto apresenta uma abordagem científica e histórica, mas num estilo que revela uma forma apaixonada e, por vezes, dramática de exprimir os acontecimentos, o que, para alguns, constituiria seu caráter literário. 07.17. (UFPE) – Lima Barreto foi uma das figuras mais con- traditórias e controvertidas da literatura brasileira do início do século XX. Sobre sua obra, podemos dizer o que segue: 0) Seu conto, o Homem que sabia javanês, é um relato mordaz sobre um trapaceiro que se passa por tradutor de um idioma exótico. 1) O autor foi um dos pioneiros no uso do estilo jornalístico na literatura. Com linguagem objetiva e informal, des- creve com clareza e simplicidade o cotidiano das classes desfavorecidas, às quais pertencia. 2) Nos seus escritos, denuncia os problemas políticos e os preconceitos sociais de seu tempo, que ele, como mulato pobre, vivenciou. 3) Em seu livro mais famoso, Triste fim de Policarpo Quaresma, Lima Barreto foca a vida de uma personagem cujo nacionalismo beira a xenofobia. Por trás disso, faz uma grande crítica à política da República Velha. 4) O romancista transforma o Marechal Floriano Peixoto num grande herói nacional em Triste fim de Policarpo Quaresma, atribuindo-lhe um caráter magnânimo e superior. 10 Semiextensivo 07.18. (UEM – PR) – Assinale o que for correto sobre o Pré-Modernismo no Brasil e sobre seus principais autores: 01) Ao contrário do que o nome do movimento pode su- gerir, o Pré-Modernismo não precede imediatamente o Modernismo em termos cronológicos, uma vez que seus principais autores produziram suas obras na terceira e na quarta décadas do século XIX. 02) Euclides da Cunha, em sua obra Os sertões, trata do conflito de Canudos e, para além da representação do embate entre as tropas do governo e os partidários de Antônio Conselheiro, traz um rico painel das dificuldades do povo sertanejo do Nordeste. 04) Na obra de Lima Barreto, o Pré-Modernismo brasileiro en- controu terreno fértil paraa representação dos subúrbios cariocas, com os dramas de seus habitantes colocados em destaque. Além disso, temas como o racismo e o preconcei- to não escaparam ao olhar crítico de sua produção literária. 08) Uma das obras mais ricas do Pré-Modernismo no Brasil é a de Monteiro Lobato. Embora muito conhecido por sua produção no âmbito da literatura infantil, o autor também esteve atento às questões decorrentes da decadência cafeeira, o que se traduziu em livros que tratam das cidades do interior paulista e de suas mazelas decorrentes dessa decadência. 16) Um fato marcante relacionado a autores do Pré- Moder- nismo brasileiro foi a participação direta de Monteiro Lo- bato nos primeiros momentos do Modernismo no Brasil. Embora com idade bastante avançada, Lobato apoiou os jovens modernistas, sendo, inclusive, homenageado na Semana de Arte Moderna de 1922. Discursivos 07.19. (UFU – MG) – Textos: Pobre terra da Bruzundanga! Velha, na sua maior parte, como o planeta, toda a sua mis- são tem sido criar a vida, e a fecundidade para os outros, pois nunca os que nela nasceram, os que nela viveram, os que a amaram e sugaram- -lhe o leite, tiveram sossego sobre o seu solo! Lima Barreto, Os Bruzundangas Senhora Dona Bahia, nobre e opulenta cidade, madrasta dos Naturais, E dos Estrangeiros madre. Dizei-me por vida vossa, em que fundais o ditame de exaltar, os que aí vêm, e abater, os que ali nascem? Gregório de Matos, Poesias selecionadas Lima Barreto e Gregório de Matos estão distantes, cronologicamente, na Literatura Brasileira. Mas os autores podem ser apro- ximados pelo teor satírico que imprimiram às suas obras. Tome os fragmentos citados para responder às questões seguintes: a) Fale sobre o tema que aproxima os dois textos. b) Destaque do texto de Gregório de Matos um par de versos que tenha “uma figura de oposição” muito comum ao Barroco, classificando-a. c) Aponte na prosa de Lima Barreto “uma figura de efeito sonoro” que seja comum ao gênero lírico, classificando-a. Aula 07 11Português 4C Instrução: A questão seguinte se baseia no trecho do romance Canaã, do escritor maranhense Graça Aranha (José Pereira da Graça Aranha, 1868-1931): O agrimensor olhou a árvore. – Faz pena – disse compassivo – botar tudo isso abaixo. – Eu, por mim – acudiu Milkau, levado pelo mesmo sentimento –, preferiria um lote onde não fosse preciso esse sacrifício. – Não há nenhum – respondeu Felicíssimo. – O homem – notou Lentz a sorrir com ar de triunfo – há de sempre destruir a vida para criar a vida. E depois, que alma tem esta árvore? E que tivesse... Nós a eliminaríamos para nos expandirmos. E Milkau disse com a calma da resignação: – Compreendo bem que é ainda a nossa contingência essa necessidade de ferir a Terra, de arrancar do seu seio pela força e pela violência a nossa alimentação; mas virá o dia em que o homem, adaptando-se ao meio cósmico por uma extraordinária longevidade da espécie, receberá a força orgânica da sua própria e pacífica harmonia com o ambiente, como sucede com os vegetais; e então dispensará para subsistir o sacrifício dos animais e das plantas. Por ora nos conformaremos com este momento de transição... Sinto dolorosamente que, atacando a Terra, ofendo a fonte da nossa própria vida, e firo menos o que há de material nela do que o seu prestígio religioso e imortal na alma humana... Enquanto os outros assim discursavam, Felicíssimo, no seu amor ingênuo à Natureza, mirava as velhas árvores, e com a mão meiga festejava-lhes os troncos, como os últimos afagos dados às vítimas do momento do sacrifício. Dentro da mata penetrava o vento da manhã e nas folhas passava brandamente, levantando um murmúrio baixo, humilde, que se escapava de todas as árvores, como as queixas surdas dos moribundos. ARANHA, Graça. Obra completa. Rio de Janeiro: MEC-Instituto Nacional do Livro, 1969. p.106-107 07.20. (UNESP – SP) – No romance Canaã, publicado em 1902, defrontamo-nos com duas personagens de temperamentos bastante fortes, Lentz e Milkau, imigrantes alemães cujas concepções do homem e do mundo são opostas. Verifique com atenção a participação dessas duas personagens no trecho de Graça Aranha e, em seguida, a) sintetize, com suas próprias palavras, os dois tipos de “homem”, ou seja, de comportamento do homem no mundo, defen- didos, respectivamente, por Lentz e por Milkau; b) mostre, com base no texto, que os fundamentos da consciência ecológica, hoje em dia bastante disseminados no mundo, já se encontram presentes nesse trecho de Canaã. 12 Semiextensivo Gabarito 07.01. c 07.02. b 07.03. e 07.04. d 07.05. a 07.06. 17 (01,16) 07.07. 20 (04,16) 07.08. c 07.09. e 07.10. e 07.11. a 07.12. c 07.13. d 07.14. V – F – V – V – F 07.15. V – F – F – V – V 07.16. F – V – F – F – V 07.17. V – V – V – V – F 07.18. 14 (02, 04, 08) 07.19. a) Ambos fazem crítica à realidade do país: a exaltação do estrangeirismo em detrimento do nacionalismo. b) Em “exaltar” e “abater”, tem-se a antítese. c) Pobre teRRa de BRuzundanga – (va- riante brasileira) de “burundanga”. Tra- ta-se da aliteração, ou seja, a repetição de sons consonantais. 07.20. a) Os dois imigrantes, Milkau e Lentz, são os personagens que defendem concepções de vida e de mundo de modo diferentes: Lentz preconiza a “lei da força”, com princípios voltados ao Darwinismo. Já para Milkau, a “lei do amor” deve prevalecer; é idealista e acredita na relação harmônica entre o homem e a natureza. b) Um dos fundamentos da consciência ecológica está no respeito à preserva- ção do meio ambiente. Comprova-se tal fato no diálogo inicial: “Faz pena (...) botar tudo isso abaixo”/ “... preferia um lote onde não fosse preciso esse sacrifício.” 13Português 4C A Semana de Arte Moderna Aula 08 4C Português O cartaz oficial; autoria de Di Cavalcanti, posteriormente reconhecido como um dos maiores pintores brasileiros de todos os tempos. Antes da Semana... Na aula anterior, estudamos as Vanguardas Artísticas Europeias. Como vimos, essas novas concepções artísticas, nada convencionais, influenciaram vários autores brasileiros. A arte começava a mudar. Tudo indicava que haveria uma ruptura radical com os pressupostos artísticos vigentes até o momento. Essa ruptura ocorreria de fato em 1922, com a realização da Semana de Arte Moderna. Mas antes que a Semana ocorresse, tivemos vários acontecimentos mar- cantes no panorama das artes no Brasil, que em certo modo contribuíram para a deflagração do Modernismo. Vejamos alguns desses acontecimentos, que representam uma espécie de “pré-história” do Modernismo brasileiro: 1911 – Em colaboração com o paranaense Emílio de Menezes, Oswald de Andrade funda a revista de artes O Pirralho. Entre tantos, participam também da revista Juó Bananére, que satirizava monstros sagrados da poesia brasileira por meio de paródias, e Di Cavalcanti, jovem caricaturista e ilustra- dor, que mais tarde seria considerado um dos maiores pintores brasileiros de todos os tempos. © Fu n d aç ão B ib lio te ca N ac io n al 1912 – Oswald de Andrade volta da Europa trazendo a novi- dade do verso livre (sem métrica regular), influência do Futurismo italiano. 1913 – O pintor Lasar Segall, judeu lituano, posteriormente naturalizado brasileiro, faz uma ex- posição de pintura com tendências expressionistas, mas sem grande repercussão. 1914 – A jovem pintora Anita Malfatti (1889-1964) regressa da Europa, onde estudava desde 1912. Faz uma pequena exposição, que não gera maiores repercussões. 1915 – O escritor Ronald de Carvalho participa da revista por- tuguesa Orpheu, marco inicial do Modernismo em Portugal. 1917 – Este é o ano considera- do “pré-histórico” do Modernismo brasileiro. Vários fatos importantes ocorreram nesse ano: 14 Semiextensivo • Publicação das seguintes obras: Há uma gota de sangue em cada poema (Mário de Andrade); A cinza das horas (Manuel Bandeira); Juca Mulato (Menottidel Picchia); Nós (Guilherme de Almeida). Era a discreta estreia de alguns poetas que teriam destaque maior a partir da Semana. • Di Cavalcanti realiza sua exposição de caricaturas em São Paulo. • O grande fato: Anita Malfatti havia regressado dos Estados Unidos no ano anterior. Por insistência de amigos, a jovem pintora de 28 anos faz uma exposição de suas obras, com algumas telas de colegas estrangeiros. Monteiro Lobato, crítico de artes plásticas do jornal O Estado de S. Paulo, escreve um artigo contundente, que ficou conhecido como “Paranoia ou mistificação?”, no qual faz várias críticas implacáveis a esse novo jeito de pintar que defor- mava o real, fruto de influências estrangeiras que desagradavam a Lobato. O artigo provocou muita polêmica, dividindo opiniões. Consolida-se, a partir daí, um grupo de interessados em produzir uma arte renovadora. Acende-se o estopim para a explosão do Modernismo. Leiamos alguns pequenos trechos do artigo escrito por Monteiro Lobato: Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que veem normalmente as coisas e em con- sequência disso fazem arte pura, guardando os eternos ritmos da vida, e adotados para a concre- tização das emoções estéticas, os processos clás- sicos dos grandes mestres. (...) A outra espécie é formada pelos que veem anormalmente a nature- za, e interpretam-na à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. (...) Estrelas cadentes, brilham um instante, as mais das vezes com a luz do escândalo, e somem-se logo nas trevas do esquecimento.(...) Estas considerações são provocadas pela expo- sição da Sr.ª Malfatti, onde se notam acentuadíssi- mas tendências para uma atitude estética forçada no sentido das extravagâncias de Picasso e com- panhia. Essa artista possui um talento vigoroso, fora do comum. Poucas vezes, através de uma obra torcida para má direção, se notam tantas e tão preciosas qualidades latentes. (...) Entretanto, seduzida pelas teorias do que ela chama arte mo- derna, (...) põe todo o seu talento a serviço duma nova espécie de caricatura. (...) Sejamos sinceros: futurismo, cubismo, impres- sionismo e tutti quanti não passam de outros ra- mos da arte caricatural. É a extensão da caricatura a regiões onde não havia até agora penetrado. A boba, de Anita Malfatti (1889-1964), com tendências ex- pressionistas 1919 – Manuel Bandeira publica o livro de poemas intitulado Carnaval, no qual inclui o poema “Os sapos”, uma sátira aos parnasianos e ao Parnasianismo. Leiamos alguns trechos: OS SAPOS Enfunando os papos, Saem da penumbra, Aos pulos, os sapos. A luz os deslumbra. Em ronco que aterra, Berra o sapo-boi: – “Meu pai foi à guerra!” – “Não foi!” – “Foi !”– “Não foi!”. O sapo-tanoeiro, Parnasiano aguado, Diz: – “Meu cancioneiro É bem martelado. Vede como primo Em comer os hiatos! Que arte! E nunca rimo Os termos cognatos. foi à guerra! – “Foi !”– “Não foi!”. oe a u te p os n co e a e p s n o Foi ! Não foi! . e ag c el p s n o eiro, guado, cancioneiro lado. primo s hiatos! nunca rimo ognatos. Sh u tt er st o ck /J ef fr ey C o lli n g w o o d Aula 08 15Português 4C O meu verso é bom Frumento sem joio. Faço rimas com Consoantes de apoio. (...) Clame a saparia Em críticas céticas: Não há mais poesia, Mas há artes poéticas...” (...) Brada em um assomo O sapo-tanoeiro: –A grande arte é como Lavor de joalheiro. (...) o o a o eiro. a icas: o o s o cas:ic o o s o é i cas: oesia, oéticas...” ssomo o: é como 1920 – Surge em evidência o jovem escultor Vítor Brecheret, que passara vários anos estudando na Europa. Vítor era considerado um gênio pelos artistas modernis- tas, ávidos por suas concepções estéticas. Monumento às Bandeiras, escultura de Vitor Brecheret, no Par- que Ibirapuera, em São Paulo 1921 – Também um ano agitado: • No início do ano, surge o Manifesto do Trianon (9 de janeiro), espécie de declaração das crenças modernistas. • Exposição do pintor Vicente do Rego Monteiro, no Rio de Janeiro. • Mário de Andrade escreve vários poemas de Pau- liceia desvairada, livro que, como veremos em aulas futuras, seria considerado como a primeira obra do Modernismo no Brasil. • Em agosto, Mário de Andrade publica uma série de sete artigos críticos sobre os poetas parnasia- nos. Nesses textos, entre outras ironias, afirma: “Malditos para sempre os Mestres do Passado!” • Em novembro, ocorre uma exposição de Di Cavalcanti. Durante a mostra, o pintor conhece Graça Aranha, que retornava da Europa. E é nessa ocasião que surge a ideia de se realizar um gran- de evento artístico. Enfim, a Semana de Arte Moderna: as três noites que abalaram as artes nacionais Capa do catálogo da exposição da Semana, feito pelo também modernista Di Cavalcanti (...) Semana de escândalos literários e artísti- cos, de meter os estribos na barriga da burguesia- zinha paulistana. Di Cavalcanti Graças ao apoio de políticos influentes e de milioná- rios do café, viabiliza-se a realização da Semana de Arte Moderna. Local? O imponente Teatro Municipal de São Paulo. Data? De 13 a 17 de fevereiro de 1922, no ano do © Is to ck p h o to s. co m /B A M C In to sk Sh u tt er st o ck /J ef fr ey C o lli n g w o o d 16 Semiextensivo centenário da independência do Brasil. Compreendia uma exposição com cerca de 100 obras de escultura e pintura no saguão do teatro, dispostas à visitação do público, e, como ponto alto, sessões literário-musicais em três noites. Ficaram expostas à visitação pública todas as cria- ções artísticas que de um modo ou de outro refletiam as tendências inovadoras, as quais vinham manifestando- -se desde os primeiros anos do século 20. ELES PARTICIPARAM DA SEMANA • Na literatura: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Graça Aranha, Menotti del Picchia, Ronald de Carvalho, Guilherme de Almeida, Agenor Barbosa, Ribeiro Couto, Plínio Salgado, Sérgio Milliet, Paulo Prado e outros. • Na pintura e escultura: Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Vicente do Rego Monteiro, Vítor Brecheret, Zina Aita, John Graz, Ferrignac, Alberto Martins Ribeiro e outros. • Na música: Heitor Villa-Lobos, Guiomar Novaes, Ernani Braga e outros, incluindo alguns números de danças. • Na arquitetura: Antonio Garcia Moya e Georg Przymberel AUSÊNCIAS NOTÁVEIS Monteiro Lobato, Lima Barreto, Juó Bananére, Voltolino, entre outros. Vejamos o que aconteceu nesses três dias. Dia 13 (segunda) – boa estreia Casa cheia, abertura oficial do evento. Espalhadas pelo saguão do Teatro Municipal de São Paulo, várias pinturas e esculturas provocam reações de espanto e repúdio por parte do público. O espetáculo tem início com a confusa conferência de Graça Aranha, intitulada “A emoção estética na Arte Moderna”; leiamos o trecho de abertura dessa palestra: Para muitos de vós, a curiosa e sugesti- va exposição, que gloriosamente inaugura- mos hoje, é uma aglomeração de “horrores”. Aquele Gênio supliciado*, aquele Homem amarelo*, aquele Carnaval alucinante*, aque- la Paisagem invertida*, se não são jogos da fantasia de artistas zombeteiros, são segura- mente desvairadas interpretações da natureza e da vida. Não está terminado vosso espanto. Outros “horrores” vos esperam. Daqui a pou- co, juntando-se a esta coleção de disparates, uma poesia liberta, uma música extravagan- te, mas transcendente, virão revoltar aqueles que reagem movidos pelas forças do Passado. Para estes retardatários a arte é ainda o Belo. *Telas em exposição no saguão do Teatro Municipal de São Paulo. A noitada prosseguiu com a conferência de Ronald de Carvalho e com a leitura de alguns poemas. Ainda nesta noite, houve três solos de piano de Ernani Braga e algumas peças de Villa-Lobos. Enfim, tudo transcorreu em certa calma nesse primeiro dia. Dia 15 (quarta)– campo de batalha O maior destaque deste dia era a pianista Guiomar Novaes. Na abertura do espetáculo, uma palestra com Menotti del Picchia sobre a arte moder- na, ilustrada com a leitu- ra de poemas e trechos em prosa por Oswald de Andrade, Mário de Andra- de e outros escritores, além de um número de dança de Yvonne Daumerie. Menotti apresenta ao público os novos escritores dos novos tempos, e surgem as vaias e os barulhos diversos (miados, latidos, grunhidos), que se alternam e se confundem com aplausos. Seu discurso era uma exaltação do novo sobre o velho: – alha deste uiomar petáculo, notti del oder- u- os de W ik im ed ia C o m m n o s/ A ce rv o D ed o c Aula 08 17Português 4C (...) Queremos luz, ar, ventiladores, aeropla- nos, reivindicações obreiras, idealismos, motores, chaminé de fábricas, sangue, velocidade, sonho, na nossa Arte! E que o rufo de um automóvel, nos trilhos de dois versos, espante da poesia o últi- mo deus homérico, que ficou, anacronicamente, a dormir e a sonhar, na era do “jazz band” e do cinema, com a flauta dos pastores da Arcádia e os seios divinos de Helena!” (...) Tudo isso – e o automóvel, os fios elétri- cos, as usinas, os aeroplanos, a arte – tudo isso forma os nossos elementos da estética moderna, fragmentos de pedra com que construiremos, dia a dia, a Babel do nosso Sonho, no nosso desespe- ro de exilados de um céu que fulge lá em cima, para o qual galgamos no nossa ânsia devoradora de tocar com as mãos as estrelas. Em meio à confusão, Guiomar Novaes toca algumas peças mais modernas, mas, contra a vontade dos demais artistas, aproveitou um momento do espetáculo para tocar alguns clássicos, iniciativa aplaudida pelo público. E o clima esquenta ainda mais: Ronald de Carvalho lê o poema intitulado “Os sapos”, de Manuel Bandeira, numa crítica aberta ao modelo parnasiano. O público faz coro, atrapalhando a leitura do texto: alguns imitam animais, outros repetem o refrão do texto. O espetácu- lo dessa noite acaba em algazarra, insultos, arremessos de legumes e frutas no palco, brigas, para vergonha de alguns e alegria de outros, que viam a confusão como um marketing às ideias modernistas. Dia 17 (sexta) G lo w Im ag es /A p P h o to /J ac k H ar ri s Foi o dia mais tranquilo, com metade da lotação do teatro. Houve um longo concerto de Villa-Lobos (1887-1959), com a participação de vários músicos. O público, em número reduzido, comportava-se mais respeitosamente, exceto quando o maestro Villa- -Lobos entra em cena de casaca, mas com um pé cal- çado com um sapato, e outro com chinelo; o público interpreta a atitude como futurista e desrespeitosa e vaia o artista impiedosamente. Mais tarde, o maestro explicaria que não se tratava de modismo e, sim, de um calo inflamado... Balanço da semana Passada a Semana, como podemos avaliá-la? Bem, para a época imediata, a Semana foi um verdadeiro fracasso, pois nem o público nem a crítica entenderam ou aceitaram as propostas renovadoras apresentadas. Entretanto, a Semana, ao longo de nossa história, foi adquirindo grande valor, pois propôs novos rumos para a arte brasileira, que nunca mais foi a mesma. Além disso, a Semana também representou a independência cultural brasileira, pois despertou a consciência artística nacional para a produção de uma arte mais comprometida com as coisas do país, ainda que influenciada por concepções artísticas estrangeiras. Enfim, o Modernismo brasileiro tem início com a rea- lização da Semana, possuindo como princípios estéticos fundamentais: • O direito permanente à pesquisa estética; • Atualização da inteligência artística brasileira; • Estabilização de uma consciência criadora nacional. Estudaremos as implicações desses princípios nas próximas aulas, além de conhecermos a divisão didática proposta para tal estética, em 3 gerações: • 1ª. Geração (1922-1930) • 2ª. Geração (1930-1945) • 3ª. Geração (1945-1960) Heitor Villa-Lobos: nosso maior compo- sitor erudito de todos os tempos não foi compreendido nem admirado durante a Semana de Arte Moderna. 18 Semiextensivo Testes Assimilação 08.01. (UNIOESTE – PR) – Com base nos três depoimentos abaixo, assinale a alternativa que faz alusão a um fato mar- cante, caracterizado através da perspectiva de três de seus integrantes: 1. Bruta sacudidela nas artes nacionais! (Mário de Andrade) 2. [...] foi o primeiro protesto coletivo que se ergueu no Brasil contra esses fantoches do passado. (Paulo Prado) 3. A inquietação brasileira, fatigada do velho regime e de velhas fórmulas que a rotina transformara em lugar co- mum, buscava algo novo, mais sinceramente nosso, mais visceralmente brasileiro. (Menotti del Picchia) a) Abolição da escravatura; b) Independência literária, via independência política; c) Criação da Imprensa Nacional; d) Fundação da Academia Brasileira de Letras; e) Semana de Arte Moderna. 08.02. (UERN) – A Semana de Arte Moderna, ou Semana de 1922, marcou a entrada do Modernismo artístico e literário no Brasil. Em 22/02/1922, A Gazeta publicou a seguinte notícia: Ao público chocado diante da nova música to- cada na Semana, como diante dos quadros expos- tos e dos poemas sem rima (...): sons sucessivos, sem nexo, estão fora da arte musical: são ruídos, são estrondos; palavras sem nexos estão fora do discurso: são disparates como tantos e tão cabe- ludos que nesta semana conseguiram desopilar os nervos do público paulista [...]. A Gazeta em 22-02-1922: In Emília Amaral e outros. Cit. Pág. 67 O teor de tal repercussão demonstra a) uma “demolição” das convenções estéticas tradicionais; b) uma retomada da estética parnasiana, considerada superficial; c) a modernidade urbana introduzida pelo crescimento industrial; d) a relevância de aspectos nacionalistas vistos na quebra de antigos paradigmas. 08.03. (MACK – SP) – Assinale a alternativa que completa corretamente as lacunas: A artista, criticada por ________, em texto conhecido como ________, apresentava características ________. a) Oswald de Andrade – Manifesto antropofágico – realistas; b) Monteiro Lobato – Paranoia ou mistificação? – ex- pressionistas; c) Mário de Andrade – Prefácio interessantíssimo – sur- realistas; d) Graça Aranha – O espírito moderno – impressionistas; e) Mário de Andrade – Mestres do passado – cubistas. 08.04. (PUCPR) – Ano decisivo para o Modernismo brasileiro é 1917, já que nele aparecem produções que iriam revolucio- nar a arte literária brasileira. Da lista abaixo, o que apareceu pela primeira vez em 1917? a) Wilson Martins: O Modernismo e Mário da Silva Brito: Antecedentes da Semana de Arte Moderna; b) Monteiro Lobato: Urupês e Manuel Bandeira: Carnaval; c) Anita Malfatti: Homem amarelo e Mulher de Cabelos Verdes e Di Cavalcanti: Carnaval; d) Mário de Andrade: Pauliceia desvairada e Graça Aranha: Canaã; e) Menotti del Picchia: Juca Mulato e Manuel Bandeira: A cinza das horas. 08.05. (UNIPAR – PR) – A Semana de Arte Moderna de 1922, que reuniu em São Paulo escritores e artistas, foi um movimento a) de renovação das formas de expressão com a introdução de modelos norte-americanos. b) influenciado pelo cinema internacional e pelas ideias propagadas nas universidades de São Paulo e do Rio de Janeiro. c) de contestação aos velhos padrões estéticos, às estruturas mentais tradicionais e um esforço de repensar a realidade brasileira. d) desencadeado pelos regionalismos nordestino e gaúcho, que defendiam os valores tradicionais. e) de defesa do Realismo e do Naturalismo contra as velhas tendências românticas. Aperfeiçoamento 08.06. (UFAC) – A Semana de Arte Moderna (1922), expres- são de um movimento cultural que atingiu todas as nossas manifestações artísticas, surgiu de uma rejeição ao chamado colonialismo mental, pregava uma maior fidelidade à reali- dade brasileira e valorizava sobretudo o regionalismo. Com isso, pode-se dizer que a) o romance regional adquiriu característicasde exaltação, retratando os aspectos românticos da vida sertaneja. b) a escultura e a pintura tiveram seu apogeu com a valori- zação dos modelos clássicos. c) o movimento redescobriu o Brasil, revitalizando temas nacionais e reinterpretando a nossa realidade. d) os modelos arquitetônicos do período buscaram sua inspiração na tradição do barroco português. e) a preocupação dominante dos autores foi com retratar os males da colonização. POÉTICA Estou farto do lirismo comedido Do lirismo bem-comportado Do lirismo funcionário público com livro de pon- to expediente protocolo e manifestações de apre- ço ao sr. diretor. Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo Abaixo os puristas Todas as palavras sobretudo os barbarismos uni- versais Todas as construções sobretudo as sintaxes de ex- ceção Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis Estou farto do lirismo namorador Político Raquítico Sifilítico De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo De resto não é lirismo Será contabilidade tabela de cossenos secretário do amante exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc. Aula 08 19Português 4C 08.07. (UFRGS) – Assinale a alternativa correta sobre a Se- mana de Arte Moderna: a) A Semana de Arte Moderna, liderada por intelectuais e políticos paulistas, foi o evento que coroou o Modernismo Brasileiro, com a publicação de Macunaíma, de Mário de Andrade. b) O Modernismo foi um movimento isolado, ocorrido na cidade de São Paulo, sem repercussão nacional. c) A briga entre Graça Aranha e Anita Malfatti serviu de inspiração para a concepção da Semana. d) A prática dos manifestos, muito comum nas vanguardas europeias, foi repetida pelos modernistas, como forma de veicular seus ideais estéticos e sociais. e) As vanguardas europeias, por seu caráter destruidor e localista, são copiadas e seguidas pelos artistas brasileiros, como Monteiro Lobato, Murilo Mendes e Raul Bopp. Instrução: Texto para as próximas 3 questões: 08.08. (ESPM – SP) – Sobre o poema acima, verdadeiro manifesto dos ideais revolucionários do Modernismo de 22, só não é possível afirmar que a) repudia os modelos de correção técnica dos parnasia- nos: obrigatoriedade do verso “fita métrica”, da rima e da pontuação perfeitas. b) critica a contenção lírica, a postura protocolar e burocrá- tica na poesia. c) condena o preciosismo vocabular e, indiretamente, o sentido frio da palavra em estado de dicionário. d) rejeita os moldes sentimentais “fabricados” pela perspec- tiva, já tão desgastada, do Romantismo. e) censura, já desde o início, pelo título, as teorias de versi- ficação em vigor. 08.09. (ESPM – SP) – Com o verso: “Abaixo os puristas”, Bandeira critica os autores exagerados em matéria de pureza da linguagem escrita e falada. Baseado nisso, poderiam ser listados os seguintes nomes: a) Eça de Queirós, Machado de Assis e Raul Pompeia; b) Rui Barbosa, Olavo Bilac e Coelho Neto; c) Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga; d) Gregório de Matos e Padre Antônio Vieira; e) José de Alencar, Manuel Antônio de Almeida e Joaquim Manuel de Macedo. 08.10. (ESPM – SP) – O poeta só não critica o lirismo a) libertador e espontâneo, sem repressões e sem censura, com barbarismos universais. b) de fórmula matemática (“tabela de cossenos”) ou com regras preestabelecidas (“cem modelos de carta”). c) bajulatório e formal do clientelismo político (“manifesta- ções de apreço ao sr. diretor”). d) político de amor à Pátria e de engajamento. e) raquítico e sifilítico: de apego à solidão, ao ambiente noturno, ao “mal do século”. 08.11. (UNICISAL – AL) – O Modernismo brasileiro foi um movimento muito importante em nossa história cultural, pois diversas artes estavam articuladas. Em busca da renovação da arte nacional, escritores, artistas plásticos, romancistas, poetas, compositores participaram da Semana de Arte Moderna, em 1922, a fim de apresentar, ao público, suas propostas. Considerando-se as informações abordadas no texto, pode-se inferir que Quero antes o lirismo dos loucos O lirismo dos bêbedos O lirismo difícil e pungente dos bêbedos O lirismo dos clowns de Shakespeare – Não quero mais saber do lirismo que não é liber- tação. Manuel Bandeira, in: Libertinagem 20 Semiextensivo a) Oswald de Andrade e Villa-Lobos, entre outros, participa- ram ativamente desse movimento. b) as propostas foram aplaudidas pela maior parte do pú- blico, que desejava uma revolução nas artes. c) o Modernismo defendia uma falsa renovação artística, que se limitava apenas a copiar modelos europeus. d) apenas artistas e escritores de São Paulo adotaram as ideias do Modernismo brasileiro. e) a renovação modernista era elitista, com linguagem grandiloquente e valorização da correção gramatical. 08.12. (IFSP) – A Semana de Arte Moderna de 1922 trouxe, como importante consequência para a sociedade, a) o desprezo pelos movimentos de vanguarda, a exem- plo do Cubismo e do Expressionismo, pois os ideais propostos não correspondiam à realidade brasileira. b) a preferência por temas ligados a fatos históricos consagrados, narrados de forma idealizada e em total obediência às exigências da língua padrão. c) o estabelecimento de regras rígidas e definidas para a criação poética e para a narrativa, agrupando, dessa forma, as diferentes correntes artísticas daquele mo- mento. d) a percepção de que os modelos artísticos europeus deveriam ser substituídos pelos dos EUA, já que esse país despontava como nação líder. e) a conscientização dos brasileiros sobre a riquíssima cultura de nosso país, sobretudo a popular, que até então era discriminada pelas elites. Aprofundamento 08.13. (UFTM – MG) – São dados do contexto sócio-histórico do Modernismo brasileiro, que se refletem nos temas e na linguagem literária do período: a) Êxodo dos habitantes dos grandes centros urbanos; eclosão da Primeira Guerra Mundial; ascensão das oli- garquias rurais; b) Difusão de ideias anarquistas e socialistas; primitivismo e vivência nacional; unidade e coerência ideológica; c) Crise econômica; filosofia conservadora; religiosidade e misticismo em alta; d) Crescimento urbano e industrial; acentuado fluxo de imigração; emergência do operariado; e) Deslocamento do operariado urbano para a cultura canavieira do Nordeste; conformismo político; ideias comunistas. 08.14. (UFPE) – Em 29 de janeiro de 1922, O Estado de S. Paulo noticiava: “Por iniciativa do festejado escritor, Sr. Graça Aranha, da Academia Brasileira de Letras, haverá em S. Paulo uma ‘Semana de Arte Moderna’, em que tomarão parte os artistas que, em nosso meio, representam as mais modernas correntes artísticas”. Considerando o significado histórico dessa semana, bem como seus desdobramentos, examine as proposições a seguir: 0) Com o pretexto de comemorar o centenário da Inde- pendência do Brasil, a Semana de Arte Moderna foi um acontecimento da e para a burguesia, que arregimentou artistas para a subversão estética. 1) O engajamento político está entre as linhas prioritárias do projeto modernista de 22; em segundo plano, a desintegração das linguagens tradicionais, a adoção das conquistas de vanguarda e a busca da identidade nacio- nal, o que mais preocupava Oswald de Andrade: “Nós, os brasileiros, quem somos? Qual a nossa identidade?” 2) Na Semana de 22, ocorreram conferências sobre a arte moderna, apresentações de músicas e de declamações literárias que ilustravam as teses dessa nova proposta es- tética. A adesão entusiasta por parte do público significou o sucesso do projeto modernista. 3) Nos anos que se seguiram a 1922, os modernistas do Rio de Janeiro e de São Paulo fundaram revistas e lançaram manifestos, os quais, com o propósito de explicar e justi- ficar as obras que eram produzidas ao longo da década, iam delimitando os subgrupos, portadores de nuanças estéticase ideológicas precisas. 4) Mais de uma década depois, os próprios artistas que participaram do evento convergem na opinião de que a Semana de 22 foi um acontecimento realizado com bases teóricas e filosóficas seguras, o que teria garantido a implantação do Modernismo de forma amadurecida e consequente. 08.15. (UEL – PR) – O texto a seguir apresenta uma crítica feita por Monteiro Lobato, publicada em 1917, por ocasião da exposição de Anita Malfatti: Todas as artes são regidas por princípios imu- táveis, leis fundamentais que não dependem do tempo nem da latitude. As medidas de propor- ção e equilíbrio, na forma ou na cor, decorrem do que chamamos sentir. Quando as sensações do mundo externo transformam-se em impressões cerebrais, nós “sentimos”; para que sintamos de maneira diversa, cúbica ou futurista, é forçoso ou que a harmonia do universo sofra completa alte- ração, ou que o nosso cérebro esteja em “pane” por virtude de alguma grave lesão. Enquanto a percepção sensorial se fizer normalmente no ho- mem, através da porta comum dos cinco senti- dos, um artista diante de um gato não poderá “sentir” senão um gato, e é falsa a “interpretação” que do bichano fizer um “totó”, um escaravelho, um amontoado de cubos transparentes. LOBATO, M. Paranoia ou mistificação? Aula 08 21Português 4C Com base no texto, é correto afirmar que, para este autor, I. A arte moderna é fruto da distorção cognitiva de seu criador. II. A arte moderna é uma imitação do mundo visível. III. As leis fundamentais da arte são: proporção, equilíbrio de forma e cor. IV. A harmonia do universo ampara a arte moderna. Assinale a alternativa que contém todas as afirmativas corretas: a) I e II d) I, II e IV b) I e III e) II, III e IV c) III e IV 18.16. (UFPR) – Texto: A ambição do grupo [modernista] era grande: educar o Brasil, curá-lo do analfabetismo letrado, e, sobretudo, pesquisar uma maneira nova de ex- pressão, compatível com o tempo do cinema, do telégrafo sem fio, das travessias aéreas interconti- nentais. Boaventura, M. E. A Semana de Arte Moderna e a crítica contemporâ- nea: vanguarda e modernidade nas artes brasileiras Conforme o trecho acima e os conhecimentos sobre a Se- mana de Arte Moderna de 1922 e o Modernismo brasileiro subsequente, é correto afirmar: a) A Semana de 1922 marcou o Modernismo inspirado em vanguardas europeias, buscando uma nova arte com uma identidade brasileira experimental, miscigenada, antropofágica e cosmopolita. O movimento celebrava o progresso da nação, simbolizado pelo desenvolvimento da cidade de São Paulo. b) A Semana foi o grande marco da arte moderna brasilei- ra, caracterizando-se pela busca por uma imitação do Surrealismo e do Cubismo, realizada por acadêmicos em constante contato com os artistas europeus. c) A Semana de 1922 somou-se ao regionalismo nor- destino para mostrar as raízes da cultura brasileira, recusando qualquer interferência da arte estrangeira. Os modernistas fizeram, com isso, uma forte crítica à modernização e à alfabetização brasileira. d) Monteiro Lobato e Mário de Andrade lideraram a Sema- na de 1922, que teve o intuito de aliar as produções mais recentes no campo da música, literatura e artes plásticas futuristas com as obras tradicionalistas da arte brasileira. e) Os modernistas passaram a se organizar, depois da Se- mana de 1922, para efetivar uma arte revolucionária nos moldes do realismo soviético, pois acreditavam na cons- cientização da população para uma mudança no poder. 08.17. (UEM – PR) – Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Pagu, Anita Malfatti e Heitor Villa-Lobos foram, entre outros, alguns nomes que, na primeira metade do século passado, integraram um importante movimento artístico e intelectual que ficou conhecido como Movimento Modernista. Assinale a(s) alternativa(s) que corresponde(m) àquela época fundamental da vida cultural brasileira: 01) Um tema recorrente entre os modernistas de diferentes posturas ideológicas era a valorização das heranças dos povos negros e indígenas que contribuíram para a formação da sociedade brasileira. 02) Muitos artistas plásticos buscaram inspiração em lendas e em crenças tradicionais da população brasileira para comporem suas obras. 04) Sérgio Buarque de Holanda (Raízes do Brasil) e Gilberto Freyre (Casa-grande e senzala) mostraram o interesse dos modernistas em compreender as origens remotas dos problemas sociais e políticos do Brasil Moderno. 08) O forte impacto da imigração alemã e italiana nos estados da Região Sul motivou os modernistas a enfatizarem os ideais nazistas e fascistas como mecanismos de integração daqueles estrangeiros ao modo de vida brasileiro. 16) Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti, influenciados pelas tendências modernas da pintura europeia, dedicaram algumas de suas obras fundamentais à unidade e à variedade da população brasileira. 08.18. (UEM – PR) – Leia o trecho a seguir e assinale o que for correto: A Semana foram três dias (13, 15 e 17 de fevereiro de 1922) somente. Mas bastou para sacudir a velha cultura brasileira. Os jovens modernistas exibiram-se no Teatro Municipal: o público os recebeu com relinchos, cacarejos, latidos, uivos, batatas, rabanetes e ovos podres. (Cinco anos antes já houvera uma violenta rea- ção contra o Modernismo. Monteiro Lobato, no auge de seu prestígio, escreveu, em O Estado de S. Paulo, um artigo violento contra a exposição moderna da pintora Anita Malfatti. O artigo era cruel até no título: “Paranoia ou mistificação?”) As famílias paulistanas arrancaram os cabelos de indignação. Então aquilo era arte? Era. Arte dos novos tempos, dos novos grupos sociais em as- censão. SANTOS, Joel Rufino. 01) Trata-se de um movimento essencialmente brasileiro e que não recebeu influência da cultura europeia. 02) Por meio das representações artísticas, os modernistas exaltavam a importância da cultura brasileira. 04) Os participantes do movimento modernista recu- savam-se a abordar temas relacionados à realidade brasileira da época. 08) Apesar de serem considerados “modernistas”, excluíam a participação das mulheres no movimento. 16) Na sua essência, o Modernismo foi um movimento renovador no contexto brasileiro, pois propunha mu- danças na estética da cultura brasileira dos anos 1920. 22 Semiextensivo Discursivos Instrução: Texto para a próxima questão: CASO ANITA MALFATTI O “caso” Anita Malfatti chegou-nos envolto em tanta carga emocional que é hoje quase temerário tentar encará-lo com objetividade. Para as gerações modernistas e pós-modernistas, ela seria (...) a ”protomártir da arte moderna no Brasil”, enquanto Monteiro Lobato, autor de um artigo muito mais violento pelo título do que pelo conteúdo, passaria a simbolizar todas as incompreensivas forças da reação. (...) Mário da Silva Brito, na sua indispensável História do modernismo brasileiro, escreve que Lasar Segall, por ocasião de sua primeira mostra, em 1913, foi otimamente tratado pela imprensa; o mesmo aconteceu com Anita Malfatti, que, à parte a truculenta manifestação de Lobato, sempre encontrou nos periódicos conservadores uma larga margem de simpatia. (...) Mesmo o artigo de Lobato foi lido mais no título provocativo e polêmico do que no texto, onde será difícil apontar o que não se contenha dentro dos limites normais de uma crítica desfavorável; esse artigo, em todo caso, não é mais incompreensivo e sarcástico do que as gargalhadas de Mário de Andrade quando, antes dele [Monteiro Lobato], visitou a exposição pela primeira vez. Também não corresponde à realidade a imagem corrente de um Monteiro Lobato investindo cegamente contra toda arte moderna. (...) MARTINS, Wilson. A ideia modernista 08.19. Responda: a) O que foi o “Caso Anita Malfatti”? b) Por seu comportamento no referido “caso”, como Monteiro Lobato tem sido retratado? c) De acordo com o texto, a opinião corrente sobre Monteiro Lobato, a de um inimigo do Modernismo, corresponde
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