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Ondas eletromagnéticas, Ondas Sonoras e Ondas Magnéticas em sistemas vivos Definições conceituais: Em termos físicos uma onda pode ser definida como uma perturbação oscilante no universo, geralmente um pulso de energia, que se propaga no espaço e é periódica no tempo. Para caracterizar as ondas usamos as seguintes grandezas, representadas na figura 1 abaixo: • Amplitude – A (m): corresponde à altura da onda, marcada pela distância entre o ponto de equilíbrio (repouso) da onda até a crista. Note que a “crista” indica o ponto máximo da onda, enquanto o “vale”, representa a ponto mínimo da onda no espaço. • Comprimento de onda – λ (m): é a distância entre dois vales ou duas cristas sucessivas. • Velocidade de propagação – v (m/s): quanto de espaço é percorrido por uma crista em determinado tempo. A velocidade de propagação de uma onda depende do meio em que ela está se propagando e das características das ondas. De acordo com o meio, geralmente v é uma constante. Assim, quando uma onda muda seu meio de propagação, a sua velocidade pode mudar. • Frequência – f (Hz): corresponde ao número de cristas da onda em determinado intervalo de tempo em um ponto no espaço. A frequência de uma onda não depende do meio de propagação, apenas da oscilação da fonte que produz a onda. Figura 1 – Características físicas de uma onda. A depender de sua natureza física, as ondas podem ser classificadas em dois tipos: • Ondas Mecânicas: são as ondas que só existem em um meio material, por exemplo, as ondas sonoras. • Ondas Eletromagnéticas: são as ondas que propagam independente se existe ou não um meio material, por exemplo, as ondas de rádio, ondas de campo elétrico e magnético e a luz. As ondas são constituintes do universo. É impossível imaginar a nossa realidade de universo sem a presença das oscilações energéticas que nos circunda, das mais variadas formas: luzes, sons, calor etc. A presença das ondas é tão expressiva que, na década de 1990, surgiu a Teoria das Cordas, que tenta explicar o universo através de padrões oscilatórios da energia (veja Nota 1). https://www.todamateria.com.br/ondas-mecanicas/ https://www.todamateria.com.br/ondas-eletromagneticas/ Diante disso, os sistemas vivos obviamente interagem, em diversos níveis, com as ondas. É das ondas eletromagnéticas que provém a energia para sustentar toda a vida (fotossíntese é o processo primordial de transformação de energia física da luz em energia metabólica para sustentar toda a cadeia trófica existente.). Também, é através de cores e sons que ocorre grande parte da interação dos sistemas vivos com o meio e entre si; ou seja, a comunicação entre sistemas vivos e o sensoriamento ou percepção do ambiente ocorrem através de ondas: emissão e recepção de ondas. As ondas são importantes para a regulação de biociclos em todos os seres vivos em diferentes escalas temporais – processos cronobiológicos. E, por fim, é através do conhecimento de ondas que foram desenvolvidas muitas tecnologias para avanços biomédicos que ocorreram após a 2ª Grande Guerra, com a aplicação prática do que até então eram teorias da física quântica. Dentre esses avanços vale destacar o imageamento diagnósticos por raios-x, por ultrassom e por ressonância magnética, o uso de radioterapia e contrastes radioativos como marcadores ou traçadores. Nota 1: A teoria das cordas afirma que as menores unidades constituintes da matéria existente e das partículas elementares da natureza são minúsculas cordas vibratórias oscilantes feitas de energia, e que, variando a oscilação e vibração dessas, cria-se a matéria conhecida, em todos seus aspectos, incluindo as partículas componentes das forças fraca, forte, eletromagnética e a própria gravidade. Há ainda a inclusão das ondas, como exemplo a luz, que é constituída por fótons, as quais são, na verdade, em seu máximo interior formadas por minúsculas cordas. Tal característica da luz, de ser onda e partícula ao mesmo tempo, denomina-se dualidade onda-partícula. Para mais informação sobre essa dualidade, assista ao vídeo do link - https://www.youtube.com/watch?v=oSUHXeiaQ98&t=153s. Se interessa em saber mais um pouco sobre teoria das cordas, assista ao vídeo do link - https://www.youtube.com/watch?v=whwJGiQEryo. Ondas mecânicas e sistemas vivos: Dentre os tipos de ondas mecânicas que interagem com sistemas vivos, as ondas sonoras são as mais significativas. Isso porque todos os organismos que conhecemos, desde a célula mais simples até a biosfera em seu conjunto, percebem sons e respondem a esses estímulos sonoros, bem como, emitem som. Existe uma infinidade de mecanismos fisiológicos dentro da diversidade de sistemas vivos, para captar e para emitir ondas sonoras: desde organismos com sistemas auditivos e emissores complexos e específicos até o mais rudimentar sistema relacionado à percepção das pressões ou vibrações causadas pelas ondas sonoras nas membranas celulares. Se perguntarmos para qualquer pessoa: qual a importância do som para os seres vivos? Certamente a resposta será: para comunicação. Contudo, os sistemas vivos interagem com as ondas sonoras de outras formas além da comunicação, que seria a vocalização e audiição. As ondas sonoras servem também como forma de perceber o ambiente e como eficiente artefato de caça, como no caso da ecolocalição ou biossonar, como nos morcegos e cetáceos. Nas plantas, as ondas sonoras são utilizadas para busca de água pelas raízes, como estímulo para reprodução sexuada e como sinalizador para processos bioquímicos. https://www.youtube.com/watch?v=oSUHXeiaQ98&t=153s https://www.youtube.com/watch?v=whwJGiQEryo No caso de localização, o eco ou refração das ondas sonoras emitidas pelo animal é processado como distância, do ponto de emissão, tamanho e forma de objetos e presas. Esse é basicamente o mesmo princípio de equipamentos de ultrassom para imageamento diagnóstico e de sonares. Para caça, as ondas sonoras são emitidas em alta frequencia para atordoar presas, que perdem o sentido de direção ou equilíbrio, facilitando a captura pelo predador. No caso das plantas, estudos mostraram que as raízes de diversas plantas crescem em direção ao som de água corrente, mesmo sem a presença de água. Algumas espécies abrem as suas flores ou liberam seus grãos de pólen apenas com o zunido das asas de um polinizador específico e, por fim, plantas de sub-bosque ativam as suas enzimas fotossintetizantes ao som da alvorada produzido por pássaros e insetos, abrindo estômatos e iniciando a absorção de CO2 nas primeiras horas do dia, mesmo quando ainda não há luz no seu habitat, o que tem sido considerado como “somsíntese”, que é a substituição da luz pelo som na síntese de moléculas orgânicas usando CO2 inorgânico. Todas essas respostas biológicas relacionadas às ondas sonoras serão estudas com maiores detalhes nas disciplinas específicas do curso de biologia, como fisiologia geral, fisiologia humana e fisiologia vegetal além de ecologias. O que precisamos destacar nesse momento é que todas essas respostas biológicas ao som são relativas à sua característica física de transporte de energia na forma de pressão. Ou seja, a energia discreta das ondas sonoras é uma variação de força por área. Como são ondas mecânicas, as ondas sonoras só propagam na matéria e, portanto, seguem as leis da física newtoniana. Sendo assim, a energia que a onda sonora propaga pode também ser entendia como pressão. Imagine uma sala fechada de volume conhecido. Uma caixa de som com um potente autofalante é colocada dentro dessa sala e o som é elevado. A energia (E) da onda sonora será capaz de fazer as janelas e as paredes dessa sala tremerem e essa energia será proporcional ao volume (v) de ar da sala, da seguinte maneira: E/v. Matematicamente, a razão entre E e v é igual a força dividida pela área, que é a relação de pressão. Ou seja, as ondas sonorassão capazes de ser traduzidas em oscilações de pressão no ambiente. É através dessas oscilações de pressão causadas pelo som em relação a pressão do ambiente (no caso de um ambiente aéreo, a pressão atmosférica – Nota 2), é que a maioria dos sistemas vivos consegue perceber o som ou utilizá-lo como sonar ou como uma arma atordoadora no momento da caça. Da mesma maneira, só será possível emitir ondas sonoras se for possível alterar a pressão atual do ambiente. Por esse motivo, as ondas sonoras não podem existir onde não há matéria... ou melhor... onde não há pressão. Assim, quanto menor for a pressão ambiente, menor é a energia discreta de ondas sonoras no ambiente. Já em condições de maior pressão, como a 2m de profundidade na água ou no solo, o som terá maior “força”. Portanto, quanto mais denso for o meio, maior é a energia e a velocidade de propagação de ondas sonoras. Ao final desse capítulo, deve-se lembrar da importância da pressão para as definições termodinâmicas de um sistema vivo! Mais sobre esse assunto deverá ser obtido no capítulo 5 do livro texto da disciplina (Biofísica – JHR Duran). Ondas magnéticas e sistemas vivos - biomagnetismo: Antes de avançarmos em nossos estudos, é importante enfatizar que o termo ondas magnéticas não é usual na física, sendo esse tipo de oscilação energética incorporando dentro de ondas eletromagnéticas. Contudo, para entendimento de alguns processos biológicos precisaremos diferenciar as ondas magnéticas, que são geradas por oscilações de Campo Magnético. Vejamos: Campo Magnético é a concentração de magnetismo que é criado em torno de uma carga magnética num determinado espaço. É o ímã que cria o campo magnético, da mesma forma como é a carga elétrica e a massa que, respectivamente, criam os campos elétrico e gravitacional no espaço. Assim, fisicamente, as Ondas eletromagnéticas são oscilações formadas por campos elétricos e magnéticos variáveis, respectivamente, que se propagam tanto no vácuo quanto em meios materiais. Já vimos também que ondas sonoras são oscilações de pressão no espaço. Então, o que estamos definindo como ondas magnéticas em nosso estudo são as oscilações de campo magnético ou elétrico (não e elétrico! Entenda a diferença!). Como o planeta Terra encerra toda forma de vida conhecida e possui uma expressiva magnetosfera, muitos sistemas vivos utilizam as oscilações de campo magnético para sensoriamento ambiental e para orientação. Semelhantemente, como os seres vivos possuem campo elétrico (veremos isso em bastante detalhe mais ao fim da disciplina), variações de campo elétrico geram ondas magnéticas, que podem ser utilizadas como forma de comunicação entre seres vivos. Nota 2: O que chamamos de som nada mais é do que a variação de pressão causada por uma fonte de energia em relação à pressão ambiente, detectável pelo sistema auditivo como ilustrado no gráfico abaixo. Para os seres humanos, a menor variação de pressão do meio, detectável pelo sistema auditivo, é de 0,00002Pa. Nessas condições, o som de uma explosão espacial seria percebida pelo ser humano? Bastante improvável! Aves, peixes e insetos possuem órgãos especializados em capitar as oscilações elétricas e magnéticas do ambiente. A maioria das espécies utiliza esse sensoriamento para processos migratórios. Alguns para orientação espacial, quando há ausência de luz solar no ambiente e, por fim, alguns utilizam para predação. Esse último caso ocorre porque todos os seres vivos possuem um campo elétrico que, ao ocilar, causa ruídos de natureza magnética no espaço e que pode ser detectado por órgãos sensoriais especializados. Observe o gráfico da nota 2 e substitua no eixo y, por variações de campo elétrico e magnético para entender a natureza dessas perturbações energéticas no meio. Mais sobre esse assunto deverá ser obtido no capítulo 11 do livro texto da disciplina (Biofísica – JHR Duran). Ondas eletromagnéticas e sistemas vivos: Já lemos que as ondas eletromagnéticas são oscilações formadas por campos elétricos e magnéticos variáveis, respectivamente, que se propagam tanto no vácuo quanto em meios materiais. São, portanto, oriundas da oscilação espacial em fase dos campos elétricos e magnéticos, que se encontram desacoplados das cargas elétricas que lhes deram origem. As ondas eletromagnéticas transportam energia discreta (eV) e momento angular (N) os quais são transferidos para a matéria quando essas ondas interagem com ela. Como as demais ondas, as ondas eletromagnéticas podem ser caracterizadas pela frequência ou, equivalentemente, pelo seu comprimento de onda. O conjunto de frequências define o espectro da radiação. Denominamos de luz a uma parte do espectro eletromagnético. São as ondas eletromagnéticas cujos comprimentos de onda estão compreendidos no intervalo entre 400 e 700 nm (nanômetros). A luz visível é, assim, apenas uma onda eletromagnética. Outros tipos, são igualmente importantes, como: Ondas de Rádio - São as de menor frequência dentro do espectro eletromagnético. Parte desse espectro é utilizado para comunicações em geral (via rádio e celulares). Microondas - É um subconjunto das ondas de rádio. As microondas tem três características importantes que definem a sua utilidade na fabricação de fornos de microondas: elas são absorvidas pelos alimentos em geral, elas são refletidas por metais e conseguem atravessar uma gama bem grande de materiais que usamos como embalagens de alimentos (vidro, papel, plástico, etc). As microondas têm utilizações industriais. São utilizadas também em radares da polícia rodoviária e em comunicações, como por exemplo, internet. Radiação infravermelha - Possui frequências abaixo da luz visível de tom avermelhado. O comprimento de onda estaria no domínio entre 700 nm e 1mm. Existem muitas aplicações para a radiação infravermelha. Mais recentemente ela tem sido utilizada em equipamentos para visão noturna, quando não há luz suficiente. É a faixa do espectro da radiação eletromagnética que é mais abundante no planeta Terra. Em termos tecnológicos, a radiação infravermelha é utilizada em controles remotos e aquecimento de objetos (como retirar gelo das asas de um avião antes da decolagem). Radiação ultravioleta - Também são ondas com frequências próximas do espectro visível, mas na outra extremidade do espectro em relação ao vermelho. A frequência dessa radiação está acima daquela associada à luz visível de tom violeta. A presença das radiações da faixa dos ultravioletas se faz sentir quando vamos à praia. O corpo fica bronzeado como uma reação natural, fisiológica, a exposição da pele à radiação ultravioleta proveniente do Sol. Desnecessário relatar que exposição excessiva a radiação UV podem acarretar conseqüências desastrosas do ponto de vista da saúde humana. A pele, os olhos e o sistema imune podem ter problemas agudos e às vezes crônicos. Lâmpadas ultravioletas podem ser utilizadas para esterilizar ferramentas em hospitais e laboratórios. Radiação UV pode ser útil no processo de pasteurização de sucos de fruta e para conservação de alimentos processados. Raios-x - É a radiação cujos fótons que a compõem têm a energia das mais altas. O comprimento de onda dessa radiação está entre 10 e 0,01 nm. Os raios-x são parte do conjunto de radiações ditas ionizantes. Representam, portanto, risco à saúde. Radiação ionizante é todo tipo ondas eletromagnética capaz de ionizar átomos e moléculas. Radiação alfa, beta ou gama são exemplos de radiação ionizante. Como já comentamos, os Raios-x são empregados na área médica (diagnósticos), na área cientifica (cristalografia), e na construção civil. Raios- - São as ondas de maior frequência do espectro eletromagnético. Elas são compostas por fótons de maior energia. Assim, ela é capaz de ionizar quase todos os átomo e moléculas. Representam altíssimo risco para a vida. Dessamaneira, as ondas eletromagnéticas interagem com os sistemas vivos em diversas formas dependendo a sua energia. Ondas com mais energia podem causar dados aos sistemas vivos, como ionização de moléculas ou até mesmo a desestruturação atômica. Já as ondas de maior energia não causam efeito biológico algum. As ondas da faixa do visível são muito abundantes na Terra e possuem papel fisiológico importante para todos os seres vivos. É nessa faixa que ocorre a percepção de radiação por todos os seres vivos e é nessa faixa que se ter energia para o processo fotossintético. Por fim, processos fotogenéticos e cronobiológicos são muito dependentes da periodicidade e do fluxo de ondas eletromagnéticas. A expressão de muitos genes, a ativação de muitas enzimas, a síntese de carotenóides, a síntese de muitos hormônios e de vitaminas, como a vitamina D, são dependentes da presença ou ausência de comprimentos específicos de ondas eletromagnéticas por um determinado período. Da mesma forma, o relógio biológico contador de luz-escuro e de verão-inverno são dependentes da periodicidade das ondas eletromagnéticas solares. Nós iremos focar, a partir daqui, nos aspectos energéticos das ondas eletromagnéticas. Dentro todos os aspectos de interação com a vida, esse é certamente o mais relevante em termos das bases biofísicas que estamos usando para abordar vida.
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