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Socio e sociedade

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Legislação empresarial 51
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Sócios e sociedade: 
previsões legais
Introdução 
Neste capítulo, o objetivo é proporcionar a compreensão de como ocorrem as rela-
ções das sociedades empresárias com terceiros, bem como quais são as normativas na 
legislação que regem o relacionamento dos sócios entre si. Por fim, objetiva-se com-
preender como deve ser a relação entre sócios e sociedade.
Esses conhecimentos são importantes para o entendimento prático da legislação 
empresarial, observando como a legislação prevê as relações oriundas da empresa, seja 
entre os sócios, seja entre sócios com terceiros ou, ainda, com a sociedade.
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4.1 Disciplina das relações da sociedade 
empresária para com terceiros
A sociedade é um conjunto de pessoas que se unem visando a um objetivo em comum. 
Nesse intuito, constituem uma pessoa jurídica, que tem personalidade e, por consequência, 
possui direitos e deveres, no que se refere aos bens sociais.
A legislação prevê, no artigo 1.024 do Código Civil (BRASIL, 2002), que: “os bens par-
ticulares dos sócios não podem ser executados por dívidas da sociedade, senão depois de 
executados os bens sociais”. Logo, pode-se entender que o ordenamento jurídico traz o prin-
cípio da autonomia patrimonial da sociedade. Ou seja, quando o patrimônio da empresa 
é insuficiente, diante do passivo, não poderá o credor executar as dívidas para saldar os 
débitos. Porém esse princípio está presente somente nas sociedades cuja responsabilidade 
é limitada.
Em contrapartida, nas sociedades contratuais, como é o caso da sociedade simples pura, 
a responsabilidade dos sócios é ilimitada. Por consequência, nos casos de o ativo da em-
presa ser menor que o passivo, isto é, se a situação empresarial for negativa, os credores da 
sociedade poderão solicitar em juízo que o patrimônio seja utilizado para saldar os devidos 
débitos. Em conformidade com o artigo 1.023 do Código Civil (BRASIL, 2002): “se os bens 
da sociedade não lhe cobrirem as dívidas, respondem os sócios pelo saldo, na proporção em 
que participem das perdas sociais, salvo cláusula de responsabilidade solidária”.
A responsabilidade solidária, trazida pelo artigo 1.023 (BRASIL, 2002), está elencada no 
art. 997, inciso VIII, dispondo que no Contrato Social pode estar estabelecido expressamente 
que “os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais”. Entretanto, 
caso o ato constitutivo não antever a responsabilidade dos sócios perante terceiros, no que 
se refere aos débitos da empresa, valerá a regra estabelecida nos artigos 1.023 e 1.024 do 
Código Civil, isto é, a responsabilidade dos sócios será subsidiária e ilimitada.
Corrobora nesse sentido o Enunciado 479 da Jornada de Direito Civil do CJF, que pre-
nuncia que “na sociedade simples pura (art. 983, parte final, do CC/2002), a responsabilida-
de dos sócios depende de previsão contratual. Em caso de omissão, será ilimitada e subsi-
diária, conforme o disposto nos arts. 1.023 e 1.024 do CC/2002”.
Outro dispositivo que também converge para esse entendimento é o Enunciado 10 da 
Jornada de Direito Comercial do CJF, o qual traz: “Nas sociedades simples, os sócios podem 
limitar suas responsabilidades entre si, à proporção da participação no capital social, ressal-
vadas as disposições específicas”. 
Outro ponto relevante é trazido pelo artigo 1.025 do Código Civil (BRASIL, 2002), que 
dispõe que “o sócio, admitido em sociedade já constituída, não se exime das dívidas sociais 
anteriores à admissão”. Logo, pode-se entender que, quando um sócio entra numa socieda-
de já estabelecida, assume a responsabilidade dos ônus que a sociedade pode ter contraído 
antes de sua entrada.
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Caso um sócio, por algum motivo, retire-se voluntariamente, por exclusão ou por fale-
cimento da sociedade, os antigos sócios ou seus sucessores deverão responder por dívidas 
existentes, no prazo de dois anos após o arquivamento da alteração da sociedade que retira o 
sócio. Em conformidade com o artigo 1.032 do mesmo Código (BRASIL, 2002), que prevê: “A 
retirada, exclusão ou morte do sócio, não o exime, ou a seus herdeiros, da responsabilidade 
pelas obrigações sociais anteriores, até dois anos após averbada a resolução da sociedade; 
nem nos dois primeiros casos, pelas posteriores e em igual prazo, enquanto não se requerer 
a averbação.”
Quando se tratar de dívidas contraídas após a retirada do sócio, por motivo de faleci-
mento, as dívidas posteriores a esse fato não serão de responsabilidade dos sucessores desse 
sócio, somente as anteriores a esse acontecimento, pelo prazo de dois anos. Entretanto, se 
a alteração no Contrato Social for proveniente da retirada ou exclusão de um sócio, a res-
ponsabilidade desse sócio afastado da empresa será de todos os atos que decorrerem até o 
Contrato Social ser levado à Junta Comercial.
Lembre-se de que quando a empresa for de responsabilidade ilimitada, se o ativo desta 
não for suficiente para sanar as dívidas perante os seus credores, os sócios responderão com 
o seu patrimônio pessoal, isto é, os sócios deverão utilizar de seus bens pessoais para quitar 
dívidas que a empresa não consiga satisfazer. Nos casos de substituição de sócios, isso ocor-
re no período de dois anos.
Em suma, podem ocorrer as seguintes situações, no que se refere às obrigações dos só-
cios, conforme Negrão (2016, p. 40):
• Os sócios remanescentes deverão responder solidariamente pelas dívidas que 
permanecerem.
• O sócio que entrar no lugar de outro sócio deverá ter as mesmas responsabilida-
des no mesmo aspecto que os sócios retirantes, de acordo com o artigo 1.025 do 
Código Civil.
• Os sócios que se afastarem da sociedade responderão solidariamente pelos ônus 
que existirem até a data do arquivamento da alteração contratual, em conformida-
de com o dispositivo 1.032 do Código Civil.
Quando a sociedade for limitada, a responsabilização do sócio que ingressa na sociedade 
será diferente do sócio que se retira desta, visto que o acionista, o sócio cotista de sociedade 
limitada e o sócio comanditário são classes diferentes de sócios dentro da mesma sociedade.
Se o cotista e o sócio comanditário se retiram da sociedade, recebem os fundos sociais 
que lhes pertencem e respondem apenas pelas obrigações já existentes, até o prazo de dois 
anos após sua retirada, em conformidade com a regra do artigo 1.032 do Código Civil.
Contudo, se o cotista e o sócio comanditário se retirarem da sociedade motivados por 
cessão das cotas em nome de terceiro, ambos responderão solidariamente, conforme o artigo 
1.003 da mesma lei. Nesse caso, verifica-se que a responsabilização será idêntica tanto para 
o sócio transmissório quanto para o sócio cedente, pelo prazo de dois anos a partir do arqui-
vamento da alteração contratual na Junta Comercial.
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No que se refere ao acionista, existem duas hipóteses. São elas:
• Acionista dissidente reembolsado: quando o sócio se retira de uma sociedade de 
ações por motivo de uma deliberação em que se foi derrotado, sua responsabili-
dade será apenas no caso de falência, aos credores mais antigos, conforme o artigo 
45, § 4°, da Lei das Sociedades por Ações.
• Nos casos em que o acionista entrega suas ações, antes de integralizá-las, deverá 
responder solidariamente com o cessionário, pelo período de dois anos a partir da 
data da transferência de titulação das ações, em cumprimento ao artigo 108.
Quando ocorrer aumento do capital, de modo geral, o sócio cotista, da sociedade limi-
tada, responderá solidariamente com os demais sócios, no que se refere à integralização do 
capital social. Porém, o sócio comanditário responderá pela integralização da sua cota e o 
acionista pelo valor das ações subscritas. 
No caso de falência da empresa, cuja responsabilidade é ilimitada, os sócios serão con-
siderados também falidos. Nesse sentido,seus bens particulares serão usados para saldar 
os credores, primeiramente particulares e depois os sociais remanescentes. Quando o sócio 
se retira da sociedade, a sua responsabilidade se limita às dívidas existentes até a data do 
arquivamento da alteração do contrato, de acordo com o artigo 81, § 1°, da LRF. Na hipótese 
da falência, na sociedade limitada e anônima, não há de se falar em responsabilidade, será 
apenas vinculada ao patrimônio social.
Existe ainda a possibilidade de os sócios serem responsabilizados por atos praticados 
por eles de forma abusiva, no que se refere à administração da empresa, gerando o supera-
mento da personalidade jurídica.
O Código Civil (BRASIL, 2002), no artigo 50, dispõe que,
em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finali-
dade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, 
ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos 
de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens par-
ticulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.
Nesse contexto, verificam-se duas possibilidades: desvio de finalidade e confusão patri-
monial. O desvio de finalidade ocorre quando a empresa exerce diversas atividades, menos 
a prevista no seu objeto social. No entanto, a confusão patrimonial será quando o patrimônio 
particular se confunde com o patrimônio da empresa. Nesses dois casos, quando o credor 
comprovar que está sendo prejudicado, poderá ocorrer a desconsideração da personalidade 
jurídica e os sócios responderão ilimitadamente.
4.2 Previsão legal da relação dos sócios entre si
A sociedade empresária é uma pessoa jurídica que nasce da vontade dos sócios e se 
constitui por meio de Contrato Social. Por conseguinte, o Contrato Social estabelece as obri-
gações que o sócio assumirá perante os demais sócios e a própria sociedade.
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Essas obrigações começarão a ter validade no momento da assinatura do Contrato Social 
ou na data que esse documento estabelecer e só terminará com a dissolução da sociedade, 
em conformidade com o artigo 1.001 do Código Civil (BRASIL, 2002), que estabelece: “as 
obrigações dos sócios começam imediatamente com o contrato, se este não fixar outra data, 
e terminam quando, liquidada a sociedade, se extinguirem as responsabilidades sociais”.
Entre as principais obrigações dos sócios, destaca-se o artigo 1.007 do Código Civil 
(BRASIL, 2002), que prevê: “Salvo estipulação em contrário, o sócio participa dos lucros e 
das perdas, na proporção das respectivas quotas, mas aquele, cuja contribuição consiste em 
serviços, somente participa dos lucros na proporção da média do valor das quotas”.
Nesse cenário, as principais obrigações dos sócios são, conforme Fazzio Junior (2016, 
p. 174), “contribuir para a formação do capital social, subscrevendo e integralizando suas 
respectivas quotas, e a de participar dos resultados sociais, nos termos estabelecidos no con-
trato social ou, na omissão deste”.
A sociedade simples pura, ou seja, aquela constituída por pessoas físicas, possui como 
característica o affectio societatis entre os sócios, ou seja, um elo de motivação que impulsiona 
a empresa para frente. Entretanto, a sociedade possui outro vínculo, que é o contratual. O 
conjunto desses vínculos formam o intuitu personae entre os sócios, razão essa pela qual uma 
pessoa estranha não poderá entrar no quadro de sócios sem a anuência dos demais.
Esse pensamento está respaldado no artigo 1.002 do Código Civil (BRASIL, 2002), que 
prevê que “o sócio não pode ser substituído no exercício das suas funções, sem o consenti-
mento dos demais sócios, expresso em modificação do contrato social”. Corrobora essa ideia 
o artigo 1.003 da mesma lei (BRASIL, 2002), que traz: “a cessão total ou parcial de quota, sem 
a correspondente modificação do contrato social com o consentimento dos demais sócios, 
não terá eficácia quanto a estes e à sociedade”.
É importante destacar ainda que, nos casos em que o sócio se retira da sociedade pois 
cedeu a sua quota para terceiro, mesmo com a anuência dos demais sócios, não está abdica-
do de possíveis obrigações com terceiros ou com a própria sociedade, tendo previsão legal 
no artigo 1.003, parágrafo único, e no artigo 1.032 do Código Civil.
Existem alguns direitos e deveres destinados aos sócios que são comuns a todas as mo-
dalidades societárias. Entre elas, pode-se destacar:
• O dever de contribuir, que se refere ao valor com que o sócio se obriga a colaborar 
para formar o capital inicial, conforme a configuração e o prazo estabelecido no 
Contrato Social ou no estatuto social, sob pena de ser considerado remisso, bem 
como aos efeitos:
 ◦ cobrança de indenização por dano causado ao patrimônio social, bem como a 
integralização subscrita;
 ◦ redução do capital inicial pela exclusão do sócio remisso da sociedade;
 ◦ redução do capital inicial pela diminuição da participação do sócio remisso.
• Dever de probidade nas deliberações e na gestão social. Esse dever está estabeleci-
do no artigo 1.011 do Código Civil (BRASIL, 2002), que prevê que “O administrador 
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da sociedade deverá ter, no exercício de suas funções, o cuidado e a diligência que 
todo homem ativo e probo costuma empregar na administração de seus próprios 
negócios”. Logo, o gestor deve conduzir seu empreendimento com cuidado e zelo. 
Exemplos dessa conduta estão no Código Civil:
 ◦ Artigo 1.009: “A distribuição de lucros ilícitos ou fictícios acarreta responsa-
bilidade solidária dos administradores que a realizarem e dos sócios que os 
receberem, conhecendo ou devendo conhecer-lhes a ilegitimidade”. Nesse 
sentido, o gestor não deve distribuir ou receber lucros fictícios.
 ◦ Art. 1.010, § 3°: “Responde por perdas e danos o sócio que, tendo em alguma 
operação interesse contrário ao da sociedade, participar da deliberação que a 
aprove graças a seu voto”. Logo, o gestor deve realizar sua administração em 
consenso com a maioria dos sócios.
• Direito-dever de coparticipação nos lucros e perdas, ou seja, o sócio pode parti-
cipar pos lucros e nas perdas, na proporcionalidade de sua cota ou na previsão 
do Contrato Social. No caso de omissão do Contrato Social, os lucros percebidos 
serão proporcionais à média do valor das cotas. Porém, conforme o artigo 1.008 
do Código Civil (BRASIL, 2002), o sócio não pode ser eximido de participar das 
perdas ou atribuir com exclusividade os lucros. 
• Direito de participar das deliberações. Em regra, os sócios podem decidir sobre a 
sociedade, por meio de deliberações, prevalecendo a vontade da maioria dos só-
cios. Quando o administrador da sociedade realizar um ato sem o consentimento 
dos sócios, ele poderá responder por perdas e danos, em conformidade com o 
artigo 1.013, § 2°, do Código Civil.
• Direito de fiscalização. Todo sócio tem o direito de verificar o andamento de sua 
empresa. Nesse sentido, é facultado a todos os sócios examinar os livros e docu-
mentos sociais, bem como os créditos e os débitos da empresa. Na hipótese de que 
o sócio não sinta segurança com os documentos examinados, ele pode solicitar 
ainda uma prestação de contas, pelas vias judiciais ou extrajudiciais.
• Direito de participar do acervo, em caso de liquidação. Logo quando ocorrer a 
dissolução da sociedade, após a realização do ativo e o pagamento dos credores, 
o sócio poderá receber a partilha do ativo, conforme sua cota na empresa, em con-
formidade com os artigos 1.107 e 1.108 do Código Civil e o artigo 215 da LSA.
• Direito de preferência. Nas sociedades simples, em nome coletivo e comandita sim-
ples, o capital só poderá ser aumentado com a concordância dos sócios, que delibe-
rarão, conforme os artigos 997, IV, 999, 1.040 e 1.046 do Código Civil. Nesse enten-
dimento não há o direito de preferência, pois se submetem ao consenso da maioria.
Entretanto,nas sociedades limitadas, os sócios podem exercer o direito de preferência, 
conforme o artigo 1.081 do Código Civil (BRASIL, 2002):
Ressalvado o disposto em lei especial, integralizadas as quotas, pode ser o capi-
tal aumentado, com a correspondente modificação do contrato. Até trinta dias 
após a deliberação, terão os sócios preferência para participar do aumento, na 
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proporção das quotas de que sejam titulares. À cessão do direito de preferência, 
aplica-se o disposto no caput do art. 1.057. Decorrido o prazo da preferência, e 
assumida pelos sócios, ou por terceiros, a totalidade do aumento, haverá reunião 
ou assembleia dos sócios, para que seja aprovada a modificação do contrato.
• Direito de retirada. Refere-se à possibilidade de o sócio se retirar da sociedade que 
está constituída por tempo indeterminado, a qualquer tempo. Quando a sociedade 
está sendo regida pelo Código Civil, o sócio que tem a pretensão de se retirar deverá 
notificar os demais sócios, com uma antecedência mínima de trinta dias. Contudo, 
nas sociedades com prazo determinado, a saída do sócio só poderá ocorrer com a 
aceitação unânime dos demais sócios ou ser analisada pelo Poder Judiciário.
4.3 Relação entre sócios e sociedade
A sociedade empresária é um conjunto de pessoas que se reuniram com a finalidade de 
exercer uma atividade empresarial. Nesse contexto, quando os sócios constituem o Contrato 
Social, nasce a sociedade como pessoa jurídica. Com o intuito de direcionar a vida dessa 
empresa, os sócios fixam no Contrato Social, ou no estatuto da empresa, algumas cláusulas 
que servirão para regulamentar também a relação deles com a sociedade empresária.
Nesse sentido, cabe ao sócio contratante estabelecer cláusulas que determinem as re-
lações entre a sociedade e os sócios, até mesmo a distribuição de funções que devem ser 
exercidas pelos sócios nessa sociedade. É importante destacar que, nas sociedades funda-
mentalmente personalistas, as funções estabelecidas em contrato não podem ser exercidas 
por outros sócios nem por terceiros – salvo em caso de modificação do Contrato Social, por 
unanimidade, em consonância com o artigo 1.002 do Código Civil (BRASIL, 2002), que pre-
vê: “O sócio não pode ser substituído no exercício das suas funções, sem o consentimento 
dos demais sócios, expresso em modificação do contrato social”.
Existem algumas tarefas dentro da sociedade empresária que são de natureza operacional 
e administrativa. Encontra-se também nesse contexto o referente à administração da socieda-
de propriamente dita. Para exercer essa função de administrador, a nomeação deste deve ser 
indicada no Contrato Social. Caso esse documento de constituição seja omisso, a administra-
ção da empresa deverá ser feita por todos os sócios, de forma separada.
A sociedade simples prevê que o administrado seja sempre uma pessoa física, con-
forme o artigo 997, VI, do Código Civil (BRASIL, 2002), que diz: “A sociedade constitui-se 
mediante contrato escrito, particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas 
partes, mencionará: as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus 
poderes e atribuições”. Logo, verifica-se que é proibido às pessoas jurídicas exercerem a 
função de administrador. 
Outra vedação expressa da lei diz que, nas sociedades simples, o administrador não 
pode ser pessoa que não faça parte do quadro social, como pode ocorrer em outras modali-
dades de sociedade.
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Conforme o artigo 1.019 do Código Civil (BRASIL, 2002): “São irrevogáveis os poderes 
do sócio investido na administração por cláusula expressa do Contrato Social, salvo justa 
causa, reconhecida judicialmente, a pedido de qualquer dos sócios”. É admissível separar os 
poderes dos sócios administradores dos demais sócios. Entretanto, no parágrafo único do 
mesmo dispositivo, o legislador previu que: “são revogáveis, a qualquer tempo, os poderes 
conferidos a sócio por ato separado, ou a quem não seja sócio”. Em conformidade com o 
artigo 1.013 do Código Civil (BRASIL, 2002), que prevê que “a administração da socieda-
de, nada dispondo o contrato social, compete separadamente a cada um dos sócios”. Logo, 
quando estiver por escrito, no Contrato Social, a administração da sociedade poderá ser feita 
por meio dos sócios de forma conjunta ou separada, bem como por pessoas que não façam 
parte do quadro social, independentemente da presença de um sócio. Nesse contexto, veri-
fica-se que a legislação faculta a possibilidade de atribuir a pessoas fora do quadro social o 
poder de gerenciar a sociedade.
Em relação à sociedade em nome coletivo, de acordo com o artigo 1.042 do Código Civil 
(BRASIL, 2002): “A administração da sociedade compete exclusivamente a sócios, sendo o 
uso da firma, nos limites do contrato, privativo dos que tenham os necessários poderes”. 
Verifica-se que somente os sócios podem fazer uso da firma. Esse é o mesmo entendimento 
para as sociedades em comandita simples e em conta de participação, de acordo com os 
dispositivos dos artigos 1.045, 1.046 e 991 do Código Civil.
Nas sociedades limitadas, o artigo 1.061 do Código Civil (BRASIL, 2002) prevê: “A de-
signação de administradores não sócios dependerá de aprovação da unanimidade dos só-
cios, enquanto o capital não estiver integralizado, e de 2/3 (dois terços), no mínimo, após a 
integralização”. Nesse sentido, a legislação estabelece que o Contrato Social traga a possibi-
lidade da nomeação de administradores estranhos à sociedade.
Existe, ainda, a possibilidade de alguns sócios serem impedidos de ser administradores 
da sociedade, conforme o artigo 1.011, § 1°, do Código Civil (BRASIL, 2002), que traz: 
Não podem ser administradores, além das pessoas impedidas por lei especial, 
os condenados a pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos 
públicos; ou por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, 
peculato; ou contra a economia popular, contra o sistema financeiro nacional, 
contra as normas de defesa da concorrência, contra as relações de consumo, a fé 
pública ou a propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da condenação.
Nesse contexto, existem dois tipos de impedimentos para o exercício da administração 
da sociedade por parte dos sócios: 1) a incompatibilidade profissional e 2) a de ordem geral.
Os impedimentos profissionais são aqueles casos em que a lei proíbe o sujeito de exer-
cer a administração de uma sociedade ou manter a atividade empresarial, por exercer uma 
função em outro lugar, como é o caso dos membros do Ministério Público e os magistrados 
ou, ainda, os deputados e senadores em empresa que goze de favor decorrente de contra-
to com pessoa jurídica de direito público, entre outros. Em contrapartida, os impedimen-
tos gerais são aqueles em que, por motivo diverso, a pessoa não pode exercer a função de 
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administrador de uma sociedade, como os estrangeiros que estão no país com visto tempo-
rário, de turista ou de trânsito.
Os artigos 1.013 e 1.014 do Código Civil (BRASIL, 2002) trazem as modalidades de exer-
cício da administração, que são:
• Disjuntiva: os sócios exercem atos da administração da sociedade, de forma sepa-
rada, e possuem o direito de refutar o ato exercido por outro sócio.
• Conjunta: os atos são realizados mediante o consenso dos sócios, salvo nos casos 
urgentes, em que a decisão pode ser apenas de um ou de alguns sócios.
• Conjunta com limitação: os atos advêm de deliberação dos sócios, que decidem 
por maioria.
Conforme Negrão (2016), existem deveres atribuídos ao administrador, que são:
• diligência;
• lealdade;
• informação e prestação de contas.
Em suma, o administrador deverá ter cuidado quando exercer a função de adminis-
trador da sociedade, trabalhando com lealdade aos interesses da empresa. E, por fim, 
deverá prestar informaçãoe contas a todos os sócios, visto que esses têm o direito de fis-
calizar seu empreendimento.
Quando o administrador estiver exercendo suas funções, não pode ser substituído, po-
rém a lei permite que sejam constituídos, mediante procuração, mandatários para executar 
atos específicos.
Nos casos das sociedades simples, em nome coletivo e em comandita simples, o poder 
do administrador é irrevogável quando estiver expressamente escrito no Contrato Social, 
só podendo ser revogado por justa causa, por morte do administrador, sua interdição ou 
inabilidade por decisão judicial. Conforme o artigo 1.019, caput, do Código Civil (BRASIL, 
2002): “são irrevogáveis os poderes do sócio investido na administração por cláusula expres-
sa do contrato social, salvo justa causa, reconhecida judicialmente, a pedido de qualquer dos 
sócios”. Porém, nos casos em que os poderes do administrador forem conferidos fora do 
Contrato Social, podem ser revogado os poderes deste, a qualquer momento, por delibera-
ção da maioria dos sócios. 
Os poderes dos administradores referem-se aos atos exercidos na gestão da sociedade, 
exceto, conforme Fazzio Júnior (2016), os de alienação, imposição de ônus sobre os bens 
imóveis, operação a título gratuito, com ônus ao patrimônio social ou aplicação de créditos 
ou bens sociais em proveito próprio ou de terceiros.
Nesse contexto, pode-se entender que os poderes do administrador, em regra geral, são:
• a prática dos atos estabelecidos no Contrato Social;
• emissão, endosso e circulação dos títulos de crédito, oriundos da atividade 
empresarial;
• conservação e manutenção dos bens sociais;
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• representação da sociedade, nas vias judiciais ou extrajudiciais.
 Ampliando seus conhecimentos
(PEREIRA, 2017)
A responsabilidade civil do administrador ou gerente por atos contrários 
ao estatuto ou contrato social é mais regulada no Direito Societário bra-
sileiro do que propriamente a responsabilidade civil da sociedade e do 
empresário pelos atos por eles praticados perante terceiros.
O presente estudo pretendeu analisar a responsabilidade civil contra-
tual da sociedade empresária e do empresário perante terceiro diante de 
ato ultra vires, seara em que se situa a teoria ultra vires societatis e a teo-
ria da aparência. Entretanto, antes se fez necessário analisar as pessoas 
que representam a sociedade e o empresário no mundo dos negócios, os 
administradores e prepostos, os limites de atuação de acordo com o objeto 
social e os poderes conferidos a esses representantes.
Os gestores da sociedade empresária e os prepostos do empresário são 
essenciais para o desenvolvimento da empresa, tanto internamente como 
externamente e podem praticar, com cuidado e diligência, todos os atos 
relacionados com o objeto social, observando eventuais especificações, 
restrições ou requisitos previstos e definidos no contrato ou estatuto 
social ou na lei para a prática de determinados atos. Isto porque, além dos 
atos normais e usuais de administração, há operações que envolvem atos 
específicos e até extraordinários para cuja competência a lei ou estatuto e 
contrato social determinam certas condições ou restrições.
A sociedade empresária e o empresário, em princípio, não respondem 
pelos atos praticados pelos administradores e prepostos que agem em 
desacordo com o objeto social ou com excesso de poderes, pois são atos 
ultra vires, consoante art. 47 e 1.015, ambos do Código Civil. Todavia, por 
uma questão de necessidade de ordem social, de conferir segurança às 
operações jurídicas, a complexidade das relações jurídicas, a celeridade 
das contrações assim como os interesses legítimos dos que agem correta-
mente, aplica-se a teoria da aparência através da qual se permite respon-
sabilizar a sociedade pelos negócios jurídicos celebrados com terceiros de 
boa-fé, resguardando à sociedade e ao empresário, o direito de regresso.
Mas quando aplicar a teoria ultra vires e a teoria da aparência?
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Somente no caso concreto é possível verificar se a sociedade ou empresá-
rio se vincularão aos atos praticados por administradores e prepostos que 
descumprem seus poderes ou, até mesmo, atuam fora do objeto social. E 
para isso, alguns fatores devem ser observados: i) se o ato é ou não contrá-
rio ao objeto social, tendo em vista a atividade econômica desenvolvida, 
ou se houve excesso por parte do administrador, analisando se trata de 
ato de administração ordinário ou extraordinário; ii) se o terceiro contra-
tante é pessoa do ramo empresarial configurando relação paritária ou se é 
parte vulnerável, caso típico de relação de consumo e, por isso, não estaria 
obrigado a conhecer o ato constitutivo; iii) se o terceiro agiu de boa-fé, se 
houve confiança; e iv) o vulto do negócio envolvido.
Observados esses fatores e com o auxílio das técnicas ponderação e da 
argumentação poderá o aplicador do direito estabelecer o equilíbrio 
entre a aplicação da teoria ultra vires e da aparência, de forma a evitar 
a sua banalização.
 Atividades
1. A sociedade empresária pode ser desconstituída por:
a. desvio de finalidade e confusão patrimonial. 
b. desvio de finalidade e objeto ilícito.
c. agente capaz e confusão patrimonial.
d. agente capaz e objeto ilícito. 
2. Sobre os direitos dos sócios, analise as afirmações e assinale a alternativa correta:
I. Direito-dever de coparticipação nos lucros e perdas, ou seja, o sócio pode parti-
cipar dos lucros e das perdas, na proporcionalidade de sua cota, ou na previsão 
do Contrato Social. No caso de omissão do Contrato Social, os lucros percebidos 
serão proporcionais à média do valor das cotas. 
II. Direito de participar das deliberações. Em regra, os sócios podem decidir sobre a 
sociedade, por meio de deliberações, prevalecendo a vontade da maioria dos sócios. 
III. Direito de fiscalização. Todo sócio tem o direito de verificar o andamento de sua 
empresa. Nesse sentido é facultado a todos os sócios examinar os livros e docu-
mentos sociais, bem como os créditos e os débitos da empresa. 
a. Todas as alternativas estão corretas.
b. Todas as alternativas estão incorretas.

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