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94 - APOSTILA - MOVIMENTOS SOCIAIS E SERVIÇO SOCIAL

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Prévia do material em texto

Movimentos Sociais 
e Serviço Social
Professora Luciana da Silva Santos
APRESENTAÇÃO
Olá, estudante!
Sou a Professora Luciana Santos, formada em Serviço Social, com especialização 
em Gestão da Política de Assistência Social com ênfase no Sistema Único de Assistência 
Social (SUAS) e com MBA em Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável. Atual-
mente, sou assistente social no serviço público e docente no ensino superior.
Satisfatoriamente, tive a oportunidade de atuar em diversos espaços sócio-ocupa-
cionais, os quais destaco as políticas públicas de assistência social, da saúde e da mulher; 
em conselhos gestores; bem como na política interdisciplinar para atendimento à população 
indígena, em instituição de assessoramento, defesa e garantia de direitos, do terceiro setor.
O objetivo desta disciplina de Movimentos Sociais, é contribuir com sua formação 
acadêmica, profissional e, de forma singela, com seu desenvolvimento pessoal. Para expla-
nar sobre a temática, dividimos o material em quatro unidades.
Na Unidade I, intitulada “Conceitos Fundamentais: Estado e Classes”, vamos 
conceituar o que é Estado e sociedade civil, com base nos clássicos da teoria política. 
Em seguida, apresentaremos os conceitos de classe social, consciência de classe e lutas 
sociais. Faremos uma conexão entre as lutas sociais e a emancipação política e humana, 
que se relacionam, direta e indiretamente, com os tópicos abordados neste ponto.
Já na Unidade II, denominada “O Estado no Capitalismo Monopolista e as Lutas 
de Classes”, vamos buscar entender como funcionou o Estado no capitalismo monopolista, 
como as lutas de classes se relacionam com ele e como ele se relaciona no período pós-
-guerra.
Em seguida, na Unidade III, nomeada “Movimentos de Classes e os ‘Novos’ Movi-
mentos Sociais”, aprofundaremos a discussão na história dos movimentos sociais no Brasil 
e na América Latina. Vamos historicizar os movimentos clássicos e expor o contexto de 
emergência dos novos movimentos sociais.
Por fim, a Unidade IV, que traz como título “Os Desafios Postos aos Movimentos 
Sociais na Atualidade”, fará o fechamento deste material, apresentando quais são os novos 
movimentos sociais e esboçar uma simples análise de conjuntura da atualidade.
Neste sentido, sinta-se convidado(a) a explorar o material apresentado. Leia, es-
tude, reflita, critique! Isso só enriquecerá ainda mais seu aprendizado. Desejo que essa 
leitura te instigue ao ponto de fazer você buscar algo além do que lê e que, assim, navegue, 
cada vez mais, por águas mais profundas, onde poucos têm a ousadia de chegar.
Bons Estudos!
SUMÁRIO
UNIDADE I ...................................................................................................... 5
Conceitos Fundamentais: Estado e Classes
UNIDADE II ................................................................................................... 25
O Estado no Capitalismo Monopolista e as Lutas de Classes
UNIDADE III .................................................................................................. 48
Movimentos de Classe e os “Novos Movimentos Sociais”
UNIDADE IV .................................................................................................. 75
Os Debates Postos aos Movimentos Sociais na Atualidade
5
Plano de Estudo
● O Estado moderno e a sociedade civil nos clássicos da teoria política.
● Classe social, consciência de classe e lutas de classes.
● As lutas sociais e a emancipação política e humana.
Objetivos de Aprendizagem
● Conceituar o Estado moderno e a sociedade civil nos clássicos da teoria política.
● Compreender a concepção de classe social, consciência de classe e lutas de 
classes.
● Concatenar a relação entre as lutas sociais e a emancipação política e humana.
UNIDADE I
Conceitos Fundamentais: 
Estado e Classes
Professora Luciana da Silva Santos
6UNIDADE I Conceitos Fundamentais: Estado e Classes
INTRODUÇÃO
Olá, estudante! Seja bem-vindo(a) à primeira unidade do material da disciplina de 
Movimentos Sociais e Serviço Social.
O objetivo desta unidade é apresentar uma contextualização histórica, iniciando 
pelos clássicos da teoria política, sobre os conceitos de Estado moderno e sociedade civil, 
bem como entender de que maneira se estabelecem as lutas sociais e/ou de classes que 
possam, porventura, nos levar à possível emancipação humana.
Esta unidade foi dividida em três tópicos, com o intuito de organizar as informações 
e contribuir na assimilação do conteúdo apresentado.
No primeiro tópico vamos contextualizar historicamente o conceito sobre Estado 
e sociedade, apontando o entendimento de alguns filósofos e estudiosos sobre o tema, 
desde o período da Idade Antiga, percorrendo a Idade Média e Idade Moderna, chegando 
até os autores da Idade Contemporânea.
Em seguida, buscaremos compreender a concepção de classe social, consciência 
de classe e lutas de classes, com base na teoria marxista, posto que, na análise, considera-
mos a conjuntura em que esses conceitos estão inseridos no Modo de Produção Capitalista 
(MPC).
No terceiro e último tópico desta unidade, estabeleceremos a relação entre as lutas 
sociais e de classe com a emancipação política e humana.
Esperamos que você aprecie esta unidade e que consiga desenvolver seus estudos 
com o melhor aproveitamento possível.
Bons Estudos!
7UNIDADE I Conceitos Fundamentais: Estado e Classes
1 O ESTADO MODERNO E A SOCIEDADE CIVIL NOS CLÁSSICOS DA TEORIA POLÍ-
TICA
Com certeza você já ouviu que a Grécia é o berço da civilização, e não é sem mo-
tivo, visto que ideias e reflexões importantíssimas nasceram e permearam aquele período.
É importante destacar que os filósofos e pensadores buscam entender seu objeto 
de estudo com base em seus conhecimentos e cotidiano da época em que viveram. Essa 
riqueza de estudos permite constatar que não existe uma única verdade, mas sim diferentes 
teorias que podem se completar ou contradizer, podendo daí nascer uma outra teoria ou 
não.
Seguindo nesse raciocínio, vamos estudar o que dizem os clássicos da teoria polí-
tica e nos aproximar dos conceitos de Estado e sociedade.
Vamos começar com o discípulo de Sócrates (Atenas, 469-399 a.C.), o ateniense 
Platão (429-347 a.C.), dado que ele nos apresentou seu mestre por meio de seus escritos, 
da mesma forma que não deixou de expor suas próprias reflexões.
Com base nos estudos da alma, Platão caracteriza os indivíduos em três grupos: os 
filósofos, os guerreiros e os trabalhadores. Ele afirmou que os primeiros eram os mais aptos 
para governar a pólis (cidade), que os guerreiros poderiam auxiliar na garantia da ordem, e 
que os últimos forneciam os alimentos (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010).
Segundo Cremonese (2016, p. 159), 
Platão, no Livro VIII da República, trata sobre as formas de governo e as 
classifica em ideais e corrompidas. As formas ideais de governo são: a 
8UNIDADE I Conceitos Fundamentais: Estado e Classes
monarquia, considerada a melhor de todas (é o governo bom de um só); 
aristocracia (governo bom de um grupo) e a timocracia (desejo de honrarias). 
Já as formas de governo consideradas corrompidas são: a tirania (governo 
mau de um só), a oligarquia (governo mau de um grupo, governo dos ricos) 
e, por fim, a república/democracia (governo das multidões).
Já o discípulo de Platão, Aristóteles, também de Atenas (384-322 a.C.), fez uma 
importante contribuição ao contrapor as ideias de seu mestre. Em seu escrito intitulado 
Política, afirmou que o tipo de governo dependeria da intenção do administrador, e se este 
possuía ou não bens, ou seja, se ele era rico ou pobre. Assim, visualizou duas possibilidades 
de governo: na primeira, caracterizou a tirania, a oligarquia e a democracia como “consti-
tuições desviadas”, pois entendia que esse grupo buscava garantir os próprios interesses. 
E na segunda, caracterizou o reino, a aristocracia e a polítia, como “constituições retas” 
que buscavam o bem comum (MONTAÑO;DURIGUETTO, 2010).
Acquaviva (2010, p. 96) esquematizou as formas de governo segundo Aristóteles:
Figura 1 - As formas de governo para Aristóteles
Fonte: Acquaviva (2010).
9UNIDADE I Conceitos Fundamentais: Estado e Classes
REFLITA
Estudante, o que podemos observar em comum nas reflexões dos filósofos atenienses 
até o momento?
Bom, Platão idealizou um Estado baseado em uma divisão dos indivíduos, nomeando 
os filósofos como os mais competentes para governar. Aristóteles afirmou que as inten-
ções dos indivíduos que governam definem o tipo de Estado. Então, podemos constatar 
que a divisão entre os pare já é antiga, seja ela baseada na espiritualidade ou em poder 
econômico.
Mas será que essa divisão gerou desconforto entre os pares?
Fonte: a autora.
Montaño e Duriguetto (2010) apresentam que segundo Aristóteles, é justamente o 
conflito de interesses que justifica a existência Estado, pois é ele que fará a mediação entre 
os grupos com interesses distintos.
Avançando na linha do tempo, chegamos ao século XIV, na era do Renascimento, 
período de valorização do humanismo e da razão, época de grandes descobertas na ciência 
e de amplo desenvolvimento cultural, econômico e político por toda a Europa. Esse período 
se estendeu até o século XVII.
Vamos até Florença, na Itália, para ver a obra O Príncipe, do pensador Nicolau 
Maquiavel (1469-1527).
Segundo Acquaviva (2010), Maquiavel apresentou um estudo sobre o Estado e 
sobre a dinâmica política de maneira realista e fria. Afirma ainda que o autor vislumbrou, 
na política, uma forma de alcançar o poder e permanecer nele, independente dos meios 
utilizados para tal finalidade. Daí a frase conhecida do autor: “O fim justifica os meios”.
Segue trecho da obra de Maquiavel (2010, p. 76):
Creio que isso decorra do bom ou do mau uso da crueldade. A crueldade 
bem empregada – se é lícito falar bem do mal – é aquela que se faz de 
uma só vez, por necessidade de segurança; depois não se deve perseverar 
nela, mas convertê-la no máximo de benefícios para os súditos. Mal usadas 
são aquelas maldades que, embora a princípio sejam poucas, com o tempo 
aumentam em vez de se extinguirem. Os que seguem o primeiro método 
podem remediar seus governos perante Deus e os homens, como no caso 
de Agátocles; quanto aos outros, é impossível que se mantenham no poder.
10UNIDADE I Conceitos Fundamentais: Estado e Classes
Maquiavel viveu em um período conturbado por muitas lutas e vivenciou apenas 
duas formas de governo, a república e a tirania. Contudo, não as reconhece como tipos 
de gestão e em seus estudos aborda apenas a monarquia e a república como formas 
possíveis de governar (ACQUAVIVA, 2010). Em relação à sociedade, Maquiavel a viu como 
ambiente privado, um espaço em que as cotidianidades aconteciam, com destaque para 
as diversas transações econômicas e para as aquisições de propriedades privadas (MON-
TAÑO; DURIGUETTO, 2010).
O contexto histórico dos próximos três autores que abordaremos se deu na crise 
do sistema feudal e na transição para o capitalismo, com início a partir da baixa Idade 
Média, no século XIV. Nesse período, a conjuntura envolve a ascensão da burguesia devido 
ao desenvolvimento do comércio nas cidades medievais, a crise no campo e as revoltas 
camponesas, a Peste Negra, entre outras.
Nesse contexto, três autores pensaram a relação entre Estado e sociedade civil, 
eles são denominados como contratualistas, aqueles que defendiam a relação de Estado e 
sociedade por meio de contratos entre ambas as partes. São eles: Hobbes, Locke e Rou-
sseau. Esses autores fizeram suas análises considerando que o homem é um ser racional 
e individual, que se comporta movido por emoções. Dividiram o indivíduo em dois estados 
de ser/estar, que podem se confrontar ou se entrecorrer, são eles: estado de natureza, em 
que os indivíduos são iguais e livres; e o estado civil, em que os indivíduos atuam de acordo 
com normas constituídas por meio de um contrato social, legitimado por ambas partes. Aqui 
observamos a transição da vida privada para a vida pública (MONTAÑO; DURIGUETTO, 
2010).
“O homem é um lobo para o homem”. Para o inglês Thomas Hobbes (1588-1679), 
que publicou a obra Leviatã, o estado de natureza é caracterizado pelo desejo do indivíduo 
pelo poder, que é adquirido e mantido mediante a capacidade individual em acumular bens, 
reputação e domínio do outro. O conflito aparece quando não existe quantidade suficiente 
de bens para todos (guerra de todos contra todos), logo, precisa-se de um Estado que seja 
soberano, absoluto e indivisível, para dar fim à guerra e consolidar a paz e harmonia social. 
O modelo eleito pelo autor como a melhor forma de governo é a monarquia, e seu contrato 
funciona como forma de submissão do povo para com o Estado (MONTAÑO; DURIGUET-
TO, 2010).
Já para John Locke, da Inglaterra (1632-1704), em sua obra Segundo tratado sobre 
o governo, o autor concorda com Hobbes na questão de que no estado de natureza o 
indivíduo é livre, contudo, Locke difere dizendo que a propriedade privada não deve ser 
11UNIDADE I Conceitos Fundamentais: Estado e Classes
conquistada pela guerra, mas sim por meio do trabalho individual. O conflito se instala 
quando o proprietário precisa manter sua terra, necessitando nesse momento do Estado 
para garantir e defender a propriedade privada. Locke não acreditava na ideia do Estado 
absoluto, por isso defendeu a divisão de poderes, entre legislativo e executivo, e que o 
primeiro teria mais força porque ditaria as regras de convivência, objetivando um pacto de 
consentimento entre os pares (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010).
Para Jean Jacques Rousseau, da Suíça (1712-1778), a transição da vida privada 
para vida pública é totalmente diferente de seus antecessores. Em sua obra Discurso sobre 
a desigualdade, o autor afirma que o estado de natureza do homem é pacífico e feliz, já que 
estaria satisfeito com o que conseguisse na natureza, e não via a necessidade de combate. 
O conflito se instaura no processo de socialização, quando o egoísmo (motivação da vida 
humana, para o autor) do ser humano deseja a propriedade privada. Em sua obra Do 
contrato social, Rousseau não deseja eliminar a posse de terras, mas sim limitar o excesso 
de uns para garantir o acesso a todos. O autor defende a soberania popular como a melhor 
forma de governo, se essa conseguir representar o interesse comum, que, para ele, é 
considerar a opinião de cada indivíduo da sociedade, não de classes ou grupos específicos. 
A finalidade do contrato social, para Rousseau, é transformar o indivíduo em um ser justo 
(MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010).
O primeiro autor a interpretar que a sociedade civil coexiste com o Estado, foi o 
alemão Georg Wlheim Friedrich Hegel (1770-1831). Ele desconsidera os contratualistas 
e entende que a sociedade civil é o espaço em que ocorrem as “relações econômicas, 
jurídicas e administrativas”; e que o Estado é o espaço apropriado para expressar os inte-
resses públicos e universais, esses interesses formados a partir dos desejos particulares 
existentes na sociedade civil (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010).
Nesse período do capitalismo concorrencial, e com base na interpretação de Hegel, 
é que Karl Heinrich Marx, da Alemanha (1818-1883), desenvolve seus estudos sobre o Es-
tado e sua relação com a sociedade civil. A forma de análise, para Marx, parte da realidade 
que possui significativas “determinações e é dinâmica”, logo, o autor não propôs conceitos, 
mas determinações segundo sua realidade e contexto histórico. Nesse sentido, a teoria de 
Marx sobre o Estado não é fechada, o que possibilita existir diferentes vertentes da tradição 
marxista, tais como estruturalistas, historicista, ontológica, entre outras (MONTAÑO; DURI-
GUETTO, 2010).
Marx se apropria criticamente, no mínimo, de três fundamentos de outros autores. 
Segundo Montaño e Duriguetto (2010, p. 34) são elas:
12UNIDADE I Conceitos Fundamentais: Estadoe Classes
a) o “materialismo histórico-dialético” (da filosofia alemã, especialmente de 
Hegel e Feuerbach); b) as “teorias do valor-trabalho e da mais-valia” (da 
economia política inglesa, particularmente de Smith e Ricardo); c) a “teoria 
das lutas de classes” (dos socialistas utópicos franceses, especialmente 
Proudhon, Saint-Simon, Fourier, Blanc e Owen).
Em suas obras, Marx reflete e apresenta algumas determinações sobre Estado 
e sociedade civil. Em A ideologia alemã, Marx e seu conterrâneo Friedrich Engels (1820-
1895) afirmam que a sociedade civil é o espaço em que o cotidiano se dá, é onde as rela-
ções de produção e reprodução da vida material acontecem, é o lugar em que a estrutura 
econômica nasce e se desenvolve. Já o Estado se origina da sociedade civil e manifesta 
as contradições existentes nas relações entre capital e trabalho, inclusive como objetivo de 
conservá-las (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010).
Na obra A origem da família, da propriedade privada e do Estado (1884), Engels, 
analisou a estrutura social e econômica da sociedade.
A princípio o homem se reúne em grupos que têm uma organização comu-
nitária e familiar, que não conhecem a propriedade e a divisão do trabalho. 
Essa é uma fase “pré-estatal”. Sucede-se a organização social baseada 
na divisão em classes antagônicas, no domínio de uma classe sobre ou-
tra e pela constituição do Estado que representa a classe mais poderosa, 
economicamente dominante. Estado, diz Engels ao tirar conclusões de sua 
análise histórica, não existiu sempre nem está acima e fora da sociedade 
como árbitro imparcial. Nasceu da sociedade e é um produto desta em certa 
fase do seu desenvolvimento econômico, à qual correspondeu a cisão em 
classes distintas. O Estado nasce para conter e conservar os conflitos no 
limite da ordem. Assim o Estado é o produto e manifestação do fato de que as 
contradições de classe são inconciliáveis (ENGELS, 2002 APUD MONTAÑO; 
DURIGUETTO, 2010, p. 41).
SAIBA MAIS
A obra marxiana é ampla e complexa, por isso, segue uma breve lista de algumas pro-
duções do autor. Caso ainda não tenha lido, indico como leitura complementar: A ques-
tão judaica (1843), Contribuição para a crítica da filosofia do Direito em Hegel (1844), 
Manuscritos econômico – filosóficos (1844), Teses sobre Feuerbach (1845), A ideologia 
alemã (1845-1846), Manifesto comunista (1848), Trabalho assalariado e capital (1849), 
O 18 brumário de Luís Bonaparte (1852), Para a crítica da economia política (1859), 
Salário, preço e lucro (1865) e O Capital: crítica da economia política (1867).
Fonte: Internet Archive Marxists (1999).
13UNIDADE I Conceitos Fundamentais: Estado e Classes
O russo Vladimir Ilitch Ulianov Lênin (1870-1924), fundamentando-se na teoria dos 
seus compatriotas, Marx e Engels, apresentou na obra O Estado e a revolução (1917), 
período em que ocorria a Revolução Soviética, que era necessária “a substituição do Es-
tado burguês pelo Estado proletário” e que essa transição, “não é possível sem revolução 
violenta”. Afirma, ainda, que o próximo passo seria “a abolição do Estado proletário, isto é, 
a abolição de todo e qualquer Estado…” (LÊNIN, 1983, p. 13).
Lênin entendia que o proletariado precisava se apossar do Estado, eliminar a bur-
guesia e se tornar a nova classe dominante, com um único objetivo: converter os meios de 
produção, antes privados, para domínio público. Com isso, em tese, não necessitaria mais 
do Estado, já que não existiria mais a divisão de classes, chegando ao final do objetivo da 
revolução, que é a eliminação da máquina do Estado (LÊNIN, 1983).
Outros autores continuaram a estudar o Estado e a sociedade, tanto na perspectiva 
marxista, como na ótica liberal. Contudo, vamos apenas pontuar alguns nomes, no intuito 
de contribuir com o aprimoramento de seus estudos.
● Autores que fundamentaram seus estudos na teoria marxiana: Antônio Gramsci 
(Itália, 1891-1937) - estudou o capitalismo em seu estágio de monopólio, Rosa 
Luxemburgo (Alemanha, 1871-1919), Leão Trotsky (Rússia, 1879-1940), entre 
outros.
● Autores que estudaram o capitalismo pela ótica liberal: Charles Alexis de Toc-
queville (França, 1805-1859), John Maynard Keynes (Inglaterra, 1883-1946), 
Friedrich August Von Hayek (Áustria, 1899-1992) entre outros.
Após entendermos a concepção de Estado e sociedade civil desde os clássicos 
da teoria política, vamos buscar compreender, no próximo tópico, o que é classe social, 
consciência de classe e lutas de classes.
14UNIDADE I Conceitos Fundamentais: Estado e Classes
2 CLASSE SOCIAL, CONSCIÊNCIA DE CLASSE E LUTAS DE CLASSES
Seguindo a base teórica marxiana, vamos compreender o que é classe social, 
consciência de classe e lutas de classes no Modo de Produção Capitalista (MPC).
Para Marx, no MPC a divisão de classes não está fundamentada na quantidade de 
dinheiro que o indivíduo possui, mas sim na função que este ocupa nas relações produtivas. 
Logo, se ele é o que compra ou vende a força de trabalho.
Para Marx, diferentemente de Weber, as classes sociais não correspondem, 
a não ser a primeira vista, ao tipo e volume de suas rendas (idem, ibidem, p. 
1013), mas se determinam inicialmente na esfera produtiva. Assim, estas se 
constituem, no MPC, em função do papel que desempenham e o lugar que 
ocupam os sujeitos no processo produtivo (ver Santos, 1987, p. 41 e ss). 
Ou seja, não é na esfera do mercado, mas no âmbito da produção que se 
determinam originalmente as classes; não é pela capacidade de consumo, 
mas pela função na produção que os indivíduos passam a pertencer a uma 
classe social; não é pelo tipo de renda que recebem mas pelo papel social na 
produção de riqueza. Ou seja, o tipo e o volume da renda, a capacidade de 
consumo, o acesso ao mercado são os elementos determinados das classes, 
o lugar e o papel na esfera produtiva são os aspectos determinantes; sua 
função na produção de riqueza é a causa, sua participação no mercado a 
consequência. (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010, p. 86).
Analisando o tipo de trabalhador disponível nas relações produtivas, observa-se que 
Marx considera a diversidade de classes existentes na sociedade, tais como os operários, 
trabalhadores autônomos, pequeno produtor rural, comércio familiar, entre outras. Contudo, 
o autor entende que essa “multiplicidade e heterogeneidade de classes e subclasses” está 
15UNIDADE I Conceitos Fundamentais: Estado e Classes
contemplada nas duas classes fundamentais no MPC, que são os trabalhadores e capita-
listas (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010, p. 90).
Sobre as classes, esses autores, com base na teoria marxista, apontam que os 
capitalistas, na época, a burguesia, eram os donos dos meios de produção que compravam 
a força de trabalho do proletariado, que, por sua vez, obrigatoriamente, vendia a força de 
trabalho para viver.
Mas e atualmente, como se dão essas divisões?
Na contemporaneidade, Montaño e Duriguetto (2010) analisam que junto à bur-
guesia estariam os donos de propriedades e dos meios de produção, os donos dos meios 
de consumo (capital comercial) e das instituições de intermediação financeira. Apontam 
ainda que, na dimensão do capital, também pode existir uma subdivisão, visto que a alta 
burguesia pode ter objetivos diferentes daqueles que possuem menos bens. Nesse sentido, 
já que a posse econômica de cada grupo é distinta, isso pode ocasionar organizações 
diversas dentro da mesma classe social.
Já em relação a classe trabalhadora, os mesmos autores compreendem que todo 
indivíduo que vende sua força de trabalho na indústria, no comércio, em empresa financeira, 
como operários de fábricas, dos setores administrativos, servidores públicos, trabalhadores 
autônomos, terceirizados, microempresas, desempregados (visto que precisam vender 
a força de trabalho), entre outros, fazem parte da classe dominada; sendo assim, todos 
fazem parte do proletariado.
No entanto, essa heterogeneidade da classe trabalhadora não pode nos 
fazer perder de foco doseu caráter central e universal, no MPC: toda ela 
constitui-se em homens e mulheres “livres”, meros proprietários de força de 
trabalho, despossuídos dos meios fundamentais de produção e consumo, 
obrigados assim a vender sua força de trabalho ao capital, e troca do salário. 
Nesse processo e nessa relação, produzem mais-valia, apropriada pelo capi-
tal (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010, p. 94).
Os mesmos autores apontam a importante diferença em se pensar na “classe em 
si” e “classe para si”. No primeiro caso, a classe é formada pelos indivíduos que ocupam 
o mesmo lugar no processo produtivo e que não depende de uma organização para se 
constituir. Já nesta última, a concepção precisa ir além, precisa se reconhecer parte de um 
grupo com interesses em comum, e que tenham a intenção de se organizar para lutar pela 
sua classe. Montaño e Duriguetto (2010, p. 97), nos trazem um bom exemplo de “classe 
para si”: “entre 1830 e 1848, a classe trabalhadora se torna sujeito autônomo, consciente 
de seus interesses e do seu antagonismo ao capital, e organizado para as lutas de classes”.
16UNIDADE I Conceitos Fundamentais: Estado e Classes
Diante disso, temos uma oportunidade de trazer para a reflexão a questão da 
consciência. Montaño e Duriguetto (2010, p. 98) afirmam que “a consciência é determinada 
pela realidade social, e ela é condição para sua transformação”. Neste sentido, podemos 
compreender que o cotidiano é o espaço em que se dá a primeira forma de consciência e 
podemos chamá-la de consciência social, genérica; uma “consciência-em-si”.
Ao superar a mera percepção imediata e parcial da realidade e a alienada vida 
cotidiana sob hegemonia do capital, desmistificando a ideologia hegemônica, 
desenvolve-se uma consciência humano-genérica, em que se dá o trânsito 
de uma consciência-em-si para uma consciência-para-si. Desenvolve-se uma 
consciência de classe.
Com ela, diferentemente do “senso comum” e da “consciência-em-si”, pro-
cura-se compreender as causas dos fenômenos, numa visão de totalidade. 
Os interesses imediatos e individuais, ou até de grupos, cedem espaço aos 
interesses de classe (e incluso humano-genéricos) e mediatos (que vão além 
da experiência imediata e da temporalidade dos sujeitos individuais e grupais) 
(MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010, p. 110).
Na medida em que cada indivíduo se percebe para além da “consciência-em-si” 
(consciência social, consciência humano-genérica, do “senso comum”) e se reconhece 
como parte de um grupo que possui questões e interesses iguais (já que estão situados no 
mesmo espaço, dentro do MPC); bem como, compreende as relações contraditórias entre 
os trabalhadores e capitalistas; provavelmente surgirá nesse grupo (aqui também podemos 
ler “classe”), um desejo de organização com a finalidade de buscar uma mudança. Neste 
ponto, podemos afirmar que está instituída a consciência de classe, uma “consciência-pa-
ra-si”, que pensa para além do indivíduo, pensa na classe que pertence e nas questões que 
precisa enfrentar.
A consciência de classe leva o indivíduo, inevitavelmente, para uma luta social, já 
que busca uma mudança. Um exemplo desse entendimento, é pensar na luta em favor da 
garantia dos direitos sociais (emprego, habitação, alimentação, saúde etc.) que nos remete 
às expressões da questão social, tais como o desemprego, violência, vulnerabilidade eco-
nômica, entre outras.
O fundamento estrutural (a exploração de uma classe por outra, sustentada 
no fato de o produtor estar separado, alienado, dos meios para produzir), que 
constitui o que chamamos de “questão social” (ver Netto, 2001), não pode 
esconder a diversidade de manifestações e sequelas, que se apresentam 
como “problemas sociais”, carências, formas de “exclusão”, discriminação, 
segregação. De idêntica forma, esta multiplicidade e variedade de “proble-
máticas”, que se apresentam na aparência de fenômenos autônomos e inde-
pendentes, como desarticulados da questão central entre capital e trabalho, 
não podem nos levar a ignorar o fato de que elas se fundam na contradição 
capital-trabalho (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010, p. 110).
Observa-se que as expressões da questão social são espaços em que a consciên-
cia de classe pode se desenvolver e possibilitar que a luta de classe seja instituída.
17UNIDADE I Conceitos Fundamentais: Estado e Classes
Montaño e Duriguetto (2010) sustentam que as lutas sociais são provenientes das 
lutas de classes, já que essas são fruto da relação contraditória entre capital e trabalho e 
não devem ser analisadas fora do MPC. Asseguram que “independentemente do grau de 
conhecimento e imagem que atores e analistas tenham das várias formas de lutas sociais, 
elas são expressões das lutas de classes” (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010, p. 119).
A luta de classe está no cerne no estudo marxista, como já vimos anteriormente 
neste material. Ela é o reflexo das relações contraditórias e inconciliáveis entre os capi-
talistas e trabalhadores. Segundo o autor, é a luta de classes que pode impulsionar uma 
mudança (econômica, social e política), em prol da eliminação dessas classes e, assim, das 
desigualdades.
Desta maneira, “as lutas por igualdade de direitos de gênero, sexual, racial, pela 
defesa do meio ambiente, pelos direitos humanos, por demandas pontuais de uma comuni-
dade” (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010, p. 119), fazem parte da luta de classes, elas não 
são antagônicas. Ainda segundo esses autores, as lutas sociais não podem esperar pelo 
avanço ou efetivação das lutas de classes, não podem esperar pela “grande revolução” (a 
eliminação da classe capitalista) para se resolverem, pois são demandas emergentes.
Agora, no próximo tópico, buscaremos compreender melhor os objetivos dessas 
lutas, sociais ou de classes.
18UNIDADE I Conceitos Fundamentais: Estado e Classes
3 AS LUTAS SOCIAIS E A EMANCIPAÇÃO POLÍTICA E HUMANA
No cotidiano de trabalho dos assistentes sociais, muito se ouve falar em emanci-
pação, a tão desejada liberdade que os profissionais almejam trabalhar com o público que 
atendem, independentemente do espaço sócio-ocupacional que ocupam.
Mas, depois de toda essa reflexão, será que é possível alcançar a emancipação?
Marx (1843), em sua obra A questão judaica, reconhece a origem da emancipação 
política na transição do feudalismo para o capitalismo.
A emancipação política é, simultaneamente, a dissolução da velha sociedade 
em que repousa o Estado alienador e a dissolução do poder senhorial. A 
revolução política é a revolução da sociedade civil [...]
Não obstante, as funções e condições de vida da sociedade civil continuavam 
a ser políticas, se bem que políticas no sentido feudal; isto é, excluíam o 
indivíduo do conjunto do Estado [...]
A sociedade feudal estava dividida em seu fundamento, no homem. Mas no 
homem, tal qual ele se apresentava como fundamento, no homem egoísta. 
Este homem, membro da sociedade burguesa, é agora a base, a premissa 
do Estado político. E, como tal, é reconhecido nos direitos humanos (MARX, 
1843, on-line).
Com base na teoria marxiana, Montaño e Duriguetto (2010, p. 130) refletem que 
a emancipação política “remete, portanto, ao conjunto de direitos políticos e sociais que 
garantem uma ‘liberdade’ e uma ‘igualdade’ formais dos cidadãos - a liberdade e igualdade 
perante a lei, portanto, meramente jurídicas”. Ou seja, considerando que vivemos em uma 
sociedade capitalista, assim, também desigual, sabemos que a atuação do Estado é para 
manter a ordem vigente (lucro e dominação do capital), não para minimizar ou eliminar as 
19UNIDADE I Conceitos Fundamentais: Estado e Classes
desigualdades sociais. É por isso que a emancipação política na nossa sociedade, será 
apenas formal, por meio de leis. Como exemplo podemos citar o acesso universal à Política 
Pública da Saúde; é lei, mais isso não quer dizer que todos consigam acessar seus servi-
ços, de fato, na sua totalidade.
Contudo, essa independência política do ser, não tem o mesmo efeito que a eman-
cipaçãohumana, que, por sua vez, extingue a “desigualdade, dominação e exploração, 
reunindo novamente o produtor com os meios para produzir; ela ocorre, portanto, na ne-
cessária superação da ordem do capital para o comunismo” (MONTAÑO; DURIGUETTO, 
2010, p. 131).
Assim, a emancipação política está dentro das regras da sociedade capitalista (de-
sigual), mas a emancipação humana pressupõe a superação dessa sociedade. Contudo,
a luta anticapitalista não deve caminhar separada da luta contra o machismo 
e a desigualdade sexual, contra o racismo e a desigualdade racial e étnica, 
contra as diversas formas de segregação, desigualdade e preconceito. Ela 
deve reunir todos estes campos de batalha, orientados no curto prazo contra 
a forma específica de desigualdade (para a emancipação política específica), 
e no longo prazo contra a ordem burguesa, a sociedade de classes (para a 
emancipação humana) (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010, p. 132).
É com essa elucidação que finalizamos a primeira unidade do material didático da 
disciplina de Movimento Sociais e Serviço Social.
20UNIDADE I Conceitos Fundamentais: Estado e Classes
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Prezado(a) estudante, finalizamos a Unidade I do material didático da disciplina de 
Movimentos Sociais e Serviço Social.
No início do material estudamos a contextualização histórica e os conceitos sobre 
Estado e sociedade pelos clássicos da teoria política. Foi possível observar que a divisão 
de grupos ou classes sempre esteve presente em nossa sociedade. Nos aprofundamos 
principalmente nas reflexões de Marx, dado que a fundamentação da nossa disciplina 
segue essa teoria.
Em seguida, buscamos compreender a concepção de classe social, consciência de 
classe e lutas de classes no MPC. Nesse momento, retomamos a discussão marxiana so-
bre classes, podendo diferenciar as concepções do que é de interesse individual e coletivo.
Por fim, no último tópico da Unidade I, compreendemos como as concepções de 
classe e consciência se conectam às lutas sociais e de classes no processo de emancipa-
ção política e humana.
Esperamos que você tenha apreciado a Unidade I desta disciplina, e que o conteú-
do aqui apresentado tenha te instigado a aprofundar o estudo na referida temática.
21UNIDADE I Conceitos Fundamentais: Estado e Classes
LEITURA COMPLEMENTAR
1. O ESTADO É UM PRODUTO DO ANTAGONISMO INCONCILIÁVEL DAS CLASSES
Dá-se com a doutrina de Marx, neste momento, aquilo que, muitas vezes, através 
da História, tem acontecido com as doutrinas dos pensadores revolucionários e dos diri-
gentes do movimento libertador das classes oprimidas. Os grandes revolucionários foram 
sempre perseguidos durante a vida; a sua doutrina foi sempre alvo do ódio mais feroz, das 
mais furiosas campanhas de mentiras e difamação por parte das classes dominantes. Mas, 
depois da sua morte, tenta-se convertê-los em ídolos inofensivos, canonizá-los por assim 
dizer, cercar o seu nome de uma auréola de glória, para “consolo” das classes oprimidas 
e para o seu ludíbrio, enquanto se castra a substância do seu ensinamento revolucionário, 
embotando-lhe o gume, aviltando-o. A burguesia e os oportunistas do movimento operário 
se unem presentemente para infligir ao marxismo um tal “tratamento”. Esquece-se, esba-
te-se, desvirtua-se o lado revolucionário, a essência revolucionária da doutrina, a sua alma 
revolucionária. Exalta-se e coloca-se em primeiro plano o que é ou parece aceitável para a 
burguesia. Todos os sociais-patriotas (não riam!) São, agora, marxistas. Os sábios burgue-
ses, que ainda ontem, na Alemanha, se especializavam em refutar o marxismo, falam cada 
vez mais num Marx “nacional-alemão”, que, a dar-lhes ouvidos, teria educado os sindicatos 
operários, tão magnificamente organizados, para uma guerra de rapina.
Em tais circunstâncias, e uma vez que se logrou difundir tão amplamente o marxis-
mo deformado, a nossa missão é, antes de mais nada, restabelecer a verdadeira doutrina 
de Marx sobre o Estado. Para isso, teremos de fazer longas citações das obras de Marx 
e de Engels. Essas longas citações tornarão pesada e exposição e não contribuirão para 
torná-la popular; mas, é absolutamente impossível dispensá-las. Todas as passagens de 
Marx e Engels, pelo menos as passagens essenciais que tratam do Estado, devem ser 
reproduzidas sob a forma mais completa possível, para que o leitor possa fazer uma ideia 
pessoal do conjunto e do desenvolvimento das concepções dos fundadores do socialismo 
científico. Assim, apoiados em provas, demonstraremos, à evidência, que o atual “kautskys-
mo” as deturpou.
Comecemos pela mais vulgarizada das obras de Engels, A Origem da Família, 
da Propriedade Privada. e do Estado, cuja sexta edição apareceu em Stuttgart, em 1894. 
22UNIDADE I Conceitos Fundamentais: Estado e Classes
Traduziremos os nossos extratos do original alemão, porque as traduções russas, embora 
numerosas, são, em sua maior parte, incompletas ou muito defeituosas.
Resumindo a sua análise histórica, diz Engels:
“O Estado não é, de forma alguma, uma força imposta, do exterior, à sociedade. 
Não é, tampouco, “a realidade da ideia moral”, “a imagem e a realidade da Razão como 
pretende Hegel. É um produto da sociedade numa certa fase do seu desenvolvimento. É 
a confissão de que essa sociedade se embaraçou numa insolúvel contradição interna, se 
dividiu em antagonismos inconciliáveis de que não pode desvencilhar-se. Mas, para que 
essas classes antagônicas, com interesses econômicos contrários, não se entre devoras-
sem e não devorassem a sociedade numa luta estéril, sentiu-se a necessidade de uma 
força que se colocasse aparentemente acima da sociedade, com o fim de atenuar o conflito 
nos limites da “ordem”. Essa força, que sai da sociedade, ficando, porém, por cima dela e 
dela se afastando cada vez mais, é o Estado”.
Eis, expressa com toda a clareza, a ideia fundamental do marxismo no que concer-
ne ao papel histórico e à significação do Estado. O Estado é o produto e a manifestação 
do antagonismo inconciliável das classes. O Estado aparece onde e na medida em que os 
antagonismos de classes não podem objetivamente ser conciliados. E, reciprocamente, a 
existência do Estado prova que as contradições de classes são inconciliáveis das classes. 
O Estado aparece onde e na medida em que os antagonismos de classes não podem 
objetivamente ser conciliados. E, reciprocamente, a existência do Estado prova que as 
contradições de classe são inconciliáveis.
É precisamente sobre esse ponto de importância capital e fundamental que começa 
a deformação do marxismo, seguindo duas linhas principais.
De um lado, os ideólogos burgueses e, sobretudo, os da pequena burguesia, 
obrigados, sob a pressão de fatos históricos incontestáveis, a reconhecer que o estado 
não existe senão onde existem as contradições e a luta de classes, “corrigem” Marx de 
maneira a fazê-lo dizer que o Estado é o órgão da conciliação das classes. Para Marx, o 
Estado não poderia surgir nem subsistir se a conciliação das classes fosse possível. Para 
os professores e publicistas burgueses e para os filisteus despidos de escrúpulos, resulta, 
ao contrário, de citações complacentes de Marx, semeadas em profusão, que o Estado é 
um instrumento de conciliação das classes. Para Marx, o Estado é um órgão de dominação 
de classe, um órgão de submisso de uma classe por outra; é a criação de uma “ordem” que 
legalize e consolide essa submissão, amortecendo a colisão das classes. Para os políticos 
da pequena burguesia, ao contrário, a ordem é precisamente a conciliação das classes 
23UNIDADE I Conceitos Fundamentais: Estado e Classes
e não a submissão de uma classe por outra; atenuar a colisão significa conciliar, e não 
arrancar às classes oprimidas os meios e processos de luta contra os opressores a cuja 
derrocada elas aspiram.
Assim, na revolução de 1917, quando a questão da significação do papel do Es-
tado foi posta em toda a sua amplitude, postapraticamente, como que reclamando uma 
ação imediata das massas, todos os socialistas-revolucionários e todos os mencheviques, 
sem exceção, caíram, imediata e completamente, na teoria burguesa da “conciliação” das 
classes pelo “Estado”. Inúmeras resoluções e artigos desses políticos estão profundamente 
impregnados dessa teoria burguesa e oportunista da “conciliação”. Essa democracia pe-
queno-burguesa é incapaz de compreender que o Estado seja o órgão de dominação de 
uma determinada classe que não pode conciliar-se com a sua antípoda (a classe adversa). 
A sua noção do Estado é uma das provas mais manifestas de que os nossos socialistas-re-
volucionários e os nossos mencheviques não são socialistas, como nós, os bolcheviques, 
sempre o demonstramos, mas democratas pequeno-burgueses de fraseologia aproxima-
damente socialista.
Em Kautsky, a deformação do marxismo é muito mais sutil. “Teoricamente”, não 
nega que o Estado seja o órgão de dominação de uma classe, nem que as contradições de 
classe sejam inconciliáveis; mas, omite ou obscurece o seguinte: se o Estado é o produto 
da inconciliabilidade das contradições de classe, se é uma força superior à sociedade, 
“afastando-se cada vez mais da sociedade “, é claro que a libertação da classe oprimida só 
é possível por meio de uma revolução violenta e da supressão do aparelho governamental 
criado pela classe dominante e que, pela sua própria existência, “se afasta” da sociedade. 
Esta conclusão teoricamente clara por si mesma, tirou-a Marx, com inteira precisão, como 
adiante veremos, da análise histórica concreta dos problemas da revolução. E foi preci-
samente essa conclusão que Kautsky “esqueceu” e desvirtuou, como demonstraremos 
detalhadamente no decurso da nossa exposição.
Fonte: Lênin (1983, p. 6-7).
24UNIDADE I Conceitos Fundamentais: Estado e Classes
MATERIAL COMPLEMENTAR
LIVRO
Título: Estado, Classe e Movimento Social
Autor: Carlos Montaño e Maria Lúcia Duriguetto
Editora: Cortez
Sinopse: Com base na teoria marxiana, os autores analisam os 
conceitos de Estado, sociedade civil, classe social, consciência de 
classe, luta de classe e movimentos sociais.
FILME/VÍDEO
Título: 1900 (Novecento)
Ano: 1976
Sinopse: Traz a história de dois amigos de infância que nasceram 
em classes sociais diferentes.
25
Plano de Estudo:
• Breve desenvolvimento do capitalismo e o Estado e no capitalismo no estágio dos 
monopólios.
• A (contra)reforma do Estado no regime de acumulação flexível.
• A situação atual das lutas de classes.
Objetivos de Aprendizagem:
• Contextualizar o desenvolvimento do capitalismo e a ação do Estado no capitalismo 
monopolista.
• Compreender a (contra)reforma do Estado no regime de acumulação flexível.
• Apresentar a situação atual das lutas de classes.
UNIDADE II
O Estado no Capitalismo Monopolista 
e as Lutas de Classes
Professora Luciana da Silva Santos
26UNIDADE II O Estado no Capitalismo Monopolista e as Lutas de Classes
INTRODUÇÃO
Olá, estudante! Seja bem-vindo(a) à Unidade II da disciplina de Movimentos Sociais 
e Serviço Social.
Antes de entrar no tema desta unidade, vamos relembrar que na primeira unidade 
deste material entendemos a concepção de Estado e sociedade civil. Refletimos de onde 
vêm as formações de classes sociais e seus conflitos; e abordamos questões relacionadas 
a esses conflitos, que são a consciência de classe, luta de classe e luta social. Por fim, 
finalizamos com as diferenças entre emancipação política e humana.
Agora, essa unidade, tem o objetivo de estudar o desenvolvimento do capitalismo e 
o papel do Estado frente a mundialização do capital, e como essas ações impactam a luta 
da classe trabalhadora.
Esta unidade foi dividida em três tópicos com o intuito de organizar as informações 
e contribuir na assimilação do conteúdo apresentado.
No primeiro momento, vamos contextualizar o desenvolvimento do capitalismo e 
a ação do Estado no estágio do capitalismo de monopólio, que passa por duas fases ou 
regimes. São eles: Regime de Acumulação Fordista/Keynesiano e Regime de Acumulação 
Flexível.
Em seguida, buscaremos compreender a (contra)reforma do Estado, ou seja, as 
ações tomadas por este para atender as demandas emergenciais provindas do Regime de 
Acumulação Flexível.
E, para fechar a Unidade II, apresentaremos os impactos das mudanças nos siste-
mas capitalistas na luta trabalhista e na luta de classe.
Bons Estudos!
27UNIDADE II O Estado no Capitalismo Monopolista e as Lutas de Classes
1 O ESTADO NO CAPITALISMO MONOPOLISTA E AS LUTAS DE CLASSES
Antes de começar a abordar sobre o Estado na fase do capitalismo monopolista, 
vamos relembrar brevemente o desenvolvimento desse modo de produção. Netto e Braz 
(2012, p. 82-83) trazem:
A crise do feudalismo abre-se no século XIV, num processo extremamente 
complexo – e, até hoje, objeto de controvérsias e polêmicas – que só cul-
minará, em termos histórico-universais, no final do século XVIII. No decurso 
desses séculos, operando para a ultrapassagem do modo de produção feudal, 
as suas contradições internas foram potenciadas pelos efeitos do floresci-
mento do comércio, expressos na consolidação crescente de uma economia 
de base mercantil. O processo de crise do feudalismo é, igualmente, o solo 
histórico do movimento que conduzirá ao mundo moderno – a Revolução 
Burguesa.
A crise no modo de produção feudal (agricultura e pecuária), segundo Netto e Braz 
(2012), se originou, entre outras questões, no esgotamento das lavouras concomitantemen-
te com a falta de técnicas para recuperação desses solos, que, por sua vez, influenciaram a 
busca por novas terras para cultivo. Contudo, os resultados alcançados nesses plantios não 
eram satisfatórios e a apropriação de terras para ampliar a agricultura influiu na diminuição 
das áreas para a criação de animais. Desta forma, o conflito entre as principais classes do 
feudalismo, donos de terras (senhores feudais) e camponeses (servos) foi inevitável.
28UNIDADE II O Estado no Capitalismo Monopolista e as Lutas de Classes
SAIBA MAIS
Nesse sistema, os reis arrendavam terras conhecidas como “feudos” para poderosos 
nobres em troca de lealdade e serviço militar. Os nobres, ou mesmo instituições religio-
sas, dividiam suas propriedades em lotes e os entregavam a nobres menos importantes, 
que se tornavam seus vassalos. Na base da pirâmide estava uma classe de campo-
neses (chamados de servos ou vilões) que vivia inteiramente sob a jurisdição de seus 
mestres. Desse sistema emergiram castelos fortificados (pois os nobres precisavam 
defender seus domínios), cavaleiros e um código de conduta conhecido como “código 
de cavalaria”.
[...] o sistema feudal na Europa Ocidental começou a ruir, em parte como consequência 
do declínio populacional provocado pela Peste Negra e em parte pelo desenvolvimento 
do comércio [...]. Na Europa central e Oriental, no entanto, o trabalho servil que lastrea-
va o feudalismo perdurou até meados do século XIX.
Fonte: Marriott (2016, p. 93-94).
Netto e Braz (2012) relatam que no século XVI, as relações econômicas modifica-
ram-se gradualmente por meio da comercialização de terras (entre os senhores feudais) e 
pagamento em dinheiro pelas prestações de trabalho (relações entre os senhores e servos). 
Sobre as relações políticas, relatam que a divisão de classes era explícita com uma estrutu-
ração considerável ao ponto dos senhores se organizarem para reprimir o movimento dos 
camponeses; esse cerceamento se deu pela centralização do poder no chamado Estado 
absolutista, que é um grupo formado por nobres e que concentra o poder em um deles, o 
então rei.
Esses mesmos autores destacam que os financiadores desse Estado são os 
próprios senhores feudais em companhia das casas bancárias da época; e que, a partir 
desse modelo de Estado, foi possível vislumbrar as estruturas do Estado moderno, as quais 
salientamos a força armada, a burocracia e o sistema fiscal.
Sobre o Estado moderno,Montaño e Duriguetto (2010, p. 143) apontam que
é parte integrante da ordem burguesa e não externa a ela. É uma instituição 
desenvolvida e comandada pela ordem que o funda, portanto, um Estado 
inserido e produzido pela sociedade capitalista, no contexto e resultado das 
lutas de classes, não sendo portanto independente do sistema socioeconô-
29UNIDADE II O Estado no Capitalismo Monopolista e as Lutas de Classes
mico e político que o criou, dos seus interesses em jogo e da correlação de 
forças sociais. É, portanto, um instrumento fundamental da ordem burguesa, 
garantidor da propriedade privada, das relações sociais e da liberdade indi-
vidual (burguesa); porém como resultado tenso das contradições e lutas de 
classes, é também o espaço de desenvolvimento de direitos e conquistas 
sociais históricas.
Assim como vimos na primeira unidade deste material, o papel do Estado vem para 
defender a ordem vigente, e neste momento, não será diferente.
SAIBA MAIS
“Não se nega que embriões do Estado possam ser encontrados na antiguidade Clás-
sica, mas o Estado como nós o conhecemos hoje emerge historicamente, segundo di-
versos pensadores, no período de formação do modo de produção capitalista através 
do Estado absolutista. Anderson (1986, p. 18) procura negar que o Estado absolutista 
constituiu-se na origem do Estado moderno. Segundo esse autor, o Estado absolutista 
ainda se encontra no marco do modo de produção feudal, configurando-se em uma 
‘nova carapaça política da nobreza ameaçada’. O Estado absolutista era assim um Es-
tado ainda feudal. Anderson nega a modernidade desse Estado, ressaltando a coerção 
política legal exercida pelas classes dominantes. Contrapondo-se a Anderson, Torres 
(1989) posiciona-se favorável à concepção de que as origens do Estado moderno se en-
contram no Estado absolutista, embora chame a atenção sobre as monarquias feudais 
centralizadas que se formam na Inglaterra e na França, que não podem ser considera-
das instituições tipicamente feudais”.
Fonte: Pereira (2004, p. 14-15).
Ainda sobre o desenvolvimento histórico do capitalismo,
Se, com base nesta linha de análise, procurássemos estabelecer uma perio-
dização histórica do desenvolvimento do capitalismo, registraríamos primeiro 
a existência de um estágio que começa com a acumulação primitiva [...] e vai 
até os primeiros passos do capital para controlar a produção de mercadorias 
e, nela, comandar o trabalho, mediante o estabelecimento da manufatura [...], 
cobrindo do século XVI a meados do século XVIII. Trata-se do estágio inicial 
do capitalismo, no qual o papel do grupo social dos comerciantes / merca-
dores foi decisivo – estágio por isso mesmo designado como capitalismo 
comercial (ou mercantil) (NETTO; BRAZ, 2012, p. 183).
30UNIDADE II O Estado no Capitalismo Monopolista e as Lutas de Classes
Netto e Braz (2012) refletem que os comerciantes e mercadores, são percebidos 
como uma classe revolucionária para sua época, já que esses questionaram a ordem 
feudal vigente e ultrapassaram os limites que lhes foram impostos. Um exemplo disso é a 
expansão marítima, que revelou a possibilidade de mundialização do capital, que, por sua 
vez, se estabeleceu na próxima fase do capitalismo, em meados do século XVIII.
Essa passagem a outro nível vincula-se diretamente a mudanças políticas 
(está a completar-se a Revolução Burguesa, com a tomada do poder de 
Estado) e técnicas (vai irromper a Revolução Industrial), nesse estágio, o 
capital – organizando a produção através da nascente grande indústria – 
dará curso ao processo que culminará na subsunção real do trabalho [...]. 
Aproximadamente a partir da oitava década do século XVIII, configura-se 
esse segundo estágio do capitalismo, o capitalismo concorrencial (também 
chamado de “liberal” ou “clássico”), que perdurará até o último terço do 
século XIX (NETTO; BRAZ, 2012, p. 184).
As diferentes formas de produzir a mercadoria resultam na Revolução Industrial, 
ocorrida nos séculos XVIII e XIX, num primeiro momento na Inglaterra, essencialmente a 
partir da criação da máquina a vapor por James Watt, em 1760. Foi o momento em que 
houve a transição da produção manufaturada para o trabalho feito por meio de máquinas. 
E o resultado dessa mudança foi muito mais que o aumento e agilidade na produção de 
mercadorias: foi a alteração na vida social, entre as quais citamos a migração das famílias 
dos campos para as cidades (FERNANDES, 2020).
Segundo Netto e Braz (2012), na fase concorrencial, a disputa pelos mercados se 
dava de forma incontrolável e favorecia os grandes capitalistas que tinham maiores condi-
ções de brigar no espaço financeiro, que, por sua vez, faziam com a consciente intenção 
de estabelecer uma economia mundial.
Na transição do século XIX ao XX, as grandes indústrias mudaram o cenário capi-
talista já que passaram a monopolizar os mercados nacionais e internacionais, ao mesmo 
tempo que “os bancos passaram a controlar massas monetárias gigantescas, disponibi-
lizadas para empréstimos – e a concorrência entre os capitalistas industriais levou-os a 
recorrer ao crédito bancário para novos investimentos” (NETTO; BRAZ, 2012, p. 191).
Esse casamento entre monopólios e bancos pode ser chamado de o “grande ne-
gócio”, e permite ao capitalismo ingressar na fase imperialista ou monopolista. Nesse 
estágio, as pequenas e médias empresas podem até participar do mercado, mas totalmen-
te subordinadas às coerções dos monopólios. Inclusive, estes fazem um tipo de partilha 
territorial e econômica no mundo, que posteriormente foi posta em questão no ano de 1914, 
já que não existia mais territórios livres. A expressão dos conflitos interimperialistas é um 
dos propulsores da Primeira e Segunda Guerra Mundial (NETTO; BRAZ, 2012).
31UNIDADE II O Estado no Capitalismo Monopolista e as Lutas de Classes
O capital monopolista e sua corporação diferenciam-se da empresa não 
monopolista, para além do tamanho e volume de transações, pelo acesso à 
tecnologia de ponta, que determina uma capacidade diferente de produção. 
É esse diferencial de produtividade que se constitui como principal fonte 
de superlucro, mediante o desenvolvimento de máquinas motrizes, novos 
materiais e fontes de energia mais adequadas (ver Mandel, 1982, p. 129) 
(MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010, p. 157).
É importante destacar que o capitalismo foi adaptando seu modo de produção de 
acordo com a evolução das tecnologias aplicadas nas indústrias. Mas o objetivo sempre foi 
o mesmo, gastar pouco e lucrar mais. Neste sentido, não podemos deixar de apontar três 
modos de organização da produção industrial, são eles:
Quadro 1 - Modos de organização da produção industrial
Taylorismo É uma teoria administrativa criada pelo americano Frederick Winslow Taylor, no 
final do século XIX, início do século XX, cujo objetivo principal é racionalizar o 
trabalho e, assim, aumentar a produtividade. No Taylorismo a remuneração era 
estabelecida segundo a produtividade de cada indivíduo.
Principais características: divisão do trabalho em tarefas específicas; aumento da 
frustração dos operários, já que ficavam restritos a apenas uma função; aumento 
da produtividade; grande nível de subordinação dos trabalhadores para com os 
capitalistas.
Fordismo É um princípio organizador do trabalho desenvolvido por Henry Ford em 1908, 
sendo um desdobramento do Taylorismo. No Fordismo manteve-se o mecanismo 
de produção e a organização da gerência utilizada do sistema anterior, porém foi 
adicionada a esteira rolante, estabelecendo um ritmo de trabalho mais dinâmico. 
Henry Ford foi o primeiro a entender que seus operários eram também consumi-
dores dos seus produtos e, por isso, limitou o expediente a 8h diárias e aumentou 
o salário de seus funcionários.
Principais características: padronização dos produtos; produção em grande esca-
la; uso de linhas de montagem; divisão do trabalho em pequenas tarefas.
Toyotismo É uma forma de organização do trabalho desenvolvido pelo japonêsTaiichi Ohno, 
em 1962, na montadora japonesa Toyota. Essa filosofia define-se por dois prin-
cípios:
● Princípio Just In Time (JIT): consiste em minimizar estoques, produzindo 
de acordo com a demanda;
● Princípio dos cinco zeros: zero de atraso, zero defeitos, zero de estoque, 
zero panes e zero papéis.
No Toyotismo, o trabalho em equipe é um fator importante, com grupos que se or-
ganizam e controlam seu próprio trabalho, de forma a obter um aperfeiçoamento 
contínuo. Surgiu, assim, uma organização de trabalho horizontal, com objetivo de 
conseguir produtos de ótima qualidade. O Toyotismo aparece como um modelo 
ideal em termos de produtividade, no entanto, sua implementação é difícil e mui-
tas empresas que tentaram aplicá-lo falharam.
Principais características: produção diversificada; eliminação de desperdício; au-
tonomia; trabalhadores com múltiplas tarefas.
Fonte: Bezerra (2020).
32UNIDADE II O Estado no Capitalismo Monopolista e as Lutas de Classes
Montaño e Duriguetto (2010) apontam que o capitalismo monopolista passa por 
dois períodos históricos, e caracteriza-os como dois regimes de acumulação. São eles: 
Regime de Acumulação Fordista/Keynesiano e o Regime de Acumulação Flexível.
Regime de Acumulação Fordista/Keynesiano, no período entre o segundo 
pós-guerra (1945) e a nova crise capitalista (1973-1974), caracterizado por 
um conjunto de práticas no processo de produção (taylorismo e fordismo), de 
controle do trabalho (gerência científica), de novas tecnologias (2ª Revolução 
Tecnológica), de hábitos de consumo (em massa) e das configurações de po-
der político-econômico (keynesianismo, Estado Providência, ou “Bem-Estar 
Social”) (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010, p. 138, grifo nosso).
Então, o Regime de Acumulação Fordista/Keynesiano foi um período em que pu-
deram ser desenvolvidas as práticas fordistas (aqui, ressaltamos a produção em grande 
escala), que diretamente se conectam ao desenvolvimento tecnológico e científico na 
indústria. O alto consumo da população, também foi uma característica deste Regime, bem 
como o desenvolvimento de políticas sociais, por meio do Keynesianismo.
Mas o que vem a ser o Keynesianismo?
Segundo Henrique (2019), o Keynesianismo é uma teoria econômica desenvolvida 
pelo economista John Maynard Keynes, nas primeiras décadas do século XX. Importante 
ressaltar que até o século XIX só existiam duas teorias econômicas, que já vimos na primei-
ra unidade deste material, contudo vamos relembrá-las:
Teoria Liberal e Teoria Marxista. A última, tendo como maestro o ideólogo 
Karl Marx, defendia a ideia de que o Estado deveria ser forte e predominante, 
ou seja, controlando os meios de produção e toda a economia de um país. 
Contrapondo essas ideias, a teoria liberal, tendo como fundador o economis-
ta e filósofo Adam Smith, defendia o funcionamento do livre mercado. Nessa 
teoria, o estado deverá garantir apenas direito à propriedade privada.Assim, 
o Keynesianismo surge com uma alternativa às teorias econômicas liberal e 
marxista (HENRIQUE, 2019, on-line).
Neste sentido, o Keynesianismo não é uma teoria marxista e nem liberal. Ela defen-
de a atuação do Estado para que a economia se desenvolva e que seja garantido o pleno 
emprego.
As principais características do keynesianismo: defesa da intervenção 
estatal em áreas que as empresas privadas não podem ou não desejam 
atuar; oposição ao sistema liberal; redução de taxas de juros; equilíbrio entre 
demanda e oferta; garantia do Pleno Emprego; introdução de benefícios so-
ciais para a população de baixa renda, a fim de garantir um sustento mínimo 
(HENRIQUE, 2019, on-line).
Foi por meio de ações de conciliação entre as questões econômicas e sociais, que 
o Keynesianismo cria as bases do chamado Welfare State (Estado de Bem-Estar Social). 
Mas, quais são as diferenças entre o Estado de Bem-Estar Social e o Estado Liberal? O 
Politize nos mostra de uma forma bem didática:
33UNIDADE II O Estado no Capitalismo Monopolista e as Lutas de Classes
Figura 1 - Diferenças entre o Estado de Bem Estar Social e o Estado Liberal
Fonte: Nagamine (2017).
34UNIDADE II O Estado no Capitalismo Monopolista e as Lutas de Classes
Nessa fase monopolista, em que o Regime de Acumulação Fordista/Keynesiano 
funciona muito bem, o capitalismo passa por 30 anos gloriosos, em que se desenvolve de 
maneira expansiva e madura, mas deu 
[...] sinais de esgotamento em fins dos anos 1960, com conseqüências avas-
saladoras nas últimas décadas do século XX para as condições de vida e 
trabalho das maiorias, rompendo com o pacto dos anos de crescimento, com 
o pleno emprego keynesiano-fordista e com o desenho social-democrata das 
políticas sociais (BEHRING; BOSCHETTI, 2010, p. 1992).
É nesse momento de crise que se dá a nova fase do capitalismo monopolista, o 
Regime de Acumulação Flexível, que apresentaremos no próximo tópico desta unidade.
35UNIDADE II O Estado no Capitalismo Monopolista e as Lutas de Classes
2 A (CONTRA)REFORMA DO ESTADO NO REGIME DE ACUMULAÇÃO FLEXÍVEL
O contexto histórico dessa nova fase do capitalismo monopolista é trazido por Mon-
taño e Duriguetto (2010), que nos apontam os principais aspectos do novo cenário mundial 
da crise capitalista, iniciado em 1973 e que perdura até os dias atuais. São eles:
● Surgimento dos “Tigres Asiáticos” (Hong Kong, Cingapura, Coreia do Sul e 
Taiwan), com o Japão formam uma nova potência econômica e produtiva (Toyo-
tismo);
● Crise mundial do capitalismo devido à concentração do capital para poucos, 
uma população desempregada e com tendência a sua pauperização;
● A financeirização do capital e a crise do Regime de Acumulação Fordista que já 
não respondia mais às demandas apresentadas;
● Crise do bloco soviético, entre outras questões causou a desarticulação de 
partidos comunistas e quase que a extinção dessa experiência concreta de uma 
sociedade comunista;
● Globalização, que se beneficiou, inclusive, da crise do bloco soviético, que cau-
sou uma maior inserção de diversos países na economia capitalista;
● Impactos nas lutas de classes, também afetadas pela crise socialista, sua de-
sarticulação política, bem como a elevada taxa de desemprego, dificultando a 
moeda de troca do trabalhador para com o empregado.
36UNIDADE II O Estado no Capitalismo Monopolista e as Lutas de Classes
Importante destacar que a crise após 1973 (crise do petróleo) tem como principais 
características: a alta significativa da inflação, que marcará o fim das políticas keynesianas, 
e um novo movimento do liberalismo, o Neoliberalismo (KODJA, 2009).
SAIBA MAIS
O petróleo, por sua vez, tornou-se, a partir da década de 1970, a commodity mais ob-
servada do planeta. [...]
Contudo, o histórico dos preços negociados pelo barril do petróleo ao final do século 
XX envolveu questões políticas e abalou a economia mundial, apesar de o mercado 
ter buscado mecanismos mais elaborados para o controle da volatilidade do preço do 
petróleo, desenvolvendo instrumentos ligados à manutenção de estoques reguladores e 
à estruturação de operações de hedge no mercado financeiro, a partir da abertura das 
negociações do barril de petróleo na Bolsa de Mercadorias de Nova Iorque, em 1983 
(New York Mercantile Exchange - NYMEX).
O jogo político em torno da disponibilidade dos recursos ligados ao petróleo foi utilizado, 
vastamente, durante o final do século XX, gerando inúmeros conflitos e modificando, 
consideravelmente, a estrutura de negociação e os custos de boa parte da cadeia pro-
dutiva ligada aos seus derivativos [...]
Fonte: Kodja (2009, p. 47).
Com a necessidade de dar uma resposta à crise de 1970, a estratégia pensada 
pelos neoliberalistas foi reduzir as conquistas trabalhistas do antigo Regime de Acumulação 
Fordista/Keynesiano, em prol de retomar a exploração ao trabalhador. Os neoliberalistas 
refletem sobre uma nova forma de ação e cogitam a implementação de um novo regime, 
mas que trate as questões de forma flexível. E, assim, instituemo Regime de Acumulação 
Flexível, que o autor David Havery denomina como ofensiva neoliberal (MONTAÑO; DURI-
GUETTO, 2010).
37UNIDADE II O Estado no Capitalismo Monopolista e as Lutas de Classes
REFLITA
Desta forma, o “projeto/processo neoliberal” constitui a atual estratégia hegemônica de 
reestruturação geral do capital - em face da crise, do avanço tecnocientífico e das lutas 
de classes que se desenvolvem no pós-1970, e que se desdobra basicamente em três 
frentes: a ofensiva contra o trabalho (atingindo as leis e direitos trabalhistas e as lutas 
sindicais e de esquerda) e as chamadas “reestruturação produtiva” e “(contra) reforma 
do Estado”.
Fonte: Montaño e Duriguetto (2010, p. 193).
A primeira frente da ofensiva neoliberal foi o ataque ao trabalho. Nela houve a 
exclusão do pacto keynesiano, ou seja, definhamento das organizações de trabalhadores e 
sindicais; a desqualificação das demandas e do movimento trabalhista; além do retrocesso 
no que se refere aos direitos sociais e precarização do trabalho (MONTAÑO; DURIGUET-
TO, 2010).
Já a segunda frente, relacionada à reestruturação produtiva, teve como objetivo 
reduzir os custos da produção para o capital e elevar a taxa de juros; flexibilizar o trabalho e 
as leis trabalhistas; também buscavam o enfraquecimento das organizações sindicais para 
contribuir com a desmobilização, entre outros (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010).
A última frente pensada pela ofensiva neoliberal, é a (contra)reforma do Estado. 
Ela ocorre por meio do ajuste estrutural do Estado, que atua no desmonte das políticas 
sociais, antes instituídas pelo keynesianismo; pelo desenvolvimento do Neoliberalismo; 
pela diminuição de gastos com a política pública; privatização de estatais; e contratação 
de serviços que deveriam ser ofertados pelo Estado, mas passam a ser ofertados por Or-
ganizações não governamentais (ONGs) e outras organizações filantrópicas (MONTAÑO; 
DURIGUETTO, 2010).
No próximo tópico veremos quais os efeitos dessa crise e (contra)reforma estatal 
na luta de classe dos trabalhadores.
38UNIDADE II O Estado no Capitalismo Monopolista e as Lutas de Classes
3 A SITUAÇÃO ATUAL DAS LUTAS DE CLASSES
A crise do capital não contribui para o enfraquecimento da classe dominante e a 
ascensão dos trabalhadores. Pelo contrário, deixa-os vulneráveis, já que é o momento que 
propicia ao capital fazer ajustes e (contra)reformas estruturais em seu favor. É o que nos 
aponta Montaño e Duriguetto (2010, p. 212):
O efeito da crise se reverte trágica e imediatamente em aumento do desem-
prego e da pauperização e miserabilidade a ele associadas, em acirramento 
da exploração capitalista – que visará retomar e/ou ampliar as formas de 
extração de mais-valia absoluta, como aumento da jornada de trabalho [...] -, 
na perda de direitos trabalhistas [...], na precarização de políticas [...], e até 
na perda ou esvaziamento de direitos políticos e civis. Paralelamente, a clas-
se trabalhadora, com os efeitos do aumento do desemprego (e do Exército 
Industrial de Reserva), passa a desenvolver uma atitude mais individualista 
e defensiva, até aceitando muitas perdas para garantir seu emprego, o que 
impacta nas lutas dos trabalhadores e nos seus efeitos sociais.
Não se trata aqui do fim da luta de classes oriunda de uma possível resolução dos 
conflitos referentes à contradição e antagonismo de classes, mas sim de um período em que 
existe uma mudança na forma de produção, tornando-a mais agressiva ao trabalhador, que, 
por sua vez, precisa assumir posturas mais defensivas, já que a ameaça do desemprego é 
factual (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010).
Além disso, o Estado do Welfare State liberal-democrático, contribuiu para a perda 
de identidade dos trabalhadores, conforme Montaño e Duriguetto (2010, p. 219) apontam:
Assim, se na fase inicial do monopolismo, sob o regime de acumulação 
fordista-keynesiano, a racionalidade hegemônica do capital induziu os indi-
39UNIDADE II O Estado no Capitalismo Monopolista e as Lutas de Classes
víduos a pensar que o capitalismo não precisava ser alterado/superado (pois 
ele tinha se “civilizado”, incorporando as demandas e os interesses de todos 
os setores sociais, a partir de um “pacto social”), no atual contexto de crise e 
hegemonia neoliberal, induz-se o trabalhador a pensar que o capitalismo não 
pode ser alterado / superado (pois ele seria a única e última forma possível 
de desenvolvimento social moderno e “globalizado”).
Neste sentido,
Na primeira fase do monopolismo (no Regime de Acumulação fordista-key-
nesiano), a estratégia hegemônica do capital aponta para a diminuição das 
resistências operárias mediantes a incorporação sistemática de demandas 
trabalhistas, monstrando um sistema (e um Estado) supostamente capaz 
de gerar “bem-estar social” para todos. Na segunda (e atual) fase, de crise 
e financeirização do capital, a estratégia hegemônica aposta na desmobi-
lização mediante a resignação frente a fenômenos supostamente naturais, 
irreversíveis, inalteráveis (MONTAÑO, DURIGUETTO, 2010, p. 219-220).
Com essa citação esclarecedora terminamos o terceiro e último tópico da Unidade 
II deste material.
40UNIDADE II O Estado no Capitalismo Monopolista e as Lutas de Classes
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Prezado(a) estudante, finalizamos a Unidade II desse material.
Nesta unidade contextualizamos brevemente o desenvolvimento do capitalismo até 
sua fase monopolista, bem como identificamos quais as ações do Estado frente às deman-
das apresentadas, chegando até o primeiro momento histórico do capitalismo monopolista, 
o Regime de Acumulação Fordista/Keynesiano.
No segundo tópico, abordamos sobre a segunda fase histórica do capitalismo mo-
nopolista, o Regime de Acumulação Flexível, bem como a resposta do Estado frente a essa 
nova forma de produzir.
No último tópico, apresentamos o impacto desse cenário histórico na luta de clas-
ses, ressaltando que a complexidade do processo produtivo, bem como o contexto histórico 
dificultou a proatividade dos trabalhadores, que tiveram que atuar mais na defensiva.
Esperamos que você tenha apreciado a Unidade II desta disciplina, e que o conteú-
do aqui apresentado tenha te instigado a aprofundar o estudo na referida temática.
Até a próxima.
41UNIDADE II O Estado no Capitalismo Monopolista e as Lutas de Classes
LEITURA COMPLEMENTAR
AS CRISES EM NOSSA HISTÓRIA
É freqüente a afirmação de que esta é a maior crise de nossa história. Acho, porém, 
que em vez de tentar estabelecer uma precária medida das crises brasileiras ao longo do 
tempo, vale a pena ressaltar, nessa comparação, os traços que distinguem a atual. Talvez, 
assim, acabe por acentuar o seu imenso alcance.
Convém lembrar que essa comparação não é simples. Com relação ao passado, 
estamos confortavelmente instalados: as divergências de interpretações são inevitáveis 
mas sabemos, em linhas gerais, como se gestaram as crises, como se desenvolveram e 
como chegaram a um fim, mesmo precário. O presente é bem mais complexo. Para usar a 
velha imagem, estamos em plena travessia do túnel e, se a travessia parece ser bastante 
longa, não temos idéia de quão longa será. Mais do que isso, não sabemos se haverá luz 
no fim do túnel ou mais escuridão.
É possível, em um sentido geral, traçar um padrão das crises brasileiras, a partir de 
1930. Em recente artigo na revista Senhor n.º 139, Álvaro Caropreso e Raimundo Pereira 
lembraram que as rupturas de 1930, 1945, 1954 e 1964 se caracterizaram pela derrubada 
de forças no poder, enquanto as de 1937 e 1968 representaram uma consolidação de forças 
hegemônicas que, tendo tomado o poder em coligação com outras, conseguem eliminá-las 
para ter as mãos livres e implantar seus modelos de Estado. Obviamente, a ruptura atual 
se aproxima do primeiro tipo. É possível, também, distinguir entre conjunturas decisivas no 
sentido de que quebram uma ordem anterior (1930, 1964), das que acumulam condições, 
assinalam derrotas ou vitórias parciaisno caminho da ruptura, como é o caso de 1954.
Entretanto, vistas sob a luz de um foco mais próximo, as diferentes conjunturas de 
crise têm um desenho próprio. Não só porque as forças sociais se posicionam de forma va-
riável, como ainda porque estas forças (classes ou instituições) se transformaram bastante, 
sobretudo nos últimos tempos. Para ficar apenas nos exemplos mais expressivos, lembre-
mos as profundas alterações internas e de inserção na área sócio-política que ocorreram 
na Igreja de um lado, e nas Forças Armadas de outro, nos últimos vinte anos.
Em termos simplificados, a conjuntura atual corresponde à crise do regime militar 
instaurado em 1964 e que se consolidou em 1968. Parece, assim, mais frutífero no recurso 
à história comparar a crise dos anos 1963-1964, que desemboca no movimento de 31 de 
42UNIDADE II O Estado no Capitalismo Monopolista e as Lutas de Classes
março, com a crise presente que desemboca... não sabemos ainda onde. Como se tem 
assinalado com freqüência, a ex-’” pressão “golpe de 1964” vale como recurso da fala 
corrente, mas não dá conta da manutenção histórica iniciada naquele ano. Sob a forma 
do golpe, ocorria na verdade uma contra-revolução. Com isto, não quero dizer que as 
premissas de uma revolução social estivessem maduras no período. Mas o certo é que 
a intensa mobilização das “camadas inferiores” (das classes sociais aos subalternos das 
Forças Armadas) foi abafada pela violência e, mais do que isto, pela construção de uma 
ordem autoritária-conservadora, com apoio em uma base social significativa.
Se, em termos simplificados, a crise de nossos dias é a crise do regime autoritário, 
instaurado -no país a partir de 1964 também em termos simplificados, a conjuntura dos 
anos 1962-1963 pode ser caracterizada, do ângulo político, pela crise do populismo. A 
aliança entre classes ou setores de classes — a burguesia nacional, parte da classe ope-
rária e da classe média — promovida por um Estado que passava por ser a síntese das 
aspirações do povo, entrou em parafuso por várias razões: 1) pelos limites estruturais e 
políticos do modelo de desenvolvimento autônomo, baseado no pressuposto de uma forte 
burguesia nacional. Isto era visível já no governo Juscelino quando o “nacionalismo” foi 
se convertendo em “desenvolvimento”, com a crescente internacionalização da economia 
brasileira, não obstante as desavenças entre o governo e o FMI; 2) pela mobilização das 
classes trabalhadoras, inclusive dos setores do campo, tradicionalmente sem vez, a que 
veio somar-se a base das Forças Armadas; 3) pela ação de grupos localizados no aparelho 
do Estado, promovendo as reformas de base ou estimulando o movimento popular, na 
tentativa de dar conteúdo radical ao esquema populista esvaziado de uma sustentação de 
classe.
Lembremos que a transição, ainda incerta, do modelo de desenvolvimento, no 
início da década de 60 em meio à instabilidade política, não se fez sem problema. Alguns 
deles são familiares aos nossos ouvidos; tendência à queda do PIB (Produto Interno Bruto), 
inflação crescente, pressão dos credores da dívida externa.
Do ângulo social, o movimento de 1964 agregou sob o toque do clarim quase todos 
os que tinham a perder, dos latifundiários improdutivos (lembram-se)?, à classe média 
assediada pela inflação e pela reforma urbana.
* * *
As crises se nutrem de dados objetivos: problemas econômicos, descalabro admi-
nistrativo, desastres políticos etc. Mas são também um fenômeno de consciência. Os seto-
res sociais afetados, de maneira e em graus muito diversos, vivem uma sensação penosa 
43UNIDADE II O Estado no Capitalismo Monopolista e as Lutas de Classes
de crise. Tomando o período de um ano, entre novembro de 1982 e novembro de 1983, 
por exemplo, a percepção é da rápida passagem de uma situação de esperança a uma 
profunda intranqüilidade. De certo modo, convergiam para definir a situação de esperança 
o jogo de esconde-esconde do governo e das expectativas da oposição. Do lado do go-
verno, não obstante as dificuldades no plano econômico-financeiro, havia todo um esforço 
para esconder o lixo debaixo do tapete. Com sua ironia pesada, hoje também em crise, o 
ministro Delfim desmentia, por exemplo, os boatos de que o Brasil iria pedir socorro ao FMI, 
a exemplo do México, um país encarado com o desdém que merecem os irresponsáveis. 
Do lado das oposições, parecia lógico concentrar-se na campanha eleitoral onde a crítica 
à política econômica entrava como ingrediente retórico, sem que se percebesse, com raras 
exceções, toda sua amplitude.
Em alguns meses após as eleições, como sabemos (e vivemos), os problemas 
econômico-financeiros do país ganharam o primeiro plano. A multidão formada pelos as-
salariados das mais variadas faixas acompanha a história de suspense da dívida externa, 
rói-se com a inflação descontrolada, com a ameaça de perda do emprego ou com a procura 
dele.
O quadro de nossos dias, com suas repercussões sociais, é muito diverso e infini-
tamente mais grave que o dos anos 1962-1963. A inflação e sua manipulação política foram 
elementos integrantes da crise que levou à derrubada de João Goulart. Basta lembrar como 
a inflação ajudou a deslocar a classe média e a estabelecer distâncias entre o governo e a 
massa trabalhadora. No seu conjunto, porém, os problemas vinculados à crise final de um 
modelo ocorriam quando outro — o do “desenvolvimento associado” — já se esboçava. A 
passagem se deu em uma conjuntura internacional de expansão das atividades econômi-
cas, o que aliás permitiu a implantação em poucos anos do novo modelo, com o recurso da 
compressão salarial pela violência.
Vê-se por aí que as diferenças entre as duas épocas não se medem apenas em 
termos quantitativos, segundo o vulto da dívida externa ou os índices de inflação. A crise 
atual se desdobra no interior de um organismo tomado por uma febre convulsiva sem que 
existam forças sociais em condições de impor profundas alterações no terreno econômico. 
Por isso as alternativas são medidas defensivas ou opções que se situam mais no plano do 
discurso do que da viabilidade imediata. Além disto (não é segredo para ninguém), a crise 
brasileira de nossos dias se desenrola em uma conjuntura internacional recessiva, da qual 
aliás faz parte.
44UNIDADE II O Estado no Capitalismo Monopolista e as Lutas de Classes
Embora não conheçamos todos os possíveis desdobramentos da crise, é certo que 
ela se distingue de qualquer outra na história brasileira pelas perspectivas de sua duração, 
assim como por suas conseqüências profundamente negativas no plano econômico e social.
Ainda não sabemos todo o significado da pauperização (juntando os órfãos do 
milagre e os órfãos da crise) e do desemprego, na vida cotidiana e na qualidade dos mo-
vimentos sociais. Lembremos, no plano da vida cotidiana, o problema da criminalidade. É 
evidente o interesse de setores reacionários — com ampla repercussão popular, é bom 
que se diga — em aterrorizar a população para fazer retornar a violência policial em larga 
escala e propor medidas como a pena de morte. Não obstante, trata-se de um problema 
real, de grandes proporções e que não se reduz à violência da polícia. Questão de todos os 
dias cujo enfrentamento ultrapassa a simples denúncia da “violência do sistema”, por mais 
verdadeira que ela seja.
Do ângulo dos movimentos sociais, a comparação ajuda a elucidar algumas coisa. 
As mobilizações de 1963-1964 caracterizaram-se por uma definição mais nítida de classe 
social ou de grupo; mobilização de setores operários, de diferentes segmentos sociais do 
campo, da base das Forças Armadas, dos estudantes. Não quero com isto dizer que não 
ocorressem manifestações de protesto do “povo em geral”, enquanto consumidor, tendo 
como alvo preferido os meios de transporte. Afinal de contas, os “quebra-quebras” fazem 
parte da história semi-oculta das grandes cidades brasileiras, desde pelo menos o início

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