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[D][PD2][42] Filosofia da Educação

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Filosofia da Educação - Fábio Costa Julião
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Complexo Educacional Campos Salles
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
Módulo 2
Filosofia na Antiguidade Clássica, no Mundo Medieval e a Educação
Objetivos específicos
 • Domínio dos conceitos e categorias propostas.
 • Construção de saberes através da argumentação e do diálogo.
 • Análise dos processos históricos e filosóficos dentro de uma perspectiva interdisciplinar.
 • Localizar as teorias filosóficas da Educação dentro de seus contextos específicos e dos 
impactos dessas ideias em nossa organização escolar ou formal e as perspectivas 
educacionais mais amplas.
 • Refletir sobre a organização social, discursos, práticas e possibilidades desta educação 
formal.
 • Relacionar o processo histórico à sociedade mais ampla que constituí este sistema formal 
de ensino a luz de suas necessidades articulando mudanças e permanências ao longo do 
tempo e das estruturas sociais.
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Temas abordados nesse módulo
INTRODUÇÃO .................................................................................................................................................................. 3
1. FILOSOFIA E EDUCAÇÃO, NO UNIVERSO GREGO AS PRIMEIRAS TRAMAS. ...................................... 3
1. 1 Sócrates e a Maiêutica .................................................................................................................................... 7
1. 2 Platão, a filosofia começa com a admiração da beleza e das ideias. .........................................10
1. 3 Aristóteles e sua pedagogia realista .......................................................................................................13
1. 4 A Paideia ........................................................................................................................................15
2. INFLUÊNCIAS DA EDUCAÇÃO CLÁSSICA NO MUNDO MEDIEVAL .......................................................... 17
CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................................................................22
MAPA MENTAL DESSE MÓDULO ..............................................................................................................................23
REFERÊNCIAS...............................................................................................................................................................23
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INTRODUÇÃO
Neste módulo iremos refletir acerca da Filosofia no período clássico e medieval, pensando especifi-
camente na contribuição de alguns filósofos em sua visão do processo educacional. 
1. FILOSOFIA E EDUCAÇÃO, NO UNIVERSO GREGO AS PRIMEIRAS 
TRAMAS.
No último módulo discutimos a importância da Filosofia, seu surgimento e especificidade; além 
disso, verificamos também sua relação com outras áreas do saber, particularmente as ciências hu-
manas e sociais, principalmente a antropologia social, a história e a sociologia, ao constatarmos, 
que o pensar filosófico e o pensar filosófico acerca da educação são indissociáveis das questões 
histórico-antropológicas e sociológicas igualmente significativas, que se impõem, por assim dizer, 
sobre o processo educacional, em particular, e o processo de escolarização, que em nossa civiliza-
ção, é ferramenta de processos mais amplos. A escolarização, deste modo, deve ser compreendida 
no que chamamos de educação formal e institucionalizada, com finalidades bem específicas, en-
quanto a educação, em um sentido filosófico mais geral, é o próprio processo de humanização, pelo 
qual adquirimos práticas e saberes voltados a nossa experiência concreta, vivida. Aqui é impossível 
desvencilharmos ambas as noções, de Educação e a noção antropológica de Cultura, devidamente 
problematizadas no primeiro módulo. 
Neste segundo módulo, continuaremos nosso percurso pela História da Filosofia, em específico, a 
Filosofia da Educação, refletindo juntos acerca da contribuição de alguns clássicos para o processo 
educacional e a importante categoria de Paideia, discutida por Platão (427 a.C – 348 a.C); ainda no 
mundo grego, com Sócrates (469 a.C – 399 a.C), iremos conhecer as primeiras relações entre filoso-
fia e educação, marco zero do pensamento da ciência pedagógica.
Historicamente podemos dividir a Antiguidade Clássica grega em alguns períodos históricos, à sa-
ber: o período micênico (sécs. XX a XII a.C), os tempos homéricos (sécs. XII a.C a VIII a.C), o período 
arcaico (VII a.C a VI a.C), o período clássico (sécs V e IV a.C) e o helenístico (sécs. III e II a.C). As rela-
ções entre filosofia e educação neste módulo devem ser compreendidas no período clássico, auge 
do desenvolvimento cultural, político e econômico do mundo grego. Sócrates, Platão e Aristóteles 
são representativos deste período, assim como os pensadores sofistas.
A partir destes dois ‘alicerces’ do pensamento Ocidental, Sócrates e Platão, e da noção de Paideia, 
cara ao entendimento da mentalidade do universo grego, iremos, de modo peripatético pelas he-
ranças gregas que atravessaram o mundo romano chegando até os primórdios do cristianismo, 
marcando de maneira indelével o período que chamamos de Idade Média ou período medieval.
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Peripatético, em muitas leituras do universo filosófico clássico, foi sinôni-
mo do pensamento de Aristóteles e de seus discípulos do famoso Liceu 
de Atenas; seu significado seria algo como caminhar, perambular, pas-
sear, aprender de maneira itinerante. Aristóteles (384 a.C – 322 a.C) famoso filósofo da cidade 
grega de Estagira foi um dos maiores pensadores do mundo grego e do mundo Ocidental, 
atuando como preceptor, isto é, mestre de Alexandre da Macedônia (356 a.C – 323 a.C), tam-
bém chamado de “O Grande”, por seu gênio militar e por também liderar a expansão macedô-
nica rumo a conquista do Império Persa, a maior potência militar de seu tempo.
Não podemos deixar de mencionar a importante participação dos pensadores sofistas, rivais dos fi-
lósofos Sócrates, Platão e Aristóteles. Coube a estes pensadores, no séc. V a. C. a função de justificar 
o ideal democrático. Tais pensadores atuaram no sentido de legitimar o pensamento das classes so-
ciais em ascensão, os comerciantes livres, assegurando-os a formação necessária para o exercício 
da política (Aranha, 2006). Aos sofistas também é reconhecido o importante papel de organização 
da gramática e dos importantes estudos de retórica, base da organização do Estado na Antigui-
dade Clássica. Dada a influência destas áreas na organização e formação de novos quadros que 
viessem a atuar no Estado, aos sofistas devemos também reconhecer a ‘paternidade’ do surgimento 
da chamada ‘educação clássica’, baseada por sua vez nas sete artes liberais destinadas aos ho-
mens livres ou cidadãos das poleis. Além de rivalidade com os filósofos, particularmente Sócrates 
e Platão, o pensamento sofista também representa um dos lados na grande ‘luta’ pedagógica que 
irá ser travada até meados da Idade Moderna, entre a própria filosofia e a retórica trabalhada pelos 
pensadores sofistas.
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As sete artes liberais eram dois grupos de disciplinas estudadas à princí-
pio, da era clássica até o alvorecer da ciência contemporânea no século 
XVIII e XIX. Tínhamos, deste modo, o ensino do trivium (retórica, lógica 
ou dialética e a gramática) e o quadrivium (música, aritmética, geometria e astronomia).
Para compreendermos melhor o impacto do pensamento destes filósofos, Platão e Aristóteles à 
princípio e depois Sócrates, principalmente, iremos primeiramente nos deter na importante pin-
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tura causarum cognitio (conhecimento das causas), mundialmente conhecido como “A escola de 
Atenas”de Rafael Sanzio (1483-1520). Neste afresco verificamos a persistência destes mestres no 
imaginário Ocidental:
Figura 1 – causarum cognitio ou ‘escola de Atenas’
Fonte: Rafael [Public domain], <a href=”https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Escola_de_Atenas_-_Vaticano_2.jpg”>from 
Wikimedia Commons</a> Acesso: 20 dez 2018.
Este afresco embora ilustre a Academia de Platão, representa na verdade, a continuidade no pen-
samento filosófico da era dos clássicos até alguns pensadores contemporâneos do famoso pintor 
renascentista Rafael Sanzio (1483-1520).
É importante destacarmos também que enquanto Platão, segurando sua obra “Timeu”, aponta para 
o alto, destacando o cerne de suas reflexões acerca do mundo das ideias ou a metafísica, em busca 
da verdade das coisas e dos seres, Aristóteles, famoso por ser o fundador da Lógica, seu discípulo, 
segura a obra “Ética a Nicômaco”, apontando para baixo ou para a esfera terrena, destacando em 
sua visão a análise do sensível e empírico, como veremos no destaque abaixo:
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Figura 2 – Destaque Platão Figura 3 – Destaque Aristóteles
Fonte: Rafael [Public domain], <a href=”https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Escola_de_Atenas_-_Vaticano_2.
jpg”>from Wikimedia Commons</a> Acesso: 20 dez 2018.
Figura 4 – Destaque reunido, Platão e Aristóteles.
Fonte: Rafael [Public domain], <a href=”https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Escola_de_Atenas_-_Vaticano_2.jpg”>from 
Wikimedia Commons</a> Acesso: 20 dez 2018.
Estas diferentes visões acerca do Homem e do lugar que ele ocupa proporcionaram e ainda pro-
porcionam reflexões e pesquisas acerca de nossa condição humana e das possibilidades de co-
nhecimento da realidade. Deste modo, Platão e Aristóteles ainda são importantes pensadores que 
marcaram para sempre o pensamento Ocidental, influenciando todas as Ciências e a maneira pela 
qual enxergamos a nós mesmos no Universo.
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Platão e Aristóteles, por sua vez, são fruto da revolução promovida pelo surgimento da Filosofia 
discutida no último módulo. Mas foi com seu mestre, Sócrates (ca. de 469 a.C – 399 a.C), que teve 
o início de uma maneira de pensar bem peculiar, que diferente da geração anterior de filósofos, os 
pré-socráticos, mais centrados na reflexão acerca da Natureza e do Universo, assistimos ao surgi-
mento de reflexões acerca da própria condição humana e das possibilidades que o conhecimen-
to filosófico engendra para a compreensão desta realidade inesgotável, sujeito do conhecimento e 
sujeito de investigação que é o Homem. A este segundo grande período da filosofia chamamos de 
antropocêntrico.
1. 1 Sócrates e a Maiêutica
Como já discutimos, Sócrates é considerado o fundador de uma linha de pensamento que perdura 
até os nossos dias, privilegiando questões humanas (antropológicas), rompendo com explicações 
míticas ou naturalistas típicas dos pré-socráticos.
O que sabemos sobre este pensador se baseia nos textos de dois de seus principais discípulos: Xe-
nofonte (430 a.C. – 355 a.C) e Platão (428 a.C – 348 a.C), pois nada deixou escrito.
Figura 5 – Busto de Sócrates. Museu do Louvre
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Socrates_Louvre.jpg. Acesso: 20 dez 2018.
Segundo estes pensadores, Sócrates refletia como o filósofo deveria agir, de maneira a interrogar aos 
homens sobre as coisas relativas ao que conheciam, para que estes respondessem a si mesmos sobre 
quem eram, o que pensavam e o que entendiam acerca de sua polis. Deste modo, de modo inédito 
até então, Sócrates interrogava seus contemporâneos em praça pública acerca de suas visões sobre 
o mundo. Nestes infindáveis diálogos, Sócrates demonstrava que aos homens, em sua esmagadora 
maioria, só restava o reino das opiniões ou mesmo do senso comum acerca daquilo que lhes era 
interrogado, caberia então ao filósofo, no diálogo com o senso comum ou as opiniões, chegar à ver-
dade, ao conhecimento último das coisas. Neste sentido, o primeiro passo para o conhecimento é o 
conhecimento de si mesmo: “Conhece-te a ti mesmo”. O autoconhecimento é fundamental para o 
conhecimento da natureza de outros homens, de seus valores e virtudes. A virtude, para Sócrates, é 
entender que “o homem virtuoso era aquele que não apenas agia, mas sabia porque agia.”
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Sócrates é uma figura única na história da filosofia, chegando até a ser 
considerado uma lenda por alguns estudiosos. Em sua época, todavia, 
Sócrates teria sido confundido com os sofistas, entretanto, fez forte opo-
sição a sua presença em praça pública, criticando-os por cobrarem pelos serviços prestados 
(as aulas que davam) e também discordando da maneira pela qual encaminhavam as discus-
sões, sem muitas preocupações com conceitos.
Outra importante informação, segundo os discípulos de Sócrates, Xenofonte e Platão, é que Sócrates 
se recusava a registrar seus diálogos. Sua recusa à escrita se daria devido a dois importantes fato-
res, o primeiro é aquele que entende que o velho mestre verificava que a interrogação, a pergunta 
primieva, não é a mesma para todos. O filósofo acreditava na especificidade de cada ser na busca 
de respostas, de suas respostas. E o segundo, discutido por muitos historiadores da filosofia, é que 
Sócrates também temia que seus escritos se tornassem dogmas a serem seguidos, contrariando a 
proposta inicial de busca do conhecimento.
O método socrático, portanto, é o diálogo. Em um diálogo deve haver uma construção dinâmica. 
Este diálogo se dá através da ironia. A ironia deveria encaminhar o diálogo para uma etapa supe-
rior, chamada de Maiêutica, ato de dar luz ou parto às ideias.
Figura 6 – Destaque de Sócrates na pintura causarum cognitio ou ‘escola de Atenas’
Fonte: Rafael [Public domain], <a href=”https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Escola_de_Atenas_-_Vaticano_2.jpg”>from 
Wikimedia Commons</a> Acesso: 20 dez 2018.
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O Conhece-te a ti mesmo, geralmente atribuído a Sócrates, também foi 
uma importante inscrição no templo de Apolo, na região de Delfos, Gré-
cia Antiga. Este templo, muito popular na época clássica, atraía todo o 
grego interessado em sacrificar em honra aos deuses, fazendo com que estes viessem a inter-
vir em seu Destino, modificando o e lhe trazendo glórias, fortuna e honra. 
Procurado pelos jovens de Atenas e de outras poleis gregas, Sócrates passava horas em praça pú-
blica discutindo e interpelando os transeuntes. Aqui o método socrático do diálogo e da ironia, a 
maiêutica, se faz mais presente, pois ao indagar as pessoas, extraia delas suas opiniões que eram 
levadas aos jovens que o seguiam e problematizavam tais opiniões. Sócrates é também célebre por 
entender que “o conhecimento nasce da ignorância” e da importância do reconhecimento desta 
para se alcançar a ciência das coisas. Uma de suas frases mais famosas demonstra esta preocupa-
ção com a verdade que o conhecimento poderia levar-nos: “Só sei que nada sei”. Para Sócrates, este 
é um princípio fundamental para se conhecer.
A maior parte dos conhecimentos discutidos por Sócrates, trazidos até nós por Platão e Xenofon-
te, tratavam de temas morais, tais como o amor, a piedade, a amizade, a coragem etc. Por ato de 
amor, por exemplo, é preciso descobrir o que é o amor. Deste modo, Sócrates chega até a definição 
do conceito.
Os trabalhos atribuídos a Sócrates podem vir a ser chamados de intelectualismo ético, pois identi-
fica aquilo que é virtude e conhecimento humanos (Aranha, 2006). Daí derivam as diversas conse-
quências para o universo da educação, tais como a ênfase no diálogo, na busca de respostas e do 
próprio conhecimento, capazes, por sua vez, de fundamentar a vida moral das pessoas e, em último 
caso, de uma sociedade. Daqui deriva o ‘perigo’que Sócrates representou para as elites conserva-
doras de seu tempo. Preso, o filósofo foi declarado ‘impiedoso e ateu’ pelas autoridades. Condenado 
ao exílio, o chamado ostracismo, Sócrates preferiu o suicídio.
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Figura 7 – Pintura ‘a morte de Sócrates’, de Jacques Louis David (1748-1825).
Fonte: <a title=”Jacques-Louis David [Public domain]” href=”https://commons.wikimedia.org/wiki/File:David_-_The_Death_of_
Socrates.jpg”><img width=”512” alt=”David - The Death of Socrates” src=”https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/
thumb/8/8c/David_-_The_Death_of_Socrates.jpg/512px-David_-_The_Death_of_Socrates.jpg”></a> Acesso 20 dez 2018
1. 2 Platão, a filosofia começa com a admiração da beleza e das ideias.
É considerado um dos principais discípulos de Sócrates. Platão ou Aristócles (428 a.C -347 a.C) foi 
um dos primeiros a escrever uma obra filosófica que expressa uma concepção de mundo racional. 
Sua influência é marcante na construção do pensamento teológico e filosófico cristão no período 
medieval.
Figura 8 – A Academia. Mosaico localizado nas ruínas de Pompéia.
Fonte: Por Desconhecido - http://www.departments.bucknell.edu/History/Carnegie/plato/academy.html, Domínio público, 
https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=5030083. Acesso 28 dez 2018.
Em Atenas, lecionou durante quase quarenta anos na Academia, um dos famosos ginásios de ensino 
equivalente ao nosso ensino superior. Em seus Diálogos, há muitas das discussões travadas com Só-
crates, seu mestre. No entanto, não devemos ver Platão como mera sombra de Sócrates, mas como 
um pensador original que marcou de maneira indelével o pensamento Ocidental. 
Segundo especialistas há duas principais correntes temáticas em Platão: a política e o conheci-
mento. Em sua obra, A República, base de seu pensamento político, o pensador tenta conceber 
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como a racionalidade pode ajudar a pensar na felicidade de sua polis. Isso se daria pelo equilíbrio 
entre o conhecimento e o discernimento, elementos importantíssimos para a organização política e 
cidadã. Nesta teoria, o filósofo tem papel central, pois estabelece as metas para serem atingidas, o 
“rei-filósofo”, administrando efetivamente a polis e assegurando a felicidade coletiva.
A concepção platônica de educação se relaciona, em parte, à sua concepção de conhecimento 
(epistemologia). Nesta concepção, a educação ocupa um papel central. Saber disciplinar o corpo 
e a alma, para que seja possível distinguir meras opiniões (a doxa), do conhecimento verdadeiro 
e autêntico (a epistheme) é o cerne do projeto de conhecimento ou de educação dos homens. As 
ideias surgem da diferenciação entre a aparência do conhecimento e a essência do conhecimento. 
É neste último ponto que se dá o conhecimento do real. É aqui que surge a importante Alegoria ou 
‘Mito’ da Caverna em Platão. A Alegoria da Caverna é o elemento central para a compreensão do 
conhecimento (epistheme).
A Alegoria da Caverna aparece no Livro VII de A República, onde o filósofo expõe, por meio de uma 
alegoria, sua ideia de conhecimento por meio da educação. A Alegoria consiste na explicação de 
que homens, acorrentados desde crianças, no fundo de uma caverna, enxergam apenas as sombras 
do conhecimento que são projetadas para o fundo da caverna devido a uma fogueira. Se um destes 
homens viesse a conseguir se soltar das pesadas correntes para contemplar, à luz do dia, os verda-
deiros seres que originariam tais sombras, teria acesso ao verdadeiro conhecimento e não apenas 
às aparências deste. Todavia, ao retornar, seus companheiros o tomariam como a um louco, não 
acreditando em suas palavras. 
Nesta alegoria há uma clara referência à teoria das ideias, a Metafísica, em que, explicando a si-
tuação hipotética de um grupo de prisioneiros acostumados a contemplar uma realidade que na 
verdade é a sombra dela, o filósofo Platão, baseado na vida e pensamento de Sócrates, exemplifica 
a diferença entre a opinião ou aparência das coisas e dos fenômenos e o conceito que devemos 
construir através do conhecimento, a essência dos objetos que apreendemos.
Duas das principais características desta alegoria, a epistemológica ou necessidade de conhecimen-
to e a política, que também não deixa de ser pedagógica, nos levam a refletir sobre a imperfeição 
da realidade, restrita ao mundo dos fenômenos e daquilo que apreendemos destes. Aqui, as coisas 
são meras aparências e estão em constante transformação. Esta dinâmica ou aquilo que o filosofo 
atenta a chamar de ‘sombras’ é a doxa ou opinião, sempre volúvel, mutável. Já aquele sujeito que 
se liberta dos grilhões nas cavernas e parte para apreender o mundo além dos fenômenos iniciais é 
o filósofo, sujeito do conhecimento. Liberto destes grilhões, este homem agora ultrapassa o mundo 
sensível e chega às ideias em si, o mundo das ideias, local das essências imutáveis e verdadeiras, 
local do conhecimento ou epistheme. Este último lugar também é o lugar dos conceitos, dos arqué-
tipos. Todas as ideias estão aqui, presentes de forma hierarquizada, e a ideia mais importante é a 
de Bem. E o Bem, é a mais alta perfeição, a Suprema Beleza, na qual os seres e as coisas também 
participam. Segundo especialistas no pensamento de Platão, esta Suprema Beleza consistiria em 
um Deus, o deus de Platão. Desta que é o cerne da Alegoria da Caverna chegamos a conclusão de 
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que o conhecimento é o fim último do filósofo. Chamamos este movimento de idealismo, pois as 
ideias ou conceitos são mais reais que as próprias coisas que o engendram.
A alegoria também serve como metáfora para a difícil tarefa de conhecer, demonstrando também 
que o filósofo deixa um conhecimento opinativo e passa ao conhecimento científico, utilizando de 
conceitos para a explanação do real. Já que conhece a realidade de forma distinta dos demais, este, 
o filósofo, tem a obrigação de orientar aos demais, ainda presos ao mundo das sombras ou das 
aparências da realidade. Segundo Maria Aranha (2006), é aqui que consiste o cerne do processo de 
conhecimento de Platão, decorrente da pergunta: “como influenciar aqueles que não veem?”. Ca-
beria ao filósofo ou neste caso, ao educador, orientar aos demais, dirigi-los, sendo a este reservada 
a tarefa de guiar aos homens e também agir politicamente. A cidade-ideal para Platão é aquela 
governada por cidadãos esclarecidos ao modo filosófico. Esta cidade, a Callipolis ou Cidade-Bela, 
Platão imagina uma cidade utópica, um modelo a ser seguido pelas cidades reais na busca da rea-
lização da felicidade de seus cidadãos.
A educação é primordial na condução dos negócios desta cidade, seja a ideal ou a real. Segun-
do Platão, até a idade de 20 anos, todo cidadão receberia a mesma formação. Aqui temos o que 
o filósofo chamaria de ‘alma de bronze’. Sua qualificação os levaria a trabalhar na agricultura ou 
artesanato e o comércio. Sua importante função seria a subsistência da Callipolis. Outros continua-
riam na escola, nos ginásios, por mais dez anos. Há um segundo corte, surgindo aqui os guerreiros 
ou aqueles que possuiriam uma ‘alma de prata’. Estes interromperiam seus estudos para a guar-
da da cidade, soldados encarregados em tempo integral para a defesa da polis ideal. Após estes 
dois importantes cortes e o surgimento dos estamentos responsáveis pela manutenção e defesa da 
Callipolis, temos os cidadãos que permaneceriam estudando e se refinando, estes filósofos seriam 
aqueles que possuiriam a ‘alma de ouro’, isto é, responsáveis por dialogar, criar, gerir e executar 
funções de cuidado da administração e jurisdição da polis. A este último estamento ideal de Platão 
caberia então o poder, pois estes teriam a ciência da política, marcada por uma formação conti-
nuada rumo ao saber.
Segundo vários especialistas em Platão, embora desconsiderea democracia de seu tempo, julgando 
a vulgar e volúvel, as ideias do filósofo para a política e a educação são vanguarda em sua época. 
Para Platão, é o Estado que assume a responsabilidade de ministrar a educação de seus cidadãos, 
inoculando nestes os valores e conhecimentos necessários para a sua viabilização, defesa e ges-
tão. O avanço social depende do mérito de cada um e isso está diretamente atrelado à educação 
formal que este hipotético cidadão receberia nos ginásios de sua polis. Outro ponto importante é 
que a mulher, diferente do que ocorria de maneira corrente no mundo grego, também receberia 
educação, principalmente se esta fosse filha de um cidadão livre da polis. A valorização da educa-
ção se dá pela defesa dos saberes necessários a formação dos cidadãos que se tornariam aqueles 
que possuem a ‘alma de ouro’. Estes saberes são, principalmente, a matemática, principalmente a 
aritmética e a geometria, a astronomia e a dialética, excluindo a poesia e sentimentos triviais, que 
afastariam os cidadãos de seu caminho rumo ao aprendizado. O bem falar e o escrever, embora 
importantes, são secundários nesta formação, pois seria nessa concepção educacional mais impor-
tante do que convencer seu interlocutor, apreender a verdade das coisas, seu sentido real e lógico.
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A Callipolis de Platão representa um modelo de cidade meritocrática e voltada para o saber, bem 
distinta das poleis reais, baseadas por sua vez ou em tiranias ou em democracias. Aqui governariam 
os mais sábios, o que chamamos de sofocracia ou poder dos sábios: “os filósofos se tornam reis, ou 
que os reis se tornem filósofos”, diria Platão. Temos aqui uma formação científica-filosófica cara ao 
pensamento do filósofo e que irá influenciar muitos estadistas e pensadores ao longo dos séculos.
1. 3 Aristóteles e sua pedagogia realista
Aristóteles nasceu no norte da Grécia antiga, em Estagira, mas foi em Atenas, com seu mestre 
Platão, que ganha notoriedade. Durante vinte anos frequenta a Academia. Ao se desentender com 
Platão, funda seu próprio ginásio, o Liceu.
Figura 9 – Busto de Aristóteles.
Fonte: Por Copy of Lysippus - Jastrow (2006), Domínio público, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=5459574. 
Acesso 28 dez 2018.
Saiba mais
O nome Liceu, imortalizado pelos trabalhos de investigação de Aristó-
teles, tem esse nome pois foi fundado em um ginásio dedicado a Apolo 
Lício, em um local chamado peripatos. Daí o surgimento também do ter-
mo peripatético. Segundo especialistas em Aristóteles, o filósofo andava por estes aposentos 
e pelo jardim do Liceu, onde também lecionava.
Superando as ideias de seu mestre, Aristóteles busca não apenas no mundo das ideias a essência 
das coisas ou dos conceitos, se atendo principalmente a observação dos fenômenos enquanto estes 
ocorrem, daí seu caráter mais empírico e menos intelectualista. 
Deste modo, as diferenças entre Platão e Aristóteles também devem ser pensadas em termos peda-
gógicos, pois “o homem, um animal político e social [...] que deseja naturalmente conhecer”.
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A natureza em Aristóteles é um mundo real e verdadeiro cuja essência é a multiplicidade e a mu-
tabilidade. Daqui deriva as preocupações aristotélicas com o movimento e a forma. Tudo o que 
vemos, pegamos e sentimos é válido para a compreensão da realidade.
A investigação filosófica deve partir, segundo Aristóteles, da observação dos inúmeros seres indivi-
duais, concretos, que são captados por nossos inúmeros sentidos, e nos conduzir até as estruturas 
essenciais de cada ser ou fenômeno.
O conhecimento da essência de um ser é assim obtido a partir do conhecimento do particular até 
alcançar o universal.
No campo das investigações sobre o ser (ontologia), o filósofo resolveu a aparente contradição pla-
tônica entre o caráter estático ou dinâmico do ser. Aristóteles inclui aqui as famosas quatro causas 
fundamentais para a resolução desta aparente contradição: 1) A causa material (daquilo que é feito 
algo, por exemplo, a argila). 2) A causa formal (a coisa mesma - vaso). 3) A causa motora ou efi-
ciente (o trabalho de transformação) e, finalmente, 4) A causa final (aquilo para o qual foi feita). A 
causa final é o verdadeiro motivo pela qual uma matéria é transformada, adquirindo sua finalidade. 
Deste modo, sua finalidade não estaria inscrita em alguma essência metafísica, mas no próprio pro-
cesso de transformação com fins de tornar se algo.
O pensamento aristotélico sobre as causas se estende por toda a natureza. Para concluir seu pen-
samento sobre mudanças e permanências temos os conceitos de ato e de potência. A potência cor-
responde a uma coisa que tende a ser outra, tal como uma semente que se tornará árvore. Já o ato 
é algo que é realizado, tal qual uma árvore que é semente em ato. Todas as coisas carregam em si 
a potência de uma outra. Deste modo, transformações e permanências que observamos nos seres 
correspondem ao próprio movimento da mudança, de passagem da potência ao ato.
A Natureza Humana é social, se manifestando através da sociedade que é ação política. Também 
somos racionais mas não sabemos determinar, desde o nascimento, o que é certo e o que é errado. 
Surge aqui o tema da ética, indissociável da educação dos homens.
O tema da Ética aparece nesta discussão sendo central no pensamento aristotélico. Para este pensa-
dor, a ética é uma ciência prática, que deve ser ensinada, pois a Virtude não é natural aos homens, 
sendo adquirida por meio da educação. Nossa atitude racional deve trazer as virtudes individuais à 
tona, torna-las, via educação, deste modo, coletivas.
A ética é a busca da felicidade individual pela manifestação das virtudes enquanto a Política é a 
manifestação ética para a vida coletiva da nação. Deste modo, é tarefa da política, investigar e des-
cobrir as formas de governo e instituições necessárias para garantir o bem e a felicidade pública. 
Na educação dos mais jovens isso significa a busca da materialização da Ética e da própria política, 
pois segundo Aristóteles: “aqueles que educam bem as crianças deveriam ser mais louvados que 
aqueles que a geram. Pois enquanto esses últimos lhes dão a vida, os primeiros propiciam a sabe-
doria do bom viver”. 
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A ação da vontade política é a ação pedagógica; esta ação é exercitada pela repetição, que leva ao 
hábito, deste modo, só é virtuoso o cidadão que tem o hábito da virtude. Aqui a imitação se torna 
o principal instrumento da criança nesse processo. Ao termos adultos virtuosos e voltados para o 
bem comum, teremos crianças educadas nestes princípios. A criança é assim educada repetindo in-
definidamente os atos virtuosos dos adultos, adquirindo como isso, uma segunda natureza, social e 
política. A aprendizagem das virtudes se dá pela exclusão daquilo que Aristóteles entende por vícios, 
extremos ou falta de virtudes. Em sua obra, A Política, Aristóteles define as condições de uma boa 
vida em sociedade, trabalhando de forma concomitante, sua ideia de educação dos cidadãos. De 
acordo com sua época, excluí da vida cívica trabalhadores braçais, mulheres, estrangeiros e escra-
vos, deixando esta aos cidadãos livres, que gozariam da vida com um ócio positivo, se dedicando 
às atividades políticas necessárias à manutenção da boa vida para todos. Aos demais, resta as artes 
mecânicas ou simplesmente, o trabalho braçal para a subsistência da polis.
A influencia de Aristóteles se manteve por toda a era romana, chegando até a Idade Média cristã 
e influenciando o mundo medieval e o inicio da modernidade. Suas ideias de formação, ligada à 
política e manutenção da sociedade ainda estão presentes até os nossos dias.
1. 4 A Paideia
Verificamos até o momento neste módulo o pensamento filosófico e educacional de alguns pilares 
do pensamento Ocidental,à saber, Sócrates, Platão e Aristóteles. Mas, afinal? De onde vieram as 
ideias que alimentaram o pensar destes filósofos? Segundo o historiador, filólogo e filósofo Werner 
Jaeger (1888-1961), o pensamento grego, a vida concreta que levavam e suas concepções de hu-
manidade e de educação dos seres humanos, influenciaram a vida e o pensamento destes grandes 
filósofos. Deste modo, não podemos dissociar a existência destes pensadores e de suas ideias do 
mundo concreto e do imaginário da Grécia antiga. Ainda de acordo com Werner Jaeger (1995), em 
sua Introdução do livro Paideia, verificamos que:
“Não se pode evitar o emprego de expressões modernas como civilização, cultura, 
tradição, literatura ou educação; nenhuma delas, porém, coincide realmente 
com que os gregos entendiam por paideia. Cada um daqueles termos se limita a 
exprimir um aspecto daquele conceito global e, para abranger o campo total do 
conceito grego, teríamos de emprega-los todos de uma só vez”.
Paideia, deste modo, é um conceito que para nós que diz respeito a forma pela qual os seres huma-
nos seriam educados, mas para os gregos antigos tinha mais relação com uma ideia de humano, de 
sua formação integral, de formação de um grego típico, ideal, que elevaria seus espíritos e corpos 
rumo à perfeição buscada pelos antigos, educar, deste modo, é criar o homem perfeito: “mente sã, 
corpo são”. 
A palavra surge, com estes contornos, por volta do século V a. C., na era clássica, representando um 
ideal de formação que foi trabalhado de forma diversa pelos diferentes pensadores aqui discutidos. 
A origem da palavra deve ser ligada ao termo paidós, que significa criança. Muitas destas crianças, 
quando filhas de aristocratas ou de grandes comerciantes, tinham por acompanhantes em suas ta-
refas cotidianas, seus escravos, que logo passariam a ser chamados de paidagogos. Com o tempo o 
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termo foi se sofisticando e estes paidagogos começaram a serem vistos como aqueles que levavam 
as crianças livres rumo ao saber, ao conhecimento, tal qual professores no mundo contemporâneo. 
Aqui encontramos os elos que ligam os primeiros saberes filosóficos e educadores àquilo que con-
temporaneamente chamamos, à grosso modo, de pedagogia.
Todavia, é importante lembrarmos que a Grécia antiga era uma sociedade desigual do ponto de 
vista econômico e também havia diferenças significativas entre os gêneros e entre gregos e estran-
geiros, homens livres e escravos. Isto implica em dizer que embora existisse um ideal de formação 
integral de todos os gregos, nem todos tinham acesso prático a este ideal. Exemplificando de uma 
forma mais clara, apenas homens livres e seus filhos tinham acesso a formação integral por meio 
das artes liberais, destinadas aos homens e futuros cidadãos e proprietários. Estes homens goza-
vam da prerrogativa de serem guerreiros, cidadãos e políticos, de exercerem o ócio necessário para 
a plena realização destas atividades. Mulheres, mesmo as mais ricas, não tinham pleno acesso à 
escolarização, tampouco estrangeiros e seus filhos, homens pobres livres e, principalmente, escra-
vos. A estes últimos, restava aspectos menos cruciais desta paideia, as chamadas artes mecânicas, 
destinadas aos mais pobres ‘brutos’, dominados pelo labor. 
A influência dos ideais filosóficos e pedagógicos dos antigos gregos não ficaram restritos à época 
clássica grega, estando presentes na formação do mundo romano e na sua expansão, resultando 
no Império que estes vieram a construir. Em Roma antiga e a seguir, em seu Império, o termo pai-
deia será parcialmente substituído pela ideia de Humanitas, que carrega em si os mesmos sentidos 
que o original grego, destoando deste na ênfase da aprendizagem dos clássicos, principalmente da 
literatura, daí a ideia de humanidades ou de ciências humanas.
Pense comigo
A distinção entre ócio e labor foi crucial nas sociedades da Antiguidade 
Clássica, tanto na Grécia como em Roma antiga, esta distinção era uti-
lizada para separar os cidadãos livres, membros do Estado e portadores 
de plenos direitos, dos demais, responsáveis pela subsistência e reprodução do corpo político 
e responsáveis pelo trabalho braçal. A influência destas ideias permaneceu até o alvorecer da 
era moderna, só sendo superado pela valorização do trabalho levada à cabo pelas Reformas 
Protestantes do séc. XVI e XVII.
Só recentemente, com o Iluminismo no século XVIII e as revoluções burguesas e suas consequências 
na educação, no século XIX, temos a realização parcial da proposta inicial pensada e vivida pelos 
antigos gregos, isto é, a de estender, cada vez mais, a esmagadora maioria da população, a for-
mação humanística e o patrimônio científico, cultural e artístico comuns, pelos quais todos traba-
lhamos, em um novo ideal de formação universal muito próximo ao antigo ideal da paideia grega.
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2. INFLUÊNCIAS DA EDUCAÇÃO CLÁSSICA NO MUNDO MEDIEVAL
A Sociedade Medieval surge do fim do Império Romano do Ocidente no séc V. Embora não seja o 
objetivo deste módulo, é importante lembrarmos que com o fim do Império Romano, em especial, 
sua parte Ocidental, o mundo clássico deixa de existir, surgindo aqui o que alguns historiadores 
chamam de período medieval ou Idade Média. A herança greco romana agora fica mais restrita ao 
Estado romano sobrevivente, em Constantinopla, sede do Império Romano do Oriente ou ‘Bizantino’. 
No Ocidente, com o esfacelamento das instituições e do próprio Estado romano, cabe à Igreja, a 
manutenção do conhecimento e das tradições da era clássica. Por isso é importante ressaltarmos o 
papel da Igreja neste período de consolidação do mundo cristão à sombra das influências da pai-
deia helênica; temos aqui uma paideia cristã.
Figura 10 – Iluminura do séc. XIII: religiosos, cavaleiros e trabalhadores representando as três classes.
Fonte: <a title=”UnknownUnknown author. [Public domain], via Wikimedia Commons” src=”https://upload.wikimedia.org/
wikipedia/commons/thumb/c/cd/Cleric-Knight-Workman.jpg/512px-Cleric-Knight-Workman.jpg”></a> Acesso 10 jan 2019
Com a entrada de populações germânicas, seja por migrações pacíficas ou por invasões e conflitos 
cruentos, no antigo Império Romano, temos a formação de uma nova sociedade, romana e ger-
mânica, a sociedade medieval de organização feudal. O termo feudalismo diz respeito a uma nova 
forma de organização social, centrada na terra dominada por um nobre, que é servido e possuí 
camponeses para seu aproveitamento. Deste modo, a sociedade feudal é comumente dividida em 
três grandes estamentos: nobres, clero e servos camponeses, cabendo aos últimos o trabalho pesa-
do, o labor do sustento dos dois outros estamentos sociais.
Vejamos um relato do período, do religioso Adalberto de Laon (ca. 947-1030), que justifica, exem-
plifica e nos traz uma tradição do pensamento eclesiástico já consolidada em relação as divisões 
sociais. Estas não seriam obra da divisão do trabalho ou mesmo do acesso a educação formal, mas 
sim, obra de ‘deus’. Temos aqui esta sociedade feudal:
“A ordem eclesiástica forma um corpo só, mas a divisão da sociedade compreende 
três ordens. A lei humana distingue duas condições. O nobre e o não-livre não são 
governados por uma lei idêntica. Os nobres são os guerreiros, os protetores das 
igrejas. Defendem a todos os homens do povo, grandes e modestos, e também a 
si mesmos. A outra classe é a dos não-livres. Esta desgraçada raça nada possui sem 
sofrimento. Provisões, vestimentas são fornecidas para todos pelos não-livres, pois 
nenhum homem livre é capaz de viver sem eles. Por tanto a cidade de Deus, que 
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se crê única, está dividida em três ordens: uns rezam, outros combatem e outros 
trabalham. Estas três ordens vivem juntas e não suportam uma separação. Os 
serviços de um permitem os trabalhosdos outros dois. Cada um, alternativamente, 
presta seu apoio a todos.”  ADALBERTO, bispo de Laon, na França, nos finais do 
século 10. In: BOUTRUCHE, R. Señorio y Feudalismo. Madri: Sigilo Veintiuno, 1972.
Devido ao esfacelamento do Estado romano surgem reinos de duração efêmera, são os chamados reinos 
‘bárbaros’ germânicos. Estes reinos germânicos, excetuando o Império Carolingio (800-924), dividem-se 
em uma miríade de feudos distintos e muitas vezes rivais. A sociedade medieval de organização feudal é 
a síntese dos grupos germânicos e romanos, sob influência do cristianismo, a principal força do período.
Presentes em todos os níveis de uma sociedade profundamente tomada pela religiosidade, é a Igre-
ja que fomenta os valores sociais, educando, muitas vezes, a passividade, devido a manutenção de 
seu poder, que é a um só tempo político e religioso. Quem exerce o braço armado do poder político 
são os senhores feudais, os nobres.
Com o tempo, em um mundo onde a esmagadora maioria da população era analfabeta, igrejas, 
mosteiros, abadias vieram a se converter nos únicos – e pouquíssimos, centros de uma cultura le-
trada herdeira do patrimônio grego-romano.
O vasto poder religioso da Igreja medieval, entretanto, não bastava a si próprio e foi na Filosofia que 
buscaram suporte intelectual. É neste período que encontramos um amálgama único na história da 
filosofia, de união entre Razão e fé, sendo a primeira um elemento que justifica a ação da segunda. 
Nesse longo período poderíamos citar inúmeros religiosos-filósofos, mas destacaremos os dois 
principais: Agostinho de Hipona (354-430) e Tomás de Aquino (1225-1274), ambos santos canoniza-
dos pela Igreja Católica Romana, herdeira da Igreja medieval.
Ambos influenciados pela filosofia greco-romana lançaram as bases da compreensão racional da 
fé. Surgia aqui a Teologia cristã. Em Agostinho de Hipona, por exemplo, encontramos uma enorme 
influência platônica; já em Tomás de Aquino é grande a marca aristotélica. O primeiro atuou em um 
momento de crise da antiga sociedade romana, enquanto o segundo viveu no auge do poder da 
Igreja medieval sobre a sociedade feudal.
Deste modo, as soluções filosóficas para a questão do ser e de sua educação, contaram com a me-
diação da doutrina religiosa, não podendo ser separada desta.
Em Agostinho de Hipona, influenciado grandemente pela obra de Platão, encontramos a chamada 
patrística. Em síntese, poderíamos afirmar que o objetivo da patrística era defender os ideais cris-
tãos e converter os povos pagãos ao cristianismo romano. Assim, os padres e pensadores da Igreja, 
como Agostinho, por exemplo, harmonizaram as crenças cristãs com conceitos platônicos e tam-
bém retiraram alguns elementos contrários à sua fé.
Segundo Agostinho, o homem é considerado sede de Deus, que mora em seu interior. À medida que 
o ser humano investiga a si mesmo investiga a Deus. A verdade se encontra dentro de cada cristão 
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(soliloquium) e o limite do homem era sua comunhão com Deus. Mesmo não podendo entender 
a Deus, os homens devem “crer para compreender” suas verdades. Agostinho também nos brindou 
com suas reflexões acerca do problema do mal e de sua presença no mundo. Em suas visões, o mal 
é colocado do ponto de vista metafísico, se manifestando em seres inferiores comparados a Deus. 
O mal nasce da má vontade destes seres, que do ponto de vista moral, se mantém afastados de 
Deus. Do ponto de vista físico, o mal é resultado do pecado original, mas deve ser visto como um 
veículo para a purificação e, finalmente, a salvação da alma. A liberdade é um bem dado por Deus 
ao homem e, este, se desejar, deve buscar a bondade por meio de sua razão.
A alma, criada por Deus, habita o corpo humano e deve-se buscar a perfeição, voltando-se a Deus, 
até que se possa, através da graça, alcançar a Deus, reencontrando-o. Vejamos um fragmento do 
pensamento de Agostinho de Hipona:
“Se não credes, não entendereis”; certamente não diria isto se não julgasse 
necessário pôr uma diferença entre duas coisas. Portanto, creio tudo o que entendo, 
mas nem tudo que creio também entendo.
AGOSTINHO, De magistro. São Paulo: Abril cultural, 1973. Coleção Os Pensadores.
Até o séc. XIII, quando começa a formação das universidades (universitas), as escolas tinham por 
missão a transmissão dos ensinamentos religiosos. Só nos séculos XII e XIII formaram-se as primei-
ras universidades, com consequências notáveis, como a construção de uma classe de intelectuais. 
Estas universidades, em seus primórdios, atendiam quase que exclusivamente, membros do Clero 
e da Nobreza. Apenas com o crescimento econômico e importância social da burguesia é que seus 
membros puderam frequentar as universidades medievais, igualando, ao menos em termos de co-
nhecimento, o poder dos clérigos e da nobreza feudal.
Essa vida cultural efervescente não surgiu do nada, ela só foi possível devido a ação dos monges 
copistas e de outras ordens monacais, ora presente nas universidades medievais, ora nos mostei-
ros, servindo para manter acesa várias das contribuições dos antigos gregos e romanos. São Bento 
(480-547), por exemplo, idealizou a sentença ora et labora (ora e trabalha) que estimulou esse 
trabalho de registro dos chamados monges copistas. Estes religiosos foram fundamentais para o 
registro, cuidado e compilação de muitos tratados, leis e reflexões dos antigos pensadores gregos e 
romanos, guardando os assim para a posteridade cristã.
Figura 11 – Monge copista trabalhando
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/00/Escribano.jpg. Acesso 10 jan 2019.
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As autoridades da Igreja buscavam em Platão sabedoria e discernimento. Já os acadêmicos medie-
vais tinham em Aristóteles sua principal influência.
A influência aristotélica fez surgir a escolástica. Muitos foram os pensadores medievais influencia-
dos pela obra de Aristóteles, mas foi em Tomás de Aquino que se fez mais presente tal influência. 
No seu trabalho suma teológica, na qual apresenta argumentos comprovando a existência de Deus. 
Se em Agostinho temos a máxima “crer para entender”, que é a valorização da razão metafísica, em 
Tomás de Aquino importa “entender para crer”, fundamentado na lógica aristotélica. Para Tomás de 
Aquino, fé e razão não se opõem, pois ambas derivam de Deus. Elas são distintas porém integradas 
por ambas serem oriundas de Deus. Em Tomás de Aquino verificamos também uma certa “divisão” 
das ciências. A filosofia trata de questões da verdade natural, enquanto a Teologia trata do universo 
sobrenatural. São verdades que não se contradizem ou confundem. A filosofia auxilia na compreen-
são da teologia e nela se conclui:
“Tomás de Aquino considera que certas verdades relativas a Deus não podem ser 
demonstradas unicamente pela razão, tais como o dogma da trindade; outras, 
porém, são suscetíveis de receber uma demonstração racional, como a existência 
de Deus. Para ilustrar esse ponto, ele compôs, a partir de elementos da filosofia 
aristotélica, um conjunto de cinco provas da existência de Deus. Em todas elas, 
parte-se da observação da realidade sensível que coloca um problema e em pôr 
em evidência uma série causal que tem por base essa realidade e a Deus como 
vértice.” 
PEPIN, J. santo Tomás e a filosofia no século XIII. In: CHATELET, F. A filosofia medieval. 
Rio de Janeiro: Zahar, 1983. p. 158. 
A educação medieval em seus primórdios era para a esmagadora maioria das pessoas um sonho 
distante. Apenas alguns membros do Clero tinham acesso a uma formação integral e formal, tal 
qual na antiga paideia. Aos nobres restavam a educação de cavaleiro, educação para a guerra, 
onde iniciavam muito cedo o aprendizado para a guerra e a obediência ao seu senhor e a Igreja. Pa-
jens, escudeiros e, finalmente, cavaleiros medievais, essa era a trajetória neste micro cosmo de vio-
lência e de fé. Estesjovens e também mulheres que frequentavam as cortes recebiam também uma 
educação cortesã. Esta última era como uma série de procedimentos de boas maneiras, isto é, de 
como se comportar diante dos demais membros da nobreza e do senhor feudal. Ambas, educação 
de cavaleiro e a cortesã representam uma ética bem típica da Idade Média ou período medieval, 
que consistia em uma série de aprendizagens informais, pois não se dava em ambientes institucio-
nalmente preparados para esse fim, mas importantíssimas para os relacionamentos interpessoais, 
que também eram relacionamentos de poder pessoal e de mando. Saber trafegar neste universo 
poderia ser a garantia de obter algum tipo de sucesso na corte, no amor e também na guerra.
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Figura 12 – Educação de um futuro cavaleiro
Fonte: “https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Meister_der_Manessischen_Liederhandschrift_001.jpg”><img width=”256” 
alt=”Meister der Manessischen Liederhandschrift 001” src=”https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/1/16/
Meister_der_Manessischen_Liederhandschrift_001.jpg/256px-Meister_der_Manessischen_Liederhandschrift_001.jpg”></a>. 
Acesso 10 jan 2019.
Também havia uma educação formal, inicialmente quase que exclusividade dos membros da Igreja, 
passa a incorporar setores da nobreza e, finalmente, da burguesia em ascensão. Esta educação for-
mal era baseada nas antigas sete artes liberais, de origem greco romana, exclusivíssima, pois era 
voltada aos setores dominantes da sociedade de sua época. Com o desenvolvimento econômico de 
regiões que se tornaram, em grande parte, autônomas em relação aos feudos, surge a necessidade 
de uma educação para o trabalho. Esta educação era chamada de artes mecânicas ou também 
de aprendizagem dos ofícios, voltados a trabalhadores braçais e seus filhos, artesãos e pequenos 
comerciantes, que precisavam de uma aprendizagem formal, porém prática, para tocar seus negó-
cios e atividades no dia a dia.
Atenção
É importantíssimo compreendermos que se para muitos dos contempo-
râneos há um enorme fosso e contradição ao ‘misturar’ fé e ciência, fé 
e filosofia, esse fosso não existia no mundo medieval, sendo a filosofia o 
elemento central para a existência de Deus e guia moral para a ação cotidiana do cristão. Ao 
insistirmos em aplicar nossa lógica em outro período histórico, cometeremos um erro grasso 
chamado de anacronismo, que trata, por sua vez, de impor a outras épocas e, logo, culturas e 
sociedades, valores que são nossos e estranhos ao período observado.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste modulo retomamos junto a você caríssimo estudante a importância da Filosofia em um vas-
to período histórico marcado pela influência do pensamento greco romano, à princípio o período 
clássico ou Antiguidade Clássica, seguido pelo período de maior influência do pensamento grego 
na formação do mundo Ocidental, que é a época medieval ou Idade Média; realizamos uma breve 
periodização de sua longa e complexa História; estabelecemos relações interdisciplinares com as 
ciências humanas ao trazer à tona o importante conceito de Paideia, e, discutimos acerca da edu-
cação do período, verificando suas contradições e suas práticas, pois ao entrar em contato com 
essas sociedades, de tempos históricos distintos, verificamos seus desejos de uma educação uni-
versalista, mas que na prática, devido a contradições sociais e a divisão do trabalho, entendemos 
que apenas as elites políticas, intelectuais e econômicas tinham acesso, de fato, a educação formal 
integral, cabendo a grupos crescentes de trabalhadores, mas também de mulheres, estrangeiros 
e escravos, uma educação residual, inferior, que ora os preparava para a sua condição social e de 
gênero ou, simplesmente, os condicionava ao mundo do trabalho.
No próximo módulo iremos retomar a filosofia da educação e sua trajetória, assinalando a crise do 
modelo clássico do conhecimento com o surgimento da modernidade e da contemporaneidade 
com outras formas de se pensar o fenômeno educacional e sua realização.
Até lá e obrigado pela companhia neste passeio pelo universo inesgotável das ideias que a Filosofia 
engendra.
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MAPA MENTAL DESSE MÓDULO
Filosofia da 
Educação - 
Módulo II
a Paideia
filosofia 
clássica - 
Sócrates, 
Platão e 
Aristóteles; 
os sofistas
as sete artes liberais 
e a educação para 
o trabalho (artes 
mecânicas)
pensamento clássico 
e suas influências
Principais categorias deste mó-
dulo -
Maiêutica socrática.
doxa e epistheme platônica.
alegoria ou 'mito' da caverna.
universais aristotélicos.
sociedade e cultura medievais
filosofia-teologia medievais.
REFERÊNCIAS
AGOSTINHO, De magistro. São Paulo: Abril cultural, 1973. (Coleção Os Pensadores).
ARANHA, Maria Lúcia de A.; MARTINS, Maria H. P. Temas de Filosofia. São Paulo: Moderna, 1992.
ARANHA, Maria L. de A. Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna, 1996.
_______________, Maria L. de A. História da Educação Geral e do Brasil. São Paulo: Moderna, 2006.
BOUTRUCHE, R. Señorio y Feudalismo. Madri: Sigilo Veintiuno, 1972.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.
JAEGER, Werner. Paideia: A formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
PEPIN, J. santo Tomás e a filosofia no século XIII. In: CHATELET, F. A filosofia medieval. Rio de Janeiro: 
Zahar, 1983. p. 158.

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