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Treinamento responsável Ser um coach especializado trata-se de melhorar o nível de condicionamento físico e proteger a saúde dos seus clientes. Manter os clientes em segurança envolve conhecer os pontos de desempenho dos movimentos e ser capaz de identificar e corrigir violações. Contudo, a segurança do cliente também depende de múltiplos fatores logísticos, como programação, necessidades específicas para populações especiais, organização do equipamento e a representação fiel das credenciais do treinador. O objetivo deste artigo é introduzir os Treinadores de Nível 1 à responsabilidade de treinar os outros, enquanto ganham experiência. Eliminar o risco de rabdomiólise dos clientes Embora seja rara, a rabdomiólise pode se desenvolver a partir de exercícios físicos de alta intensidade ou de grande volume, incluindo o CrossFit ou qualquer outro processo que danifique as células musculares. A rabdomiólise é uma condição médica que pode resultar do rompimento do tecido muscular e da liberação do conteúdo das células musculares na corrente sanguínea. Esse processo pode danificar os rins e levar à insuficiência renal ou até mesmo à morte, em casos raros. A rabdomiólise é diagnosticada quando um paciente com histórico relevante apresenta um nível elevado de creatina quinase, também conhecida como CK ou CPK. Como é mais fácil medir o nível de CPK no sangue, em vez do nível de mioglobina, a creatina quinase costuma ser utilizada como indício de rabdomiólise, embora a mioglobina seja a responsável pelos danos. O tratamento consiste em quantidades generosas de fluidos intravenosos para diluir e remover a mioglobina através dos rins. Em situações mais graves, os pacientes podem necessitar de diálise enquanto os rins se recuperam. Casos fatais, embora sejam raros, podem ocorrer quando a insuficiência renal causa desequilíbrios nos eletrólitos normais, podendo resultar em arritmia cardíaca. A maioria dos pacientes se recupera completamente após a reidratação com fluidos intravenosos em algum tempo desde algumas horas a até uma semana, dependendo da gravidade. Existem algumas formas de o treinador de CrossFit proteger os atletas contra a rabdomiólise: • Siga a diretriz de mecânica, consistência, intensidade. • Conheça os movimentos que possuem uma taxa mais elevada de incidência de rabdomiólise (aqueles que prolongam a contração excêntrica), e esteja atento ao volume total programado para esses exercícios. • Adapte os treinos para os clientes conforme apropriado. • Evite a adaptação progressiva. • Eduque os clientes sobre os sintomas da rabdomiólise e sobre quando é apropriado buscar cuidados médicos. Seguir a diretriz de mecânica-consistência-intensidade é a melhor forma de preparar o atleta para o sucesso em longo prazo, além de ser uma forma de mitigar as chances de desenvolver a rabdomiólise (e outras lesões). Aumentos lentos e graduais da intensidade e do volume permitem que o corpo se aclimatize aos exercícios executados em alta intensidade e com grande volume. Mesmo os atletas que demonstram uma boa mecânica precisam de um aumento gradual na intensidade e no volume. Ao trabalhar com atletas iniciantes, os treinadores devem se focar no uso de cargas modestas, redução do volume e coaching das técnicas para o atleta. Em box afiliados onde existem aulas de “fundamentos” ou “on-ramp” que duram algumas semanas, os atletas ainda assim devem passar por fortes adaptações, além do período introdutório, para que tenham tempo suficiente de se acostumarem com o treinamento do CrossFit. Se não houver aulas à parte para iniciantes, trate os treinos como sessões técnicas para os novos atletas; concentre-se na mecânica, em vez da velocidade ou carga. Não existe nenhum protocolo estabelecido sobre a frequência de aumento da intensidade, contudo, vale mais pecar pela precaução e trabalhar com vistas a um condicionamento físico de longo prazo. Múltiplos meses com cargas e volumes adaptados estão dentro do período de tempo normal, até mesmo para os melhores atletas, com aumentos graduais de intensidade implementados após esse prazo. Os treinadores precisam verificar constantemente junto aos atletas para determinar como a dosagem anterior de exercícios os afetou. Embora a intensidade seja um componente importante do CrossFit, cada atleta tem a vida toda para melhorar seu nível de condicionamento físico e sua tolerância à intensidade. A segunda forma de mitigar o risco de rabdomiólise é conhecer os movimentos associados a uma maior taxa de incidência. Os atletas iniciantes devem minimizar o trabalho com “negativas” (os movimentos que prolongam a fase excêntrica). Apesar de as negativas serem uma forma eficiente de aumentar a força, os principiantes não devem praticá-las com grandes volumes. Os atletas podem aumentar o volume das negativas de forma gradual ao longo do tempo. Embora a fase excêntrica dos movimentos não possa e nem deva ser evitada, existem movimentos nos quais as pessoas são propensas a prolongar essa fase. No CrossFit, esses movimentos costumam ser os pull-ups com saltos e sit-ups no GHD com amplitude completa de movimento. Nos pull-ups com salto, o atleta não deve prolongar a descida, mas sim soltar-se imediatamente para a posição com os braços estendidos assim que o queixo ultrapassar a barra, absorvendo o impacto com as pernas. De forma semelhante, em sit-ups no GHD com amplitude completa de movimento, os atletas iniciantes devem executar menos repetições e, possivelmente, uma amplitude de movimento reduzida até desenvolver sua capacidade. É prudente também que os treinadores adaptem o número de repetições e a amplitude de movimento para atletas que não praticam sit-ups no GHD com frequência, independentemente de sua experiência no CrossFit. Não existe nenhuma regra exata para determinar o volume total, mas os iniciantes e atletas inexperientes no CrossFit (e até mesmo os atletas avançados do CrossFit que não utilizam o GHD com frequência) devem começar com repetições relativamente baixas do sit-up no GHD com amplitude de movimento parcial (ou seja, até o paralelo), e aumentar gradualmente de forma consistente com a exposição. A adaptação progressiva, prática de ajustar continuamente a dificuldade de um treino de modo que um atleta exausto possa continuar em movimento, deve ser evitada nos atletas iniciantes ou até mesmo nos intermediários. Permita que esses atletas parem e descansem conforme o necessário para concluir o treino. Um exemplo: O treinador segue reduzindo a carga de modo que o atleta não tenha que parar de executar repetições (por exemplo, uma barra com 135 lb para thrusters, depois 115, 95, 65 e, finalmente, 45, ao longo do treino). A adaptação progressiva pode ser útil, mas deve ser utilizada de forma muito cuidadosa, até mesmo com os atletas mais avançados. Além disso, convém educar os atletas sobre o risco em potencial de rabdomiólise, as estratégias para reduzir esse risco e os respectivos sintomas. Com isso, eles terão mais facilidade para compreender os motivos por trás da adaptação de seus treinos, especialmente quando estiverem ansiosos para treinar “como prescrito”. Bebidas alcoólicas e drogas aumentam o risco de rabdomiólise; os atletas devem evitar o consumo excessivo de álcool, especialmente próximo ao treino. Certos medicamentos, incluindo estatinas (agentes para a redução do colesterol), aumentam o risco de rabdomiólise. Entre os sintomas da rabdomiólise, estão a dor muscular grave generalizada, náusea e vômito, cólicas abdominais e, em casos graves, urina vermelho-escura. A mudança de cor da urina vem da mioglobina muscular, que é a mesma molécula responsável pela cor vermelha da carne. Se esses sintomas se manifestarem após o treino (ou a qualquer momento, no caso da urina vermelho-escura), o atleta deverá obter cuidados médicos imediatamente. Aparentemente, os atletas mais sujeitos a riscos são aqueles com uma base razoável de condicionamento físico obtida através de um protocolo fora do CrossFit,aqueles que estão retornando ao CrossFit após um período de inatividade, ou até mesmo os atletas experientes do CrossFit que atingem um volume ou intensidade significativamente fora de sua “norma” estabelecida. Esses atletas possuem o nível de massa muscular e condicionamento físico necessário para gerar intensidade a ponto de prejudicarem a si mesmos. Em geral, os mais descondicionados parecem menos sujeitos ao risco (que, apesar disso, não é zero). Suspeita-se que eles não tenham a massa muscular suficiente ou a capacidade de gerar altos níveis de intensidade. Dito isso, os treinadores devem adaptar e se concentrar na mecânica de cada cliente, seja qual for sua capacidade atual.
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