Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
MATERIAL DIDÁTICO POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE E O DIREITO AMBIENTAL CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA PORTARIA Nº 1.282 DO DIA 26/10/2010 0800 283 8380 www.ucamprominas.com.br Impressão e Editoração 2 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3 UNIDADE 1 – A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE ....................... 7 UNIDADE 2 – A POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE ............................... 11 2.1 OBJETIVOS DA PNMA ............................................................................................ 12 2.2 SISNAMA – SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE ............................................... 16 2.3 INSTRUMENTOS DA PNMA ...................................................................................... 17 2.4 A POLÍTICA AGRÍCOLA AMBIENTAL ............................................................................ 19 UNIDADE 4 – ESPAÇOS TERRITORIAIS PROTEGIDOS....................................... 22 4.1 O SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA (SNUC) ......... 23 3.2 UNIDADES DE PROTEÇÃO INTEGRAL (UPI) ............................................................... 28 3.3 UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DE USO SUSTENTÁVEL ............................................... 31 UNIDADE 4 – POLUIÇÃO E DANO AMBIENTAL ................................................... 42 4.1 POLUIÇÃO AMBIENTAL............................................................................................. 42 4.2 COMPETÊNCIA ADMINISTRATIVA E LEGISLATIVA ......................................................... 45 4.3 DANO AMBIENTAL ................................................................................................... 47 4.4 PECULIARIDADES DO DANO AMBIENTAL..................................................................... 48 UNIDADE 5 – RECURSOS HÍDRICOS .................................................................... 51 5.1 A POLÍTICA NACIONAL DOS RECURSOS HÍDRICOS (PNRH) ....................................... 52 UNIDADE 6 - GESTÃO DE FLORESTAS PÚBLICAS ............................................. 57 6.1 A CONCESSÃO FLORESTAL ...................................................................................... 59 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 62 3 INTRODUÇÃO A Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), instituída pela Lei nº 6.9381, em 31 de agosto de 1981, e regulamentada pelo Decreto 99.2742, de 06 de junho de 1990, teve como objetivo geral a preservação, a melhoria e a recuperação da qualidade ambiental propícia à vida. Essa lei se fundamenta nos incisos VI e VII do art. 23 e no art. 235 da nossa Constituição Federal3 de 1988 e estabelece também seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, além de constituir o Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama) e instituir o Cadastro de Defesa Ambiental. No Brasil, a proteção ao meio ambiente surge no contexto legal a partir de diversas normas esparsas, sendo que o próprio Código de 1916 é considerado norma percursora dessa proteção ao tratar, nos direitos de vizinhança, do uso nocivo da propriedade. FREDERICO AUGUSTO DI TRINDADE AMARO (2014) nos leva a um pequeno passeio para mostrar que, em especial, a partir dos anos 60 do século XX, os países começaram a editar normas jurídicas mais rígidas para a proteção do meio ambiente. No Brasil, pode-se citar, por exemplo, a promulgação do antigo Código Florestal, editado por meio da Lei 4.771/1965 (hoje Lei nº 12.727/20124), além da já citada Lei nº 6.938/1981, que aprovou a Política Nacional do Meio Ambiente. 1 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938.htm com modificações pela Decreto de 15 de setembro de 2010 que institui o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Bioma Cerrado – PPCerrado –, altera o Decreto de 3 de julho de 2003, que institui Grupo Permanente de Trabalho Interministerial para os fins que especifica. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Dnn/Dnn12867.htm#art1p 2 Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=328. Regulamenta a Lei nº 6.902, de 27 de abril de 1981, e a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõem, respectivamente sobre a criação de Estações Ecológicas e Áreas de Proteção Ambiental e sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, e dá outras providências. A Lei nº 6.902, dispõe sobre a criação de Estações Ecológicas, Áreas de Proteção Ambiental, e dá outras providências. Está disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6902.htm 3 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm com as diversas emendas constitucionais. 4 Na realidade o novo Código Florestal veio por meio da Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012, mas sofreu alterações/veto daí falarmos em Lei nº 12.727 que está disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12651.htm e que dispõe sobre a proteção da vegetação nativa; altera as Leis nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, nº 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e nº 11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, e nº 7.754, de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória nº 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Dnn/Dnn12867.htm#art1p http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=328 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm 4 Mundialmente, o marco foi a Conferência de Estocolmo (Suécia), ocorrida em 1972, promovida pela ONU, com a participação de 113 países, onde se deu um alerta mundial sobre os riscos à existência humana trazidos pela degradação excessiva, em que pese à postura retrógrada do Brasil à época, que buscava o desenvolvimento econômico de todo modo, pois de maneira irresponsável se pregava a preferência por um desenvolvimento econômico a qualquer custo ambiental (“riqueza suja”) do que uma “pobreza limpa”. Em 1992, realizou-se no Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – CNUMAD –, conhecida como ECO-92 ou RIO-92, oportunidade em que se aprovou a Declaração do Rio, documento contendo 27 princípios ambientais, bem como a Agenda 21, instrumento não vinculante com metas mundiais para a redução da poluição e alcance de um desenvolvimento sustentável. Note-se que tais documentos não têm a natureza jurídica de tratados internacionais, pois não integram formalmente o ordenamento jurídico brasileiro, mas gozam de forte autoridade ética local e mundial. Mas o que vem mesmo a ser meio ambiente? No dicionário Aurélio (FERREIRA, 2005), ambiente é o “que cerca ou envolve os seres vivos ou as coisas, por todos os lados”. Por isso, alguns entendem que a expressão meio ambiente é redundante, podendo se referir à ambiente simplesmente. Para a PNMA ele é o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem Física, Química e Biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas (art. 3º, inciso I). O meio ambiente é direito fundamental que origina-se da reação do homem às ameaças fundamentais que o circundam. Ele é um bem jurídico tutelado. Direitos fundamentais são “o conjunto de direitos da pessoa humana expressa ou implicitamente reconhecidos por uma determinada ordem constitucional” (VIEIRA, 2006, p. 36). Os direitos fundamentais apresentam, segundo ANTONIO F. G. BELTRÃO (2014), uma dupla faceta: consistem tanto em direitos subjetivos como tambémem elementos fundamentais da ordem constitucional vigente. Como direitos subjetivos, os direitos fundamentais facultam aos seus titulares a possibilidade de impor os seus interesses frente aos órgãos obrigados; na condição de elemento fundamental de ordem constitucional, os direitos 5 fundamentais representam a base da ordem jurídica de um Estado Democrático de Direito (MENDES, 2012). Assim, veremos ao longo desta apostila que na nova ordem jurídica advinda com a Carta Constitucional de 1988, o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado assegura qualidade de vida, com desenvolvimento econômico-social, para as presentes e futuras gerações, consistindo em instrumento essencial para garantir a dignidade da pessoa humana. Ao chegarmos ao final do módulo não teremos a menor dúvida que a Constituição Federal de 1988 representou um marco na legislação ambiental, pois além de ter sido a responsável pela elevação do meio ambiente à categoria dos bens tutelados pelo ordenamento jurídico, sistematizou a matéria ambiental e estabeleceu o direito ao meio ambiente sadio como um direito fundamental do indivíduo (SILVA, 2013). Nosso módulo tratará do meio ambiente na CF/88, os objetivos e instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA); o Sistema Nacional do Meio Ambiente e a política agrícola ambiental; os espaços territoriais protegidos5 e o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC); as questões da poluição e do dano ambiental, com respectivas competências administrativa e legislativa; os recursos hídricos com algumas noções sobre o ciclo hidrológico, a importância da água, os recursos hídricos e geração de energia elétrica, bem como justificativas para o disciplinamento da água, por fim, falaremos da gestão de florestas públicas. Desejamos boa leitura e bons estudos, mas antes algumas observações se fazem necessárias: 1) Ao final do módulo, encontram-se muitas referências utilizadas efetivamente e outras somente consultadas, principalmente artigos retirados da World Wide Web (www), conhecida popularmente como Internet, que devido ao acesso facilitado na atualidade e até mesmo democrático, ajudam sobremaneira para enriquecimentos, para sanar questionamentos que por ventura surjam ao longo da leitura e, mais, para manterem-se atualizados. 5 Tópicos como os espaços territoriais protegidos que ao longo da evolução da humanidade vêm sendo incorporados pela legislação devido a importância de sua preservação e equilíbrio para que as gerações atuais e futuras possam viver sem comprometimento de sua qualidade de vida. 6 2) Deixamos bem claro que esta composição não se trata de um artigo original6, pelo contrário, é uma compilação do pensamento de vários estudiosos que têm muito a contribuir para a ampliação dos nossos conhecimentos. Também reforçamos que existem autores considerados clássicos que não podem ser deixados de lado, apesar de parecer (pela data da publicação) que seus escritos estão ultrapassados, afinal de contas, uma obra clássica é aquela capaz de comunicar-se com o presente, mesmo que seu passado datável esteja separado pela cronologia que lhe é exterior por milênios de distância. 3) Em se tratando de Jurisprudência, entendida como “Interpretação reiterada que os tribunais dão à lei, nos casos concretos submetidos ao seu julgamento” (FERREIRA, 2005)7, ou conjunto de soluções dadas às questões de direito pelos tribunais superiores, algumas delas poderão constar em nota de rodapé ou em anexo, a título apenas de exemplo e enriquecimento. 4) Por uma questão ética, a empresa/instituto não defende posições ideológico-partidária, priorizando o estímulo ao conhecimento e ao pensamento crítico. 5) Sabemos que a escrita acadêmica tem como premissa ser científica, ou seja, baseada em normas e padrões da academia, portanto, pedimos licença para fugir um pouco às regras com o objetivo de nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Por fim: 6) Deixaremos em nota de rodapé, sempre que necessário, o link para consulta de documentos e legislação pertinente ao assunto, visto que esta última está em constante atualização. Caso esteja com material digital, basta dar um Ctrl + clique que chegará ao documento original e ali encontrará possíveis leis complementares e/ou outras informações atualizadas. Caso esteja com material impresso e tendo acesso à Internet, basta digitar o link e chegará ao mesmo local. 6 Trabalho inédito de opinião ou pesquisa que nunca foi publicado em revista, anais de congresso ou similares. 7 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio. Versão 5.0. Editora Positivo, 2005. 7 UNIDADE 1 – A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE Uma Constituição consiste na lei suprema do ordenamento jurídico do Estado. De acordo com o princípio da supremacia da Constituição, esta se coloca no topo do ordenamento jurídico de uma nação; todas as demais normas apenas serão legítimas na medida em que se conformarem com as normas constitucionais. A Constituição é, pois, a norma de todas as outras normas, o fundamento da autoridade de todos os poderes constituídos (CAETANO, 2015). Consequentemente, não se dá conteúdo à Constituição a partir das leis. A fórmula a adotar-se para a explicitação de conceitos opera sempre 'de cima para baixo', o que serve para dar segurança em suas definições. De acordo com CELSO RIBEIRO BASTOS (2014), o postulado da supremacia da Constituição repele todo o tipo de interpretação que venha de baixo, seria o mesmo que dizer, repele toda a tentativa de interpretar a Constituição a partir da lei. O que cumpre ser feito é sempre o contrário, vale dizer, procede-se à interpretação do ordenamento jurídico a partir da Constituição. Conforme ANTÔNIO HERMAN DE VASCONCELLOS E BENJAMIN (2002, p. 93), “A constitucionalização do ambiente, ou seja, a elevação das normas de proteção ambiental ao status constitucional, é considerada uma tendência mundial irreversível”, dado o crescente número de nações que passaram a incluir em suas respectivas Cartas normas de tal natureza. Neste contexto, a Constituição Federal do Brasil de 1988 é reconhecida internacionalmente como merecedora de elogios quanto à preocupação ambiental que ostenta. De fato, a Carta de 1988 apresenta uma série de preceitos quanto à tutela ambiental, seja de forma fragmentada em diversos Capítulos, seja em um Capítulo específico do ambiente. As referências constitucionais ao ambiente iniciam-se entre os direitos e deveres individuais e coletivos (Título lI, Capítulo I, art. 5º, LXXIII), ao legitimar qualquer cidadão a interpor ação popular para anulação de ato lesivo ao meio ambiente. O art. 20, lI, prevê serem bens da União Federal as terras devolutas “indispensáveis (...) à preservação ambiental, definidas em lei”. 8 No art. 23, VI e VII, a Carta dispõe ser competência comum da União, Estados, Distrito Federal e Municípios a proteção do meio ambiente e o combate à poluição em qualquer de suas formas, bem como a preservação das florestas, da fauna e da flora. O art. 24, VI, VII e VIII, estabelece a competência legislativa concorrente da União, dos Estados e do Distrito Federal, para, respectivamente, “florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição”, (...) “proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico”, e “responsabilidade por dano ao meio ambiente (...)”. Prevê que o Conselho de Defesa Nacional tem por competência, entre outras, propor os critérios e condições de utilização de áreas indispensáveisà segurança do território nacional e opinar sobre seu efetivo uso, especialmente na faixa de fronteira e nas relacionadas com a preservação e a exploração dos recursos naturais de qualquer tipo. Igualmente, como matéria que pode ser objeto de inquérito civil e de ação civil pública pelo Parquet (art. 129, III), como princípio que rege a ordem econômica (art. 170, VI), devendo ser considerado por cooperativas de garimpo a serem favorecidas pelo Estado (art. 174, § 3º), e tema a ser compreendido na função social da propriedade (art. 186, II). Ainda, a Carta de 1988 prevê o dever do sistema único de saúde de “colaboração na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho” (art. 200, VIII) e a caracterização de conjuntos urbanos e sítios de valor ecológico como patrimônio cultural brasileiro (art. 216, V). Finalmente, o art. 220, § 1º, II atribui à lei federal a competência para estabelecer “os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade de se defenderem (...) da propaganda de produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente”, e o art. 231, § 1º, que prevê a caracterização como terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as “imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições”. Além das referências apontadas, que se encontram explícitas no texto constitucional, há várias outras que também denotam, ainda que de forma indireta, a 9 tutela ambiental, as quais o professor JOSÉ AFONSO DA SILVA (2013) denomina de referências implícitas. Neste sentido, a competência da União para instituir o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (art. 21, XIX), consiste em importante instrumento para a proteção da água e racionalização de seu uso. No mesmo sentido, temos a previsão de que compete à União instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos (art. 21, XX), visto que são temas que apresentam grande potencial de degradação ambiental e que, portanto, são merecedores de um planejamento em escala nacional (BELTRÃO, 2014). Como se vê a Carta assegura a máxima proteção e uso racional dos bens ambientais, mas infelizmente, por questões as mais diversas, tais como necessidade, ignorância ou ganância, não somente os legisladores como grande parte dos cidadãos brasileiros perceberam a necessidade de uma legislação das mais severas para que os recursos sejam usados de maneira racional sem comprometer as gerações atuais e futuras. Guarde... São temas relacionados ao meio ambiente na CF/88: i. Equidade intergeracional. ii. Obrigatoriedade da intervenção estatal. iii. Participação e cooperação coletiva. iv. Responsabilidade objetiva e reparação integral. v. Função socioambiental da propriedade. Além do art. 225 e da referência à ordem econômica, encontramos normas relacionadas ao meio ambiente nos capítulos que tratam: a) dos direitos e deveres individuais e coletivos, consagrando princípios de direito ambiental internacional e a defesa dos interesses difusos; b) da organização dos Estados, quando trata da competência ambiental. Neste caso, ressalte-se que a competência legislativa concorrente da União, dos Estados e do Distrito Federal, em matéria ambiental, vem definida no art. 24 da CF/88 e, no âmbito da competência administrativa, não se pode olvidar a recente 10 edição da Lei Complementar 140/20118, a qual “fixa normas, nos termos dos incisos III, VI e VII do caput e do parágrafo único do art. 23 da CF/88, para a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas ações administrativas decorrentes do exercício da competência comum relativas à proteção das paisagens naturais notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas formas e à preservação das florestas, da fauna e da flora; c) da organização dos poderes, estabelecendo, entre as funções institucionais do Ministério Público, a promoção do inquérito civil e ação civil pública; d) da política agrícola e fundiária, bem como da ordem social (SILVA, 2013). Ao estruturar a PNMA com base no que estabelece o art. 23, VI e VII, da Carta Magna, a Lei nº 6.938/81, modificada pela Lei nº 8.028/90, pretendeu estabelecer critério de proteção do meio ambiente adaptado à chamada competência material comum, ou seja, proteção ambiental adstrita a normas que conferem deveres aos entes da Federação e não simplesmente faculdades. A orientação constitucional, portanto, é estabelecer competências materiais comuns a todos os entes da Federação brasileira, a saber, União, Estados, Distrito Federal e Municípios (FIORILLO, 2013). 8 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp140.htm, fixa normas, nos termos dos incisos III, VI e VII do caput e do parágrafo único do art. 23 da Constituição Federal, para a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas ações administrativas decorrentes do exercício da competência comum relativas à proteção das paisagens naturais notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas formas e à preservação das florestas, da fauna e da flora; e altera a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp140.htm 11 UNIDADE 2 – A POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE A Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) foi instituída por meio da Lei nº 6.938/1981. Apesar de cronologicamente anteriores, o Código de Águas (Decreto nº 24.643, de 10.07.1934 9 ), o Código Florestal (Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012), o Código da Caça (Lei nº 5.197, de 03.01.1967 10 ), o Código de Pesca 11 (Decreto-lei 221, de 28.02.1967), o Código de Mineração 12 (Decreto-lei 227, de 28.02.1967) e o Código Brasileiro do Ar (Lei nº 6.833, de 30.09.1980 – mas que já foi revogado) não são, em regra, considerados normas propriamente de tutela do meio ambiente, uma vez que tratam apenas incidentalmente do tema (HORTA, 1995, p. 304). Logo, pode-se afirmar que a Lei nº 6.938/1981 consiste no primeiro diploma legal em nosso direito positivo que disciplina de forma sistematizada o meio ambiente, definindo meio ambiente, degradação da qualidade ambiental, poluição, poluidor e recursos ambientais. Essa lei disciplina o meio ambiente não mais com a visão privatista, limitada ao conteúdo econômico, própria da doutrina liberal das leis que a antecederam; o meio ambiente passa a ser tutelado em seu conjunto, como bem pertencente a toda a coletividade, transindividual, de natureza difusa e titularidade indeterminada. É instituída uma Política Ambiental de âmbito nacional, que tem por objetivo a proteção do meio ambiente, o planejamento racional na utilização dos recursos naturais, a responsabilização civil objetiva do infrator, dentre outros, conforme será abordado no item seguinte. Outrossim, cria o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), indica os seus instrumentos legais, entre outras disposições (BELTRÃO, 2014). 9 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d24643.htm com modificações dadas pelo Decreto nº 4895 de 25 de novembro de 2003, que dispõe sobre a autorização de uso de espaços físicos de corpos d’água de domínio da União para fins de aquicultura, e dá outras providência, e está disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2003/D4895.htm#art21 10 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5197.htm e que dispõe sobre a proteção à fauna, e dá outras providências. 11 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del0221.htme que dispõe sobre a proteção e estímulos à pesca, e dá outras providências. 12 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del0227.htm com alterações dadas pela Medida Provisório nº 790, de 25 de julho de 2017, que altera o Decreto-Lei nº 227, de 28 de fevereiro de 1967 – Código de Mineração –, e a Lei nº 6.567, de 24 de setembro de 1978, que dispõe sobre regime especial para exploração e aproveitamento das substâncias minerais que especifica, e dá outras providências. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2003/D4895.htm#art21 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5197.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del0221.htm 12 Atualmente, a Lei nº 6.938/1981 precisa ser interpretada conjuntamente com a Lei Complementar 140/2011, que passou a disciplinar as competências materiais comuns entre todos os entes federativos, na forma do artigo 23, da Constituição Federal. 2.1 Objetivos da PNMA São objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente estabelecidos em seu art. 4º: I - A compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico Como já falamos, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em junho de 1972 em Estocolmo, Suécia, conhecida como a Declaração de Estocolmo, consiste em um dos primeiros e mais importantes documentos internacionais sobre o meio ambiente. Desde então, estabeleceu-se um certo conflito de interesses entre países pobres, que não aceitariam restrições de cunho ambiental que dificultassem seu desenvolvimento econômico, e países ricos, que, para alcançar o atual estágio de desenvolvimento, destruíram, em regra, boa parte de seus recursos naturais. Da oposição da tese “proteção ambiental” com a antítese “desenvolvimento econômico” surgiu a síntese “desenvolvimento sustentável”, de acordo com a forma de Hegel. O inciso acima trata exatamente desse aparente conflito. A PNMA portanto, não pretende sacrificar o desenvolvimento econômico do país em benefício do meio ambiente. Por outro lado, tal desenvolvimento econômico há de se compatibilizar com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico. Um dos principais instrumentos para alcançar esse objetivo consiste na utilização de tecnologia. Ressalte-se que a Constituição Federal prevê expressamente no artigo 170, VI que “a defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação”, consiste em um dos princípios gerais que regem a atividade econômica no país. 13 II- A definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à qualidade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios O Poder Público, por meio do Poder Executivo nas três esferas, Federal, Estadual e Municipal, deve editar políticas públicas que tenham por finalidade a preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico. A qualidade ambiental corresponde ao conjunto de elementos propiciadores da vida no mundo natural, sendo pressuposto da qualidade de vida; o equilíbrio ecológico consiste na manutenção das características essenciais de um ecossistema. A Carta de 1988 elevou ao status constitucional essa previsão, conforme estabelecido em seu art. 225, § 1º, que atribui ao Poder Público o dever de assegurar a efetividade do direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, para atender aos fins ali indicados. III- O estabelecimento de critérios e padrões da qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais A Política Nacional do Meio Ambiente deve fixar quais os critérios a serem observados para a utilização dos recursos ambientais. Consiste em um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, conforme o art. 9º, I, da Lei nº 6.938/1981, que será mais adiante analisado. IV - O desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso racional de recursos ambientais; o uso de tecnologia é absolutamente fundamental para alcançar o desenvolvimento sustentável Neste contexto, o Poder Público tem um papel essencial como fomentador de pesquisas e de novas tecnologias, sempre com o objetivo de otimizar o processo produtivo, reduzindo o volume final de resíduos a serem lançados no ar, nas correntes de água ou absorvidos pelo solo. Também corresponde a um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, conforme o art. 9º, V, da Lei nº 6.938/1981. V – A difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de dados e informações ambientais e à formação de uma consciência pública 14 sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico Além da necessidade de criação de novas tecnologias, faz-se fundamental, naturalmente, divulgá-las para que passem a ser utilizadas por um maior número possível de agentes. O acesso à informação consiste em um dos princípios basilares do direito ambiental, pressuposto para a participação pública, essencial para a evolução e fortalecimento da proteção do ambiente. A Lei nº 10.65013, de 16.04.2003, influenciada pela Convenção de Aarhus14 de 1998, disciplina o “acesso público aos dados e informações existentes nos órgãos e entidades integrantes do SISNAMA”, impondo a todos os órgãos e entidades da administração direta e indireta que o integram, o que abrange “União Federal, Estados, Distrito Federal, Territórios e Municípios,” o dever geral de permitir o acesso público aos documentos, expedientes e processos administrativos que tratem de matéria ambiental, assim como de fornecer informações ambientais que estejam sob sua guarda. A formação de uma consciência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico relaciona-se à educação ambiental, dever do Poder Público nos termos do art. 225, § 1º, VI, da Constituição Federal. 13 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.650.htm 14 A Convenção de Aarhus é um acordo multilateral que visa garantir ao público os direitos de acesso à informação, a participação do público e o acesso à justiça em matéria de ambiente. Juntamente com o Protocolo sobre Registos de Emissões e Transferências de Poluentes, a Convenção é um dos dois instrumentos internacionais juridicamente vinculativos que põem em prática e aplicam o Princípio 10 da Declaração do Rio sobre Ambiente e Desenvolvimento. A Convenção entrou em vigor em 2001 e conta com 47 Partes da Europa e da Ásia Central. São Partes na Convenção os 28 Estados-Membros da UE e a UE, que aprovou a Convenção em 17 de fevereiro de 2005. A nível da UE, as obrigações da Convenção são aplicadas pelo Regulamento 1367/2006, conhecido como o Regulamento de Aarhus. Em 17 de julho de 2017, o Conselho Europeu adotou uma decisão sobre a posição a tomar pela União Europeia na 6ª sessão de reunião das Partes na Convenção de Aarhus (RdP-6), no que diz respeito a um processo contra a UE apresentado ao Comité de Avaliação do Cumprimento da Convenção. A respeito deste processo de cumprimento, o Comité considera que a UE está a violar as regras da Convenção ao não conceder às organizações ambientais e aos membros do público um acesso suficiente à justiça. As conclusões são apresentadas sob a forma de um projeto de decisão de Aarhus, que será submetido à apreciação das Partes na 6ª sessão de reunião. Vale a pena acompanhar o desenrolar dos acontecimentos. Disponível em: http://www.consilium.europa.eu/pt/press/press-releases/2017/07/17-aarhus-convention/ http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.650.htm 15 VI - A preservação e restauraçãodos recursos ambientais com vistas à sua utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida Uma característica comum dos recursos naturais é a escassez. De fato, se os recursos naturais fossem infindáveis não haveria necessidade de intervenção governamental para regulá-los. Dessa escassez decorre o choque de interesses dos diversos setores da sociedade acerca de como utilizá-los. Como consequência, o planejamento racional por parte das autoridades governamentais é essencial para assegurar que as melhores decisões serão tomadas com intuito do interesse da coletividade e do meio ambiente. A utilização racional dos recursos naturais tem por finalidade propiciar a sua disponibilidade permanente, assegurando, assim, o direito das futuras gerações, conforme prevê o art. 225, caput, da Constituição Federal. VII - A imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos Em sua primeira parte, corresponde ao princípio do poluidor-pagador, que decorre da teoria econômica segundo a qual se devem internalizar os custos externos, impondo-se ao poluidor a responsabilidade pelo custo social da degradação ambiental por ele produzida. Quanto à contribuição do usuário, esta consiste no princípio do usuário- pagador, que impõe a cobrança de um valor econômico pela utilização de um bem ambiental. Sua natureza é meramente remuneratória, ou seja, não é punitiva (BELTRÃO, 2014). Veja-se que já no ano 1981 se plantou legalmente no Brasil a semente do desenvolvimento sustentável, pois a PNMA, desde então, prevê entre seus objetivos a compatibilização do desenvolvimento econômico com a preservação ambiental. Ademais, os Princípios do Poluidor e do Usuário-pagador inspiraram a determinação de impor, ao poluidor e ao predador, a obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados, e ao usuário, de contribuir pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos (AMADO, 2014). 16 2.2 SISNAMA – Sistema Nacional do Meio Ambiente A Lei nº 6.938/81 criou em seu art. 6º, o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), constituído pelos órgãos e entes responsáveis pela “proteção e melhoria da qualidade ambiental” da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. É um sistema de natureza administrativa, composto pelos órgãos ou entes ambientais do Poder Executivo, administração direta ou indireta, nas três esferas da Federação, que tem por finalidade a gestão do ambiente nacional. São órgãos do SISNAMA: I - órgão superior – o Conselho de Governo, com a função de assessorar o Presidente da República na formulação da política nacional e nas diretrizes governamentais para o meio ambiente e os recursos ambientais; (Redação dada pela Lei nº 8.028, de 1990). II - órgão consultivo e deliberativo – o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), com a finalidade de assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo, diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e os recursos naturais e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida; (Redação dada pela Lei nº 8.028, de 1990). III - órgão central – a Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República, com a finalidade de planejar, coordenar, supervisionar e controlar, como órgão federal, a política nacional e as diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente; (Redação dada pela Lei nº 8.028, de 1990). IV - órgão executor – o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, com a finalidade de executar e fazer executar, como órgão federal, a política e diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente; (Redação dada pela Lei nº 8.028, de 1990). IV - órgãos executores – o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – Instituto Chico Mendes, com a finalidade de executar e fazer executar a política e as diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente, de acordo com as respectivas competências; (Redação dada pela Lei nº 12.856, de 2013). 17 V - Órgãos Seccionais – os órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela execução de programas, projetos e pelo controle e fiscalização de atividades capazes de provocar a degradação ambiental; (Redação dada pela Lei nº 7.804, de 1989). VI - Órgãos Locais – os órgãos ou entidades municipais, responsáveis pelo controle e fiscalização dessas atividades, nas suas respectivas jurisdições. Figura 1: SISNAMA. Fonte: http://www.direitoambientalemquestao.com.br/2017/05/estrutura-do-sistema-nacional-do-meio- ambiente-sisnama-lei-6938-81.html Vale registrar que não apenas os órgãos e entes ambientais do SISNAMA possuem o poder de polícia ambiental. É possível que outras entidades públicas também tenham delegação legal para exercê-lo, a exemplo da Agência Nacional do Petróleo (AMARO, 2014). 2.3 Instrumentos da PNMA A lei nº 6.938/81, com suas modificações subsequentes, elenca em seu art. 9º, treze instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente. Alguns destes instrumentos já se encontram razoavelmente regulados no direito positivo, enquanto outros ainda aguardam por um melhor disciplinamento legal. São instrumentos da PNMA (Lei 6.938/1981, art. 9º): I - o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental; 18 II - o zoneamento ambiental15; III - a avaliação de impactos ambientais; IV - o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras; V - os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental; VI - a criação de reservas e estações ecológicas, áreas de proteção ambiental e as de relevante interesse ecológico, pelo Poder Público Federal, Estadual e Municipal; VI - a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público Federal, Estadual e Municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas; (Redação dada pela Lei nº 7.804, de 1989). VII - o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente; VIII - o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental; IX - as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental; X - a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA; (Incluído pela Lei nº 7.804, de 1989). XI - a garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando- se o Poder Público a produzi-las, quando inexistentes; (Incluído pela Lei nº 7.804, de 1989). XII - o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos recursos ambientais; (Incluído pela Lei nº 7.804, de 1989). XIII - instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão ambiental, seguro ambiental e outros. (Incluído pela Lei nº 11.284, de 2006). Muito importante enquanto instrumento do PNMA é o Sistema Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente – SINIMA –, sofrendo regulamentação pelo artigo 11, II, do Decreto 99.274/1990, competindo ao Ministério do Meio Ambiente coordenar a troca de informações entre as entidades e órgãos que compõem o SISNAMA. 15 Regulamentado pelo Decreto nº 4.297, de 10 de julho de 2002, estabelecendo critérios para o Zoneamento Ecológico-Econômico do Brasil – ZEE. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4297.htm,o zoneamento, avaliação de impactos e licenciamento veremos em outro momento do curso devido à complexidade da matéria. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4297.htm 19 O SINIMA é gerido pela Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental do Ministério do Meio Ambiente – SAIC (Artigo 31, Decreto 6.101/2007), por meio do Departamento de Coordenação do SISNAMA – DSIS (Artigo 32), e possui três eixos estruturantes: o desenvolvimento de ferramentas de acesso à informação baseadas em programas computacionais livres; a sistematização de estatísticas e elaboração de indicadores ambientais; a integração e interoperabilidade de sistemas de informação de acordo com uma Arquitetura Orientada a Serviços – SOA. Este processo de implementação conta com o apoio do Comitê Gestor do SINIMA, instituído pela Portaria nº 310, de 13 de dezembro de 2004, no sentido da definição das diretrizes, acordos e padrões nacionais para a integração da informação ambiental. Nesse sentido, consoante pontifica o artigo 7º, VIII, da LC 140/2011, compete à União organizar e manter, com a colaboração dos órgãos e entidades da administração pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, o Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente – SINIMA. Inclusive, essa norma passou a prever a criação do Sistema Municipal de Informações sobre o Meio Ambiente, a ser organizado e mantido pelos municípios (AMARO, 2014). 2.4 A política agrícola ambiental A racionalidade na utilização dos recursos ambientais é, sem sombra de dúvidas, objetivo e princípio de direito ambiental, conforme foi descrito acima. Considerando que os bens ambientais são escassos, faz mister um aproveitamento adequado dos mesmos (BELTRÃO, 2014). A política agrícola ambiental inclui, além da eletrificação rural (art.187 da CF), as atividades agropecuárias, agroindustriais, pesqueiras e florestais. A Lei nº 8.171/9116 traça os objetivos básicos de proteção, recuperação e preservação dos recursos naturais e do meio ambiente. Por sua vez, o Estatuto da Terra, Lei nº 4.50417, de 30 de novembro de 1964, regula os direitos e obrigações concernentes aos bens imóveis rurais, para os fins de execução da Reforma Agrária e promoção da Política Agrícola. 16 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8171.htm com incisos incluídos pelas Leis: Lei nº 10.298, de 30 de outubro de 2001, e Lei nº 10.246, de 2 de julho de 2001, e outras. 17 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4504.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8171.htm 20 O art. 2º da Lei em tela dispõe sobre a função social da propriedade: Art. 2º. É assegurada a todos a oportunidade de acesso à propriedade da terra, condicionada pela sua função social, na forma prevista nesta lei. § 1º. A propriedade da terra desempenha integralmente a sua função social quando, simultaneamente: a) favorece o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores que nela labutavam, assim como de suas famílias; b) mantém níveis satisfatórios de produtividade; c) assegura a conservação dos recursos naturais; d) observa as disposições legais que regulam as justas relações de trabalho entre os que a possuem e a cultivam. Portanto, é possível perceber que a Constituição Federal de 1988 em seu art. 186, seguiu o que determina o art. 2º do estatuto da terra (PAIM, 2014). Quantos aos princípios da política agrícola, estes são disciplinados pela Lei nº 8.17418 de 30 de janeiro de 1991, que também estabelece atribuições ao Conselho Nacional de Política Agrícola (CNPA), tributação compensatória de produtos agrícolas, amparo ao pequeno produtor e regras de fixação e liberação dos estoques públicos. De acordo com o art. 19 da Lei nº 8.171/91, ao poder público compete o seguinte: I - integrar, a nível de Governo Federal, os Estados, o Distrito Federal, os Territórios, os Municípios e as comunidades na preservação do meio ambiente e conservação dos recursos naturais; II - disciplinar e fiscalizar o uso racional do solo, da água, da fauna e da flora; III - realizar zoneamentos agroecológicos que permitam estabelecer critérios para o disciplinamento e o ordenamento da ocupação espacial pelas diversas atividades produtivas, bem como para a instalação de novas hidrelétricas; IV - promover e/ou estimular a recuperação das áreas em processo de desertificação; V - desenvolver programas de educação ambiental, a nível formal e informal, dirigidos à população; VI - fomentar a produção de sementes e mudas de essências nativas; 18 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8174.htm 21 VII - coordenar programas de estímulo e incentivo à preservação das nascentes dos cursos d’água e do meio ambiente, bem como o aproveitamento de dejetos animais para conversão em fertilizantes. Parágrafo único. A fiscalização e o uso racional dos recursos naturais do meio ambiente é também de responsabilidade dos proprietários de direito, dos beneficiários da reforma agrária e dos ocupantes temporários dos imóveis rurais. Destaque-se, no conteúdo da Lei nº 8.171/91, o que consta nos Artigos 20, 22 e 26, nos quais se reforça a bacia hidrográfica como unidade territorial de gestão ambiental, o manejo racional dos recursos naturais e a preservação ambiental, como também, a necessidade de planejamento das ações ambientais nas atividades agrícolas. O planejamento, embora previsto, nunca foi realizado nos termos desta Lei (FLORIANO, 2007). Guarde... Na década de 80, em virtude da grande influência exercida pela Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo, em 1972, houve o aumento da consciência ecológica, intensificando, pois, o processo legislativo na busca de proteção e preservação do meio ambiente (SILVA, 2013). Junto à Lei nº 6.938/81 ressaltamos a Lei nº 7.347/85, a qual disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, possibilitando o acesso coletivo à Justiça para defesa do meio ambiente e a Lei nº 9.605/9819, também na sua qualidade de norma infraconstitucional, merece ser destacada, visto que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente (SILVA, 2013). A articulação entre as políticas agrícolas e ambientais é importante ao passo que a atividade agrícola apresenta grande importância para a economia do país, mas produz impactos ambientais indesejáveis. Somente com a articulação entre as duas políticas é aceitável que a atividade agrícola continue expandindo a produção para poder atender as projeções futuras de crescimento da demanda sem potencializar os impactos ambientais, visto que a atividade agrícola é notavelmente uma atividade poluidora do solo, da água e da atmosfera (EMED, 2011). 19 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9605.htm, dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9605.htm 22 UNIDADE 4 – ESPAÇOS TERRITORIAIS PROTEGIDOS Há muito que o ser humano por razões diversas, de ordem religiosa, moral, esportiva, por sua beleza cênica, entre outras, delimita áreas para preservação de sua fauna e flora. Aponta-se como precursor da ideia hodierna de parques a criação do parque nacional de Yellowstone, em 1872, nos Estados Unidos da América. No Brasil, o primeiro parque nacional foi o de ltatiaia, que data de 1937. De acordo com JOSÉ AFONSO DA SILVA (2012), os espaços territoriais especialmente protegido são áreas geográficas públicas ou privadas (porção do território nacional) dotadas de atributosambientais que requeiram sua sujeição, pela lei, a um regime jurídico de interesse público que implique sua relativa imodificabilidade e sua utilização sustentada, tendo em vista a preservação e a proteção da integridade de amostras de toda a diversidade de ecossistemas, a proteção ao processo evolutivo das espécies, a preservação e a proteção dos recursos naturais. Não há em nosso direito pátrio um sistema uno a disciplinar harmonicamente todos os espaços territoriais especialmente protegidos. De fato, ANTONIO HERMAN DE VASCONCELOS BENJAMIN (2001) ressalta que a adoção do modelo de áreas protegidas no Brasil, como instrumento de tutela da natureza, é anterior ao surgimento do Direito Ambiental, como disciplina orgânica e autônoma, estruturada em torno de características, objetivos, princípios e instrumentos próprios. Por conta dessa evolução histórica, amiúde sem rumo certo, ao sabor de pressões localizadas – ou, por vezes, de facilidades de criação, como o caráter remoto do território –, as áreas protegidas nacionais foram casuística e assistematicamente determinadas e administradas, reféns, no seu desenho teórico, legal e prático, da diversidade de filiação filosófica e paternidade política, daí resultando, de forma inevitável, frequente confusão de regimes, sobreposição de unidades e, pior, ineficiência na consecução de suas finalidades (BENJAMIN, 2001, p. 11). Como algumas das áreas territoriais especialmente protegidas podem abranger propriedades particulares, a sua criação pode impor aos proprietários privados limites relevantes na utilização e fruição do seu respectivo domínio. De fato, MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO (2002, p, 126) assevera que “as limitações administrativas à propriedade originam-se de normas gerais e 23 abstratas, destinadas a propriedades indeterminadas, e têm o propósito de atender interesses coletivos abstratamente considerados”. O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado consiste, por excelência, em um direito de interesse coletivo lato sensu, visto pertencer a todos, nos termos do caput do art. 225 da Constituição Federal. Como a natureza é una, não respeitando as fronteiras e limites políticos erigidos artificialmente pelo homem, o modelo de criação de espaços especialmente protegidos padece em sua origem do grave defeito de pretender disciplinar de forma fragmentada a natureza, consistindo, portanto, em um contrassenso. Outrossim, tal modelo pode dar a falsa ideia de que fora de tais espaços especialmente protegidos inexistiria natureza, ou, ao menos, digna de preservação pela legislação ambiental, o que, naturalmente, não corresponde à verdade. Assim, perigosamente passa-se a impressão de que a natureza pode ser algo distante, a ser preservado em um local longínquo e inacessível, hermeticamente fechado, resultando no esquecimento de nossa própria origem e no essencial elo que nos une (BELTRÃO, 2014). Os espaços territoriais especialmente protegidos estão previstos expressamente pelo art. 225, § 1º, III, da Constituição Federal e são o gênero do qual as unidades de conservação, as áreas de preservação permanente e de reserva legal são espécies. 4.1 O Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) A Lei nº 9.98520, de 18 de setembro de 2000, instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, disciplinando os critérios para sua criação, implantação e gestão. Encontra-se regulamentada pelo Decreto nº 4.34021, de 22.08.2002. Em seu art. 2°, de forma bastante salutar, conforme já tradicional técnica legislativa em matéria ambiental, a lei apresenta uma série de definições. A unidade de conservação consiste no 20 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9985.htm e que regulamenta o art. 225, § 1º, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, e dá outras providências, com inclusão do Decreto nº 4.519, de 13 de dezembro de 2002, dispondo sobre o serviço voluntário em unidades de conservação federais, e dá outras providências. 21 Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=374 24 espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção (art. 2º, I, da Lei nº 9.985/2000). Por tratar-se de um sistema de âmbito nacional, os Estados e Municípios também podem criar unidades de conservação, as quais estarão inseridas no Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (art. 3º). Caso necessário, para atender às peculiaridades regionais ou locais, os Estados e Municípios poderão, em caráter excepcional, criar nova categoria de unidade de conservação que integrará o SNUC, desde que não se confunda com categoria já existente (art. 6º, parágrafo único, da Lei nº 9.985/2000). O SNUC é gerido a partir de três órgãos: I - o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), que tem função consultiva e deliberativa; II - o Ministério do Meio Ambiente, com o papel de coordenação do sistema; e, III - o Instituto Chico Mendes e o IBAMA, em caráter supletivo, e os órgãos estaduais e municipais com competência ambiental, na qualidade de executores do sistema (art. 6º da Lei nº 9.985/2000, com a redação dada pela Lei nº 11.516/200722). Logo, a partir da Lei nº 11.516/2007, que deu início ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – Instituto Chico Mendes –, o qual tem por função, entre outras, executar ações da política nacional de unidades de conservação da natureza, referentes às atribuições federais relativas à proposição, implantação, gestão, proteção, fiscalização e monitoramento das unidades de conservação instituídas pela União (art. 1º, I), a atuação do IBAMA como órgão executor, na esfera Federal, do SNUC passou a ser meramente supletiva, ou seja, atuará apenas quando o Instituto Chico Mendes for omisso, por falta de estrutura, de pessoal, entre outras. 22 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11516.htm, a lei dispõe sobre a criação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – Instituto Chico Mendes; altera as Leis nº 7.735, de 22 de fevereiro de 1989, nº 11.284, de 2 de março de 2006, nº 9.985, de 18 de julho de 2000, nº 10.410, de 11 de janeiro de 2002, nº 11.156, de 29 de julho de 2005, nº 11.357, de 19 de outubro de 2006, e nº 7.957, de 20 de dezembro de 1989; revoga dispositivos da Lei nº 8.028, de 12 de abril de 1990, e da Medida Provisória nº 2.216-37, de 31 de agosto de 2001; e dá outras providências. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11516.htm 25 Compete aos órgãos executores propor a criação de unidades de conservação, devendo, para tanto, elaborar os estudos preliminares e, quando for o caso, realizar consulta pública (art. 4º do Decreto nº 4.340/2002). A consulta pública, que é pressuposto obrigatório para a criação de unidade de conservação, com exceção da Estação Ecológica e da Reserva Biológica, tem por finalidade “subsidiar a definição da localização, da dimensão e dos limites mais adequados para a unidade”, ouvindo, para tanto, a população local e outras partes interessadas (art. 5.° do Decreto nº 4.340/2002). Segundo ANTONIO F. G. BELTRÃO (2014), agiu bem o legislador em exigir a consulta pública como condição prévia para quase todas as categorias de unidade de conservação, visto que a participação da coletividade nos processos decisórios das autoridades públicas relacionados ao ambiente é um dos princípios que regem o direitoambiental (princípio da participação). Para melhor subsidiar o público interessado em participar do procedimento, o Poder Público tem a obrigação de fornecer informações adequadas e inteligíveis (art. 22, § 3º, da Lei nº 9.985/2000). O art. 22 da Lei nº 9.985/2000 prevê que “as unidades de conservação são criadas por ato do Poder Público”, não exigindo, portanto, a forma de lei. Da mesma forma, a ampliação dos seus limites territoriais. Entretanto, a desafetação ou a redução dos limites de uma unidade de conservação só poderá ser feita mediante lei, ainda que tenha sido criada por ato diverso como, por exemplo, o decreto (BELTRÃO, 2014), sendo que tal previsão decorre diretamente do art. 225, § 1º, III, da Constituição Federal que expressamente estabelece que a alteração e a supressão de espaço territorial especialmente protegido somente poderão ocorrer mediante lei. As unidades de conservação podem abranger os respectivos subsolo e espaço aéreo caso exerçam alguma influência na estabilidade do ecossistema local. Outrossim, todas as unidades de conservação, com exceção da Área de Proteção Ambiental (APA) e da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), devem possuir uma zona de amortecimento e, quando conveniente, corredores ecológicos (art. 25 da Lei nº 9.985/2000). A zona de amortecimento consiste no “entorno de uma unidade de conservação, onde as atividades humanas estão sujeitas a normas e restrições específicas, com o propósito de minimizar os impactos negativos sobre a unidade” (art. 2º, XVIII, da Lei nº 9.985/2000). 26 Os corredores ecológicos, por sua vez, correspondem a porções de ecossistemas naturais ou seminaturais, ligando unidades de conservação, que possibilitam entre elas o fluxo de genes e o movimento da biota, facilitando a dispersão de espécies e a recolonização de áreas degradadas, bem como a manutenção de populações que demandam para sua sobrevivência áreas com extensão maior do que aquela das unidades individuais (art. 2º, XIX, da Lei nº 9.985/2000). Quando houver uma justaposição ou sobreposição de unidades de conservação de categorias distintas e/ou outras áreas protegidas, públicas ou privadas, deverá haver uma gestão de todo o conjunto, de forma integrada e participativa. É o que se denomina de “mosaico” de unidades de conservação, que deve ser reconhecido por ato formal do Ministério do Meio Ambiente e gerido por um conselho. Questão complexa e que, certamente, ainda ocasionará muitos conflitos entre os entes da federação corresponde à justaposição ou sobreposição de unidades de conservação de entes distintos, ou seja, uma unidade de conservação federal que abrange parte de unidade de conservação estadual, por exemplo (BELTRÃO, 2014). Trata-se de tema que a doutrina e a jurisprudência ainda praticamente não enfrentaram e que será decidido, em última análise, pelo Supremo Tribunal Federal, com fulcro no art. 102, I, f, da Constituição Federal, por se tratar de conflito federativo. O Plano de Manejo, documento que define o zoneamento da unidade de conservação, assim como o uso da área e o manejo dos seus recursos naturais, conforme a definição legal do art. 2º, XVII, da Lei nº 9.985/2000, deve abranger não apenas a área da unidade de conservação, mas também a zona de amortecimento e os corredores ecológicos, caso existentes. A lei assegura ampla participação da população residente na elaboração, atualização e implementação do Plano de Manejo das Reservas Extrativistas, das Reservas de Desenvolvimento Sustentável, das Áreas de Proteção Ambiental e, quando couber, das Florestas Nacionais e das Áreas de Relevante Interesse Ecológico (art. 27, § 2º, da Lei nº 9.985/2000). Igualmente, prevê que o Plano de Manejo deverá ser elaborado no prazo de até cinco anos a partir da criação da respectiva unidade de conservação. Entretanto, 27 não há a indicação de qual será a consequência legal caso este prazo não seja cumprido (art. 27, § 3º, da Lei nº 9.985/2000). Já o art. 36 impõe a obrigação de compensação por significativo impacto ambiental, que consiste no dever de o empreendedor de obra ou atividade que seja considerada de impacto significativo ao ambiente, pelo órgão ambiental competente, apoiar a implantação e manutenção de unidade de conservação do grupo de Proteção Integral. O montante de recursos a ser destinado pelo empreendedor para essa implantação e manutenção de unidade de conservação do grupo de Proteção Integral será fixado pelo órgão ambiental licenciador de acordo com o grau de impacto ambiental causado pela obra ou atividade licenciada. É interessante ver a decisão do Supremo Tribunal Federal na ADI 3.37823. Competirá ao órgão ambiental licenciador definir as unidades de conservação a serem beneficiadas ou até mesmo criadas com esses recursos. Excepcionalmente, tais recursos poderão ser destinados à unidade de conservação do grupo de Uso Sustentável quando for a mesma, ou sua zona de amortecimento, afetada pelo respectivo empreendimento (art. 36, § 3º). A Resolução CONAMA nº 371/200624 estabelece “diretrizes aos órgãos ambientais para o cálculo, cobrança, aplicação, aprovação e controle de gastos” relativos às receitas obtidas por meio da compensação ambiental prevista pela Lei nº 9.985/2000. Guarde... Há dois grandes grupos de unidades de conservação: as de Proteção Integral e as de Uso Sustentável. O primeiro tem por objetivo “preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos nesta Lei” (art. 7º, § 1º, da Lei nº 9.985/2000). Já as Unidades de Uso Sustentável têm por propósito “compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela de seus recursos naturais” (art. 7º, § 2º, da Lei nº 9.985/2000). É permitida a introdução de espécies não autóctones nas Áreas de Proteção Ambiental, nas Florestas Nacionais, nas Reservas Extrativistas e nas Reservas de 23 Disponível em: http://www.stf.jus.br/imprensa/pdf/ADI3378.pdf 24 Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=493 28 Desenvolvimento Sustentável, sendo vedada nas demais categorias de unidades de conservação (art. 31, § 1º, da Lei nº 9.985/2000). Com exceção da Área de Proteção Ambiental e da Reserva Particular do Patrimônio Natural, toda exploração comercial de produtos, subprodutos ou serviços “obtidos ou desenvolvidos a partir dos recursos naturais, biológicos, cênicos ou culturais ou da exploração da imagem de unidade de conservação” de unidade de conservação dependerá de prévia autorização de sua respectiva administração e de retribuição econômica por parte do explorador (art. 33). Com o intuito de evitar burocracia e facilitar a entrada de receitas, a Lei expressamente autoriza os órgãos que administram as unidades de conservação a receberem diretamente recursos ou doações de qualquer natureza, nacionais ou estrangeiras, com ou sem encargos, oriundas de organizações públicas ou privadas. Por fim, as unidades de conservação do grupo de Uso Sustentável podem ser transformadas total ou parcialmente em unidades do grupo de Proteção Integral por meio de instrumento normativo do mesmo nível hierárquico do que criou a unidade, desde que obedecidos os procedimentos de consulta estabelecidos no § 2º do art. 22 da Lei nº 9.985, de 2000 (art. 22, § 5º). 3.2 Unidades de Proteção Integral (UPI) O grupo dessas unidades compreende cinco categorias de unidades de conservação. Cada uma dessas UPI será dotada de um Conselho Consultivo, presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil, por proprietários de terras localizadas em Refúgios de Vida Silvestre ou Monumento Natural, quando for o caso, e,na hipótese prevista no § 2º do art. 42, das populações tradicionais residentes, conforme se dispuser em regulamento e no ato de criação da unidade (art. 29). As Unidades de Conservação de Proteção Integral têm por objetivo preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais. As categorias das Unidades de Conservação de Proteção Integral são as seguintes (Lei nº 9.985/2000, art. 8º): a) Estação Ecológica; b) Reserva Biológica; 29 c) Parque Nacional; d) Monumento Natural; e e) Refúgio da Vida Silvestre. A Estação Ecológica é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites serão desapropriadas, e tem como objetivo a preservação da natureza e a realização de pesquisas científicas, as quais dependem de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade (Lei nº 9.985/2000, art. 9º, § 1º). Na Estação Ecológica, a visitação pública é proibida, exceto quando com objetivo educacional, de acordo com o que dispuser o Plano de Manejo da unidade ou regulamento específico (Lei nº 9.985/2000, art. 9º, § 2º). Na Estação Ecológica só podem ser permitidas alterações dos ecossistemas no caso de (Lei nº 9.985/2000, art. 9º, § 4º, I a IV): I. medidas que visem a restauração de ecossistemas modificados; II. manejo de espécies com o fim de preservar a diversidade biológica; III. coleta de componentes dos ecossistemas com finalidades científicas; IV. pesquisas científicas cujo impacto sobre o ambiente seja maior do que aquele causado pela simples observação ou pela coleta controlada de componentes dos ecossistemas em uma área correspondente a no máximo 3% (três por cento) da extensão total da unidade e até o limite de 1.500 (mil e quinhentos) hectares. A Reserva Biológica é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites serão desapropriadas. A visitação pública é proibida, exceto aquela com objetivo educacional (Lei nº 9.985/2000, art. 10, §§ 1º e 2º). Na Reserva Biológica, a realização de pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento (Lei nº 9.985/2000, art. 10, § 3º). O Parque Nacional é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites serão desapropriadas. A visitação pública está sujeita às normas e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável por 30 sua administração e àquelas previstas em regulamento (Lei nº 9.985/2000, art. 11, §§ 1º e 2º). No Parque Nacional, a pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade, bem como àquelas previstas em regulamento (Lei nº 9.985/2000, art. 11, § 3º). Os Parques, quando forem criados pelos Estados ou pelos Municípios, serão denominados, respectivamente, Parque Estadual e Parque Natural Municipal (Lei nº 9.985/2000, art. 4º). O Monumento Natural pode ser constituído por áreas particulares, desde que seja possível compatibilizar os objetivos da unidade com a utilização da terra e dos recursos naturais do local pelos proprietários. Caso não haja esta compatibilização, a área deve ser desapropriada (Lei nº 9.985/2000, art. 12, §§ 1º e 2º). No Monumento Natural, a visitação pública está sujeita às condições e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável pela administração e àquelas previstas em regulamento (Lei nº 9.985/2000, art. 12, § 3º). O Refúgio da Vida Silvestre pode ser constituído por áreas particulares, desde que seja possível compatibilizar os objetivos da unidade com a utilização da terra e dos recursos naturais do local pelos proprietários. Caso não haja esta compatibilização, a área deve ser desapropriada (Lei nº 9.985/2000, art. 13, §§ 1º e 2º). No Refúgio da Vida Silvestre, a visitação pública está sujeita às normas e às restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável pela administração e àquelas previstas em regulamento (Lei nº 9.985/2000, art. 13, § 3º). No Refúgio da Vida Silvestre, a pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento (Lei nº 9.985/2000, art. 13, § 4º). 31 3.3 Unidades de Conservação de Uso Sustentável Como visto, estas unidades têm por objetivo compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável dos recursos naturais, sendo admitido o uso direto dos recursos naturais. As categorias das Unidades de Conservação de Uso Sustentável são as seguintes (Lei nº 9.985/2000, art. 14): i. Área de Proteção Ambiental (APA); ii. Área de Relevante Interesse Ecológico; iii. Floresta Nacional; iv. Reserva Extrativista; v. Reserva de Fauna; vi. Reserva de Desenvolvimento Sustentável; vii. Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). A Área de Proteção Ambiental é constituída por terras públicas ou privadas (Lei nº 9.985/2000, art. 15, § 1º). Respeitados os limites constitucionais, podem ser estabelecidas normas e restrições para a utilização de uma propriedade privada localizada em uma Área de Proteção Ambiental (Lei nº 9.985/2000, art. 15, § 2º). Na Área de Proteção Ambiental, as condições para a realização de pesquisa científica e visitação pública nas áreas sob domínio público serão estabelecidas pelo órgão gestor da unidade e nas áreas sob propriedade privada caberá ao proprietário estabelecê-las (Lei nº 9.985/2000, art. 15, §§ 3º e 4º). A Área de Proteção Ambiental (APA) disporá de um Conselho presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes dos órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e da população residente (Lei nº 9.985/2000, art. 15, § 5º). A Área de Relevante Interesse Ecológico é constituída por terras públicas ou privadas (Lei 9.985/2000, art. 16, § 1º). Respeitados os limites constitucionais, podem ser estabelecidas normas e restrições para a utilização de uma propriedade privada localizada em uma Área de Relevante Interesse Ecológico (Lei nº 9.985/2000, art. 16, § 2º). 32 A Floresta Nacional é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas (Lei nº 9.985/2000, art. 17, § 1º). Na Floresta Nacional, a visitação pública é permitida, condicionada às normas estabelecidas para o manejo da unidade pelo órgão responsável por sua administração (Lei nº 9.985/2000, art. 17, § 3º). Na Floresta Nacional, a pesquisa científica é permitida e incentivada, sujeitando-se à prévia autorização do órgão responsável pela administração da unidade, às condições e restrições por este estabelecidas e àquelas previstas em regulamento (Lei nº 9.985/2000, art. 17, § 4º). A Floresta Nacional disporá de um Conselho Consultivo, presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e, quando for o caso, das populações tradicionais residentes (Lei nº 9.985/2000, art. 17, § 5º). A Floresta, quando criada pelo Estado ou Município, será denominada, respectivamente, Floresta Estadual e Floresta Municipal (Lei nº 9.985/2000, art. 17, § 6º). Reserva Extrativista é de domínio público, com uso concedido às populações extrativistas, mediante contrato, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas (Lei nº 9.985/2000, art. 18, § 1º). A Reserva Extrativista será gerida por um Conselho Deliberativo, presidido pelo órgão responsável porsua administração e constituído por representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e das populações tradicionais residentes na área, conforme se dispuser em regulamento e no ato de criação da unidade (Lei nº 9.985/2000, art. 18, § 2º). Na Reserva Extrativista, a visitação pública é permitida, desde que compatível com os interesses locais e de acordo com o disposto no Plano de Manejo da área (Lei nº 9.985/2000, art. 18, § 3º). Na Reserva Extrativista, a pesquisa científica é permitida e incentivada, sujeitando-se à prévia autorização do órgão responsável pela administração da unidade, às condições e restrições por este estabelecidas e às normas previstas em regulamento (Lei nº 9.985/2000, art. 18, § 4º). 33 A Reserva de Fauna é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas (Lei nº 9.985/2000, art. 19, § 1º). Na Reserva de Fauna, a visitação pública pode ser permitida, desde que compatível com o manejo da unidade e de acordo com as normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração (Lei nº 9.985/2000, art. 19, § 2º). Na Reserva de Fauna, a pesquisa científica é permitida e a comercialização dos produtos e subprodutos resultantes destas pesquisas obedecerá ao disposto nas leis sobre fauna e regulamentos (Lei nº 9.985/2000, art. 19, § 4). A Reserva de Desenvolvimento Sustentável é de domínio público, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser, quando necessário, desapropriadas (Lei nº 9.985/2000, art. 20, § 2º). A Reserva de Desenvolvimento Sustentável será gerida por um Conselho Deliberativo, presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e das populações tradicionais residentes na área, conforme se dispuser em regulamento e no ato de criação da unidade (Lei nº 9.985/2000, art. 20, § 4º). Na Reserva de Desenvolvimento Sustentável, é permitida e incentivada a visitação pública, desde que compatível com os interesses locais e de acordo com o disposto no Plano de Manejo da área (Lei nº 9.985/2000, art. 20, § 5º, I). Na Reserva de Desenvolvimento Sustentável, é permitida e incentivada a pesquisa científica voltada à conservação da natureza, sujeitando-se à prévia autorização do órgão responsável pela administração da unidade, às condições e restrições por este estabelecidas e às normas previstas em regulamento (Lei nº 9.985/2000, art. 20, § 5º, I). A Reserva Particular do Patrimônio Natural é uma área privada, gravada com perpetuidade, com o objetivo de conservar a diversidade biológica (Lei nº 9.985/2000, art. 21). O proprietário deverá assinar um termo de compromisso perante o órgão ambiental, no qual constará o gravame da perpetuidade, e será averbado à margem da inscrição no Registro Público de imóveis (Lei nº 9.985/2000, art. 21, § 1º). Na Reserva Particular do Patrimônio Natural, poderá ser permitida, conforme se dispuser em regulamento (Lei nº 9.985/2000, art. 21, § 2º): 34 a) a pesquisa científica; e, b) a visitação com objetivos turísticos, recreativos e educacionais. Todas as Unidades de Conservação, com exceção da Área de Proteção Ambiental e da Reserva Particular do Patrimônio Natural, devem possuir uma zona de amortecimento e, quando conveniente, corredores ecológicos (Lei nº 9.985/2000, art. 25). Resumo das características das Unidades de Conservação de Proteção Integral a) Estação Ecológica: I) objetiva a preservação da natureza e a realização de pesquisas científicas; II) posse e domínio públicos, áreas particulares serão desapropriadas; III) visitação pública proibida, exceto com objetivo educacional; IV) pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade de conservação. b) Reserva Biológica: I) objetiva a preservação integral da biota e demais atributos naturais existentes em seus limites; II) posse e domínio públicos, áreas particulares serão desapropriadas; III) visitação pública proibida, exceto com objetivo educacional; IV) pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade de conservação. c) Parque Nacional: I) objetiva a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica; II) posse e domínio públicos, áreas particulares serão desapropriadas; III) visitação pública depende do previsto no Plano de Manejo; IV) pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade de conservação. d) Monumento Natural: I) objetiva preservar sítios naturais raros, singulares ou de grande beleza cênica; II) pode ser constituído por áreas particulares, quando houver compatibilização com os objetivos da unidade de conservação ou, caso não haja compatibilização, as áreas serão desapropriadas; III) visitação pública depende do previsto no Plano de Manejo; IV) pesquisa científica sem previsão legal. e) Refúgio da Vida Silvestre: I) objetiva proteger ambientes naturais onde se assegurem condições para a existência ou reprodução de espécies ou comunidades da flora local e da fauna residente ou migratória; II) pode ser constituído por áreas particulares, quando houver compatibilização com os objetivos da unidade de conservação ou, caso não haja compatibilização, as áreas serão desapropriadas; III) visitação pública depende do previsto no Plano de Manejo; IV) pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade de conservação. 35 Resumo das características das Unidades de Conservação de Uso Sustentável (Lei nº 9.985/2000, art. 14): a) Área de Proteção Ambiental: I) objetiva proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais; II) constituída por terras públicas ou privadas; III) pode haver restrições para a utilização de uma propriedade privada nela localizada; IV) visitação e pesquisa sujeitas a condições. b) Área de Relevante Interesse Ecológico: I) objetiva manter os ecossistemas naturais de importância regional ou local e regular o uso admissível dessas áreas; II) constituída por terras públicas ou privadas; III) visitação e pesquisa não prevista em lei. c) Floresta Nacional: I) objetiva o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais; II) posse e domínio públicos, áreas particulares serão desapropriadas; III) visitação pública permitida, condicionada ao Plano de Manejo; IV) pesquisa científica permitida, sujeitando-se à prévia autorização do órgão responsável pela administração da unidade de conservação. d) Reserva Extrativista: I) objetiva proteger os meios de vida e a cultura das populações extrativistas e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade; II) é de domínio público, com uso concedido às populações extrativistas tradicionais, mediante contrato de concessão de uso, áreas particulares serão desapropriadas; III) visitação pública permitida, de acordo com o Plano de Manejo; IV) pesquisa científica permitida, sujeitando-se à prévia autorização do órgão responsável pela administração da unidade de conservação. e) Reserva de Fauna: I) posse e domínio públicos, áreas particulares serão desapropriadas; II) visitação pública permitida, desde que compatível com o Plano de Manejo; III) proibido o exercício da caça amadorística ou profissional. f) Reserva de Desenvolvimento Sustentável: I) objetiva preservar a natureza e, ao mesmo tempo, assegurar as condições e os meios necessários para a reprodução e a melhoria dos modos e da qualidade de vida; II) é de domínio público, com uso concedido às populações tradicionais, mediante contrato de concessão de uso, áreas particulares serão desapropriadas.
Compartilhar