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Controle Biológico com Ácaros Predadores e Seu Papel no Manejo Integrado de Pragas PROMIP 1°Ed 70p

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CONTROLE BIOLÓGICO COM 
ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL 
NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 
 
 
Marina Ferraz de Camargo Barbosa 
Analista de Pesquisa e Desenvolvimento, PROMIP 
marina@promip.agr.br 
 
 
Peterson Rodrigo Demite 
Professor Colaborador, Instituto Federal Goiano 
peterson_demite@yahoo.com.br 
 
 
Gilberto José de Moraes 
Professor Associado, ESALQ/USP 
moraesg@usp.br 
 
 
Marcelo Poletti 
Sócio Fundador e CEO, PROMIP 
mpoletti@promip.agr.br 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Maio de 2017 - 1ª Edição 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 
 
Marina Ferraz de Camargo Barbosa 
Peterson Rodrigo Demite 
Gilberto José de Moraes 
Marcelo Poletti 
 
 
 
CONTROLE 
BIOLÓGICO 
COM ÁCAROS 
PREDADORES 
E SEU PAPEL NO 
MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 
 
 
 
1ª EDIÇÃO 
 
Engenheiro Coelho / SP 
PROMIP 
 
 
2017
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 3 
 
 
 
Promip Holding S.A. 
Estrada Bode Branco, s/n – km 02 – Bairro: Conceição 
Caixa Postal: 111 – CEP: 13.165-000 
Engenheiro Coelho – SP 
Fones: 19 3857-2020 / 19 4040-4112 
promip@promip.agr.br www.promip.agr.br 
 
 
 
Impresso no formato eletrônico – e-book 
 
 
Este livro foi autorizado para domínio público e está disponível para 
download no portal da Promip (www.promip.agr.br) 
 
De acordo com a Lei n. 10.994, de 14/12/2004, 
Foi feito depósito legal na Biblioteca Nacional 
 
ISBN: 978-85-93311-01-7 
 
CDD 630 – Agricultura e tecnologias relacionadas 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 4 
 
APRESENTAÇÃO 
 
Há algum tempo, quando produtores rurais e técnicos ligados ao agronegócio reuniam-
se para trocar informações e experiências a respeito do manejo de pragas nas principais 
regiões agrícolas brasileiras, a única estratégia pautada era o controle químico. Quase 
nenhuma importância era dada ao controle biológico aplicado, e pouco era comentado 
sobre o uso prático de agentes benéficos na agricultura. Para muitos influenciadores, 
esse assunto estava restrito às referências teóricas, geralmente debatidas em 
ambientes acadêmicos durante sessões em simpósios e congressos científicos. Hoje, o 
cenário mudou e o controle biológico é uma estratégia que está ao alcance do 
agricultor. 
Produtos biológicos contendo ácaros predadores são comercializados em vários países 
da Europa e América do Norte desde desde os anos de 1980. No Brasil, a produção em 
larga escala destes organismos iniciou-se em 2006 e a sua distribuição comercial 
começou a ser realizada em 2010, quando a empresa PROMIP obteve seu primeiro 
registro para a comercialização de Neomip, produto biológico contendo o ácaro 
predador Neoseiulus californicus utilizado para o controle do ácaro rajado em diversas 
culturas. 
Atualmente, existem várias espécies de ácaros predadores que são utilizadas para o 
manejo de diferentes alvos, sendo que para cada praga há uma solução biológica com 
espectro de ação restrito. Assim, para que o uso desta valiosa tecnologia seja feito de 
maneira correta e sustentável é muito importante que tanto os consultores quanto os 
agricultores conheçam os principais aspectos técnicos relacionados a estes organismos. 
Neste e-book, os autores apresentam o tema abordando aspectos relacionados às 
diferentes estratégias de controle biológico, com destaque ao uso aplicado de ácaros 
predadores em programas de manejo integrado de pragas. Informações relevantes 
sobre a biologia e comportamento de diferentes espécies de predadores também são 
comentadas, contribuindo como material didático e de extensão para todos os 
interessados no uso prático destes organismos. 
Desejamos a todos os nossos parceiros e colaboradores uma ótima leitura e que as 
informações contidas neste material contribuam efetivamente para a implantação de 
técnicas que estimulem o desenvolvimento de uma agricultura segura, sustentável e 
de alta produtividade, contribuindo para a melhoria da saúde de todos nós e do 
planeta. 
Dr. Marcelo Poletti 
Sócio Fundador e Diretor Geral 
Promip Holding S/A 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 5 
 
1. CONTROLE BIOLÓGICO: MANEJO DE PRAGAS EM 
SINTONIA COM O MUNDO MODERNO 
 
Os meios de produção agrícola têm se modificado nos últimos anos 
a fim de se conectarem com uma sociedade cada vez mais moderna 
e exigente. Atualmente, espera-se que os sistemas adotados sejam 
cada vez mais limpos, eficientes e menos danosos ao ambiente. 
Para tanto, exige-se que os diversos profissionais envolvidos com a 
agricultura trabalhem em conjunto para o desenvolvimento de 
técnicas consonantes com o atual momento. 
O controle de pragas tem um papel central nesta “nova 
agricultura”, com o uso indiscriminado de agrotóxicos sendo 
colocado em xeque. Por exemplo: a agricultura orgânica tem 
ganhado cada vez mais destaque no mercado nacional e, neste 
sistema, nenhum tipo de defensivo é permitido. Além disso, 
mesmo em sistemas onde o uso de insumos químicos é aceito, tem-
se procurado informar o produtor e a sociedade sobre a 
importância da redução no uso de defensivos para a prevenção de 
problemas futuros, como resíduos no ambiente e nos alimentos, 
além das questões referentes à perda de eficiência destes 
produtos, com a aquisição de resistência pelas pragas. 
Na busca por alternativas, o controle biológico despontou como 
uma das principais armas contra os prejuízos trazidos pelo uso 
descontrolado de agrotóxicos. Lentamente, produtores têm se 
convencido de que a utilização de agentes de controle biológico em 
substituição aos inseticidas pode trazer diversas vantagens, dentre 
as quais: 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 6 
 
- A utilização destes é uma atividade inócua ao trabalhador, ao 
contrário dos riscos decorrentes da manipulação dos defensivos 
químicos; 
- Os produtos biológicos não deixam resíduos tóxicos ao meio 
ambiente e não afetam o homem; 
- Como o controle biológico não utiliza produtos com efeito 
residual, não existe um período de carência (intervalo de tempo 
entre a aplicação do produto e sua colheita para comercialização); 
isto difere totalmente da regulamentação para os defensivos 
químicos; 
- Os agentes de controle biológico são, geralmente, específicos 
para uma ou um grupo de pragas, enquanto muitos defensivos 
químicos apresentam baixa ou nenhuma seletividade, com efeitos 
letais e subletais sobre inimigos naturais, agentes polinizadores e 
outros organismos benéficos; 
- Sob condições adequadas, os agentes de controle biológico 
podem se multiplicar e espalhar pelo cultivo, permanecendo na 
cultura após a liberação; 
- O registro de casos de resistência de insetos aos produtos 
biológicos é muito raro. Diferentemente, existem inúmeros 
registros de casos de resistência de pragas aos produtos químicos. 
Em média, o período entre o início do uso de uma molécula química 
e o aparecimento de resistência é em torno de cinco anos. 
São três os grupos de inimigos naturais comumente utilizados para 
o controle biológico: entomopatógenos- microrganismos que 
contaminam as pragas, causando doenças. Parasitóides- cada 
parasitóide parasita um único indivíduo da espécie praga (neste 
caso conhecido como hospedeiro), do qual se alimenta até 
completar seu desenvolvimento. Predadores- cada um destes 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 7 
 
necessita de inúmeros indivíduos pragas (neste caso conhecidos 
como presas) para completar seu desenvolvimento. Entre os 
predadores, alguns ácaros têm sido alvo de inúmeros estudos. 
Os ácaros predadores apresentam elevado potencial como agentes 
de controle biológico. Em muitas culturas nas quais o controle 
químico é tradicionalmente utilizado,estes organismos podem 
substituir os defensivos químicos ou podem ser empregados como 
parte de um programa de manejo integrado de pragas (MIP) (e.g. 
McMurtry e Croft, 1997; Easterbrook et al., 2001; Stern et al., 1959; 
Flaherty e Huffaker, 1970; Wright e Chambers, 1994; Yaninek e 
Herren, 1988). 
Diversas famílias de ácaros abrigam espécies predadoras, sendo as 
principais: Anystidae, Ascidae, Bdellidae, Cheyletidae, Cunaxidae, 
Laelapidae, Macrochelidae, Phytoseiidae, Rhodacaridae e 
Stigmaeidae (Carrillo et al., 2015; Moraes, 2002). Entre estas, 
merecem destaque as famílias Laelapidae e Phytoseiidae, das quais 
certas espécies vêm sendo comercializadas como agentes de 
controle biológico no Brasil. 
O aumento no uso de agentes de controle biológico tem sido 
significativo nos últimos anos. Porém, para que mais produtores 
possam conhecer e adotar esta técnica, faz-se necessárias algumas 
ações, como: 
(a) a divulgação detalhada desta tecnologia e suas recomendações 
de uso; 
(b) a capacitação de profissionais para a correta execução desta 
tecnologia e manutenção da eficiência do produto no campo, e; 
(c) a divulgação dos benefícios advindos da utilização do controle 
biológico, não somente para o produtor, mas para os consumidores 
e para toda a sociedade. 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 8 
 
 
 
Algumas das principais famílias de ácaros predadores. (A) Anystidae (Crédito: Perry 
Babin), (B) Rhodacaridae (Crédito: Castilho, R.C.), (C) Laelapidae, (D) Phytoseiidae, (E) 
Bdellidae (Crédito: Scott Justis), (F) Cheyletidae (Crédito: Tom Murray), (G) 
Macrochelidae (Crédito: Azevedo, L.H). 
 
Neste sentido, este documento reúne informações sobre os 
principais grupos de ácaros predadores e sua utilização como 
agentes de controle biológico de ácaros e insetos pragas. Além 
disso, são destacados resultados obtidos com a utilização destes 
predadores em diferentes cultivos no Brasil. Assim, cientes da 
importância da importância da divulgação das bases e eficiência do 
controle biológico para o aumento no uso desta tecnologia, espera-
se que este material responda as dúvidas dos produtores e os 
estimule a iniciar o uso de inimigos naturais. 
 
 
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2. CONTROLE BIOLÓGICO: O QUE É E COMO FAZER 
 
Independentemente de seu aspecto aplicado, o controle biológico 
é antes de tudo um fenômeno natural, em que populações de 
artrópodes fitófagos1 são reguladas pela ação de seus inimigos 
naturais, com a manutenção da densidade destas espécies em nível 
inferior àquela que ocorreria na ausência desses reguladores (Parra 
et al. 2002). Existem basicamente três tipos de estratégias que 
podem ser adotadas para a implementação de programas de 
aplicação do controle biológico: controle biológico natural, 
controle biológico clássico e controle biológico aplicado. 
O controle biológico natural está diretamente relacionado à 
definição de controle biológico, ou seja, um fenômeno que ocorre 
naturalmente. Neste caso, deve-se adotar medidas para beneficiar 
o aparecimento e persistência de inimigos naturais e 
entomopatógenos (levando à ocorrência de epizootias2), não 
havendo a necessidade de produção e liberações dos agentes de 
controle biológico. Tais medidas podem ser: a adoção de 
defensivos químicos de baixo impacto sobre organismos não-alvo 
ou a utilização destes produtos em períodos de ausência destes 
reguladores naturais; a introdução na área de cultivos de plantas 
que possam atrair os inimigos naturais (plantas atrativas) ou de 
 
1 Fitófago: Organismos que se alimentam de vegetais, por exemplo, alguns ácaros e 
insetos. Alguns insetos e ácaros fitófagos podem ser considerados pragas agrícolas pois 
ao se alimentarem das plantas causam prejuízos, comprometendo a produção. 
2 Epizootia: Nesta situação, refere-se a um fenômeno natural no qual um 
entomopatógeno ocorre em populações de insetos ou ácaros. É uma infecção 
generalizada da população numa área extensa de cultivo. 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 10 
 
plantas que possam servir de refúgio ou produzir alimento 
alternativo (néctar, pólen, etc.) para os inimigos naturais, entre 
outras medidas (Barbosa, 1998). 
 
 
Exemplos de medidas que podem favorecer o controle biológico natural de ácaros 
praga por ácaros predadores. 
 
O controle biológico clássico refere-se à importação3 de agentes de 
controle biológico exóticos4. Esta estratégia foi desenvolvida 
considerando-se que a maior parte das plantas cultivadas 
comercialmente é constituída de espécies exóticas, tendo, junto 
com estas, sido trazidas diversas espécies fitófagas, algumas das 
quais já eram ou passaram a ser pragas no novo ambiente. Assim, 
torna-se frequentemente necessário ir ao local de origem da planta 
em busca de inimigos naturais que já estejam adaptados ao 
 
3 Importação: Refere-se à introdução realizada conforme as normas e procedimentos 
quarentenários determinados pelo MAPA (Portaria 74/1994). 
4 Exótico: Aquele organismo que não ocorre naturalmente naquele país; que não é 
nativo. 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 11 
 
consumo ou parasitismo das pragas introduzidas. Então, os 
inimigos naturais considerados promissores são importados e 
estudos mais refinados são realizados para avaliação de sua 
eficácia. Sendo esta comprovada, eles são produzidos e liberados 
nas áreas atacadas pela praga. De forma ideal, o novo inimigo 
natural deve entrar em equilíbrio com o ambiente após esta 
liberação, estabelecendo-se na área (Parra et al., 2002). 
 
 
Etapas para implementação de um programa de controle biológico clássico. 
 
Por fim, temos a estratégia de controle biológico mais eficiente e 
adotada em todo o mundo: o controle biológico aplicado. Neste 
sistema, os inimigos naturais são produzidos por biofábricas em 
escala massal (milhões de indivíduos) para serem liberados na área 
de interesse. Além de eficiente, este método permite a geração de 
diversos postos de trabalho, seja nas biofábricas, ou nas pesquisas 
necessárias para seu estabelecimento. 
 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 12 
 
 
Esquema de aplicação do controle biológico aplicado. 
 
Os agentes de controle biológico, que são utilizados nos programas 
mencionados anteriormente são: 
Entomopatógenos, que são microrganismos capazes de causar uma 
reação infecciosa, ou seja, uma doença na praga-alvo. Esta relação 
entre o patógeno e o organismo atacado (hospedeiro) é 
extremamente íntima e a ação de um sobre o outro resulta em 
alterações morfológicas e fisiológicas profundas em ambos 
organismos (Alves, 1998). Se considerarmos que cada animal é 
hospedeiro de pelo menos um patógeno, é possível imaginar o 
potencial do controle biológico realizado por estes inimigos 
naturais. 
Parasitóides, que são exclusivamente insetos cujos estágios 
imaturos se desenvolvem sobre ou no interior do corpo de um 
outro organismo, que morre no final do processo; os adultos são 
de vida livre e alimentam-se de néctar ou outras substâncias 
açucaradas (Godfray, 2004). 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 13 
 
Predadores, que podem apresentar atividade predatória tanto na 
fase imatura quanto quando adultos (Gallo et al., 2002). Como 
exemplo, neste grupo encontram-se os ácaros predadores (Acari) 
(Moraes. 2002). 
A utilização de ácaros predadores como agentes de controle 
biológico já é consolidada no Brasil e no mundo para o controle de 
diversas pragas, com destaque para o ácarorajado, Tetranychus 
urticae (Acari: Tetranychidae), fungus gnats (Bradysia spp. (Diptera: 
Sciaridae) e tripes (Thysanoptera: Thripidae). Nos próximos 
capítulos, as características desses organismos e alguns casos de 
sucesso de controle biológico aplicado serão detalhados, com a 
demonstração dos benefícios que a utilização destes animais tão 
pequenos pode trazer para a sociedade. 
 
3. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE OS ÁCAROS 
 
Embora represente o segundo grupo animal com maior diversidade 
de espécies, os ácaros são pouco conhecidos pela maior parte das 
pessoas. De maneira geral, as espécies mais popularmente 
lembradas são aquelas que causam danos, como as espécies que 
danificam a saúde humana ou de outros animais (como os ácaros 
de poeira e carrapatos, por exemplo) ou as espécies fitófagas que, 
encontradas em muitas plantas cultivadas, podem alcançar o status 
de pragas agrícolas. 
Com base apenas nestes exemplos mais conhecidos, pode-se ter a 
falsa ideia de que os ácaros são “vilões”, que servem apenas para 
nos prejudicar. Porém, tal visão não poderia estar mais equivocada! 
Nos ambientes em que ocorrem, os ácaros desempenham papéis 
importantes na manutenção do equilíbrio ecológico, como ocorre, 
 
 
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por exemplo, com os ácaros Oribatida, um amplo grupo de ácaros 
edáficos de grande importância na ciclagem dos nutrientes no solo. 
No rol dos ácaros benéficos, as estrelas são os ácaros predadores 
que podem ocorrer associados tanto à parte aérea quanto à parte 
subterrânea de plantas, onde se alimentam de diversos grupos de 
pequenos animais, incluindo espécies-praga que ocorrem nestes 
locais. Por sua importância, há décadas os ácaros predadores são 
estudados e hoje, dezenas de espécies estão disponíveis em todo o 
mundo para utilização no controle biológico de pragas (Gerson et 
al., 2003; Carrillo et al., 2015). 
Como mencionado, os ácaros podem ocorrer nos mais diversos 
ambientes, como solo, corpos de água doce ou salgada, nas partes 
aéreas ou subterrâneas de plantas, etc. (Krantz e Walter, 2009). 
Nestes ambientes, os ácaros podem estar representados por 
pequenos grupos ou formarem populações gigantescas com 
dezenas de milhares de indivíduos. Nos ambientes em que 
ocorrem, os ácaros podem obter o alimento a partir de diversas 
fontes: (a) predando outros ácaros, pequenos insetos ou 
nematóides; (b) alimentando-se de fungos, bactérias, leveduras ou 
outros microrganismos; (c) alimentando-se de detritos, (d) de 
plantas, através da fitofagia, dentre outros hábitos. 
 Os ácaros pertencem ao filo Arthropoda, um vasto grupo de 
invertebrados definidos por possuírem, dentre outras 
características, um esqueleto externo rígido (chamado de 
exoesqueleto) e apêndices articulados. Os diferentes artrópodes, 
como os caranguejos, lagostas, aranhas, escorpiões, lacraias, 
centopeias, piolhos de cobras e insetos formam o mais vasto grupo 
de animais, habitando praticamente todo o globo (Brusca e Brusca, 
2003). Dentro dos artrópodes, os ácaros pertencem à subclasse 
Acari, da classe Arachnida, mesmo grupo a que pertencem as 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 15 
 
aranhas, escorpiões e opiliões, por exemplo (Krantz e Walter, 
2009). 
Apesar de haver algumas exceções, os aracnídeos são 
caracterizados por possuírem o corpo dividido em duas regiões: a 
anterior, denominada prossoma e a posterior, denominada 
opistossoma. No prossoma estão inseridos os apêndices, 
representados pelas quelíceras, pedipalpos (ou palpos) e quatro 
pares de pernas; antenas são ausentes no grupo. (Brusca e Brusca, 
2003). 
 
 
Comparação da morfologia externa de dois aracnídeos: um escorpião (A) e um ácaro 
(B) (adaptado de Moraes e Flechtmann, 2008). 
 
Dentro dos aracnídeos, os ácaros são únicos a apresentarem a 
seguinte combinação de caracteres: ausência de segmentação do 
corpo, ausência de divisão entre o prossoma e o opistossoma, 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 16 
 
presença de gnatossoma na extremidade anterior do corpo (onde 
estão localizados os palpos e as quelíceras) e o primeiro estágio do 
desenvolvimento (ou seja, a larva, conforme veremos adiante) 
geralmente apresentando apenas três pares de pernas (Moraes & 
Flechtmann, 2008). 
Os ácaros são geralmente animais muito pequenos, variando de 
cerca de 0,08 milímetros a 3 centímetros. A forma do corpo destes 
animais pode variar grandemente entre as diferentes espécies, 
podendo ser globoso, vermiforme, achatado, ovóide etc. Além 
disso, diversas estruturas podem sofrer hipertrofia ou regressão 
em espécies com diferentes hábitos (como as espécies vivem) e 
habitats (onde as espécies vivem). 
 
 
Exemplo da diversidade morfológica encontrada nos diferentes grupos de ácaros. (A) Um 
carrapato, que pode alcançar até 3 cm (Crédito: Charley Eiseman), (B) Um ácaro da família 
Trombidiidae, popularmente conhecidos como “ácaro-vermelho-de-veludo” (Crédito: Charley 
Eiseman), (C) Família Eupodidae, ácaros comumente encontrados no solo, são caracterizados 
por possuírem fêmures IV dilatados que são utilizados para o pulo (Crédito: Kyron Basu), (D) 
Família Erythraeidae (Crédito: Sam Houston), (E) Deutoninfas heteromórficas de Astigmatina 
sobre um inseto (F) Um ácaro Oribatida, grupo abundante no solo (G) Um ácaro de penas do 
grupo Astigmatina (Crédito: Scott Justis). 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 17 
 
 
A grande maioria dos ácaros é ovípara, ou seja, as fêmeas 
depositam no ambiente os ovos a partir dos quais se desenvolverão 
os embriões. Após a eclosão, os ácaros passam comumente por 
cinco fases de desenvolvimento antes de atingirem a fase adulta: 
pré-larva, larva, protoninfa, deutoninfa, tritoninfa e adulto. 
A pré-larva é um estágio quiescente encontrado no interior do ovo, 
sendo apenas algumas partes de seu corpo visíveis quando 
observado ao microscópio. A larva dos ácaros geralmente difere 
dos demais estágios por apresentar três pares de pernas e pelo 
grau reduzido de esclerotização (processo no qual a camada mais 
externa do exoesqueleto, incialmente fina, incolor e elástica, vai se 
enrijecendo e adquirindo a coloração característica da espécie). 
Algumas espécies apresentam larvas imóveis ou com pouco 
movimento e que não se alimentam, enquanto as larvas de outras 
apresentam movimentos vigorosos, além de se alimentarem 
ativamente (Krantz e Walter, 2009). 
Em alguns poucos grupos de ácaros há apenas um estágio ninfal, 
mas o mais comum é a existência de dois ou três estágios, 
chamados de protoninfa, deutoninfa e tritoninfa. Apesar de os 
estágios ninfais serem muito parecidos entre si, a cada ecdise 
(processo pelo qual os artrópodes trocam seu exoesqueleto, 
permitindo o crescimento do animal), a ninfa adquire 
características que a torna mais parecida com o adulto, como 
aumento da esclerotização, adição de setas5, escudos e caracteres 
genitais (Krantz e Walter, 2009). 
 
5 Estruturas sensoriais que podem estar presentes em diferentes formatos como 
semelhantes a pêlos, espinhos, penas, etc. Estas estruturas recobrem a superfície 
dorsal, ventral e pernas dos ácaros. 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 18 
 
No grupo Astigmatina, ocorre uma das mais surpreendentes 
modificações corporais nos ácaros, tornando as deutoninfas 
completamente diferentes dos demais estágios de 
desenvolvimento da espécie. Essas deutoninfas, chamadas de 
heteromórficas, são fortemente esclerotizadas, com pernas 
atrofiadas, aparato bucal ausente (ou seja, incapazes de se 
alimentar) e com a presença de ventosas ventrais. Quando 
apresenta esta morfologia, a deutoninfatorna-se especializada em 
utilizar outros animais, como insetos, aves e mamíferos para 
dispersão. Neste mesmo grupo, outra variação da deutoninfa pode 
resultar em regressão de praticamente todos os apêndices e setas, 
e o animal torna-se completamente imóvel. Neste caso, a 
deutoninfa é especializada para suportar longos períodos de 
adversidades ambientais, como falta de umidade e alimento, 
sobrevivendo até que as condições se tornem adequadas 
novamente (OConnor, 2009). 
Os adultos apresentam a esclerotização do corpo completa e 
característica para cada espécie, além de ter todos os caracteres 
sexuais maduros, sendo habilitados para a reprodução. O período 
de desenvolvimento dos ácaros, ou seja, o tempo entre a postura 
do ovo e a formação do adulto é muito variável, podendo levar de 
algumas horas a até mais de um ano. 
 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 19 
 
 
Ciclo de vida de um ácaro hipotético, mostrando os diversos estágios do 
desenvolvimento. 
 
4. ÁCAROS FITOSEÍDEOS 
 
Os ácaros da família Phytoseiidae, ou fitoseídeos, destacam-se por 
serem importante predadores de espécies fitófagas que ocorrem 
na parte aérea de plantas, como folhas e flores. Por seu hábito 
alimentar, esta família vem, há muito tempo, sendo estudada para 
utilização no controle biológico de pragas e, atualmente, é o grupo 
de ácaros mais empregado para este fim, com cerca de 16 espécies 
sendo regularmente comercializadas ao redor do mundo. Devido à 
sua importância, este grupo tem sido largamente estudado, 
contando hoje com mais de 2.700 espécies descritas, das quais 
cerca de 230 já foram registradas no Brasil (Demite et al., 2017). 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 20 
 
Estes ácaros são caracterizados morfologicamente por geralmente 
possuírem coloração brilhante, variando de amarelos a marrons, 
com um único escudo dorsal, que pode ser liso ou ter 
ornamentações. Neste escudo está localizada a maior parte das 
setas dorsais destes ácaros, que podem estar presentes num 
número máximo de 24 pares (Moraes e Flechtmann, 2008). Nas 
pernas podem ser observadas “macrosetas”, que apresentam 
tamanho e/ou diâmetro significativamente maior do que as demais 
setas presentes nestes apêndices. 
Os fitoseídeos são ácaros muito ativos e ágeis, que se movimentam 
mais rapidamente do que suas presas. Embora existam algumas 
espécies edáficas, ou seja, que vivem no solo, os fitoseídeos 
geralmente ocorrem na parte aérea de plantas (McMurtry et al. 
2013), como folhas, flores e domáceas (estruturas em forma de 
tufos ou concavidades presentes em algumas folhas). As espécies 
desta família são primariamente predadoras, alimentando-se de 
outros ácaros e pequenos insetos, mas muitas espécies podem 
aceitar também outras fontes alimentares, como fungos, pólen e 
néctar (McMurtry & Croft, 1997; McMurtry et al. 2013). 
Segundo McMurtry & Croft (1997), os fitoseídeos podem ser 
divididos em quatro grandes grupos de acordo com seus hábitos 
alimentares. Segundo estes autores, as espécies do Grupo I são 
exclusivamente predadoras de ácaros da família Tetranychidae 
pertencentes ao gênero Tetranychus (ao qual pertence o ácaro 
rajado, por exemplo). No Grupo II estão espécies que também são 
exclusivamente predadoras de tetraniquídeos, mas podem se 
alimentar de espécies de todos os gêneros da família. No Grupo III 
estão abrigadas as espécies generalistas: majoritariamente, estes 
fitoseídeos são predadores de ácaros e insetos diversos, mas há 
aqueles que se alimentam de fungos. Para complementar sua 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 21 
 
nutrição (ou na ausência da presa), os fitoseídeos do Grupo III 
podem consumir, também, produtos vegetais como pólen e 
exsudatos. 
 
 
Ácaro predador Phytoseiulus macropilis (Acari: Phytoseiidae). 
 
As espécies do Grupo IV possuem hábitos alimentares muito 
semelhantes aos do Grupo III, já que também são generalistas. A 
diferença, é que espécies do grupo IV, além de serem predadoras 
ou consumirem outras fontes de alimento, necessitam de pólen em 
sua dieta. Neste grupo, a ausência deste produto acarreta sérios 
danos à fecundidade, desenvolvimento e/ou sobrevivência do 
indivíduo. Recentemente, McMurtry et al. (2013) revisaram estes 
“estilos de vida” apresentados pelo fitoseídeos dividindo os quatro 
grupos em alguns subgrupos, a fim de abrigar as espécies que 
apresentem hábitos semelhantes, tornando estas divisões mais 
homogêneas. 
O ciclo de vida dos fitoseídeos é composto pelas fases de ovo, larva, 
protoninfa, deutoninfa e adulto (macho e fêmea). Em algumas 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 22 
 
espécies, existem apenas fêmeas na população sendo os machos 
totalmente ausentes (Hoy, 1985). O período de desenvolvimento é 
curto, completando-se em cerca de uma semana em condições 
ambientais adequadas. O período de oviposição, ou seja, período 
durante o qual a fêmea é capaz de produzir ovos, geralmente varia 
entre 20 e 30 dias, sendo que as fêmeas ovipositam, geralmente, 
um ou dois ovos por dia (Moraes e Flechtmann, 2008). 
 
Estágios do ciclo de vida do fitoseídeo Neoseiulus californicus. 
 
Os fitoseídeos são, em sua maioria, haplo-diplóides, isto é, os 
machos são produzidos a partir de ovos não fecundados (haplóides; 
n) e as fêmeas a partir de ovos fecundados (diplóides; 2n). Algumas 
poucas espécies se reproduzem por partenogênese telítoca (onde 
fêmeas são produzidas a partir de ovos não fecundados) (Wysoki e 
Bolland, 1983; Cruickshank e Thomas, 1999). Outro processo 
reprodutivo aparentemente comum nos fitoseídeos é denominado 
https://scholar.google.com.br/citations?user=E4hhzA0AAAAJ&hl=en&oi=sra
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 23 
 
como pseudo-arrenotoquia ou parahaploidia. Neste tipo de 
reprodução, ambos os sexos são originários de ovos diploides (2n) 
fecundados. Porém, poucas horas após a fecundação, ocorre a 
perda do conjunto de cromossomos de origem paterna em alguns 
indivíduos, que darão origem aos machos haploides (n) (Hoy, 
1985). 
 
5. ÁCAROS LELAPÍDEOS 
 
Os ácaros da família Laelapidae, ou lelapídeos, apresentam hábitos 
dos mais diversos e muitas espécies se destacam pela importância 
que possuem no controle biológico de diversas pragas edáficas, o 
que a torna o segundo grupo de ácaros mais utilizados em 
programas de controle biológico. Atualmente, esta família abriga 
cerca de 1.300 espécies, divididas em 11 subfamílias. 
Estes ácaros apresentam coloração variando entre amarelo e 
marrom, com tamanho entre 0,3 e 0,8 mm. O escudo dorsal é 
inteiro e apresenta, no mínimo, 20 pares de setas (geralmente 37-
39 pares de setas) e, comumente são encontradas setas ímpares 
(ou seja, sem o par correspondente no outro lado do dorso). O 
escudo genital é arredondado em sua extremidade posterior (num 
formato que lembra uma “língua”), geralmente com 1 par de setas 
(Moreira & Moraes, 2015; Lindquist et al., 2009). 
Muitas espécies de lelapídeos são parasitas de artrópodes, aves e 
mamíferos e as espécies de vida livre estão restritas à duas 
subfamílias (Hypoaspidinae e Melittiphinae). Destas, a mais 
importante é Hypoaspidinae, já que nesta subfamília encontram-se 
espécies com potencial para uso em controle biológico (Moreira & 
Moraes, 2015). 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 24 
 
Os lelapídeos predadores são generalistas, podendo se alimentar 
de quase todas as espécies de pequenos animais que ocorrem no 
solo. Suas presas dividem-se, principalmente, entre aquelas que 
dependem de áreas com alta umidade e filmes d´água para 
alimentação e locomoção (nematóides, por exemplo)e aquelas 
que são encontradas nos bolsões de ar entre as partículas de solo, 
como a maior parte dos pequenos artrópodes (Beaulieu & Walter, 
2007; Moreira & Moraes, 2015). 
 
 
Adulto de Stratiolaelaps scimitus visto sob um estereomicroscópio. 
 
Semelhantemente aos fitoseídeos, os lelapídeos passam pelos 
estágios de ovo, larva, protoninfa, deutoninfa e adulto, com um 
período aproximado de sete dias para completar seu 
desenvolvimento (Moreira e Moraes, 2015). Costumam ser vorazes 
predadores, mas também podem sobreviver muitos dias sem 
alimento se as condições ambientais se mantiverem favoráveis 
(Ignatowicz 1974; Wright e Chambers 1994; Moreira e Moraes, 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 25 
 
2015). Durante seu período reprodutivo, as fêmeas produzem de 1 
a 7 ovos por dia (Moreira e Moraes, 2015) e o modo reprodutivo 
pode ser haplo-diplóide, arrenótoco ou telítoco (Norton et al., 
1993). 
Desde o início da utilização de ácaros lelapídeos em programas 
controle biológico, duas espécies se destacaram: Stratiolaelaps 
scimitus (Womersley) e Stratiolaelaps miles (Berlese) (Gerson et al., 
2003). Contudo, Cabrera et al. (2005) indicaram que muitas 
populações comercializadas na Europa sob o nome de S. miles, na 
verdade referem-se a S. scimitus. Além disso, Walter e Campbell, 
(2003) utilizando técnicas moleculares, propuseram que S. scimitus 
e S. miles correspondem, na verdade, a um conjunto de espécies 
crípticas, ou seja, espécies diferentes, mas muito semelhantes 
entre si, o que dificulta sua identificação apenas com base na 
morfologia. A despeito destas questões taxonômicas, o importante 
é termos conhecimento da importância da família Laelapidae, 
especialmente do gênero Stratiolaelaps para a história e utilização 
atual do controle biológico de pragas edáficas. 
 
6. CONTROLE BIOLÓGICO DE PRAGAS COM O USO DE 
ÁCAROS PREDADORES 
 
6.1. ÁCARO RAJADO 
 
Danos às culturas 
Tetranychus urticae, conhecido popularmente como ácaro rajado, 
é uma das principais espécies de ácaros praga em todo o mundo, 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 26 
 
podendo atacar centenas de espécies vegetais, cultivadas ou não. 
No Brasil, exemplos de culturas importantes que atualmente 
sofrem com o ataque do ácaro rajado são algodão, feijão, mamão, 
videira, morango, ornamentais (como crisântemos, gérberas, rosas 
e orquídeas), pepino e tomate (Moraes e Flechtmann, 2008). 
Embora prefira a face inferior da folha, em condições de alta 
infestação, o ácaro rajado pode se alojar, também, na face 
superior. Um sinal característico de sua presença nas folhas é a teia 
por ele produzida. Saito (1983) indicou que T. urticae produz uma 
teia complexa e densa, que pode se tornar carregada de ovos e 
partículas fecais. Além de sua importância na ecologia do ácaro 
rajado, a presença de teia também influencia na ação de ácaros 
predadores para o controle biológico desta praga, como veremos 
mais adiante. 
 
 
Ataque do ácaro rajado em plantas de feijão de porco. (A) Fêmea do ácaro rajado; (B) 
vista da face abaxial de uma folha no início da infestação, estando os ácaros 
representados pelos “pontos” sobre a folha; (C) Vista adaxial de uma folha, mostrando 
as manchas cloróticas resultantes da infestação do ácaro; (D) Plantas secas e mortas 
após ataque severo de ácaro rajado. 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 27 
 
Ao se alimentar do conteúdo celular, o ácaro rajado causa o 
amarelecimento da folha, reduzindo a capacidade fotossintética da 
planta, o que resulta em perda na produção e qualidade dos frutos. 
Na face superior é possível observar puncturas cloróticas (manchas 
amareladas formadas após a morte das células pela alimentação 
dos ácaros). Em infestações mais intensas, o dano progride até o 
total secamento da folha e morte da planta (Jeppson et al., 1975). 
 
Morfologia e biologia 
Durante seu desenvolvimento, o ácaro rajado passa pelos estágios 
de ovo (esférico e esverdeado), larva (translúcida e de tamanho 
semelhante ao ovo), protoninfa e deutoninfa (que vão se tornando 
mais esverdeadas e maiores) e adultos, que apresentam coloração 
verde com duas manchas escuras no dorso, formadas pelo acúmulo 
de alimento nestes pontos. As fêmeas são maiores, com cerca de 
0,5 mm de comprimento, enquanto os machos medem cerca de 
0,25 mm. Além do tamanho, o macho pode ser diferenciado da 
fêmea por apresentar o corpo notadamente afilado na região 
posterior (Moraes e Flechtmann, 2008). 
No campo, o ácaro rajado é favorecido por condições de altas 
temperaturas e baixa umidade. A 25oC, o desenvolvimento de T. 
urticae leva de 10 a 13 dias (Bounfour e Tanigoshi, 2001). 
 
Controle biológico do ácaro rajado por ácaros fitoseídeos 
As principais espécies de ácaros fitoseídeos utilizadas em 
programas de controle biológico do ácaro rajado são aquelas 
pertencentes aos Grupos I e II conforme a classificação de 
McMurtry & Croft (1997). Os predadores destes grupos são 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 28 
 
habilidosos para caminhar por entre a teia produzida pelo ácaro 
rajado e podem até se beneficiar da sua presença como quando 
Phytoseiulus macropilis se utiliza da teia para evitar contato com os 
tricomas glandulares do tomate (Sato et al., 2011). 
 
 
Ciclo de vida do ácaro rajado, Tetranychus urticae. 
 
As espécies de Phytoseiidae mais comercializadas ao redor do 
mundo para o controle do ácaro rajado são: Galendromus 
(Galendromus) occidentalis, Neoseiulus californicus, Neoseiulus 
cucumeris, Phytoseiulus longipes e P. macropilis (maiores 
informações disponíveis em IPM Practitioner’s 2015 Directory of 
Least Toxic Pest Control Products for suppliers). No Brasil, os 
fitoseídeos P. macropilis e N. californicus têm sido utilizados para o 
controle do ácaro rajado em diferentes culturas, como cultivos 
extensivos (ex. algodão e soja), frutíferas (ex. ameixa, maçã, 
nectarina, uva e pêssego), ornamentais (ex. antúrio, crisântemo, 
gérbera e rosa) e hortaliças (ex. alface, berinjela, morango, pepino 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 29 
 
e tomate) (e.g. Oliveira et al., 2009; Sato et al., 2007; Monteiro, 
2002; Poletti & Omoto, 2012; Watanabe et al., 1994; Souza-
Pimentel et al., 2014). 
No campo, N. californicus e P. macropilis são facilmente 
diferenciáveis entre si: o corpo de P. macropilis é globoso e de 
coloração avermelhada, enquanto o de N. californicus 
normalmente é ligeiramente achatado, com coloração que varia de 
amarelo-palha ao amarelo-escuro. As características morfológicas 
de P. macropilis tornam-no um ácaro facilmente identificável e fácil 
de ser monitorado nas áreas em que foi liberado. De forma oposta, 
o predador N. californicus assemelha-se muito a outras espécies 
que frequentemente são encontradas nas mesmas culturas, como 
Neoseiulus idaeus, Neoseiulus barkeri e Amblyseius spp. Desta 
forma, programas de controle biológico que se utilizem da 
liberação massal daquele fitoseídeo devem contar com a 
colaboração de um taxonomista que realizará coletas e 
identificação periódica desta espécie, descartando a presença de 
outras espécies de predadores que possam prejudicar a eficiência 
do controle biológico (ver discussão em Zucchi, 2002). 
Além das diferenças morfológicas, P. macropilis e N. californicus 
também variam de acordo com seus hábitos alimentares e 
voracidade. Phytoseiulus macropilis é especialista quanto ao hábito 
alimentar, consumindo exclusivamente ácaros pertencentes ao 
gênero Tetranychus (McMurtry e Croft, 1997). Já N. californicus 
alimenta-se preferencialmente do ácaro rajado, mas na ausência 
deste, pode se alimentar e desenvolver-se em diferentes 
alimentos, comooutros ácaros, pequenos insetos ou pólen 
(Castagnoli & Simoni, 2003; McMurtry e Croft, 1997; McMurtry et 
al., 2013). 
 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 30 
 
 
 
Os dois principais ácaros predadores utilizados para o controle do ácaro rajado. A: 
Neoseiulus californicus (ligeiramente achatado dorso-ventralmente e de coloração 
amarelo-palha). B: Phytoseiulus macropilis (corpo globoso e de coloração 
avermelhada). 
 
Tais diferenças determinam a persistência dos predadores na 
cultura de acordo com a densidade populacional do ácaro rajado. 
Em condições de escassez da presa, enquanto P. macropilis se 
dispersa em busca de áreas com maior quantidade de T. urticae, N. 
californicus pode permanecer na cultura consumindo outras fontes 
de alimento. Além disso, P. macropilis e N. californicus diferem 
quanto à quantidade de T. urticae consumido diariamente: 
enquanto N. californicus consume cerca 16 ovos de ácaro rajado ao 
dia (Ahn, 2010), P. macropilis consume cerca de 40 ovos nas 
mesmas condições (Oliveira et al., 2007). 
Portanto, pode-se considerar que P. macropilis é a espécie mais 
adequada para ser utilizada em condições de alta infestação de 
ácaro rajado, quando é necessário o uso de um método de controle 
que diminua a população da praga de maneira muito rápida. Já N. 
californicus deve ser liberado para manter a praga em níveis baixos 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 31 
 
ou deve ser liberado logo no início da infestação, para evitar o 
aumento populacional de T. urticae. 
 
-Comprovação da eficácia de P. macropilis e N. californicus no 
controle do ácaro rajado 
 
Phytoseiulus macropilis 
A PROMIP conduziu um estudo em Holambra (SP) em cultivo de 
rosa spray, entre novembro e dezembro de 2015. As avaliações 
foram realizas em seis vãos de rosas, totalizando uma área de 350 
m2. Em cada vão foram realizadas liberações de P. macropilis 
conforme a densidade populacional de ácaro rajado (número de 
ácaros/folíolo) encontrada, de acordo com a seguinte classificação: 
(a) baixa densidade, com 22 ácaros/folíolo; 
(b) média densidade, com 80 ácaros/folíolo e; 
(c) alta densidade, com 240 ácaros/folíolo. 
Assim, a quantidade de adultos de P. macropilis liberados, 
respectivamente, para cada densidade foi: 
(a) 20 predadores/m2; 
(b)150 predadores/m2 e; 
(c) duas liberações, com 150 e 60 predadores/m2, com 
intervalo de 7 dias entre elas. 
Nas duas primeiras semanas (após a liberação do predador), as 
plantas foram lavadas com água em abundância para favorecer o 
predador (que prefere ambientes úmidos) e desfavorecer a praga 
(que prefere ambientes secos). 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 32 
 
Em todos os vãos observou-se redução na densidade do ácaro 
rajado. Após quatro semanas haviam 5 e 16 ácaros/folíolos nos 
vãos classificados com densidade baixa e média, respectivamente, 
indicando uma diminuição de cinco vezes na densidade 
populacional da praga. No vão com alta densidade, após quatro 
semanas, havia 16 ácaros/folíolo, representando uma diminuição 
de 15 vezes na população da praga. Phytoseiulus macropilis foi 
encontrado nos folíolos em quantidade de 2, 7 e 4 
predadores/folíolo nas densidades baixa, média e alta, 
respectivamente. 
 
 
Flutuação populacional de Tetranychus urticae em lavoura de rosas tratada com 
Phytoseiulus macropilis. (A) área com baixa infestação. (B) área com média infestação. 
(C) área com alta infestação. 
 
 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 33 
 
-Neoseiulus californicus: 
Em um estudo conduzido por Bueno e Poletti (2009) comparou-se 
o controle convencional e o controle biológico de T. urticae em uma 
área de produção de morango com aproximadamente 50 m2 na 
cidade de Estiva (MG) 
Para decidir o momento de entrar com cada uma das estratégias 
de controle, o número de T. urticae/folíolo foi monitorado. Na área 
de controle convencional, o acaricida Abamectin foi aplicado em 
duas pulverizações, na quinta e sexta amostragens, conforme as 
especificações técnicas do produto. Na área de controle biológico, 
liberou-se N. californicus na terceira e quinta amostragens, quando 
a densidade era de dois e seis ácaros rajado/folíolo, 
respectivamente; em cada liberação foram introduzidos cinco 
predadores/m2. Para avaliação dos resultados, as amostragens 
foram realizadas quinzenalmente, durante 100 dias, contando-se o 
número total de T. urticae e do predador em 25 folíolos em cada 
uma das áreas. 
Nos canteiros em que foi aplicado o controle convencional, a partir 
da quinta amostragem, observou-se um forte aumento na 
população de ácaro rajado, saltando de cerca de cinco 
ácaros/folíolos para cerca de 18 ácaros/folíolos na sétima 
amostragem. Já nos canteiros em que foi liberado N. californicus, a 
população de T. urticae foi reduzida de seis ácaros/folíolos na 
quinta amostragem para cerca de um ácaro/folíolo nas sexta e 
sétima amostragem. Além disso, o número de predadores nos 
folíolos, que era nulo até a terceira amostragem, chegou a cerca de 
0,75 ácaros/folíolo na sétima amostragem. Esse resultado 
demonstrou que a introdução de N. californicus no início da 
infestação do ácaro rajado é eficiente, mantendo uma baixa 
densidade populacional desta praga durante um longo período. 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 34 
 
 
Flutuação populacional de Tetranychus urticae em área de cultivo convencional e de 
controle biológico com o predador Neoseiulus californicus na cultura do morango em 
Estiva (MG). As setas azuis indicam a liberação do inimigo natural e as setas laranjas 
indicam a aplicação de acaricida na área de cultivo convencional (adaptado de Bueno 
e Poletti, 2009). 
 
 
Flutuação populacional de Neoseiulus californicus e Tetranychus urticae em área onde 
foi realizado controle biológico na cultura do morango em Estiva (MG) (Adaptado de 
Bueno e Poletti, 2009). 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 35 
 
 
De maneira geral, um dos maiores desafios na utilização de N. 
californicus para o controle de ácaro rajado é a necessidade de 
liberação deste predador bem no início da infestação da praga, 
quando a população ainda é baixa, sendo necessária a realização 
de monitoramentos constantes. Contudo, se este monitoramento 
for falho e a presença do ácaro rajado for percebida quando os 
primeiros sintomas aparecerem, ou seja, a população já estiver 
muito alta, recomenda-se a liberação de P. macropilis para uma 
rápida redução da densidade de ácaro rajado. 
 
- Phytoseiulus macropilis e N. californicus combinados 
Exemplo 1: Uma avaliação do efeito da liberação de N. californicus 
e P. macropilis isolados e em conjunto foi conduzida por Poletti 
(2007). Este estudo foi realizado em Santo Antônio de Posse (SP) 
em crisântemos de corte mantidos em casa de vegetação no 
período de julho a outubro de 2004, totalizando uma área 
experimental de 162,5 m2. 
Inicialmente, as plantas foram infestadas com 80 fêmeas de ácaro 
rajado por m2 e após sete dias, receberam os tratamentos, que 
foram: (a) controle, em que nenhum tratamento foi realizado; (b) 
pulverização com abamectina, conforme orientação do fabricante; 
(c) liberação de N. californicus; (d) liberação de P. macropilis; (e) 
liberação combinada de N. californicus e P. macropilis (proporção 
1:1). Nos tratamentos (c) e (d) realizaram-se quatro liberações 
(uma por semana) de 15 predadores/m2 por liberação. No 
tratamento (e), realizaram-se quatro liberações de 50 ácaros de 
cada espécie por parcela. 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS36 
 
A eficiência de N. californicus foi semelhante quando liberado de 
forma isolada ou combinada com P. macropilis. Por outro lado, P. 
macropilis isolado foi menos efetivo do que quando liberado com 
N. californicus, já que um aumento significativo na densidade de 
ácaro rajado foi observado nos dias 34, 41 e 55. 
 
 
Flutuação populacional de Tetranychus urticae após a liberação dos fitoseídeos 
Neoseiulus californicus e Phytoseiulus macropilis juntos (Nc+Pm) e separadamente (Nc 
e Pm, respectivamente). As setas azuis indicam as liberações dos predadores 
(adaptado de Poletti, 2007). 
 
Tal aumento pode ser explicado pela especificidade de P. 
macropilis. Já que nos monitoramentos que antecederam este 
pico, a população de T. urticae estava muito baixa. Portanto, os 
indivíduos de P. macropilis liberados, que se alimentam apenas de 
ácaro rajado, podem ter morrido ou migrado para outras regiões 
em busca de alimento. Assim, a população do ácaro rajado pôde 
aumentar sem que houvesse predadores suficientes para seu 
controle imediato. 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 37 
 
Exemplo 2: Em um estudo realizado pela PROMIP em cultivo de 
morango no munícipio de Bom Repouso (MG) entre novembro e 
dezembro de 2015, a utilização combinada de N. californicus e P. 
macropilis para o controle de T. urticae foi avaliada. A densidade 
inicial na área era de 34 T. urticae/ folíolo. Para realizar a 
diminuição rápida da população de ácaro-praga, foram liberados 
cerca de quatro P. macropilis por planta; após três semanas, 
realizou-se a liberação de dois N. californicus/planta. Quatro 
semanas após o início das liberações, o número de ácaros rajado 
por folíolo caiu pela metade (16 indivíduos por folíolo) e após sete 
semanas foi observado o controle total da infestação. 
 
 
Flutuação populacional de Tetranychus urticae após a liberação dos fitoseídeos 
Neoseiulus californicus (seta amarela) e Phytoseiulus macropilis (seta vermelha). As 
setas azuis indicam os momentos em que as plantas foram lavadas com água. 
 
Desta forma, demonstra-se que N. californicus e P. macropilis são 
importantes ferramentas para o controle do ácaro rajado, mas sua 
eficiência depende da adoção de medidas corretas para o 
favorecimento dos predadores. 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 38 
 
6.2. FUNGUS GNATS 
 
Danos às culturas 
Fungus gnats é o nome popular dado às moscas pertencentes à 
família Sciaridae, cujas larvas vivem no solo onde se alimentam de 
tecido vegetal e fungos. Em determinadas culturas (como 
cogumelos e na produção de mudas de várias hortaliças, plantas 
ornamentais e fruteiras), estas larvas podem causar sérios danos, 
sendo consideradas pragas nestes sistemas. No Brasil, a espécie de 
fungus gnats mais encontrada é Bradysia matogrossensis (Eira, 
2003). 
No cultivo de cogumelo, as larvas de fungus gnats atacam o 
basidiocarpo, ou seja, o corpo de frutificação, formando túneis que 
danificam o cogumelo e reduzem sua produção, além de atacarem 
a hifa, limitando o crescimento micelial (Eira, 2003). Em mudas de 
flores, as larvas atacam o sistema radicular e deixam as mudas mais 
suscetíveis à incidência de doenças (Cloyd & Zaborski, 2004). Uma 
das principais dificuldades no controle desta praga é que os 
sintomas de seu ataque podem ser confundidos com a ocorrência 
de diversas doenças, dificultando seu reconhecimento. 
 
Morfologia e biologia 
No estágio de larva, B. matogrossensis apresenta o corpo liso e 
semitransparente, com a cabeça preta. As pupas desta espécie 
apresentam o corpo de coloração branco-leitosa. No estágio 
adulto, as moscas são escuras, com coloração variando de cinza a 
preto, medindo cerca de 2,5 milímetros, com antenas longas, asas 
escuras e pernas finas e longas (Radin et al., 2009). 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 39 
 
 
 
Larva e adulto de Bradysia matogrossensis. 
 
Controle biológico por ácaros lelapídeos 
A principal espécie de ácaro predador utilizada para o controle de 
B. matogrossensis é S. scimitus. Esta espécie, juntamente com S. 
miles, outro lelapídeo edáfico, está entre as espécies de ácaros 
predadores mais comercializadas, sendo produzida por dez 
empresas ao redor do mundo (Moreira & Moraes, 2015). 
No Brasil, não há produtos químicos registrados6 para o controle de 
fungus gnats (Agrofit, 2017), sendo a utilização do predador S. 
scimitus a única opção comercialmente disponível para controle da 
praga. Em cultivo de cogumelo, alguns estudos realizados para 
avaliar a eficiência de S. scimitus demonstraram efeito positivo na 
 
6 Todos os produtos utilizados para o controle de pragas, doenças e plantas 
espontâneas/daninhas dever ser registrados juntos ao MAPA. A lista destes produtos e suas 
recomendações estão disponíveis em uma plataforma on-line denominada Agrofit. 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 40 
 
redução de B. matogrossensis (Freire et al., 2007; Castilho et al., 
2009b). 
 
 
Straiolaelaps scimitus (Acari: Laelapidae) predando larvas de fungus gnats, Bradysia 
matogrossensis 
 
-Stratiolaelaps scimitus na produção de cogumelo 
Em um estudo realizado em área de produção orgânica de 
cogumelo shitake em Mogi Mirim (SP), foram capturados cerca de 
2.000 indivíduos de B. matogrossensis por armadilha por semana. 
A praga comprometia a qualidade da produção, sendo necessária a 
seleção manual dos cogumelos saudáveis, o que gerava o descarte 
de boa parte da produção além do aumento dos custos com mão 
de obra. 
Antes da liberação de S. scimitus, todos os blocos de produção de 
cogumelos foram descartados e a câmara foi lavada com água e 
sabão para uma drástica redução de B. matogrossensis, já que a 
liberação do predador deve ser realizada antes do aparecimento 
dos primeiros indivíduos da mosca ou logo no início da infestação. 
Além disso, instalou-se também telas antiafídicas (citrus anti-vírus) 
nos exaustores para evitar a entrada de fungus gnats provenientes 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 41 
 
do ambiente externo. Com a câmara limpa, novos blocos foram 
acondicionados nas prateleiras de produção e, embaixo de cada um 
deles, um sachê contendo 100 indivíduos de S. scimitus. 
Durante seis semanas, obteve-se em cada armadilha uma média de 
40 indivíduos de B. matogrossensis por semana; quantidade cerca 
de 66 vezes menor quando comparada àquela obtida na avaliação 
inicial. 
 
 
Número de moscas (Bradysia matogrossensis) por armadilha por semana em relação 
ao número de blocos de substrato de shitake em câmara de cultivo, após a liberação 
do lelapídeo predador Stratiolaelaps scimitus 
 
Além da redução do número de moscas capturadas, outro indício 
do sucesso do controle biológico por S. scimitus foi a excelente 
qualidade dos cogumelos, tornando desnecessária a seleção 
manual da produção. Estes resultados demonstram a viabilidade da 
produção sustentável de cogumelos em um sistema de produção 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 42 
 
orgânica, com a integração do controle biológico (uso do predador 
S. scimitus) e do controle mecânico (telas antiafídicas). 
 
- Stratiolaelaps scimitus na produção de plantas ornamentais 
Com objetivo de avaliar a eficiência deste predador no controle de 
fungus gnats em mudas de plantas ornamentais, foi realizado um 
trabalho em uma área de produção comercial de mudas de azaleia 
em Holambra (SP) (Bueno e Poletti, 2009). Nesse estudo, 
comparou-se o controle biológico, realizado pela liberação de 200 
ácaros predadores/ m2, com o controle convencional,realizado 
com os inseticidas deltametrina e diflubenzurom. Esses 
tratamentos foram mantidos em áreas isoladas, sendo que em 
cada área foram instaladas 20 armadilhas adesivas amarelas para o 
monitoramento dos insetos adultos. 
A contagem do número de insetos nas armadilhas foi realizada aos 
15, 30 e 45 dias após o início do experimento. Ao final deste 
período, o número de moscas encontradas na área de cultivo 
convencional foi cerca de três vezes superior ao encontrado na 
área onde os predadores foram liberados. 
A acentuada redução na densidade de larvas de fungus gnats 
quando o predador foi liberado indica a eficiência deste no controle 
de B. matogrossensis, sendo um aliado dos produtores, tanto em 
cultura tradicional, quanto em orgânica. 
 
 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 43 
 
 
Número médio de adultos (± erro padrão) de Bradysia matogrossensis com a 
utilização de controle biológico (liberação do predador Stratiolaelaps scimitus) e 
controle convencional (utilização dos inseticidas deltametrina e diflubenzurom) em 
área de produção de mudas de azaleia (adaptado de Bueno e Poletti, 2009). 
 
 
6.3. MOSCA-BRANCA 
 
Danos às culturas 
A mosca-branca, Bemisia tabaci biótipo B (Hemiptera: 
Aleyrodidae), é um inseto altamente polífago, podendo atacar 
centenas de espécies vegetais, incluindo muitas de importância 
econômica, como algodão, feijão, soja, olerícolas e ornamentais 
(Lourenção & Nagai, 1994; Sottoriva et al., 2014). 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 44 
 
Nas plantas, este inseto pode causar danos diretos e indiretos. Os 
danos diretos podem estar relacionados a desordens diversas 
causadas pela sucção da seiva pelo inseto ou pela ação de toxinas 
injetadas por ele (Lourenção et al., 2014; Navas-Castillo et al., 
2011). Já os danos indiretos são causados pelo favorecimento no 
desenvolvimento da fumagina, um fungo que impede a 
fotossíntese e pode causar a morte da planta (Gallo et al., 2002), e 
pela transmissão de mais de uma centena de espécies de fitovírus 
(Jones, 2003). 
 
 
Danos causados por tomato chlorosis vírus (ToCV), transmitido por Bemisia tabaci em 
batata. 
 
Morfologia e biologia 
O ovo da mosca branca possui formato semelhante a uma pera, é 
amarelado e fixa-se ao substrato por um curto pedicelo (Byrne & 
Bellows, 1990). A ninfa é oval, de contorno irregular e espalmadas; 
no início, a ninfa mede cerca de 0,3 milímetros e é transparente, 
tornando-se mais amarelada ao longo do tempo (Walker et al., 
2010). Os adultos medem cerca 0,9 milímetros, são amarelados, 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 45 
 
olhos vermelhos, as asas permanecem ligeiramente afastadas 
quando em repouso e o corpo do animal é recoberto por uma 
substância pulverulenta branca (Gill, 1990). 
A fase de ovo pode durar de 5 a 8 dias, dependendo da temperatura 
(Bethke et al., 1991), e do ovo, eclode uma ninfa móvel que busca 
por um lugar adequado na planta onde insere seu estilete e 
alimenta-se dos nutrientes presentes no floema (Byrne & Bellows, 
1990). Após a fixação, a ninfa não mais se movimenta, 
permanecendo no mesmo local até se transformar em adulto. 
A reprodução pode ser sexuada ou através de partenogênese 
arrenótoca, em que ovos não fertilizados dão origem a machos. A 
produção de ovos pela fêmea sofre modificações de acordo com 
diversos fatores, como condições ambientes e espécie da planta 
hospedeira (Byrne & Bellows, 1990); uma fêmea pode produzir 
uma média de 300 ovos ao longo da vida quando em temperatura 
ambiente. 
Controle biológico por ácaros fitoseídeos 
Ácaros fitoseídeos são utilizados com sucesso como agentes de 
controle das moscas-brancas B. tabaci e Trialeurodes vaporariorum 
(Westwood) em países da Europa e da América Norte. As espécies 
utilizadas são Amblyseius swirskii, Amblydromalus limonicus e 
Euseius gallicus (Cavalcante et al., 2015; Cavalcante et al., 2017). 
Entretanto, estas espécies não estão disponíveis comercialmente 
no Brasil. Os predadores A. swirskii e. gallicus não são encontrados 
no país (Demite et al., 2017). Apesar de A. limonicus ocorrer em 
território nacional, os estudos realizados por Cavalcante et al. 
(2015) com uma população brasileira deste predador não foram 
promissores para o controle da mosca-branca no Brasil. 
 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 46 
 
 
Ciclo de vida de mosca branca, Bemisia tabaci. 
 
Quanto à possibilidade de introdução dos predadores exóticos A. 
swirskii e/ou E. gallicus é necessário a obtenção de licenças de 
importações junto ao MAPA para a realização de diversos estudos 
para comprovação da eficácia do predador nas condições 
ambientais e sistemas de cultivo do Brasil. Além disso, como se 
tratam de predadores exóticos, estudos de análise de risco são 
indispensáveis. Estudos de análise de risco são necessários para 
verificar sobre o impacto destes organismos exóticos sobre 
populações de organismos nativos não-alvo. 
Outra alternativa é utilizar populações nativas de ácaros 
predadores para o controle da mosca-branca. Neste contexto, 
Cavalcante et al. (2015) realizaram estudos para verificar o 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 47 
 
potencial de diferentes espécies de predadores para serem 
utilizados como agentes de controle biológico da mosca-branca no 
Brasil. Os autores encontraram resultados promissores ao utilizar 
ovos de B. tabaci biótipo B como presa, com destaque para o 
predador Amblyseius tamatavensis. Em uma etapa seguinte, 
Cavalcante et al (2017) avaliaram o ciclo de vida do predador ao se 
alimentar com ovos da mosca-branca e sua capacidade em reduzir 
populações da praga em plantas de pimentão. Os autores 
verificaram uma ótima taxa reprodutiva, comparável às espécies 
que têm sido utilizadas comercialmente, sendo o predador capaz 
de reduzir drasticamente a densidade populacional da praga em 
plantas de pimentão. Tais estudos demonstram o potencial de A. 
tamatavensis como agente de controle biológico de B. tabaci. 
No entanto, estudos complementares são necessários até que esta 
espécie esteja disponível comercialmente. Nesse intuito, a 
PROMIP, com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do 
Estado de São Paulo (FAPESP), está avaliando a viabilidade 
comercial deste predador. Desse modo, estão sendo avaliadas 
técnicas de criação massal, quantidade de predadores necessários 
por área, estratégias de liberações, entre outros. Por fim, o produto 
precisa ser registrado junto ao MAPA como um agente de controle 
biológico. 
Apesar das inúmeras etapas necessárias até o lançamento de um 
novo produto biológico, diante dos resultados obtidos com A. 
tamatavensis, em breve uma ferramenta para o controle da mosca-
branca estará disponível comercialmente para os produtores 
brasileiros. 
 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 48 
 
 
Número médio de ovos e ninfas (± erro padrão) de Bemisia tabaci por planta de 
pimentão em diferentes períodos após a liberação do predador Amblyseius 
tamatavensis (18 predadores liberados por planta) (adaptado de Cavalcante et al., 
2017). 
 
6.4. TRIPES 
 
Danos às culturas 
Os insetos conhecidos como tripes (Thysanoptera) são em sua 
grande maioria fitófagos, podendo ocorrer em diversas culturas de 
grande importância (e.g. cebola, tomate, rosas). Nestas culturas, 
estes animais podem causar danos diretos e indiretos 
Os danos diretos, embora geralmente menos importantes do que 
os danos indiretos podem acarretar grandes perdas, especialmente 
quando estes insetos estão em alta densidade. Estes se alimentam 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEUPAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 49 
 
de seiva, causando palidez, manchas, prateamento e queda das 
folhas; quando atacam brotos, estes tornam-se retorcidos. Como 
consequência, além de danos na produção da planta, as flores e 
frutos perdem boa parte de seu valor de mercado. Os danos 
indiretos são causados pela transmissão de patógenos para as 
plantas pelos tripes. Ao se alimentar de uma planta sadia, estes 
insetos podem inocular patógenos, e atuarem como transmissores 
de vírus (Gallo et al., 2002). 
As principais espécies de tripes danosas à agricultura no Brasil são: 
Frankliniella occidentalis, Frankliniella schultzei, Thrips palmi e 
Thrips tabaci (Monteiro et al., 2001a; 2001b) 
 
Morfologia e biologia 
Ovos da maioria das espécies fitófagas de tripes são alongados, 
variando de cilíndricos a ligeiramente curvados. Do ovo eclodem as 
ninfas que são semelhantes aos adultos, mas diferenciam-se por 
apresentarem coloração mais clara e pela ausência de asas. Os 
adultos são pequenos, variando de 0,5 a 15 milímetros; o corpo é 
estreito; a coloração é muito variável e uma das principais 
características morfológicas que permite identificar o grupo é a 
presença de asas franjadas, embora existam espécies desprovidas 
de asas (Gallo et al., 2002). 
Os ovos são depositados dentro ou sobre folhas, brotos ou outros 
órgãos vegetais que sirvam de alimento para as larvas. Após cerca 
de seis dias de inoculação, dos ovos eclodem as ninfas. Os dois 
primeiros estágios ninfais localizam-se nas folhas, são ativos e 
alimentam-se normalmente. No terceiro e quarto estágios ninfais 
(algumas vezes existindo também um quinto estágio) descem até o 
solo onde ficam inativos e não se alimentam, sendo chamados de 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 50 
 
pré-pupa e pupa (embora não correspondam a um estágio pupal 
verdadeiro). O ciclo do ovo a adulto geralmente completa-se em 15 
dias. Após a emergência do adulto, este volta para a parte aérea da 
planta. Os adultos geralmente vivem entre 30 e 45 dias e cada 
fêmea até cerca de 300 ovos durante a vida (Bethke et al., 2014). 
 
 
Estágio imaturo (A) (Crédito: Jon Hart) e adulto (B) de Frankliniella occidentalis 
(Crédito: William Fisher). 
 
Controle biológico por ácaros fitoseídeos e edáficos 
Por ter em seu ciclo de vida estágios edáficos e estágios que vivem 
na parte aérea de plantas, o controle biológico de tripes pode ser 
realizado tanto por ácaros predadores edáficos, quanto por 
aqueles que vivem na parte aérea de plantas, geralmente um ácaro 
fitoseídeo. 
Diversos grupos de predadores edáficos podem se alimentar de 
tripes, com destaque para as famílias Rhodacaridae (Castilho et al., 
2009a), Ascidae (Enkegaar e Broodsgaard, 2000) e Laelapidae, 
tendo esta última sido mais estudada para esta finalidade. No 
Brasil, o único ácaro predador disponível comercialmente para o 
controle de estágios edáficos de tripes é S. scimitus. Embora a 
eficiência deste predador seja comprovada por relatos de 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 51 
 
produtores que o utilizam, pouca informação existe na literatura 
para corroborar o controle de tripes por ele exercido. Em 
laboratório, Moreira (2014) demonstrou que este predador 
consome, em média, 3,9 pupas ou pré-pupas de F. occidentalis por 
dia. 
Quanto ao controle das fases que ocorrem na parte aérea da 
planta, as espécies de fitoseídeos que estão disponíveis 
comercialmente como agentes de controle biológico em diferentes 
países são: A. swirskii, Iphiseius degenerans, N. barkeri e N. 
cucumeris (maiores informações disponíveis em IPM Practitioner’s 
2015 Directory of Least Toxic Pest Control Products for suppliers). 
Esta última espécie é o principal fitoseídeo comercializado na 
Europa para o controle de F. occidentalis e T. tabaci em cultivo 
protegido de hortaliças, destacando-se a cultura do pimentão e do 
pepino (Gerson et al., 2003). Porém, a taxa predatória deste ácaro 
é muito prejudicada quando os tripes ocorrem junto com o ácaro 
rajado, já que N. cucumeris não tem habilidade para andar entre as 
teias, que pode servir de refúgio para os tripes (Magalhães et al., 
2007; Venzon et al., 2001). 
No Brasil, N. barkeri foi comercializado com muito sucesso para o 
controle de tripes. Embora no momento a produção e 
comercialização deste agente de controle biológico no Brasil esteja 
descontinuada, em breve ele será disponibilizado novamente para 
os produtores brasileiros. 
 
 
 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 52 
 
7. TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO PARA ÁCAROS 
PREDADORES 
 
A implementação de um programa de controle biológico deve 
passar por várias etapas. Inicialmente, pesquisas são realizadas 
para busca e avaliação possíveis espécies como agentes de controle 
biológico, seguidas pela comprovação da eficiência das espécies 
selecionadas. Depois, é necessário desenvolver métodos para sua 
criação massal, determinando o substrato, alimento, etc. Por fim, é 
necessário definir as estratégias para aplicação do bioproduto. Em 
uma última etapa, o produto é regulamentado junto aos órgãos 
responsáveis. 
Porém, todo este trabalho será em vão se houver falhas no 
momento do transporte do bioproduto até o produtor ou nas 
técnicas de aplicação utilizadas no campo. No caso dos ácaros 
predadores, esta aplicação refere-se à liberação propriamente dita 
dos organismos (Bueno, 2009; Parra et al., 2002.). 
Após sua produção na biofábrica, os organismos devem chegar ao 
produtor com o mesmo número de indivíduos vivos que foram 
inicialmente embalados, ou seja, a taxa de mortalidade deve ser 
muito baixa ou nula. Além disso, os predadores devem estar 
saudáveis e ativos. Para tanto, algumas medidas devem ser 
realizadas para a manutenção da qualidade destes organismos 
durante o transporte (Moraes et al. 2009): 
(a) Para garantir a sobrevivência dos predadores, na 
embalagem de transporte (frasco), um material inerte (e.g. 
vermiculita, casca de arroz, sabugo de milho triturado) é envasado 
junto com os organismos a fim de permitir a manutenção da 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 53 
 
umidade no interior da embalagem, além de proporcionar maior 
superfície de locomoção dos predadores; 
(b) Sempre que possível, os predadores devem ser embalados junto 
com alguma fonte de alimento. Para espécies generalistas são 
utilizados como presas ácaros Astigmatina, especialmente aqueles 
da família Acaridae (Barbosa e Moraes, 2015; 2016). Estes ácaros 
são comumente encontrados associados a alimentos armazenados 
e podem ser facilmente criados em pequenos espaços. No caso de 
predadores especialistas, como P. macropilis, a presa utilizada é a 
mesma espécie a ser controlada, que deve ser incluída em 
pequenas quantidades na embalagem; 
 (c) Antes do envio do bioproduto, os organismos são estocados a 
baixa temperatura, a fim de se diminuir suas atividades 
metabólicas, preservando-os por mais tempo. 
Durante o procedimento de transporte, algumas recomendações 
também devem ser seguidas: 
- O envio deve ser realizado no menor tempo possível, de 
preferência com algum responsável para acompanhar a entrega e 
garantir que ela ocorra adequadamente; 
- Os frascos, que geralmente são em formato cilíndrico, devem 
permanecer sempre na posição horizontal, para aumentar a área 
útil para os ácaros; e 
- Os frascos devem ser mantidos em caixas térmicas de poliestireno 
para evitar que a temperatura se eleve demasiadamente. 
Um aspecto importante a ser ressaltado são as embalagens 
utilizadas para a comercialização destes agentes de controle 
biológicos. Os ácaros podem ser transportados em diferentes 
embalagens, sendo mais comuns frascos cilíndricos de papelão ou 
 
 
CONTROLEBIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 54 
 
plástico e sachês. Quando utilizado o frasco, geralmente a tampa 
da unidade apresenta um furo coberto por tecido “voil” ou tecido 
não tecido (TNT), para garantir trocas gasosas. Neste caso, para a 
aplicação do bioproduto, os ácaros são liberados de forma ativa 
pelo produtor. 
Este deve seguir as seguintes recomendações: (a) o conteúdo da 
embalagem deve ser cuidadosamente agitado para homogeneizar 
seu conteúdo; (b) o frasco é aberto delicadamente e; (c) o 
bioproduto é distribuído diretamente sobre a planta ou substrato 
contendo a praga alvo. 
 
 
Esquema de liberação de ácaros predadores comercializados em frascos, mostrando 
como os mesmos devem ser abertos e seu conteúdo espalhado sobre as plantas 
desejadas. 
 
A utilização de sachês como embalagem resulta em um sistema de 
aplicação no campo distinto daquele supracitado. Os sachês 
contendo os predadores devem ser pendurados nas plantas e uma 
pequena abertura permite a lenta saída dos ácaros da embalagem. 
Este processo, denominado sistema de liberação lenta, pode levar 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 55 
 
semanas. Uma das principais vantagens deste sistema é que 
durante este período, os ácaros continuam se reproduzindo no 
interior no sachê. Outra vantagem é a possibilidade de utilização 
este bioprodutos em plantas de maior porte, como frutíferas. 
 
 
Sachê contendo ácaros predadores e sua maneira de colocação na planta. 
 
8. ÁCAROS PREDADORES E O CONTROLE QUÍMICO 
 
Apesar dos avanços obtidos no controle biológico, o controle 
químico ainda é a estratégia mais utilizada no controle de pragas 
agrícolas. Diversos motivos levam a esta liderança e, dentre eles, 
está a inexistência de bioprodutos para muitas pragas-chave. Além 
disso, é comum que o produtor, após ter utilizado um bioproduto 
para determinada praga, aplique um inseticida para o controle de 
outra. Porém, esta ação pode comprometer a eficácia do agente de 
controle biológico utilizado, com desperdício dos recursos 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 56 
 
investidos no controle biológico. Assim, as estratégias de controle 
devem ser associadas harmoniosamente, dentro de um programa 
de MIP, ou seja, o Manejo Integrado de Pragas. 
O MIP surgiu nos anos 60, como uma proposta de manejo 
fitossanitário com enfoque múltiplo pressupondo a adoção de um 
conjunto de práticas que visam a reduzir a população dos insetos e 
ácaros praga. No MIP, a adoção de estratégias de controle é 
determinada pelo nível de dano econômico, que está associado ao 
nível populacional das pragas, estimado por métodos de 
amostragem (Gallo et al. 2002; Zuluaga & Mesa 2000). 
Portanto, o MIP não exclui a utilização do controle químico, sendo 
os produtos químicos utilizados racionalmente. Estes devem ser 
sempre utilizados de maneira precisa (p. ex., dosagem, época de 
aplicação) e seletiva (equilíbrio com os inimigos naturais) além dos 
cuidados durante o processo de aplicação e descarte das 
embalagens. Nesse contexto, para o controle biológico e químico 
serem utilizados combinados é indispensável a utilização de 
produtos seletivos, devendo-se preconizar o uso de bioprodutos 
com organismos de linhagens resistentes aos defensivos químicos 
(Degrande et al. 2002; Hoy 2011). 
A seletividade de um produto pode ser definida como a 
propriedade que este apresenta de controlar a praga visada, com o 
menor impacto possível sobre os componentes benéficos do 
ecossistema (e.g. parasitóides, predadores e polinizadores) 
(Degrande et al. 2002). Esta seletividade pode ser função das 
diferenças ecológicas ou fisiológicas entre os organismos. 
A seletividade fisiológica se dá quando a inatividade de um 
composto para determinada espécie ocorre devido a fatores 
metabólicos, como diferenças na absorção da molécula ou por seu 
sítio de ligação celular, por exemplo (Foerster, 2002). 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 57 
 
Já a seletividade ecológica se dá em função das diferenças de 
comportamento ou habitat entre as espécies alvo e as espécies 
não-alvo, possibilitando que o produto químico entre em contato 
com determinada espécie e não com outra. Esta exposição 
diferencial de pragas e organismos benéficos pode se dar no tempo 
ou no espaço. Como exemplos podem ser citados: períodos em que 
a ocorrência do inimigo natural é naturalmente mais baixa ou locais 
de distribuição diferentes para pragas e inimigos naturais. O 
emprego de inseticidas de maneira ecologicamente seletiva 
minimiza a exposição de inimigos naturais e, ao mesmo tempo, 
controla as espécies alvo (praga), como, por exemplo, quando se 
utiliza iscas que exploram o comportamento da praga (Degrande et 
al. 2002; Gallo et al., 2002; Gravena, 2005; Ripper et al., 1951). 
Para a avaliação da seletividade de defensivos químicos a 
organismos benéficos, métodos experimentais padronizados, de 
curto, médio e longo prazo, devem ser utilizados. Como exemplo, 
no caso de registros de defensivos químicos, a IOBC (International 
Organization for Biological and Integrated Control of Noxious 
Animals and Plants), recomenda estudos de seletividade realizados 
com duas espécies-padrão e duas espécies relevantes ao sistema 
no qual o produto será utilizado. A IOBC recomenda como espécies-
padrão um parasitóide e um ácaro predador devido à elevada 
sensibilidade destes (Alix et al., 2012; Degrande et al. 2002) 
Entre os parâmetros avaliados para verificar o efeito do defensivo 
químico têm-se: mortalidade, fecundidade, taxa instantânea de 
crescimento (informação que permite determinar o crescimento 
populacional), capacidade de predação, resposta funcional (ou 
seja, o número máximo de presas que um predador consegue 
predar em determinado espaço de tempo) etc. 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 58 
 
Estudos realizados em vários países demonstram o impacto dos 
defensivos químicos sobre ácaros predadores fitoseídeos. No 
Brasil, Poletti et al. (2008) realizaram um extenso estudo avaliando 
a seletividade de 21 defensivos químicos (acaricidas, fungicidas e 
inseticidas) sobre imaturos e adultos de N. californicus e P. 
macropilis. Os resultados obtidos demonstram que as maiores 
dosagens de defensivos químicos causaram menor impacto em N. 
californicus quando comparado ao P. macropilis. Assim, em cultivos 
onde há a utilização do controle químico, o controle biológico do 
ácaro rajado deve ser, preferencialmente, realizado através da 
liberação de N. californicus em substituição a P. macropilis. 
 
Bioprodutos com organismos de linhagens resistentes 
O uso de linhagens de agentes de controle biológico resistentes é 
uma estratégia que favorece a associação entre os controles 
biológico e químico em programa de MIP. Isso se deve ao fato do 
impacto dos defensivos químicos serem minimizados sobre estes 
agentes de controle biológico. Assim, estes organismos 
permanecem no agroecossistema e se mantém eficientes no 
controle da praga alvo mesmo quando expostos aos defensivos 
químicos (Hoy 2011; Solomon et al. 1993). 
A ocorrência de resistência em populações de pragas é um grande 
problema para o produtor, mas grandes benefícios podem ser 
obtidos com a seleção de linhagens resistentes de inimigos 
naturais. A seleção destas linhagens é feita em laboratório, através 
da aplicação controlada de defensivos em uma população do 
inimigo natural até que sobrem apenas aqueles que não são 
prejudicados pelo produto. A liberação destas linhagens 
resistentes, em detrimento de linhagens que misturam indivíduos 
resistentes e suscetíveis, é uma estratégia extremamente favorável 
 
 
CONTROLE BIOLÓGICO COM ÁCAROS PREDADORES E SEU PAPEL NO MANEJO

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