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167
UNIDADE 3
TERRITÓRIOS BIOGEOGRÁFICOS, 
BIOMAS E A AÇÃO DO HOMEM
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir desta unidade, você será capaz de:
•	 compreender	o	que	são	territórios	ou	reinos	biogeográficos;		
• conhecer e aprender a localizar os diferentes tipos de biomas existentes no 
planeta;
•	 entender	o	que	são	paisagens	fitogeográficas	do	reino	neotropical	e	os	do-
mínios morfoclimáticos brasileiros.
Esta unidade está organizada em dois tópicos e em cada um deles você en-
contrará atividades para uma maior compreensão das informações apresen-
tadas.
TÓPICO 1 – OS REINOS BIOGEOGRÁFICOS E OS BIOMAS
TÓPICO 2 – AS PAISAGENS FITOGEOGRÁFICAS DO REINO 
NEOTROPICAL
168
169
TÓPICO 1
OS REINOS BIOGEOGRÁFICOS E OS BIOMAS
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Os seres vivos se movimentam e se distribuem na biosfera. Os padrões 
de distribuição não são aleatórios, mas dependem de vários fatores abióticos e 
bióticos, que interagem atualmente ou que interagiram no passado, para constituir 
conjuntos de hábitats. Por causa dessas interações, esses conjuntos podem 
apresentar certas correspondências nos limites territoriais de distribuição dos 
seres vivos. Em outras palavras, podemos dizer que pode existir coincidência no 
limite de distribuição dos hábitats, o que é indicado pelo nível de endemicidade 
dos seres vivos, que se dá em diversas categorias ou níveis taxonômicos: ordem, 
família, gênero e espécie. 
Isso	 permite	 a	 identificação	 de	 territórios	 de	 distribuição	 exclusiva	 de	
determinados	grupos	da	flora	e	da	fauna,	denominados	territórios	biogeográficos	
ou biorreinos. Eles se distribuem hierarquicamente, conforme o nível de 
endemicidade que está relacionado ao nível taxonômico. 
2 TERRITÓRIOS BIOGEOGRÁFICOS 
Os	 territórios	 biogeográficos	 possuem	 extensões	 continentais	 e	 se	
distinguem pelo número elevado de endemismos, geralmente em nível de 
ordens	 e	 de	 famílias.	 Os	 reinos	 subdividem-se	 em	 Regiões	 Biogeográficas,	
com endemismos ao nível de subfamílias e de gêneros. Por sua vez, as regiões 
biogeográficas	 subdividem-se	 em	 Domínios	 ou	 Províncias	 Biogeográficas,	
compreendendo áreas com elevado número de endemismo ao nível de gêneros e 
espécies.	Os	domínios	subdividem-se	em	Setores	ou	Distritos	Biogeográficos,	que	
correspondem a territórios restritos com elevado número de endemismos ao de 
espécies	ou	de	gêneros,	se	estes	últimos	possuírem	poucas	espécies	(LACOSTE;	
SALANON,	1973;	VALDÉS,	1985).
UNIDADE 3 | TERRITÓRIOS BIOGEOGRÁFICOS, BIOMAS E A AÇÃO DO HOMEM
170
Os	 limites	dos	 reinos	biogeográficos,	muitas	vezes,	 se	 confundem	e	
se	interpenetram,	principalmente	quando	as	barreiras	biogeográficas	
não	são	bem	definidas.	Essas	divisões	variam	muito,	principalmente	
quando o nível taxonômico é mais restrito. Por isso, existem as faixas 
de transição, que ligam reinos contíguos e indicam uma passagem 
gradual de um reino para o outro. Nessas faixas encontram-se espécies 
de um reino e de outro em convívio e ocupando hábitats diferentes. 
Por exemplo, na estreita faixa de terras da América Central coexistem 
espécies tropicais na planície costeira e nas baixas encostas cobertas 
pela mata tropical úmida e quente, mas nas serras, de clima frio e seco, 
aparecem	espécies	próprias	de	 regiões	 frias.	 (TROPPMAIR,	1989,	p.	
176).
Inúmeros	pesquisadores	estabeleceram	divisões	fito	e	zoogeográficas	para	
a	biota.	Destacam-se,	dentre	tantos,	De	Candolle	(1855),	Sclater	(1857),	Wallace	
(1876),	que	criaram	as	bases	das	classificações	modernas.	Entre	os	autores	atuais,	
destacam-se	Schmithuesen	(1961),	que	criou	seis	reinos,	Lemée	(1967)	com	sete	
reinos,	Müller	(1973)	com	cinco	e	Udvardy	(1975)	com	oito	reinos	biogeográficos.	
Hoje,	uma	das	classificações	mais	usadas	é	a	de	Müller	(1979,	1980),	subdividida	
em várias sub-regiões. 
Na	 sua	 classificação,	 Müller	 (1979,	 p.	 54)	 estabeleceu	 os	 reinos	
biogeográficos,	resumidos	no	quadro	a	seguir.
Reino Região Localização
Holártico Neártica América do Norte, Ártico e Groenlândia
Paleártica Eurásia (incluídas Islândia, Canárias, Coreia e 
Japão)	e	norte	da	África
Paleotropical Etiópica África, ao sul do Saara.
Malgache Madagascar e ilhas oceânicas
Oriental Índia Indochina, até a linha de Wallace
Australiano Australiana
Oceânica
Neozelandesa
Havaiana
Austrália, Nova Guiné e ilhas vizinhas, 
Oceania, parte da Nova Zelândia, Havaí e demais 
ilhas	do	Pacífico.
Neotropical - Américas do Sul e Central e Antilhas
Arquinótico - Antártida, sudoeste da América do Sul e sudoeste 
da Nova Zelândia.
FONTE: Müller (1979)
QUADRO 4 - REINOS BIOGEOGRÁFICOS DE MÜLLER (1979)
A divisão entre os reinos Neotropical e Paleotropical e o reino Holártico 
tem suscitado discussões. Alguns pesquisadores consideram a América Central 
não uma zona de transição entre os reinos Holártico e Neotropical, mas uma 
região do reino Neotropical, porque nela predomina a fauna sul-americana e o 
clima é tropical. Também é difícil traçar os limites entre os reinos Paleotropical 
e Holártico. Os animais migram com facilidade entre as duas regiões, sobretudo 
na zona de transição representada pela Península Arábica e pelo norte da África. 
TÓPICO 1 | OS REINOS BIOGEOGRÁFICOS E OS BIOMAS
171
A	linha	de	Wallace é uma zona de transição que separa a região Oriental 
(reino	Paleotropical)	da	região	Australiana	 (reino	Australiano)	e	nela	encontra-
se uma fauna mista de origem australiana e oriental. Possui também espécies 
endêmicas, como o macaco de Célebes (Cynopthecus niger).	
Na América Central, a variabilidade da capacidade de dispersão dos 
grupos de animais foi o ponto principal que levou a essa diversidade de opiniões. 
Para os mamíferos e aves, grupos com alta capacidade de dispersão, as condições 
climáticas	 e	 de	 relevo	 da	América	 Central	 não	 influíram	muito,	mas,	 para	 os	
anfíbios,	répteis	e	outros,	as	dificuldades	de	dispersão	foram	maiores.	O	número	
de espécies sul-americanas é muito maior que as norte-americanas. Ao se traçarem 
os limites setentrionais das espécies sul-americanas e os limites meridionais dos 
grupos	norte-americanos,	podem-se	observar	dois	fatos	(MÜLLER,	1979):
1	–	as	famílias	sul-americanas	aparecem	em	maior	número;
2 – existe uma barreira natural que marca o limite setentrional das espécies sul- 
americanas,	representada,	ao	norte	da	América	Central,	pela	floresta	tropical	das	
terras	baixas	e	pelas	altitudes	de	1.500	metros	da	Sierra	Madre,	no	México.	Acima	
dessa cota altimétrica, espécies norte-americanas predominam e migram para a 
América do Sul pelos Andes. 
O deserto do Saara é outra região de transição cujos limites são incertos. 
Nela transitam espécies de animais e de plantas dos reinos Holártico (região 
Paleártica)	e	Paleotropical	(principalmente	da	região	Etiópica).	A	região	central	
do Saara é mais seca, porém, possui montanhas de clima mais ameno, que atuam 
como	se	 fossem	ilhas	ou	corredores	biogeográficos,	por	onde	migram	espécies	
holárticas	 em	 direção	 ao	 sul.	 É	 também	usada	 pelas	 espécies	 etiópicas,	 que	 a	
cruzam no seu movimento para o norte.
No	 período	 Quaternário,	 quatro	 flutuações	 climáticas	marcaram	 as	
zonas	centrais	do	Saara:	um	período	úmido,	entre	22.000	e	8.500	a.p.,	
seguido	por	uma	fase	de	aridez	que	se	estendeu	de	8.500	a	5.000	a.p.	
Nova	fase	de	umidade	predominou	de	5.000	a	2.500	a.p.	e,	finalmente,	
o	período	seco	atual,	desde	2.500	a.p.	O	atual	lago	Tchad	é	um	resíduo	
dos	 diversos	 lagos	 quaternários	 que	 se	 sucederam	 nas	 flutuações	
climáticas.	(MÜLLER,	1979,	p.	61).
Essa sucessão de condições climáticas criou refúgios, que isolaram 
as populações de animais e estabeleceram uma fauna particular, típica de 
desertos. No entanto, essa fauna aparece em zonas áridas da Índia, o que mostra 
a existência de corredores antigos entre as duas regiões, ativos possivelmente 
durante	a	existência	do	continente	de	Gondwana.	Esse	fato	justifica	a	união	das	
regiões Oriental e Etiópica no reino Paleotropical. Aparecem,nas duas regiões, 
inúmeras espécies de animais, como o elefante, o camelo, o rinoceronte, aves 
diversas, anfíbios.
UNIDADE 3 | TERRITÓRIOS BIOGEOGRÁFICOS, BIOMAS E A AÇÃO DO HOMEM
172
Por outro lado, é pequeno o número de famílias de aves endêmicas em 
cada região. Das 67 famílias de aves existentes nas duas regiões, apenas quatro 
são endêmicas da região Etiópica e uma da Oriental. Dos 267 gêneros de aves que 
habitam as regiões, 69 espécies são etiópicas e se estendem até a Índia, ao passo que, 
destas,	63	aparecem	na	Europa	(MÜLLER,	1979).
Outra região de transição entre os reinos Holártico e Paleotropical aparece 
na	 China,	 bastante	 modificada	 pela	 ocupação	 humana,	 especialmente	 depois	
da chegada dos europeus. As matas subtropicais originais foram totalmente 
erradicadas	e	a	fauna	florestal	substituída	por	espécies	adaptadas	ao	campo	aberto.
A última zona de transição acha-se nas regiões meridionais da América 
do Sul e da Nova Zelândia e as separa do reino Arquinótico. Muitas famílias de 
plantas e de invertebrados atuais mostram estreita relação nessas regiões, cujas 
origens estão no período Terciário.
Na atualidade, grupos imigrantes antigos e modernos nos diversos 
reinos se superpõem uns aos outros. Origina-se aí uma confusa complexidade, 
que tende a se acentuar simultaneamente ao avanço da intervenção humana nos 
geossistemas. Contudo, cada reino ainda conserva as suas peculiaridades.
FIGURA 83 – OS REINOS BIOGEOGRÁFICOS
FONTE: Müller (1979)
TÓPICO 1 | OS REINOS BIOGEOGRÁFICOS E OS BIOMAS
173
Como foi dito antes, o problema dos limites suscita muitas discussões, eles 
são	bem	definidos	apenas	quando	existem	acidentes	geográficos	como	montanhas,	
desertos	e	oceanos,	que	também	atuam	como	barreiras	(TROPPMAIR,	2002,	p.	
131). 
Resumimos	no	Quadro	6	alguns	exemplos	de	grupos	da	flora	e	da	fauna	
de	cada	reino	biogeográfico,	para	ilustrar	importantes	endemismos	que	serviram	
de indicação da delimitação desses territórios.
Reino Fauna Flora
Holártico Mamíferos: Ursidae (ursos),	Canidae (cães, lobos, 
coiotes),	Cervidae (cervos	e	alces),	Bovidae (búfalo, 
bisão), Castoridae	(castores),	Erinaceídae* (ouriço),	
Didelphidae** (gambás),	Procionedae**	(quatis).
Aves: Regularidae (saracura),	Tetraonidae (urogalo),	
Alcidae	(papagaio-do-mar),	Ciconidae*	(cegonha),	
Cuculidae*	(cucos),	Turdidae* (rouxinóis),	Vulturidae** 
(abutres).
Peixes: Acipenseridae (esturjão),	Percidae (perca),	
Salmonídae (salmão	e	truta).
* * Exclusiva da Região Paleártica.
* Exclusiva da Região Neártica.
Betulaceae (arbustos 
e árvores como 
as	avelanzeiras); 
Salicaceae (choupo, 
álamo),	Ranunculaceae 
(ranúnculos),	Moráceas 
(amoreiras).
Paleotropical Mamíferos: Giraffidae (girafa),	Hippopotamidae 
(hipopótamos),	Hyaenidae	(hiena),	Pongidae (gorila, 
chimpancé),	Felidae	(leão),	Elephantidae	(elefante),	
Equidae	(zebras).
Aves: Struthioniformes	(avestruz),	Galliformes 
(galinhola).
Gêneros Pelargonium 
(gerânios),	Khaia	(ébano),	
Cola (árvore produtora de 
alcaloide).
Australiano Ordem Monotremata	(équidna,	ornitorrinco),	
Macropodidae (canguru),	Phascolarctos cinereus (coala),	
Casuarius casuarius (casuar),	Dromaius novaehollandiae 
(emu).
Gênero Eucalyptus.
Neotropical Mamíferos: Cebidae (macacos), Callithricidae (saguis), 
Myrmecophagidae (tamanduás),	gênero	Lama (lhama, 
vicuña,	guanaco).
Aves: Trochilidae	(beija-flores),	Tinamiformes 
(perdizes),	gênero	Rhamphastos (tucanos).
Cactaceae (cactos),	
Bromeliaceae (bromélias),	
gênero Hevea 
(seringueira).
Arquinótico Aptenodytes forsteri (pinguim-imperador),	Pycoscelis 
adeliae (pinguim-de-adélia).
Deschampsia antarctica.
Colobanthus crassifolius.
FONTE: Lacoste; Salanon (1973); Pereira; Almeida (1996)
QUADRO 5 - FAUNA E FLORA MAIS COMUNS DOS REINOS BIOGEOGRÁFICOS
2.1 REINO HOLÁRTICO
O reino Holártico é restrito ao Hemisfério Norte. Compreende a Europa, 
incluindo a Islândia, a Sibéria, os países asiáticos, incluindo a Coreia e o Japão, o 
norte da África e a América do Norte, exceto o México. O reino Holártico tem uma 
fauna	e	uma	vegetação	bem	diversificadas.	À	época	da	Pangea,	o	reino	foi	parte	
dos continentes de Gondwana e Laurásia. No início do Paleoceno, a América do 
UNIDADE 3 | TERRITÓRIOS BIOGEOGRÁFICOS, BIOMAS E A AÇÃO DO HOMEM
174
Norte e a Eurásia constituíram um bloco ligado à África por um estreito istmo, 
que separava o Atlântico Norte, recém-aberto, do Mar de Thetis, entre a Eurásia 
e a África. No Mioceno, a América do Norte separou-se da Eurásia, iniciando um 
movimento para o sul. Posteriormente, por meio de um conjunto de ilhas, que 
veio a constituir o istmo da América Central, ligou-se à América do Sul. A ligação 
da	América	do	Norte	com	a	Eurásia	explica	a	semelhança	verificada	atualmente	
entre	a	fauna	e	a	flora	de	ambos	continentes.
No	 reino	 Holártico	 aparecem	 os	 biomas	 da	 tundra,	 taiga,	 floresta	
temperada decídua, estepes e pradarias, desertos e vegetação mediterrânea, 
que abrigam uma fauna muito variada. “A riqueza de biomas no reino se deve 
a uma complexa rede de interações, cujo centro está nas condições climáticas, 
que	levou	ao	desenvolvimento	de	paisagens	variadas	e	antigas”.	Strahler	(1984,	
p.	244)	e	Strahler;	Strahler	(1996,	p.	184)	classificaram	o	clima	do	reino	Holártico	
no grupo climas de médias latitudes e no de altas altitudes, que variam desde o 
clima de tundras, no norte do Canadá e Alaska e no norte da Sibéria, até um clima 
subtropical	úmido,	no	sul	dos	EUA,	passando	por	clima	mediterrâneo,	desértico	
e de montanhas. 
O reino Holártico subdivide-se em duas regiões: a região Paleártica, que 
engloba a Eurásia e o norte da África, excluindo-se a zona de transição com o 
reino Paleotropical, e a região Neártica, representada pela América do Norte 
e a Groenlândia. O bloco continental Europa-Ásia-África é contínuo e permite 
um trânsito relativamente constante de animais e plantas em todos os sentidos, 
respeitando-se as barreiras montanhosas, que se interpõem às rotas (Montes 
Urais,	Stanovoi	e	Verkhianski,	Cárpatos,	Cáucaso,	Bálcãs,	Alpes	etc.)	e,	acima	de	
tudo, a presença do homem. 
2.2 REINO PALEOTROPICAL
 
O reino Paleotropical aparece na África e no Oceano Índico, onde se limita 
com	o	reino	Australiano.	Três	regiões	biogeográficas	o	compõem:	região	Etiópica,	
região Malgache e região Oriental. Nele aparecem biomas de deserto, estepe, 
savana	e	a	floresta	tropical	úmida.
No reino Paleotropical predominam climas tropicais e subtropicais, 
que dão características um pouco diferentes aos desertos e estepes, embora as 
semelhanças com seus homônimos do reino Holártico sejam maiores que as 
diferenças. 
Os climas encontrados no reino Paleotropical são todos tropicais, exceto 
os	de	altas	montanhas.	De	acordo	com	a	classificação	de	Strahler	(1984,	p.	247)	
e	de	Strahler;	Strahler	 (1996,	p.	185),	os	climas	que	aparecem	neste	reino	são	o	
tropical árido, o subtropical árido, o mediterrâneo, o tropical com duas estações 
(seco-úmido)	e	o	equatorial.
TÓPICO 1 | OS REINOS BIOGEOGRÁFICOS E OS BIOMAS
175
2.3 REINO AUSTRALIANO
O que mais chama a atenção no reino Australiano é a sua fauna endêmica, 
consequência do isolamento desde o Mesozoico Inferior. O reino inclui a 
Austrália, Nova Caledônia, Tasmânia, o centro-norte da Nova Zelândia, Nova 
Guiné, Polinésia e Havaí. O reino Australiano é um dos mais ricos em formações 
fitogeográficas,	 abrangendo	 quase	 todas	 as	 formações	 do	 planeta	 –	 desertos,	
estepes	e	pradarias,	savanas,	floresta	temperada	decídua,	floresta	tropical	úmida	
e	o	chaparral.	Da	mesma	forma,	apresenta	uma	variedade	climática	significativa.
De um modo geral, as faixas climáticas do reino Australiano são estreitas 
na Austrália, mas as incontáveis ilhas da região resumem-se a apenas um tipo de 
clima, com algumas poucas exceções. 
Segundo	Strahler;	Strahler	(1996,	p.	185):
aparecem os seguintes tipos climáticos na região: nas ilhas que circundam 
a Austrália, o clima equatorial úmido predomina na Nova Guiné, Nova Caledônia,Fiji	 e	 Havaí;	 no	 centro	 da	 Nova	 Guiné,	 uma	 alta	 cadeia	 de	 montanhas,	 com	
altitudes	acima	de	4.000	metros,	constantemente	batida	pelos	alísios	de	nordeste,	
com	 clima	 tropical	 seco;	 na	Nova	Zelândia	 e	 na	Tasmânia	predomina	 o	 clima	
marítimo da costa ocidental. Na Austrália, o clima no litoral é úmido e o interior 
apresenta climas sucessivamente mais sazonais até chegar ao deserto, no centro 
do país.
No litoral oriental australiano, o domínio é do clima subtropical úmido, 
verão quente e úmido, invernos suaves e chuvas bem distribuídas 
ao longo do ano, trazidas pelos alísios de sudeste, com predomínio 
no	verão.	O	 excesso	de	umidade	 facilitou	 o	 crescimento	da	floresta	
subtropical úmida, que se estende apenas por duas pequenas regiões. 
No litoral sudeste, ventos frios de oeste originaram um clima com 
verões quentes e invernos frios e chuvosos. Em direção ao interior, 
uma extensa e estreita faixa de clima tropical seco margeia o deserto, 
desde o norte até o sul, com temperaturas elevadas durante todo o 
ano. No litoral norte aparecem duas pequenas faixas, separadas pelo 
mar, do clima tropical sazonal, com chuvas no verão (dezembro/
março)	 e	 seca	no	 inverno	 (junho/agosto).	No	 litoral	 sudoeste	ocorre	
uma estreita porção de clima mediterrâneo com inverno úmido e 
verão seco. Finalmente, no interior, predomina o clima desértico, com 
massas	continentais	secas	e	quentes.	(STRAHLER;	STRAHLER,	1996).
A	 chamada	 linha	 de	 Wallace	 separa	 o	 reino	 Australiano	 do	 reino	
Paleotropical.	 A	 linha	 de	Wallace	 passa	 entre	 a	 Nova	 Guiné	 e	 a	 Indonésia	 e	
separa	as	faunas	asiática	e	australiana.	Entre	os	anos	de	1854	e	1862,	o	naturalista	
inglês	Alfred	 Russel	Wallace	 (1823-1913),	 ao	 explorar	 a	 região,	 sugeriu	 que	 o	
estreito	de	Makassar,	que	separa	a	ilhas	de	Borneo	e	Sulawesi	(ou	Célebes),	na	
Indonésia, divide nitidamente as faunas dos dois reinos em duas porções – a 
oeste,	a	fauna	asiática,	e	a	leste	a	fauna	australiana.	Em	homenagem	a	Wallace,	
a linha foi batizada com o seu nome. O estreito de Makassar é profundo – ele 
fica	sobre	a	placa	Indo-Australiana	–	e	é	improvável	que,	no	passado,	houvesse	
UNIDADE 3 | TERRITÓRIOS BIOGEOGRÁFICOS, BIOMAS E A AÇÃO DO HOMEM
176
existido uma ponte de terra entre os reinos, mesmo nas maiores regressões do 
mar. Muitas espécies de pássaros não cruzam o estreito, que não é largo - embora 
muitas	transitem	normalmente	pelas	ilhas.	Os	trabalhos	de	Wallace	o	levaram	a	
ser	considerado	um	dos	precursores	da	Biogeografia.	
Para	 entender	 as	 atuais	 flora	 e	 fauna	 australianas	 devemos	 recorrer	 à	
paleobiogeografia.	 No	 Cretáceo	médio,	 a	Austrália	 e	 as	 ilhas	 faziam	 parte	 de	
Gondwana. Com a separação dos continentes, a Austrália moveu-se para o norte 
até	meados	do	Eoceno	(há	54	MA),	quando	se	isolou	por	completo	do	restante	
dos continentes. Em latitudes mais baixas, o clima mudou de temperado frio 
para uma variedade de climas à medida que o continente se assentava na sua 
posição atual – climas mediterrâneo, desértico, temperado, tropical e subtropical. 
(FURLEY;		NEWEY,	1986).	
No Pleistoceno, a Austrália teve uma fase úmida seguida de um período 
seco,	este,	entre	os	anos	18.000	e	16.000.	A	alternância	entre	os	dois	períodos	levou	
a uma redução do nível do mar e originou uma ligação entre a Austrália e a Nova 
Guiné, que emergiu e submergiu várias vezes. Essa ponte só se interrompeu 
em	definitivo	 entre	 os	 anos	 8.000	 e	 6.500.	 “A	floresta	 tropical	 úmida	da	Nova	
Guiné pôde, então, colonizar o litoral nordeste da Austrália, juntamente com a 
fauna	típica”	(MÜLLER,	1979,	p.	72).	Savanas	e	estepes	(campos)	predominam	
na	paisagem	australiana.	As	florestas	 equatoriais	 formam	duas	 estreitas	 faixas	
no	litoral	nordeste.	“As	maiores	florestas	encontram-se	no	litoral	norte	–	são	as	
florestas	de	monções,	sempre	verdes,	com	palmeiras,	atingida	por	ventos	alísios,	
que	se	mistura	a	savanas	arbóreas	e	estepes”	(STRAHLER;		STRAHLER,	1996,	p.	
548).	“No	interior,	quando	as	precipitações	escasseiam,	a	savana	e	os	bosques	de	
árvores	esparsas	passam	a	ter	o	domínio”.	(WALTER,	1986,	p.	176).	
No litoral ocidental, com clima mediterrâneo, destacam-se grandes 
florestas	 de	Eucalyptus spp. As chuvas caem no inverno e o verão é seco. As 
chuvas	são	trazidas	pelas	frentes	polares,	que	predominam	no	inverno	–	650	a	
1.250	mm/ano.	No	verão,	o	domínio	pertence	às	massas	 tropicais	continentais,	
quentes e secas.
Os	 solos	 em	 que	 estão	 as	 florestas	 de	 eucaliptos	 são	 arenosos	 e	 bem	
drenados,	 o	 que	 os	 torna	 secos	 e	 limitantes	 para	uma	floresta	mais	densa.	As	
florestas	de	eucaliptos	são	abertas,	o	que	permite	um	sub-bosque	esparso.	Apesar	
disso,	há	cerca	de	6.000	espécies	de	plantas	vasculares,	das	quais	aproximadamente	
3.500	 são	 endêmicas	 na	 região	 (WALTER,	 1986).	No	 sul,	 a	 espécie	 dominante	
Eucalyptus diversicolor pode	alcançar	85	metros	de	altura,	enquanto	no	sub-bosque,	
samambaias	têm	mais	de	1,5	metro	de	altura.
O gênero Eucalyptus, da família Myrtaceae, forma um arco em todo 
o litoral e penetra para o interior, onde escasseia nas proximidades da zona 
árida	central.	São	xerófitos	e	perenefólios,	com	folhas	coriáceas	e	duras,	mas	as	
raízes podem extrair muita água do solo, mesmo nos locais em que a maioria 
TÓPICO 1 | OS REINOS BIOGEOGRÁFICOS E OS BIOMAS
177
das	 mesófitas	 tem	 dificuldade	 em	 obtê-la	 (FURLEY	 &	 NEWEY,	 1986).	 Pouco	
exigente,	o	eucalipto	pode	se	desenvolver	em	solos	com	deficiência	de	nutrientes	
e	água.	Sua	ocorrência	depende	das	chuvas	no	litoral,	da	topografia,	dos	solos,	
da rede de drenagem, de incêndios e do uso da terra. Nas regiões com chuvas 
de	inverno	do	sul,	as	florestas	de	eucaliptos	são	densas	e	bem	desenvolvidas.	No	
interior,	aonde	as	chuvas	vão,	pouco	a	pouco,	escasseando,	a	floresta	é	aberta,	
com	o	solo	recoberto	por	gramíneas.	Nas	regiões	ao	norte	e	ao	leste,	com	250	mm/
ano de chuva, o eucalipto não se desenvolveu, formando apenas moitas de uma 
variedade raquítica chamada localmente mallee,	expressão	aborígene	(FURLEY;	
NEWEY,	 1986;	WALTER,	 1986).	 Nas	 regiões	 em	 que	 a	 estiagem	 chega	 a	 sete	
meses,	as	savanas	substituem	as	florestas	de	eucaliptos.
“Os	incêndios	naturais	são	comuns	nas	florestas	mistas	com	eucaliptos	e	
nas	savanas.	Muitas	espécies	só	florescem	após	um	incêndio’’.	Walter	(1986,	p.	
179)	relaciona	vários	gêneros	pirófilos	nas	savanas.
Segundo	Furley	e	Newey	(1986,	p.	262):
As savanas se distribuem, na Austrália, de acordo com as chuvas. 
Quanto maior o índice pluviométrico, maiores são as espécies de 
gramíneas que as recobrem. Nas regiões litorâneas, onde o índice é 
superior	a	1.500	mm/ano,	medra	uma	savana	com	gramíneas	altas.	No	
interior, em solos férteis, em que grandes propriedades usam métodos 
modernos para a agricultura e para o pastoreio de ovelhas, com índices 
menores, aparece uma savana de gramíneas baixas. Finalmente, nas 
zonas	semiáridas	do	interior,	a	savana	xerófita	ocupou	solos	pobres	e	
com pouca água.
Prezado(a) acadêmico(a)!
Para conhecer mais sobre espécies de plantas vasculares, acesse o site: <http://en.wikipedia.
org/wiki/Australasia_ecozone>. Acesso em: 13 jul. 2010. 
NOTA
A	floresta	 tropical	 úmida	 sempre	 verde	 aparece	 em	 todas	 as	 ilhas	 que	
rodeiam a Austrália, embora, nela própria, não seja comum. Nas ilhas Célebes, o 
arquipélago das Molucas tem o maior endemismo de aves em todo o mundo. O 
gênero Agathis da família Araucariaceae é encontrado nesse arquipélago.
Na	Nova	Guiné,	 a	maior	 ilha	do	 reino	Australiano,	na	floresta	 tropical	
é encontrada a maior borboleta do mundo, a chamada borboleta da rainha 
Alexandra (Ornithoptera alexandrae),	e	a	ave	do	paraíso	(Paradiseae rudolphi),	que	
é	endêmica.	A	floresta	baixa	guineana	comporta	1.200	espécies	de	árvores.	Nas	
ilhas	Salomão	convivem	148	espécies	de	pássaros,	das	quais	60	são	endêmicas.	Na	
UNIDADE 3 | TERRITÓRIOS BIOGEOGRÁFICOS, BIOMAS E A AÇÃO DO HOMEM
178
Nova	Caledônia	existem2.900	espécies	de	plantas	vasculares	(80%	endêmicas),	
duas espécies de Araucaria,	15%	de	gêneros	endêmicos	e	5%	de	famílias	endêmicas.	
(FURLEY;	NEWEY,	1986).	
A ilha da Tasmânia tem clima marítimo das costas ocidentais, com 
verões	 quentes	 	 e	 invernos	 frios	 e	 chuvosos.	 Nas	montanhas,	 acima	 de	 1.500	
metros,	 com	 menos	 chuvas,	 predomina	 a	 savana	 com	 árvores	 esclerófilas	 e	
gramíneas curtas. No litoral úmido, batido pelas frentes polares, predominam 
árvores do gênero Nothofagus, típico de clima temperado do hemisfério Norte, 
e a samambaia arborescente Dicksonia, com três metros de altura. No interior, a 
floresta	temperada,	com	mais	de	800	espécies,	depende	dos	incêndios	naturais.	
“O	eucalipto	predomina	e	pode	ultrapassar	os	100	metros	de	altura”	(WALTER,	
1986,	p.	187).	É	o	hábitat	do	marsupial	diabo-da-Tasmânia	(Sarchophilus harrisii),	
do équidna (Tachyglosus aculeatus),	do	ornitorrinco	(Ornithorhyncus anatinus),	do	
lobo-da-Tasmânia (Thylacinus cynocephalus)	etc.
Na	 Nova	 Zelândia,	 nas	 florestas	 subtropicais,	 aparecem	 as	 coníferas	
gimnospermas Podocarpaceae, Cupressaceae e Araucariaceae. Dentre as angiospermas, 
faias do gênero Nothofagus	são	as	espécies	dominantes.	Lianas	e	epífitas	recobrem	
os	 galhos	 e	 os	 troncos	 das	 árvores.	 Em	 toda	 a	 floresta	 subtropical,	 a	 espécie	
dominante é a Araucariaceae Agathis australis.
No quadro a seguir vê-se uma lista dos desertos australianos:
Estado/Território Nome Extensão (km2) Austrália	(	%	)
WA,	SA	 Great	Victoria 348	750 4.5
WA	 Great	Sandy 267	250 3.5
WA,	NT	 Tanami 184	500 2.4
NT, QLD, SA Simpson 176	500 2.3
WA	 Gibson 156	000 2.0
WA	 Little	Sandy	 111	500 1.5
SA,	QLD,	NSW	 Strzelecki 80	250 1.0
SA,	QLD,	NSW	 Sturt	Stony 29	750 0.3
SA Tirari 15	250 0.2
SA Pedirka 1	250 less	than	0.1
- Total 1	371	000 18	
FONTE: Auslig Deserts database (1994). Disponível em: <http://www.ga.gov.au/education/facts/
landforms/geogarea.htm>. Acesso em: 24 jul. 2010.
QUADRO 6 - DESERTOS AUSTRALIANOS
Diversos animais domésticos, como cavalos, gado, cabras, porcos, 
jumentos, camelos, búfalos, cães, gatos, coelhos e também raposas, foram 
introduzidos no reino Australiano pelos europeus. O dingo (Canis lupus familiaris 
dingo),	provavelmente	 criado	na	 Índia	e	 tendo	chegado	à	Austrália	 entre	4.000	
e	3.500	anos,	talvez	levado	pelos	antigos	maoris,	espalhou-se	pelo	continente	e	
TÓPICO 1 | OS REINOS BIOGEOGRÁFICOS E OS BIOMAS
179
pela Nova Zelândia. Raposas, cabras, gatos e coelhos batem todos os recordes 
populacionais na Austrália. Os gatos têm uma densidade de um indivíduo por 
quilômetro quadrado, mas os coelhos (Lepus europaeus)	ultrapassam	o	bom	senso:	
somam	entre	200	milhões	e	300	milhões	de	indivíduos,	para	uma	população	de	
20.345.802	pessoas.
Na Nova Zelândia, os animais europeus promoveram uma devastação 
sem paralelo. O cervo vermelho escocês ou cervo europeu (Cervus elephas),	
aportado à ilha no século XIX, alimenta-se sobretudo de Nothofagus, uma das 
espécies	dominantes	na	floresta	neozelandesa.	“De	crescimento	lento,	a	vegetação	
foi praticamente destruída pelo cervo, o que acelerou a erosão do solo em vastas 
áreas”	 (WALTER,	1986,	p.	 189).	 “Desde	a	década	de	80,	os	 cervos	 são	 caçados	
e levados para fazendas, onde são criados como animais de corte e couro”. 
(FURLEY;	NEWEY,	1986,	p.	271).	
O isolamento da Austrália e das ilhas fez com que a evolução de animais e 
plantas trilhasse outros caminhos, bem pecualiares, porque não ocorreu a troca de 
genes com outras populações. Semelhante processo também se deu na América 
do Sul, embora com menos intensidade. Na Austrália, depois da separação de 
Gondwana, o único contato se deu com a Nova Guiné, já mencionado antes.
Para conhecer mais sobre os animais, sugiro que você, acadêmico(a), acesse 
os sites:
<http://www.animalliberation.org.au/feralint.html.>
<http://www.wwwins.net.au/dingofarm/02.html> e
<http://www.abs.gov.au>. Acesso em: 13 jul. 2010.
UNI
A Austrália é a terra por excelência dos marsupiais. Apenas duas 
famílias de marsupiais aparecem em outros continentes – Didelphidae	(gambás)	e	
Caenolestidae	(semelhante	ao	mussaranho).	As	famílias	de	marsupiais	endêmicas	
à Austrália são Dasyuridae (gêneros Thylacinus,	 lobo-da-Tasmânia)	 Sarcophilus 
(diabo-da-Tasmânia),	Phalangeridae (Phascolarctus,	coala),	Phascolamidae (Vombatus, 
vombate),	Macropodidae (Megaleia e Macropus, cangurus, Petrogale,	wallaby-das-
rochas, Lagorchestes,	wallaby-lebre,	Dendrolagus,	canguru-das-árvores)	(STORER	
et al.,	 1991,	 p.	 715)	 etc.	 Totalizam,	 na	Austrália,	 16	 famílias	 e	 152	 espécies	 de	
marsupiais.
“No	século	XVII,	a	Austrália	foi	denominada	Terra psittacorum, por causa 
do	 grande	 número	 de	 periquitos”	 (MÜLLER,	 1979,	 p.	 72).	 Dentre	 as	 famílias	
endêmicas de aves citam-se Dromiceidae (Dromaeus,	emu,	na	Nova	Guiné	e	ilhas),	
Casuaridae (Casuarius,	casuar),	Dinornitidae	(moas,	na	Nova	Guiné),	Apterygydeae 
UNIDADE 3 | TERRITÓRIOS BIOGEOGRÁFICOS, BIOMAS E A AÇÃO DO HOMEM
180
(Apteryx,	quivis),	Psittacidae	(muitas	famílias,	pagagaios	e	periquitos),	Cacatuidae 
(cacatuas)	etc.	Existem	91	 famílias	 com	826	espécies	de	aves	na	Austrália.	“Na	
Nova	Caledônia	existem	68	espécies	de	aves,	das	quais	uma	é	endêmica.	Partindo	
da	Austrália,	18	espécies	invadiram	a	Nova	Caledônia	e	evoluíram	pela	radiação	
adaptativa”.	(MÜLLER,	1979,	p.	73).
Os répteis endêmicos pertencem às famílias Carettochelyidae (tartaruga-de-
água-doce,	existente	no	norte	da	Austrália	e	sul	da	Nova	Guiné)	e	Pygopodidae 
(Pygopus,	lagarto,	na	Austrália,	Tasmânia	e	Nova	Guiné,	com	30	espécies).	Calcula-
se que na Austrália existam 17 famílias de répteis, com 633 espécies estudadas.
“Na	Nova	Zelândia,	muitas	famílias	têm	afinidades	com	as	famílias	das	
ilhas	do	Pacífico	e	com	a	América	do	Sul”	(MÜLLER,	1979,	p.	74).	A	Nova	Zelândia	
separou-se	de	Gondwana	e	ficou	isolada	por	80	milhões	de	anos,	o	que	permitiu	
que	90%	dos	insetos	e	moluscos	marinhos,	80%	das	árvores,	fetos	e	angiospermas,	
25%	das	espécies	de	pássaros,	todas	as	60	espécies	de	répteis,	quatro	espécies	de	
sapos e duas espécies de morcegos sejam endêmicas.
Prezado(a) acadêmico(a)!
Para auxiliar seus estudos, acesse os sites:< http://www.deh.gov.au/biodiversity/abrs/online-
resources/abif/fauna/afd/stats-est.html - Australian Faunal Directory. Estimated Numbers of 
Australian Fauna>
<http://www.deh.gov.au/biodiversity/abrs/publications/fauna-of-australia/pubs/volume2a/
ar22ind.pdf> e <http://www.deh.gov.au/biodiversity/abrs/online-resources/abif/fauna/afd/
stats-est.html - Australian Faunal Directory. Estimated Numbers of Australian Fauna>. Acesso 
em: 13 jul. 2010.
UNI
2.4 REINO ARQUINÓTICO 
O	termo	Arquinótico	significa	oposto ao Ártico e engloba o extremo sul da 
América do Sul, Antártica e o sudeste da Nova Zelândia. As condições adversas à 
vida	dificultam	o	estabelecimento	de	animais	e	plantas,	de	modo	que	as	espécies	
que lograram se adaptar às condições reinantes são altamente especializadas e de 
pequeno número de espécies.
TÓPICO 1 | OS REINOS BIOGEOGRÁFICOS E OS BIOMAS
181
Prezado(a) acadêmico(a)!
Para conhecer mais sobre o termo Arquinótico, acesse o site: <http://www.inach.cl/portal_
educa/antartica/antartica.html>. Acesso em: 13 jul. 2010.
UNI
São	13,5	milhões	de	quilômetros	quadrados	de	gelo,	apenas	no	Continente	
Antártico.	O	gelo	tem	uma	espessura	média	de	cerca	de	2.000	metros	e	o	Monte	
Vinson,	na	cadeia	Ellsworth,	é	o	ponto	culminante,	com	4.897	metros.	Cerca	de	
90%	do	gelo	da	Terra	estão	na	Antártica,	que	correspondem	a	70%	da	água	doce	
do planeta.
Juntamente com a América do Sul, África, Austrália e Índia, a Antártica 
fazia parte do continente de Gondwana. Portanto, a geologia da Antártica é muito 
semelhante à daqueles continentes.
O Continente Antártico foi dividido em duas partes para efeito de estudos: 
a Antártica Oriental e a Antártica Ocidental. A Antártica Oriental localiza-se ao 
sul da Austrália e da África. A Antártica Ocidental situa-se ao sul da Américado	Sul.	A	cordilheira	Transantártica	divide	as	duas	regiões	(CUNHA,	1973).	“A	
geologia da parte oriental é constituída pelo embasamento granítico, de idade pré-
cambriana. A porção ocidental tem a mesma sequência de rochas sedimentares 
e ígneas da América do Sul. Os sedimentos estão associados ao sistema andino e 
têm	idade	jurássica	e	terciária”.	(MÜLLER,	1979,	p.	79).
Fósseis antigos encontrados na Antártica comprovam a antiga ligação 
ao continente de Gondwana. São fósseis de idades cambrianas, ordoviciana 
e siluriana. Depósitos glaciais de tilito carbonífero recobertos por sedimentos 
permianos e triássicos encerram fósseis de vertebrados terrestres, camadas de 
carvão	e	presença	da	flora	Glossopteris. Essa variedade de fósseis e as evidências 
geológicas mostram que o clima antártico já foi mais quente do que o atual. As 
camadas	de	 carvão	 indicam	um	clima	úmido	 e	 quente.	A	flora	de	Glossopteris 
é	de	 idade	 carbonífera	 e	 é	 contemporânea	 à	do	 réptil	 carnívoro	Lystrosaurus. 
(CUNHA,	1973).
Da mesma forma que no Polo Norte, a Antártica não tem um ciclo diário 
dividido	 em	 24	 horas.	De	 setembro	 a	março,	 o	 Sol	 paira	 sobre	 o	 horizonte,	 o	
que corresponde ao verão austral – o dia no Polo Sul. De março a setembro ele 
desaparece lentamente, à medida que o outono avança e o inverno o sucede. 
Quando a primavera retorna, ele ascende no horizonte para clarear nos próximos 
seis	meses.	O	Sol	nunca	fica	no	zênite	nos	polos	 e	nunca	 sobe	muito	 além	do	
horizonte. Por essa razão, os polos recebem muito pouca radiação solar e este é 
um dos fatores das baixas temperaturas.
UNIDADE 3 | TERRITÓRIOS BIOGEOGRÁFICOS, BIOMAS E A AÇÃO DO HOMEM
182
A massa de gelo se desloca lentamente do centro do continente em direção 
à periferia. No Oceano Antártico, a plataforma continental tem uma extensão 
média	de	30	quilômetros	e,	devido	ao	peso	do	gelo,	é	mais	profunda	do	que	dos	
demais continentes.
 
O	 continente	 gelado	 é	 a	 fonte	 da	 massa	 de	 ar	 antártica	 (mP),	 que	
se	 forma	no	anticiclone	fixo	polar	e	 se	deloca	 sob	a	 forma	de	 fortes	
ventos,	que	alcançam	velocidades	superiores	a	100	km/h	no	litoral.	O	
anticiclone permanente tem inversão térmica muito baixa, fazendo 
com que o deslocamento das massas quentes superiores para a 
superfície seja lento. Por esta razão, o contato das massas de ar com a 
superfície gelada é longo. Dessa forma, elas perdem totalmente o calor 
adquirido	na	descida.	(NIMER,	1979,	p.	11).	
O vento, chamado de catabático, diverge do anticiclone em direção ao 
litoral com um desvio constante para a esquerda, devido ao efeito de Coriolis, e 
atinge	velocidades	superiores	a	100	km/h	em	razão	do	forte	gradiente	de	pressão	
existente entre o interior do continente e o mar. 
Em	alguns	lugares	do	litoral,	como	no	Mar	de	Weddel,	onde	há	um	centro	
de baixa pressão, para os quais migram as massas antárticas, as tempestades 
são violentas e podem durar semanas. No interior, as precipitações são de neve, 
raramente	de	água	líquida.	No	litoral,	o	total	pluviométrico	não	ultrapassa	os	250	
mm/ano.	Em	todo	o	continente,	o	índice	médio	é	inferior	a	100	mm	de	precipitação.
A Antártica tem temperaturas bem menores que o Ártico. As razões são 
as seguintes:
1)	 no	Ártico	há	maior	quantidade	de	água,	que	retém	melhor	o	calor.	Na	Antártica,	
com muito mais gelo, apenas uma pequena porcentagem do calor é mantida 
pela	água;
2)	 o	oceano	reflete	cerca	de	5%	da	radiação	solar	incidente	(de	ondas	curtas)	e	
absorve o restante, liberando-o lentamente. A superfície exposta à radiação 
reflete	entre	15%	e	35%	da	radiação	de	ondas	curtas.	O	restante	é	liberado	com	
maior	velocidade,	o	que	resfria	a	superfície.	A	capa	de	gelo	antártica	reflete	
cerca	de	80%	da	radiação	incidente	–	por	isto,	existe	mais	gelo	na	Antártica	que	
no	Ártico;
3)	 no	 inverno,	 o	Oceano	Glacial	Antártico	 se	 congela	 e	 praticamente	 dobra	 o	
tamanho	do	continente,	impedindo	ou	dificultando,	pois,	que	a	água	do	mar	
funcione como um mecanismo moderador das temperaturas.
TÓPICO 1 | OS REINOS BIOGEOGRÁFICOS E OS BIOMAS
183
Prezado(a) acadêmico(a)!
Para auxiliar nos estudos e conhecer mais sobre as baixas temperaturas na Antártica, acesse 
o site: <http://www.iespana.es/natureduca/ant_indice.htm>. Acesso em: 13 jul. 2010.
IMPORTANT
E
A	temperatura	média	anual	no	interior	do	continente	é	de	54o C negativos. 
Todos	os	meses	têm	média	inferior	a	0o C. Mas no verão no litoral, a temperatura 
máxima	 do	 verão	 raramente	 chega	 a	 15o C, registrada na Península Antártica 
Norte, a região mais aquecida do continente. Em outras regiões litorâneas, a 
temperatura	 raramente	 chega	a	5º	C.	A	mínima	absoluta	da	Terra	 registrou-se	
na	estação	russa	de	Vostok,	que	está	a	uma	altitude	de	3.505	metros	e	na	latitude	
de	78º28’:	 -89,2o	C,	em	 julho	de	1983.	O	recorde	anterior	havia	sido	da	mesma	
estação,	em	agosto	de	1960:	-88,3o	C.	A	média	anual	na	estação	Vostok	é	de	-56º	C,	
a	média	no	mês	mais	quente	(janeiro)	é	de	-33º	C	e	a	máxima	absoluta,	-21º	C.	No	
inverno,	no	litoral,	a	média	é	inferior	a	-40o C. 
No	Polo	Sul,	a	amplitude	 térmica	varia	antre	 -25º	C	e	 -62º	C.	Altitudes	
elevadas, o anticiclone polar, que mantém a atmosfera quase sempre límpida, e a 
baixa umidade atmosférica contribuem para as temperaturas tão baixas, a que se 
junta a posição do sol sempre no horizonte. 
A vida no reino Arquinótico enfrenta fatores limitantes severos, 
representados, sobretudo, pelo clima. Os seres vivos se viram obrigados a um 
complexo processo de adaptação, muito próximo do limite vital.
“O	limite	meridional	das	plantas	superiores	encontra-se	a	68o de latitude sul, 
e, na Antártica, aparecem apenas duas espécies: a gramínea Deschampsia antarctica 
e	a	vascular	com	flores	Colobanthus crassifolius”	(MÜLLER,	1979,	p.	78;	WALTER,	
1986,	p.	294).	O	restante	é	representado	por	musgos,	algas	terrestres	e	líquens,	que	
ocuparam esparsamente apenas a costa. A erva C. crassifolius cresce em lugares 
protegidos do vento, que contenham alguma umidade, especialmente depois do 
degelo	da	primavera.	Suas	flores	são	brancas	e	 têm	menos	de	0,5	centímetro	de	
comprimento. D. antarctica e C. crassifolius crescem apenas na Península Antártica e 
nas ilhas mais setentrionais, que têm temperaturas mais amenas. 
Segundo	Walter,	1986,	p.	294:
Nas	ilhas	próximas,	as	temperaturas	são	superiores	a	0o C no verão, 
mas o solo litólico e o frio extremo impedem o crescimento de árvores. 
As	 baixas	 temperaturas	 dificultam	 a	 pedogênese	 e	 a	 superfície	 é	
coberta por calhaus de pedras. Chuva e neblina ocorrem durante todo 
o ano e o vento polar varre as ilhas sem parar. A cobertura vegetal das 
ilhas	 é	 representada	por	musgos,	 samambaias	 e	 líquens.	 (WALTER,	
1986,	p.	294).	
UNIDADE 3 | TERRITÓRIOS BIOGEOGRÁFICOS, BIOMAS E A AÇÃO DO HOMEM
184
Líquens e musgos são as vegetações mais comuns e melhor adaptadas 
em	todo	o	Continente	Antártico,	podendo	ser	encontrados	a	até	400	quilômetros	
do	Polo	Sul.	Existem	mais	de	 400	 espécies	de	 líquens,	 75	 espécies	de	musgos,	
oito	gêneros	de	hepáticas	e	75	espécies	de	fungos	(apenas	oito	macroscópicas)	na	
Antártica. Nas rochas, onde as aves fazem os seus ninhos, a alga verde terrestre 
Prasiola crispa é comum. Algas azuis, as cianofícias, são frequentes também. 
Quanto	à	fauna,	a	Antártica	tem	cerca	de	200	espécies	endêmicas	de	peixes,	
em	geral,	de	tamanho	pequeno,	com	menos	de	25	cm	de	comprimento,	raramente	
chegando	 a	 50	 cm.	A	maioria	 tem	 crescimento	 lento	 e	 grande	 longevidade.	O	
krill (Euphausia superba)	é	a	principal	fonte	de	alimentação	da	maioria	dos	peixes	
antárticos.	É	um	crustáceo	muito	semelhante	ao	camarão,	que	não	ultrapassa	6	
cm	de	comprimento	e	pesa,	no	máximo,	1,5	g.
Existem	 85	 espécies	 de	 krills, que vivem em grupos de milhares e 
constituem	 uma	 biomassa	 de	 cerca	 de	 5	 bilhões	 de	 toneladas.	 Baleias,	 aves	 e	
pinguins também usam o krill como fonte de energia. As baleias ingerem cerca 
de uma tonelada de krill num únicoalmoço. O krill integra uma complexa rede 
alimentar,	que	começa	com	os	fitoplânctons,	o	seu	alimento.	Barcos	pesqueiros	
japoneses e noruegueses o pescam intensamente.
As aves antárticas compõem sete famílias: Spheniscidae	 (pinguins,	 18	
espécies);	Stercorariidae	 (skuas,	 duas	 espécies);	Laridae	 (gaivotas,	 três	 espécies);	
Phalacrocoracidae	 (cormorão,	uma	espécie);	Procelariidae (petréis, três espécies, e 
a	pomba-antártica,	uma	espécie);	Diomedidae	(albatroz,	três	espécies);	Oceanitidae 
(andorinhas-do-mar,	uma	espécie).
Os pinguins são os representantes mais comuns do reino Arquinótipo. 
O pinguim-imperador (Aptenodytes forsterii),	 que	 pode	 ter	 mais	 de	 um	metro	
de	 altura	 e	 pesar	 40	 quilos,	 e	 o	 pinguim-de-Adélia	 (Pygoscelis adeliae)	 formam	
grandes colônias de milhares de indivíduos e são os únicos que vivem ao longo do 
litoral	durante	todo	o	ano.	O	pinguim-imperador	forma	colônias	de	mais	de	300	
mil indivíduos. O krill é o principal alimento dos pinguins e os seus predadores 
são a foca-leopardo (Hydrurga leptonyx),	a	gaivota	(Larus dominicanus)	e	as	skuas	
(Chataracta	spp).	
O estercorário (família Sterchoranïdae),	ou	skuas, são os maiores predadores 
do	polo	Sul.	Alimentam-se	de	aves,	filhotes	e	ovos	de	pinguins,	filhotes	de	focas,	
restos de placentas das focas, animais mortos, em adiantado estado de putrefação.
TÓPICO 1 | OS REINOS BIOGEOGRÁFICOS E OS BIOMAS
185
Prezado(a) acadêmico(a)!
Quanto às espécies, acesse o site: <http://www.inach.cl/portal_educa/antartica/antartica.
html> e <http://www.inach.cl/portal_educa/antartica/antartica.html>.Acesso em: 13 jul. 2010.
DICAS
Na Antártica ocorrem três espécies de gaivotas: Larus dominicanus, a 
gaivota-dominicana, Sterna paradisaea, a gaivota-do-Ártico (que nos respectivos 
invernos	voa	para	o	polo	oposto	no	verão)	e	Sterna vitatta, a gaivota da Antártica. 
A família Laridae	 tem	 90	 espécies	 de	 gaivotas,	 das	 quais	 20	 vivem	 no	 Brasil.	
O hábitat preferido são as ilhas Shetland do Sul, que dividem com as focas e 
pinguins. Alimentam-se de peixes, ovos, roedores pequenos e restos de animais 
mortos e de plantas. O seu predador mais contumaz é o estercorário.
Outras aves na Antártica são o cormorão-da-Antártica (Phalacrocorax 
bransfieldensis),	que	pesca	a	30	metros	de	profundidade	e	prende	a	respiração	por	
um minuto. No Brasil, o biguá, P. olivaceus, representa a espécie. O cormorão 
é uma ave cosmopolita e, no reino Paleotropical, estende os seus domínios da 
Europa Ocidental até a Ásia e a Austrália. Outros procelários (família Procelariidae)	
na Antártica são Daption capense, o petrel, Macronecte giganteus, o petrel-gigante, 
Pagoroma nivea, o petrel-das-neves, Chionis alba, a pomba-antártica. 
O simpático albatroz (família Diomedeidae)	 é	 uma	 das	 aves	 mais	
cosmopolitas, mas a principal concentração se dá no Hemisfério Sul, nas ilhas 
Shetland do Sul e na Península Antártica. Há três espécies: Diomedea melanophris, 
o pelicano-negro, D. chrysostoma, pelicano-de-cabeça-cinza, e D. exulans, albatroz 
comum. 
Os invertebrados têm poucos representantes – tardígrafos (invertebrados 
com	1	mm	de	comprimento),	ácaros	(parasitas	de	aves	e	mamíferos,	com	menos	
de	1	mm),	colêmbolos	(insetos	ápteros	com	5	mm	de	comprimento),	que	vivem	
sob	o	musgo	(STORER	et	al.,	1991).
Dentre os mamíferos marinhos, duas ordens fazem parte da fauna antártica: 
Carnivora e Cetacea. Dentre os carnívoros estão a foca (família Phocidae)	e	o	lobo-
marinho (família Othariidae).	As	focas	estão	representadas	por	diversos	gêneros:	
a foca-elefante ou elefante-marinho (Mirounga leonina),	 a	 foca-branca	 (Lobodon 
carcinophagus),	a	foca-leopardo	ou	leopardo-marinho	(Hydrurga leptonyx),	a	foca	
de	Weddell	(Leptonychotes weddelli)	e	a	foca-de-Ross	(Ommatohoca rossi).
As baleias são os maiores animais da Terra. Na ordem Cetacea incluem-
se	 também	 os	 golfinhos.	 “As	 baleias	 são	 classificadas	 em	 duas	 subordens	 –	
Odontoceti, baleias-com-dentes, e Mysticeti, sem dentes” (STORER et al., 1991, p. 
UNIDADE 3 | TERRITÓRIOS BIOGEOGRÁFICOS, BIOMAS E A AÇÃO DO HOMEM
186
721).	Na	Antártica	 encontram-se	 a	 baleia-azul	 (Balaenoptera musculus),	 o	maior	
animal	do	planeta,	com	32	m	de	comprimento,	e	filhotes	que	nascem	com	7	m	
de comprimento, a mink (Balaenoptera acutorostrata), a baleia-de-corcova ou 
corcunda (Megaptera novaeangliae) e a baleia fin (Balaenoptera physalus), dentre 
as baleias sem dentes. As únicas baleias com dentes são a orca (Orcinus orca),	
erroneamente chamada de baleia-assassina, e o cachalote (Physeter catodon)	 ou	
baleia-de-espermacete,	 com	 18	m	 de	 comprimento.	 O	 espermacete	 é	 um	 óleo	
lubrificante	produzido	pela	baleia,	armazenado	num	reservatório	localizado	na	
cabeça. No estômago, ela produz o âmbar-cinzento, muito usado em perfumaria 
(STORER).
Prezado(a) acadêmico(a)!
Quanto às espécies de baleias, acesse o site: <http://www.antarcticconnection.com/antarctic/
wildlife/whales/index.shtml> Acesso em: 13 jul. 2010.
DICAS
2.5 REINO NEOTROPICAL
O reino Neotropical inclui a América do Sul, as Antilhas e grandes 
extensões	da	parte	oriental	da	América	Central.	As	condições	paleogeográficas	e	
paleoecológicas favoreceram o desenvolvimento e a manutenção de uma fauna e 
uma	flora	riquíssima	em	espécies.	
O	 reino	 Neotropical	 possui	 os	 seguintes	 biomas:	 floresta	 equatorial,	
floresta	tropical,	savanas	ou	cerrados,	campos,	manguezais	e	restingas	tropicais.	
As relações existentes no reino Neotropical são muito semelhantes às relações 
já vistas anteriormente em outros biomas tropicais e equatoriais, mas em razão 
da localização, da complexidade e da atuação da população humana, os biomas 
neotropicais	 apresentam	 peculiaridades.	 Por	 exemplo,	 a	 floresta	 Amazônica,	
que	se	estende	sob	o	equador,	e	a	floresta	tropical	da	encosta	da	Serra	do	Mar	
-	 a	 floresta	Atlântica	 -	 exibem	 características	 que	 as	 diferem	uma	da	 outra.	A	
floresta	tropical	da	América	Central	tem	características	próprias.	O	cerrado,	que	
é a savana neotropical, é muito diferente da savana africana ou da australiana, 
embora as suas relações dinâmicas tenham muitas semelhanças com as outras.
Há uma grande e complexa variedade de climas no reino Neotropical, o 
que levou ao desenvolvimento de hábitats diferentes – desde os superúmidos, 
como o clima equatorial, até o semiárido da caatinga e o clima de deserto, nas 
partes mais elevadas dos Andes e nas planícies do centro e do sul da Argentina.
TÓPICO 1 | OS REINOS BIOGEOGRÁFICOS E OS BIOMAS
187
Strahler	(1984)	e	Strahler	e	Strahler	(1996)	enquadram	os	climas	neotropicais	
em dois tipos principais: climas de baixas latitudes e climas de latitudes médias. 
São climas governados por movimentos de massas de ar e por zonas frontais.
As massas de ar que atuam nos climas das baixas latitudes têm regiões-
fonte variadas: podem ser continentais tropicais, tropicais marítimas e equatoriais 
marítimas e continentais. As regiões-fonte encontram-se tanto nas zonas tropicais 
quanto nas subtropicais e incluem a zona de convergência intertropical, o cinturão 
dos ventos alísios e partes das células subtropicais de alta pressão. 
Na faixa de baixas latitudes, os climas predominantes são o equatorial 
úmido, o clima de monção das costas atingidas pelos ventos alísios, o tropical 
seco-úmido	 e	 o	 tropical	 árido	 (STRAHLER	 1984;	 STRAHLER;	 STRAHLER,	
1996).	Os	 tipos	climáticos	vão	desde	o	extremamente	úmido	e	quente,	 como	o	
equatorial, ao extremamente quente e árido, como o desértico. Nas montanhas, 
como os Andes, as altitudes criam tipos climáticos com características muito 
especiais e contrastantes, como vertentes a barlaventos com chuvas torrenciais 
e	vertentes,	a	sota-vento,	semiáridas	(sombra	de	chuva).		A	insolação	é	elevada	
nas altas latitudes, devido à rarefação do ar, e a radiação solar incide sobre a 
superfície quase sem encontrar barreira imposta pela umidade, que é baixa, e 
pelos aerossóis. A concentração de radiação ultravioleta é altae pode causar 
danos ao homem e aos animais. 
As latitudes médias situam-se na zona de confronto de massas de ar 
tropicais e polares, as zonas de descontinuidades. Nas descontinuidades, a frente 
polar origina ondas ciclônicas, que se movem, ora na direção do equador, ou 
retrocedem para o Polo Sul, trazendo chuvas constantes, muitas vezes violentas 
tempestades. As frentes predominam a partir de meados do outono até meados 
da primavera seguinte, com uma ligeira queda no inverno, que é dominado, 
no Hemisfério Sul, pela massa polar atlântica. Na América Central, a atividade 
frontal é menor, mas ciclones e furacões são comuns. As células ciclonais podem 
aparecer em qualquer época do ano, sobretudo no verão. 
Essa variedade de climas com características e propriedades diferentes 
mantém os biomas no reino Neotropical, mas a presente distribuição da fauna 
e	da	flora	se	deve,	sobretudo,	à	sucessão	de	fatores	paleoambientais	e	genéticos,	
paralelamente	a	flutuações	climáticas,	que	marcaram	o	Pleistoceno	e	o	Holoceno.	
As variações dos ecossistemas ocorridas no Quaternário podem ser acompanhadas 
nos estudos de fósseis vegetais e animais, o que permite formar um quadro 
preciso dos paleoambientes para entender a paisagem atual.
Ao	 relacionar	 fatores	 geomorfológicos,	 climáticos,	 fitogeográficos,	
hidrológicos	 e	 ecológicos,	Ab'Sáber	 (1977)	 agrupou	 a	 paisagem	 sul-americana	
em três grandes domínios paisagísticos: planaltos intertropicais do Brasil, das 
Guianas	e	de	parte	da	Venezuela,	que	ele	chamou	de	áreas	nucleares;	domínios	
transicionais	das	planuras	 e	 baixos	platôs	meridionais	do	 sul	do	 continente;	 e	
domínios de montanhas e altiplanos da Cordilheira dos Andes, controlados pelo 
clima de altitude.
UNIDADE 3 | TERRITÓRIOS BIOGEOGRÁFICOS, BIOMAS E A AÇÃO DO HOMEM
188
A	 essas	 paisagens	 integradas,	 Ab'Sáber	 (1967,	 p.	 1977)	 denominou	
domínios	morfoclimáticos	e	fitogeográficos	e	as	definiu	como	"[...]	um	conjunto	
espacial de certa ordem de grandeza territorial – de centenas de milhares a 
milhões de km2 de área – onde haja um esquema coerente de feições de relevo, 
tipos	 de	 solos,	 formas	 de	 vegetação	 e	 condições	 climático-hidrológicas".	 Essas	
paisagens integradas ocorrem sempre numa área típica, que Ab'Sáber chama de 
área core ou área nuclear. A área nuclear apresenta as características típicas, que 
são	reflexo	dos	seus	fatores	naturais,	mas	que,	à	medida	que	se	afasta	do	centro,	
vão se alterando gradativamente, para, mais adiante, dar lugar a outra paisagem. 
Essas áreas de transição compõem corredores que interligam e envolvem as áreas 
nucleares. Elas resultam de processos diferentes, que originaram vegetação, solos 
e	formas	de	relevo	particulares.	(AB'SÁBER,	1977).	
As áreas de transição são extremamente complexas e podem apresentar 
fisionomias	em	mosaico	de	duas	ou	várias	áreas	nucleares,	ou	mesmo	combinações	
totalmente	 diversas,	 que	Ab'Sáber	 (1977)	 chamou	 de	 áreas-tampão	 –	 que	 não	
têm nenhuma relação direta com as áreas nucleares adjacentes. As paisagens-
tampão podem se localizar no centro das faixas de transição e se destacam da 
paisagem	envolvente.	Essas	paisagens-tampão	são	formações	fitogeográficas	que	
se	adaptaram	às	condições	climáticas,	edáficas	e	de	relevo	das	zonas	de	transição.	
Ab'Sáber	(1977)	cita	a	zona	dos	cocais,	as	matas-de-cipó	e	as	matas-secas	como	
representantes mais típicos das áreas-tampão. Na verdade, são refúgios ou 
enclaves, que se estabeleceram numa época de clima e condições ecológicas 
diferentes das de hoje. 
Todas essas variações ambientais estão sujeitas diretamente ao comando 
de	mudanças	 e	 flutuações	 climáticas.	As	 condições	 climáticas,	 principalmente	
as regionais, são, em parte, responsáveis pelas formas de relevo, pelos tipos de 
solos,	pela	hidrografia	e	pela	cobertura	vegetal	(BIGARELLA,	2003;	ANDRADE-
LIMA;	RIEHS,	1975).	Segundo	o	tipo	de	clima,	ocorria	a	degradação	lateral	ou	a	
dissecação	vertical,	que	moldavam	a	paisagem	e	lhe	conferiam	tipos	específicos	
de	 formações	 geográficas,	 acompanhadas	 das	 respectivas	 faunas.	 Bigarella	
&	Mousinho	 (1965,	p.	 17)	 “mostraram,	 estudando	os	 sedimentos	da	 região	de	
Pariquera-Açu	 (Estado	de	São	Paulo),	que	a	degradação	 lateral	 é	 típica	de	um	
clima semiárido”. Naquela região, a morfogênese mecânica formou superfícies 
aplainadas	e	sedimentos	grosseiros	e	finos.	A	dissecação	vertical,	característica	da	
decomposição química de climas úmidos e quentes, produziu espessos regolitos, 
recobertos	por	densas	florestas	úmidas.
Nas	 épocas	 semiáridas,	 as	florestas	 recuam	para	 os	 biótopos	 em	que	 a	
umidade possa ser mantida e, então, constituem refúgios para a fauna e para a 
flora.	Viadana	(2002:	26)	cita	Bigarella	(1964),	que	estudou	depósitos	sedimentares	
em	vários	 lugares	do	Brasil	e	mostrou	que	a	ciclicidade	do	clima	fica	revelada	
nos sedimentos, o que permite calcular a idade das formações vegetais atuais. 
Bigarella	 (apud	 Viadana)	 mostrou,	 estudando	 sedimentos	 quaternários	 em	
diversas regões do país, que as glaciações causam a semiaridez, enquanto os 
períodos	interglaciais	umedecem	o	clima.	Em	1970,	Damuth	e	Fairbridge	(apud	
TÓPICO 1 | OS REINOS BIOGEOGRÁFICOS E OS BIOMAS
189
1990,	p.	114;	VIADANA,	2002,	p.	34)	“confirmaram	a	afirmação	de	Bigarella	(1964,	
apud	VIADANA)	e	de	Leite	e	Klein,	de	que	nos	períodos	glaciais	o	clima	é	frio	e	
seco e nos períodos interglaciais é úmido e quente”.
Essas mudanças atingem diretamente os seres vivos e os obrigam a adaptar-
se a elas – ou perecer. Inúmeros refúgios formaram-se no Brasil e na América do 
Sul,	devido	a	modificações	do	clima	no	Quaternário.	Os	refúgios	acabam	por	se	
tornar centros de dispersão, de onde espécies de animais e de plantas migram tão 
logo as condições ambientais externas lhes permitam expandir. 
3 OS BIOMAS
Os	reinos	biogeográficos	compreendem	os	biomas,	embora	os	critérios	de	
delimitação estejam baseados mais na forma das plantas submetidas a um tipo 
climático existente atualmente do que propriamente no nível de endemismo, na 
sua evolução e nas áreas de dispersão dos seres vivos.
Os biomas estão reunidos em quatro grupos principais, também chamados 
biócoros.	São	eles:	florestas,	savanas,	estepes	(pradarias,	campos)	e	desertos.
Os	reinos	biogeográficos	abrigam	os	seguintes	biomas:
Reino Holártico	 –	 tundra,	 taiga,	 floresta	 temperada	 decídua,	 estepes	 e	
pradarias, deserto, vegetação mediterrânea.
Reino Paleotropical –	deserto,	estepe,	savana,	floresta	tropical	úmida.
Reino Australiano	 –	 deserto,	 estepes	 e	 pradarias,	 savana,	 floresta	
temperada	decídua,	floresta	tropical	úmida,	vegetação	mediterrânea.
Reino Neotropical –	floresta	 tropical	 úmida,	 savana,	 estepe	 e	 pradaria,	
floresta	temperada	decídua,	vegetação	de	montanhas.
A seguir, a descrição dos biomas, independentemente de reino ou região 
biogeográfica	em	que	se	encontram.
 
3.1 BIOMA DE TUNDRA
Nos	 limites	do	Polo	Norte,	 entre	50o	 e	 70o de lat. norte, está a tundra – 
vegetação	de	porte	rasteiro,	que	enfrenta	um	clima	cujo	verão	é	de	6	a	10	semanas,	
com	 apenas	 quatro	 meses	 do	 ano	 ultrapassando	 10o C, e invernos longos de 
temperaturas abaixo de zero grau. O nome tundra significa	terra nua e deriva do 
finlandês	tunturia.	O	ecossistema	da	tundra	é	muito	recente	e	formou-se	no	fim	
UNIDADE 3 | TERRITÓRIOS BIOGEOGRÁFICOS, BIOMAS E A AÇÃO DO HOMEM
190
da	última	glaciação,	há	cerca	de	10	mil	anos,	quando	o	gelo	começou	a	recuar	e	
a	expor	a	superfície	nua	das	rochas.	É	o	maior	ecossistema	da	Terra,	recobrindo	
cerca	de	20%	do	planeta.	
No Hemisfério Sul, a tundra aparece apenas em pequenas ilhas ao largo 
da Antártida e Península Antártica. Nas altas montanhas, como nos Andes, ocorre 
uma	 cobertura	 vegetal	 fisionomicamente	 muito	 semelhante	 à	 tundra	 ártica,	
embora	com	flora	diferente.	É	considerada	tundra	altitudinal.
A tundra distingue-se por quatro fatores: um período de crescimento 
vegetativo	de	menos	de	50	dias	entre	a	primaverae	o	outono	seguinte;	existência	
do permafrost,	denominação	do	subsolo	sempre	gelado;	precipitações	inferiores	a	
250	mm/ano	concentradas	no	verão;	baixa	produtividade	das	plantas	(inferior	a	
1g de matéria seca por m2/dia),	ou	seja,	a	vegetação	cresce	muito	lentamente.	
As temperaturas são extremas e no mês de julho, o mais quente, elas não 
chegam	a	10º	C.	No	inverno,	as	temperaturas	podem	chegar	a	50º	C	abaixo	de	
zero	ou	menos.	As	chuvas	anuais	não	alcançam	250	mm.
O clima da tundra do Hemisfério Norte é controlado por massas de ar 
polares e árticas. Além da temperatura, a evaporação também é baixa. As massas 
árticas dominam no extremo norte da tundra, com os seus centros de alta pressão 
localizados no Oceano Ártico e na Groenlândia. “No interior dos continentes 
aparecem massas de ar polares continentais e polares marítimas” (STRAHLER, 
1984,	 p.	 307).	 A	 frente	 polar	 ártica	 atua	 durante	 todo	 ano	 com	 tempestades	
violentas, que se movem para leste. 
Embora a tundra ártica cubra uma larga extensão espacial, a composição 
florística	é	muito	pobre,	resumindo-se	a	musgos,	liquens,	gramíneas,	arbustos	e	
ervas diversas.
Não existem árvores na tundra. As baixas temperaturas e os solos litólicos, 
em sua maioria, determinam faixas de vegetação, que se estendem a partir da taiga 
(floresta	de	coníferas,	a	última	linha	de	árvores).	Furley	e	Newey	(1986,	p.	225)	
apontam três faixas: “tundra alta, tundra média e tundra baixa”. As designações 
não se referem ao porte da vegetação, mas à latitude em que se acham elas.
A tundra alta envolve o Polo Norte, aparecendo no litoral setentrional 
dos continentes e em ilhas ao norte do Canadá. Nas ilhas, a vegetação é muito 
esparsa, formada por diminutas manchas de líquens, musgos e ervas. Em algumas 
depressões aparece o salgueiro-anão, a única espécie lenhosa. 
A tundra média aparece mais ao sul, onde as condições climáticas e 
edáficas	 permitem	 uma	 cobertura	 de	maior	 porte,	 como	 as	 urzes	 sobre	 solos	
pobres	(charnecas).	Predominam	juncos	e	turfas,	espécies	de	áreas	pantanosas.
 
TÓPICO 1 | OS REINOS BIOGEOGRÁFICOS E OS BIOMAS
191
No extremo sul da região estende-se a tundra baixa, que recobre o norte 
do Canadá, o Alaska, o sul da Groenlândia e vastas áreas da Sibéria. São espécies 
lenhosas, como moitas de salgueiros e bétulas, ericáceas, musgos, líquens e ervas. 
“A família Saxifragaceae, plantas herbáceas ou arbustivas lenhosas, pouco comum 
no Brasil, inclui, dentre outras, o gênero Ribes, de onde se extrai a popular bebida 
groselha”.	(JOLY,	1991,	p.	362).	
A tundra baixa limita-se com a taiga. Entre ambas aparece um ecótono 
(faixa	 de	 transição	 entre	 ecossistemas),	 com	 espécies	 de	 ambas	 as	 formações,	
chamada	de	floresta	da	tundra,	com	manchas	de	pinheiros,	abetos	e	larícios.
Walter	(1986,	p.	292)	tem	outra	taxonomia	para	a	tundra	do	Hemisfério	
Norte:	“tundra	de	arbustos	anões,	equivalente	à	tundra	baixa	(ao	sul);	a	tundra	
verdadeira de	 líquens	 e	musgos,	 semelhante	 à	 tundra	média;	 e	 o	deserto	 frio,	
com	 vegetação	 esparsa	 entremeada	 de	 blocos	 rochosos	 soltos	 e	 afloramentos	
correspondendo	à	tundra	alta	(no	extremo	norte)”.
O permafrost, camada permanentemente congelada do subsolo, pode 
atingir, no norte do Hemisfério Norte, centenas de metros de profundidade, 
reduzindo-se	para	o	sul,	chegando	até	cerca	de	25	cm	de	espessura.	O	permafrost 
dificulta	o	crescimento	das	plantas	superiores,	porque	as	raízes	são	 impedidas	
de se aprofundar, e reduz a atividade de bactérias e fungos na decomposição 
da matéria orgânica. A matéria orgânica morta mal decomposta acumula-se 
na superfície, originando uma espessa camada de turfa. O permafrost impede a 
infiltração	da	água	do	degelo,	que	também	se	acumula	à	superfície	e	origina	outro	
traço marcante da tundra: milhares de lagos pontilham a paisagem no verão, e se 
constituem habitats povoados por uma enorme multidão de aves e mamíferos.
Urzes são plantas da família Ericaceae, típicas de solos pobres, ácidos e mal 
drenados. As Ericáceas têm 82 gêneros com mais de 2.500 espécies, que aparecem nas 
regiões temperadas e subtropicais dos dois hemisférios. São plantas lenhosas, arbustivas, 
com folhas esclerófilas e flores muito vistosas. No Brasil, é muito comum nos jardins o 
Rhododendron spp, a azaleia, que floresce no inverno, e a Erica spp. Na Europa, cachimbos 
de boa qualidade são feitos de madeira de Erica spp. O nome urze foi introduzido pelos 
portugueses (JOLY, 1991, p. 535).
IMPORTANT
E
UNIDADE 3 | TERRITÓRIOS BIOGEOGRÁFICOS, BIOMAS E A AÇÃO DO HOMEM
192
A umidade do solo regula a distribuição das plantas. Em solos bem 
drenados, como os litossolos, liquens e musgos predominam. Nos solos não 
encharcados, como nas encostas suaves de solos castanhos, gramíneas e arbustos 
anões de Vaccinium spp aparecem ao lado de ervas do gênero Dryas spp. Nos 
solos alagados dos brejos são comuns ciperáceas como Carex spp, e musgos como 
Hypnum spp, Sphagnum spp e Aulocomnium spp.
As plantas desenvolveram artifícios para enfrentar os fatores limitantes. 
Como o período favorável é curto, elas têm que aproveitar ao máximo o calor. “A 
alta latitude reduz a radiação solar e as plantas procuram no calor emitido pelo 
solo outra fonte de energia para compensar. Por esta razão, não são maiores que 
8	ou	10	cm”	(FURLEY;		NEWEY,	1986,	p.	232).	Os	talos	e	folhas	do	salgueiro-anão	
(Salix herbacea),	por	exemplo,	alastram-se	sobre	o	solo	e	formam	um	emaranhado	
intrincado,	que	dificulta	caminhar	sobre	ele.	
O metabolismo das plantas é lento devido ao frio, por isto, elas 
atingem idades avançadas: o salgueiro-do-Ártico (Salix arctica)	 vive	 150	
anos, e o zimbro (Juniperus communis)	 ultrapassa	 os	 300	 anos.	 Liquens,	 como	
Rhizocarpon geographicum, podem viver por milhares de anos. “Os liquens usam 
convenientemente o calor do solo ou da superfície das rochas e a água do degelo, 
o	que	lhes	faculta	uma	fotossíntese	eficiente”.	(FURLEY;	NEWEY,	1986,	p.	234)
Na	 curta	 estação	 de	 crescimento	 (primavera	 e	 verão),	 as	 plantas	
adaptaram-se a se desenvolver, reproduzir e, em seguida, entrar em dormência 
para se preparar para o inverno seguinte. As plantas fazem fotossíntese em baixas 
temperaturas e muitas espécies usam reservas de carboidrato estocadas nas 
raízes, talos e rizomas.
Do mesmo modo que as plantas, os animais da tundra também se 
adaptaram ao frio e também aos predadores. São representantes da fauna do 
Hemisfério Norte o boi almiscarado (Ovibus muschatus),	 a	 raposa-do-Ártico	
(Alopex lagopus),	a	ptármiga	(Lagopus hyperboreus),	dentre	outros	e	que	possuem	
adaptações como grossa camada de pele, impermeável ao frio e à umidade. A 
raposa	pode	suportar	temperaturas	abaixo	de	50º	C	negativos	sem	interromper	
as	suas	atividades.	A	camuflagem	é	importante	para	escapar	aos	predadores.	A	
raposa e o arminho (Mustela erminea)	são	marrons	no	verão	e	brancos	no	inverno.	
A pelagem branca é valiosa no mercado de peles e, por isso, sofrem ambos intensa 
caça.
Vaccinium é um dos 82 gêneros da família Ericaceae. Plantas lenhosas, típicas 
de solos ácidos, algadiços (JOLY, 1991, p. 534).
IMPORTANT
E
TÓPICO 1 | OS REINOS BIOGEOGRÁFICOS E OS BIOMAS
193
Os lemingues (o lemingue marrom, Lemmus lemmus, e o lemingue de 
coleira, Dicrostonyx torquatus)	 não	 hibernam	 e	 nem	 armazenam	 reservas	 de	
alimentos para o inverno. No período frio, metem-se sob a neve, formando 
enormes colônias. Alimentam-se de raízes, sementes e musgos. Estes animais 
ocupam uma posição fundamental na cadeia alimentar da tundra. Fertilíssimos, 
procriam	em	todas	as	estações	do	ano,	quando	nascem	de	8	a	10	filhotes.	A	fêmea	
pode procriar a partir da terceira semana de idade. O tamanho não passa dos 
15	 cm	e	pesam	apenas	50	g.	Contudo,	 com	um	metabolismo	 intenso,	 têm	que	
consumir	de	40	a	50	kg	de	plantas	por	ano.	“Uma	colônia	que	ocupe	uma	área	de	
1	a	1,5	ha	arrasa	mais	de	95%	da	vegetação”	(WALTER,	1986,	p.	291).	Nos	túneis	
cavados	na	neve,	a	temperatura	é	de10º	C,	enquanto	na	superfície	pode	estar	50º	
C	abaixo	de	zero.	Ao	fim	do	inverno,	emigram	para	outra	área,	deixando	para	trás	
um terreno arrasado. Na primavera, no entanto, gramíneas e ciperáves rebrotam 
rapidamente. 
A lenda popular diz que os lemingues se suicidam no verão. Na verdade, a 
cada quatro ou cinco anos há uma explosão populacional, se a comida é farta. Após 
devastar a região, partem à procura de outras áreas e o processo de devastação 
prossegue. A redução do alimento leva a uma drástica redução populacional e 
a colônia emigra. Nesse período de escassez, os lemingues constituem massas 
compactas de animais, que vagam pela tundra. Ao encontrar um braço de mar, rio 
ou lago, não hesitam em pular na água, pois são exímios nadadores. No entanto, 
muitos perecem afogados, devido ao cansaço da marcha. Gaivotas, peixes 
carnívoros, raposas, lobos e corujas fartam-se com tanta comida. São predadores 
do lemingue a skua (Catharacta skua),	a	raposa	do	Ártico,	a	doninha	e	a	coruja.	Por	
isso, a variação cíclica da população de lemingues atinge em cheio as populações 
dos predadores. Quando a população dos lemingues reduz-se, os predadores 
partem para outras presas, como a ptármiga e os esquilos, ou emigram para o sul. 
3.2 BIOMA DE TAIGA - FLORESTA BOREAL DE CONÍFERAS 
Localizada	ao	sul	da	tundra,	entre	as	latitudes	de	45o	e	75o graus, a taiga 
forma um cinturão contínuo entre a América do Norte (Canadá e Alaska, uma 
estreita	faixa	no	extremo	oeste	americano	e	pequenas	manchas	no	norte	dos	EUA),	
o	norte	da	Europa	(norte	da	Escócia	e	Escandinávia),	atravessava	toda	a	Sibéria,	
e chega até o Japão. Na Sibéria, a taiga alcança a sua maior extensão norte-sul, 
estendendo-se	por	1.600	quilômetros	de	território.	O	bioma	de	taiga	no	Hemisfério	
Sul é pouco expressivo em território. Na latitude correspondente à localização 
da taiga predomina oceano. Aparece pontualmente no sul do Chile, no extremo 
sul-ocidental da Austrália, na Nova Zelândia e na Tasmânia - apresentam uma 
cobertura	semelhante	na	fisionomia,	mas	com	flora	muito	diferente.	
UNIDADE 3 | TERRITÓRIOS BIOGEOGRÁFICOS, BIOMAS E A AÇÃO DO HOMEM
194
A	floresta	tem	uma	fisionomia	característica	–	árvores,	muitas	vezes	com	
mais	de	40	metros	de	altura,	de	copa	com	forma	cônica	quando	jovem,	com	troncos	
retos,	galhos	curtos	e	folhas	pequenas,	estreitas,	em	forma	de	agulha	(acícula),	de	
onde	advém	o	nome	da	floresta	–	aciculifólia.
“A tundra e a taiga têm origem pós-glacial, quando o gelo começou a 
recuar,	há	cerca	de	10	mil	anos”	(WALTER,	1986,	p.	276).	A	taiga	ocupava,	então,	
pequenos refúgios, e, graças ao clima mais úmido do Holoceno, pôde, então, 
avançar para colonizar as terras atuais, paralelamente à tundra, ao norte.
A	floresta	boreal	 estende-se	nas	 áreas	dominadas	pelas	massas	polares	
continentais, frias, secas e estáveis – isto é, a região fonte do anticiclone continental. 
Além disso, é sempre invadida por massas árticas continentais, extremamente 
frias. As poucas chuvas concentram-se no verão, trazidas por ciclones móveis 
marítimos. 
As condições climáticas são extremas. O gradiente de temperatura entre 
verão	e	inverno	cresce	com	as	latitudes.	Por	exemplo,	na	cidade	de	Fort	Vermilion,	
Província	de	Alberta,	no	Canadá,	na	latidude	de	58o norte, a temperatura máxima 
absoluta	do	verão	é	de	14o C, a mínima absoluta no inverno, -27o C. São sete meses 
consecutivos	de	temperaturas	abaixo	de	zero.	“Em	Yakutsk,	na	Sibéria,	a	62o de 
latitude norte, a máxima absoluta é de 17o	C,	e	a	mínima,	-43o	C”	(STRAHLER;	
STRAHLER,	1996,	p.	214).
As	 precipitações	 não	 chegam,	 em	muitos	 casos,	 a	 300	mm	 anuais	 e	 se	
concentram	 sempre	 no	 verão.	 Em	 Fort	 Vermilion,	 o	 máximo	 se	 dá	 em	 julho,	
com	50	mm.	O	total	anual	é	de	310	mm.	No	verão,	o	sol	brilha	durante	16	horas	
consecutivas em julho, mas no inverno o sol só aparece por cinco horas diárias 
(janeiro)	(STRAHLER;	STRAHLER,	1996,	p.	214).
A maioria das coníferas é perenifólia. As copas são muito densas e o 
sub-bosque, por esta razão, é ralo. A umidade no interior da mata é elevada e o 
solo é recoberto por um denso tapete de musgos. A comunidade vegetal é pobre 
em espécies, predominando, em geral, uma ou duas espécies em vastas áreas. 
Entretanto, as populações são numerosas. Nos lugares mais bem drenados, mas 
ainda com alguma umidade, líquens e certas espécies de musgos são as espécies 
dominantes, e nos trechos onde o solo é mais úmido, arbustos baixos (Vaccinium 
spp, Empetrum	spp)	são	os	dominantes.	O	musgo	Sphagnum spp. aparece apenas 
nas baixadas muito encharcadas. 
A forma cônica das árvores impede que a neve se acumule nos galhos. 
Isso	evita	que	quebrem	com	seu	peso.	Se	houver	água	suficiente,	a	fotossíntese	
se faz sempre, exceto no inverno, quando a água congela. A forma acicular das 
folhas diminui a superfície de contato com o ar, o que reduz a evapotranspiração 
no	verão	e	na	primavera	preserva	a	água	nas	células.	(SIMMONS,	1982,	p.	130).
TÓPICO 1 | OS REINOS BIOGEOGRÁFICOS E OS BIOMAS
195
“A	variação	de	 latitude	tem	forte	 influência	da	composição	florística	da	
taiga”.	Furley	&	Newey	(1986,	p.	242)	dividem	a	floresta	em	três	zonas:	a	floresta	
da	tundra,	a	última	linha	de	árvores,	ao	norte;	a	subzona	de	bosques,	uma	zona	de	
transição,	ao	sul	da	floresta	da	tundra;	e	a	floresta	boreal.	Esta	última	designação	
engloba	toda	a	floresta	da	taiga.
A floresta da tundra é uma formação aberta de transição com árvores 
raquíticas, como lariços e abetos, lado a lado com arbustos, ervas e outras espécies 
da tundra. Na subzona de bosques, ao sul, a formação é mais densa, com um sub-
bosque muito denso. Aparecem abetos brancos (Picea glauca)	e	abetos	negros	(P. 
mariana).	
A	 taiga	 típica,	 a	 floresta	 boreal,	 é	 densamente	 povoada	 por	 coníferas	
de grande porte, bem desenvolvidas (abetos branco e negro e o bálsamo, Abies 
balsamea,	são	as	espécies	mais	comuns).	Pântanos	e	atoleiros	nas	depressões	são	
rodeados por formações de abeto negro. Os bálsamos e o abeto branco preferem 
solos bem drenados e férteis.
Na América do Norte, quatro gêneros de coníferas predominam: o abeto 
vermelho (Picea),	os	pinheiros	(Pinus),	o	abeto	(Abies)	e	o	lariço	(Larix),	este,	o	único	
gênero	com	espécies	caducifólias.	(WALTER,	1986,	p.	267).	Na	costa	do	Pacífico,	
Picea glauca	(abeto	vermelho)	é	a	espécie	dominante,	que	se	estende	numa	faixa	
contínua até a Terra Nova, no Atlântico. 
Na Europa, a dominância está a cargo de apenas duas espécies, o abeto 
vermelho (P. abies)	e	o	pinheiro	bravo	(Pinus sylvestris).	Na	Sibéria,	a	flora	é	mais	
rica: os abetos Picea obovata, Abies sibirica, o lariço Larix sibirica e o pinheiro Pinus 
sibirica. Nas áreas de clima seco da Sibéria Oriental, em terrenos acidentados, 
longe	 da	 influência	 do	 Pacífico,	 a	 grande	 floresta	 de	 lariço	 dahuriano	 (Larix 
dahurica)	recobria	mais	de	2,5	milhões	de	quilômetros	quadrados	(WALTER,	1986,	
p.	266).	“Era	uma	formação	aberta,	com	um	sub-bosque	denso	de	arbustos,	ervas	
e	 briófitas”	 (FURLEY;	NEWEY,	 1986,	 p.	 243),	 “hoje	 é	 praticamente	 inexistente	
devido	ao	desmatamento.	A	ação	combinada	do	clima,	solo,	topografia,	ação	do	
fogo e a exploração humana são fatores atuais que interferem na distribuição e na 
variação	florísticas”	(FURLEY;	NEWEY,	1986,	p.	243)
Uma	das	características	da	floresta	boreal	é	a	competição	entre	as	plantas,	
que determina a sua distribuição espacial. As coníferas consomem com grande 
rapidez os nutrientes do solo, restando poucos elementos úteis para o sub-
bosque, que, por isto, é formado por plantas pouco exigentes e raquíticas. Mesmo 
coníferas	 jovens,	 sobretudo	os	pinheiros,	 têm	dificuldade	em	competir	 com	as	
plantas adultas: têm que aguardar a morte de uma árvore velha para que possam 
se	desenvolver	convenientemente,	livres	da	competição	(WALTER,	1986,	p.	268).	
A concentração de nutrientes é mais importante que a luminosidade para a 
composição	florística	do	estrato	herbáceo.	Outro	fator	importante	na	distribuição	
dasplantas	é	a	resistência	ao	frio,	que	chega	na	Sibéria	Oriental		a	-60º	C.	O	lariço	
(Larix),	que	perde	as	acículas	no	inverno,	é	uma	das	poucas	árvores	que	podem	
suportar temperaturas desta ordem.
UNIDADE 3 | TERRITÓRIOS BIOGEOGRÁFICOS, BIOMAS E A AÇÃO DO HOMEM
196
Também	a	 fauna	 tem	participação	 na	distribuição	da	floresta.	 Furley	 e	
Newey	(1986,	p.	245)	agrupam	os	animais	em	categorias	segundo	os	efeitos	que	
causam	na	cobertura:	dominantes,	maiores	 influentes	e	menores	 influentes.	Os	
dominantes agem sobre outros animais e plantas diretamente e, pois, controlam 
as	comunidades.	São	o	alce	(Alces	alces),	que	pisoteia	o	solo	e	muda	a	composição	
florística,	erradicando	muitas	espécies,	e	também	prejudicando	outros	animais.	
Entre	 os	 maiores	 influentes,	 agrupam-se	 os	 predadores	 de	 grande	 porte	
(os	 carnívoros)	 e	 mesmo	 o	 homem.	 Na	 última	 categoria	 estão	 os	 carnívoros	
invertebrados e os parasitas. 
Na costa ocidental da América do Norte, da Califórnia até o sul do 
Alaska, e também no sul da Austrália e no sul do Chile, aparece uma formação 
que	pertence	à	floresta	boreal,	mas	com	características	próprias,	a	floresta	úmida	
das costas ocidentais. Na costa ocidental da América do Norte, a formação 
inclui	a	floresta	de	sequoias,	coníferas	sempre	verdes,	que	podem	alcançar	mais	
de	100	metros	de	altura	e	estão	entre	as	espécies	mais	longevas	conhecidas	–	a	
idade das árvores ultrapassa, muitas vezes, os dois mil anos. Localizam-se onde 
predomina o clima oceânico das costas ocidentais. As chuvas são distribuídas 
no decorrer do ano graças à ação conjunta de tempestades ciclônicas e do efeito 
orográfico	produzido	pela	proximidade	das	Montanhas	Rochosas.	No	entanto,	
o máximo de chuvas se dá no inverno. No verão, o anticiclone subtropical do 
Pacífico	invade	a	região,	fazendo	reduzirem	as	chuvas,	porque	desvia	as	massas	
polares e a frente polar para leste e sudeste. No inverno, as massas polares são 
desviadas para leste pelo efeito de Coriolis, impedindo que as temperaturas 
desçam	a	valores	negativos	na	floresta	e	permanecem	entre	1º	e	2º	C	positivos	
em	 janeiro	(STRAHLER;	STRAHLER,	1996,	p.	291).	No	entanto,	a	 incidência	
das frentes polares aumenta com o recuo do anticiclone para o oceano durante 
os	meses	frios.	No	verão,	em	julho,	a	temperatura	não	ultrapassa	os	17º	C.
FONTE: Strahler e Strahler (1996, p. 291)
O	podzol	é	o	solo	predominante.	É	um	solo	ácido	e	muito	lixiviado.	Há	
pouca atividade bacteriana, o que resulta numa espessa camada de húmus, que 
comporta razoáveis concentrações de cálcio, sódio e potássio. O teor de nutrientes, 
as	chuvas	abundantes,	o	inverno	suave,	são	fatores	primordiais	para	a	floresta,	
que, então, abriga as maiores árvores do mundo.
“A sequoia vermelha (Sequoia sempervirens),	 a	 sequoia	 gigante	 (S. 
giganteum)	e	o	abeto	de	Douglas	(Psudotsuga taxifolia)	são	as	espécies	dominantes”	
(STRAHLER,	1986,	p.	379).	A	sequoia	vermelha	e	a	gigante	podem	ultrapassar	
100	metros	de	altura	e	20	metros	de	perímetro	de	tronco.	
O bioma de taiga no Hemisfério Sul não apresenta a mesma expressividade 
territorial	 e	 de	 diversidade.	 O	 Chile	 é	 influenciado	 predominantemente	 pela	
presença	do	Oceano	Pacífico,	de	águas	frias,	devido	à	corrente	de	Humboldt,	o	
que empurra as temperaturas para baixo. No sul do Chile a dominância é de 
espécies do gênero Nothofagus. Este gênero pertence à família Fagaceae,	com	600	
espécies	 distribuídas	 em	 seis	 gêneros	 (JOLY,	 1991,	 p.	 228).	 “São	 árvores,	 em	
TÓPICO 1 | OS REINOS BIOGEOGRÁFICOS E OS BIOMAS
197
geral, caducifólias, como N. obliqua,	que	forma	extensas	florestas”.	(WALTHER,	
1986,	 p.	 174).	 Mais	 para	 o	 sul,	 o	 clima	 torna-se	 superúmido,	 com	 as	 chuvas	
atingindo	índices	entre	2.000-3.000	mm	anuais,	e	a	floresta	perenefólia	é	formada	
por N. dombeyia, com os gêneros de coníferas Austrocedrus e Podocarpus e a 
espécie Araucaria araucana.	No	extremo	sul	aparecem	florestas	de	menor	porte,	
denominadas localmente de florestas de Magalhães,	com	uma	flora	empobrecida	
pelas	baixas	temperaturas	e	árvores	de	porte	reduzido,	com	6-8	metros	de	altura.	
Aparecem também pântanos bem desenvolvidos.
A vida animal na taiga é muito semelhante à da tundra. A fauna é mais 
diversificada,	 porque	 o	 período	 de	 frio	 é	 menor.	 Entretanto,	 muitas	 espécies	
emigram no inverno. No Hemisfério Norte, muitos mamíferos hibernam, como 
os ursos. Outros, como os veados e os alces, não hibernam, mas desenvolveram 
pêlos longos contra o frio, a neve e a chuva. Mussaranhos e ratos silvestres vivem 
sob a neve, que os mantém aquecidos e alimentados com uma boa provisão de 
comida estocada durante os meses quentes. Os ursos preparam-se para o inverno 
alimentando-se	 fartamente	 de	 frutas,	 peixes	 e	 pequenos	mamíferos.	 Veados	 e	
alces, que não hibernam, alimentam-se, no inverno, de líquens, musgos e cascas 
de árvores e de arbustos.
Pica-paus, chapim, quebra-nozes, corujas, gaviões e a tetraz são as únicas 
aves	residentes	fixas,	inclusive	no	inverno	holártico.	Alimentam-se	das	agulhas	
das coníferas (o galo silvestre europeu, na família da tetraz, e o pardal do pinheiro, 
um	tentilhão),	líquens	e	musgos,	que	atraem	insetos,	caramujos,	estes,	dieta	dos	
pássaros pequenos. Na primavera, uma vasta população de insetos é alimento 
de pássaros, que estão chegando das regiões mais quentes e têm, pois, comida 
farta. São vespas, abelhas, mosquitos, que passam o inverno na forma de pupas, 
encerrados no solo ou nas árvores, onde são procurados pelos pica-paus.
Na primavera, insetos e vertebrados, que sugam a seiva das árvores, 
animais pastadores e os que comem folhas e raízes prejudicam intensamente a 
floresta.	Apenas	na	estação	seguinte	as	plantas	se	recompõem.	Esse	excesso	de	
atividade	dos	herbívoros	traz	problemas	para	as	plantas.	Furley	e	Newey	(1986)	
enumeram: redução da fotossíntese, com diminuição consequente da produção 
de carboidratos e do transporte da seiva, e menor potencial reprodutivo devido 
ao	consumo	de	frutos	e	flores.
O	alce	tem	participação	intensa	na	modificação	da	paisagem:	o	pisoteio	
compacta	o	solo	e	dificulta	o	crescimento	da	vegetação	herbácea,	e	a	intensidade	
com que consome as plantas pode reduzir algumas populações. “No verão, 
alimenta-se de plantas aquáticas e, no inverno, quando os lagos congelam, procura 
ramos	de	bétulas,	salgueiros	e	faias”	(FURLEY	&	NEWEY,	1986,	p.	246).	Outro	
herbívoro que altera a paisagem é o caribu, que se alimenta em todos os estágios 
de desenvolvimento da sucessão vegetal. Os caribus estendem o seu hábitat até 
a tundra. No estágio pioneiro, os líquens são a sua dieta predileta. No inverno, 
manadas de milhares de caribus deslocam-se para o sul e invadem a taiga. Os 
UNIDADE 3 | TERRITÓRIOS BIOGEOGRÁFICOS, BIOMAS E A AÇÃO DO HOMEM
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galhos de abetos e lariços recobertos de líquens são arrancados e, com a língua, 
eles	retiram	os	líquens.	Em	poucos	dias,	a	paisagem	da	taiga	fica	profundamente	
modificada,	com	árvores	mutiladas.
Para os carnívoros, não falta comida. O lobo (Canis lupus)	 caça	animais	
grandes, como o alce e o boi almiscarado. O lince (Lynx	spp),	a	doninha	(Mustela 
nivalis)	e	a	marta	(Martes martes)	atacam	pequenos	mamíferos	e	aves.
A madeira é explorada desde o século XIX, principalmente para a produção 
de	 papel.	 Por	 isto,	 a	 floresta	 boreal	 está	 bastante	 reduzida,	 retringindo-se	 a	
pequenas manchas. Raios causam incêndios no verão, quando a vegetação está 
muito ressecada. “As clareiras abertas são logo colonizadas por ervas, arbustos, 
que são alimento de arganazes, veados e aves, e, principalmente, pinheiros (Pinus 
spp),	 que	 são	 plantas	 invasoras	 de	 rápido	 crescimento”	 (WALTER,	 1986,	 p.	
264).	Nas	zonas	de	transição	da	floresta	boreal	com	a	floresta	decídua	ao	sul,	os	
pinheiros, no processo de regeneração da mata, podem ser substituídos por plantas 
decíduas,	que	acabam	por	constituir	florestas	decíduas	puras.	Monoculturas	de	
abeto-vermelho (Picea abies),	decíduas,	têm

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