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Objetivos 1. Diferenciar os tipos de câncer de pulmão (adenocarcinoma, células escamosas ou epidermoide, células grandes, pequenas células), caracterizando cada tipo quanto à epidemiologia, fatores de risco, características clínicas, morfológicas e prognóstico. 2) Descrever a fisiopatologia do câncer de pulmão (geral), relacionando às manifestações clínicas. 3) Caracterizar o estadiamento para câncer de pulmão (TNM e a extensão tumoral adequada para carcinoma pulmonar de pequenas células). 4) Identificar as políticas públicas de prevenção ao câncer de pulmão. 5) Descrever como os fatores psicológicos (estresse, depressão) interferem na progressão de neoplasias (abordar ambos aspectos – positivos e negativos). 6) Caracterizar cuidados paliativos (enfoque câncer), identificando seus princípios. 7) Identificar o papel da equipe interprofissional para acompanhamento e apoio de pacientes com câncer e seus familiares, quando há indicação de cuidados paliativos. 1. Tipos de câncer de pulmão – epidemiologia, fatores de risco, características clínicas, morfológicas e prognóstico. REFERÊNCIA: Manual de Oncologia – HARRISON. CÂNCER DE PULMÃO DE CÉLULAS NÃO PEQUENAS Epidemiologia: O câncer de pulmão é a principal causa de morte relacionada com câncer nos EUA, com estimativa de 160 mil óbitos anuais. Embora as mortes por câncer de pulmão venham declinando entre indivíduos do sexo masculino desde o início da década de 1990, a taxa de mortalidade por câncer de pulmão entre as mulheres apenas recentemente começou a declinar, provavelmente, como reflexo de diferenças entre os sexos nos padrões de tabagismo e cessação do hábito de fumar ao longo dos últimos 50 anos. O tabagismo é o maior fator de risco modificável para o desenvolvimento de câncer de pulmão, sendo responsável por 85 a 90% dos casos. Além disso, os fumantes têm risco 20 vezes maior de morrer de câncer de pulmão comparados aos não fumantes. Mesmo assim, há outros fatores de risco que incluem exposição ao asbesto, radiação ionizante e exposição a agentes químicos e minerais carcinogênicos. Há pesquisas em andamento sobre fatores de risco dietéticos e genéticos. O câncer de pulmão tradicionalmente é dividido em duas categorias principais: câncer de pulmão de células pequenas e câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP). Os CPCNPs respondem por aproximadamente 85% dos casos de câncer de pulmão. O CPCNP ainda pode ser classificado em função de características histológicas, incluindo adenocarcinoma, carcinoma epidermoide (SqCC) e carcinoma de células grandes. Historicamente, o SqCC era o tipo mais frequente de CPCNP; contudo, o adenocarcinoma tornou-se duas vezes mais comum que o SqCC nos últimos 40 anos, talvez refletindo alterações na composição dos cigarros ao longo desse período. Recentemente, a classificação de adenocarcinoma de pulmão foi revisada para que se tivessem terminologia e critérios diagnósticos mais uniformes entre os diversos profissionais de saúde. Observe-se que, nessa classificação revisada, foi eliminada a categoria carcinoma bronquioloalveolar (CBA). REFERÊNCIA: CECIL FATORES DE RISCO Tabaco Estima-se que o tabagismo seja responsável por, aproximadamente, 85% a 90% de todos os casos de câncer de pulmão, sendo 90% de casos em homens e 80%, cm mulheres. Já foram identificados mais de 40 carcinógenos no cigarro. O risco de desenvolvimento de câncer de pulmão está correlacionado ao número de cigarros fumados ao dia, duração do hábito no tempo de vida, idade de início do tabagismo, grau de inalação, conteúdo de alcatrão e nicotina nos cigarros e uso de cigarros sem filtro. Se uma pessoa que nunca fumou na vida tem uma taxa de risco relativo para o desenvolvimento de câncer de pulmão de 1, os fumantes que fumam menos de 1/2 pacote de cigarros/dia, ½ a um pacote/dia, um a dois pacotes/dia e mais que dois pacotes/dia têm uma taxa de risco de 15, 17, 42 e 64, respectivamente. A taxa de risco para ex-fumantes é dependente da duração de abstinência do hábito de fumar; para se alcançar uma taxa de risco de 1,5 a 2,0, é preciso uma abstinência de aproximadamente 30 anos. Fumar cachimbo e charuto também constitui fatores de risco para câncer de pulmão, mas acredita-se que este risco seja menor que aquele associado ao cigarro, possivelmente porque esses produtos do tabaco tenham a tendência a serem inalados menos profundamente que o cigarro. Fumar maconha e cocaína provavelmente causa um risco aumentado para câncer pulmonar, mas a carcinogenicidade das duas drogas é menos bem estudada que a do cigarro. Fumaça de Cigarro no Ambiente A exposição à fumaça de cigarro no ambiente (i. e., fumo passivo) por não fumantes, especialmente no local de trabalho, aumenta o risco de desenvolvimento de câncer de pulmão. A exposição a níveis de fumaça de cigarro no ambiente depende do tamanho do espaço fechado e da intensidade da fumaça de cigarro. Outras Exposições A Agência Internacional para Pesquisa de Câncer classificou como grupo l os carcinógenos conhecidos para câncer pulmonar a seguir: radônio, asbestos, arsênico, berílio, bis(clorometil)éter, cádmio, cromo, níquel, cloreto de vinil e hidrocarbonetos aromáticos polinucleares (HPA). Os prováveis carcinógenos do grupo 2A incluem acrilonitrilo, formaldeído e produtos da exaustão do diesel. O grupo 2B reúne os possíveis carcinógenos acetaldeído, sílica e fumaça de solda. Estima-se que 9% dos cânceres de pulmão nos homens e 2% nas mulheres sejam causados por exposição ocupacional. Radônio, um produto gasoso da decomposição do urânio-238 e do rádio-226, causa danos aos tecidos pulmonares pela emissão de partículas alfa. A exploração subterrânea de urânio expõe os mineiros ao radônio e a seus subprodutos aumentando, portanto, o risco de câncer pulmonar nesses indivíduos. O radônio pode ocorrer em casas, especialmente nos porões, devido à sua presença no solo rochoso e na água do terreno e penetra nas casas por defeitos nos canos ou nas fundações. O nível de radônio dentro da casa depende de sua concentração no solo e da proporção de ventilação. Os dados acerca do risco de câncer pulmonar devido a exposição doméstica de radônio são conflitantes, mas é consenso que o risco é aumentado nessas condições. A exposição a fibras de asbesto ocorre em lojas de automóveis, estaleiros, minas, fábricas têxteis e de cimento e em trabalhadores de construção e de isolamento. Os trabalhadores com asbestose, não apenas expostos ao amianto, têm um risco aumentado para câncer pulmonar. Os fumantes expostos ao amianto têm esse mesmo risco aumentado 50 vezes, em relação aos não fumantes que não sofreram exposição. O período de latência para o desenvolvimento de câncer de pulmão em trabalhadores expostos ao amianto é de 25 a 40 anos. Arsênico, um metal de ocorrência natural, é um produto derivado do cobre, do chumbo, do zinco e da volatização do minério estanho. O metal também está presente nos pesticidas agrícolas e nos organismos marinhos. A exposição ao arsênico ocorre pelo ar, solo, água e alimentos. Os fumantes expostos ao arsênico apresentam um maior risco para o desenvolvimento de câncer de pulmão que aqueles que não são expostos. O berílio é um metal usado para ligas metálicas. A exposição ocorre em minas e na produção de cerâmica e de equipamentos eletrônicos. O metal é um carcinógeno pulmonar. O bis(clorometil)éter é um produto do processo de clorometilação, usado na produção de resinas de troca iônica, polímeros e plásticos. O risco relativo para câncer de pulmão para trabalhadores expostos é 10, especialmente para CPCP. Cádmio é um metal utilizado em metais eletrorrevestidos, baterias, plásticos e pigmentos. Estudos mostraram que a exposição ao cádmio leva a um risco aumentado para câncer de pulmão. Cromo é geralmente usado para ligas metálicas, pigmentos de tinta, eletrorrevestidos, cimento, borracha, fotogravura e compostosde cobertura de assoalhos. A exposição ao cromo aumenta o risco para câncer pulmonar duas a três vezes. O níquel é usado em eletrorrevestidos, produção de aço e outras ligas, cerâmicas, baterias de armazenagem, circuitos elétricos e refino de petróleo. A exposição ao níquel aumenta 1,56 vezes o risco para câncer de pulmão. O cloreto de vinil é utilizado para fazer plásticos (p. a., encanamento de cloreto de polivinil), materiais de embalagens, propulsor em produtos cosméticos e ladrilhos de piso vinílico. Apesar do risco para desenvolvimento de câncer de pulmão estar aumentado após a exposição ao cloreto de vinil, este risco é considerado pequeno. HPAs são formados da combustão incompleta de material orgânico. A exposição aos HPAs acontece pelo consumo de cigarro, pela volatização do minério estanho, pela produção de alumínio, ferro, aço e coca; alcatrão de hulha e produtos da exaustão do diesel. HPAs carregam um risco relativo para câncer de pulmão de 1,5 a 2,5. Doença Pulmonar Preexistente O tabagismo produz inflamação crônica e destruição do tecido pulmonar, resultando em doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Pacientes com DPOC têm o risco para desenvolvimento de câncer pulmonar aumentado, aproximadamente, quatro vezes. Além disso, pacientes que desenvolvem fibrose pulmonar idiopática ou fibrose pulmonar causada por asbestose ou sílica apresentam risco aumentado para câncer de pulmão. Fatores Dietéticos O consumo aumentado de frutas e vegetais verdes e amarelos está associado a um risco reduzido de desenvolver câncer de pulmão, ao passo que baixas concentrações séricas de vitaminas antioxidantes, tais como as vitaminas A e E, estão associadas ao desenvolvimento de câncer de pulmão. Entretanto, a suplementação de betacaroteno aumenta a incidência de câncer de pulmão. O consumo aumentado de gordura na dieta também é associado a uma maior incidência de câncer de pulmão. Altas concentrações sanguíneas de selênio, um mineral envolvido na proteção das membranas celulares, têm sido associadas a um menor risco de desenvolver câncer de pulmão. Diferenças de Gênero e Raciais Mulheres que fumam têm uma taxa de risco l,2 a l,7 vezes maior que homens na mesma situação, especialmente em se tratando de adenocarcinoma e CPCP. Explicações possíveis para esta diferença no risco para câncer de pulmão incluem (1) efeitos de hormônios, tais como o estrógeno, no desenvolvimento do câncer de pulmão, (2) diferenças de gênero no metabolismo da nicotina e (3) variações de gênero nas enzimas do citocromo P-450, envolvidas na bioativação de componentes tóxicos do cigarro condensado. A alta incidência e a alta mortalidade por câncer de pulmão em homens afro-americanos podem se dever, em parte, a (1) uso aumentado de tabaco, (2) diferenças no metabolismo do tabaco e (3) maior consumo de gordura na dieta. Infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana Alguns estudos sugerem que o risco para câncer de pulmão está aumentado em pacientes infectados pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), principalmente como resultado de uso de cigarro. A maioria dos pacientes é constituída por homens (10:1) e jovens, refletindo, em parte, a demografia da infecção por HIV. Hereditariedade Parentes cm primeiro grau de pacientes com câncer de pulmão têm risco de desenvolvimento de câncer pulmonar duas a seis vezes maior, após ajuste de risco para o uso de cigarro. Parentes em segundo grau desses pacientes têm risco relativo para câncer de pulmão de 1,28, e parentes em terceiro grau têm um risco relativo de 1,14. Não fumantes com história familiar de câncer de pulmão têm um risco duas a quatro vezes aumentado para este tipo de câncer. O risco familiar pode ocorrer devido à exposição compartilhada, como a fumaça de cigarro no ambiente, ou em função do compartilhamento genético da suscetibilidade a carcinógenos ambientais. REFERÊNCIA: PATOLOGIA GERAL – BOGLIOLO ETIOPATOGENIA Assim como ocorre com muitas outras neoplasias, a gênese do câncer pulmonar resulta da interação de fatores ambientais com alterações genômicas múltiplas. De longe, o fumo, sobretudo em associação com outras substâncias, como asbestos, radônio e radicais livres, é responsável por cerca de 90% dos casos de câncer do pulmão em homens e 70% em mulheres. O risco de um indivíduo fumante desenvolver câncer pulmonar depende de vários fatores, como carga tabágica, tipo de cigarro e forma de inalar. Em cada inalação, o indivíduo entra em contato com mais de 4.000 substâncias químicas, muitas delas carcinogênicas, sobretudo hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, nitrosaminas, aminas aromáticas, aldeídos, compostos orgânicos (benzeno, cloreto de vinil) e inorgânicos (arsênico, cromo, radônio, chumbo e polônio). Os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos e as nitrosaminas são os carcinógenos mais potentes contidos na fumaça do cigarro. Os primeiros associam-se mais ao carcinoma de células escamosas, provavelmente pelo tamanho da partícula facilitar sua deposição em brônquios proximais, enquanto as nitrosaminas se depositam preferencialmente em bronquíolos terminais, favorecendo o aparecimento de adenocarcinomas. Além de dados clínicos e epidemiológicos, outra evidência do papel do fumo na carcinogênese pulmonar é o fato de que indivíduos fumantes muitas vezes apresentam alterações celulares que antecedem o surgimento do tumor invasivo, como metaplasia escamosa, displasias e carcinoma in situ. Cerca de 20% dos fumantes desenvolvem câncer pulmonar. Estima-se que 15% dos cânceres do pulmão em indivíduos não fumantes resultem de fumo passivo. Outros estudos, porém, acreditam que parte desses casos em “fumantes passivos” esteja associada a fatores do meio ambiente, como agentes ocupacionais ou inalação de gás radônio proveniente do solo que penetra no ambiente domiciliar por ser um gás nobre derivado do urânio 238. Fumantes e não fumantes apresentam variações na apresentação dos tipos histológicos. Carcinoma de células escamosas e carcinoma de pequenas células, por exemplo, têm alta associação com o tabagismo. Parece que as mulheres são mais suscetíveis do que homens aos efeitos carcinogênicos do fumo. Além do tabagismo, que é a principal causa de câncer do pulmão, poluição atmosférica (indoor e outdoor), que contém inúmeras substâncias carcinogênicas, como arsênico, cobre, cádmio e ácido sulfúrico, além de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos derivados da queima de fósseis, parece ser responsável por 2% das neoplasias pulmonares malignas. A observação relativamente recente de associação entre doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e câncer pulmonar em não fumantes sugere uma possível relação entre DPOC e neoplasias do pulmão independente do tabagismo, provavelmente por meio de inflamação crônica na gênese dos tumores. Muitos estudos associam anormalidades em oncogenes e genes supressores de tumor com o aparecimento do câncer pulmonar. O oncogene RAS tem grande interesse. Em fumantes, transversões de guanina para timina são atribuídas a carcinógenos contidos no tabaco, como o benzopireno; tais mudanças são suficientes para transformar o proto-oncogene em oncogene RAS. O oncogene RAS causa transformação celular, é um dos principais oncogenes em tumores humanos e está associado a numerosas neoplasias malignas. Outros oncogenes envolvidos no aparecimento do carcinoma pulmonar são o MYC e o HER-2/NEU. O gene supressor de tumor mais comum em cânceres humanos é o TP53, cuja expressão anormal, por mutação ou deleção, favorece a proliferação celular descontrolada por falha em bloquear a divisão celular e reparar danos no DNA. Mutações no gene TP53 são também causadas pelo benzopireno, que provoca transversões do tipo G:C para T:A. Indivíduos com história familial têm risco 2,5 vezes maior do que a população geral. Estudos de suscetibilidade genética em certos grupos relacionam polimorfismosgênicos com o desenvolvimento do câncer pulmonar. Genes cujos produtos são responsáveis pelo metabolismo de xenobióticos podem sofrer modificações, como é o caso da família do citocromo P-450; o gene CYP1A1, cujo produto ativa hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (p. ex., benzopireno), pode favorecer o aparecimento da neoplasia; indivíduos com certos alelos desse gene são mais suscetíveis a desenvolver câncer pulmonar. O carcinoma epidermoide (carcinoma de células escamosas ou espinocelular) é o mais associado ao tabagismo, o menos heterogêneo do ponto de vista morfológico e mais comum em homens. O tumor tem localização usualmente central, isto é, tende a aparecer nos grandes brônquios. Seu crescimento é mais lento do que os demais; suas metástases ocorrem nos linfonodos regionais; disseminação hematogênica é tardia. Macroscopicamente, o carcinoma epidermoide apresenta-se como lesão que varia desde pequena tumoração endobrônquica obstrutiva até grandes massas que sofrem cavitação e hemorragia, por causa de necrose frequente. Alguns tumores mostram-se firmes e esbranquiçados devido a reação desmoplásica. A neoplasia tende a invadir a parede brônquica e o parênquima pulmonar adjacente. O tumor é facilmente visível à endoscopia e pode ser diagnosticado por exames citológicos mais comumente do que as demais neoplasias pulmonares. Histologicamente, o tumor é formado por células epiteliais contendo pontes intercelulares e ceratinização individual ou sob a forma de pérolas córneas. Outro sinal de diferenciação escamosa é a presença de ninhos sólidos de células tumorais com núcleo hipercromático e escasso citoplasma na periferia e células poligonais com citoplasma amplo e eosinofílico no centro. As células possuem núcleos com cromatina grosseiramente granulosa e nucléolos inconspícuos ou irregulares, ao contrário do núcleo vesiculoso e nucléolo evidente dos adenocarcinomas. Muitas vezes, a mucosa adjacente exibe áreas de metaplasia escamosa, displasia ou carcinoma in situ, processos esses que fornecem evidências da natureza broncogênica da neoplasia. A lesão é usualmente envolvida por estroma, às vezes desmoplásico e infiltrado linfoplasmocitário variável. O tumor pode ser: (1) bem diferenciado, quando mostra características cito e histológicas das células escamosas, que incluem estratificação ordenada, pontes intercelulares evidentes e ceratinização com formação de pérolas córneas; (2) moderadamente diferenciado, se apresenta características intermediárias entre o bem e o pouco diferenciado; (3) pouco diferenciado, aquele em que a produção de ceratina e/ou a presença de pontes intercelulares são discerníveis com dificuldade ou as células são indiferenciadas. Na maioria dos casos, à imuno-histoquímica a neoplasia é positiva para p63 e negativa para TTF-1 (thyroid transcription factor 1). O adenocarcinoma representa a neoplasia pulmonar mais prevalente, acomete preferencialmente mulheres e é o tipo cuja associação com o tabagismo é menos evidente. O tumor localiza-se predominantemente na periferia dos pulmões, envolve muitas vezes a pleura visceral e, em muitos casos, associa-se a lesões destrutivas e cicatrizes no parênquima pulmonar (fibrose, espaços aéreos não funcionantes etc.) ou a hiperplasia de pneumócitos, que são os locais de origem de focos adenomatosos. A maioria dos adenocarcinomas origina-se nas vias respiratórias periféricas, a partir de células claviformes – club-cell (células epiteliais colunares não ciliadas) ou de pneumócitos do tipo II. Macroscopicamente, trata-se de lesão com superfície de corte homogênea, sólida e de coloração marfim, às vezes com aspecto translúcido devido à produção de muco. O tumor é preferencialmente periférico e, quando central, provavelmente está associado ao tabagismo. Histologicamente, a neoplasia apresenta diferenciação glandular e produção de muco, podendo ser dividido nos padrões: (a) acinar; (b) papilífero; (c) carcinoma sólido com formação de muco; (d) lepídico (antigo bronquioloalveolar); (e) micropapilífero. Da mesma forma que o carcinoma de células escamosas, o adenocarcinoma pode ser dividido em bem, moderadamente e pouco diferenciado. O padrão predominante no exame histológico da peça cirúrgica deve ser mencionado, pois há diferença nas curvas de sobrevida entre os subtipos histológicos. Na maioria dos casos, à imuno-histoquímica o tumor é positivo para TTF-1 e negativo para p63. O carcinoma de grandes células é o tipo menos frequente de carcinoma broncopulmonar, correspondendo a aproximadamente 10% dos casos. O tumor é indiferenciado e tem comportamento altamente agressivo, evoluindo rapidamente para óbito. Aspectos morfológicos: A lesão é predominantemente periférica, subpleural, não se associa a segmento brônquico e caracteriza-se pela tendência a formar grandes massas com áreas de necrose e hemorragia. A OMS define o tumor como neoplasia maligna composta de grandes células contendo núcleos grandes e centrais, com forma que varia de oval a poligonal, nucléolo evidente, citoplasma abundante e membrana celular usualmente bem definida; a relação núcleo/citoplasma é a mais alta entre as neoplasias pulmonares. Ao microscópio de luz, não apresenta arranjo característico, isto é, não há sinais de diferenciação escamosa nem formação de estruturas glandulares. À microscopia eletrônica, no entanto, as células apresentam muitas vezes diferenciação escamosa ou glandular, podendo haver produção de muco. Tumores com crescimento sólido tendem a ser uniformes, formando ninhos de células separadas por escasso tecido conjuntivo; tumores com perda da estrutura são na maioria das vezes pleomórficos. O emprego da imuno-histoquímica (p63 para carcinoma espinocelular e TTF1 para adenocarcinoma) diminuiu a incidência desse tumor, pois seu diagnóstico só pode ser feito quando ambos os marcadores são negativos. CÂNCER DE PULMÃO DE PEQUENAS CÉLULAS Epidemiologia: O câncer de pulmão é a principal causa de mortalidade relacionada com câncer nos EUA, com mais de 172 mil novos casos e cerca de 163 mil mortes em 2005 e mais de 225 mil novos casos e 160 mil mortes em 2013. Aproximadamente 14% dos cânceres de pulmão diagnosticados entre 2005 e 2009 foram do tipo células pequenas (CPPC), com os demais classificados nos diversos tipos de câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP), como adenocarcinoma, epidermoide e células grandes, entre outros. A proporção entre novos cânceres de pulmão diagnosticados como CPPC tem declinado nas últimas décadas. As razões para isso não estão esclarecidas, mas o fato pode estar relacionado em parte com a mudança na composição dos cigarros e com os padrões de inalação. O CPPC, na grande maioria dos casos, está associado ao tabagismo. A duração do hábito e o número de cigarros fumados por dia estão diretamente relacionados com o risco de câncer de pulmão. Os pacientes que deixam de fumar reduzem seu risco de câncer de pulmão, mas não aos níveis daqueles que jamais fumaram. REFERÊNCIA: PATOLOGIA GERAL – BOGLIOLO ETIOPATOGENIA O carcinoma de pequenas células predomina na sexta ou sétima década da vida, é mais comum no gênero masculino e constitui cerca de 13% dos tumores malignos do pulmão. Assim como o carcinoma de células escamosas, o carcinoma de pequenas células também tem forte associação com o tabagismo. A neoplasia é altamente maligna e a que tem o pior prognóstico entre os tumores pulmonares. Ao diagnóstico, frequentemente já existem metástases linfonodais e na medula óssea. O tumor pode produzir e secretar ACTH, serotonina, hormônio antidiurético, calcitonina, estrógenos e hormônio de crescimento, resultando em diversas manifestações paraneoplásicas. O tumor é geralmente central e formado por células pequenas e uniformes, geralmente pouco maiores que um linfócito, com núcleo denso, redondo ou oval, cromatina difusa, nucléolo inconspícuo e citoplasma escasso. À microscopiaeletrônica, podem-se encontrar grânulos elétron-densos de neurossecreção em algumas células e desmossomos pouco desenvolvidos. As células tendem a ser separadas ou levemente coesas, com pequena quantidade de estroma, por vezes formando pseudorrosetas. Em tumores com necrose, grande quantidade de massas hematoxilínicas correspondentes a ácidos nucleicos são vistas na parede dos vasos. À imuno- histoquímica, na maioria dos casos as células são positivas para marcadores neuroendócrinos, como cromogranina, sinaptofisina, CD56 e marcadores epiteliais de origem pulmonar, como o TTF-1. REFERÊNCIA: CECIL MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Cerca de 15% dos pacientes nos quais o câncer de pulmão é diagnosticado são inicialmente assintomáticos. O diagnóstico, geralmente, é feito acidentalmente em uma radiografia torácica obtida por outras razões (p. ex., um exame pré-operatório). Entretanto, a maioria dos pacientes tem sintomas e sinais que são (1) causados pela lesão pulmonar propriamente dita – crescimento local do tumor, invasão ou obstrução-; (2) intratorácicos - disseminação regional do tumor para os linfonodos e estruturas adjacentes -; (3) extratorácica - disseminação distante da doença- e (4) síndromes paraneoplásicas. Sinais e sintomas inespecíficos de câncer de pulmão incluem anorexia em cerca de 30% dos pacientes, perda de peso, fadiga em um terço dos pacientes e anemia e febre em 10% a 20% dos pacientes. Mais de 80% dos pacientes têm, inicialmente, três ou mais sintomas ou sinais como resultado do câncer de pulmão. Lesão Pulmonar Os sintomas resultantes do câncer de pulmão primário dependem da localização e do tamanho do câncer. Tais sintomas podem ser secundários a crescimento endobrônquico ou a crescimento periférico do tumor primário. O sintoma mais comum, a tosse, ocorre em aproximadamente 45% dos casos, mas ela é inespecífica e também é comum em pacientes que fumam e têm DPOC. A hemoptise ocorre em mais de 30% dos pacientes, mas as acusas mais comuns de hemoptise são a bronquite e a bronquiectasia. A dispneia também acomete 30% a 50% dos pacientes. Sibilos são incomuns como um sintoma inicial de câncer de pulmão e pode significar uma importante obstrução aérea. Esta pode causar uma pneumonia pós-obstrutiva, que pode não ser inicialmente evidente nas radiografias torácicas e pode ser somente diagnosticada quando a pneumonia não responde à terapia padrão. As lesões podem ser cavitárias e podem estar associadas a um abscesso, quando do diagnóstico do câncer de pulmão. Os tumores de pulmão periféricos podem ser assintomáticos, mas são mais frequentemente associados a sintomas de tosse e dor, devido ao envolvimento da pleura e da parede torácica. A dor torácica, que ocorre em mais de 25% dos pacientes, pode ser não intensa por natureza, mas a dor torácica grave e persistente pode se dever ao envolvimento da parede torácica. Disseminação Intratorácica Os sintomas associados à disseminação intratorácica podem estar relacionados a extensão direta do tumor ou a metástases para linfonodos regionais. A disfagia pode ocorrer secundariamente à compressão esofágica. Embora as fístulas traquesofágicas ou broncoesofágicas sejam incomuns, tosse associada a deglutição ou desenvolvimento de pneumonite aspirativa devem apontar para esta possibilidade. Rouquidão, que está associada à paralisia do nervo laríngeo-recorrente, ocorre em menos que 20% dos casos; ela é mais comum com tumores de pulmão do lado esquerdo porque deste lado o nervo tem um curso intratorácico mais longo que do lado direito. A paralisia do nervo frênico com elevação hemidiafragmática está associada a dispneia e soluços. Tumores apicais, tais como o CPCNP do sulco superior (síndrome de Pancoast), podem causar síndrome de Horner, dor secundária à destruição das costelas, atrofia da musculatura da mão e dor na distribuição das raízes dos nervos C8, TI e T2, devido à invasão tumoral do plexo braquial. O bloqueio da veia cava superior (VCS), como resultado da compressão ou da invasão direta pelo tumor propriamente dito ou pelo alargamento dos linfonodos mediastinais, pode causar dispneia. Sinais de síndrome VCS incluem edema facial, pletora, edema das extremidades superiores, dilatação das veias cervicais e um padrão venoso proeminente na superfície anterior do tórax. O câncer de pulmão é responsável pela maioria dos casos de síndrome VCS, sendo em sua maior parte CPCP e localizados no lado direito. Outras manifestações de disseminação intratorácica incluem derrame pleural, causando dispneia; derrame pericárdico e extensão cardíaca do tumor causando insuficiência cardíaca, arritmia ou tamponamento, e disseminação linfática pelos pulmões, causando dispneia e hipoxemia. Disseminação Extratorácica Ao diagnóstico, 30% a 40% dos pacientes com CPCNP e, aproximadamente, 60% dos pacientes com CPCP têm disseminação hematogênica extratorácica de seu tumor. Metástase óssea ocorre cm 30% a 40% dos pacientes com câncer de pulmão e, geralmente, envolve vértebras, costelas e ossos pélvicos. A dor é um sintoma primário. Metástases hepáticas podem produzir dor no quadrante abdominal superior direito, bem como sintomas inespecíficos como fadiga e perda de peso. Metástases adrenais podem causar dor, mas mais frequentemente, não causam sintomas. Geralmente, apenas uma glândula está envolvida, mas metástases bilaterais podem ocorrer. Metástase cerebral, que ocorre em 25% a 50% dos CPCP e 25% dos adenocarcinomas de pulmão, podem não causar sintomas, mas são mais comumente associados a náusea, vômito, dores de cabeça, convulsões, confusão, alteração de personalidade e sinais e sintomas neurológicos focais dependendo do local da doença metastática. Metástase epidural, da medula espinal intramedular e envolvimento leptomeníngeo difuso são menos comuns que as metástases no cérebro e no cerebelo. Síndromes Paraneoplásicas As síndromes paraneoplásicas ocorrem em aproximadamente 10% a 20% dos pacientes com câncer de pulmão. As síndromes endócrinas incluem hipercalemia, a síndrome da secreção inapropriada do hormônio antidiurético e a secreção ectópica do hormônio adrenocorticotrófico. Outras síndromes paraneoplásicas endócrinas de menor significado clínico produzem hormônios, tais como a subunidade Beta da gonadotrofina coriônica humana, a prolactina, a gastrina, o hormônio do crescimento, o fator estimulador da tireoide, a substância insulina-símile e a calcitonina. As síndromes neurológicas são relativamente raras, são mais comumente associadas com CPCP e podem ter mecanismos autoimunes. Tais síndromes incluem a síndrome Eaton-Lambert, encefalopatia límbica, degeneração cerebelar, neuropatia sensorial subaguda, neuropatia autonômica e neurite óptica. As manifestações esqueléticas incluem baqueteamento digital e osteopatia pulmonar hipertrófica. As síndromes hematológicas/vasculares incluem estados de hipercoagulação, tromboflebite migratória (síndrome de Trosseau) e endocardite trombótica não bacteriana. As manifestações cutâneas incluem dermatofitose, acantose nigricans, eritema gyratum repens e hiperceratose das palmas e solas dos pés. REFERÊNCIA: Manual de Oncologia – Harrison. APRESENTAÇÃO CLÍNICA A maioria dos pacientes apresenta sintomas relacionados com o efeito de massa intratorácica ou com a disseminação ampla. Tosse, dispneia, perda de peso e fraqueza são os sintomas de apresentação mais comuns. Além disso, observam-se diversas síndromes paraneoplásicas relacionadas com o CPPC. A produção ectópica de hormônios é uma causa comum dos distúrbios endócrinos paraneoplásicos, incluindo hiponatremia (em razão de produção ectópica de hormônio antidiurético), síndrome de Cushing (produção ectópica de corticotrofina) e acromegalia (produção ectópica de hormônio liberador do hormônio do crescimento). As síndromes paraneoplásicas neurológicas, como a síndrome miastênica de Lambert-Eaton, são causadas por lesãodo sistema nervoso mediada por autoanticorpos. O tratamento do tumor subjacente ajuda a controlar essas síndromes paraneoplásicas; é possível que se tenha indicação de tratamento medicamentoso dos sintomas. REFERÊNCIA: Fisiopatologia – Porth MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS As manifestações clínicas do câncer de pulmão são divididas em três grupos: 1- Atribuídas ao envolvimento do pulmão e das estruturas adjacentes 2- Efeitos da disseminação local e das metástases 3- Manifestações paraneoplásicas não metastáticas envolvendo as funções endócrinas, neurológicas e dos tecidos conjuntivos. Como também ocorre com outros tipos de câncer, os cânceres causam sinais e sintomas inespecíficos como anorexia e emagrecimento. Como seus sintomas são semelhantes aos que estão associados ao tabagismo e à bronquite crônica, estas queixas geralmente não são levadas em consideração. Muitos pacientes que se apresentam com indícios de um câncer de pulmão já têm metástases. Os locais afetados mais comumente por essas metástases são encéfalo, ossos e fígado. Algumas manifestações clínicas dos cânceres de pulmão resultam da irritação local e da obstrução das vias respiratórias, assim como da invasão do mediastino e do espaço pleural. As primeiras queixas são tosse crônica, dispneia e sibilos causados por irritação e obstrução das vias respiratórias. Hemoptise (i. e., sangue no escarro) acontece quando a lesão provoca erosão dos vasos sanguíneos. Os receptores de dor do tórax estão limitados a pleura parietal, mediastino, grandes vasos sanguíneos e fibras vagais aferentes peribrônquicas. Dor retrosternal difusa, intermitente e mal localizada é comum com os tumores que invadem o mediastino. A dor torna-se persistente, localizada e mais grave quando a doença invade a pleura. Os tumores que invadem o mediastino podem causar rouquidão secundária ao envolvimento do nervo laríngeo recorrente e dificuldade de deglutir em consequência da compressão do esôfago. Uma complicação rara conhecida como síndrome da veia cava superior ocorre em alguns pacientes com invasão tumoral do mediastino. A interrupção do fluxo sanguíneo desse vaso geralmente é causada pela compressão pelo tumor ou linfonodos afetados. A síndrome pode interferir na drenagem venosa da cabeça, do pescoço e da parede torácica. O prognóstico é determinado pela velocidade com que a síndrome desenvolve-se e pela adequação da circulação colateral. Tumores adjacentes à pleura visceral geralmente causam derrames pleurais insidiosos. Esse derrame pode comprimir o pulmão e causar atelectasia e dispneia, mas tem menos tendência a causar febre, atrito pleural ou dor que os derrames pleurais resultantes de outras etiologias. MANIFESTAÇÕES MORFOLÓGICAS Os CPPC caracterizam-se por um tipo celular distintivo, isto é, células redondas ou ovais pequenas que têm dimensões semelhantes ao tamanho de um linfócito. As células proliferam em grupos, que não demonstram organização glandular ou escamosa. Exames de microscopia eletrônica revelam a existência de grânulos neurossecretórios em algumas células do tumor, que são semelhantes aos encontrados no epitélio brônquico do feto ou do recém-nascido. Esses grânulos sugerem a possibilidade de que alguns desses tumores secretem hormônios polipeptídicos. Marcadores neuroendócrinos, como enolase específica dos neurônios, peptídio semelhante ao paratormônio e outros produtos hormonais ativos, sugerem que esses tumores possam ter origem nas células neuroendócrinas do epitélio brônquico. Esse tipo de célula está diretamente associado ao tabagismo e raramente é observado nos indivíduos que nunca fumaram. Os CPCNP incluem carcinomas espinocelulares, adenocarcinomas e carcinomas de células grandes. Como também ocorre com os CPPC, esses cânceres podem sintetizar produtos bioativos e causar síndromes paraneoplásicas. Carcinoma espinocelular: É diagnosticado mais comumente nos homens e está relacionado com a história de tabagismo. Esse tipo de carcinoma tende a originar-se dos brônquios centrais na forma de uma proliferação intraluminar e, deste modo, pode ser diagnosticado mais precocemente por exame citológico do escarro que os outros tipos de câncer do pulmão. O carcinoma espinocelular busca disseminar-se centralmente aos brônquios primários e aos linfonodos hilares e, nos estágios mais avançados que com os outros cânceres broncogênicos, espalha-se para fora do tórax. O carcinoma espinocelular está associado às síndromes paraneoplásicas que causam hipercalcemia. Adenocarcinoma: Hoje em dia, adenocarcinoma é o tipo mais comum de câncer de pulmão nos EUA. A associação desse tipo de câncer ao tabagismo é menos evidente que a do carcinoma espinocelular. O adenocarcinoma de pulmão é mais comum nas mulheres e nos indivíduos que não fumam. Os adenocarcinomas podem originar-se dos tecidos bronquiolares ou alveolares do pulmão. Esses tumores tendem a se localizar mais perifericamente que os carcinomas espinocelulares e, em alguns casos, estão associados a áreas de retração fibrótica. Essas áreas podem ser ocasionadas por infartos antigos, corpos estranhos metálicos, feridas e infecções granulomatosas, inclusive tuberculose. Em geral, os adenocarcinomas têm prognóstico mais desfavorável que os carcinomas espinocelulares nos estágios correspondentes. Carcinoma de células grandes: Caracteriza-se por células poligonais volumosas. Esses tumores constituem um grupo de neoplasias altamente anaplásicas e difíceis de classificar como carcinomas espinocelulares ou adenocarcinomas. Os carcinomas de células grandes tendem a ocorrer na periferia dos pulmões e invadir brônquios segmentares e vias respiratórias mais calibrosas. Os tumores desse tipo têm prognóstico desfavorável, em razão de sua tendência a produzir focos metastásticos distantes em estágios iniciais de sua evolução. REFERÊNCIA: Manual de Oncologia – Harrison. PROGNÓSTICO O principal determinante para prognóstico de CPCNP é o estadiamento da doença. O estágio é definido por tamanho do tumor primário, envolvimento de linfonodos regionais e de metástases a distância por meio do sistema TNM do American Joint Committee on Cancer. Em 2009, foram feitas revisões significativas nesse sistema. Os CPPC são altamente malignos, tendem a causar infiltrados difusos, disseminam em estágios precoces de sua evolução e raramente são operáveis. Metástases cerebrais são especialmente comuns com os CPPC e estas podem ser as primeiras manifestações do tumor. Esse tipo de câncer pulmonar está associado a várias síndromes paraneoplásicas, inclusive síndrome de secreção inadequada de hormônio antidiurético (SSIADH), síndrome de Cushing associada à secreção ectópica de hormônio adrenocorticotrófico e síndrome de Eaton- Lambert (um distúrbio neuromuscular). Em geral, os adenocarcinomas têm prognóstico mais desfavorável que os carcinomas espinocelulares nos estágios correspondentes. É a causa mais comum de osteoartropatia hipertrófica paraneoplásica, e possui pior prognóstico que o escamoso, quando comparado no mesmo estágio. 2. Fisiopatologia Geral. REFERÊNCIA: CECIL FISIOPATOLOGIA DO CÂNCER DE PULMÃO O desenvolvimento de câncer de pulmão é o resultado de um processo em múltiplas etapas desde uma lesão pré-maligna até o câncer de fato, após vários anos. O cigarro e outros carcinógenos promovem alterações sequenciais genéticas e epigenéticas que resultam na perda do controle normal dos mecanismos de crescimento celular. Essas alterações afetam (1) os oncogenes, que são homólogos aos genes celulares normais e, quando mutados, resultam na ativação e ganho de função; (2) os genes supressores de tumor, que são genes "do câncer”; nos quais a perda de função por mutação remove a inibição do controle do crescimento celular e (3) os fatores de crescimento. Oncogenes Os oncogenes que desempenham um papel na patogênese do câncer de pulmão incluem o ras, a famíliamyc, HER-2/neu (c-erB) e o Bcl-2. A família ras de oncogenes tem três membros primários (H-ras, K-ras e N- ras), um dos quais, o K-ras, é ativado por mutações puntuais no códon 12 das células do câncer de pulmão. A mutação ocorre em 30% dos adenocarcinomas de pulmão, mais frequentemente nos pacientes com histórico de tabagismo, mas não é observada nos CPCP. Pacientes com mutação K-ras têm um prognóstico mais pobre, estágio por estágio. A amplificação e expressão aumentada dos oncogenes da família myc (ti-myc, L-myc, N-myc) são observadas em 10% a 40% dos CPCP e cm 10% dos CPCNP. O gene mais frequentemente alterado, contudo, é o c-myc, cuja amplificação nos tumores CPCP que recidivam está associada a menor sobrevida. Entretanto, a expressão aumentada do oncogene myc não está presente na maioria dos cânceres de pulmão, o que sugere que o aumento em sua expressão não é um evento primário. O gene HER-2/neu (c-crB-2), que codifica o receptor para o fator de crescimento ou pl85 neu (uma glicoproteína tirosina-quinase), está ativado nos CPCNP, mas não nos CPCP. A expressão aumentada de HER- 2/neu cm pacientes com adenocarcinoma de pulmão pressagia uma sobrevida curta. O Bcl-2, um oncogene que codifica a proteína que inibe a morte celular programada (apoptose), também tem sua expressão aumentada no câncer de pulmão, especialmente CPCP. Genes Supressores de Tumor Os genes supressores de tumor incluem p53, Rb, 3p. O gene supressor de tumor p53 codifica uma fosfoproteína nuclear que controla a divisão celular tanto em células normais quanto malignas. Se o DNA de uma célula normal for danificado, p53 causará a interrupção celular, seja na fase G1/S ou na fase G2/mitose, ou induza morte por apoptose. As células normais p53 mutantes perdem este ponto de verificação normal, o que faz com que o DNA danificado seja incorporado ao núcleo das células-filhas, produzindo transformação maligna. A mutação do p53 está correlacionada ao tabagismo e tem sido detectada em lesões pulmonares pré- neoplásicas. As mutações do p53 são comuns tanto no CPCNP (aprox. 50%) como no CPCP (aprox. 80%). O gene do retinoblastoma (Rb), localizado na região do cromossomo 13ql4, codifica uma fosfoproteína nuclear que regula o ponto de verificação da fase G1/S do ciclo celular pela ligação a ciclina D e a vários fatores de transcrição. Quando Rb não funciona, o ponto de verificação da fase G1/S fica descontrolado, o que leva a proliferação celular e a transformação maligna. No CPCP, Rb está frequentemente mutado ou deletado, logo a proteína Rb não é expressa cm 90% dos CPCP. No CPCNP, Rb é normalmente expressa, mas, quando Rb está fosforilada, a divisão celular descontrolada pode ocorrer no CPCNP. Uma das anormalidades mais precoces no câncer de pulmão ocorre com a deleção de material genético no braço curto do cromossomo 3(3p) (pl4-p23). A deleção acontece em aproximadamente 50% dos CPCNP e 90% dos CPCP. O gene FHIT (tríade da histidina frágil) (3pl4.2) está anormal em muitos cânceres de pulmão e pode funcionar como um gene supressor de tumor por suprimir o crescimento tumoral e induzir apoptose. Fatores de Crescimento Os fatores de crescimento secretados pelas células do câncer de pulmão podem refletir nas células adjacentes ou regionais (estimulação parácrina) ou produzirem proliferação autónoma das células que os secretaram (estimulação autócrina). As células que são afetadas por essa estimulação autócrina secretam um fator de crescimento biologicamente ativo. Os anticorpos que se ligam a este fator de crescimento inibirão o crescimento celular. Os fatores de crescimento (peptídeos) autócrinos que são importantes no crescimento das células do câncer de pulmão, particularmente CPCP, incluem o peptídeo liberador de gastrina (GRP), o fator de crescimento insulina-símile tipo 1 (IGF-1) e o fator de crescimento de hepatócito. O GRP ocorre em aproximadamente 20% a 60% dos CPCP e menos frequentemente nos CPCNP. O fator de crescimento de hepatócito é expresso, principalmente, nos CPCNP. O oncogene c-erB-1 codifica o receptor do fator de crescimento epidermal (EGFR), uma glicoproteína tirosina-quinase de 170 kDa. A ativação do EGFR inicia a autofosforilação do receptor e, eventualmente, induz a proliferação do ciclo celular. A expressão aumentada de EGFR acontece mais frequentemente nos CPCNP. Epigenética Epigenética se refere a uma alteração na expressão gênica que é herdada, mas não envolve alterações na sequência do DNA. Uma dessas modificações epigenéticas envolve as alterações na metilação do DNA. Essas alterações, que são muito comuns no câncer de pulmão, podem incluir hipometilação, desregulação da DNA- metiltransferase I e hipermetilação. Os genes que estão metilados no CPCNP incluem o p16, o RAR-beta, o RASSPIA, a metilguanina-metiltransferase e a proteína quinase associada a morte (DAP quinase). Essa hipermetilação pode silenciar os genes supressores de tumor, permitindo, então, que o crescimento celular fique desregulado. REFERÊNCIA: Manual de Oncologia – Harrison PATOLOGIA O CPPC é um tipo de câncer pulmonar neuroendócrino de alto grau. Os tumores neuroendócrinos pulmonares abrangem um espectro diverso que varia amplamente quanto ao prognóstico, desde carcinoides típicos de baixo grau e carcinoides atípicos de grau intermediário até os cânceres de alto grau, incluindo o câncer neuroendócrino de células grandes e o CPPC. CPPC e câncer neuroendócrino de células grandes têm comportamento e prognóstico semelhantes. Desde o ponto de vista patológico, o CPPC é definido como “proliferação de células pequenas (diâmetro quatro vezes < que o de linfócitos), com características morfológicas específicas e peculiares, citoplasma escasso, limites mal definidos, cromatina com granulações finas com aspecto de “sal e pimenta”, nucléolos ausentes ou imperceptíveis e núcleo amoldados e alta contagem de mitoses. A coloração imuno-histoquímica costuma ser positiva para marcadores de célula epitelial como queratina e antígeno de membrana epitelial. Além disso, marcadores neuroendócrinos, como cromogranina A e sinaptofisina, são positivos na maioria dos casos de CPPC. REFERÊNCIA: Fisiopatologia – Porth. SUBTIPOS HISTOLÓGICOS E PATOGÊNESE A maioria (cerca de 95%) dos tumores pulmonares primários é de carcinomas originados dos tecidos pulmonares. Os casos restantes (5%) constituem um grupo diverso que inclui tumores carcinoides brônquicos (tumores neuroendócrinos), tumores das glândulas brônquicas, fibrossarcomas e linfomas. O pulmão também é um órgão acometido frequentemente por metástases de cânceres originados em outras partes do corpo. Recentemente, os cânceres de pulmão têm sido classificados como tumores agressivos ou não agressivos, localmente invasivos e metastáticos amplamente disseminados que se originam do revestimento epitelial dos brônquios primários. Esses tumores começam como diminutas lesões da mucosa, que podem ter um dentre vários padrões de crescimento. As lesões podem formar massas intraluminares que invadem a mucosa brônquica e infiltram os tecidos conjuntivos peribrônquicos, ou podem produzir massas volumosas que se estendem aos tecidos pulmonares adjacentes. Alguns tumores volumosos sofrem necrose central e desenvolvem áreas localizadas de hemorragia, enquanto outros invadem a cavidade pleural e a parede torácica e espalham-se para as estruturas intratorácicas adjacentes. Todos os tipos de câncer do pulmão, especialmente o carcinoma pulmonar de pequenas células, têm condições de sintetizar produtos bioativos e causar síndromes paraneoplásicas. Essas síndromes são resultado da produção ectópica de peptídios hormonais pelo tumor ou da formação de autoanticorpos liberados em resposta ao tumor. Em geral, as síndromes paraneoplásicas têm etiologia endócrina, neurológica e/ou imune. O câncer de pulmão geralmente é subdividido em quatro grupos principais com taxas deincidência próprias em cada grupo. Isso inclui carcinoma pulmonar espinocelular (25 a 40%), adenocarcinomas (20 a 40%), carcinoma de pequenas células (20 a 25%) e carcinoma de células grandes (10 a 15%). Entretanto, técnicas diagnósticas modernas possibilitam que mais cânceres de pulmão sejam detectados em estágios mais precoces. Isso resultou em modificações das taxas de incidência dos principais tipos de câncer de pulmão. Por exemplo, em 2011, as estimativas indicavam que os adenocarcinomas fossem responsáveis por 35 a 50% de todos os casos de câncer do pulmão. Com as finalidades de estadiamento e tratamento, os cânceres pulmonares geralmente são subclassificados em CPPC e CPCNP. A razão principal dessa classificação era que a maioria dos CPPC já tinha metástases por ocasião do diagnóstico e, consequentemente, não podia ser tratada cirurgicamente. Entretanto, hoje em dia são utilizados protocolos novos em muitos centros oncológicos de grande porte, que utilizam biomarcadores do câncer pulmonar e novos tratamentos dirigidos a alvos moleculares para os diferentes tipos de câncer de pulmão. Na verdade, um novo sistema de classificação geral do carcinoma de células não pequenas tem sido usado com frequência decrescente e o carcinoma de células grandes tem sido substituído pelos carcinomas neuroendócrinos de células grandes. 3. Estadiamento. REFERÊNCIA: Manual de Oncologia – Harrison. Todos os pacientes com CPCNP devem ser submetidos à TC de tórax com contraste com extensão para fígado e glândulas suprarrenais, assim como tomografia por emissão de pósitrons (PET) de corpo inteiro para identificar metástases ocultas. Recomenda-se ainda a realização de ressonância magnética (RM) do cérebro. Na ausência de doença metastática, o estado linfonodal (N) é o determinante mais importante para o estadiamento global e, consequentemente, para o prognóstico. Assim, as decisões sobre a condução do caso frequentemente dependem do estadiamento N. O envolvimento linfonodal pode ser avaliado por meios clínicos, como TC e PET ou, de forma mais precisa, por exame patológico via biópsia. O exame de TC tem sensibilidade de 61% e especificidade de 79% para detecção de envolvimento de linfonodos do mediastino em pacientes com CPCNP, enquanto a PET tem sensibilidade um pouco superior (85%) e especificidade de 90%. De qualquer forma, na ausência de metástase evidente, a avaliação patológica dos linfonodos do mediastino via mediastinoscopia é um componente essencial do estadiamento de pacientes com CPCNP. Recentemente, foram propostas abordagens alternativas às amostras de linfonodos do mediastino, como ultrassonografia endobrônquica e ultrassonografia transesofágica. Feito o diagnóstico de CPPC, é importante realizar estadiamento preciso para planejar o tratamento. O CPPC é, tradicionalmente, classificado em doença limitada ou extensa, conforme descrição do Veteran’s Administration Lung Group. Define-se como em estágio limitado a doença que envolva um hemitórax ou a doença que possa ser enquadrada em um campo de irradiação tolerável; no sistema TNM, isso corresponderia a qualquer T, qualquer N e M0, excluindo T3-4, assim classificado em razão de múltiplos nódulos que não podem ser enquadrados em um campo de irradiação tolerável. Diz-se que a doença está em estágio extenso quando se estende além desses parâmetros. A maioria dos pacientes se apresenta com doença extensa. A rotina de estadiamento visa a estabelecer se o paciente tem doença metastática, uma vez que esse dado altera substancialmente, tanto o prognóstico quanto o tratamento. A rotina deve incluir TC do tórax com extensão ao abdome para avaliar fígado e suprarrenais, que são locais comuns de metástase. Deve-se obter imagem do cérebro, já que o sistema nervoso central (SNC) é um local frequente de disseminação. Tanto a ressonância magnética (RM) cerebral quanto a TC do crânio são comumente utilizadas, mas a RM é o exame preferencial, considerando sua maior sensibilidade na detecção de doença metastática. Há indicação de cintilografia óssea para investigar metástases ósseas. A tomografia computadorizada por emissão de pósitrons (PET) tem sido crescentemente usada para estadiamento, mas seu papel exato não foi claramente definido. Estadiamento anatômico – determina a ressecabilidade do tumor, isto é, o tumor pode ao não ser totalmente removido por uma cirurgia? Estadiamento fisiológico – determina a operabilidade do paciente, isto é, o paciente suporta ou não um procedimento cirúrgico? REFERÊNCIA: Fisiopatologia – Porth ESTADIAMENTO Como ocorre com outros cânceres, o câncer de pulmão é classificado de acordo com a extensão da doença. Em geral, os CPCNP são classificados de acordo com o tipo de célula (i. e., carcinoma de espinocelular, adenocarcinoma e carcinoma de células grandes) e estagiados com base no sistema internacional de estadiamento TNM. Os CPPC não são estagiados com base no sistema TNM, porque se supõe que existam micrometástases por ocasião do diagnóstico. Por sua vez, esses tumores são classificados, em geral, como doença limitada quando o tumor está confinado a um hemitórax, ou doença extensiva quando se disseminou além desses limites. As abordagens terapêuticas ao CPPC incluem ressecção cirúrgica, radioterapia e quimioterapia. Esses tratamentos podem ser realizados isoladamente ou em combinações. A ressecção cirúrgica é realizada para remover todos os CPPC pequenos e localizados. Isso pode exigir lobectomia, pneumectomia ou ressecção segmentar do pulmão. A radioterapia pode ser usada como tratamento definitivo ou principal, como parte de um esquema terapêutico combinado ou como medida paliativa dos sintomas. Em razão da frequência de metástases, a quimioterapia frequentemente é usada para tratar cânceres de pulmão. Em geral, utiliza-se poliquimioterapia com um esquema que inclua vários fármacos. Hoje em dia, há vários tratamentos dirigidos novos em fase de desenvolvimento com o objetivo de aumentar a sobrevivência e, por fim, alcançar a cura desse tipo de câncer. 4. Políticas públicas de prevenção ao câncer de pulmão. REFERÊNCIA: Ministério da Saúde -Secretaria de Atenção à Saúde PORTARIA Nº 957, DE 26 DE SETEMBRO DE 2014 - Aprova as Diretrizes Diagnósticas e Terapêuticas do Câncer de Pulmão. Art. 1º Ficam aprovadas, na forma do Anexo desta Portaria, as Diretrizes Diagnósticas e Terapêuticas – Carcinoma de Pulmão. § 1º As Diretrizes, objeto deste Artigo, que contêm o conceito geral do carcinoma de pulmão, critérios de diagnóstico, tratamento e mecanismos de regulação, controle e avaliação, são de caráter nacional e devem ser utilizadas pelas Secretarias de Saúde dos Estados e dos Municípios na regulação do acesso assistencial, autorização, registro e ressarcimento dos procedimentos correspondentes. § 2º É obrigatória a cientificação ao paciente, ou ao seu responsável legal, dos potenciais riscos e efeitos colaterais relacionados ao uso de procedimento ou medicamento preconizado para o tratamento do carcinoma de pulmão. § 3º Os gestores estaduais e municipais do SUS, conforme a sua competência e pactuações, deverão estruturar a rede assistencial, definir os serviços referenciais e estabelecer os fluxos para o atendimento dos indivíduos com a doença em todas as etapas descritas no Anexo desta Portaria. REFERÊNCIA: A prevenção do câncer e a promoção da saúde: um desafio para o Século XXI Em oncologia encontra-se o termo prevenção classificado em níveis primário e secundário. A prevenção primária situa-se no período anterior à doença, incluindo medidas inespecíficas de proteção de indivíduos contra riscos e danos. Refere-se a toda e qualquer ação voltada para redução da exposição da população a fatores de risco da doença, tendo como objetivoreduzir a sua ocorrência, por meio da promoção da saúde e proteção específica. Portanto, a prevenção primária divide-se nas ações de promoção e nas ações de proteção específicas contra fatores de riscos para o câncer, sendo que a promoção da saúde se relaciona às medidas inespecíficas da prevenção primária, como luta contra o tabagismo, orientações sobre dieta saudável e proteção solar e a proteção específica, refere-se às ações mais diretas, como a vacinação e o exame de Papanicolaou. O Instituto Nacional do Câncer considera como principais fatores de risco para o câncer: o tabagismo; o alcoolismo; os hábitos alimentares, principalmente em relação ao consumo de alimentos ricos em gordura, nitritos, alcatrão e aflatoxina; as radiações, sendo estas as ionizantes e as radiações ultravioletas natural, provenientes do sol; o uso de medicamentos, que podem ter efeito carcinogênico ou ainda supressores imunológicos; o uso de hormônios e fatores reprodutivos; o contato com os agentes infecciosos e parasitários; a exposição ocupacional, com exposição a agentes químicos, físicos ou biológicos e; a poluição do ambiente geral. A prevenção primária destaca-se como a melhor alternativa quando comparada ao diagnóstico ou mesmo ao tratamento do câncer. Visto que apesar de sermos incapazes de mudar nossa predisposição genética, podemos ter a possibilidade de intervenção para prevenir exposições e os fatores causais do câncer. A prevenção secundária é o rastreamento (screening) do câncer. Entende-se por rastreamento uma avaliação de indivíduos assintomáticos, para classificá-los como candidatos a exames mais refinados de avaliação, com o objetivo de descobrir um câncer oculto ou uma afecção pré-maligna que pode ser curada com tratamento. O rastreamento é a única estratégia potencialmente capaz de reduzir a mortalidade em dois grupos de câncer: aqueles encontrados com freqüência, para os quais o tratamento, se metastizados, não é curativo e aqueles cujas causas não são conhecidas e, portanto, a possibilidade de prevenção primária não existe. Ele está baseado na suposição de que o diagnóstico precoce do câncer resultará na sua descoberta antes que ocorram metástases fatais. O rastreamento é factível para diversos tipos de câncer incluindo o de mama, o da cérvice uterina, o de intestino grosso, o de estômago e o melanoma maligno. São exemplos de ações para detecção precoce a colpocitologia, a momografia e o auto-exame da boca. É indiscutível que a prevenção do câncer é uma prática possível. As práticas de prevenção, entretanto, não estão sendo aplicadas em sua plenitude. Estas dependem da vontade dos políticos, da sensibilização dos profissionais de saúde, e da motivação dos pacientes. Ainda hoje, muitas mulheres continuam morrendo por câncer de colo uterino por falta de detecção e diagnóstico precoce, ou seja, as medidas adotadas até o momento, não tiveram o impacto desejável. Sendo assim, quatro programas de prevenção e detecção precoce deveriam ser considerados prioritários à nossa realidade. A prevenção dos cânceres do colo uterino, de mama, de boca e de pele. Porém, estes programas continuam a enfrentar problemas para se desenvolver. REFERÊNCIA: Caderno de Rastreamento – Ministério da Saúde Como se pode se pode observar, atualmente a indicação para o rastreamento está restrita aos cânceres de mama, colo do útero e cólon e reto. Entretanto, praticamente todos entre os listados, exceto câncer de pulmão e esôfago, são passíveis de diagnóstico precoce mediante avaliação e encaminhamento oportunos após os primeiros sinais e sintomas. REFERÊNCIA: Programa Nacional de Controle do Tabagismo – INCA O Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA) é o órgão do Ministério da Saúde responsável pelo Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT) e pela articulação da rede de tratamento do tabagismo no SUS, em parceria com estados e municípios e Distrito Federal. A rede foi organizada, seguindo a lógica de descentralização do SUS para que houvesse o gerenciamento regional do Programa tendo como premissa a intersetorialidade e a integralidade das ações. Cabe lembrar que desde 1989, o INCA desenvolve ações voltadas para o tratamento do tabagismo. Atualmente, nos 26 estados da Federação e no Distrito Federal, as secretarias estaduais de saúde possuem coordenações do Programa de Controle do Tabagismo que, por sua vez, descentralizam as ações para seus respectivos municípios atuando de forma integrada. Assim, o tratamento de tabagismo no Brasil é desenvolvido com base nas diretrizes do PNCT que está sob a coordenação e gerenciamento da Divisão de Controle do Tabagismo e Outros Fatores de Risco (Ditab), do INCA. As ações educativas, legislativas e econômicas desenvolvidas no Brasil vêm gerando uma diminuição da aceitação social do tabagismo, fazendo com que um número cada vez maior de pessoas queira parar de fumar, evidenciando a importância de priorizar o tratamento do fumante como uma estratégia fundamental no controle do tabagismo. Cabe destacar ainda que desde 2002, o Ministério da Saúde vem publicando e atualizando portarias que incluem o tratamento do tabagismo na rede SUS – tanto na atenção básica quanto na média e alta complexidade. Tais portarias definem formas de abordagem e tratamento do tabagismo, aprovam o plano para implantação, protocolo clínico e diretrizes terapêuticas, determinam a disponibilização pelo Ministério da Saúde aos municípios com unidades de saúde que realizam o tratamento para o tabagismo, dos materiais de apoio e medicamentos utilizados para esse fim, formas de adesão ao tratamento do tabagismo pelos municípios, além de definir o financiamento dos procedimentos a serem utilizados. É importante destacar que ao ingressar no programa de tratamento do tabagismo as gestões das diferentes instâncias assumem o compromisso de organização e implantação das ações para o cuidado da pessoa tabagista. O tratamento inclui avaliação clínica, abordagem mínima ou intensiva, individual ou em grupo e, se necessário, terapia medicamentosa juntamente com a abordagem intensiva. O PCDT é um documento oficial do Sistema Único de Saúde (SUS) que estabelece os critérios para o diagnóstico do tabagismo, o tratamento, o uso de medicamentos e outros insumos apropriados, o acompanhamento e também trata dos resultados terapêuticos. Cabe lembrar que com a publicação da Portaria nº 571/GM/MS de 05 de abril de 2013, foram revogadas a Portaria nº 1.035/GM/MS de 31 de maio de 2004 e a Portaria nº 442/SAS/MS de 13 de agosto de 2004 e seus anexos, cujas orientações foram posteriormente revalidadas pela Portaria nº 761/SAS/MS de 21 de junho de 2016 até que fosse aprovado e publicado o novo Protocolo Clínico com as adequações metodológicas orientadas pela Conitec. Portanto, o atual PCDT substitui as orientações técnicas do tratamento do tabagismo constantes no Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas - Dependência à Nicotina - constantes do Anexo II da Portaria nº 442/SAS/MS de 13 de agosto de 2004. É importante salientar que as orientações do PNCT estão de acordo com as principais diretrizes internacionais relacionadas ao tratamento do tabagismo. Dessa forma, o SUS oferece ao fumante brasileiro que deseje parar de fumar um tratamento adequado, com metodologia embasada em evidências científicas. REFERÊNCIA: Hospital de Amor em Barretos Programa de rastreamento de câncer de pulmão do HA expande sua atuação em 2020 Segundo a última estimativa do Instituto Nacional de Câncer (INCA), são esperados, no Brasil, mais de 30 mil novos casos de câncer de pulmão, para cada ano do triênio 2020-2022. A doença ocupa, atualmente, a terceira colocação no ranking dos tipos de câncer mais incidentes no país, exceto pele não melanoma, mas ainda é o primeiro quando se fala em taxa de mortalidade. Isso ocorre, principalmente, por conta de seu desenvolvimentosilencioso, que, quando chama a atenção por meio de sinais e sintomas, geralmente, já está em fase avançada e sem ou com poucas chances de cura. Apesar dos diversos fatores que favorecem a ocorrência do câncer de pulmão, como exposição a agentes cancerígenos químicos ou físicos, infecções pulmonares de repetição, doença pulmonar obstrutiva crônica (enfisema pulmonar e bronquite crônica) e fatores genéticos, o tabagismo ainda é o principal fator de risco https://www.inca.gov.br./tabagismo https://hospitaldeamor.com.br/site/2020/01/06/hospital-de-amor-promove-acao-ligada-a-campanha-dezembro-laranja/ https://hospitaldeamor.com.br/site/2019/03/26/ha-realiza-capacitacao-de-medicos-em-sinais-e-sintomas-do-cancer-infantojuvenil/ para o desenvolvimento da doença, com até 85% dos casos diagnosticados associados ao consumo e exposição passiva aos derivados do tabaco. “Nem todo indivíduo que fuma ou fumou desenvolverá câncer de pulmão, e isso ainda é realmente difícil de se prever, mas sabe-se que a chance de seu desenvolvimento está diretamente relacionada à carga de tabaco com a qual que se teve contato”, explica o médico radiologista do Hospital de Amor, Rodrigo Sampaio Chiarantano. Sabe-se também que a mortalidade em decorrência da doença entre os fumantes é cerca de 15 vezes maior do que entre pessoas que nunca fumaram, já entre os ex-fumantes essa taxa chega a ser quatro vezes maior. Pioneirismo Com o intuito de reduzir tais taxas, o HA lançou, em 2019, um programa de rastreamento ativo de câncer de pulmão como parte de uma iniciativa mais ampla da instituição, que se destaca por incluir também atividades de prevenção primária e pesquisa científica de ponta com marcadores biomoleculares. Para que isso fosse possível, o Hospital de Amor contou com a colaboração da Secretaria Municipal de Saúde de Barretos, facilitando o treinamento e a constituição de grupos de cessação de tabagismo em suas unidades básicas de saúde (UBSs), que posteriormente passaram a enviar indivíduos elegíveis. Em um formato pioneiro na América Latina, uma unidade móvel foi equipada com um tomógrafo computadorizado de baixa dose e direcionada a fazer o acompanhamento da população de risco. O programa é o único no Brasil que integra dados de diversas esferas da área da saúde e oferece gratuitamente esse exame aos usuários do Sistema Único de Saúde. Inicialmente, o projeto atendeu com exclusividade os encaminhamentos dos participantes dos grupos de cessação de tabagismo, mas, desde janeiro deste ano, o rastreamento está disponível para todos os indivíduos que fazem parte do grupo de risco e que residem em um dos 18 municípios que compõem Departamento Regional de Saúde de Barretos (DRS-V). O Dr. Rodrigo Chiarantano explica que existem alguns critérios que definem a situação de alto risco para se desenvolver câncer de pulmão. “O mais amplamente empregado é: ter entre 55 e 75 anos, ser fumante atual ou ex-fumante que tenha parado há menos de 15 anos, com uma carga tabágica igual ou maior que 30 (essa carga tabágica se obtém quando multiplicamos o número de anos que a pessoa fumou pelo número de maços de cigarro que fumava em média por dia; assim, se alguém fumou dois maços por dia, por 25 anos, terá uma carga tabágica de 50, superior a 30, e, portanto, de alto risco)”. Até o momento, aproximadamente 500 pessoas já realizaram o exame. Entre elas, um caso já foi diagnosticado e outros nove estão sendo investigados. Mas a expansão do projeto prevê números muito maiores. Segundo seu escopo inicial, a proporção da população que se enquadra nos critérios foi estimada em 3%, significando, só Barretos, cerca de 3.400 pessoas e na DRS-V mais de 13 mil pessoas com alto risco para desenvolver câncer de pulmão, grupo para o qual o rastreamento por tomografia de baixa dose é indicado de forma periódica. Outro diferencial é o laudo que foi elaborado para o programa, pensando em tornar a informação mais acessível ao paciente. O documento é composto por texto em linguagem mais simples e direta, acompanhado de um reforço visual que ilustra o significado dos achados. No laudo, são descritos os achados do exame potencialmente relacionados ao tabagismo e explicados os passos seguintes a partir dali. Ele foi desenvolvido pensando no melhor entendimento do indivíduo participante, estimulando o autocuidado e a vigilância de saúde. Os pacientes têm retornado com grande satisfação. Alguns deles relataram, inclusive, que o processo de rastreamento como um todo auxiliou na decisão de parar de fumar. Avanços científicos Consequência da seriedade e qualidade do programa de prevenção e rastreamento de câncer de pulmão, o Hospital de Amor foi aceito como colaborador em um grande consórcio de pesquisa internacional, o International Lung Cancer Consortium (ILCCO), que possibilitará melhorar o entendimento da genética relacionada ao câncer de pulmão, a melhor caracterização de grupos de risco e de fatores de decisão em relação aos achados de exame. “Trata-se de pesquisa de ponta e de qualidade, com grande potencial de contribuição para a ciência e para a redução da mortalidade por câncer de pulmão. Com base em https://hospitaldeamor.com.br/site/2018/10/25/instituto-de-prevencao-do-hospital-de-amor-realiza-projeto-de-busca-ativa-no-combate-ao-cancer-bucal/ informações obtidas sob consentimento em amostras biológicas dos indivíduos participantes, diversas características genéticas e biomoleculares estão sendo investigadas, traçando um perfil particular da nossa população, que se somam aos dados já obtidos de outras populações ao redor do mundo”, ressalta o radiologista. Como participar Os indivíduos que se enquadrem nos critérios para o rastreamento podem realizar o agendamento do exame pelo telefone (17) 3321-6600 – ramal 7010 ou 7080; o contato também está disponível para os fumantes ou ex-fumantes há menos de 15 anos que tiverem dúvidas sobre os critérios. 5. Como os fatores psicológicos (estresse, depressão) interferem na progressão de neoplasias (abordar ambos aspectos – positivos e negativos). REFERÊNCIA: Como os fatores psicológicos influenciam o surgimento e progressão do câncer? Rev. Bras. Oncologia Clínica 2004. Como os fatores psicológicos influenciam o surgimento e progressão do câncer? Vários estudos na área de psiconeuroimunologia (PNI) têm incitado interesse entre os cientistas e clínicos sobre os efeitos do estresse sobre o sistema imune. A PNI estuda a influência do comportamento nas interações entre os sistemas nervoso central (SNC), endócrino e imunológico, bem como o impacto sobre a saúde. Agora sabemos que o SNC pode modular o sistema imune através de uma comunicação bidirecional entre tais sistemas, formando uma rede complexa de interações. Etimologicamente, o estresse significa solicitação ou pressão, e indica o impulso para reagir. Entretanto, o significado real do estresse não é muito claro no uso comum, sendo um pouco ambíguo também do ponto de vista científico. O estresse pode ser definido como um quadro de distúrbios físicos e emocionais, provocado por diferentes tipos de fatores, que alteram a homeostase (equilíbrio) do organismo. O célebre endocrinologista canadense Hans Selye (1907-1982) foi o primeiro a formular o conceito de estresse. Ele observou que organismos diferentes apresentam um mesmo padrão de resposta fisiológica para uma série de experiências sensoriais ou psicológicas que têm efeitos nocivos em órgãos, tecidos ou processos metabólicos (ou são percebidas pela mente como perigosas ou nocivas). Tais experiências foram, portanto, descritas como estressoras (1). Existem basicamente dois tipos de agentes estressantes (estressores). O primeiro é o psicológico, quando o sistema nervoso central é ativado por mecanismos puramente mentais, sem qualquer contato com o organismo (e.g. brigas conjugais, mudanças de residência, falar em público, vivenciar o luto). Outro tipoé o físico, quando o organismo está diretamente envolvido (e.g. correr uma maratona). Podemos ainda definir o estresse de acordo com a sua periodicidade: estresse agudo, quando se apresenta num único momento; e estresse crônico, quando o estresse agudo é repetido ou alternado com outros estressores por um longo período de tempo. Em particular, o estresse crônico é mais importante e traz conseqüências deletérias para a saúde humana. Vários estudos sugerem que o estresse crônico está associado com importantes alterações da resposta imune. Em particular, o estresse psicológico está associado com uma supressão generalizada da imunidade celular. Foi sugerido que as alterações imunológicas celulares induzidas pelo estresse produzem um grande impacto sobre a vigilância imunológica, tornando um indivíduo mais susceptível a patologia. De fato, inúmeros estudos experimentais têm confirmado que o estresse altera a susceptibilidade e progressão de várias doenças infecciosas, incluindo: a toxoplasmose murina (2), infecções virais como a influenza (3) e infecções bacterianas como a tuberculose (4) e salmonelose (5). O estresse psicológico agudo também foi associado com crescimento tumoral (6) ou metástase (7). Esses dados sugerem que o estresse pode alterar funções imunológicas importantes e, consequentemente, torna os animais mais susceptíveis a infecção e crescimento tumoral. Nesta revisão, serão abordados os mecanismos pelos quais o estresse psicológico altera as respostas imunológicas. Dentro do escopo desse artigo, vamos revisar estudos em humanos e modelos experimentais que estudaram o impacto do estresse sobre a resposta imune contra o câncer, enfatizando as implicações desses efeitos para a saúde. Além disso, discutiremos a relação dos traços de personalidade e câncer, bem como intervenções psicológicas para prolongar a sobrevida e melhorar a qualidade de vida do paciente oncológico. Uma revisão mais completa sobre todos os aspectos da PNI pode ser encontrada no excelente livro "Psychoneuroimmunology". COMO O ESTRESSE REGULA O SISTEMA IMUNE? O estresse psicológico ocasiona importantes alterações neuroendócrinas que regulam o sistema imune. Na verdade, existe uma comunicação bidirecional ente os sistemas nervoso, endócrino e imunológico: neurotransmissores e hormônios modulando o sistema imune e citocinas regulando o SNC. Essa troca mútua de mediadores químicos é indispensável para manter a homeostase do organismo, e sua alteração já foi implicada em inúmeras patologias associadas com o estresse, incluindo o câncer. A principal via de regulação neuroimunoendócrina durante o estresse é a ativação do eixo hipotálamo- hipófise-adrenal (HPA), aumentando drasticamente os níveis periféricos de cortisol, o principal glicocorticóide humano liberado pelo córtex adrenal. Esse hormônio liga-se a receptores citoplasmáticos nos leucócitos ocasionando, na maioria dos casos, uma imunossupressão. O estresse crônico e a depressão ocasionam reduções importantes na proliferação de linfócitos T e atividade natural killer (NK), tornando o organismo mais susceptível às infecções e ao surgimento de câncer (discutido abaixo). Por exemplo, Bauer et al. (10) demonstraram que idosos cronicamente estressados apresentavam níveis aumentados de cortisol salivar e uma reduzida proliferação de linfócitos T comparados com idosos não estressados. Essa redução na capacidade de divisão mitótica dos linfócitos foi associada com uma redução na produção de interleucina (IL)-2, uma citocina importante secretada pelas células T, que ativa e induz proliferação celular. Esse estudo ilustra claramente a ação antiinflamatória dos glicocorticóides durante o estresse. Além de reduzir a produção de IL-2, os glicocorticóides também inibem a síntese e secreção de outras citocinas (incluindo IL-1, IL-6, IL-8, fator de necrose tumoral e interferon-g) responsáveis pela regulação da imunidade celular. Além disso, os glicocorticóides podem igualmente induzir a síntese de citocinas (IL-4, IL-10, IL-13, TGF-b e lipocortina-1) com propriedades anti-inflamatórias (11). Outro efeito bem conhecido do cortisol durante o estresse, bem como durante o uso terapêutico dos glicocorticóides sintéticos, é a mobilização de leucócitos pelos tecidos. Após o estresse, por exemplo, existe um aumento expressivo no número de neutrófilos (neutrofilia), células NK e redução importante na contagem de linfócitos (linfopenia). É importante salientar que as mudanças no número celular periférico são devidas ao efeito do cortisol e noradrenalina em promover a migração temporária de leucócitos do sangue para os tecidos ou vice-versa. O autor deste artigo demonstrou, recentemente, que essas alterações de tráfego linfocitário são devidas a um aumento da expressão de moléculas de adesão celular, presentes na superfície dos linfócitos - tornando essas células mais aderentes ao endotélio vascular e favorecendo a diapedese. A migração, distribuição e localização de leucócitos pelo organismo são de extrema importância para o desenvolvimento das respostas imunológicas. Uma segunda via de regulação neuroendócrina do sistema imune durante o estresse é através da liberação de catecolaminas da medula adrenal ou terminações nervosas do sistema nervoso autônomo. De fato, já foi demonstrado que os principais órgãos imunes (timo, baço e linfonodos) são abundantemente inervados por fibras nervosas autônomas e linfócitos possuem receptores ß-adrenérgicos. Ativação do sistema nervoso simpático através da injeção de adrenalina causam alterações no tráfego de leucócitos, incluindo aumento expressivo no número de subtipos de linfócitos T (CD4+ e CD8+) e células NK (600%). Essas alterações enumerativas são principalmente devidas às contrações do baço induzidas por inervações adrenérgicas. De uma forma geral, as respostas imunológicas celulares (como proliferação celular) estão temporariamente aumentadas nos tecidos linfoides após infusão com catecolaminas. Contudo, a regulação simpática não é tão importante durante o estresse crônico, quando somente os níveis de glicocorticóides se mantêm continuamente elevados. Além disso, existem evidências de que o nervo vago pode regular o sistema imune. Antonica et al. observaram que a vagotomia monolateral aumenta o número de linfócitos imaturos (CD4- CD8- ou CD4+CD8+) no baço e linfonodos comparado com os controles (sham-operated). Além disso, foi recentemente demonstrado que a vagotomia atenua o aumento dos níveis de glicocorticóides induzido pela administração de fator de necrose tumoral (TNF)-alfa. Esses dados sugerem o nervo vago é uma importante via de condução da informação inflamatória para o SNC, capaz de ativar o eixo HPA. ATIVIDADE NATURAL KILLER (NK) E CÂNCER As células NK representam uma pequena população (5-15%) de linfócitos grandes de citoplasma granular, entretanto, distintas dos linfócitos T e B. As células NK são particularmente importantes no câncer, e a sua enumeração e avaliação da atividade NK são facilmente investigados no sangue periférico. A atividade NK representa a primeira linha de defesa contra a disseminação metastática das células tumorais presentes no sangue, constituindo-se em importante aspecto da vigilância imune contra tumores. As células NK são conhecidas por destruir vários tipos de células tumorais in vitro e em modelos experimentais com animais. Está bem estabelecido que a destruição seletiva da população de células NK determina um considerável aumento na sobrevida de células tumorais injetadas intravenosamente em animais. A reconstituição da atividade NK restaura a resistência a tais metástases. Muitos estudos em pacientes oncológicos têm documentado uma relação inversa entre atividade NK e doença metastática, com trabalhos descrevendo uma correlação inversa entre imunidade natural e estágios progressivos de câncer. Investigadores têm demonstrado que pacientes
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