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UNIVERSIDADE SALGADO FILHO
JULIANA APARECIDA MESSIAS
SOMOS DIFERENTES, MAS NÃO DESIGUAIS
(ALUNO NOTA 10)
MORADA NOVA DE MINAS, 05 DE MAIO DE 2015
UNIVERSIDADE SALGADO FILHO
SOMOS DIFERENTES, MAS NÃO DESIGUAIS
(ALUNO NOTA 10)
Trabalho apresentado como requisito da disciplina Seminário Integrador, professora Eleine Freire B. Ferreira, 1º Período de Pedagogia.
MORADA NOVA DE MINAS, 02 DE MAIO DE 2015
“A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo” (Mandela)
INTRODUÇÃO
	O referido trabalho foi realizado sob a forma de projeto e a notícia escolhida foi Marcas da Segregação, publicado na edição 83, de fevereiro de 2014, na revista Nova Escola. A mesma fala sobre o apartheid na África e a importância de Nelson Mandela para o fim desse processo tão desumano e discriminatório.
Está relacionada aos seguintes temas propostos:
· Exclusão e Minorias: diferenças de condições de existência do indivíduo deficiente, negro, pobre.
· Sociodiversidade, Multiculturalismo, Tolerância e Inclusão: sociedade aberta e de oportunidades – direitos e deveres (cidadania).
Pela sua grande importância o projeto desenvolvido uniu a parte 1 do trabalho temático – planejamento de atividades e a parte 2 – trabalho final. Este foi desenvolvido para educandos com deficiência intelectual e/ou múltipla do Ensino Fundamental I e II e abrangerá as disciplinas Língua Portuguesa, Ensino Religioso, Matemática, Geografia, História, Arte, Ciências e Educação Física.
Este projeto pode ser desenvolvido em qualquer escola e com qualquer público alvo, basta sofrer adaptações necessárias.
O aluno nota 10 será aquele que demonstrará atitudes éticas, humanas, respeitáveis, participativas antes, durante e após a realização do Projeto Somos diferentes, mas não desiguais. Lutar contra o preconceito é papel essencial no ambiente escolar e comunidade. Preconceito não só com os negros, mas com todas as pessoas que sofrem por serem deficientes, homossexuais, de baixa renda e até mesmo por serem mulheres.
O mundo globalizado deve banir o máximo possível atitudes que atentem contra os direitos humanos e cabe a nós educadores proporcionar atividades diferenciadas que despertem a consciência no aluno de que pessoas diferentes devem e merecem ser respeitadas. 
PROJETO INTERDISCIPLINAR
TÍTULO: SOMOS DIFERENTES, MAS NÃO DESIGUAIS
TEMA: ALUNO NOTA 10 – COMBATENDO TODOS OS TIPOS DE PRECONCEITO
JUSTIFICATIVA:
	A partir da reflexão sobre a realidade atual da sala de aula, surgiu a necessidade de desenvolver atividades que oportunizassem dinâmicas que educam, forma, de interação social, aspectos afetivo-emocionais, enfim, uma melhoria no desenvolvimento humano e no processo de formação do educando.
	Trabalhar o assunto mencionado é relevante, uma vez que, possibilita aos educandos conhecer seus direitos, tornando-se autodefensores e autogestores, cumprir seus deveres, adotar boas atitudes e bons valores éticos, despertar sentimentos, bem como saber sua própria identidade.
	Um trabalho que estimule a autoestima, o autoconhecimento e a aceitação de si mesmo e do outro, é imprescindível.
	Por isso, optou-se em trabalhar com os temas mencionados na introdução, por acreditar ser uma estratégia eficiente para o resultado que se quer obter.
	Os objetivos serão conceituais, procedimentais e atitudinais.
OBJETIVO GERAL
	Proporcionar aos educandos momentos reflexivos para que cada um reconheça suas potencialidades e limitações, buscando o aperfeiçoamento, bem como valorizando e respeitando o outro e a si mesmo na sua individualidade.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
· Respeitar as diferenças individuais.
· Despertar sentimentos.
· Melhorar a autoestima.
· Melhorar relação aluno/aluno e professor/aluno.
· Acabar com o preconceito, a discriminação e o bulling na escola e sociedade.
· Conhecer seus direitos.
· Cumprir seus deveres.
· Melhorar a criatividade e a socialização.
· Despertar o espírito de competitividade, aceitando as vitórias e derrotas.
PROCEDIMENTOS DE ENSINO: DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES
· Sondagem: o que será trabalhado. O que os alunos já sabem ou querem saber sobre o assunto.
· Apresentação do Projeto.
· Dinâmicas variadas: Barquinha dos Sentimentos; Colcha de retalhos; na Caixa de Lápis de Cor, o Lápis Branco tem Valor; Corações Partidos; Almoço Juntos e Misturado; Caça ao Tesouro; Amigo Oculto (Meu Anjo); Barbante; Completando o Outro; Dificuldades X Capacidades; Balão; Cartas a si Próprio; Leilão dos Sentimentos, entre outras.
· Conceituação das Palavras: racismo, preconceito, discriminação, ética, diálogo, autogestão, autodefesa, virtude, direito, dever.
· Músicas Diversificadas: Tocando em Frente; Amigos para Sempre; Canção da América, Noites Traiçoeiras; Tente Outra Vez; Vamos Construir; Sonho Meu; Entra na Minha Casa; Você é Especial; Depende de Nós; Maria, Maria; Mama África; Imagine; Campeão (Conquistando o Impossível); Aos Olhos do Pai; O que é, o que é, entre outras que despertem emoção, reflexão.
· O Anjo: sorteio dos nomes dos alunos. Sempre deixar uma lembrancinha, um bilhete, uma mensagem para o seu anjo (em uma caixa). Após um tempo, revelar o seu anjo.
· Mensagens: áudio e vídeo – momento de reflexão: O Menestrel; A Árvores e os Amigos; Deficientes; Aos Meus Amigos.
· Identifique problemas no Brasil e na África do Sul após o fim do apartheid.
· Estabeleça uma cronologia de registros marcantes dos movimentos contra o racismo e a discriminação racial na África do Sul, nos Estados Unidos e no Brasil.
· Filmes para interpretação, debate e reflexão: Aprendiz de um Sonhador; De Porta em Porta; A Procura da Felicidade; Ray Charles; Meu Pé Esquerdo; Forest Gump; Rain Man; Uma Lição de Amor; No Balanço do Amor; O Óleo de Lorenzo; A Bela e a Fera; O Corcunda de Notre Dame; Amargo Regresso; O Sino de Anya; Quem quer ser um milionário; Mandela; Gabi, uma História Real; Mr. Rolland, Adorável Professor; Garota Mimada; Coach Carter; O Domador de Cavalos; Como Estrelas na Terra; Simples como Amar; O Selvagem de Aveiron; Mãos Talentosas; Hotel Ruanda.
· Pesquisa, entrevistas, palestras, passeatas, depoimentos.
· Comportamento/participação nas aulas de Educação Física.
· Aulas Expositivas e Práticas.
· Trabalho de campo e estudo do meio.
· Gincana.
· Soletrando (palavras relacionadas).
· Júri Simulado.
· Seminários.
· Concurso de Cartaz.
· Momentos de encontros e troca de ideias.
· Jogos variados.
· Produções de textos orais, escritas, individuais e coletivas,
· Livro: A magia das Virtudes – CD. Ouvir histórias, interpretá-las.
· Gráficos e tabelas.
· Sistema de medidas.
· Calendário.
· Situações-problema.
· Data de Nascimento, idade, endereço.
· Espaço e tempo.
· Mapas – localização, comentário, confecção.
· Identidade.
· Hábitos e atitudes.
· História de Vida.
· Cartão (mensagens).
· Textos: interpretação, debate, reflexão e dramatização – Bulling na escola; Piolho não escolhe cabeça; Preconceito racial; Tem gente olhando; A festa das cores.
· Desfile: caracterização, imitação de personagens.
· Ornamentação da escola com desenhos, fotos, banners de pessoas famosas e não-famosas negras.
· Teatro: A menina e o Pássaro Encantado de Rubem Alves; Laurinha, A menina Convencida; O Palhaço e a Bailarina.
· Expressão Corporal.
· Outros textos, mensagens, poesias: Sou deficiente; O lápis chorão; Meu pé de laranja lima; O coelhinho branco; A bonequinha preta; O prego do amor; menina bonita do laço de fita; O patinho feio; A escola dos bichos; Chapeuzinho amarelo; Sucesso; Cantando histórias e ovelhas; Lição de vida.
RECURSOS DIDÁTICOS:
· Livros, folha A4.
· Filmes, músicas, som, DVD, computador, Internet.
· Mapas, cartões.
· Régua, lápis, borracha, lápis de cor, cola, tesoura, pincel, revistas.
· Jogos, cartolina, caderno.
· Roupas, fotos, imagens variadas.
· Tinta, papeis variados.
OBS: Serão usados todos os recursos disponíveis na escola para que o projeto seja feito.
CULMINÂNCIA
	Concurso Aluno Nota 10: mudança de comportamento e atitude; respeito,participação, envolvimento; responsabilidade, valorização do outro, apoio, compromisso.
AVALIAÇÃO
	A avaliação será realizada durante as atividades propostas, valorizando o interesse, a participação, cumprimento de combinados, envolvimento, debates, troca de experiências, relatos orais e escritos, trabalhos em grupo e dinâmicas variadas.
RESSALVA
	De acordo com a dimensão do assunto, o mesmo serás realizado, abordado através de um Projeto que é flexível e poderá ser adaptado e/ou sofrer alterações caso necessário.
AUTOAVALIAÇÃO
	Após o término do Projeto, discutir com a turma pontos positivos e negativos. 
· Observação: O que acrescentou no processo de aprendizagem do aluno?
CONSIDERAÇÕES FINAIS
	Escolhi os temas, uma vez que tenho certeza que são assuntos muito importantes da atualidade e presente na vida familiar, escolar e social do indivíduo deficiente, pobre, negro e a notícia grande fonte de pesquisa, desenvolvimento e crescimento pessoal e profissional.
	Temas estes que precisam de debate e reflexão por todos os profissionais da educação, pois a escola proporciona oportunidades para tais momentos, criando alunos críticos e com senso de igualdade e respeito.
	Os objetivos já forma mencionados, mas o principal é acabar ou diminuir com o preconceito, o racismo e a discriminação.
	Motivei meus educandos através de dinâmicas e intervenções variadas e utilizando recursos bem diversificados, principalmente as tecnologias de informação e comunicação – Internet, Notebook, Data Show, DVD, Televisão, Som.
	A cada momento desenvolvido, percebe-se que a maioria dos alunos se engaja bem nesse combate ao preconceito, melhorando não só a parte cognitivas, mas também a parte afetiva, social, emocional, passando a encarar o outro com mais carinho e mais respeito.
	A escola e demais profissionais não podem nem devem deixar que os educandos fiquem com atitudes cheias de ódio, racismo ou preconceito. Escola tem que ser lugar de formação de um cidadão ética e humano.
	Em casa, muitos pais ensinam seus filhos a serem preconceituosos. Uma criança quando nasce, não sabe o que é discriminação ou racismo. Isto muitas vezes, ou melhor, na maioria das vezes é aprendido com os pais. Quando chegam à escola, os alunos começam a demonstrar tais atitudes: não sentam com o coleguinha negro, ou pobre ou deficiente. 
	Diante disso, cabe a nós mudarmos tais comportamentos e fazer perceber que existem pessoas diferentes sim, mas que elas não são piores ou melhores. Que todos nós estamos no mesmo patamar de igualdade, independente da classe social.
	Se o professor não participa ativamente no processo de formação do educando, o aluno será petulante, discriminador e egocêntrico. Como diz aquele ditado, é de pequeno que se torce pequeno. Dificilmente, um adolescente ou adulto mudará sua opinião. Então, trabalhar bem com os educando dos anos iniciais e nos anos finais e ensino médio só reforçar a importância de atitudes éticas.
	
	
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das relações Étnico–Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. Brasília: MEC, 2005. 35p.
BENJAMIN, Roberto. A África está em nós. João Pessoa, PB: Ed. Grafset, 2005.
GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA: formação de professoras/es em Gênero, Orientação Sexual e Relações Étnico-Raciais. Livro de conteúdo. – Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília: SPM, 2009.
PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS.
REVISTA NOVA ESCOLA. Marcas da Segregação. Edição 83. Editora Abril. Fevereiro de 2014.
ROCHA, Rosa Margarida de Carvalho. Almanaque Pedagógico Afro-brasileiro – Uma Proposta de intervenção pedagógica na superação do racismo no cotidiano escolar. Belo Horizonte; Mazza Edições, 2006.
ANEXO
Marcas da segregação
A África do Sul pós-Mandela tem uma sociedade democrática, mas ainda apresenta muitas desigualdades.
Por Sílvio Marcus de Souza Correa
Quando Nelson Mandela nasceu, em 18 de julho de 1918, a Primeira Guerra Mundial chegava ao seu fim. O armistício seria firmado em novembro daquele mesmo ano. Porém, os conflitos sociais e outros decorrentes do racismo e da discriminação racial continuariam a fazer parte da realidade sul-africana.
 
Criada em 1910, a União Sul-Africana tinha um governo próprio, mas sob o domínio britânico. Apesar dos traumas da última guerra anglo-bôer (1899-1902), as tropas sul-africanas foram de extrema importância durante a Primeira Guerra Mundial. Sem a participação militar sul-africana, mais difícil seria a tarefa de vencer os alemães nos territórios africanos controlados pelo II Reich.
 
Na década de 1920, o menino Mandela crescia enquanto crescia também o nacionalismo dos africâneres, ou seja, daqueles cuja origem, em sua maioria, remonta às famílias holandesas que colonizaram a África do Sul a partir do século XVII.
 
Nessa época, a economia sul-africana se estruturava em torno das fazendas dos africâneres e da mineração, principalmente nas províncias de Orange e do Transvaal. Nas cidades do litoral, como Cidade do Cabo, Natal e Durban, o comércio e os serviços estavam mais nas mãos de ingleses e indianos. Aliás, Mahatma Gandhi (1869-1948) trabalhou por 20 anos na África do Sul, onde exerceu a advocacia e lutou em defesa dos direitos dos hindus, antes de se tornar o grande líder no processo de independência da Índia em 1947.
 
Na África do Sul, ainda sob o domínio britânico, a mineração favorecia um crescimento urbano e industrial jamais visto. Em Moçambique, o porto da cidade
de Lourenço Marques (atual Maputo) era estratégico para a vizinha província sul-africana do Transvaal. Também milhares de trabalhadores sazonais cruzavam a fronteira com a anuência da administração colonial da então África Oriental Portuguesa.
 
O desenvolvimento econômico sul-africano se fazia através da exploração do trabalho, principalmente de negros, mestiços e indianos. Uma série de leis e regulamentos impedia a mobilidade social dos trabalhadores e controlava sua mobilidade espacial. Desde o início do século XX, normas como o “Ato de Inscrição Asiático” (1907), o “Regulamento do Trabalho Nativo” (1911) e a “Lei da Terra“ (1913) pautavam as relações de trabalho e o acesso à terra em uma sociedade plena de antagonismos. Mas a dicotomia entre brancos e negros não significava que ambos os grupos fossem homogêneos. Entre os “brancos” contavam-se africâneres, ingleses, irlandeses, alemães e outros. Também em termos religiosos havia certa clivagem, como anglicanos, calvinistas, luteranos e metodistas. Entre os “negros”, além da pluralidade étnico-linguística da África do Sul, milhares de migrantes dos países vizinhos vinham, especialmente, para trabalhar nas minas. Havia ainda um grupo expressivo de asiáticos, hindus e muçulmanos.
 
Foi nessa pluralidade étnica, religiosa e linguística que Nelson Mandela cresceu. Aprendeu as primeiras letras em uma escola metodista e, depois, ingressou em instituição de ensino superior para estudantes “não brancos”. Em 1944, quando se filiou ao Congresso Nacional Africano (CNA), a guerra na Europa chegava à última fase, marcada pela liberação da França e conseguinte vitória dos Aliados.
 
A situação social na África do Sul se tornava cada vez mais conturbada, ainda mais porque o regime em vigor e o partido no poder eram explicitamente antidemocráticos, enquanto a Grã-Bretanha enfrentava o nazifascismo.
 
Em meados do século XX, o governo sul-africano recrudesceu a sua política segregacionista. O Apartheid tornou-se oficial. A partir da “Lei da Proibição dos Casamentos Mistos” (1949), uma série de legislações racistas foi sancionada na década de 1950. Foi nessa sociedade moldurada pelo apartheid que Nelson Mandela tornou-se um dos primeiros advogados negros a trabalhar em Johannesburgo.
 
Cabe lembrar que, sob a liderança de Martin Luther King, o movimento contra o racismo e a discriminação racial tomava amplitude nos Estados Unidos e conseguia avanços importantes, comoa decisão da Suprema Corte, de 13 de novembro de 1956, que considerou inconstitucionais as leis segregacionistas vigentes no Alabama.
 
Em 1956, Nelson Mandela foi preso pela primeira vez. Na África do Sul, os protestos contra o racismo eram seguidos de repressão por parte da polícia. Em 1960, outro protesto terminou em um massacre em Sharpeville, um subúrbio da cidade de Vereeniging, no Transvaal. No mesmo ano, o CNA foi proibido.
 
Durante as próximas três décadas, o CNA atuaria na clandestinidade. Nelson Mandela e outros membros do CNA buscaram alternativas mais radicais para combater o Apartheid. Ataques foram realizados tendo como alvo prédios do governo sul-africano.
 
Em 1961, a elite política africâner instituiu a República da África do Sul e também se desligou da commonwealth (Comunidade de Nações, grupo que ainda hoje reúne 53 países – quase todos ex-colônias da Inglaterra). Além da resistência e dos protestos internos, o governo racista da África do Sul teve de fazer frente ao boicote de vários países membros da Organização das Nações Unidas (ONU) após a Resolução 1.761, de 1962.
 
Desde a sua fundação, em 1945, a ONU se empenhava no combate ao racismo e à discriminação racial. Os Estados Unidos e a África do Sul eram dois países-alvo
do antirracismo. Em 28 de agosto de 1963, foi realizada uma grande marcha a Washington (The March on Washington for Jobs and Freedom), quando, então, Martin Luther King proferiu seu famoso discurso na capital americana, no qual pronunciou a frase célebre “Eu tenho um sonho” (I have a dream), que marcou toda uma geração.
 
Nos EUA, o movimento contra o racismo e a discriminação racial obtinha resultados, como a lei assinada pelo presidente Lyndon Johnson, em 1965, que garantia o direito de voto à população afro-americana. Na África do Sul aumentava a repressão aos movimentos contra o Apartheid. Episódios como o julgamento de Rivônia (1964), a repressão policial durante a passeata de milhares de estudantes negros – que resultou no massacre de Soweto, em 1976 – e a morte de Steve Biko, em 1977, são alguns exemplos.
 
Apesar do isolamento político da África do Sul, do boicote econômico e do rompimento de certas relações comerciais e diplomáticas com países membros da ONU, o poder branco logrou manter o sistema de Apartheid durante todo o período da Guerra Fria. Apoiou a política segregacionista de países vizinhos, como a Rodésia, hoje Zimbábue, e manteve o regime tutelar sobre a ex-colônia alemã do Sudoeste africano (atual Namíbia). O governo da África do Sul esteve também em conluio com o colonialismo português em Angola e Moçambique, pois a política colonial auxiliava a manutenção de um “poder branco” em suas fronteiras, o que podia escudar o país de influências externas. Depois da independência de Angola e Moçambique, em 1975, o regime sul-africano apoiou grupos dispostos a sabotar a nova ordem política naqueles países.
 
Cabe lembrar que, desde a década de 1960, ocorria um franco processo de descolonização e independência no continente africano. Países como Tanzânia e Zâmbia acolheram exilados políticos sul-africanos, inclusive membros do CNA. Porém, outros foram presos e até mesmo condenados à prisão perpétua, como Nelson Mandela, em 1964.
 
O boicote de alguns países não foi suficiente para fazer o governo sul-africano ceder às pressões internacionais, ainda mais depois do auxílio soviético e cubano ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). O “perigo vermelho” se confundia ao “perigo negro” nas mentes dos mais empedernidos racistas sul-africanos.
 
Durante as décadas de 1960 e 1970, além do desgaste da imagem do país, a economia nacional – industrializada – perdia fôlego. Afinal, a manutenção de uma política segregacionista demandava dinheiro com aparato policial, serviço de informação, medidas protecionistas etc.
 
A partir da década de 1980, o regime sul-africano passou a desenhar um novo cenário tanto para a sua política interna quanto para a externa. A repressão ao movimento de independência da Namíbia, então sob tutela sul-africana, a prisão à perpetuidade de Mandela e de outros presos políticos e o apoio à União Nacional para a Independência Total de Angola (Unita) e à Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) tinham um custo alto para o governo sul-africano diante da opinião internacional. A saída dos cubanos de Angola favoreceu as negociações para o fim da tutela sul-africana e para a independência da Namíbia. Também foi no contexto do fim da Guerra Fria que as negociações para liberar Mandela foram realizadas.
 
Em agosto de 1989, Frederik de Klerk assumiu a Presidência da África do Sul. Três meses depois, o Muro de Berlim (Alemanha) caía. Na URSS (União Soviética) estavam em pleno curso as reformas que ficaram conhecidas pelo binômio Glasnost e Perestroika. A conjuntura política internacional era favorável a uma distensão e, no início de 1990, Nelson Mandela saiu de sua prisão domiciliar. Logo depois houve a legalização do CNA. No ano seguinte, o Apartheid foi abolido.
 
Em 1994, fez-se a primeira eleição multirracial na África do Sul e Mandela tornou-se o primeiro presidente negro do país. A prioridade foi a reconciliação nacional.
 
A situação da maioria da população era calamitosa. Confinados à extrema pobreza, milhões de pessoas careciam de serviços básicos, como água potável e eletricidade. O déficit de moradia, educação e saúde era enorme e afetava diretamente as populações marginalizadas durante o Apartheid. Depois de décadas sem investir no bem-estar social do povo, o novo governo sul-africano deveria definir uma agenda e avaliar as prioridades para investimentos.
 
Porém, faltavam recursos e a captação se mostrava difícil. Por um lado, havia ainda fuga de capitais e, por outro, concentração de dinheiro nas mãos de um empresariado nacional pouco ou nada disposto a cooperar com o primeiro governo do CNA. Além disso, a economia sul-africana teve de fazer frente à globalização. Sem experiência competitiva, capacidade de inovação e recursos para investimentos, o desenvolvimento econômico parecia não ser mais do que uma promessa. O presidente Mandela se deparou ainda com uma dívida externa e uma burocracia que consumiam grande parte do Orçamento do Estado.
 
A partir do mandato do presidente seguinte, Thabo Mbeki, uma nova orientação para a economia nacional foi proposta para atrair investidores. O novo plano estratégico enfatizava o crescimento, o emprego e a reconstrução. Para isso, o CNA estimulava a competitividade e apoiava a privatização de empresas públicas.
 
Em 2011, um diagnóstico da sociedade e da economia da África do Sul, realizado pelo próprio CNA durante a atual Presidência de Jacob Zuma, apontava para a permanência de uma enorme desigualdade social, embora existissem aspectos positivos nas últimas décadas, como a adoção de uma nova constituição (1996), que garantiu a igualdade de direitos e o estabelecimento da democracia. O diagnóstico permitiu ao CNA fazer uma autocrítica. Foi reconhecido o malogro do Programa Reconstrução e Desenvolvimento (Reconstruction & Development Programme) no combate à pobreza e às desigualdades.
 
Os responsáveis pelo relatório apontaram alguns desafios para o governo da África do Sul que podem ser assim resumidos: baixa taxa da capacidade produtiva; baixa qualidade do ensino básico; problemas na logística, na manutenção e na capacidade da infraestrutura para relançar o crescimento econômico; ordenamento espacial que dificulta a circulação da riqueza; dependência da economia da exploração de recursos naturais (que se realiza de maneira não sustentável); sistema de saúde pública deficitário diante das pandemias sanitárias (sobretudo da Aids); baixa qualidade dos serviços públicos; corrupção; e, por último, uma sociedade ainda dividida. Com base nesse relatório, o atual governo lançou o Plano de Desenvolvimento Nacional: Visão para 2030. Trata-se de um projeto visionário que busca superar os desafios citados.
 
Mesmo fazendo parte do grupo de emergentes conhecidos sob a sigla BRICS (Brasil,Rússia, Índia, China e África do Sul), o país enfrenta várias dificuldades. A economia de mercado não tem favorecido a ação do Estado para suprir os déficits de saúde, moradia e educação. No entanto, o Produto Interno Bruto (PIB) local continua o maior do continente africano.
 
A sociedade sul-africana do pós-Apartheid herdou uma das principais economias do continente e sobre ela construiu uma democracia nas últimas duas décadas. O falecimento de Nelson Mandela, em 5 de dezembro de 2013, impediu-o, no entanto, de ver realizado plenamente o seu ideal, pelo qual estava “pronto para morrer”, conforme seu discurso de defesa no julgamento de Rivônia, em 20 de abril de 1964. Afinal, se a “sociedade livre e democrática” é uma realidade hoje, a África do Sul está ainda longe de ser um país “onde todas as pessoas vivem em harmonia e com igualdade de oportunidades”.

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