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N ew to n A lv es A ng el a Sá L em os d e M ed ei ro ss Newton Alves Angela Sá Lemos de Medeiros G er en ci am en to e C on tr ol e de P ol ui çã o So no ra e d o A r Gerenciamento e Controle de Poluição Sonora e do Ar Curitiba 2017 Gerenciamento e Controle de Poluição Sonora e do Ar Newton Alves Angela Sá Lemos de Medeiros Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária – Cassiana Souza CRB9/1501 A474g Alves, Newton Gerenciamento e controle de poluição sonora e do ar / Newton Alves, Angela Sá Lemos de Medeiros. – Curitiba: Fael, 2017. 144 p.: il. ISBN 978-85-60531-99-8 1. Poluição sonora 2. Fontes poluidoras I. Medeiros, Angela Sá Lemos II. Título CDD 363.74 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. FAEL Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz Revisão FabriCO Projeto Gráfico Sandro Niemicz Imagem da Capa Shutterstock.com/musicman Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim Sumário Carta ao aluno | 5 1. Tipos de fontes poluidoras | 7 2. Poluentes Primários e Secundários | 21 3. Os Efeitos na Atmosfera | 33 4. Efeitos dos poluentes atmosféricos no ciclo hidrológico | 47 5. Métodos para controle e monitoramento da emissão de poluentes | 61 6. Poluentes emitidos nos diferentes setores produtivos | 75 7. Legislação Aplicada à Poluição Sonora e do Ar | 85 8. Técnicas de minimização e monitoramento das emissões de gases e particulados | 101 9. Limites de emissão para poluentes atmosféricos | 115 10. Alternativas tecnológicas de controle ambiental | 125 Conclusão | 135 Referências | 137 Carta ao aluno A humanidade atual “já consome 50% a mais de recursos naturais renováveis do que a Terra consegue repor”. (AKATU, 2013). Desde o Decreto Lei nº 1.413, de 14 de agosto de 1975, que dispõe sobre o controle da poluição do meio ambiente, provocada por atividades industriais no Brasil, a poluição é concebida como um problema sério, relacionado ao ar, à água e ao solo e, conse- quentemente, à saúde e à vida de todos os seres vivos. Desde então, descobrimos como despoluir e dessalinizar a água (retirar o excesso de sal), mas, ironicamente, quando a água se esgota, ainda temos que torcer para chover. Gerenciamento e Controle de Poluição Sonora e do Ar – 6 – Mais complicado ainda é controlar a qualidade do ar no momento do seu consumo. Atualmente, a poluição atmosférica é uma das causas de morte que mais cresce no mundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2015). A poluição sonora também preocupa, pois, além de prejudicar a audição e causar stress nas pessoas, é responsável por afastar animais e aves, facilitando o aumento de insetos, na ausência de predadores causando um desequilíbrio ecossistêmico. Dentro deste contexto, o objetivo desta disciplina é a formação de pro- fissionais capazes de atuar no gerenciamento e controle da poluição sonora e do ar, por meio da compreensão dos principais efeitos causados pelos poluen- tes, da classificação das fontes causadoras de poluição e da proposição de soluções em acordo com a legislação vigente. 1 Tipos de fontes poluidoras Pesquisas e estudos vêm alertando a sociedade para os efei- tos drásticos dos padrões de desenvolvimento e consumo que esta- mos cultuando. Um desses alertas veio da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2015), relacionando a poluição atmosférica com mais de 7 milhões de mortes por ano em todo o mundo. Num cenário de avanços tecnológicos, crescimento indus- trial, intensificação da mecanização nos campos, desmatamentos e queimadas florestais, com o aumento do uso de carros e apelo ao consumismo, entre outros fatores, estamos criando um quadro de poluição hídrica, atmosférica e sonora. Neste capítulo, aprenderemos a identificar os poluentes, a rela- cionar seus principais efeitos às suas fontes poluidoras e, consequen- temente, a classificar, monitorar e solucionar tais problemas. Concentre-se e bom estudo! Gerenciamento e Controle de Poluição Sonora e do Ar – 8 – Objetivos de aprendizagem: 2 Identificar e relacionar as principais fontes poluidoras. 1.1 Os poluentes e seus principais efeitos Vamos iniciar o estudo neste capítulo com um importante conceito. Ao observar a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que estabeleceu a Política Nacional do Meio Ambiente, entre outros temas, você poderá conferir a defi- nição de poluição como: A degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem- -estar da população b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condi- ções estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos. (art. 3º, inciso III, Lei nº 6.938/1981) Já o termo poluente deve ser entendido como todo composto, substância ou elementos causadores de poluição. Os agentes poluentes são muito variados, sendo capazes de alterar água, solo e ar, resultando em efeitos igualmente diversos. Desta forma, entenda que a poluição ocorre toda vez que resíduos (sóli- dos, líquidos ou gasosos) produzidos por organismos ou pelo homem, supe- ram a capacidade de regeneração do ecossistema natural, intervindo na sobre- vivência das espécies. F on te : S hu tt er st oc k, 2 01 6. Figura 2 - A degradação ambiental prejudica a saúde, a segurança e o bem estar da população. Figura 1 - Poluição significa desequilíbrio ecológico. F on te : S hu tt er st oc k (2 01 6) . Figura 3 - A poluição sonora é classi- ficada como agentes físicos poluidores. F on te : S hu tt er st oc k, 2 01 6. – 9 – Você sabia A lei ambiental brasileira (Lei nº 6.938/1981) divide-se, claramente,em antes e depois de 1981. Antes valia o pressuposto de que toda a atividade produtiva causa certo impacto ao meio ambiente e estes poderiam ser tolerados, desde que as emissões poluentes atendessem aos parâmetros em vigor. Depois passou a valer o enten- dimento de que não há emissão poluente a ser tolerada, visto que mesmo o resíduo poluente, tolerado pelos padrões estabelecidos, poderá causar um dano ambiental. É o conceito da responsabilidade objetiva, ou do risco da atividade, segundo o qual os danos não podem ser partilhados com a comunidade. (MONTEIRO, 2007). A Norma Reguladora de Riscos Ambientais (NR-9) considera que existem riscos ambientais quando há presença de agentes físicos, químicos ou biológicos. Confira a seguir a dife- rença entre os três tipos de agentes: Agentes físicos: as diversas for- mas de energia que um indivíduo possa estar exposto, desde ruídos, vibrações, pressões anormais, temperaturas extre- mas (calor e frio), radiações (ionizantes e não ionizantes) e infrassom e ultras- som. (SALIBA, 2000b). Agentes químicos: correspon- dem as substâncias, compostos ou produtos que possam ser absorvidos por ingestão ou inalação pelo orga- nismo, nas formas de poeira, fumos, névoas, neblinas, gases ou vapores, ou que, pela natureza da atividade de exposição. (SALIBA, 2000b) Objetivos de aprendizagem: 2 Identificar e relacionar as principais fontes poluidoras. 1.1 Os poluentes e seus principais efeitos Vamos iniciar o estudo neste capítulo com um importante conceito. Ao observar a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que estabeleceu a Política Nacional do Meio Ambiente, entre outros temas, você poderá conferir a defi- nição de poluição como: A degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem- -estar da população b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condi- ções estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia emdesacordo com os padrões ambientais estabelecidos. (art. 3º, inciso III, Lei nº 6.938/1981) Já o termo poluente deve ser entendido como todo composto, substância ou elementos causadores de poluição. Os agentes poluentes são muito variados, sendo capazes de alterar água, solo e ar, resultando em efeitos igualmente diversos. Desta forma, entenda que a poluição ocorre toda vez que resíduos (sóli- dos, líquidos ou gasosos) produzidos por organismos ou pelo homem, supe- ram a capacidade de regeneração do ecossistema natural, intervindo na sobre- vivência das espécies. F on te : S hu tt er st oc k, 2 01 6. Figura 2 - A degradação ambiental prejudica a saúde, a segurança e o bem estar da população. Figura 1 - Poluição significa desequilíbrio ecológico. F on te : S hu tt er st oc k (2 01 6) . Figura 3 - A poluição sonora é classi- ficada como agentes físicos poluidores. F on te : S hu tt er st oc k, 2 01 6. Figura 4 - Detergentes, inseticidas, fertilizantes e petróleo são considera- dos agentes químicos poluidores. F on te : S hu tt er st oc k, 2 01 6. Tipos de fontes poluidoras Gerenciamento e Controle de Poluição Sonora e do Ar – 10 – Agentes biológicos: são as bactérias, fungos, bacilos, vírus, protozoários etc. Você sabia que os tipos de fontes poluidoras variam de acordo com o tipo de agente poluente? Quando se trata de poluição hídrica ou da água, por exemplo, os poluentes são intro- duzidos no meio ambiente por meio de fontes classificadas em pontuais ou difusas. 2 As cargas pontuais recebem esse nome porque são introduzidas no meio natural por meio de lançamentos individualizados, como os esgotos sanitários ou os efluentes industriais. Isto facilita a identifica- ção e, consequentemente, seu controle é mais eficiente e mais rápido. 2 As cargas difusas tem esse nome porque não possuem um ponto de lançamento específico, tornando-se assim de difícil controle e identificação, a exemplo da infiltração de agrotóxicos no solo, provenientes de drenagens agrícolas, águas pluviais e escorri- mento de lixeiras. Quando falamos da poluição atmosférica, as fontes poluentes são classi- ficadas como fontes móveis e fixas de origem natural ou antrópicas, isto é, causadas pelo homem. 2 As fontes móveis se referem às emissões em movimento, a exemplo dos veículos automotores, trens, aviões e embarcações marítimas. 2 As fontes fixas são as emissões lançadas à atmosfera por um ponto fixo, a exemplo de chaminés, caldeiras e afins. Tais fontes também podem ser naturais, como maresia e vulcanismo, que também cau- sam intervenção na composição do ar. Quando se trata de poluição sonora, diferentemente da poluição do ar e da água, seu principal efeito, o ruído está em toda a parte e somente é perce- bido nas proximidades da fonte causadora. Figura 5 - As bactérias, protozoários, vírus e vermes são alguns dos agentes biológicos poluidores existentes nos esgotos. F on te : S hu tt er st oc k, 2 01 6. – 11 – 1.2 Tipos de fontes de poluição sonora Todo fenômeno sonoro está relacionado à vibração de um objeto em um meio mecânico, a exemplo do diapasão (objeto) vibrando no ar (meio mecânico), sendo o som a onda resul- tante dessa vibração. A onda gerada na vibração pode ter perio- dicidade e assim é possível que haja harmonia (quando existe periodicidade entre duas ondas) e dissonância (quando as ondas não combinam acerca de seus períodos). Já o ruído é denominado quando não há periodici- dade entre as ondas sonoras. Importante Som pode ser compreendido como qualquer vibração ou conjunto de vibrações ou ondas mecânicas que podem ser ouvidas. (SALIBA, 2000). Saiba mais Ruídos não possuem frequências, nem componentes de relações har- mônicas, apenas dissonância. Portanto, quando chegam ao ouvido, geram uma sensação de desconforto. Costuma-se denominar barulho todo som que é indesejável. O ruído e o barulho são interpretações subjetivas e desagradáveis do som. (SALIBA, 2000). Você sabia A frequência de um som é o número de ciclos de uma onda de som em um segundo. A unidade de medição é hertz (Hz). A frequência de um som aumenta à medida em que o número de ciclos por segundo também aumenta. Vibrações entre 20 e 20 mil ciclos por segundo correspondem ao limiar de audibilidade de um indivíduo saudável.(SALIBA, 2000). Figura 6 - Poluição sonora: a partir de 85dB o som é prejudicial a saúde. F on te : S hu tt er st oc k2 01 6. Tipos de fontes poluidoras Gerenciamento e Controle de Poluição Sonora e do Ar – 12 – O termo dB (decibéis) e a escala dB é utilizada em todo o mundo para a medição dos níveis sonoros. É uma escala logarítmica, e a partir de 85dB, não importa se agradável ou não, o som é prejudicial a saúde, pois cerca de 2 mil células da cóclea começam a se degenerar. Confira na Tabela 1algumas referências e sensações de escala sonora. Tabela 1 - Sensações em escala sonora. dB Sensação Atividade Exposição diária máxima permissível 140 Doloroso Motor de um avião na decolagem 5 minutos 120 Doloroso Passagem de um carro de F-1 na arquibancada 5 minutos 100 Perigoso Passagem de um trem na estação 8 minutos 90 Fatigante Alarme de viatura 4 horas 80 Fatigante Rádio no volume alto 8 horas 60 Incomo- dativo Conversa em restaurante, rua ou local barulhento 8 horas 40 Repou- sante Escritório 8 horas 30 Repou- sante Sala de estar/quarto/sussurro suave 8 horas 0 Repou- sante Som mais suave que uma pes- soa pode ouvir Irrestrito Fonte: elaborado pelo autor, com base em Saliba, 2000. A Resolução do CONAMAN.º001, de 8 de março de 1990, trata dos pro- blemas dos níveis excessivos de ruído, incluídos entre os focos de Controle da Poluição de Meio Ambiente. A resolução considera como prejudiciais à saúde e ao sossego público, os ruídos com níveis superiores aos considerados aceitáveis pela norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT NBR 10152 - Avaliação do Ruído em Áreas Habitadas visando o conforto da comunidade Esta norma determina as condições a serem observadas na avaliação da acei- tação do ruído em comunidades, independente da existência de reclamações. O – 13 – método de avaliação previsto envolve as medições do nível de pressão sonora equi- valente (LAeq) em decibel, ponderados em “A”, comumente chamado dB(A). Importante De acordo com a NBR 10152, o ruído pode ser classificado em: Ruído com caráter impulsivo: contam com impulsos, considerados picos de energia acústica, com duração menor do que 1 segundo e que se repetem a intervalos maiores do que 1 segundo, como o martelagens, bate-estacas, tiros e explosões. Ruído com componentes tonais: contém tons puros, como o som de apitos ou zumbidos. Na ausência do ruído gerado pela fonte sonora procura-se observar o nível de ruído ambiente (Lra) ao nível de pressão sonora equivalente ponde- rado em “A”, no local e horário avaliados. Para proceder com a análise e a avaliação do ruído é feita a comparação entre o nível de pressão sonora corrigido (Lc) e o nível de critério de avaliação NCA, estabelecido pela NBR 10152. O nível de critério de avaliação NCA para ambientes internos é o nível indicado na Tabela 2com a correção de - 10 dB(A) para janela aberta e - 15 dB(A) para janela fechada. Tabela 2 – Nível de critério de avaliação NCA para ambientes externos em dB(A). Tipos de áreas Diurno Noturno Áreas de sítios e fazendas 40 35 Área estritamente residencial urbana ou de hospitais ou de escolas 50 45 Área mista, predominantemente, residencial 55 50 Área mista, com vocação comercial e administrativa 60 55 Área mista, com vocação recreacional 65 55 Área, predominantemente, industrial 70 60 Fonte: NBR 10151, 1999. Tipos de fontes poluidoras Gerenciamento e Controle de Poluição Sonora e do Ar – 14 – A poluição sonora resulta de um som qualquer que altera a condição normal de audição em um determinado ambiente. Diferentemente de outros tipos de poluição, não implicaem acúmulo de poluentes no meio ambiente, mas gera danos diversos à saúde e à qualidade de vida das pessoas e, por isso, já se tornou um problema de saúde pública mundial. A Resolução do CONAMAN.º 002, de 08 de março de 1990, institui o programa Nacional Educação e Controle da Poluição Sonora - “SILÊNCIO”. Dentre os objetivos do programa, destacam-se os interesses em: 2 Promover cursos técnicos para capacitar pessoal e controlar os proble- mas de poluição sonora nos órgãos de meio ambiente em todo o país. 2 Divulgará população, por meio de matérias educativas, sobre os efeitos prejudiciais causados pelo excesso de ruído. 2 Introduzir o tema “poluição sonora” nos cursos secundários da rede oficial e privada de ensino; incentivar a fabricação e uso de máqui- nas, motores, equipamentos e dispositivos com menor intensidade de ruído. 2 Incentivar a capacitação de recursos humanos e apoio técnico e logístico dentro da política civil e militar para receber denúncias e tomar providências de combate à poluição sonora urbana em todo o território nacional. 2 Incentivar apoio e iniciativas privadas no controle dos problemas de poluição sonora em todo o país. Tipos de fontes de poluição atmosférica ou poluição do ar De acordo com a Resolução do CONAMA N.º 3, de 28 de junho de 1990, poluente atmosférico se refere a qualquer forma de matéria ou energia com intensidade e em quantidade, concentração, tempo ou características em – 15 – desacordo com os níveis estabelecidos, e que tornem ou possam tornar o ar: I. impróprio, nocivo ou ofensivo à saúde; II. inconveniente ao bem estar público; III. danoso aos materiais, à fauna e à flora; IV. prejudicial à segurança, ao uso e gozo da propriedade e às atividades normais da comunidade. Como vimos as principais fontes de emissão de poluentes podem se relacionar á causas antrópicas (indústrias, queima de combustíveis fósseis, queima de lixo, uso de agrotóxicos, automotores etc), mas também à causas naturais (vulcões, queimadas espontâneas, decomposição anaeróbia de maté- ria orgânica, desnitrificação por bactérias etc) e são classificadas em móveis e fixas. O Decreto-Lei n° 1.413, de 14 de agosto de 1975, prosseguindo com o Decreto n° 76.389, de 3 de outubro de 1975, e a Lei nº 6.803, de 2 de julho de 1980, regulamentou o controle da poluição do ar por fontes fixas de emissão, ou seja, por indústrias, usinas termelétricas de energia elétrica, mine- radoras etc. Sobretudo, a fixação de parâmetros para a emissão de poluentes gasosos e materiais particulados (materiais sólidos pulverizados) por fon- tes fixas começou a ser efetuada por meio da Resolução do CONAMA nº 005/1989, que dispõe sobre o Programa Nacional de Controle da Poluição do Ar – PRONAR. A Tabela 3 identifica as fontes dos principais tipos de poluentes existentes. Figura 7 - A poluição atmosférica torna o ar ofensivo à saúde. F on te : S hu tt er st oc k, 2 01 6. Tipos de fontes poluidoras Gerenciamento e Controle de Poluição Sonora e do Ar – 16 – Tabela 3 - Classificação e relação entre tipos de fontes e poluentes atmosféricos. FONTES POLUENTES Classificação Tipo Fontes fixas ou Estacionárias Combustão Material particulado Dióxido de enxofre e trióxido de enxofre Monóxido de carbono Hidrocarbonetos e óxidos de nitrogênio Processo Industrial Material particulado (fumos, poeiras e névoas) Gases: SO2, SO3, HCL Hidrocarbonetos Mercaptanas, HF, H2S, NOx Queima de Resí- duos Sólidos Material particulado Gases: SO2, SO3, HCL, NOx Outros Hidrocarbonetos, material particulado Fontes Móveis Veículos Auto- motores Material particulado, monóxido de carbono, óxidos de nitrogênio, hidro- carbonetos e óxidos de enxofre Aviões e Barcos Óxidos de enxofre e óxidos de nitrogênio Locomotivas etc Ácidos orgânicos, hidrocarbonetos e aldeídos Fontes Naturais Gases – SO2, SO3, HCl, NOx, hidrocarbonetos Material particulado – poeiras Reações Químicas Ácidos orgânicos, nitratos orgânicos Aerossol fotoquímico etc Poluentes secundários - O3, aldeídos Fonte: Maia, 2000. Você sabia Alguns gases e vapores possuem a capacidade de criar atmosferas inflamáveis e explosivas, que podem resultar em morte ou em efeitos à saúde irreversíveis. (SALIBA, 2000b). – 17 – O Art. 2 da Resolução do CONAMA N.º 3, de 28 de junho de 1990, define os padrões de qualidade do ar: I - Padrões Primários de Qualidade do Ar são as concentrações de poluentes que, ultrapassadas, poderão afetar a saúde da popu- lação. II - Padrões Secundários de Quali- dade do Ar são as concentrações de poluentes abaixo das quais se prevê o mínimo efeito adverso sobre o bem estar da população, assim como o mínimo dano à fauna, à flora, aos materiais e ao meio ambiente em geral. Tais padrões de qualidade do ar orientam metas a serem atingidas mediante a estratégia de controle fixada pelos padrões de emissão e orientam a elaboração de Planos Regionais de Controle de Poluição do Ar. Para monitorar os níveis de poluentes produzidos pela atividade humana foi estabelecido o Índice de Qualidade do Ar (IQA), que rela- ciona a qualidade do ar às quantidades de material particulado na atmos- fera. A Agência de Proteção Ambiental dos EUA(US-EPA) atribui como limite para a condição saudável um número equivalente a 20 IQA. Alguns estudos, no entanto, divulgados em janeiro de 2013, pela Organização não governamental Berkeley Earth, revelaram que esse índice chegou a ultrapassar o nível de 300 IQA, considerado poluição severa, em cidades de países asiáticos como Pequim. Isso significa que passar um dia em Pequim seria o equivalente a fumar 40 cigarros. Tabela 4 - Qualidade do ar em relação ao IQA. ÍNDICE QUALIDADE DO AR NÍVEL 0 –50 Boa Seguro à saúde 51 –100 Regular Tolerável 101 –199 Inadequada Insalubre para grupos sensíveis 200 – 299 Má Muito insalubre (Nível de atenção) Figura 8 - A qualidade do ar em alguns países asiáticos, como Pequim, é considerada tão grave que passar um dia nestes locais seria o equivalente a fumar 40 cigarros. F on te : S hu tt er st oc k, 2 01 6. Tipos de fontes poluidoras Gerenciamento e Controle de Poluição Sonora e do Ar – 18 – ÍNDICE QUALIDADE DO AR NÍVEL 300 –399 Péssima Perigoso (Nível de alerta) 400 ou maior Crítica Muito perigoso (Nível de emergência) Fonte: FEPAM, 2015. Você sabia São Paulo é o único estado brasileiro que entrou para a lista da calcu- ladora Real-time Air Quality Index (AQI), disponível em: <http:// aqicn.org/city/sao-paulo/>.Acesse a calculadora, escreva o nome da cidade de São Paulo no campo de busca e compare com o resultado do monitoramento do dia 26 de dezembro de 2015, que mostrou um índice moderado de 62 IQA. Poluente: todo composto, substância ou ele- mentos causadores de poluição. Poluição: degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que, direta ou indiretamente, prejudicam a saúde, a segurança e o bem estar da população; criam condições adversas às atividades sociais e econômicas; afetam desfavo- ravelmente a biota; afetam as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente e, por fim, lançam matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos. Poluição sonora: é o resultado de um som qualquer que altera a condição normal de audição em um determinado ambiente. Diferentemente de outros tipos de poluição, não implica em acúmulo de poluentes no meio ambiente, mas gera danos diversos à saúde e à qualidade de vida das pessoas e, por isso, já se tornou um problema de saúde pública mundial. Poluição atmosférica: se refere a qualquer forma de matéria ou energia com intensidade e em quantidade, con- centração, tempo ou características em desacordo com – 19 – os níveis estabelecidos, e que tornem ou possam tornar o ar impróprio, nocivo ou ofensivo à saúde; inconve- niente ao bemestar público; danoso aos materiais, à fauna e à flora e prejudicial à segurança, ao uso e gozo da pro- priedade e às atividadesnormais da comunidade. Agentes físicos: diversas formas de energia a que um indivíduo possa estar exposto, desde ruídos, vibra- ções, pressões anormais, temperaturas extremas (calor e frio), radiações (ionizantes e não ionizan- tes) e infrassom e ultrassom. (SALIBA, 2000b). Agentes químicos: substân pela via respiratória, nas for- mas de poeira, fumos, névoas, neblinas, gases ou vapo- res; ou que, pela natureza da atividade de exposição, possam ter contato ou ser absorvidos pelo organismo por meio da pele ou por ingestão”(SALIBA, 2000b). Agentes biológicos: são as bactérias, fun- gos, bacilos, vírus, protozoários etc. Cargas pontuais: introduzidas no meio natural por meio de lançamentos individualizados, são os esgo- tos sanitários ou os efluentes industriais. De fácil identificação e controle eficiente e rápido. Cargas difusas: sem um ponto de lançamento específico, o que dificulta o controle e a identificação, são as infiltra- ções de agrotóxicos no solo, provenientes de drenagens agrícolas, as águas pluviais e os escorrimentos de lixeiras. Fontes móveis: se referem às emissões em movi- mento, a exemplo dos veículos automotores, trens, aviões e embarcações marítimas. Fontes fixas: são as emissões lançadas à atmosfera por um ponto fixo, a exemplo de chaminés, caldeiras e afins. Tais fontes também podem ser naturais, como a maresia e o vulca- nismo, que também causam intervenção na composição do ar. Tipos de fontes poluidoras Gerenciamento e Controle de Poluição Sonora e do Ar – 20 – Antrópico ou antropogênico: o que é causado pelo homem Dessalinização: processo de reti- rada do excesso de sal da água. Som: qualquer vibração ou conjunto de vibrações ou ondas mecânicas que podem ser ouvidas. (SALIBA, 2000). Escala dB (decibel): utilizada em todo o mundo para a medição dos níveis sonoros. Nível de critério de avaliação NCA: nível indi- cado para ambientes internos com a correção de - 10 dB(A) para janela aberta e - 15 dB(A) para janela fechada, de acordo com normas brasileiras. Resumindo Neste capítulo, aprendemos que os poluentes são introduzidos no meio ambiente por meio de fontes diversas, classificadas como naturais ou antró- picas e estudamos como os poluentes podem causar impactos severos à qua- lidade de vida das pessoas. Verificamos ainda estudos da OMS que já demostram o perigo ocultos da poluição atmosférica e sonora para os seres vivos, que exigem, além de bom senso de todas as partes, políticas públicas e planos de ações integra- dos aos principais agentes poluentes. Vimos como as soluções de mobilidade urbana podem contribuir para mitigar estes problemas, com rigor fiscal e punitivo para empresas que cometem crimes ambientais e deixam de investir e promover soluções sustentáveis. Afinal, como estudamos, já saímos da era em que o dano ambiental era passível, frente aos padrões permitidos, e entendemos agora que ele está implícito em uma série de atividades industriais. 2 Poluentes Primários e Secundários Neste capítulo, estudaremos os poluentes atmosféricos, que podem ser classificados quanto à sua origem (primários e secun- dários), composição (orgânicos e inorgânicos) e estado físico (mate- rial particulado, gases e vapores). Essas classificações ajudam a compreender quando um com- posto químico de fato age como poluente. Isto porque, conside- rando as diferentes escalas da atmosfera, essa relação “poluente - não poluente” pode variar. Na estratosfera, por exemplo, entre 15 km e 50 km de altitude, o ozônio é encontrado naturalmente e não é con- siderado poluente. Porém, na troposfera, no nível do mar até 15 km de altitude, o ozônio é considerado poluente, pois não é emitido dire- tamente, e sim, formado a partir de outros poluentes atmosféricos. Gerenciamento e Controle de Poluição Sonora e do Ar – 22 – Pelo estudo e compreensão da classificação dos poluentes quanto sua origem, composição e estado físico é que se torna possível avaliar a ação dos poluentes. Objetivos de aprendizagem: 2 Compreender e classificar a origem dos poluentes; 2 Compreender e classificar a sua composição; 2 Compreender e classificar o estado físico dos poluentes. 2.1 Poluentes Atmosféricos O ar atmosférico é composto por 78% de nitrogênio, 21% de oxigênio, 1% de argônio, dióxido de carbono e elementos vestigiais, como o vapor d´água. Isso significa que existem diversas substâncias no ar que respiramos, e algumas delas são naturais e outras poluentes atmosféricos. Figura 1: Composição do ar atmosférico. Fonte: Shutterstock (2016). De maneira geral, classificam-se os poluentes do ar em relação à sua ori- gem, o que resulta em dois grupos principais: os primários e os secundários. Enquanto os primários saem diretamente da fonte emissora, aqueles poluen- tes que são formados pela interação entre componentes naturais e poluen- tes primários recebem a denominação de secundários, a exemplo do ozônio, encontrado naturalmente na troposfera, chamado de ozônio estratosférico. – 23 – Poluentes Primários e Secundários O ozônio estratosférico filtra a radiação ultravioleta do Sol e, portanto, protege os seres humanos e outros organismos. Importante O planeta Terra é envolto por uma camada de gases retidos pela força da gravidade que denominamos atmosfera terrestre, e possui como camadas principais: a troposfera, que é a camada mais baixa da atmosfera, a estratosfera, que é a camada intermediária, e a mesosfera, camada imediatamente acima da estratosfera, que se estende de uma altitude de 45 km a 80 km. As demais camadas, ionosfera e exosfera não são relevantes sob o ponto de vista ambiental (MELO, 1997). Figura 2: Camadas atmosféricas. Fonte: Shutterstock, 2016. Você sabia O ozônio encontrado naturalmente na estratosfera (camada situada entre 15 e 50 km de altitude) tem a função de absorver radiação solar, impedindo que grande parte dos raios ultravioletas cheguem a super- fície terrestre, contribuindo assim para a manutenção das condições de vida na Terra. Gerenciamento e Controle de Poluição Sonora e do Ar – 24 – Mas quais seriam os poluentes primários e secundários mais conheci- dos? São exemplos de poluentes primários: o dióxido de enxofre (SO2), o ácido sulfídrico (H2S), os óxidos de nitrogênio (NOx), a amônia (NH3), o monóxido de carbono (CO), o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4), fuligem, e aldeídos. São exemplos de poluentes secundários: o peróxido de hidrogênio (H2O2), o ácido sulfúrico (H2SO4), o ácido nítrico (HNO3), o trióxido de enxofre (SO3), os nitratos (NO3-), os sulfatos (SO4 2-) e o ozônio (O3). Existem outras formas de classificação dos poluentes, como: 2 Poluentes orgânicos e inorgânicos; 2 Poluentes em forma de material particulado, gases e vapores. Os poluentes atmosféricos podem ser classificados como poluentes orgâ- nicos e inorgânicos, de acordo com a sua composição química, isto é, a classe química a que pertencem. Figura 3: Poluentes classificados pela composição química. Fonte: Shutterstock, 2016. – 25 – Poluentes Primários e Secundários E quanto aos orgânicos e inorgânicos? Quais são os exemplos mais conhecidos? Nos orgânicos temos os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos e aldeídos. Já nos inorgânicos há o dióxido de carbono e óxidos de nitrogênio. Há alguma outra classificação para os poluentes atmosféricos? Eles tam- bém são classificados em função de seu estado físico, uma vez que podem estar dissolvidos na atmosfera como gases ou vapores, ou mesmo se apresen- tarem nos estados líquido e sólido. Ozônio estratosférico: filtra a radiação ultravioleta do Sol e, portanto, protege os seres humanos e outros orga- nismos. Na superfície terrestre, o ozônio se torna um poluente, pois ajuda a agravar a poluição do ar das cida- des e a chuva ácida. Mas, na estratosfera (entre 25 e 30 km acima da superfície), é um filtro a favor da vida. Aerossol: é um conjunto de partículas sóli- das ou líquidas dispersas no ar. Figura 4: Poluentes classificadospelo estado físico. Fonte: Shutterstock, 2016. 2.1.1 Tipos de poluentes atmosféricos Os poluentes atmosféricos são formados principalmente por substâncias gasosas e vapores, material particulado, além de substâncias sólidas e líquidas em suspensão. Gerenciamento e Controle de Poluição Sonora e do Ar – 26 – Os poluentes do tipo material particulado apresentam-se principal- mente sob as seguintes formas (CETESB, 2014): 2 Partículas inaláveis e fumaça: partículas de material sólido ou líquido que ficam suspensas no ar, na forma de poeira, neblina, aeros- sol, fumaça, fuligem, etc. Faixa de tamanho ≤ 10µm (micrômetro). 2 Partículas inaláveis finas: partículas de material sólido ou líquido suspensas no ar, na forma de poeira, neblina, aerossol, fumaça, fuli- gem, etc, que podem permanecer no ar e percorrer longas distân- cias. Faixa de tamanho ≤ 2,5 µm (micrômetro). 2 Partículas totais em suspensão: partículas de material sólido ou líquido que ficam suspensas no ar, na forma de poeira, neblina, aeros- sol, fumaça, fuligem, etc. Faixa de tamanho ≤ 50µm (micrômetro). Existe uma grande distribuição nos tamanhos do material particulado, variando de diâmetro de 0,002 µm (as menores) a um diâmetro de 100 µm (BAIRD, 2002). Você sabia O tempo de permanência das partículas suspensas no ar está direta- mente relacionado ao seu tamanho, e pode durar dias ou semanas, dependendo da conformação de correntes de ar favoráveis. Em resul- tado, tanto o ar local como em escalas superiores pode ser afetado. Devido à complexidade e aos diferentes tamanhos das partículas na determinação dos efeitos sobre a saúde humana e o meio ambiente, diver- sos termos são utilizados para designar as partículas em suspensão, ou mate- rial particulado atmosférico: poeira e fuligem referem-se a sólidos, enquanto névoa e neblina referem-se a líquidos. Importante Um aerossol é um conjunto de partículas sólidas ou líquidas dispersas no ar (BAIRD, 2002). – 27 – Poluentes Primários e Secundários As partículas grossas, de diâmetro maior que 2,5 µm, resultam prin- cipalmente da desintegração de grandes partículas e podem ser geradas por emissões naturais, como erupções vulcânicas e ressuspensão do solo em áreas sem cobertura vegetal, ou podem ter origem antropogênica, como o cultivo da terra e atividades de mineração. As partículas finas, de diâmetro menor que 2,5 µm, formam-se princi- palmente por meio de reações químicas ou a partir da coagulação de espécies ainda menores. Importante O material particulado serve de meio de transporte para outras subs- tâncias, como hidrocarbonetos e metais, que se agregam às partículas (QUITERIO, 2003). Os efeitos nocivos do material particulado na atmosfera começam pelo elemento estético, pois além da influência negativa na visibilidade, também está associado com a corrosão e sujeira em edifícios, construções, tecidos, eletrodomésticos e outros materiais. A capacidade do material de partículas finas aumentar os efeitos fisioló- gicos dos gases presentes no ar é um dos pontos chaves no estudo da poluição do ar por material particulado. Isto porque os efeitos das associações entre material particulado e outros agentes, a exemplo do dióxido de enxofre, mos- tram resultados mais acentuados que a presença isolada desses poluentes. Os poluentes do tipo gasoso pos- suem como principais representantes: 2 Ozônio: o O3 é um gás incolor, inodoro nas con- centrações ambientais e o principal componente da névoa fotoquímica. Não é emitido diretamente para a atmosfera. É produzido Figura 5: forma molecular do Ozônio (O 3 ). F on te : S hu tt er st oc k (2 01 5) . Gerenciamento e Controle de Poluição Sonora e do Ar – 28 – fotoquimicamente pela radiação solar sobre os óxidos de nitrogênio e compostos orgânicos voláteis. Nota: vermelho - átomos de oxigênio. 2 Dióxido de nitrogênio: o NO2 é formado pela reação do óxido de nitrogênio e do oxigênio reativo presentes na atmosfera. Pode levar à formação de ácido nítrico, nitratos (o qual contribui para o aumento das partícu- las inaláveis na atmosfera) e compostos orgânicos tóxi- cos. Alguns processos indus- triais, usinas térmicas que utilizam óleo ou gás, incinerações, fábri- cas de pasta de papel e afins, podem liberar, dentre outros gases, o dióxido de nitrogênio (NO2). Gás de coloração castanha ou mar- rom avermelhado, com odor forte e irritante, pode levar a formação de ácido nítrico, nitratos (os quais contribuem para o aumento das partículas inaláveis na atmosfera) e compostos orgânicos tóxicos. Nota: vermelho- átomos de oxigênio; azul- átomo de nitrogênio. 2 Monóxido de carbono: trata-se de um gás incolor, inodoro e levemente infla- mável formado da com- binação de uma molécula de carbono com outra de oxigênio, resultante da combustão incompleta em veículos automotores ou de materiais que contenham carbono, como derivados de petróleo e carvão. Figura 6: Forma molecular do dióxido de nitrogênio (NO 2 ). F on te : S hu tt er st oc k (2 01 5) . Figura 7: Forma molecular do monóxido de carbono (CO). F on te : S hu tt er st oc k (2 01 5) . – 29 – Poluentes Primários e Secundários Nota: vermelho- átomos de oxigênio; preto-átomo de carbono. 2 Dióxido de enxofre: é um importante precur- sor dos sulfatos, um dos principais componentes das partículas inaláveis. O dióxido de enxofre é um gás incolor, com forte odor, semelhante ao gás produzido na queima de palitos de fósforo. Pode ser trans- formado em SO3, que na presença de vapor de água passa rapida- mente a H2SO4. É um importante precursor dos sulfatos e um dos principais componentes das partículas inaláveis. Nota: vermelho- átomos de oxigênio; amarelo- átomo de enxofre. Você sabia O dióxido de enxofre é utilizado como desinfetante, antiséptico e anti-bacteriano, como agente branqueador e conservador de pro- dutos alimentares, assim como na produção de bebidas alcoólicas, como o vinho. No vinho, o dióxido de enxofre aparece na sua forma livre hidratada H2SO3) ou ácido sulfuroso. Ele é prejudicial à nossa saúde na forma de gás livre no ambiente. Existe mais alguma classificação para os poluentes? Outra classificação que vem sendo o foco de atenção de organismos de pesquisa, a exemplo da OMS, são os chamados Poluentes Climáticos de Vida Curta (PCVC ou em inglês SLCP). Recebem este nome, pois permanecem na atmosfera de dias a décadas, e apresentam efeitos nocivos à saúde, ao meio ambiente e ao efeito estufa. Quais seriam os principais exemplos de PCVC? O carbono negro, o metano (CH4), o ozônio (O3) e os hidrofluorcarbonetos (HFC). Figura 8: Forma molecular do dióxido de enxofre (NH 3 ). F on te : S hu tt er st oc k (2 01 5) . Gerenciamento e Controle de Poluição Sonora e do Ar – 30 – 2.1.2 A importância da classificação dos poluentes A qualidade do ar é diretamente influenciada pela distribuição e intensi- dade das emissões de poluentes atmosféricos de origem veicular e industrial. Portanto, a classificação da condição física e química é determinante para a compreensão do tempo em que esses poluentes podem agir. Além disso, é importante considerar que as concentrações dos poluentes dependem do clima, da topografia, da densidade populacional, do nível e do tipo das atividades industriais locais (BRAGA et al, 2002). Isto porque, as condições meteorológicas, ou seja, a ocorrência de chu- vas, por exemplo, interfere diretamente nas concentrações dos poluentes atmosféricos, devido à possibilidade de dispersão (CETESB, 2014). Por outro lado, a ausência de chuva reduz a capacidade de depuração atmosférica, porque as formações hídricas têm menos água para diluição de poluentes lançados e a atmosfera é prejudicada pela maior frequência de con- dições desfavoráveis à dispersão dos poluentes. A presença de ventos também é determinante no tocante ao desloca- mento dos poluentes, seja pela influência na distância e na direção que as partículas percorrerãopara posterior deposição (CETESB, 2014). Importante Mesmo mantidas as emissões, a qualidade do ar pode mudar em função das condições meteorológicas que determinam uma maior ou menor diluição dos poluentes. Sobretudo, quando se determina a concentração de um poluente na atmosfera, é possível medir o grau de exposição dos receptores (seres huma- nos, outros animais, plantas, materiais) como resultado final do processo de lançamento desse poluente na atmosfera, a partir de suas fontes de emissão e suas interações na atmosfera do ponto de vista físico (diluição) e químico (reações químicas). Esse processo pode ser sintetizado pela seguinte equação: Fontes de poluição - Processos atmosféricos - Receptores (poluentes e/ou diluição reações químicas) – 31 – Poluentes Primários e Secundários Os efeitos destas interações em seres humanos e meio ambiente é o tema do próximo capítulo. Você sabia O Brasil foi o primeiro país da América do Sul a adotar uma legis- lação visando reduzir as emissões veiculares. Em 1976, o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) estabeleceu, por meio da Resolução nº 507/76, o controle das emissões de gases e vapores do cárter dos veículos. E, em 1986, foi criado o Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), instituído pela Reso- lução Conama 18/86 e pela Lei nº 8723, de outubro de 1993. Em 2002 foi a vez das motocicletas receberem atenção especial com o estabelecimento de um programa específico para o controle da emis- são de escapamento das motocicletas, o Promot, instituído por meio da Resolução Conama nº 297/2002. Saiba mais Os programas de controle de emissão de veículos rodoviários Pro- conve e Promot são regidos por ampla série de regulamentos, que podem ser consultados na página do Ibama no endereço: <http:// www.ibama.gov.br/areas-tematicas-qa/programa-proconve>. Resumindo Ao longo deste capítulo, vimos que os poluentes podem ser classificados quanto à sua origem, em primários e secundários; quanto à sua composição, em orgânicos e inorgânicos; e quanto ao seu estado físico, em material parti- culado, gases e vapores. Verificamos que as fontes de emissão de poluentes estão diretamente implicadas com o tipo de poluente gerado, e que estão presentes na atmos- fera, principalmente na forma de gases, vapores e material particulado, for- Gerenciamento e Controle de Poluição Sonora e do Ar – 32 – mados por substâncias sólidas e líquidas em suspensão, sendo os veículos motorizados e poeira de rua suspensa, queima de biomassa e inclusive fontes naturais como o pólen, aerossol marinho e solo, os responsáveis pela liberação de partículas totais em suspensão. Sobretudo, estudamos a importância da avaliação e classificação dos agentes poluentes, considerando o interesse em medir a concentração de um poluente na atmosfera e o grau de exposição dos receptores e seus efeitos. 3 Os Efeitos na Atmosfera Os efeitos dos poluentes atmosféricos no meio ambiente e na saúde dos seres humanos são diversos. Mas, você consegue imaginar quais são os problemas causados pela poluição atmosférica? O aumento de doenças ligadas aos sistemas respiratórios e cardiovasculares, o empo- brecimento do solo devido à acidificação de rios e florestas decorrente de chuvas ácidas, a diminuição da visibilidade relacionada ao aumento da formação de neblina, além da intervenção no quadro de mudanças climáticas, são alguns dos pontos que destacaremos neste capítulo. Apesar da melhoria da qualidade dos carros e dos combustí- veis, considerados os principais meios propagadores de poluentes do ar, depois da criação de leis específicas para a preservação e o tratamento da qualidade do ar, o aumento do número de carros nas cidades brasileiras segue contínuo, pois ainda somos um país incipiente no quesito mobilidade urbana. Nosso desafio é perceber a importância dos efeitos dos poluentes e, assim, monitorar os tipos de danos e, consequentemente, evitar o agravamento das condições na qualidade de vida das pessoas e também do meio ambiente. Pronto(a) para começar? Então, vamos juntos. Gerenciamento e Controle de Poluição Sonora e do Ar – 34 – Objetivos de aprendizagem: 2 Compreender os efeitos dos poluentes gasosos na atmosfera; 2 Compreender os efeitos dos poluentes de partículas naturais e arti- ficiais na atmosfera; 2 Compreender os efeitos dos poluentes de fontes fixas na atmosfera; 2 Compreender os efeitos dos poluentes de fontes móveis na atmosfera. 3.1 Efeitos sobre a qualidade do ar Você sabia que qualquer substância que esteja no ar e ultrapasse os padrões de qualidade estabelecidos, tornando o ar impróprio e prejudicial à saúde, é chamada de poluente atmosférico? A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2015) em relatório intitulado Reducing global health risks through mitigation of short- -lived climate pollutants (Reduzindo os riscos globais por ações mitigató- rias de poluentes climáticos de vida curta) confirma a relação da polui- ção atmosférica e mais de 7 milhões de mortes por ano no mundo todo. Neste estudo, a OMS destaca a necessidade de reduzir as emissões de poluentes como o carbono negro, o metano (CH4), o ozônio (O3) e os hidroflu- orcarbonetos (HFC), que também estão associados às mudanças climáticas e cor- respondem aos Poluentes Climáticos de Vida Curta (PCVC ou em inglês SLCP). Estes poluentes podem, facilmente, afetar nossa saúde, pois o monóxido de carbono, o ozônio e os outros poluentes correspondem a material particulado ina- lável com diâmetro inferior a 10µm, que pode ser absorvido no corpo humano, uma vez que um adulto inspira, aproximadamente, 10 mil litros de ar por dia, podendo variar de acordo com o organismo e a atividade física que pratica. De acordo ainda com o relatório da OMS, os efeitos dos PCVCs são adversos. Vamos destacar, a seguir, alguns números que chamam a atenção, Figura 1: Qualidade do ar e de vida F on te : S hu tt er st oc k (2 01 6) . – 35 – Os Efeitos na Atmosfera considerando a população mundial de 7 bilhões, e que chegará a 8 bilhões e 900 mil pessoas até 2050, de acordo com o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA, informações digitais, 2016) . 2 A exposição ao ambiente (ao ar livre) de carbono negro, compo- nente substancial de material particulado fino (PM2,5), está relacio- nada a causa de 3,7 milhões de mortes prematuras por ano. 2 4,3 milhões de mortes são atribuídas à exposição a PM2.5 (que inclui carbono negro), a partir da combustão de combustíveis sóli- dos domésticos. Importante • PM2,5 é a sigla em inglês de partícula tematter ou matéria particu- lada. O motivo da sigla são suas dimensões, que variam de 20 micra a menos de 0,05 mícron de diâmetro. Entre as doenças causadas por exposição a PM2,5 estão: acidente vascular cere- bral, doença cardíaca isquêmica, doença respiratória aguda baixa, doença pulmonar obstrutiva crônica e câncer de pulmão. • A exposição ao ozônio é responsável por cerca de 150 mil mor- tes por doenças respiratórias anualmente. Saiba mais As fuligens (carbono preto), o iodeto de prata, os núcleos de com- bustão e os núcleos de sal são exemplos de partículas sólidas menores, formados por meio da perda de vapor d’água proveniente do mar. As partículas do modo de nucleação são formadas por condensação de vapor quente, proveniente de combustão ou da reação entre moléculas de gases. Os núcleos de sal correspondem às partículas de sal marinho (NaCl) formado pelas bolhas de água, que explodem no mar e formam pequenas partículas de aerossol. Quando a água dessas partículas se evapora, novas partículas sólidas de núcleo de sal se formam. Gerenciamento e Controle de Poluição Sonora e do Ar – 36 – O pó de cimento, a poeira e o carvão pulverizado são exemplos de partículas sólidas maiores. Já os pingos de chuva, a névoa e as gotas de ácido sulfúrico são exemplos de matéria particulada líquida. Os efeitos da poluição do ar podem variar conforme o tipo e a concen-tração dos poluentes, os volumes aspirados, o tempo de exposição e as condi- ções fisiológicas de cada organismo. Sabe-se que, nas grandes cidades, as crianças e os idosos compreendem os grupos mais suscetíveis às consequências da exposição à poluição do ar, interfe- rindo na saúde e na qualidade de vida dessa faixa populacional. (CETESB, 2014). Vamos agora conhecer alguns dos principais efeitos dos poluentes na saúde humana. 3.2 Efeitos dos poluentes à saúde A exposição humana a poluentes atmosféricos ocorre por inalação, inges- tão ou contato com a pele, mas, sobretudo, é a inalação a via mais importante e mais vulnerável. Vamos agora analisar os efeitos dos poluentes na saúde humana, con- siderando a diferenciação entre os poluentes padronizados no Brasil, como as partículas totais em suspensão, a fumaça, o dióxido de enxofre (SO2), as partículas inaláveis, o monóxido de carbono (CO), o ozônio (O3) e o dióxido de nitrogênio, e alguns não legislados. Tabela 1: Tipos de poluentes e fontes de emissão Tipos de poluentes Fontes de emissão Efeitos à saúde humana Partículas inalá- veis grossas com diâmetro de 10 µm (micra)(MP 10 ) Processos de combustão (indústria e veículos automo- tores), aerossol secundário (formado na atmosfera). Interfere no sistema respiratório, pode afetar os pulmões e todo oorganismo. Exemplos: câncer respiratório, arteriosclerose, inflamação de pulmão, agravamento de sintomas de asma, aumento de interna- ções hospitalares e morte. – 37 – Os Efeitos na Atmosfera Tipos de poluentes Fontes de emissão Efeitos à saúde humana Partículas em suspensão (poeira) Processos industriais: veícu- los motorizados (exaustão), poeira de rua ressuspensa, queima de biomassa. Fontes naturais: pólen, aerossol, cinzas vulcânicas, partículas de sal marinho queimadas e poeiras diver- sas arrastadas pelo vento. Irritação dos olhos, rea- ções alérgicas e irritações nas vias respiratórias. Dióxido de enxofre SO 2 Fontes naturais, como vul- cões, contribuem para o aumento das concentrações de SO 2 no ambiente. A emissão antrópica está relacio- nada à queima de combustíveis fósseis que contenham enxofre em sua composição, como óleo. Combustível, carvão mineral e óleo diesel. Ação irritante nas vias respira- tórias, que provoca tosse e até falta de ar. Agravamento dos sintomas da asma e da bronquite crônica. Afeta, ainda, outros órgãos sensoriais, resultando no aumento de internações hospitalares, decorrentes de problemas respiratórios. Óxidos de nitro- gênio NO 2 e NO Fontes naturais: vulcões, ações bacterianas, des- cargas elétricas etc. Fontes antrópicas: pro- cessos de combustão em fontes móveis e fixas. As emissões naturais estão em maior escala do que as antro- pogênicas, porém, em razão de sua distribuição sobre o globo terrestre, têm menor impacto sobre as concentrações deste poluente nos centros urbanos. Agem sobre o sistema respira- tório, podendo causar irritações e, em altas concentrações, problemas respiratórios e edema pulmonar, inclusive o agravamento de casos de pessoas sensíveis a alérgenos. Gerenciamento e Controle de Poluição Sonora e do Ar – 38 – Tipos de poluentes Fontes de emissão Efeitos à saúde humana Monóxido de carbono CO É emitido nos processos de combustão que ocorrem em con- dições não ideais, em que não há oxigênio suficiente para realizar a queima completa do combustível. A maior parte das emissões em áreas urbanas são decorrentes dos veículos automotores e materiais que contenham carbono, como derivados de petróleo e carvão. Provoca dificuldades respirató- rias e asfixia. É perigoso para aqueles que têm problemas cardíacos e pulmonares. Este gás tem alta afinidade com a hemo- globina no sangue, substituindo o oxigênio e reduzindo a alimen- tação deste ao cérebro, coração e restante do corpo, durante o processo de respiração. Em baixa concentração causa fadiga e dor no peito; em alta concentração pode levar a asfixia e morte. Ozônio (O 3 ) Poluente secundário. Ou seja, não é emitido diretamente pelas fontes, ,pois é formado na atmosfera por meio da reação entre os compostos orgânicos voláteis e óxidos de nitrogênio em presença de luz solar. A formação do ozônio troposfé- rico ocorre por meio de reações químicas complexas que aconte- cem entre o dióxido de nitrogênio e compostos orgânicos voláteis, na presença de radiação solar. Estes poluentes são emitidos, principalmente, na queima de combustíveis fósseis, volatili- zação de combustíveis, criação de animais e na agricultura. Irritação nos olhos e nas vias respiratórias, agravando doenças preexistentes, como asma e bronquite, e redução das fun- ções pulmonares, ocasionando outras doenças pulmonares (enfisemas, bronquites etc.) e cardiovasculares (arterios- clerose). Um longo tempo de exposição pode ocasionar redução na expectativa de vida. Fonte: elaborada pelo autor, com base no Ministério do Meio Ambiente, 2016. Considerando os padrões de qualidade do ar estabelecidos no Brasil pela Portaria Normativa nº 348 do Ibama, de 14 de março de 1990, e pela Reso- lução Conama nº 003, de 28 de junho de 1990, vale destacar o entendimento – 39 – Os Efeitos na Atmosfera de que há um nível máximo tolerável e um nível desejável de concentração de poluentes, sendo o primeiro tratado como Padrões Primários de Qualidade do Ar e o segundo como Padrões Secundários de Qualidade do Ar. Importante Vale destacar que alguns poluentes não são legislados, isto é, não configuram na lista de poluentes monitorados por agências gover- namentais estudais e municipais. De acordo com a Resolução CONAMA Nº 03/90, configuram-se, portanto, dois grupos de poluentes: os legislados e os não legislados. São eles: Poluentes legislados: - Ozônio - NOx - SO2 - CO - PTS - MP10 - MP 2,5 - HCNM Poluentes não legislados: - Aldeídos - Cetonas - Ácidos Carboxíli- cos - Alcoóis - HC Alifáticos - HC Aromáticos - HC Policíclicos - Metais – Microbiológicos. Os Padrões Primários de Qualidade do Ar são as concentrações de poluentes que, se ultrapassadas, poderão afetar a saúde da população, repre- sentando metas de curto e médio prazo. Os Padrões Secundários de Qualidade do Ar são as concentrações de poluentes atmosféricos abaixo do mínimo efeito adverso tolerável sobre o bem estar da população, da fauna, da flora, dos recursos e do meio ambiente em geral, configurando metas de longo prazo. A Resolução Conama nº 03/90 estabeleceu as diretrizes para que as fede- rações definissem suas metas relacionadas à redução dos poluentes atmosféricos. Saiba mais Os padrões federais de qualidade do ar, assim como os critérios para episódios agudos de poluição do ar, estabelecidos na Resolução CONAMA n. 03/90, podem ser verificados em: <www.mma.gov.br/port/conama/res/res90/res0390.html>. Gerenciamento e Controle de Poluição Sonora e do Ar – 40 – Dentre estas diretrizes, cabe citar que cada poluente é medido e atribu- ído a um índice, que é um valor adimensional que qualifica o ar conforme sua qualidade. Cada índice é associado a uma cor e expressa os sintomas que cada pessoa pode sentir mediante o grau de exposição aos poluentes. Tabela 2: Qualidade do ar e efeitos à saúde Qualidade Índice MP 10 (μg/m³) O 3 (μg/m³) CO (ppm) NO 2 (μg/m³) SO 2 (μg/m³) B O A 0-40 0-50 Efeitos desprezíveis 0-80 Efeitos desprezíveis 0-4,5 Efeitos desprezíveis 0-100 Efeitos desprezíveis 0-80 Efeitos desprezíveis M O D E R A D A 41-80 50-100 Pessoas com doenças respi- ratórias podem apresentar sinto- mas como tosse seca e cansaço 100-130 Pessoas com doenças respi- ratórias podem apresentar sinto- mas como tosse seca e cansaço 9-11 Pessoas com doenças cardíacas podem apresentar sintomas como cansaço e dor no peito 200-240 Pessoas com doenças res- piratórias podem apresentar sinto- mas como tosse seca e cansaço 20-40 Pessoas com doenças respi- ratórias podem apresentar sinto- mascomo tosse seca e cansaço R U IM 81-120 100-150 Pessoas com doenças respiratórias ou cardíacas, idosos e crianças têm os sintomas agravados. População em geral pode apre- sentar sintomas como ardor nos olhos, nariz e garganta, tosse seca e cansaço. 130-160 Pessoas com doenças respi- ratórias, como asma, e crianças têm os sintomas agravados. População em geral pode apre- sentar sintomas como ardor nos olhos, nariz e garganta, tosse seca e cansaço. 11-13 População em geral pode apresentar sintomas como cansaço. Pessoas com doenças cardíacas têm os sintomas como cansaço e dor no peito agravados. 240-320 População em geral pode apre- sentar sintomas como ardor nos olhos, nariz e garganta, tosse seca e cansaço. Pessoas com doenças respira- tórias e crianças têm os sintomas agravados. 40-365 População em geral pode apre- sentar sintomas como ardor nos olhos, nariz e gar- ganta, tosse seca e cansaço. Pes- soas com doenças respiratórias ou cardíacas, idosos e crianças têm os sintomas agravados. M U IT O R U IM 121-200 150-250 Agravamento dos sintomas respi- ratórios. Agrava- mento de doenças pulmonares, como asma, e cardiovasculares, como infarto do miocárdio 150-250 Agravamento de sintomas respi- ratórios. Agrava- mento de doenças pulmonares, como asma, e doença pulmonar obstrutiva crônica 13-15 Agravamento das doenças cardiovasculares, como infarto do miocárdio e insuficiência car- díaca congestiva. 320-1130 Agravamento de sintomas respiratórios. Agravamento de doenças pul- monares, como asma, e doença pulmonar obs- trutiva crônica. 365-800 Agravamento dos sintomas respi- ratórios. Agrava- mento de doenças pulmonares, como asma, e cardiovasculares, como infarto do miocárdio – 41 – Os Efeitos na Atmosfera Qualidade Índice MP 10 (μg/m³) O 3 (μg/m³) CO (ppm) NO 2 (μg/m³) SO 2 (μg/m³) PÉ SS IM A >200 >250 Sérios riscos de manifestações de doenças respiratórias e cardiovasculares. Aumento de mortes prematu- ras em pessoas com doenças cardiovasculares e respiratórias. >200 Sérios riscos de manifestações de doenças respira- tórias. Aumento de mortes prema- turas de pessoas com doenças respiratórias. >15 Sérios riscos de manifestações de Doenças car- diovasculares. Aumento de mor- tes prematuras de pessoas com doenças cardiovasculares. >1130 Sérios riscos de manifestações de doenças respira- tórias. Aumento de mortes prema- turas de pessoas com doenças respiratórias. >800 Sérios riscos de manifestações de doenças respiratórias e cardiovasculares. Aumento de mortes prematu- ras em pessoas com doenças cardiovasculares e respiratórias. Fonte: CETESB, 2014. Você sabia Um dos registros mais graves de efeitos deletérios dos poluentes do ar ocorreu no inverno de 1952 em Londres. O uso intenso de carvão de baixa qualidade, como combustível em aquecedores de domicílios e indústrias, gerou uma nuvem composta, principalmente, por material particulado e enxofre (em concentrações até nove vezes maiores do que a média de ambos). A nuvem manteve-se sobre a cidade por, aproximadamente, três dias associando-se a, uma inver- são térmica, que resultando em um aprisionamento dos gases tóxicos próximo a superfície. Esta situação impediu a dispersão de poluentes e resultou em um aumento de 4 mil mortes em relação à média de óbitos em períodos semelhantes. Importante A inversão térmica se caracteriza por uma camada de ar quente que se forma sobre a cidade, “aprisionando” o ar e impedindo a dispersão dos poluentes. (CETESB, 2014) Gerenciamento e Controle de Poluição Sonora e do Ar – 42 – Os poluentes podem acarretar um tipo de dano à saúde humana, porém, a associação entre poluentes também podem resultar em outros efeitos deletérios. O nosso corpo aciona diversos mecanismos de defesa à medida que poluentes vão se depositando no trato respiratório a exemplo do espirro, desencadeado por partículas inaladas e que, dependendo do seu tamanho, se alojam na própria narina. A tosse é outro exemplo de mecanismo de defesa e pode ocorrer com a invasão do trato respiratório inferior (além da laringe) por partículas. Quando as partículas avançam e se depositam na superfície das células do trato respiratório é a vez do aparelho muco-ciliar agir em defesa do nosso organismo. O aparelho muco-ciliar é um revestimento mucoso que protege as vias aéreas por meio da junção mecânica com as células ciliadas, cuja função é transportar o muco em direção à orofaringe. 3.3 Efeitos dos poluentes no meio Ambiente Confira na Tabela 3 alguns dos diversos efeitos drásticos dos poluentes atmosféricos, seus principais poluentes atmosféricos, suas características, suas fontes de emissão e seus efeitos ao meio ambiente: Tabela 3: Qualidade do ar e efeitos gerais no meio ambiente Poluente Características Fontes Principais Efeitos gerais ao meio ambiente Partículas inaláveis finas (MP 2,5 ) Partículas de material sólido ou líquido suspensas no ar, na forma de poeira, neblina, aerossol, fumaça, fuligem etc, que podem permanecer no ar e percorrer longas distâncias. Faixa de tamanho ≤ 2,5µm. Processos de combustão (industrial, veículos automotores), aerossol secundário (formado na atmosfera) como sulfato e nitrato, entre outros. Danos à vegeta- ção, deterioração da visibilidade e contaminação do solo e da água. – 43 – Os Efeitos na Atmosfera Poluente Características Fontes Principais Efeitos gerais ao meio ambiente Partículas inaláveis (MP 10 ) e fumaça Partículas de material sólido ou líquido que ficam suspensas no ar, na forma de poeira, neblina, aerossol, fumaça, fuligem, etc. Faixa de tamanho ≤ 10 micra. Processos de combustão (indústria e veículos automotores), poeira ressuspensa, aerossol secundário (formado na atmosfera). Danos à vegeta- ção, deterioração da visibilidade e contaminação do solo e da água. Partículas totais em suspensão (PTS) Partículas de material sólido ou líquido que ficam suspensas no ar, na forma de poeira, neblina, aerossol, fumaça, fuligem, etc. Faixa de tamanho ≤ 50 micra. Processos industriais, veículos motorizados (exaustão), poeira de rua ressuspensa, queima de biomassa. Fontes naturais: pólen, aerossol marinho e solo. Danos à vegeta- ção, deterioração da visibilidade e contaminação do solo e da água. Dióxido de enxo- fre (SO 2 ) Gás incolor, com forte odor, semelhante ao gás produzido na queima de palitos de fósfo- ros. Pode ser transformado a SO 3 , que na presença de vapor de água, passa rapidamente a H 2 SO 4 . É um importante precursor dos sulfatos, um dos principais componentes das partículas inaláveis. Processos que utili- zam queima de óleo combustível, refinaria de petróleo, veículos a diesel, produção de polpa e papel, fertilizantes. Pode levar à for- mação de chuva ácida, causar corrosão aos materiais e danos à vegetação: folhas e colheitas. Dió- xido de nitrogênio (NO 2 ) Gás marrom avermelhado, com odor forte e muito irritante. Pode levar à formação de ácido nítrico, nitratos (o qual contribui para o aumento das partícu- las inaláveis na atmosfera) e compostos orgânicos tóxicos. Processos de combustão envolvendo veículos automotores, processos industriais, usinas tér- micas que utilizam óleo ou gás, incinerações. Pode levar à formação de chuva ácida, danos à vegetação e à colheita. Gerenciamento e Controle de Poluição Sonora e do Ar – 44 – Poluente Características Fontes Principais Efeitos gerais ao meio ambiente Monó- xido de carbono (CO) Gás incolor, ino- doro e insípido. Combustão incompleta em veículos automotores. Ozônio (O 3 ) Gás incolor, inodoro nas concentrações ambientais e o principal componente da névoa fotoquímica. Não é emitido direta- mente para a atmosfera. É produzido fotoquimi- camente pela radiação solar sobre os óxidos de nitrogênio e compostos orgânicos voláteis.Danos às colhei- tas, à vegetação natural, às plan- tações agrícolas e às plantas ornamentais. Fonte: CETESB, 2014. Aerossóis: partículas pequenas suspensas no ar, que podem se apresentar em formato líquido (nuvens ou névoa) ou sólido (fumaça ou poeira). Aerossol partícula atmosférica de tamanho coloidal Aerossol de condensação: formado pela con- densação de vapores ou reações de gases. Aerossol de dispersão: formado pela moagem de sóli- dos, atomização de líquidos ou dispersão de poeiras. Inversão térmica: caracteriza-se por uma camada de ar quente que se forma sobre a cidade, “aprisio- nando” o ar e impedindo a dispersão dos poluentes. Nevoeiro: termo denotando níveis altos de gotículas de água. Neblina: denota visibilidade diminu- ída devido à presença de partículas. Fumaça: partículas formadas pela com- bustão incompleta de combustível. – 45 – Os Efeitos na Atmosfera 3.4 Ações de mitigação Como já vimos, o relatório OMS (2015) estimou que a implementação de um pequeno conjunto de ações mitiga- tórias de PCVC poderia evitar milhões de mortes prematuras por ano A opção por uma alimentação mais saudável é uma das ações de mitigação simples, que independem de ações diretas voltadas à redução da poluição do ar e que igual- mente resultam em benefícios à saú. A OMS (2015) defende a ideia de que em populações mais abastadas, por exemplo, reduzir o consumo de carnes vermelhas e optar por dietas mais saudáveis e nutritivas, à base de verduras, frutas, legumes, nozes, sementes e grãos integrais, podem reduzir os riscos de saúde e, ao mesmo tempo, dimi- nuir a procura por produtos animais – cujo aumento é esperado nas próximas décadas – e, consequentemente, as emissões associadas ao metano. A arborização do meio urbano é outro fator, extremamente, importante para a qualidade do ar, pois as árvores são sumidouros de CO2, ou seja, são depósitos naturais, sendo capazes de reter mais de 80% das partículas inalá- veis emitidas pelos motores a diesel (SIRKIS, 1999). Portanto, instalar áreas de lazer, como praças e equipamentos para exercício físico, em vias próximas de trânsito intenso é uma decisão contraditória do ponto de vista da saúde pública. O relatório da agência da OMS (2015) também destacou duas cidades brasileiras no quesito ações miti- gatórias. Uma delas é Curitiba, que conseguiu desenvolver um amplo sistema de transporte utili- zado por 72% de seus moradores, plantou mais de 1,5 milhão de árvores e criou um programa de troca de “lixo” por passagens de ônibus em comunidades carentes, ação que tem contribuído para Figura 2: Dietas mais saudáveis F on te : S hu tt er st oc k (2 01 6) . Figura 3: Arborização Urbana F on te : S hu tt er st oc k (2 01 6) . Gerenciamento e Controle de Poluição Sonora e do Ar – 46 – que 50% dos resíduos produzidos e descartados (papel, metal, vidro e plás- tico) sejam reciclados. Porto Alegre também foi citada, devido a seus bons indicadores ambientais. Resumindo Como vimos, estabelecer ações de mitigação ao dano ambiental, em especial aqueles relativos à poluição do ar, exigem o estabelecimento de obje- tivos que despertem atitudes positivas nos cidadãos, visando a reflexão sobre nosso modo de viver e nos relacionarmos enquanto sociedade. Um dos meios para se atingir esta linha de objetivo é conhecer os efeitos dos poluentes que geramos no nosso dia a dia. Neste capítulo, aprendemos sobre os diversos tipos de efeitos dos poluentes, sobre a saúde da população e também sobre o meio ambiente. A maioria dos efeitos relacionada à fontes de emissão primária, causadas por interferência antropogênica. 4 Efeitos dos poluentes atmosféricos no ciclo hidrológico Elementos classificados como poluentes químicos pos- suem uma capacidade tóxica elevada, e quando lançados nos corpos hídricos, devido a processos industriais mal planejados, provocam um efeito tóxico em animais, plantas aquáticas e seres humanos. E isto graças ao chamado ciclo hidrológico, que está direta e indireta- mente associado ao ciclo da poluição atmosférica. As águas usadas em sistemas de refrigeração, por exemplo, cau- sam poluição térmica, pois este efluente, quando despejado no rio, acarreta o aumento da temperatura da água, diminuindo a concen- tração de oxigênio dissolvido e impactando os organismos do meio. A concentração de poluentes versus a capacidade de vazão dos corpos hídricos é, portanto, um tema relevante, assim como com- preender os principais efeitos dos poluentes atmosféricos no ciclo hidrológico. Sendo assim, destacamos os objetivos de aprendizagem do presente capítulo. Gerenciamento e Controle de Poluição Sonora e do Ar – 48 – Objetivos de aprendizagem: 2 Relacionar emissões poluentes atmosféricas aos impactos observa- dos no ciclo hidrológico do planeta; 2 Discutir como o controle dos poluentes atmosféricos pode reduzir a poluição em corpos hídricos. Como sabemos, a maior parte da poluição atmosférica é oriunda da queima de combustíveis fósseis, como o carvão e o petróleo, que ao serem queimados não liberam apenas energia, mas muitos produtos químicos, a exemplo do enxofre e nitrogênio. Essas substâncias, enxofre e nitrogênio, são subprodutos indesejáveis, e ao contrário do que se imaginava, ao serem lançados diretamente na atmos- fera passam por uma transformação e são convertidos em dióxido de enxo- fre e óxidos de nitrogênio e, em seguida, são dispersados na atmosfera de forma prejudicial a todos. Isto demonstra que a poluição atmosférica ocorre em um ciclo bem definido de emis- são – dispersão|transformação|d eposição – receptor. Este ciclo se inicia com a emissão, em que uma parte da poluição rapidamente se preci- pita ao solo, antes de ser absor- vida pela umidade do ar, resul- tando na deposição em árvores, mares, rios, lagos, construções, etc, remetendo à segunda fase. Os depósitos são formados e, mais tarde, se combinam com a água da chuva, transformando-se em ácidos. Essas substâncias químicas rea- gem com o vapor d’água na atmosfera, resultando em ácidos sulfúrico e nítrico diluídos. Esses ácidos também reagem com outras substâncias químicas na atmosfera, formando poluentes secundários, a exemplo do ozônio. Outra parte da poluição pode permanecer no ar por mais de uma Figura 1: Ciclo de Poluição Atmosférica. F on te : S hu tt er st oc k (2 01 5) . – 49 – Efeitos dos poluentes atmosféricos no ciclo hidrológico semana e, por dispersão, ser transportada pelo vento além da área onde iniciou a emissão. A formação de poluentes secundários ocorre com o deslocamento das massas de ar que, após um tempo, atingem concentrações mais elevadas em áreas mais afastadas das fontes de emissão. Estes poluentes são responsáveis pelo “smog”, nevoeiro, chuvas ácidas, etc, causando efeitos negativos à saúde, ao meio ambiente e aos seus recursos. Somente são controlados por meio da diminuição das emissões dos poluentes primários. Importante A palavra Smog tem origem na língua inglesa e resulta da associação das palavras smoke (fumaça) e fog (nevoeiro) que por junção significa nevoeiro de fumaça. Na prática constitui num fenômeno urbano que, segundo o conceito de Fiorillo e Rodrigues (1999, p. 285), pode ser definido como, “as massas gasosas naturais poluídas compostas por diversos gases, vapores e fumaça que acabam nos nossos pulmões”. Quando a precipitação ácida ocorre sob a forma de neve, os problemas para o meio ambiente são atenuados, mas durante o inverno, a neve se acu- mula no solo, retendo seus ácidos, de modo que na chegada da primavera, a neve derrete e o fluxo de água emergente carrega as substâncias até os rios e lagos liberando os ácidos até então retidos, ocorrendo a terceira fase, onde se forma uma correnteza ácida prejudicando plantas e animais. Figura 2: Correnteza ácida Fonte: Shutterstock, 2015. Gerenciamento e Controle de Poluição Sonora e do Ar – 50 – As plantas são responsáveis pela emissão de grande variedadede hidrocar- bonetos gasosos, dentre os quais o metano (CH4), resultante da decomposição de plantas e animais, gerando num fenômeno conhecido por gás dos pântanos. É o ciclo hidrológico que entra em cena para dissipar a poluição gerada e lançada na atmosfera nesse processo de decomposição das plantas e animais, por meio das nuvens e precipitação, por exemplo, num processo natural que iremos aprofundar a seguir. Importante A chuva naturalmente é ácida devido à presença de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, mas quando seu pH é inferior a 4,5-5, temos o chamado fenômeno da chuva ácida ou deposição ácida. Trata-se da pre- cipitação ( seja em forma de neve, chuva, granizo ou nevoeiro), formada a partir da reação dos óxidos de enxofre e azoto já convertidos em ácido sulfúrico e nítrico, em contato com a água, oxigênio, dióxido de carbono e luz solar que resultam em chuva corrosiva (ECOGUIA, 2016). Saiba mais Os ventos podem transportar as nuvens de “Chuvas ácidas” até cerca de 3000 Km de distância de seu local de formação original, dependendo dos sistemas de dispersão atuantes, tais como o vento, a frequência das chuvas e as condições da atmosfera. É justamente essa influência de fatores que torna o controle ambiental um desafio (ECOGUIA, 2016). 4.1 Emissão de poluentes atmosféricos e sua influência no ciclo hidrológico O ciclo hidrológico, ou ciclo da água, é o movimento contínuo da água presente nos oceanos, continentes (superfície, solo e rocha) e na atmosfera. Esse movimento é resumido por Rebouças (1997) da seguinte forma: A energia térmica do sol e a transpiração dos organismos vivos transforma parte da água dos oceanos e continentes (rios, lagos e umidade do solo) – 51 – Efeitos dos poluentes atmosféricos no ciclo hidrológico em vapor, que sobe à atmosfera e sofre condensação formando as nuvens. Com a ação da energia gravitacional, a água atmosférica volta a cair na forma de chuva, neblina, neve, indo alimentar o fluxo dos rios, a umidade do solo e os estoques de água subterrânea (REBOUÇAS, 1997). Figura 3: Ciclo hidrológico Fonte: Shutterstock, 2016. Na atmosfera, as nuvens formadas, quando carregadas, provocam preci- pitações, na forma de chuva, granizo, orvalho e neve. Por esta razão, o ciclo hidrológico é um mecanismo determinante no ciclo da poluição, pois é um catalisador eficaz na dispersão, uma vez que inicia pelo ar com a formação de nuvens e se completa pela precipitação de chuva, neve ou granizo. Pode dizer-se que mais de 80% dos poluentes são removidos pela pre- cipitação (ECOGUIA, 2016). Além disso, a água precipitada pode seguir diferentes caminhos, conforme tabela abaixo. Tabela 1: Processos destinatários da água precipitada. Processo Destino Infiltração e percolação Passagem lenta de um líquido através de um meio (no solo ou nas rochas), podendo formar aquíferos, ressurgir na superfície na forma de nascentes, fontes, pântanos, ou alimentar rios e lagos. Gerenciamento e Controle de Poluição Sonora e do Ar – 52 – Processo Destino Armaze- namento Flui lentamente entre as partículas e espaços vazios dos solos e das rochas, podendo ficar armazenada por um perí- odo muito variável, formando os aquíferos. Escoamento Escoa sobre a superfície, nos casos em que a precipita- ção é maior do que a capacidade de absorção do solo. Transpi- ração Evapora retornando à atmosfera. Em adição a essa evapora- ção da água dos solos, rios e lagos, uma parte da água é absor- vida pelas plantas. Essas, por sua vez, liberam a água para a atmosfera por meio da transpiração. A esse conjunto, evapora- ção mais transpiração, dá-se o nome de evapotranspiração. Congela- mento Congela formando as camadas de gelo nos cumes de montanha e geleiras. Fonte: MMA, Informações digitais (2015). A água está sempre em movimento, o que permite a ocorrência da chuva, da neve, a formação e regeneração de rios, lagos, oceanos, a formação das nuvens e deposição das águas subterrâneas. Importante Umidade relativa do ar é a relação da quantidade de vapor de água (calculada em gramas por metro cúbico de ar) com o volume e a tem- peratura da atmosfera de um determinado lugar (REBOUÇAS, 1997). Você sabia Numa cidade cuja temperatura é de 20ºC, o ar fica saturado ao atingir 17 gramas de vapor água por metro cúbico (17g/m³). Neste caso, a umidade relativa do ar atingiu 100%. Quando o ar atinge o seu ponto de saturação, ocorrem as precipitações, principalmente as chuvas (REBOUÇAS, 1997). A forma como os poluentes atmosféricos influenciam o ciclo hidroló- gico se mostra sob diferentes aspectos, todos relacionados ao principal efeito: mudanças climáticas. – 53 – Efeitos dos poluentes atmosféricos no ciclo hidrológico A variabilidade climática está relacionada com a variação natural do clima no planeta. Já se sabe que o clima varia naturalmente, independente- mente das intervenções do ser humano, as estações do ano não teriam sempre as mesmas temperaturas, pelo simples fato de que o clima é dependente da intensidade da radiação solar. Mas como é determinada a intensidade da radiação solar? Os movimen- tos de rotação e translação que aproximam e afastam o Sol e a Terra, em alguns ciclos, determinam o maior ou menor grau de incidência de radiação solar e, consequentemente, o grau de aquecimento ou resfriamento da Terra sazonalmente e historicamente. Mas, nesse contexto, quando uma camada de ar frio fica sob uma camada de ar quente, produzindo uma inversão térmica, a dispersão de poluentes lançados na atmosfera ocorre muito lentamente, facilitando o acúmulo de contaminantes próximo ao solo. Você sabia O conceito de mudanças climáticas difere do de variabilidade cli- mática, a medida que engloba diversos fenômenos, a exemplo da acidificação da atmosfera e chuvas ácidas, do escurecimento global, destilação global, aquecimento global por gases de efeito estufa, redução da camada de ozônio. Tabela 2: Principais impactos da poluição atmosférica no ciclo hidrológico. Processo Destino Acidificação da atmosfera e chuvas ácidas Resultado da reação dos óxidos de enxofre e azoto, presen- tes na atmosfera, ao contato com a água, oxigénio, dióxido de carbono e luz solar, se convertendo em ácido sulfúrico e nítrico, ácidos fortes que resultam em chuva corrosiva. Escure- cimento global Fenômeno atmosférico caracterizado pela redução da visi- bilidade e luminosidade, decorrente do aumento da quanti- dade de aerossóis atmosféricos, como o carbono negro. Inter- fere no ciclo hidrológico por redução da evaporação. Gerenciamento e Controle de Poluição Sonora e do Ar – 54 – Processo Destino Destilação global Processo geoquímico causado por produtos químicos, em especial, os poluentes orgânicos persistentes (POPs), que são transporta- dos das zonas mais quentes para as regiões mais frias da Terra. Aqueci- mento Global por Gases de Efeito Estufa O efeito estufa natural mantém a temperatura em condições de vida no planeta, por atuar como barreira para radiações nocivas a vida ao absorver parte da radiação ultravioleta. O efeito estufa antro- pogênico é decorrente da associação de gases naturais com gases produzidos pelo homem, e radiam parte da energia absorvida de volta para a superfície, fazendo com que a superfície receba quase o dobro de energia da atmosfera do que a que recebe do Sol tornando- -a mais quente do que estaria sem a presença dos gases de estufa. Redução da camada de ozônio Camada que atua como barreira as radiações nocivas à vida ao absor- ver parte da radiação ultravioleta, e que monitora-se a capacidade. A Convenção de Viena, que trata da “Proteção da Camada de Ozônio”, e o Protocolo de Montreal sobre “Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio”, tiveram seus textos promulgados pelo Decreto 99.280, de 6.06.1990, fazendo parte, portanto, do Direito Positivo Brasileiro. Fonte: MMA, Informações digitais (2015). Importante Os poluentes orgânicos persistentes (POP) são organoclorados que
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