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Introdução à Teologia Armínio-Wesleyana [Vinicius Couto](1)

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Introdução à Teologia 
Armínio-Wesleyana
Vinícius Couto
Sindicato 01
Máquina de escrever
http://agraphai.blogspot.com.br/
Sindicato 01
Máquina de escrever
Sindicato 01
Máquina de escrever
Sindicato 01
Máquina de escrever
Sindicato 01
Máquina de escrever
A teologia arminiana é muitas vezes 
desconhecida no meio protestante e 
é caricaturada, constantemente, de 
forma precipitada. Calvinistas 
equivocam-se sobre conceitos 
fundamentais de nosso pensamento 
e até mesmo alguns irmãos que se 
intitulam arminianos fazem 
confusão sobre nosso posiciona­
mento. Esta obra, além de desmitifi- 
car os equívocos relacionados à 
teologia arminiana, relaciona os 
axiomas do arminianismo de forma 
clara e objetiva, reforçando o conhe­
cimento básico de tal ramo do pen­
samento cristão. Este livro é indica­
do para seminaristas, estudiosos 
das doutrinas da graça e, sobretudo, 
para os membros de denominações 
confessionalmente arminianas em 
sua soteriologia.
Introdução à Teologia 
Armínio-Wesleyana
VINÍCIUS COUTO
Introdução à Teologia 
Armínio-Wesleyana
6 MXo/lA. fyjlLvilÃO
VINÍCIUS COUTO. 2014
Revisão 
Impressão 
Conselho Editorial
Editora Executiva Caroline Dias de Freitas 
Cláudia Cintra
Forma Certa Gráfica e Editora
Prof. Dr. Antônio Máspoli de Araújo Gomes
Prof. Dr. Edson Pereira Lopes
Tiragem: 1000 exemplares
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou 
transmitida por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e grava­
ção) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da 
Editora Reflexão.
Editora Reflexão
Rua Fernão Marques, 226 - Vila Graciosa 
03160 030 São Paulo 
Fone 11 4107 6068 
www.editorareflexao.com.br 
atendimento@editorareflexao.com.br
Dados internacionais de Catalogação na publicação (CIP) 
Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil
couto, VINÍCIUS
I . Religião 2. Teologia 
I. Titulo. 1. Série.
06-6456 CDD-809
índices para catálogo sistemático:
1. Teologia Arminiana 2. Teologia Wesleyana 3. Título
Sindicato 01
Máquina de escrever
Sindicato 01
Máquina de escrever
http://agraphai.blogspot.com.br/
Sindicato 01
Máquina de escrever
Sindicato 01
Máquina de escrever
Sindicato 01
Máquina de escrever
Sindicato 01
Máquina de escrever
Dedico esta obra a minha fam ília, que além de me dividir com o com pu­
tador, deu-me grandes incentivos para concretiza-la; e ao s meus am igos 
que me encorajaram para que este projeto fo s se publicado.
\ cV
Sumario I Cx y t
Prefácio.....................................................................................................09
Prefácio.....................................................................................................11
Introdução................................................................................................ 13
Capítulo 1
Introdução ao arminianismo................................................................... 15
Capítulo 2
Eleição Condicional..................................................................................28
Capítulo 3
Expiação ilimitada................................................................................... 41
Capítulo 4
Depravação total...................................................................................... 55
Capítulo 5
Graça Preveniente.................................................................................... 68
Capítulo 6
Perseverança dos santos. 84
PREFACIO
O lugar de escritor cristão nunca ficou vazio, pois o Mestre 
sempre levanta e faz surgir uma voz no deserto. A mim, com mais 
de quatro décadas no ministério 100% ativo, me parece que a 
Igreja que Jesus amou e deu Sua Vida por ela; parece-me que ela 
está no deserto do tão necessário aprendizado conhecimento te­
ológico. Já nos idos séculos do Antigo Testamento, a voz do Altís­
simo ressoava “... O meu povo está sendo destruído por lhe faltar 
o conhecimento”. Graças à interferência do alto, o povo todo não 
foi destruído e o conhecimento das verdades chegou e continua 
chegando até nós.
Nas viagens que fazemos aos quatro cantos da terra, especial­
mente quando participamos de congressos e conferências, com 
participação de povos de todas as nações, nos prostramos ante o 
Rei que fez e faz que o conhecimento da Sua verdade chegue até 
os confins da terra. Como as águas cobrem o mar, assim a terra 
se encherá do conhecimento de Deus. E nesses dias de acentuado 
descaso do aprendizado teológico, temos que a Deus se primam 
por em diferentes e distantes lugares levantar homens que zelo do 
conhecimento.
Sinto-me honrado em apresentar ao mundo dos ledores e da­
queles que dia-após-dia se colocam para ministrar em seminários 
e classes afins; O jovem teólogo e escritor, Ministro da Igreja do 
Nazareno, Vinícius Couto, que depois de acurada investigação co­
loca em nossas mãos - Introdução à Teologia Armínio-Wesleyana, 
que sem dúvida é uma obra rica de valores e conteúdos raros, 
providos conhecimentos dos mestres do saber.
Amadeu Aparecido Teixeira
Pastor da Igreja do Nazareno de Mesquita
Superintendente Distrital
Membro da Junta Internacional da Igreja do Nazareno
9
PREFACIO
Mais cedo ou mais tarde, não necessariamente no início da con­
versão, os fiéis acabam se perguntando se a salvação pode ou não 
ser perdida, se a eleição divina elimina o livre-arbítrio, se as pessoas 
podem fazer ou não algo para sua salvação, se o homem pode ado­
rar e agradar a Deus sem conhecê-lo e se o pecado de Adão afeta 
seus descendentes ou não, bem como diversas questões semelhan­
tes. Todas essas dúvidas se enquadram na doutrina da salvação e 
este livro contrasta de forma clara, precisa e correta as posições 
calvinista e arminiana.
Na teologia, porém, a doutrina cristã não é auto-sustentável. As 
doutrinas cristãs formam um mosaico onde, em vez de peças, te­
mos de falar de dimensões transversais. Cada uma das doutrinas 
cristãs afeta às outras em um movimento recíproco e contínuo. Por­
tanto, a doutrina da salvação se fundamenta na doutrina de Deus. 
Da mesma forma, a doutrina da salvação fundamenta a doutrina de 
Deus. Estas duas doutrinas, por sua vez, não podem ser separadas 
da doutrina do homem, a antropologia. A salvação é para o homem 
e o homem é para a salvação.
Neste livro você vai encontrar pelo menos duas posições con­
trastadas em alguns aspectos da salvação, de Deus e do ser huma­
no. Convido os leitores a se perguntarem: de que tipo de Deus fala 
esta posição? É o Deus que conhecemos na vida, morte e ressurrei­
ção de Jesus Cristo? De que tipo de ser humano assume esta posi­
ção? É o ser humano que se reflete na vida, morte e ressurreição 
de Jesus Cristo? De que tipo de salvação está falando esta posição? 
Ela está falando sobre a salvação que se executa e se revela na vida, 
morte e ressurreição de Jesus Cristo?
11
Introdução à Teologia Armínio-Wesleyana
Jesus Cristo é o Deus-Homem. É a imagem perfeita de Deus, 
mas também a perfeita imagem de um ser humano. A vida, morte 
e ressurreição de Jesus Cristo é contada no Antigo Testamento, o 
que podemos chamar de “pré-história de Jesus Cristo”. Da mesma 
forma, o Novo Testamento narra a vida, morte e ressurreição de 
Cristo. É sua história. Como o pastor Vinícius Couto nos disse, o 
mais importante não é sermos de Paulo, de Apoio ou de Pedro. Vale 
também lembrar que, a mesma passagem de 1 Coríntios nos diz 
que existe um jeito errado de ser de Cristo. Aqueles que diziam se­
rem de Cristo não estavam em uma posição melhor do que aqueles 
que alegavam ser Pedro, Paulo ou Apoio.
Por isso, não podemos ser omissos quanto à nossa posição te­
ológica. Creio que esta obra ajudará a elucidar e divulgar de forma 
mais precisa o pensamento arminiano-wesleyano.É meu desejo e 
minha oração que sejamos todos nós achados em Cristo Jesus; que 
sejamos achados nEle quando partirmos para Sua presença; que 
sejamos achados em Cristo quando Ele vier pela segunda vez e que 
sejamos achados em Cristo Jesus todos os dias de nossas vidas.
Sadrac Meza Perez, Ph.D
Diretor da Escuela de Estúdios Pastorales de Costa Rica 
Professor de Interpretación y Exposición Bíblica no Seminário Na­
zareno de las Américas
12
INTRODUÇÃO
A teologia arminiana é muitas vezes desconhecida no meio 
protestante. Calvinistas equivocam-se sobre conceitos fundamen­
tais de nosso pensamento e até mesmo alguns irmãos que se in­
titulam arminianos fazem confusão sobre nosso posicionamento.
Há alguns dias encontrei um pastor (arminiano) que afirmava 
algo incoerente com a doutrina da depravação total do homem. 
Ele achava que a raça humana podia dar o primeiro passo em re­
lação a Deus e pregava isso insistentemente. Todavia, esse pensa­
mento foi rejeitado pela Igreja e isso ficou conhecido como semi- 
-pelagianismo. Teremos uma abordagem mais direta em um de 
nossos capítulos a esse respeito, mas vale aqui a observação de 
como nosso pensamento ainda não está devidamente alinhado.
Em função de equívocos como esse, é que vemos os nossos 
irmãos calvinistas nos acusarem de sermos semi-pelagianos, mas 
o arminianismo clássico não prega essa mensagem. Outra coisa 
interessante, é que as pessoas normalmente associam o arminia­
nismo ao livre-arbítrio e esse não é o carro chefe da nossa posição 
doutrinária. Antes, partimos do pressuposto da eleição amorosa 
realizada pela presciência divina em Cristo Jesus. A base do armi­
nianismo é o amor de Deus e não a vontade do homem!
O objetivo primário desta obra, portanto, é mais para esclarecer 
o povo cristão e dar as diretrizes e os rudimentos do pensamen­
to arminio-wesleyano. Não é nossa pretensão escrever uma obra 
exaustiva, mas introdutória, que dê aos segmentos tanto arminia­
nos quanto calvinistas, explicações básicas de nossa doutrina.
13
Introdução à Teologia Armínio-Wesleyana
Outro fator motivador para que esta obra fosse formada, se 
dá em virtude da escassez de material arminiano em nossas li­
vrarias no idioma português. Se compararmos com o calvinismo, 
estamos consideravelmente aquém. Pouquíssimas teologias siste­
máticas foram traduzidas para nosso idioma e até desconheço al­
gum teólogo brasileiro que tenha escrito uma teologia sistemática 
declarativamente arminiana.
Desejo que esta obra possa, primeiramente, edificar aos ir­
mãos e ajudar-lhes no conhecimento de base da teologia armí- 
nio-wesleyana. Em segundo lugar, pretendo contribuir para o 
despertamento do arminianismo no solo brasileiro, e finalmente, 
acredito que essa fagulha literária arminiana poderá incentivar a 
outros mestres e doutores de nossa teologia a prepararem mais 
materiais, e quem sabe até uma teologia sistemática.
Sem mais delongas, venhamos conhecer a teologia armínio- 
-wesleyana. Que Deus lhe abençoe nessa leitura!
Pr. Vinícius Couto.
14
CAPÍTULO 01
Introdução ao arminianismo
Salvação é um tema que sempre gerou e continua a gerar 
curiosidades e anseios no cerne da alma humana. Certo jovem 
abastado procurou Jesus e perguntou: “Bom Mestre, que hei de fa­
zer para herdar a vida eterna?” (Mc 10.17). Em outra ocasião, um 
dos doutores da Lei, querendo experimentar a Cristo, questionou: 
“Mestre, que farei para herdar a vida eterna?” (Lc 10.25).
Alguns sistemas de crença dizem que a salvação se dá por 
meio de boas obras, atribuindo mérito ao ser humano e invalidan­
do o sacrifício de Cristo por meio de uma auto salvação. Outros 
sistemas pregam uma esperança baseada em constantes reencar- 
nações, nas quais o esforço humano as proporcionará melhores 
| condições em suas vidas subsequentes.
I Há, ainda, o sistema universalista, o qual prefere ludibriar a 
i consciência do homem sob o falso entendimento de que no final 
[ das contas todos serão salvos, independentemente da Obra Vicá- 
I ria de Cristo e sua eficácia para com aqueles que O receberam (Jo 
; 1.12). Todas essas posições são contrárias à perspectiva da Palavra
| de Deus (cf Ef 2.8,9; Hb 9.27; Jo 3.16).
i
| Nesta obra poderemos observar os dois principais sistemas 
j que discorrem sobre a salvação do homem dentro do protestan- 
| tismo. O primeiro se baseia na predestinação divina, cuja atuação 
j é unicamente monergista, e o último, no sinergismo entre Deus
I e homem, cuja atuação se dá através da graça preveniente e do
í livre-arbítrio humano.
k
k
I 15
Introdução à Teologia Armínio-Wesleyana
1.1 Antecedentes históricos
Esses dois conceitos paradoxais remontam aos dias de Agos­
tinho, o qual defendia que o homem é predestinado por Deus e, 
portanto, não possui capacidade de escolher Cristo e Sua obra sal­
vadora. Para que o homem seja salvo, é necessário que Deus atue 
com sua graça irresistível e o regenere.
As doutrinas soteriológicas de Agostinho foram formadas an­
tes e durante o embate da controvérsia pelagiana. Pelágio foi um 
austero monge e popular professor em Roma. Sua austeridade era 
puramente moralista, ao ponto de não conseguir conceber a ideia 
de que o homem não podia deixar de pecar.
Pelágio estava mais interessado na conduta cristã e queria me­
lhorar as condições morais de sua comunidade. Sua ênfase parti­
cular recaía na pureza pessoal e na abstinência da corrupção e da 
frivolidade do mundo, resvalando no ascetismo.1
Ele negava a ênfase de Tertuliano ao pecado original, sob a 
argumentação de que o pecado é meramente voluntário e indivi­
dual, não podendo ser transmitido ou herdado. Para ele, crer no 
pecado original era minar a responsabilidade pessoal do homem. 
Ele não concebia a ideia de que o pecado de Adão tivesse afetado 
as almas e nem os corpos de seus descendentes. Assim como 
Adão, todo homem, segundo o pensamento pelagiano, é criador 
de seu próprio caráter e determinador de seu próprio destino.2
No entendimento pelagiano, o homem não possui uma ten­
dência intrínseca para o mal e tampouco herda essa propensão de 
Adão, podendo, caso queira, observar os mandamentos divinos 
sem pecar. Ele achava injusto da parte de Deus que a humanidade 
herdasse a culpa de outrem e desta forma negava a doutrina do 
pecado original.
Desta forma, Pelágio passou a ensinar uma doutrina exage- 
radamente antropocêntrica e focada no livre-arbítrio, ensinando
1. MCGIFFERT, Arhur Cushman. A History o f Christian Thought, Volume 2. 
Charles Scribner’s Sons, 1953, p. 125.
2. Ibid, p. 126.
16
Vinicius Couto
que, ao criar o homem, Deus não o sujeitou como fizera com as 
outras criaturas, mas “deu-lhe o privilégio singular de ser capaz de 
cumprir a vontade divina por sua própria escolha”3.
Como Pelágio baseava suas teorias em uma abordagem mora­
lista, entendia que a desobediência do homem vinha do exemplo e 
dos costumes observados ao redor, podendo pela própria força, al­
cançar a perfeição mediante grande esforço de sua própria vontade.
Em contrapartida, Agostinho sustentava que Adão fora criado 
em um estado original de retidão e perfeição e estaria, em seu 
estado original, isento de males físicos, dotado de alta intelectua­
lidade, bem como num estado de justificação, iluminação e bem 
aventurança inigualáveis, além de ter a inclinação de sua vontade 
para a virtude.4
A gravidade do pecado de Adão foi tal, que a consequência 
foi uma tragédia para a humanidade, a qual se tornou uma massa 
de pecado (massa damnata), isto é, um antro pecaminoso e pro­
pagador de pecadores. As bases agostinianas para a doutrina do 
pecado original se encontravam em passagens como SI 51; Ef 2.3; 
Rm 5.12 e jo 3.3-5.
Uma vez que o homem havia cedido ao pecado, a natureza hu­
mana foi afetada obscuramente pelas consequências do mesmo, 
tornando-se desordenada e propensa para o mal.Sendo assim, 
sem “a ajuda de Deus é impossível, pelo livre-arbítrio, vencer as 
tentações desta vida”.5 Essa ajuda divina para escolher o certo, ou 
retornar para Deus, era Sua graça, a qual Agostinho define como 
“um poder interno e secreto, maravilhoso e inefável”6 operado por 
Deus nos corações dos homens.
Para Agostinho, a graça divina antevê e provoca cada impul­
so na vontade do homem. Essa graça é expressão da soberania 
de Deus, não podendo ser resistida. Para explicar o antagonismo 
da irresistibilidade frente ao livre-arbítrio, o Bispo de Hipona diz
3. KELLY, J. N. D. Patrística: Origem e desenvolvimento das doutrinas centrais da 
fé cristã. Vida Nova, 1994, p. 270.
4. AGOSTINHO, Aurélio. De civitate Dei 14.11.
5. AGOSTINHO, Aurélio. Enarrationes in Psalmos 89.4.
6. AGOSTINHO, Aurélio. De gratía Christi et Peccatum Originale 1.25.
17
Introdução à Teologia Arminio-Wesleyana
que a liberdade do homem é baseada nas motivações. Sendo as 
decisões do homem, portanto, um fruto do meio, o homem não 
regenerado que vive em uma atmosfera de concupiscência esco­
lherá o mal. A graça divina, porém, cura o homem e restaura seu 
livre-arbítrio, substituindo seu sistema de escolhas.7
1.2 Outros referenciais históricos
A questão do livre arbítrio é um tema que sempre teve seu 
espaço na teologia, fosse na antiguidade clássica, na era patroló- 
gica ou na contemporaneidade. Normalmente no embate predes­
tinação x livre-arbítrio, o nome mais lembrado é o do eminente 
teólogo supracitado, Agostinho, cuja notoriedade contra a contro­
vérsia de Pelágio é consabida, entretanto, outros nomes também 
são dignos de consideração.
Justino Mártir (100-165) dizia que, embora não tenhamos tido 
escolha alguma no nascimento, em virtude dos poderes racionais 
que Deus nos deu, podemos escolher viver ou não de modo acei­
tável a Ele, não havendo desculpas quando agimos erroneamente. 
Ele dizia, ainda, baseado na pré-ciência divina que, Deus não pre­
determina as ações dos homens, mas prevê como irão agir por sua 
própria vontade, podendo inclusive, anunciar antecipadamente 
esses atos.8 Concordavam com a livre escolha do homem os apo­
logistas Atenágoras (133-190), Teófilo (-186) e Taciano (120-180).
Vale a pena comentar a opinião de Tertuliano (160-220). Ele 
cria que o homem é como um ramo cortado do tronco original de 
Adão e plantado como uma árvore independente. Sendo assim, o 
homem herdou através da transgressão de Adão a tendência ao 
pecado. Como resultado do pecado de Adão, carregamos mácula e 
impureza. Apesar disso, o homem detém livre-arbítrio e é respon­
sável por seus próprios atos.9
7. AGOSTINHO, Aurélio. De gratia et libero arbítrio liber 31 \De Spiritu et Littera 52.
8. KELLY, J. N. D. Op. Cit., p. 125.
9. Ibid, p. 131.
18
Vinícius Couto
Muitas controvérsias em torno do livre-arbítrio se deram por 
equívocos exegéticos. Clemente de Alexandria (150-215), negava 
o pecado original baseado, por exemplo, em Jó 1.21. Segundo ele, 
a declaração de que Jó havia saído nu do ventre de sua mãe, deixa­
va implícito que as crianças entram no mundo sem pecado. Essa 
má interpretação e ênfase exagerada no livre-arbítrio, levava-o a 
professar que “Deus deseja que sejamos salvos por nossos pró­
prios esforços”.10
Outros esforços na defesa do livre-arbítrio também se deram 
nas disputas contra os maniqueístas. Estes questionavam a be­
nevolência de Deus e lhe outorgavam a autoria do pecado. Se o 
homem herda de Adão a culpa e o pecado, não possuímos poder 
de escolha. Logo, raciocinavam eles, Deus é o autor do mal. Contra 
esses argumentos, levantaram-se homens como Cirilo de Jeusa- 
lém (313-386), Gregório de Nissa (330-395), Gregório de Nazianzo 
(329-389) e João Crisóstomo (347-407). Infelizmente, eles acaba­
ram negando o pecado original afirmando que crianças recém- 
-nascidas estão isentas de pecado, embora cressem que a raça 
humana foi afetada pelo pecado de Adão.11
O entendimento sobre o livre-arbítrio foi sendo amadurecido. 
No século V, por exemplo, temos na expressão de Teodorete (393- 
466), o pensamento de que, embora o homem necessite da graça 
divina e sem esta é impossível dar um só passo na “senda que 
conduz à virtude, a vontade humana tem de colaborar com tal gra­
ça”, pois existe a necessidade de um sinergismo “tanto de nossos 
esforços quanto da assistência divina. A graça do Espírito não é as­
segurada àqueles que não fazem esforço algum” ao mesmo tempo 
que “sem essa graça é impossível que nossos esforços recebam a 
recompensa da virtude”.12
À semelhança de Teodorete, Teodoro de Mopsuéstia (350-428) 
dizia que o livre-arbítrio pertence a seres racionais. Na opinião
10. íbid, p. 134.
11. Ibid, p. 263-264.
12. Ibid, p. 283.
19
Introdução à Teologia Armínio-Wesleyana
dele, todos os homens possuem conhecimento do bem o tempo 
todo, bem como capacidade de escolher entre o certo e o errado.
Ele não negava os efeitos da queda na humanidade e dizia que 
os homens possuem propensão definida para o pecado e que se 
for para o homem passar deste13 estado caído para a vida bendita 
reservada por Deus é necessária a operação graciosa da dádiva j 
divina no homem.
Saltando oito séculos, chegamos a outra pessoa que deu sua 
enorme contribuição à doutrina do livre-arbítrio: Tomás de Aquino 
(1225-1274). Ele dizia que “em cada ser intelectual há vontade, 
assim como em cada intelecto”.14 Seu conceito sobre vontade é de 
que esta é um poder para atrair ou afastar aquilo que é apreendi­
do pelo intelecto.15 Apesar de Deus mover a vontade, “já que ele 
move todo tipo de coisa de acordo com a natureza da coisa mo­
vida... ele também move a vontade de acordo com sua condição, 
como indeterminadamente disposta a várias coisas, não de forma 
necessária”.16
Feser explica a posição Aquiniana fazendo a seguinte analogia: 
quando escolhemos tomar café ao invés de chá, poderiamos fazer 
diferente. A cafeteira, por sua vez não pode mudar sua função 
sozinha. Isto é assim porque nossa vontade foi a causa de tomar­
mos café, enquanto que algo fora da cafeteira (programações de 
instruções, corrente elétrica fluindo para ela da tomada na pare­
de, as leis da física, etc) foi a causa de seu comportamento. Deus 
causa os dois eventos de uma maneira consistente com tudo isto, 
ou seja, enquanto que ao causar sua livre escolha ele causa algo 
que opera independentemente do que acontece no mundo à sua 
volta. Ele conclui dizendo que, embora seja Deus a causa última 
da vontade e da ordem causai natural, Ele não mina a liberdade 
do homem, mas a faz possível no sentido que assim como nas 
causas naturais, se escolhas livres não fossem causadas por Deus, 
elas nem poderíam existir.17
13. Ibid, p. 283.
14. AQUINO, Tomás de. Suma Teológica 1.19.1.
15. AQUINO, Tomás de. Suma Contra Gentios IV. 19.
16. AQUINO, Tomás de. Questões disputadas sobre o mal 6.
1 7. FESER, Edward. Aquinas, a Begginefs Guide. One World, 2009, pp. 150-1 51.
20
Vinícius Couto
1 .3 A influência calvinista
Na Idade Média as pessoas procuravam, muitas das vezes, uma 
solução eterna baseada em um documento assinado pelo pontífi­
ce da igreja romana. Essas indulgências prometiam efetuar um 
pagamento mais completo da dívida que o pecador deve a Deus e 
amenizar as exigências futuras em um suposto purgatório.18
Nessas condições decadentes da teologia medieval romana, 
emergiu a Reforma Protestante e doutrinas como Sola Fide, Sola 
Scriptura, Solus Christus, Sola Gratia e Soli Deo Gloria19 foram ver- 
beradas com veemência.
A proposta do presente livro é entendermos melhor acerca do 
que conhecemos como arminianismo. Entretanto, não há possibi­
lidade de falar de Armínio sem comentarmos de Calvino.
Quando Lutero afixou as 95 teses na porta da igreja no castelo 
de Wittenberg, Calvino tinha oito anos de idade. Natural de Picar­
dia, na França, Calvino nasceuem 1509 e morreu em 1564 e foi 
sem sombra de dúvidas, um proeminente teólogo protestante e 
líder eclesiástico, dono de uma mente brilhante.
Ele recebeu grau de mestre em teologia no início do ano de 
1528, mas a pedido de seu pai deu inicio ao estudo de Direito, em 
Orleans. Com a morte de seu pai em 1531, Calvino pôde retornar 
às suas preferências teológicas e dedicou-se ao estudo das línguas 
grego, hebraico e latim.
Vendo dificuldade para que houvesse reforma em Paris, Calvi­
no mudou-se para Basel, na Suíça. Lá, ele escreveu e publicou suas 
institutas no ano de 1536. Em seus comentários sobre os salmos, 
ele contou ter passado pelo o que ele mesmo denominou de “sú­
bita conversão”, dizendo que outrora estava “teimosamente preso 
às superstições do papado” e que não era possível desvencilhar-se
18. SWEENEY, Charles, lndulgences. Enciclopédia do site newadvent.org. Dispo­
nível em: http://www.newadvent.org/cathen/07783a.htm. Acesso em 04/04/2013 
às 16:46.
19. Os cinco solas foram expressões surgidas durante a Reforma Protestante e 
significam, respectivamente, somente a fé, somente as Escrituras, somente Cris­
to, somente a graça e somente a Deus a Glória. As frases, que foram escritas em 
latim, sintetizam os rudimentos fundamentais dos reformadores.
21
Introdução à Teologia Arminio-Wesleyana
desse profundo lamaçal, mas que Deus havia subjugado seu cora­
ção da obstinação de sua idade para a docilidade e conhecimento 
da verdadeira piedade, mediante Sua providência secreta,20
Outros reformadores desenvolveram pensamentos que, uni­
dos com os de Calvino, formaram uma tradição que é chamada de 
Reformada. Dentre esses teólogos reformadores, podemos citar 
Martin Bucer, Heinrich Bullinger e Ulrico Zwinglio. Essa escola de 
pensamento é também chamada de Calvinismo.
1.4 Jacó Armínio
Armínio foi um teólogo holandês, nascido em Oudewater 
(1560 - 1609). Ele estudou entre os anos de 1576 e 1582 na Uni­
versidade de Leiden, na Holanda, onde posteriormente foi profes­
sor desde 1603 até sua morte.
Johann Kolmann, um de seus professores de teologia nesse 
período, acreditava e ensinava que o alto calvinismo tornava Deus 
um tirano e carrasco, o que certamente influenciou as idéias de 
Armínio. Em 1582, começou a estudar em Genebra e teve como 
um de seus mestres o reformador Teodoro Beza, sucessor de Calvi­
no. Em 1588 foi ordenado e pastoreou uma igreja em Amsterdã.21
Segundo o Novo Dicionário Internacional da Igreja Cristã, 
quando Calvino morreu, “toda a responsabilidade (...) recaiu so­
bre Beza. Beza era chefe da Academia [de Genebra] e professor, 
presidente do Conselho dos Pastores, uma influência poderosa so­
bre os magistrados de Genebra e porta-voz e defensor da posição 
protestante reformada”.22
O que sabemos é que Arminio discordou das doutrinas de Cal­
vino, baseado em duas argumentações: 1) a predestinação tal qual 
no entendimento calvinista, tende a fazer de Deus o autor do pe­
cado, por ter Ele escolhido, na eternidade passada, quem seria ou
20. CALVINO, João. Comentário de Salmos. Volume I. Fiel, 2009, p. 32.
21. CHAMPLIN, R. N.; BENTES, J. M. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia, 
volume 1. Candeia, 1991. p. 288.
22. SCHNUCKER, Robert. Theodore Beza, in: The new intemational dictionary of 
the Christianchurch. Grand Rapids, Zondervan, 1974, p. 126.
22
Vinícius Couto
não salvo, e 2) o livre-arbítrio do ser humano é negado no ensino 
de uma graça coercitivamente irresistível.23
A teologia arminiana, tal como conhecemos, não foi totalmen­
te sistematizada durante a vida de Armínio. Após a sua morte, 
seus discípulos (pouco mais de quarenta pregadores) cristalizaram 
suas idéias em um panfleto o qual continha resumidamente, cinco 
pontos que rejeitavam o rígido calvinismo, intitulado Remonstran- 
ce (protesto), publicando-o no dia 19 de outubro de 1609, expon­
do assim, a posição arminiana.24
1 .5 O Sínodo de Dort
Esse protesto (remonstrãncia), ganhou o apoio de estadistas e 
líderes políticos holandeses que tinham ajudado a libertar os Paí­
ses Baixos da Espanha. Os opositores do movimento remonstran- 
te acusaram-nos de apoiar secretamente os jesuítas e a teologia 
católica romana e de simpatizar com a Espanha, embora não haja 
nenhuma evidência de culpa por parte dos que protestavam em 
relação a essas acusações políticas.
Desde então, houve muita confusão em várias cidades holan­
desas: sermões eram pregados contra os remonstrantes, panfletos 
eram espalhados a fim de difamá-los como hereges e traidores, 
pessoas foram presas por pensarem contra o alto calvinismo e 
um sínodo nacional de teólogos e pregadores foi realizado para 
regular tais controvérsias entre as idéias paradoxais calvinismo x 
arminianismo.
A primeira reunião do sínodo foi realizada em 13 de Novem­
bro de 1618 e a última (154a) em 9 de Maio de 1619, contando 
com a presença de mais de cem delegados, inclusive alguns da In­
glaterra, da Escócia, da França e da Suíça. O nome “Dort” é usado 
em função do idioma inglês, como que transliterandoo nome da 
cidade holandesa de Dordrecht.
23. HORTON, Stanley (Org.). Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal. 
CPAD, 1996, pp. 54-55.
24. Infelizmente, não possuímos muito material arminiano em idioma portu­
guês. Para maiores informações biográficas sobre Armínio consultar BANGS, 
Carl. Arminius: a study in the Dutch reformation. Grand Rapids, Zondervan, 1985.
23
Introdução à Teologia Armínio-Wesleyana
Na conclusão do sínodo, os remonstrantes foram condenados 
como hereges. Pelo menos duzentos foram depostos do ministério 
da igreja e do estado e cerca de oitenta foram exilados ou presos. 
Um deles, o presbítero, estadista e filósofo Hugo Grotius (1583- 
1645), foi confinado em uma masmorra da qual posteriormente 
conseguiu escapar. Outro estadista foi publicamente decapitado.
Neste sínodo, as idéias arminianas foram, portanto, rejeitadas 
e a doutrina reformada estabelecida em seus cinco pontos, que 
formam o acróstico do inglês TUL1P, a saber: 1) depravação total 
(Total depravity), 2) eleição incondicional (Unconditional election), 
3) expiação limitada (Limited atonement), 4) graça irresistível (Ir- 
resistible grace) e 5) perseverança dos santos (Perseverance of the 
saints). Os pontos remonstrantes vão de encontro aos pontos cal- 
vinistas: 1) depravação total, 2) eleição condicional, 3) expiação 
ilimitada, 4) graça preveniente e 5) perseverança condicional.
1.6 Mitos sobre o arminianismo
Como podemos perceber, as idéias arminianas possuem uma 
disparidade considerável com o sistema calvinista. Sobre isso, 
Wyncoop declara que, a linha divisória entre estas duas tradições 
cristãs repousa sobre teorias opostas acerca da predestinação. Ela 
é a encruzilhada entre a soberania de Deus e a responsabilidade 
do homem, o pecado e a graça, a justificação e a santificação, a fé 
humana e a obra do Espírito Santo.25
Um dos principais mitos sobre o arminianismo, é que este tem 
sido acusado erroneamente de ser uma doutrina semipelagiana 
por parte de alguns eminentes teólogos calvinistas. Esta antiga 
heresia é oriunda dos ensinos dos massilianos, liderados principal­
mente por João Cassiano (433 d.C), o qual tentou construir um elo 
entre o Pelagianismo, que negava o pecado original, e Agostinho, 
que defendia a eleição incondicional sobre o fundamento de que 
todos os homens nascem espiritualmente mortos e culpados do
25. WYNKOOP, Mildred Bangs. Fundamentos da Teologia Arminio Wesleyana. 
Casa Publicadora Nazarena, 2004, p. 17.
24
Vinícius Couto
pecado de Adão. Cassiano acreditava que as pessoas são capazes 
de se voltarem para Deus mesmo à parte de qualquer infusão da 
graça sobrenatural. Isto foi condenado pelo Segundo Concilio de 
Orange no ano de 529.26
O teólogo nazareno H. Orton Wiley mostra que o sistema 
semipelagiano sustentava,erroneamente, que “restou poder su­
ficiente na vontade depravada para dar o primeiro passo em dire­
ção à salvação, mas não o suficiente para completá-la”. Ele conclui 
mostrando que esse pensamento é equivocado e que o homem 
por si só não tem condições de se achegar a Deus, mas que “isso 
deve ser feito pela graça divina.”27 Essa é a graça preveniente que 
antecede, prepara e capacita o homem para “converter-se do pe­
cado para a retidão, a crer em Jesus Cristo para perdão e purifica­
ção dos pecados e a praticar obras agradáveis e aceitáveis”28, pois 
os seres humanos, pela queda de Adão “se tornaram depravados, 
de maneira que agora não são capazes de se voltar e se reabilitar 
pelas suas próprias forças e obras, e, desta forma, renovar a fé e a 
comunhão com Deus”.29
Um dos principais eruditos arminianos da atualidade, o Dr. Ro- 
ger Olson, em uma defesa à centralidade da doutrina arminiana 
em Deus e não no homem como dizem certos calvinistas, comen­
ta que esses críticos normalmente de baseiam em três argumen­
tos: 1) que o Arminianismo foca demais na bondade e capacidade 
humana, especialmente no campo da redenção, 2) que limita a 
Deus ao sugerir que a vontade de Deus pode ser frustrada pelas 
decisões e ações humanas e 3) que coloca demasiada ênfase na 
realização e felicidade humana em negligência ao propósito de 
Deus que é glorificar a si mesmo em todas as coisas.
Olson argumenta sua defesa de forma bastante contundente 
nesse artigo e comenta que “muito raramente os críticos mencio­
nam algum teólogo arminiano ou citam do próprio Armínio para 
apoiar essas acusações” e que a maioria desses críticos desco­
26. KELLY, J. N. D. Op. Cit., pp. 289-291.
27. WILEY, H. Orton. Christian Theology. Beacon Hili Press, 1941. p. 103.
28. Manual da Igreja do Nazareno, p. 29
29. Ibid. p. 28
25
Introdução à Teologia Armínio-Wesleyana
nhece o arminianismo clássico, tendo portanto, um entendimento 
preconcebido e consequentemente superficial do assunto.30
Em contrapartida, o pensamento calvinista é concebido pelos 
arminianos como um sistema que acaba por fazer do decreto di­
vino a causa primeira da salvação, ao passo que a morte de Cristo 
torna-se causa secundária e subsidiária, não sendo absolutamente 
essencial para a salvação, mas um elo de uma corrente predeter­
minada de eventos.31
1.7 Considerações finais
Nossa percepção não é diferente: muitos são os que ainda não 
compreenderam e não conheceram a doutrina da salvação segun­
do a ótica arminiana e infelizmente, alguns irmãos não consegui­
ram abrir a cabeça para gozarmos uma verdadeira unidade na 
diversidade.32
Apesar das diferenças, ambas as posições possuem verdades 
essenciais que podem e devem nos unir em Cristo. Identificamo- 
-nos com certa linha teológica e a defendemos, todavia, isso não 
pode criar partidarismo, ao ponto de dizermos “eu sou de Paulo; 
ou, eu de Apoio; ou eu sou de Cefas; (ou, eu de Armínio; ou, eu de 
Calvino;) ou, eu de Cristo. Será que Cristo está dividido? Foi Paulo 
crucificado por amor de vós? Ou fostes vós batizados em nome de 
Paulo?” (1 Co 1.12,13 - paráfrase minha).
John Wesley dizia que “é dever de todo pregador arminiano, 
primeiro: jamais, nem em público, nem em particular, usar a pa­
lavra calvinista em deboche”.33 Para ele, a norma de um metodista 
não estava em distinguir cristãos de cristãos, mas em distinguir-se
30. OLSON, Roger. Arminianism is God-centered theology. Disponível em: < http:// 
www.patheos.com/blogs/rogereolson/2010/ll/arminianism-is-god-centered-the- 
ology/ > . Acesso em 05/04/2013.
31. WYNKOOP, Mildred Bangs . Op. Cit., p. 33.
32. Para um estudo mais aprofundado sobre a doutrina arminiana, ver a recém- 
-traduzida obra de Olson, na qual ele trata de desmitificar pelo menos dez pressu­
postos equivocados acerca do pensamento de Armínio: OLSON, Roger. Teologia 
Arminiana: Mitos e Realidades. Editora Reflexão, 2013.
33. WESLEY, John. What is an arminian?, Sermões
26
Vinicius Couto
cristãos de não conversos: “É teu coração reto como o meu? Não 
te pergunto mais. Se for assim, dá-me a mão. Por opiniões ou ter­
mos, esforcemo-nos juntos pela fé do evangelho”.34
O Dr. Augustus Nicodemus, célebre teólogo brasileiro do pen­
samento reformado, confirma que temos pontos em comuns di­
zendo que, “os arminianos e os calvinistas concordam que Deus 
tem um plano, que ele controla a história, que não existe acaso e 
que Ele conhece o futuro. Ambos aceitam a Bíblia como Palavra de 
Deus e querem se guiar por ela”.35
Que possamos, como Igreja, cumprir a missão que nos foi 
ordenada, afinal, fomos todos “eleitos segundo a presciência de 
Deus Pai, na santificação do Espírito, para a obediência e aspersão 
do sangue de Jesus Cristo” (1 Pe 1.2).
34. WESLEY, John. The Character of a Methodist, Sermões.
35. NICODEMUS, Augustus. Paganismo versus Cristianismo - Acaso ou Desígnio 
Divino? Revista Defesa da Fé. Ano 12, n° 89 - Janeiro/Fevereiro de 2011, p.55.
27
CAPÍTULO 02 
Eleição condicional
A discussão teológica acerca dos pontos calvinistas e arminia- 
nos não se limitam à predestinação e ao livre-arbítrio. Na verdade, 
esses dois pressupostos são parte de dois sistemas soteriológicos 
que se opõe em praticamente todos seus quesitos.
O calvinismo, por exemplo, tem esse seu sistema montado 
num raciocínio lógico, conhecido pelo acróstico, do inglês, TU- 
LIP, a saber: Total depravity (Depravação total), Unconditional 
election (Eleição incondicional), Limited atonement (Expiação li­
mitada), lrresistible grace (Graça irresistível) e Perseverance o f the 
saints (Perseverança dos santos).
Esses pontos foram respostas aos artigos dos remonstrantes, 
seguidores de Armínio, que protestaram as idéias calvinistas base­
ados em cinco observações, as quais podemos resumir da seguin­
te forma: 1) depravação total, 2) eleição condicional, 3) expiação 
ilimitada, 4) graça preveniente e 5) perseverança condicional.
Nosso propósito é estudar cada um dos axiomas soteriológicos 
supracitados, segundo a ótica arminiana. Para isso, dividiremos, 
doravante, nosso estudo em cinco etapas, a fim de abordar com 
maior precisão cada um desses pontos. Ademais, optaremos por 
seguir nosso raciocínio na mesma ordem dos artigos da remonst- 
rância, visando um aproveitamento mais didático.
2.1 Artigo I - Remonstrância
“Que Deus, por um eterno e imutável plano em Jesus Cristo, 
seu Filho, antes que fossem postos os fundamentos do mundo,
28
Vinicius Couto
determinou salvar, de entre a raça humana que tinha caído no 
pecado - em Cristo, por causa de Cristo e através de Cristo - aque­
les que, pela graça do Santo Espírito, crerem neste seu Filho e 
que, pela mesma graça, perseverarem na mesma fé e obediência 
de fé até o fim; e, por outro lado, deixar sob o pecado e a ira os 
contumazes e descrentes, condenando-os como alheios a Cristo, 
segundo a palavra do Evangelho dejo 3.36 e outras passagens da 
Escritura.”
2.2 A predestinação
Para o sistema calvinista alcançar sua lógica, ele tem seu pon­
tapé inicial nos decretos divinos, através dos quais a predestinação 
encontra-se subordinada. Best, teólogo calvinista, define decreto 
como “uma determinação ou ordem de alguém que tem autoridade 
suprema”. Ele reforça, ainda, que “o propósito de Deus está funda­
mentado na soberania absoluta, ordenado pela sabedoria infinita, 
ratificado pela onipotência e cimentado pela imutabilidade”.36
Strong conceitua os decretos divinos como “o plano eterno 
pelo qual Deus tornou certos todos os eventos do universo, passa­
dos, presentes e futuros”.37 Charles Hodge complementa dizendo 
que, tais decretos são eternos, imutáveis, livres, infalivelmente efi­
cazes e relacionam-se com todos os acontecimentos, podendo ser 
reduzidos a um propósito divino, além de terem como objetivo 
central, glorificar a Deus.38
Historicamente, falando,Teodoro de Beza (1519-1605), bem 
como outros teólogos reformados, começaram a especular sobre a 
“ordem dos decretos divinos” 39 Embora esses decretos fossem si­
multâneos e eternos (pois Deus não está limitado ao passado, pre­
sente ou futuro, estando todas as coisas eternamente presentes no
36. BEST, W.E.. Definition of God’s Decree. In:_____ . Cod’s Eternal Decree. WE
Best Book Missionary Trust, 1992.
37. STRONG, A. H. Teologia Sistemática. 2007, Hagnos, p. 61 7.
38. HODGE, Charles. Teologia Sistemática. 2001, Hagnos, pp. 399-405.
39. OLSON, Roger. História da Teologia Cristã: 2000 anos de tradição e reformas. 
2001, Vida, p. 468.
29
Introdução à Teologia Arminio-Wesleyana
plano espiritual), qual seria a ordem deles? Teria Deus decretado 
primeiramente a criação do mundo ou a dupla predestinação?
Através destas conjecturações, outros pontos calvinistas pas­
saram a ser deduzidos, através do uso da lógica: se Deus decretou 
os eleitos e os répobros (antes, durante ou depois da fundação do 
mundo), então não faria sentido que Cristo morresse pelos repro­
vados; os eleitos, por sua vez, não teriam condições de resistirem 
à graça de Deus, visto que já foram predestinados mediante os 
decretos eternos de Deus; Finalmente, alguém que já teve sua sal­
vação decretada desde a eternidade, como a perdería? Portanto, 
uma vez salvo, salvo para sempre.
A discussão sobre quando se sucedeu o decreto da predestina­
ção teve duas vertentes, cuja primeira é o supralapsarianismo, na 
qual “supra” se remete a algo prioritário e antecedente e “lapsa- 
rianismo” a um lapso ou queda. Portanto, o supralapsarianismo, 
trata-se de “alguma coisa antes da queda”, ou seja, a eleição como 
primeiro dos decretos de Deus.
Olson explica que, “teologicamente, o supralapsarismo é uma 
forma de ordenar os decretos divinos de tal maneira que a decisão 
e o decreto de Deus em relação à predestinação dos seres huma­
nos, ao céu ou ao inferno, antecede seus decretos de criar os seres 
humanos e permitir sua queda” ,40 cuja sequencia decretiva seria
1) a predestinação à salvação e ao castigo eterno, 2) a criação, 3) 
a permissão da queda, 4) o meio de salvação em Cristo e 5) a apli­
cação da salvação aos eleitos.
Outros calvinistas, entretanto, discordaram com essa ordem e 
conjecturaram os decretos em outra sequencia, perfazendo a segun­
da vertente lapsariana. Eles, por sua vez, ficaram conhecidos como 
infralapsarianistas. Segue-se o mesmo raciocínio: “infra” está para 
depois e “lapsarianismo” para a queda. Sendo assim, eles situaram 
o decreto da predestinação depois da queda de Adão.
A concepção dos decretos divinos sofre uma alteração cabal 
no entendimento dos teólogos arminianos. A diferença, entretan­
to, não se choca de imediato com as teorias lapsarianas e sim
40. Idem.
30
Vinícius Couto
com a relação entre a soberania de Deus e a responsabilidade do 
homem, conforme podemos constatar nas palavras de Russel E. 
joiner:
“Os decretos divinos são o seu plano eterno que, em virtude de 
suas características, faz parte de um só plano, que é imutável e 
eterno (Ef 3.11; Tg 1.1 7). São independentes e não podem ser 
condicionados de nenhuma maneira (Si 135.6). Têm a ver com 
as ações de Deus e não com a sua natureza (Rm 3.26). Dentro 
desses decretos, há as ações praticadas por Deus, pelas quais 
Ele, embora permita que aconteçam, não é responsável. Base­
ado nessa distinção, torna-se possível concluir que Deus nem é 
o autor do mal... nem é a causa do pecado.”41
Essa diferença é melhor explicada pelo teólogo metodista, Sa­
muel Wakefield. Ele descreve os decretos como sendo “os propó­
sitos de Deus ou Sua determinação com respeito a suas criaturas” 
e reconhece-os como sendo eternos, livres e imutáveis, mas faz 
uma distinção interessante: ele classifica os decretos em absolutos 
e condicionais. Os primeiros são aqueles que “se relacionam com 
os eventos da administração divina que não dependem das ações 
livres das criaturas morais”. Já os condicionais são “aqueles nos 
quais Deus respeita as ações livres de Suas criaturas morais”. Ele 
cita o arrependimento, a fé e a obediência como exemplos dessas 
condições para a salvação do homem.42
2.3 Objeções à predestinação
Solano Portela definiu a predestinação como sendo “o aspecto 
da pré-ordenação de Deus, através do qual a salvação do crente 
é considerada efetuada de acordo com a vontade de Deus, que
41. JOINER, Russell E.. O Deus Verdadeiro. In: Teologia Sistemática. HORTON, 
Stanley M. (org.). 1996, CPAD, p. 153.
42. WAKEFIELD Apud GARRETT, James Leo. Teologia Sistemática. 2000, Casa 
Bautista de Publicaciones, p.452.
31
Introdução à Teologia Armínio-Wesleyana
o chamou e o elegeu em Cristo, para a vida eterna, sendo a sua 
aceitação VOLUNTÁRIA, da pessoa e do sacrifício de Cristo, uma 
CONSEQUÊNCIA desta eleição e do trabalho do Espírito Santo, 
que efetiva esta eleição, tocando em seu coração e abrindo-lhe os 
olhos para as coisas espirituais”.43
Apesar do esforço de Portela em enfatizar a voluntariedade da 
aceitação do homem quanto à pessoa do salvador e Seu ato sal- 
vífico pelo pecador arrependido, e de salientar que esta aceitação 
trata-se de uma consequência da eleição, a doutrina da eleição in­
condicional continua a ser, em outras palavras, uma coercitividade 
divina operada através de uma graça supostamente irresistível - 
para não dizer imperativa - decretada desde a eternidade.
A doutrina da predestinação não é simplesmente “uma das 
mais difíceis de serem abordadas”,44 mas uma das mais distorci­
das biblicamente, pois acabapor fazer, como observa Wynkoop, 
do decreto divino a causa primeira da salvação, ao passo que a 
morte de Cristo torna-se causa secundária e subsidiária, não sen­
do absolutamente essencial para a salvação, mas um elo de uma 
corrente predeterminada de eventos.45 É como se o sacrifício de 
Cristo fosse um evento para cumprir tabela (decreto) e não um ato 
gracioso de um Deus cuja essência é o amor.
Muitas são as objeções sobre a doutrina da predestinação46 e 
vale a pena avaliar as principais observações, começando por Ar- 
mínio, que rejeitava o conceito supralapsarianista dos decretos de 
Deus por quatro razões:
1) Não era sustentado pelas Escrituras: os conceitos deter­
ministas do supralapsarianismo transformam Deus num tirano 
que faz acepção de pessoas. Esses conceitos estão mais pautados
43. PORTELA, Solano. Estudo Sobre a Predestinação. Disponível em: < http:// 
www.solanoportela.net/artigos/estudo_predestinacao.htm> Acesso em: 12 de 
Fevereiro de 2014.
44. Idem.
45. WYNCOOP, Mildred Bangs. Fundamentos da Teologia Arminio Wesleyana. 
2004, Casa Publicadora Nazarena, p. 33.
46. Para um estudo mais acurado sobre as objeções da doutrina da predestina­
ção, ver OLSON, Roger. Sim Para a Eleição; Não Para a Dupla Predestinação. In: 
 . Contra o Calvinismo. 2013, Editora Reflexão, pp. 159-210.
32
Vinícius Couto
numa teologia lógica e filosófica dos teólogos calvinistas, a quem 
Olson chama de calvinistas escolásticos,47 do que na própria Pala­
vra de Deus.
Em um de seus artigos, Armínio declarou que, “a regra da ver­
dade teológica não deve ser dividida em primária e secundária; é 
una e simples, as Sagradas Escrituras.” Para ele, “nenhum escrito 
composto por homens, seja um, alguns ou muitos indivíduos, à 
exceção das Sagradas Escrituras [...] está [...] isento de um exame 
a ser instituído pelas Escrituras”, pois elas “são a regra de toda a 
verdade divina, de si, em si e por si mesmas.” Portanto, “é tirania 
e papismo controlar a mente dos homens com escritos humanos 
e impedir que sejam legitimamente examinados, seja qual for o 
pretexto adotado para tal conduta tirânica.”48
2) Não havia sido apoiado por cristãos doutos e responsáveis 
durante mil e quinhentos anos e nunca fora aceito pela totalida­
de da Igreja: Wyncoopconta que, em 1589, um leigo instruído, 
chamado Koornheert, da Holanda, levantou uma “tormenta nos 
círculos teológicos por suas dissertações e escritos em refutação 
da teoria supralapsariana dos decretos divinos.”49 O argumento de 
Koornheert era que, o ensino supralapsariansta de Beza tornava 
Deus a causa e o autor do pecado. A exposição brilhante e polêmi­
ca de Koornheert atraía um número cada vez maior de ouvintes 
e chegou-se a temer que seu pensamento solapasse a estrutura 
total do calvinismo, bem como a estabilidade política dos Países 
Baixos. Parecia que nenhum ministro era capaz de refutá-lo e, por 
isso, Armínio foi incumbido desta tarefa. “É significativo que o 
tremendo descontentamento gerado com a posição de Calvino e 
Beza, tenha levado um leigo a fazer tal coisa”.50
Armínio começou, então, uma séria revisão da doutrina da 
predestinação, particularmente na Epístola aos Romanos. Concen­
trou-se no capítulo 9, baluarte calvinista de seu dogma. Porém,
47. OLSON, Roger. Op. Cit., pp. 466-470.
48. Ibid, p. 476.
49. WYNCOOP, Mildred Bangs. Op. Cit., p. 52.
50. Idem.
33
Introdução ã Teologia Armínio-Wesleyana
quanto mais se aprofundava Armínio, mais lhe convencia sua in­
vestigação de que o ensinamento de Paulo estava em oposição à 
classe de predestinação que Beza ensinava. Embora Armínio não 
tivesse abandonado sua crença na predestinação divina, em suas 
revisões, ele percebeu que os judeus criam que eles haviam sido 
divinamente predestinados para serem salvos e que nada pode­
ría mudar este ato. Todavia, a Epístola aos Romanos foi escrita 
exatamente para mostrar a distinção entre a histórica soberania 
absoluta e as condições da salvação pessoal, a qual sempre é pela 
fé, não por decretos.51
Armínio leu os escritos dos Pais da Igreja. Ele investigou e 
compilou evidências demonstrando que nenhum “Pai” fidedig­
no, isto é, digno de crédito, jamais havia ensinado os critérios de 
Beza. Ele constatou, ainda, que a dupla predestinação particular 
de Calvino jamais havia sido oficialmente aceita pela igreja. “Para 
sua surpresa, descobriu que o mesmo Agostinho, não só antes 
da controvérsia com Pelágio, como principalmente depois, havia 
ensinado a completa responsabilidade moral.”52
3) Deus se tornava o autor do pecado: Vejamos a seguir as 
próprias palavras de Armínio sobre esse questionamento:
“De todas as blasfêmias que podem proferir-se contra Deus, a 
mais ofensiva é aquela que O declara autor do pecado; o peso 
dessa imputação é aumentado seriamente se lhe agrega que, 
segundo essa perspectiva, Deus é o autor do pecado cometi­
do pela criatura, para poder condená-la e lançá-la à perdição 
eterna que lhe havia destinado para ela de antemão, sem ter 
relação com o pecado. Porque, desse modo, “Ele seria a cau­
sa da iniquidade do homem para poder infligir o sofrimento 
eterno”... Nada imputará tal blasfêmia a Deus, a quem todos 
concebem como bom... Não pode atribuir-se a nenhum dos 
doutores da Igreja Reformada, que eles “abertamente declarem 
Deus como autor do pecado”... No entanto, “é provável que al­
51. NICHOLS, James; NICHOLS, Willian (Trad.). The Works of James Arminius. 
1875, Thomas Baker, vol. 3, pp. 527ss.
52. WYNCOOP, Mildred Bangs. Op. Cit., p. 53.
34
Vinícius Couto
guém possa, por ignorância, ensinar algo do qual fora possível, 
como claro resultado, deduzir que, por essa doutrina, Deus per­
maneça declarado autor do pecado.” Se tal for o caso, então... 
(os doutores) devem ser admoestados a abandonar e desprezar 
a doutrina da qual se tem tirado tal inferência.”53
4) O decreto da eleição se aplicara ao homem ainda não cria­
do: objetivamente falando, se Deus tivesse decretado a eleição 
antes da queda do homem, então “a queda do homem tinha sido 
desejada por Ele”.54 Por isso Deus teria de ser o autor do pecado! 
Laurence Vance explica que, segundo esse sistema, “Deus primei­
ramente decidiu eleger alguns homens para o céu e reprovar os 
outros homens ao inferno, de forma que ao criá-los, ele os fez 
cair, usando Adão como um bode expiatório, de forma que pa­
recería que Deus foi gracioso ao enviar os ‘eleitos’ ao céu e justo 
ao enviar os ‘reprovados’ ao inferno.” Ele explica, ainda, que “a 
característica distintiva deste esquema é seu decreto positivo da 
reprovação. A reprovação é a condenação deliberada, preordena- 
da, predestinada de milhões de almas ao inferno como resultado 
do soberano beneplácito de Deus e conforme o ‘conselho da sua 
vontade”’55 (Ef 1.11).
2.4 Objeções de John Wesley
Outro grande expoente da tradição arminiana é John Wesley. 
Ele tinha a salvação da alma humana como tema central dos seus 
princípios doutrinários a respeito de Deus, e sendo assim, enten­
dia que, “a salvação pela graça através da fé não permite uma 
visão da soberania e da justiça de Deus que não condiga com a 
sua misericórdia e o seu amor.”56 Veremos que Wesley atacava a
53. NICHOLS, James; NICHOLS, Willian. Op. Cit., pp. 645-655.
54. BERKOUWER, G. C.. Divine Election. 1960, Eerdmans Publishing Co., p. 257.
55. VANCE, Laurence M.. Sistemas Lapsários. In :______. O Outro Lado do Calvi-
nismo. Material não publicado. Disponível em www.arminianismo.com.
56. BURTNER, Robert W.; CH1LES, Robert. E. (org.). Coletânea da Teologia de 
João Wesley. 1995, Colégio Episcopal, p. 41.
35
Introdução à Teologia Armínio-Wesleyana
doutrina eleição, visto que esse sistema apresenta uma divindade 
inconcebivelmente despótica, ao passo que as Escrituras revelam 
uma concepção de Deus em que o amor é o atributo dominante.
Em sua obra “A predestinação calmamente considerada”, 
Wesley faz uma análise da doutrina citada, baseada nos atributos 
divinos da sabedoria, justiça e misericórdia. No primeiro atributo, 
ele diz que na multiforme sabedoria de Deus, foram postos diante 
dos homens a vida e a morte, o bem e o mal e que forçar o ho­
mem a aceita-lo seria desrespeitar o livre-arbítrio.
Segundo Wesley, o desejo de Deus é que “todos os homens se­
jam salvos, mas não se querendo forçá-los a isso, querendo-se que 
todos os homens sejam salvos, mas não como árvores ou pedras, 
mas como homens, como criaturas inteligentes, dotadas de enten­
dimento para discernir o que é bom e de liberdade para aceitá-lo 
ou recusá-lo”, pois “o homem é, até certo ponto, um agente livre”. 
Deus quer “salvar o homem como homem”, não como uma pedra 
ou uma árvore, isto é, um ser sem inteligência, sem capacidade 
de raciocínio. Portanto, Deus coloca a vida e a morte perante o 
homem e então, sem o forçar, o persuade (convence) a escolher 
a vida.57
No tocante à justiça, Wesley argumenta que, “Se o homem é 
capaz de escolher entre o bem e o mal, ele se torna um objeto 
próprio da justiça de Deus que o absolve ou o condena, que o re­
compensa ou pune. Mas se ele não é, não se torna objeto daquela. 
Uma simples máquina não capaz de ser absolvida nem condena­
da. A justiça não pode punir uma pedra por cair ao chão, nem, no 
nosso plano, um homem por cair no pecado, ele não pode senti-la 
mais do que a pedra, se ele está, de antemão, condenado”. Feitas 
essas considerações, ele questiona e reponde ironicamente: “será 
este homem sentenciado a ir para o fogo eterno preparado para o 
diabo e os seus anjos por não fazer o que ele nunca foi capaz de 
evitar? ‘Sim, porque é a soberana vontade de Deus’”. “Então”, ele 
conclui, “ou temos achado um novo Deus ou temos feito um! Este 
não é o Deus dos cristãos”.58
57. Ibid, p. 46.
58. ibid. pp. 46-47.
36
Vinícius Couto
Finalmente, Wesley encerra sua argumentação se reportando 
à misericórdia divina e faz uma abordagem sarcástica da posição 
predestinista: “Assim Ele gloriosamente distribui o seu amor, su- 
pondo-se que esse amor recaia em uma dentre dez de suas criatu­
ras, (não podia eu dizer uma dentre cem?), e não se importe com 
as restantes, que as noventa e nove condenadaspereçam sem 
misericórdia; é suficiente para Ele amar e salvar a única eleita.” 
“Mas por que tem misericórdia apenas desta e deixa todas aque­
las para a inevitável destruição?”, ele questiona. A resposta de um 
calvinista, obviamente seria baseada na soberania de Deus: “Ele o 
faz porque o quer”.59
Wesley não concebia a ideia de que Deus agisse isoladamente 
através de Sua soberania, pois “na disposição do estado eterno 
dos homens, não somente a soberania, mas a justiça, a misericór­
dia e a verdade mantêm as rédeas.”60 Se o propósito de Deus em 
Seus decretos é glorificar a si mesmo, “qual seria o pronunciamen­
to da humanidade a respeito de um homem que procedesse desse 
modo? A respeito daquele que, sendo capaz de livrar milhões da 
morte apenas com um sopro de sua boca, se recusasse a salvar 
mais do que um dentre cem e dissesse: ‘Eu não faço porque não 
o quero’? Como exaltarmos a misericórdia de Deus se lhe atribuí­
mos tal procedimento?”.
Em sua obra, “Um pensamento sobre a necessidade”, Wesley 
levanta 7 razões pelas quais a doutrina da predestinação não faz 
sentido e a primeira delas é o questionamento clássico de todo 
aquele que se depara com tal doutrina. “Se existe a eleição, toda a 
pregação é vã. É desnecessária aos que são eleitos, pois, com ela 
ou sem ela eles serão infalivelmente salvos. Portanto, o fim da pre­
gação - salvar as almas - é destituído de sentido em relação a eles; 
e é inútil àqueles que não são eleitos, pois, possivelmente, não 
poderão ser salvos. Estes, quer com a pregação ou sem ela, serão 
infalivelmente condenados”,61 afinal já estão predestinados desde 
a eternidade pelos decretos divinos à salvação ou à danação.
59. Ibid, p. 47.
60. Ibid, p. 48.
61. Idem.
37
Introdução à Teologia Armínio-Wesleyana
2.5 A visão arminiana da eleição
Visto que seguimos o princípio Sola Scriptura, cremos, como 
arminianos, na doutrina da eleição, haja vista que, somos eleitos 
segundo a presciência de Deus Pai” (1 Pe 1.2). Obviamente que, 
não da mesma forma como os calvinistas, os quais pudemos ver, 
creem que Deus elegeu pessoalmente cada indivíduo que será sal­
vo ou condenado.
O arminianismo não nega a doutrina da predestinação, ape­
nas a interpreta de forma diferente. Enquanto o entendimento 
calvinista parte da escolha pessoal de Deus, em nosso sistema, 
cremos numa eleição corporativa, ou seja, de que Deus não esco­
lheu as pessoas, mas a Igreja. Não os israelitas, mas Israel. Não os 
salvos, mas a salvação. Não os redimidos, mas a redenção.
A predestinação foi definida por Armínio como o “decreto 
eterno e gracioso de Deus em Cristo, pelo qual ele determina jus­
tificar e adotar crentes, e os dotar com vida eterna, mas condenar 
os descrentes e impenitentes.” Contudo, “tal decreto, (...) não é 
que Deus resolve salvar certas pessoas e, para que Ele possa fazer 
isso, resolve dota-las com fé, mas que, para condenar outros, ele 
não os dota com fé”.62
O Dr. Wiley explica que, “a eleição difere da predestinação 
nisto, que a eleição implica uma escolha, enquanto a predestina­
ção não”. A predestinação, por sua vez, é conceituada por Wiley 
como “o propósito gracioso de Deus de salvar da ruína toda a 
humanidade”. Em outras palavras, trata-se do plano corporativo e 
condicional de Deus para toda a humanidade. Ele complementa 
o aspecto condicional da eleição, mostrando que, os eleitos são 
os escolhidos, “não por decreto absoluto, mas por aceitação das 
condições da chamada.”63
Como vimos no primeiro artigo da remonstrância, cremos no 
decreto de que Deus “por um eterno e imutável plano em jesus
62. ARMINIUS, James. A letter addressed to Hippolytus A. Collibus. In :------ .
Works of James Arminius. Volume 2, Christian Classics Ethereal Library, p. 331.
63. WILEY, Orton. Introdução à Teologia Cristã. 2009, Casa Nazarena de Publica­
ções, pp. 269, 270.
38
Vinícius Couto
Cristo, seu Filho, antes que fossem postos os fundamentos do 
mundo, determinou salvar, de entre a raça humana que tinha ca­
ído no pecado”. Todavia, esse plano de redenção é condicionado 
à fé daqueles que, “pela graça do Santo Espírito”, isto é, não por 
uma fé própria, mas gerada por Deus mediante sua graça preve- 
niente (cf Hb 12.2), “crerem neste seu Filho e que, pela mesma 
graça, perseverarem na mesma fé e obediência de fé até o fim”.
Em contrapartida, a condenação faz parte do plano de Deus 
que deixará “sob o pecado e a ira os contumazes e descrentes, 
condenando-os como alheios a Cristo, segundo a palavra do Evan­
gelho dejo 3.36 e outras passagens da Escritura.”
John Wesley classificou a eleição sob dois pontos de vista: um 
deles, específico, visando o cumprimento de determinado propó­
sito de Deus e outro macro ou corporativo, como são a salvação e 
a condenação:
“Creio que a eleição signifique comumente uma destas duas 
coisas: primeiro, um chamado divino para determinados ho­
mens para que realizem uma obra especial no mundo. Creio 
que esta eleição não seja pessoal, mas absoluta e incondicio­
nal. Deste modo, Ciro foi eleito para reconstruir o templo, S. 
Paulo e os doze para pregarem o evangelho. Mas não vejo nisto 
qualquer conexão necessária com a felicidade [eterna]. Certa­
mente não existe tal conexão, pois, aquele que é eleito neste 
sentido ainda poderá perder-se eternamente (...) Em segun­
do lugar, creio que esta eleição signifique um chamado divi­
no a certos homens à felicidade eterna. Mas creio que esta 
eleição seja condicional tanto quanto a condenação. Creio que 
o decreto eterno concernente a ambas esteja expresso nestas 
palavras: “Aquele que crê será salvo, aquele que não crê será 
condenado". Sem dúvida, Deus não pode mudar e o homem 
não pode resistir a este decreto. De acordo com isto, todos os 
verdadeiros crentes são chamados eleitos nas Escrituras e os 
descrentes são propriamente condenados, isto é, não aprova­
dos por Deus e sem discernimento das coisas espirituais.”64
64. BURTNER, Robert W.; CHILES, Robert. E. (org.). Op. Cit., pp. 51-52.
39
Introdução à Teologia Armínio-Wesleyana
Concluindo essa seção, podemos citar os teólogos metodistas 
Klaiber e Marquardt: “a vontade salvífica de Deus não abrange 
pessoas cuja reação ao Evangelho Deus sabe de antemão. Deus 
não predetermina, pois, para ele, o mais importante é a experiên­
cia com o caminho da salvação”.65
2.6 Considerações finais
Cremos nos decretos eternos de Deus e que em Sua presciên- 
cia predestinou o homem para a salvação, “porque os que dantes 
conheceu, também os predestinou para serem conformes à ima­
gem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos 
irmãos” (Rm 8.29).
Cremos, coadunando e complementando o pensamento an­
terior, que essa eleição foi corporativa, isto é, Ele elegeu a Igreja, 
visto que, “nos elegeu [a Igreja] nele antes da fundação do mundo, 
para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; e nos 
predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si 
mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade” (Ef 1.5).
E cremos que através da fé, operada no sinergismo entre a gra­
ça preveniente de Deus e o livre-arbítrio do homem, o ser humano 
é salvo, pois “aos que predestinou, a estes também chamou; e aos 
que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a es­
tes também glorificou” (Rm 8.30).
Todavia, nossa discussão está apenas começando. Será que 
é possível resistir ao chamado de Deus? Será que Jesus morreu 
apenas pelos salvos ou pela humanidade? Será que o homem têm 
livre-arbítrio ou livre agência? Será que o cristão, verdadeiramente 
convertido, pode cair da graça? Estes serão assuntos para nossos 
próximos capítulos. Até lá...
65. KLAIBER, Walter; MARQUARDT, Manfred. Viver a Graça de Deus: um compên­
dio de teologia metodista. 1999, Editeo, p. 238.
40
CAPÍTULO 03 
Expiação ilimitada
Vimos no capítulo anterior, uma exposiçãoa respeito da dou­
trina da eleição. Nela, pudemos constatar que, as posições armi- 
niana e calvinista, diferem-se drasticamente nos conceitos dos 
decretos de Deus e da predestinação. Para os calvinistas, Deus 
elegeu aqueles que serão salvos, antes da criação (supralapsaria- 
nismo) ou depois da queda do homem (infralapsarianismo). Os 
arminianos, entretanto, creem numa eleição corporativa, isto é, 
Deus escolheu e predestinou a Igreja e não os indivíduos. Trata-se 
de uma eleição com base em Sua presciência, ao passo que, para 
os calvinistas, com base em Sua Soberania.
.A discussão (não no sentido pejorativo da palavra) agora é 
outra: por quem Jesus morreu? Teria o nosso Redentor morrido 
apenas por aqueles que Ele escolheu desde a eternidade? Ou teria 
Cristo morrido por toda a humanidade, dando assim, a oportuni­
dade de salvação a todo aquele que crer? Se Ele morreu por toda 
a humanidade, quais seriam os efeitos dessa obra? Todos seriam 
salvos ou há condições? Nosso objetivo é analisar calmamente, 
embora não exaustivamente, a doutrina da expiação, de modo 
que essas perguntas e outras que surgirem no decorrer das análi­
ses, sejam respondidas à luz das Escrituras.
3.1 Artigo II - Remonstrância
“Que, em concordância com isso, Jesus Cristo, o Salvador do 
mundo, morreu por todos e cada um dos homens, de modo que
41
Introdução à Teologia Arminio-Wesleyana
obteve para todos, por sua morte na cruz, reconciliação e remis­
são dos pecados; contudo, de tal modo que ninguém é participan­
te desta remissão senão os crentes.”
3.2 O que é expiação
Antes de mais nada, é interessante definirmos “expiação”. 
Erickson definiu-a como sendo um “aspecto da obra de Cristo, e 
particularmente sua morte, que torna possível a restauração da co­
munhão entre indivíduos que creem em Deus”, além de se referir 
ao “cancelamento do pecado”.66
Rigsby diz que, a palavra expiar e seus derivados vêm de ki- 
pper (hb.), cujo significado é cobrir ou limpar. Já nos textos neotes- 
tamentários, a palavra “expiação” praticamente não aparece nas 
versões em português, senão em algumas versões católicas, na 
ARC, na ACF e na Bíblia Literal do Texto Tradicional Anotada de 
2009.67 Na maioria das vezes, as palavras gregas são derivações 
de hilaskomai e normalmente elas são traduzidas por “sacrifício”, 
“propiciação”, “propiciatório” e “reconciliação”.68 Pecota acrescen­
ta, ainda, que o grupo de palavras - tanto hebraicas, quanto gregas 
- para expiação, possui o sentido de “aplacar”, “pacificar , conci­
liar” ou “encobrir com um preço”, a fim de remover o pecado ou 
a ofensa da presença de alguém.69
O teólogo metodista do século XIX, Richard Watson, definiu 
expiação como sendo a “satisfação oferecida à justiça divina por 
meio da morte de Cristo pela humanidade, em virtude do qual 
todos os verdadeiros penitentes que creem em Cristo são pesso-
66. ERICKSON, Millard. Dicionário Popular de Teologia. 2011, Mundo Cristão, p. 77.
67. Na versão da CNBB encontramos em Rm 3.25; Hb 2.17; 9.5; 13.11 e 
em 1 Jo 2.2; 4.10; Na ARC (Almeida Revista e Corrigida), bem como na ACF 
(Almeida Corrigida Fiel), encontramos apenas em Hb 2.17; Finalmente, na 
versão da Bíblia literal do Texto Tradicional Anotada de 2009, encontramos 
somente em Rm 5.11.
68. RIGSBY, Richard. A Expiação. In: DOCKERY, David S.. Manual Bíblico Vida 
Nova. 2010, Vida Nova, p. 823.
69. PECOTA, Daniel. B.. A Obra Salvifica de Cristo. In: Teologia Sistemáti­
ca. HORTON, Stanley M. (org.). 1996, CPAD, pp. 352,353.
42
Vinícius Couto
alimente reconciliados com Deus, livrados de toda pena dos seus 
pecados e feitos merecedores da vida eterna”.70
Falando sobre a universalidade do sacrifício de Cristo, Thomas 
Summers, outro teólogo metodista do final do século XIX, disse 
que expiação “é aquela satisfação feita para com Deus pelos peca­
dos de toda humanidade, quer seja pelo pecado original ou pelos 
pecados atuais, pela mediação de Cristo e, especialmente pela Sua 
paixão e morte, de maneira que o perdão é gratuito a todos”.71
Arminianos e Calvinistas concordam com a ideia da depra- 
vação total e que, portanto, éramos por natureza filhos da ira (Ef 
2.3), não havendo um justo sequer (Rm 3.10,11).72 Sendo assim, 
somente o sacrifício de Cristo poderia abrandar ou aplacar a ira 
de Deus, reconciliando o Criador com a criatura. Desta forma, 
podemos concluir, como afirma Rigsby, que “a ideia que está por 
trás da palavra expiar é reconciliar”, pois “sem uma ação expia­
tória, a raça humana está separada de Deus”.73 Pelo menos nisso 
gozamos de unanimidade! A questão divergente entre os sistemas 
monergista e sinergista, no tocante à expiação, está na abrangên­
cia desta.
Para os calvinistas, ou melhor dizendo, para os calvinistas de 
cinco pontos,74 a expiação é de alcance limitado, isto é, somente
70. WATSON, Richard. Atonement. In :_____ . A Biblical and Theological Dic-
tionary. 1832, John Mason, p. 116.
71. SUMMERS, Thomas Osmond. A Complete Body ofWesleyan Arminian Divi- 
nity. 1888, Publishing House of the Methodist Episcopal Church, p. 258,259.
72. A doutrina da Depravação Total ainda será abordada no nosso quarto ca­
pítulo. Os conceitos são idênticos, mas alguns calvinistas acusam injustamen­
te os arminianos de crerem numa Depravação Parcial, o que está mais para o 
semi-pelagianismo, conforme teremos a oportunidade de abordar.
73. RISGBY, Richard. Op. Cit., p 823.
74. A abrangência da expiação divide a opinião nos círculos calvinistas. Al­
guns deles não aceitam a limitação do derramamento do Sangue de Cristo 
e negam o ponto da expiação limitada. Eles são chamados de calvinistas de 
quatro pontos e apelidados por alguns calvinistas de “calvinistas de Natal”, 
em função do trocadilho “Noel” (no L), do inglês, que quer dizer "sem o L” 
(o L do Limited Atonement - Expiação Limitada). Podemos citar como calvi­
nistas de 4 pontos, Richard Baxter, Moyse Amyraut, John Davenant, Norman 
Geisler, Charles C. Ryrie e Lewis Sperry Chafer, dentre outros.
43
Introdução à Teologia Armínio-Wesleyana
para os que foram predestinados para a salvação. Para os armi- 
nianos, é de caráter ilimitado, ou seja, Jesus morreu por toda a 
humanidade. É bom que entendamos o que se expressa em cada 
teologia no tocante a tal abrangência. Vejamos a seguir.
3.3 Expiação Limitada na Tradição Monergista75
A posição calvinista sobre a expiação limitada está delineada 
na Confissão de fé de Westminster:
“O Senhor jesus, pela sua perfeita obediência e pelo sacrifício 
de si mesmo, sacrifício que pelo Eterno Espírito, ele ofereceu 
a Deus uma só vez, satisfez plenamente à justiça do Pai e para 
todos aqueles que o Pai lhe deu adquiriu não só a reconciliação, 
como também uma herança perdurável no Reino dos Céus.”76
E no Catecismo de Heidelberg:
“Por que Cristo devia sofrer a morte? Porque a justiça e a verda­
de de Deus exigiam a morte do Filho de Deus; não houve outro 
meio de pagar nossos pecados.”77
Podemos citar, ainda, o Cânone de Dort, o qual descreve em 
seu segundo capítulo, nove artigos sobre a “morte de Cristo e a re­
denção humana através dela”. O primeiro artigo mostra que Deus 
não é apenas misericordioso, mas também “supremamente jus­
to”, sendo que sua justiça requer “que os pecados que cometemos 
contra sua infinita majestade sejam punidos com punições tanto 
temporais quanto eternas”. Não há possibilidade de escapar do 
juízo de Deus a menos que lhe seja dada uma satisfação (expiação).
75. Preferi utilizar a expressão “tradição monergista” porque acho injusto 
chamar o calvinismo de tradição reformada. Os arminianos creem nos mes­
mos princípios da Reforma Protestante (os 5 solas) e integram, sem sombra 
de dúvidas, a tradição reformada.
76. Confissão de Fé de Westminster. 2011, Cultura Cristã, cap. VIII, parágrafo V.
77. Catecismo de Heidelberg. Pergunta e Resposta 40.
44Vinicius Couto
Sendo assim, o segundo artigo mostra que, essa satisfação só é 
dada através de Cristo.
“A morte do Filho de Deus”, diz o terceiro artigo, “é sacrifício 
único e inteiramente completo, e satisfação pelos pecados; é de 
valor e merecimento infinitos, mais que suficiente para reconciliar 
os pecados de todo o mundo.” Embora pareça pender para a ex­
piação ilimitada, o quarto artigo continua o raciocínio do valor do 
sacrifício de Cristo, como sendo infinito, em virtude da natureza 
de quem era sacrificado: o Cristo unigênito de Deus - de mesma 
natureza e essência eterna e infinita com o Pai e o Espírito Santo - 
e verdadeira e perfeitamente homem, o qual sem pecado, morreu 
por nossos pecados.
O quinto artigo resvala a eleição condicional, quando diz que, 
“é promessa do evangelho que todo aquele que crer no Cristo cru­
cificado não perecerá, mas terá a vida eterna. Esta promessa, jun­
tamente com o mandamento de arrepender-se e crer, deve ser 
anunciada e declarada sem diferenciação ou discriminação a to­
das as nações e povos, a quem Deus em seu bom propósito enviar 
o evangelho”.
É, porém, a partir do sexto artigo que vemos mais claramente 
as idéias predestinistas. É tratado aqui do problema da responsa­
bilidade do homem. Verdadeiramente, o calvinismo não nega este 
fato, porém, o trata de uma forma maquiada, pois o próprio artigo 
propõe que o não arrependimento dos descrentes não se trata de 
insuficiência ou deficiência do sacrifício de Cristo, mas da própria 
falta dos ímpios,78 pois, conforme trata o sétimo artigo, somente 
eleitos desde a eternidade é que recebem o dom da fé. Ora, se 
Deus decretou desde a eternidade a reprovação daqueles, não se­
ria a responsabilidade divina ao invés de humana? Não foi Deus 
quem escolheu a quem daria a fé e a quem não daria?
Neste ponto consigo compreender o questionamento de John 
Wesley: “qual seria o pronunciamento da humanidade (...) a res-
78. Vale a pena ressaltar que, não queremos com isso, criar uma teologia cen­
trada no homem e nem mesmo coloca-lo como merecedor de alguma coisa. 
A não aceitação do Evangelho por parte dos impios é uma prova empírica 
de que, a graça pode ser resistida e, por isso mesmo é que Deus mantém a 
punição eterna a estes.
45
Introdução à Teologia Armínio-Wesleyana
peito daquele que, sendo capaz de livrar milhões da morte apenas 
com um sopro de sua boca, se recusasse a salvar mais do que um 
dentre cem e dissesse: ‘Eu não faço porque não o quero’? Como 
exaltarmos a misericórdia de Deus se lhe atribuímos tal procedi­
mento?”.79
O oitavo artigo propõe explicar a eficácia do sacrifício de Cristo:
“Porque este foi o plano soberano e o mui gracioso desejo e 
intenção de Deus o Pai: que a eficácia vivificante e salvífica da 
preciosa morte de seu Filho operasse em todos os escolhidos, 
de modo que pudesse conceder-lhes fé justificadora e por meio 
dela os guiasse infalivelmente à salvação. Em outras palavras, 
foi vontade de Deus que Cristo através do sangue na cruz (pelo 
qual ele confirmou a nova aliança) deveria efetivamente redi­
mir de todos os povos, tribos, nações, e línguas todos aqueles, 
e somente aqueles, que foram escolhidos desde a eternidade 
para salvação e que foram dados a ele pelo Pai...”
O capítulo termina com a consumação do plano de Deus, que 
não pôde, não pode e nunca poderá ser frustrado. O plano, se­
gundo o último artigo, provém “do eterno amor de Deus por seus 
escolhidos”, mas é difícil enxergar tal amor com as lentes armi- 
nianas, pois o critério dessa eleição vai de encontro com o cará­
ter amoroso de Deus. Se admitirmos essa eleição incondicional, 
teremos de admiti-la como uma acepção soberana de Deus das 
pessoas.
3.4 Compreendendo a Expiação Limitada
Sproul disse que “há muita confusão sobre o que a doutrina 
da expiação limitada realmente ensina” 80 Talvez, a pergunta cor­
reta para compreendermos tal doutrina, não seja “por quem Jesus
79. BURTNER, Robert W.; CH1LES, Robert. E. (org.). Coletânea da Teologia de 
João Wesley. 1995, Colégio Episcopal, p. 47.
80. SPROUL, R. C.. The Truth ojthe Cross. 2007, Reformation Trus: Publishing, 
p. 142.
46
Vinicius Couto
morreu?”, mas “por quê?”. Berkhof comenta que, a expiação foi 
destinada a cumprir três propósitos, a saber: “a afetar a relação de 
Deus com o pecador, o estado e a condição de Cristo como o Autor 
Mediatário da salvação, e o estado e a condição do pecador”.81
Com referência a Deus, não no sentido de sua natureza ou atri­
butos, visto que é imutável, mas na relação de Deus com as cria­
turas. Sua ira foi aplacada. Sobre isso, Berkhof diz que “a expiação 
não deve ser entendida como a causa motora do amor de Deus, 
pois já foi uma expressão do seu amor”. Com respeito a Cristo, 
a expiação assegurou “multiforme recompensa”. Foi “constituído 
Espírito vivificante, fonte inexaurível de todas as bênçãos da sal­
vação para os pecadores”. E, finalmente, no tocante aos homens, 
a expiação não apenas tornou a salvação possível, mas garantida 
“àqueles para os quais estava destinada”.
Todavia, preciso discordar dele, pois a sequencia dos decre­
tos de Deus, segundo a ótica calvinista, faz do plano da redenção 
o cumprimento de um elo predeterminado de uma corrente de 
eventos. Não consigo visualizar um plano de amor, mas um ato 
mecanicista e deliberadamente soberano. Para que essa “lógica ir­
resistível” - como diz Sproul, fazendo alusão a Lutero - faça senti­
do, é preciso que aceitemos que Deus tenha premeditado (predes­
tinação) a queda de Adão, ao invés de tê-la previsto (presciência), 
o que inevitavelmente tornaria Deus o autor do mal.
E a posição calvinista realmente não foge do raciocínio ante­
rior. De acordo com Driscoll e Breshears, “Deus escolheu certos 
indivíduos para serem recipientes da vida eterna unicamente com 
base em seu propósito gracioso”.82 Os calvinistas entendem por 
gracioso, o fato de que ninguém merece ser salvo. Visto que todos 
merecem a condenação, é um ato gracioso de Deus escolher al­
guns para serem salvos. Nós concordamos com eles, exceto que, 
para nós, Deus não escolheu os indivíduos, mas deu Seu Filho
81. BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 201 2, Cultura Cristã, p. 361.
82. DRISCOLL, Mark; BRESHEARS, Gerry. Doctrine: What Christians Should 
Believe. 2010, Crossway, pp. 267-270.
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Introdução à Teologia Arminio-Wesleyana
Unigênito como “propiciação pelos nossos pecados, e não somen­
te pelos nossos, mas também pelos do mundo inteiro” (1 Jo 2.2).
Driscoll e Breshears, dizem ainda, que as principais passagens 
bíblicas para a expiação limitada são Mt 1.21; 20.28; 26.28; Jo 
10.11, 15, 26-27; 15.3; At 20.28; Rm 5.12-19; 8.32-35; 2 Co 5.15; 
Ef. 5.25 eTt 2.14.
Os autores supracitados explicam, na doutrina da expiação li­
mitada, uma segunda vertente calvinista, a qual eles chamam de 
“expiação limitada ilimitada”, ou mais tecnicamente, “calvinismo 
modificado”. Essa “revisão” da expiação, se podemos dizer assim, 
é explicada por eles da seguinte forma: “... ao morrer por todos, 
Jesus comprou todos como sua possessão, e então aplica seu per­
dão aos eleitos - aqueles em Cristo - pela graça, e aplica sua ira 
aos não eleitos - aqueles que rejeitam a Cristo”. A conclusão disso 
é que, “a morte de Jesus foi suficiente para salvar qualquer um, e, 
(...) eficiente somente para salvar aqueles que se arrependem do 
seu pecado e confiam nele.”
A meu ver, essa “expiação limitada ilimitada” trata-se, na ver­
dade, da própria expiação limitada acrescida da predestinação. 
Seriam eles calvinistas de quatro pontos ou arminianos enrusti- 
dos? Veremos mais adiante, a explicação da expiação limitada, 
mas posso adiantar que, o arminianismo ensina basicamente a 
mesma coisa (excluindo a predestinação): Jesus morreu por todos, 
mas isso não quer dizer que Ele salvou a todos (pois isso seria uni­
versalismo

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