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História da África

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Prévia do material em texto

HISTÓRIA DA 
ÁFRICA
Professora Dra. Amanda Palomo Alves
GRADUAÇÃO
Unicesumar
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a 
Distância; ALVES, Amanda Palomo. 
 
 História da África. Amanda Palomo Alves. 
 Maringá-Pr.: UniCesumar, 2016. Reimpresso em 2018.
 229 p.
“Graduação - EaD”.
 
 1. História. 2. África. 3. Cultura. 4. EaD. I. Título.
ISBN 978-85-459-0336-9
CDD - 22 ed. 960
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário 
João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828
Impresso por: 
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD
Willian Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Direção Operacional de Ensino
Kátia Coelho
Direção de Planejamento de Ensino
Fabrício Lazilha
Direção de Operações
Chrystiano Mincoff
Direção de Mercado
Hilton Pereira
Direção de Polos Próprios
James Prestes
Direção de Desenvolvimento
Dayane Almeida 
Direção de Relacionamento
Alessandra Baron
Head de Produção de Conteúdos
Rodolfo Encinas de Encarnação Pinelli
Gerência de Produção de Conteúdos
Gabriel Araújo
Supervisão do Núcleo de Produção de 
Materiais
Nádila de Almeida Toledo
Supervisão de Projetos Especiais
Daniel F. Hey
Coordenador de Conteúdo
Priscilla Campiolo Manesco Paixão
Design Educacional
Yasminn Zagonel
Iconografia
Isabela Soares Silva
Projeto Gráfico
Jaime de Marchi Junior
José Jhonny Coelho
Arte Capa
Arthur Cantareli Silva
Editoração
André Morais de Freitas
Qualidade Textual
Hellyery Agda
Ilustração
Bruno Cesar Pardinho
Marta Kakitani
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos 
com princípios éticos e profissionalismo, não so-
mente para oferecer uma educação de qualidade, 
mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in-
tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos 
em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e 
espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos 
de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 
100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: 
nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, 
Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos 
EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e 
pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros 
e distribuímos mais de 500 mil exemplares por 
ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma 
instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos 
consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos 
educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos educa-
dores soluções inteligentes para as necessidades 
de todos. Para continuar relevante, a instituição 
de educação precisa ter pelo menos três virtudes: 
inovação, coragem e compromisso com a quali-
dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de 
Engenharia, metodologias ativas, as quais visam 
reunir o melhor do ensino presencial e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é 
promover a educação de qualidade nas diferentes 
áreas do conhecimento, formando profissionais 
cidadãos que contribuam para o desenvolvimento 
de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está 
iniciando um processo de transformação, pois quando 
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou 
profissional, nos transformamos e, consequentemente, 
transformamos também a sociedade na qual estamos 
inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu-
nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de 
alcançar um nível de desenvolvimento compatível com 
os desafios que surgem no mundo contemporâneo. 
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de 
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo 
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens 
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica 
e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con-
tribuindo no processo educacional, complementando 
sua formação profissional, desenvolvendo competên-
cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em 
situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado 
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal 
objetivo “provocar uma aproximação entre você e o 
conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento 
da autonomia em busca dos conhecimentos necessá-
rios para a sua formação pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
mento e construção do conhecimento deve ser apenas 
geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos 
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. 
Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu 
Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns 
e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis-
cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe 
de professores e tutores que se encontra disponível para 
sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de 
aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-
lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
A
U
TO
R
A
Professora Dra. Amanda Palomo Alves
Graduou-se e Especializou-se em História pela Universidade Estadual de 
Maringá (UEM) e concluiu seu Mestrado em História pela mesma Instituição. 
É Doutora em História Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF), 
atuando, principalmente, nos seguintes temas: história da África, com ênfase 
em Angola - século XX; história e cultura afro-brasileira; história e música; 
relações raciais no Brasil e ensino de história da África. Tem experiência docente 
em cursos de graduação e pós-Graduação. Atualmente, é pesquisadora em 
vários projetos e grupos de pesquisa, entre eles, Núcleo de Estudos Africanos 
(NEAF-UFF); Núcleo de Estudos Contemporâneos (NEC-UFF), Nacionalismos e 
Independências (UFF) e Núcleo de Estudos Interdisciplinares Afro-Brasileiros 
(NEIAB-UEM).
SEJA BEM-VINDO(A)!
Em sua obra “Um rio chamado Atlântico: a África no Brasil e o Brasil na África”, o pesquisa-
dor e africanista Alberto da Costa e Silva (2003, p. 240) nos explica: “a história da África é 
importante para nós, brasileiros, porque ajuda a explicar-nos”. Podemos afirmar que até 
meados dos anos 1990 a presença da história da África nos Currículos e nos livros esco-
lares brasileiros era praticamente insignificante. O continente sempre fora retratado de 
modo secundário, associado, recorrentemente, às viagens marítimas dos séculos XV e 
XVI, ao tráfico de escravos e aos processos históricos do imperialismo e do colonialismo. 
O antropólogo Kabengele Munanga (1990) nos explica que esse modo bastante equivo-
cado de olharmos para o continente africano – e para os seus povos – pode ser ilustrado, 
por exemplo, pelos filmes sobre Tarzan, pelas informações divulgadas pela imprensa es-
crita e falada e, ainda, pelas mídias eletrônicas de modo geral que persistem em explorar 
acontecimentos relacionados às calamidades naturais e às doenças na África. 
Felizmente, tal cenário passou a sofrer uma aparente e significativa modificação a partir 
de 2003, quando foi promulgada a Lei Federal nº 10.639, que, alterando o texto da Lei 
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), tornou obrigatório o ensino de histó-
ria africana e cultura afro-brasileira nas escolas. Além da aparente relevância do tema 
da referida lei, podemos afirmar que ela simbolizou uma ação de extrema importância, 
pois se propôs a desenvolver políticas de reparação e de ação afirmativa em relação 
às populações afrodescendentes. Não podemos deixar de mencionar, ainda, que sua 
promulgação foi uma conquista do movimento negro brasileiro e de grupos políticos, 
culturais e intelectuais da academia que há anos têm reivindicado o reconhecimento, 
a valorização e afirmação da identidade e dos direitos dos afrodescendentes no Brasil. 
Vale acrescentarmos, também, que outro importante passo foi dado no ano seguinte, 
em 2004, com a formulação das “Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das 
RelaçõesÉtnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana”. 
Ambos os documentos mencionados apontam para a importância e para a obrigatorie-
dade da introdução do estudo da história da África e da cultura afro-brasileira nas insti-
tuições de ensino brasileiras. Certamente, trata-se de um importante passo para a supe-
ração de abordagens que insistem em conhecer e compreender as sociedades africanas 
por um viés negativo e repleto de estereótipos. Além disso, gostaríamos de chamar a 
atenção para outra questão fundamental: a redefinição do lugar ocupado pela África (e 
pelos africanos) nos estudos da área de História. Ou seja, devemos, mais do que nunca, 
nos desviar de um olhar eurocêntrico lançado para a História da África e buscarmos uma 
prática educativa voltada para a tolerância e para o respeito às diversidades, sejam elas 
culturais, linguísticas, étnico-raciais, regionais ou religiosas. 
Caro(a) aluno(a), sabemos que, quando pensamos em “África”, várias questões insurgem, 
mas sabemos também que a história do continente nos reserva temas, espaços e tem-
poralidades diversas. Assim, para concluirmos esta breve apresentação, gostaríamos de 
mencionar que foram necessárias algumas opções temáticas e recortes temporais na 
organização e escrita do livro, que está dividido em cinco unidades específicas. 
APRESENTAÇÃO
HISTÓRIA DA ÁFRICA
A primeira delas apresenta algumas características peculiares do continente africa-
no – como a sua formação geológica, sua divisão em macrorregiões –, e demonstra 
algumas versões para a origem do nome “África”. Explica, também, porque a África é 
considerada “o berço da humanidade”, e disserta sobre o processo de Hominização 
e sobre as Migrações, ressaltando importantes características dos períodos Paleolí-
tico, Mesolítico e Neolítico. Por fim, aponta as representações da África (e dos afri-
canos) no imaginário ocidental europeu ao longo da História e, ao mesmo tempo, 
problematiza o conceito de etnocentrismo. 
A unidade dois trata de duas importantes e antigas civilizações africanas. Nela, apre-
sentamos particularidades da antiga civilização egípcia e apontamos importantes 
características da antiga civilização núbia. Discutimos a importância do reino de 
Kush e destacamos algumas de suas importantes características.
O tema geral abordado na terceira unidade deste livro é “A África sob o domínio 
colonial: a Conferência de Berlim e a partilha do continente”. Nessa unidade, mostra-
mos importantes aspectos que antecederam a realização da Conferência de Berlim 
e a partilha do continente africano. Buscamos apresentar e entender as estratégias 
de dominação das potências imperialistas que conduziram o projeto da partilha e 
assinalamos as principais consequências decorrentes da Conferência realizada em 
Berlim durante o século XIX. Por fim, nos dedicamos a falar da importância da teoria 
da dimensão africana e apresentamos a perspectiva de estudiosos africanos sobre 
o processo da partilha. 
Logo após, na quarta unidade, expomos as lutas pela independência em África, 
sobretudo nas ex-colônias portuguesas, dando atenção especial à Angola. Apon-
tamos características do colonialismo, assim como dos movimentos de resistência 
e de libertação naquele país. Tratamos do surgimento e da importância do grupo 
“N’gola Ritmos” e, por fim, apresentamos os principais acontecimentos ocorridos 
nos primeiros anos do pós-independência em Angola, abordando a importância da 
canção como um instrumento de divulgação dos ideais do Movimento Popular pela 
Libertação de Angola (MPLA). 
Para encerrar o nosso livro, propomos uma discussão sobre a relação entre Brasil e 
África, indicando alguns diálogos possíveis e necessários. Falamos, brevemente, a 
respeito do processo da diáspora africana no Brasil e discutimos, também breve-
mente, o surgimento e a importância do Movimento Negro em nosso país. 
Na unidade cinco, dissertamos, ainda, sobre o surgimento e a trajetória da black 
music no Brasil, demonstrando a importância de Tony Tornado no cenário político e 
cultural do Brasil dos anos 1970. 
Esperamos, sinceramente, que esteja animado(a). Vamos lá?!
APRESENTAÇÃO
SUMÁRIO
09
UNIDADE I
A “INVENÇÃO DA ÁFRICA” NO IMAGINÁRIO OCIDENTAL
EUROPEU AO LONGO DA HISTÓRIA: REPENSANDO O CONTINENTE
15 Introdução 
16 O Continente 
23 África, “O Berço da Humanidade” 
34 A “Invenção da África” no Imaginário Ocidental Europeu ao Longo da 
História: Repensando o Continente 
47 Considerações Finais 
UNIDADE II
AS PRIMEIRAS CIVILIZAÇÕES DA ÁFRICA: EGITO ANTIGO E NÚBIA
56 Introdução
57 Uma Breve História Da Antiga Civilização Egípcia 
63 A Antiga Civilização Núbia e o Reino de Kush 
79 Considerações Finais 
SUMÁRIO
10
UNIDADE III
A ÁFRICA SOB O DOMÍNIO COLONIAL: A CONFERÊNCIA DE BERLIM E A 
PARTILHA DO CONTINENTE
89 Introdução 
90 Antecedentes da Conferência de Berlim 
93 A Conferência de Berlim e a Partilha do Continente 
107 Considerações Finais 
UNIDADE IV
OS MOVIMENTOS DE RESISTÊNCIA E AS INDEPENDÊNCIAS NA ÁFRICA: 
O CASO DE ANGOLA
119 Introdução
120 Pensando as Independências Africanas e os Movimentos de Libertação 
137 Música e Nacionalismo em Angola: O Surgimento e a Importância do 
Grupo “N’gola Ritmos”
148 Angola: A Caminho da Independência e o Início da Guerra Civil 
164 Considerações Finais 
SUMÁRIO
11
UNIDADE V
ÁFRICA-BRASIL: UMA RELAÇÃO DE ENCONTROS E AFASTAMENTOS
175 Introdução
176 África E Brasil: Breves, Mas Importantes Reflexões 
179 A História do Negro no Brasil 
210 Considerações Finais 
221 CONCLUSÃO
223 REFERÊNCIAS
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Professora Dra. Amanda Palomo Alves
A “INVENÇÃO DA ÁFRICA” NO 
IMAGINÁRIO OCIDENTAL
EUROPEU AO LONGO DA HISTÓRIA: 
REPENSANDO O CONTINENTE
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Apresentar aspectos peculiares do continente africano, como a sua 
formação geológica, sua divisão em macrorregiões, e demonstrar 
algumas versões para a origem do nome “África”.
 ■ Explicar por que a África é considerada “o berço da humanidade” e 
dissertar sobre o processo de Hominização e sobre as Migrações, 
ressaltando importantes características dos períodos Paleolítico, 
Mesolítico e Neolítico.
 ■ Apontar as representações da África e dos africanos, no imaginário 
ocidental europeu ao longo da História.
 ■ Compreender e problematizar o conceito de etnocentrismo. 
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ O Continente
 ■ África, “O berço da humanidade”
 ■ A “Invenção da África” no imaginário ocidental europeu ao longo da 
história: repensando o continente
INTRODUÇÃO
Sabemos que, durante muito tempo, mitos e preconceitos nos impediram de 
conhecer a real história do continente africano. Vários especialistas, em espe-
cial, os não africanos, defendiam que as sociedades africanas não mereciam ser 
objeto de uma pesquisa científica, devido a falta de fontes e documentos escri-
tos. Ora, como tão bem assinalou Amadou Mahtar M’Bow (2010), se a “Ilíada” 
e a “Odisseia” constituem (e são consideradas) fontes fundamentais para a com-
preensão da história da Grécia Antiga, por que negou-se, por tanto tempo, todo 
o valor da tradição oral africana? 
Devemos nos lembrar de que a história da África é parte inerente da histó-
ria da humanidade. Lá, foram encontrados os primeiros registros da presença 
humana no planeta Terra! Aliás, não apenas a existência da vida humana, e sim 
a de grupos humanos, vivendo conjuntamente e buscando formas variadas de 
sobrevivência. 
Ao seguirmos as trilhas dessas concepções, estruturamos a unidade I de nosso 
livro em três partes. Na primeira delas, apresentamos alguns aspectos peculia-
res do continente africano, como a sua formação geológica, a divisão da África 
em macrorregiões e, também, demonstramos algumas versões para a origem do 
nome “África”. Em seguida, explicamos por que a África é considerada “o berço da 
humanidade” e dissertamos sobre a Hominização – longo processo de transfor-mação que levou ao surgimento dos seres humanos – e as Migrações, apontando 
importantes características dos períodos: Paleolítico, Mesolítico e Neolítico. Na 
última parte da unidade, investigamos o modo como a África e seus habitantes 
foram representados no imaginário ocidental europeu ao longo dos séculos de 
nossa História. Ainda, chamamos a atenção para a compreensão de conceitos 
importantes, como o etnocentrismo.
Então, vamos lá! Bons estudos! 
Introdução
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A “INVENÇÃO DA ÁFRICA” NO IMAGINÁRIO OCIDENTAL
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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O CONTINENTE
Figura 01 – África (mapa político) 
MARROCOS
ARGÉLIA LÍBIA
SUDÃO
SHADENÍGER
ANGOLA
ZÂMBIA
BOTSUANA
NAMÍBIA ZIMBÁBUE
MOÇAMBIQUE
MADAGASCAR
MAYOTTE
COMORES
MALAUÍ
TANZÂNIA
UGANDA
QUÊNIA
ETIÓPIA
ERITREIA
DJIBOUTI
TUNÍSIA 
MALTA
GRÉCIA
ARÁBIA 
SAUDITA
IRAQUE
JORDÂNIA
ISRAEL
LÍBANO
CHIPRE
IRÃ
SÍRIA
LÊMEN
SOMÁLIA
NIGÉRIABENIN
TOGO
MALI
MAURITÂNIA
SAARA
OCIDENTAL
SENEGAL
GÂMBIA
GUINÉ
GUINÉ
BISSAU
SERRA 
LEOA
COSTA DO
MARFIM
BURKINA 
FASO
GANA
CAMARÕES
REP. CENTRO-
ÁFRICANA
GABÃO
GUINÉ
EQUATORIAL
REPÚBLICA
DEMOCRÁTICA
DO CONGOCONGO
ÁFRICA 
DO SUL
EGITO
Fonte: adaptada de Mapa... ([2015], on-line)1.
Conforme argumenta o historiador José Rivair Macedo (2013), o continente afri-
cano possui a porção continental mais antiga do planeta Terra. Sua formação 
geológica originou-se, provavelmente, há 3,6 bilhões de anos, quando se cons-
tituíram a cordilheira do cabo “Fold Belt”, na África do Sul, e os “Montes Atlas”, 
no Marrocos, país situado no extremo norte da África. 
O Continente
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A extensão territorial do “continente de formato triangular” é de, aproxima-
damente, 30.343.511 km2, porção esta equivalente a 22% da superfície terrestre! 
Cumpre destacarmos, ainda, que a África é banhada pelos oceanos Índico e 
Atlântico, pelos mares Vermelho e Mediterrâneo, e possui diversas e valorosas 
reservas naturais. 
Macedo (2013) destaca, ainda, que a antiguidade da formação geológica 
do continente africano produziu uma grande quantidade de massas rochosas, 
nomeadas cratões. Os cratões ocupam o equivalente à metade de sua superfície 
e contêm formações minerais muito ricas e antigas. A região onde se situa a cra-
tera “Kaapvaal” (ver Figura 02), por exemplo, foi formada há 2,8 bilhões de anos 
e possui um vasto reservatório de minerais de ouro e diamantes, além de metais 
raros, como o rutênio, ródio, irídio, níquel, cobre e cobalto. Não podemos deixar 
de mencionar, também, que, além das riquezas minerais destacadas, o continente 
possui inúmeras jazidas de petróleo, características essas que chamaram a aten-
ção de exploradores e, atualmente, de empresários e negociantes internacionais. 
Figura 02: Localização da cratera “Kaapvaal”, ao sul do continente africano
BOTSUANA
NAMÍBIA
ZIMBÁBUE
MOÇAMBIQUE
KAAPVAAL
CRATON
ÁFRICA 
DO SUL
Fonte: Wikimedia Commons (2010, on-line)2.
A “INVENÇÃO DA ÁFRICA” NO IMAGINÁRIO OCIDENTAL
Reprodução proibida. A
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Se, por um lado, o continente possui vastas áreas de vegetação, florestas e bacias 
hidrográficas de rios, como o famoso rio Nilo, por outro, abriga desertos impo-
nentes, como o deserto do Saara, localizado na região norte, e o Kalahari, ao sul. 
Alguns historiadores explicam que a parte ao norte do deserto do Saara (África do 
Norte) pertence ao chamado “Velho Mundo”, nome dado às antigas civilizações 
que margeiam o mar Mediterrâneo. Ao sul, se constituiu a civilização egípcia, o 
Império de Cartago (atualmente, com sede na Tunísia) e o reino do Marrocos. 
Todas essas civilizações mantiveram relações importantes com a Europa e, como 
veremos adiante, a partir do final do século XIX, foram colonizadas por ela. 
Na obra “África: um novo olhar” (2006), o historiador e africanista José 
Nunes Pereira nos apresenta uma divisão do continente africano bastante inte-
ressante. Vamos a ela! 
AS SEIS MACRORREGIÕES DA ÁFRICA, SEGUNDO JOSÉ NUNES 
PEREIRA (2006) 
1. África do Norte: esta região do continente é distinta de outra parte, a 
chamada África Subsaariana, e apresenta duas sub-regiões: a leste, temos 
o Machrech, que inclui a Líbia e o Egito e se estende fora do continente, 
chegando até à Península Arábica. A oeste, fica a região do Magrebe, que 
compreende a Tunísia, a Argélia e o Marrocos. Lembramos, ainda, que, 
em árabe, Magrebe (ou Magreb) significa “onde o sol se põe”. 
O pesquisador, professor e africanista José Maria Nunes Pereira foi um dos 
fundadores do centro de Estudos Afro-Asiáticos (CEAA) da Universidade 
Cândido Mendes, no Rio de Janeiro, um espaço importante de diálogo e 
pesquisa sobre história da África em nosso país. Maranhense de nascimento, 
o professor Nunes Pereira faleceu em 2015, deixando um importante legado 
para os estudos africanos no Brasil.
Fonte: a autora.
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De modo geral, na África do Norte predomina a religião islâmica e a lín-
gua árabe, no entanto cumpre destacarmos o importante predomínio dos 
berberes, comunidade autóctone. Podemos visualizar, no mapa a seguir, 
com maior clareza, a região habitada pelos povos berberes. 
Figura 03 – Mapa indicando a região aproximada de onde vivem os povos berberes
Os povos berberes habitaram 
o norte da África, sobretudo a 
região onde hoje se situa o Mar-
rocos, a Argélia e a Tunísia. Os 
berberes eram povos nômades 
do deserto do Saara. Com suas 
caravanas, atravessavam o de-
serto a fi m de comercializarem 
produtos, como ouro, sal, tem-
peros, plumas e pedras preciosas 
(VISENTINI; RIBEIRO; PEREIRA, 
2014). 
Fonte: adaptada de África... (2012, on-line)3.
2. África Ocidental: região formada por dezesseis países, sendo eles: Benin, 
Burkina-Faso, Cabo Verde, Costa do Marfi m, Gâmbia, Gana, Guiné, 
Guiné-Bissau, Libéria, Mali, Mauritânia, Níger, Nigéria, Senegal, Serra 
Leoa e Togo. Treze desses países se situam na costa Atlântica e três (Burki-
na-Faso, Mali e Níger) não têm saída para o mar. Esses três últimos países, 
junto com a Mauritânia e o Chade (mais situado na África Central), com-
põem a sub-região do Sael (ou Sahel). 
O Sahel foi uma área de contato – especialmente, mediante o comércio 
de ouro – entre a África mediterrânica e a África tropical. É uma região 
com importantes marcos históricos: entre os séculos X e XVI, abrigou
o reino do Ghana e os impérios do Mali e Songhai, famosos produtores 
de ouro. Foi, também, uma região pioneira de tráfi co (especialmente da 
Guiné) para as Américas. No início do século XIX, vieram escravos ioru-
A “INVENÇÃO DA ÁFRICA” NO IMAGINÁRIO OCIDENTAL
Reprodução proibida. A
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bas para Salvador, predominantemente, do atual Benin, antigo Daomé. 
Vale apontarmos, ainda, que a África Ocidental é a região com maior 
número de países e onde se encontram os menores Estados. 
3. África Central: esta classificação inclui dez países: Burundi, Camarões, 
República Centro-Africana, Chade, Congo, República Democrática do 
Congo, Gabão, Guiné-Equatorial, Ruanda e São Tomé e Príncipe. A 
região é rica em petróleo (principalmente o Congo, Gabão e Camarões) 
e em minérios. 
4. África Oriental: esta região do continente apresenta duas sub-regiões: a 
norte-oriental, conhecida como o “Chifre da África”, e a centro-oriental. 
O “Chifre da África” é formado pela Etiópia, Eritréia, Djibuti e Somália. 
O autor também inclui nessa região o Sudão, devido asua forte comuni-
dade negra, cristã ou animista, ao Sul, características que fizeram com que 
ele se diferenciasse bastante da “homogênea África do Norte” (PEREIRA, 
2006, p. 72). A sub-região centro-oriental é formada pelas ex-colônias 
inglesas de Uganda, Quênia e Tanzânia. É a área, por excelência, da cul-
tura suaíli ou swahili. 
5. África Austral: a África Austral é composta por onze países: África do Sul, 
Angola, Botsuana, Lesoto, Malauí, Moçambique, Namíbia, Suazilândia, 
Tanzânia, Zâmbia e Zimbábue. A região contém um dos maiores acer-
vos minerais do mundo, alguns deles, inclusive, indispensáveis a alguns 
países da Europa e Estados Unidos. 
6. A África do oceano índico: é também conhecida como região indo-oce-
ânica e, frequentemente, agregada à região da África Oriental. É formada 
pelas ilhas de Madagascar (a maior do continente) e Maurício, e os arqui-
pélagos de Comores e Seichelles. 
Após apresentarmos essa breve divisão geográfica do continente, devemos 
apreender outra questão muito importante: “a ideia de que o continente 
africano evoluiu isolado dos grandes fluxos internacionais é enganosa” 
(PEREIRA, 2014, p. 15). Ora, em vários momentos da história, regiões 
do norte e leste da África mantiveram contatos frequentes com a Ásia e 
com a Europa. Dessa maneira, conhecer sua configuração geográfica nos 
parece primordial, especialmente, se considerarmos os fluxos comerciais 
que se deram a partir do século XV, no período das grandes navega-
ções. Alguns países do continente africano tiveram um importante papel 
O Continente
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naquele contexto, pois foram sendo introduzidos ao grande mercado em 
ascensão daquele período (PEREIRA, 2014). Sobre esse contexto, a his-
toriadora Marina de Mello e Souza (2008, s/p) aponta: 
No despontar da Idade Moderna, com as grandes navegações empreen-
didas a partir de Portugal, sociedades africanas da Costa Atlântica, até 
então nunca visitadas por povos fora do continente, também passaram 
a fazer parte de circuitos de relações intercontinentais. Algumas dessas 
sociedades forneceram grande parte da força de trabalho utilizada na 
construção de um “Novo Mundo”, como a América foi chamada em 
carta escrita em 1502, por Américo Vespúcio. 
Outro ponto a destacar é que as regiões norte e nordeste africanas mantive-
ram contatos intensos com a Europa Mediterrânea e com a Ásia Ocidental e 
Meridional. Na porção restante do continente africano houve um amplo e longo 
processo migratório. Em um primeiro momento, de leste para oeste, e, poste-
riormente, em sentido contrário. Por fim, as migrações se deram rumo ao sul 
do continente. Durante todo esse processo, se formaram importantes reinos e 
impérios, mas, sobretudo, o nascimento de novas culturas (PEREIRA, 2006). 
Portanto, caro(a) aluno(a), é extremamente equivocada a ideia de que a África 
foi um continente estático e cristalizado, muito pelo contrário, o estudo de sua 
história nos revela um intenso deslocamento e trocas diversas. 
A ORIGEM DO NOME: AFINAL, DE ONDE VEM A PALAVRA “ÁFRICA”?
Com relação à origem do nome do continente africano, várias explicações são 
apresentadas por estudiosos e pesquisadores do tema. José M. Nunes Pereira 
(2006), por exemplo, aponta que as explicações mais prováveis derivam do norte 
do continente. A primeira delas é “Afrig”, nome de um povoado berbere, per-
tencente ao antigo Império de Cartago. Outro significado, que prevaleceu por 
vários séculos, foi o de “Líbia”. Tal designação estaria relacionada à parte mais 
conhecida do continente africano naquela época, ou seja, a Tripolitânia, região 
fronteiriça entre a Líbia e a atual Tunísia. Nunes Pereira esclarece que o nome 
“Líbia” teria sido dado por Heródoto, ao utilizar o nome de heroínas míticas 
para designar os três continentes, até então conhecidos pelo homem: Europa, 
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Reprodução proibida. A
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Ásia e Líbia, nomenclatura predominante até o século XVI. Após essa data, o 
termo “Afriqiyah” (antiga designação árabe) foi utilizado com maior frequên-
cia, até ser substituído por África. 
Joseph Ki-Zerbo (2010, p. 31), pesquisador africano e especialista na área, 
nos fala que a palavra África possui uma origem difícil de elucidar. Segundo ele, 
foi imposta a partir dos romanos sob a forma “Africa”, que sucedeu ao 
termo de origem grega ou egípcia Lybia, país dos Lebu ou Lubin do 
Gênesis. Após ter designado o litoral norte-africano, a palavra África 
passou a aplicar-se ao conjunto do continente, desde o fim do século I 
antes da Era Cristã. 
Na obra “História Geral da África (volume I)”, Joseph Ki-Zerbo (2010, p. 31) nos 
apresenta as seguintes versões para a origem do nome África: 
 ■ A palavra África teria vindo do nome de um povo (berbere) situado ao 
sul de Cartago: os Afrig;
 ■ Outra etimologia da palavra África é retirada de dois termos fenícios, um 
dos quais significa “espiga”, símbolo da fertilidade dessa região, e o outro, 
Pharikia, região das frutas;
 ■ A palavra África seria derivada do latim aprica (ensolarado) ou do grego 
aprike (isento de frio);
 ■ Outra origem poderia ser a raiz fenícia faraga, que exprime a ideia de 
separação, de diáspora;
 ■ Em sânscrito e hindi, a raiz apara ou africa designa o que, no plano 
geográfico, está situado “depois”, ou seja, o Ocidente. A África é um con-
tinente ocidental;
 ■ Uma tradição histórica retomada por Leão, o Africano, diz que um chefe 
iemenita chamado Africus teria invadido a África do Norte no segundo 
milênio antes da Era Cristã e fundado uma cidade chamada Afrikyah. 
Mas é mais provável que o termo árabe Afriqiyah seja a transliteração 
árabe da palavra África. 
Na primeira parte desta unidade, buscamos chamar a atenção para a diversidade 
das sociedades africanas, que viveram processos históricos diversos. Assim, o 
desenvolvimento dessas sociedades deve ser compreendido e analisado como 
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uma parte fundamental da história da humanidade, afinal, como sabemos, foi 
no continente africano que o processo evolutivo da espécie humana teve ori-
gem há aproximadamente 4,5 milhões de anos. Sem dúvida alguma, a África é 
o “berço da humanidade”. 
ÁFRICA, “O BERÇO DA HUMANIDADE” 
Sabemos que a frase “a África é o berço da humanidade” é bastante conhecida. 
O mais importante, contudo, é que pesquisas empreendidas por estudiosos de 
diferentes áreas têm demonstrado, cada vez mais, que a África foi o cenário no 
qual ocorreram as primeiras etapas da evolução humana. No continente foram 
encontrados vestígios dos primeiros hominídeos e importantes exemplares do 
Homo habilis. 
Com base nisso, caro(a) aluno(a), a África revelou ao mundo informações 
fundamentais para a compreensão da história de vida dos homens e mulheres 
que iniciaram a humanidade. 
Diante dessas informações (e dos demais conteúdos que expusemos até 
agora), nos cabe fazer a seguinte pergunta: por que justamente na África, e não 
em outro continente, surgiu a espécie humana? A resposta, conforme nos explica 
Macedo (2013, p. 12-13), está relacionada à sua geomorfologia, ou seja, às carac-
terísticas da composição de sua superfície: 
A plataforma continental africana foi a primeira a se desprender da su-
perfície original do planeta, em sua fase de formação geológica, quando 
as forças tectônicas fizeram deslizar para o Sul, a Antártida. Foi menos 
afetada em sua estrutura geomorfológica no momento a partir do qual 
as grandes porções continentais que viriam a dar origem a América e 
Eurásia se desprenderam do supercontinente primordial a que se deu 
o nome Pangeia. Devido à sua antiquíssima formação,foi ali que se 
desenvolveram as primeiras formas de vida. 
Sobre esse processo, José Maria Nunes Pereira (2006) nos esclarece que há milhões 
de anos a parte oriental da África produziu um acidente geológico, uma grande 
fenda, conhecida como Rift Valley (ou Vale do Rift). 
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Tal acidente geológico repercutiu no clima da região, gerando condições favoráveis 
para a adaptação de primatas. Posteriormente, a evolução da espécie permitiu 
que as mãos passassem a ter o polegar oponente aos outros dedos, facilitando 
a produção e o manuseio de vários instrumentos. As pesquisas empreendidas 
por paleontólogos atestam que esses foram os primeiros hominídeos de que se 
tem notícia. Seus vestígios foram encontrados na região oriental da África e são 
denominados australopitecos. 
HOMINIZAÇÃO 
Por hominização, denomina-se o longo processo de transformação que 
levou ao aparecimento dos seres humanos. Seu estudo é realizado por 
paleontólogos, que são especialistas na pesquisa e análise de vestígios 
fossilizados, por especialistas em biologia molecular, geneticistas, ar-
queólogos, entre outros profissionais (MACEDO, 2013, p. 13). 
Em uma época em que a maioria dos cientistas supunha que teria sido a Ásia 
central o “berço da humanidade”, Charles Darwin tinha a convicção de que, um 
dia, seria comprovado que o “berço” do homem foi no continente africano. No 
livro “A origem do homem e a seleção sexual”, publicado pela primeira vez em 
1871, Charles Darwin escreveu: 
Caro(a) aluno(a), neste link você terá acesso a um vídeo breve, porém muito 
interessante sobre o Rift Valley. O material foi elaborado pela professora de 
História da África, a Dra. Eliesse dos Santos Teixeira Scamaral, da Universida-
de Federal de Goiás (UFG).
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=HZykGpE5RIo>. Aces-
so em: 17 out. 15.
Fonte: a autora.
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Em cada grande região do mundo, os mamíferos existentes relacionam-
-se, de modo estreito, com as espécies extintas da mesma área. É prová-
vel, portanto, que a África tenha sido, no passado, habitada por macacos 
extintos, intimamente ligados ao gorila e ao chipanzé, e como estas duas 
espécies são hoje as mais afins do homem, é mais provável que nossos 
primitivos ancestrais vivessem no continente africano do que em qual-
quer outro lugar (DARWIN, 1871 apud SILVA, 2011, p. 57). 
As impressões do cientista britânico, Charles Darwin, foram confirmadas pelos 
achados científicos que, cada vez mais, apontam a África subsaariana como o 
local de surgimento do homem. 
De acordo com o antropólogo francês Yves Coppens (2010), o homem é 
um mamífero placentário, e pertence à ordem dos primatas. Os mamíferos pla-
centários são os mais evoluídos dentre os mamíferos, pois contêm a placenta, 
destinada à respiração e à nutrição do feto. Os primatas podem ser classifica-
dos em prossímios e símios, e se diferenciam de outros mamíferos placentários 
devido ao desenvolvimento precoce do cérebro pelo aperfeiçoamento da visão, 
pela redução da face, pela substituição das garras por unhas chatas e pela opo-
sição do polegar com relação aos outros dedos. 
O australopiteco (Australopithecus Afarensis) foi o primeiro hominídeo 
bípede explorador das savanas das regiões central e oriental da África. Suas mol-
dagens endocranianas revelaram aos pesquisadores um desenvolvimento dos 
lobos frontais e parietais do cérebro, demonstrando um nível elevado das faculda-
des intelectuais (KI-ZERBO, 2010). Em 1939, o professor alemão L. Kohl Larsen 
descobriu, em Laetolil (sítio arqueológico situado na Tanzânia), um maxilar de 
Australopithecus. Mas coube ao pesquisador Yves Coppens a descoberta do fóssil 
mais completo da espécie na região de Afar, Etiópia, o Australopithecus afarensis. 
Australopithecus afarensis é a espécie a qual pertenceu Lucy, nome popu-
lar dado ao mais famoso dos antepassados da humanidade que teria vivido há, 
aproximadamente, três milhões de anos. Segundo Macedo (2013, p. 14),
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Além da extrema antiguidade, seu fóssil corresponde a 40% do esque-
leto, o que permitiu que o corpo fosse reconstituído integralmente. Fo-
ram encontrados: nove vértebras e algumas costelas, metade da bacia, 
parte das pernas e do braço direito quase completos, parte das pernas e 
do braço esquerdo, alguns ossos dos pés e das mãos, a mandíbula com 
os respectivos dentes e pequenos fragmentos do crânio. Os restos de 
Lucy desenham uma silhueta muito frágil. Pelas proporções dos ossos, 
devia medir pouco mais de um metro. Sabe-se que era do sexo femini-
no e que tinha, provavelmente, vinte anos, como testemunham os seus 
dentes do siso, já nascidos, mas, ainda não gastos. 
A figura a seguir demons-
tra uma das representações 
de Lucy, elaborada por 
pesquisadores da área de 
paleontologia, com base 
nos fósseis encontrados na 
região oriental africana.
Algo importante a des-
tacar é que, provavelmente, 
Lucy não era um quadrú-
pede, pois os australopitecos 
adquiriram a capacidade 
de se locomover utilizando 
apenas as patas traseiras, 
tornando-se bípedes. Tal 
peculiaridade foi extrema-
mente importante para a evolução da espécie humana, uma vez que a pata 
dianteira, livre adquiriu a função de manipular objetos, transformando-se na 
mão humana (MACEDO, 2013). 
No continente africano surgiu, também, o Homo habilis, que, segundo vários 
estudos realizados, teria surgido na região de Olduvai, Tanzânia. Com um cérebro 
maior que o dos australopithecus, essa espécie foi capaz de desenvolver várias e 
diferentes habilidades. Além do bipedismo, o Homo habilis fabricava utensílios 
de pedra afiada, manipulava artefatos e, principalmente, utilizava o fogo. Sobre 
isso, aliás, Macedo (2013, p. 15) complementa
Figura 04 - Australopithecus afarensis Lucy 
Fonte: Wikimedia Commons (2013, on-line)4.
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A conquista e a domesticação do fogo assinalam um passo importan-
tíssimo na trajetória para a humanidade. A posse e o controle do fogo 
permitiram o aquecimento do corpo contra o frio e a proteção notur-
na contra animais perigosos. Foram precisos milhares e milhares de 
anos para que esse fogo fosse utilizado para assar a carne dos animais. 
Estabelecia-se, assim, uma distinção ainda mais acentuada entre os ali-
mentos naturais, crus, e os alimentos produzidos, assados, mis moles 
e fáceis de serem digeridos. Ao mesmo tempo, ampliava-se a distância 
entre a natureza animal e a cultura, que apenas os seres humanos são 
capazes de criar e reproduzir. 
Foi na África que surgiu e se desenvolveu, também, o homo erectus. Pesquisadores 
apontam o homo erectus como o hominídeo mais evoluído de todos os anterio-
res. A espécie teria existido na África do Sul há, aproximadamente, 2,5 milhões 
de anos (COPPENS, 2010). Finalmente, é nesse continente que são encontrados 
os vestígios do Homo sapiens, que, como bem nos lembra Pereira (2006, p. 10), 
“teria partido da África para colonizar outras partes do mundo”. 
Para o historiador britânico Iliffe, o ponto central da história africana é a saga 
de seus habitantes, que, como “sertanejos”, colonizaram uma região do mundo, 
particularmente hostil, e a partir dali assumiram a sua forma. Iliffe (1995 apud 
PEREIRA, 2006, p. 10) salienta a capacidade do africano em ter conseguido “coe-
xistir com a natureza e ter criado sociedades resistentes capazes de, no decorrer 
do tempo, resistir a agressões vindasde regiões mais favorecidas”. 
Sendo assim, chegamos à conclusão de que apenas no continente africano se 
pode acompanhar todo o processo de transformação dos primatas em homens. 
Por volta de um milhão de anos, provavelmente, partiram dali as primeiras ondas 
migratórias para outras regiões de nosso planeta. Esses grupos levaram consigo 
saberes, técnicas e instrumentos originados na África.
MIGRAÇÕES 
Assim, a trama da evolução humana [...] revela-nos o homem pré-his-
tórico africano afastando-se penosamente da natureza para mergulhar 
pouco a pouco na coletividade humana em forma de grupos, de comu-
nidades primitivas, agregando-se e desagregando-se para se recompor 
de outras formas, com técnicas que cada vez mais utilizam ferramentas 
ou armas de ferro (KI-ZERBO, 2010, p. 843). 
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Durante o período Paleolítico, também conhecido como Idade da Pedra Lascada, 
as culturas humanas desenvolveram suas primeiras tecnologias e instituições sociais. 
Durante esse período, que durou, aproximadamente, dois milhões de anos, a 
África foi um espaço privilegiado de circulação de grupos humanos, de caçadores 
e coletores. Os primeiros africanos eram escassos, mas descobriram e desenvol-
veram diversas habilidades, como a fabricação de instrumentos líticos, ou seja, 
feitos de pedra. Algo a destacar, também, é que as populações que habitaram as 
planícies do Saara durante a chamada Idade da Pedra, antes do Saara se tornar 
um deserto, possuíam artistas muito habilidosos na arte da gravura e da pintura 
sobre rochas (DAVIDSON, 1981). 
Como nos explica a historiadora da África, a arte rupestre é uma impor-
tante fonte 
[...] para o estudo das antigas formas de vida, bem como de sonhos, re-
ligiosidades e simbologias dos primeiros grupos humanos. Em paredes 
de pedra de diferentes regiões da África encontram-se registros de ce-
nas do cotidiano, e também de desejos e sonhos, o que faz das pinturas 
documentos reveladores das formas de representação características de 
homens e mulheres há milhares de anos (SOUZA, 2014, p. 18). 
Assim, a arte rupestre, presente no continente africano, apresentou ao mundo 
importantes aspectos relacionados ao estilo de vida e aos padrões estéticos de 
homens e mulheres de tempos remotos, “nos levando a repensar o modo de enten-
der povos e grupos contemporâneos que não dominavam a escrita, mas, mesmo 
assim deixaram registros valiosos de sua história” (SOUZA, 2014).
Conforme explica Basil Davidson (1981), a Idade da Pedra foi assim cha-
mada devido à utilização de instrumentos e armas de pedra, inventados e 
encontrados em várias localidades da África por cientistas pesquisadores da 
área. 
Fonte: Davidson (1981).
Fonte: Balout (2010, p. 647).
Figura 05 - Gravura de elefante do período Paleolítico 
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 A Figura 05 é do período 
Paleolítico. Trata-se de uma 
gravura de elefante, des-
coberta por estudiosos e 
paleontólogos na região da 
Argélia, em 1954.
O período denominado 
Mesolítico apresenta impor-
tantes avanços técnicos na 
área de fabricação de arte-
fatos e utensílios de pedra 
trabalhada, os chamados 
micrólitos. Os micrólitos eram pequenas lâminas, ou segmentos de lâminas e 
lascas, altamente cortantes. Conforme nos explicam Note (2010) e Clark (2010), 
os micrólitos possuíam, geralmente, formas geométricas: segmentos de círculo, 
Com o aparecimento do homem, surge uma grande variedade de utensílios 
e ferramentas, mas, também, uma rica produção artística! Infelizmente, há 
milênios, essa rica produção, presente no continente africano, vem sofren-
do sérios danos, provocados tanto pelo homem quanto pelos elementos da 
natureza. 
Os dois centros mais importantes de arte rupestre são a região do deserto 
do Saara e da África Austral. Alguns desses centros são mundialmente famo-
sos, graças ao trabalho de historiadores franceses, italianos e, em número 
cada vez maior, de africanos. 
Para saber mais sobre o assunto, indicamos a leitura do texto: KI-ZERBO, J. 
A arte pré-histórica africana. In: KI-ZERBO, J. (Org.). História Geral da África 
(I): metodologia e pré-história da África. Brasília: Unesco, 2010, p. 743-780.
 É possível ter acesso ao PDF do livro (e dos demais volumes da coleção) no 
link disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br>. 
Fonte: adaptado de Ki-Zerbo (2010).
A “INVENÇÃO DA ÁFRICA” NO IMAGINÁRIO OCIDENTAL
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triângulos, retângulos e trapézios, todavia os mais característicos parecem ser os 
segmentos de círculo. Não se sabe ao certo a data em que esses artefatos surgiram 
pela primeira vez na África, mas sabemos que esses utensílios eram muito empre-
gados por grupos de caçadores que viveram nos atuais territórios da Zâmbia, 
Namíbia e Angola. Sabe-se, também, que foram fundamentais, pois eram utili-
zados como armaduras em flechas, lanças, arpões e facas. 
Agora veremos alguns exemplos de micró-
litos encontrados por pesquisadores na 
África do Norte.
Outro período importante que gostarí-
amos de mencionar é o período Neolítico. 
Nele, as comunidades humanas precisaram 
encontrar novas soluções de subsistência, 
pois o ambiente oferecia poucas (e difí-
ceis) alternativas de sobrevivência. Duas 
importantes características dessa fase da 
“pré-história” foram: a fabricação de arte-
fatos em pedra polida e a adoção de uma 
economia baseada na agricultura e na 
pecuária. Para compreendermos melhor 
esse processo, vale lembrarmos que em 
Macedo complementa: “O arco e flecha é um mecanismo complexo ima-
ginado pelo homem, e não mais uma simples adaptação dos recursos dis-
ponibilizados pela natureza. A invenção do arco assinala, pela primeira vez, 
a capacidade da fabricação artificial de um engenho, com o qual os seres 
humanos podiam economizar forças e ganhar maior precisão, superando as 
suas capacidades naturais”. 
Fonte: Macedo (2013, p. 17).
Figura 06 - Exemplos de micrólitos geométricos: 
trapézios, triângulos escalenos e instrumentos de 
forma decrescente
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uma economia baseada na caça e na coleta, os caçadores, pescadores e coletores, 
organizados em pequenos grupos, eram essencialmente nômades, dependentes 
dos recursos da natureza, e limitavam-se em buscar alimentos para o consumo, 
como carne, peixe, castanhas e frutos (MACEDO, 2013). Com a importante 
adoção da agricultura e da pecuária, a natureza passa a ser transformada pelo 
homem, por meio do cultivo de determinados alimentos e a criação de alguns 
animais que poderiam ser úteis enquanto fonte de alimento, de energia e de 
transporte. 
Como nos informa Macedo (2013), a partir desse momento, os grupos ten-
dem a se fixar em territórios determinados e começam a viver em aldeias, de 
acordo com uma estrutura social mais ampla e complexa. Todavia alguns ambien-
tes naturais eram inóspitos e de difícil adaptação às populações sedentárias. 
O autor nos aponta algumas dificuldades encontradas pelas populações 
“pré-históricas” africanas, que precisaram se adaptar a severas mudanças nas 
condições ecológicas de determinados ambientes naturais: 
 ■ Devido à densa umidade e às altas temperaturas, a extensa faixa da flo-
resta tropical e equatorial era de difícil exploração, o que impossibilitou 
um efetivo povoamento naquela região.
 ■ A existência da mosca tsé-tsé, que transmitia aos homens e ao gado a 
doença do sono. A presença desse inseto tornou inviável o desenvolvi-
mento da pecuária em praticamente toda a África Central.
 ■ A desertificaçãodo atual deserto do Saara. A história da desertificação 
do Saara tem início há quatorze mil anos, quando uma lenta e gradual 
inversão climática fez com que a vegetação original fosse sendo reduzida, 
em virtude da seca e do calor prolongados. O processo de desertificação 
do Saara se prolongou por milênios. 
Entre 12.000 a.C. e 8.000 a.C., a superfície do que viria a ser o deserto do Saara 
era habitada por comunidades neolíticas, que povoaram a região e se esten-
deram até os vales dos rios Níger e Nilo. Pesquisadores de sítios arqueológicos 
daquela região encontraram: artefatos de pedra polida, indícios de criação de 
animais bovinos, equinos e caprinos, e sinais de cultivo agrícola. Algo a des-
tacar, também, é que a metalurgia do cobre já era conhecida em 3.300 a.C. e a 
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fabricação do ferro remonta ao quarto e terceiro milênio a.C. Domínios técnicos, 
como esses, nos revelam o desenvolvimento das primeiras civilizações na África. 
Portanto, caro(a) aluno(a), podemos concluir que o continente africano não é 
apenas o “berço da humanidade”. O estudo de sua história evidencia aspectos 
peculiares da história do homem em seus períodos mais remotos. As inúmeras 
fontes encontradas na África nos dão indícios importantes acerca do início da 
vida humana em sociedade, além de nos auxiliar na revisão de conceitos já con-
solidados, como o de “pré-história” (SOUZA, 2014).
Cumpre destacarmos, conforme Macedo (2013), que importantes evidências 
materiais foram descobertas em escavações arqueológicas realizadas na atual 
República da Nigéria, na África Ocidental. Os pesquisadores encontraram, na-
quela região, cabeças e bustos confeccionados em terracota pelos povos da 
civilização de “Nok” (norte da Nigéria). Tais criações artísticas revelaram, aos 
pesquisadores, um estilo sofisticado e domínio técnico grandioso.
Fonte: Macedo (2013, p. 20).
África, “O Berço da Humanidade” 
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“Nova África – um continente, um novo olhar” é o tí-
tulo de um projeto que reúne uma série de progra-
mas sobre a história do continente africano. Seus 
autores privilegiam uma abordagem diferenciada, 
distante de estereótipos. Nesse programa, em es-
pecial, você terá acesso a um breve documentário 
sobre o surgimento das civilizações. Afinal, por que 
a África é considerada o “berço da humanidade”?
A “INVENÇÃO DA ÁFRICA” NO IMAGINÁRIO OCIDENTAL
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A “INVENÇÃO DA ÁFRICA” NO IMAGINÁRIO 
OCIDENTAL EUROPEU AO LONGO DA HISTÓRIA: 
REPENSANDO O CONTINENTE 
A história da África e dos africanos não é homogênea. Pelo contrário, ao nos debruçar-
mos no estudo do continente, poderemos verificar contornos e dinâmicas específicas 
em seus múltiplos contextos. Assim, nos cabe fazer as importantes perguntas: quais 
imagens são construídas, por nós, sobre a África e os africanos? De que forma 
nós, brasileiros, e demais ocidentais tratamos a África? 
Ao incursionarmos pelas representações formuladas, sobretudo acerca dos afri-
canos, perceberemos que elas permitem que vislumbremos o próprio papel ocupado 
pela África no imaginário ocidental. Como bem nos esclarece Oliva (2005), infeliz-
mente, ainda reproduzimos em nosso imaginário as ideias e as imagens noticiadas e 
reproduzidas pela mídia. Essas “ideias e imagens” revelam um continente marcado 
pela miséria, pelas guerras, pela instabilidade política, pelas doenças e pela fome. E, 
ainda, “um mundo selvagem perdido no qual a natureza primitiva assusta aos homens 
ou os reúne em safáris, em meio a leões, girafas e rinocerontes” (OLIVA, 2005, p. 92). 
As interpretações equivocadas e altamente preconceituosas que ainda temos 
sobre a África são resultado da união de ações e pensamentos do passado e do pre-
sente. Nas palavras de Oliva (2005, p. 94), “esquecemos de estudar o continente 
africano” e tal “esquecimento” é resultado desse nosso imaginário sobre a região e 
suas populações. 
Ao refletirmos sobre o continente africano, acabamos, muitas vezes, sendo 
reféns de abordagens estereotipadas, que tendem a julgar tudo o que é diferente dos 
padrões ocidentais como inferior, portanto, menos importante. Assim, chegamos a 
um tema fundamental para nós: etnocentrismo. 
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ETNOCENTRISMO: O QUE É?
O antropólogo Rocha nos oferece uma explicação bastante clara do que seria o 
etnocentrismo. Vamos a ela.
Etnocentrismo é uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é 
tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos 
através dos nossos valores, nos nossos modelos, nossas definições do 
que é a existência. No plano intelectual, pode ser visto como a dificul-
dade de pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de 
estranheza, medo, hostilidade, etc. (ROCHA, 1985, p. 07).
Em uma visão de mundo etnocêntrica, a diferença se torna algo “ameaçador”, 
pois fere a nossa própria identidade cultural (ROCHA, 1985). A pesquisadora 
Santos (2007, p. 16) também aborda essa questão e nos chama atenção para o 
fato de que a construção da identidade e da diferença simboliza “os valores 
de várias práticas e comportamentos da família, da sociedade e da cultura, que 
consideram os melhores e, na qual, essa família, essa sociedade e essa cultura 
gostariam que nos identificássemos”. Dessa maneira, ao mesmo tempo em que 
estabelecemos aquilo que consideramos bom, criamos, também, aquilo que con-
sideramos ruim. Entretanto 
essa diferenciação (que é algo natural e imprescindível para a constru-
ção de nossas identidades) se torna um problema quando é associada 
a formas de hierarquização, discriminação, exclusão, segregação e elimi-
nação daqueles que são considerados diferentes ou que não correspon-
dem aos valores configurados como belos e bons (SANTOS, 2007, p. 
17, grifo nosso).
Algo importante a considerar, ainda, é que o etnocentrismo pode implicar em 
uma representação do “outro”, revestida de distorções e de violência. Na maio-
ria dos casos, aqueles que são diferentes do “grupo do eu” – os diversos “outros” 
de nosso mundo –, por não terem a chance de dizer algo de si mesmos, acabam 
sendo representados por uma visão de mundo etnocêntrica e por determina-
das ideologias presentes em nossa sociedade. Nessa perspectiva, o grupo do “eu” 
entende que a sua visão de mundo é a única possível e, geralmente, a melhor e a 
mais sublime, em detrimento da concepção de mundo da sociedade do “outro”, 
considerada errônea e atrasada (ROCHA, 1985). 
A “INVENÇÃO DA ÁFRICA” NO IMAGINÁRIO OCIDENTAL
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Caro(a) aluno(a), essas informações são extremamente relevantes para pensar-
mos o modo como os africanos (e a África) foram representados no imaginário 
ocidental ao longo da História. É o que discutiremos a seguir. 
A ÁFRICA E OS AFRICANOS NO IMAGINÁRIO OCIDENTAL EUROPEU 
AO LONGO DA HISTÓRIA 
O continente africano foi, inegavelmente, o mais desqualificado pelo 
pensamento ocidental. Ainda que a imagem da África tenha variado 
ao longo do tempo em decorrência de diferentes formas de relaciona-
mento estabelecidas com os povos, é indiscutível que o continente foi, 
mais do que qualquer outro, laureado pelo pensamento ocidental com 
imagens particularmente negativas e excludentes (SERRANO; WALD-
MAN, 2007, p. 24). 
Ao nos dedicarmos no estudo das representações da África e dos africanos ao 
longo da História, verificaremosque foram várias as formas de perceber e enxergar 
a população negra africana. Infelizmente, em grande parte dessas representa-
ções, o continente é visto apenas como o espaço da natureza, e seus habitantes, 
homens selvagens e bárbaros. De modo geral, essas percepções indicavam estra-
nhamento e, ao mesmo tempo, desejo de dominação.
O historiador grego Heródoto (aproximadamente 485 a.C. – 425 a.C.), por 
exemplo, descreveu os povos da Etiópia (país situado na África Oriental) enquanto 
“seres inferiores, bárbaros, trogloditas e sem civilização”. Ora, ao mesmo tempo 
Existem ideias que se contrapõem ao etnocentrismo. Por exemplo, quando 
compreendemos o “outro” nos seus próprios valores e não nos nossos, esta-
mos relativizando. Relativizar é não transformar a diferença em hierarquia, 
em superiores e inferiores ou em bem e mal, mas, percebê-la na sua dimen-
são de riqueza, por ser diferença.
Fonte: Rocha (1985, p. 20). 
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em que concordamos com Oliva (2005), quando ele nos explica que os filtros 
culturais de Heródoto condicionaram sua leitura sobre os etíopes, não podemos 
negligenciar o fato de que os pensadores e escritores daquele período prioriza-
ram em suas análises aspectos negativos do continente africano e de seus povos, 
e que tais representações ajudaram a alimentar e a edificar estereótipos que car-
regarmos conosco até os dias de hoje. 
No ano mil (período medieval), as referências sobre os africanos estavam 
completamente impregnadas pelo imaginário da cristandade. Os relatos e as 
impressões pejorativas acerca dos povos africanos foram reforçados pela asso-
ciação entre os espaços celestiais: paraíso, purgatório e inferno. Sobre isso, Oliva 
(2005, p. 96-97) e Noronha (2000, p. 681-687) nos explicam: 
Distante dos homens, dos três continentes, em lugar ignorado se loca-
lizava o paraíso terreal. Jerusalém, local da ascensão do filho de Deus 
aos céus, aparecia ao centro, e era considerada local de passagem para 
atingir as regiões paradisíacas na Terra. A Europa, cuja população des-
cendia de Jafet, primogênito de Noé, ficava à oeste ou sul de Jerusalém, 
e a Ásia, local dos filhos de Sem, netos de Noé, ao norte ou a leste. Ao 
sul aparecia “o continente negro e monstruoso, a África. Suas gentes 
eram descendentes de Cam, o mais moreno dos filhos de Noé”. 
Algo a destacar, também, é que durante o período medieval algumas dessas 
“construções mentais” (nas palavras de Oliva, 2005) passaram a associar o mal 
com a cor negra e, consequentemente, com os africanos. Nesse caso, duas ques-
tões foram substanciais e merecem destaque: 
 ■ As teorias camitas, que defendem a descendência dos filhos de Cam, para 
os africanos. 
 ■ As concepções geográficas em voga, que acreditavam na existência de 
temperaturas insuportáveis na região abaixo do Equador. 
Impressões como essas contribuíram para a disseminação de ideias relacionadas 
à diabolização dos homens do continente africano e fizeram, recorrentemente, 
parte do imaginário europeu daquela época (OLIVA, 2005). Claude Kappler, na 
obra “Monstros, demônios e encantamentos no fim da Idade Média” (1994, p. 
24), elabora uma discussão bastante interessante sobre o tema. Em sua pesquisa, 
o autor recuperou uma série de documentos e nos explica que “a África era, 
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também, um mundo demoníaco com um diabo quase sempre pintado de preto já 
que, entre os medievais, Satã é chamado de Cavaleiro Negro e de Grande Negro”. 
Santos (2007, p. 23-24) elaborou um quadro muito elucidativo em que narra 
vários exemplos de como a população negra africana foi representada ao longo 
da História.
Quadro 01 - Representações do negro africano ao longo da História
REPRESENTAÇÕES DO NEGRO AFRICANO AO LONGO DA HISTÓRIA
O negro poderia
ser visto como re-
pugnante 
São Bento, o Mouro, teria ganhado a cor escura (por isso, mouro) 
depois de ter pedido a Deus que o fizesse um ser hediondo para não 
sucumbir às mulheres.
O negro poderia ser 
visto como sedutor 
Um monge do século V descreve como o diabo se disfarçava em 
mulher negra, impudica e lasciva para tentar os homens.
O diabo era pintado 
de negro
Os mouros eram tomados como demônios. Shakespeare descreve 
como assustador o mouro Otelo.
Os negros seriam
descendentes de
Caim
Caim teria tido sua face enegrecida por Deus após ter matado Abel. 
Todos os africanos seriam seus descendentes. 
Todos os africanos seriam camitas, descendentes de Cam, que teria 
rido da nudez de seu pai Noé e, como castigo, foi condenado a servir 
para sempre a seus irmãos. Expulso para a África, teve a pele escure-
cida e todos os seus descendentes teriam como destino a negrura da 
pele e a servidão.
Os negros seriam
apóstatas
Acreditava-se que todos os negros teriam tido a oportunidade de 
conhecer ao Evangelho pregado pelos quatro cantos da terra. Mas, 
mesmo assim, viviam sem aceitar a fé cristã e isso comprovava que re-
sistiam a salvar sua alma e, por isso, deveriam ser escravizados como 
forma de redenção.
Os negros seriam
povos sem lei, sem 
rei, sem fé e sem 
alma
João de Barros, cronista nascido no final do século XV, escreveu que 
os povos africanos com os quais os portugueses travavam contato 
eram gente que não conhecia a política, nenhuma forma de direito 
divino ou humano, nenhuma ciência, não conhecia a justiça, habitava 
as cavernas e vivia como animais.
Camões dizia que se tratava de selvática gente negra e nua.
Por que os negros
seriam negros?
Porque se serviam de água e alimentos somente encontrados na África. 
Porque o calor da África teria feito com que todos os elementos que 
comporiam seu corpo tivessem sido queimados somente restando a 
cor de terra preta. 
Fonte: Santos (2007, p. 23-24). 
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Essas declarações demonstram como os europeus percebiam os povos africanos 
que encontravam pelo caminho, no entanto, como bem destaca Santos (2007, p. 
24), revelam, também, a necessidade que aqueles homens tinham de 
encontrar em todo o lugar aquilo que era idêntico a eles mesmos. Olha-
vam para os africanos como se estes devessem ser europeus e, por isso, 
marcavam as diferenças que encontraram a partir do padrão europeu. 
O que era considerado positivo: ser cristão, branco, partilhar da mesma 
noção de justiça, direito, política. E o que era considerado negativo: ser 
negro, africano, não cristão, andar nu... ser diferente do europeu. 
Veja só, caro(a) aluno(a)! Eles percebiam as diferenças, atribuíam valores a elas 
e, então, definiam as hierarquias. Demarcavam, assim, – a partir de um olhar 
etnocêntrico –, aquilo que acreditavam ser os povos da África. 
A análise cartográfica também pode ser um caminho muito interessante 
para compreendermos esse contexto histórico. Conforme sugere o pesquisador 
Samain (2012), um mapa, sendo portador de pensamentos, sempre nos oferece 
algo para pensar. Assim, os mapas tornam-se uma espécie de “arquivo vivo” 
(WALDMAN, 2013, p. 06) capaz de expressar representações de um imaginário 
social e reforçar informações de um espaço geográfico determinado. 
De acordo com o pesquisador e geógrafo Waldman, a distância e o relativo 
“isolamento” da África com relação aos países da Europa contribuíram para 
reforçar abordagens repletas de significados pejorativos empregadas, desde a 
Antiguidade Clássica, ao continente africano. Um exemplo que gostaríamos 
de destacar é o famoso “mapa da África”, elaboradopelo cartógrafo holandês 
Guilherme Blaeu, em 1644. Blaeu viveu entre os séculos XVI e XVII e era filho 
de um negociante, fato esse que lhe possibilitou crescer em um ambiente repleto 
de relatos sobre diferentes países e continentes. Em 1663, Blaeu tornou-se um 
dos cartógrafos da Companhia das Índias Ocidentais, cargo de grande prestí-
gio naquela época. O “mapa da África” elaborado por ele é peculiar e apresenta 
com alta precisão os contornos do continente africano, todavia o que deseja-
mos enfatizar é a interpretação de Blaeu ao desenhar o continente. Certamente, 
tal representação é reveladora para compreendermos o imaginário europeu 
daquela época. O desenho detalhado e preciso do litoral convive com uma ima-
gem nebulosa, inexata e fantasiosa do continente (WALDMAN, 2013). Vejamos 
a ilustração do mapa a seguir.
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Figura 07 - Mapa cartográfico de Guilherme Blaeu (1644)
Fonte: Waldman (2010).1
Waldman, nos trabalhos “O mapa de África em sala de aula: a persistência do 
imaginário da desqualificação na cartografia escolar de África” (2013) e “O ima-
ginário de África na cartografia de Guilherme Blaeu” (2010, p. 01-03), fez várias 
descrições sobre o mapa do cartógrafo holandês. Segundo ele, o mapa de Blaeu 
não constitui, exclusivamente, uma imagem técnica, pois a peça sugere, também, 
uma visão de conceitos e preconceitos. E acrescenta:
 ■ O mapa de Guilherme Blaeu acata a Europa como referência para a direção 
norte, dado etnocêntrico, pois essa orientação também é simbolicamente 
considerada superior. 
 ■ Nos mares, vemos criaturas exóticas ou fantasiosas, como peixes voado-
res e serpentes marinhas.
1 WALDMAN, M. O imaginário de África na cartografia de Guilherme Blaeu. Texto disponibilizado 
pela home-page do Geocarto – Website de Geografia e Cartografia. São Paulo (SP): Departamento de 
Geografia da FFLCH da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), 2010. Disponível em: <http://mw.pro.
br/mw/geog_imaginario_de_africa_na_cartografia_de_guilherme_blaeu.pdf>. Acesso em: 19 abr. 2016.
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 ■ No continente, aparecem exemplares da megafauna e animais tropicais: 
elefantes, camelos, avestruzes, leões, macacos, crocodilos e seres mari-
nhos místicos. Não há registro de vida humana. É como se a humanidade 
não existisse na África. 
 ■ As ilustrações, de norte para o sul, reforçam estereótipos que observam 
o sul como o território da barbárie e da selvageria. 
Lembramos que as informações acerca da África eram escassas, fragmentá-
rias e distorcidas. No imaginário dos europeus, a África, especialmente a África 
Subsaariana, era um território desconhecido e “oculto enigmaticamente por 
detrás de um tórrido deserto – o ‘temido Saara’” (WALDMAN; SERRANO, 2007, 
p. 21). Aliás, são várias as descrições de viajantes e missionários europeus que, 
entre os séculos XV e XVI, passaram pelo continente e o descreveram como uma 
região infernal, de um de calor insuportável e habitado por seres monstruo-
sos e demoníacos. Desde a Antiguidade até o chamado “Século das Luzes”, o 
imaginário europeu sobre a África (e também sobre a Ásia) foi constituído pela 
existência de seres fantásticos que lhes causavam, simultaneamente, medo e fas-
cínio. Raças monstruosas, homens com um pé só e seres gigantes com o rosto 
no meio do peito foram apenas algumas das descrições feitas (SANTOS, 2002). 
A seguir, inserimos uma ilustração do século XV, presente na obra “Les secrets 
l’histoire naturelle”, de Charles d’Angoulême. Vamos observá-la.
“Fruto de escolhas que reportam padrões interiorizados pelos cartógrafos, 
a elaboração dos mapas é conotada pela seletividade e hierarquização das 
informações apresentadas. Inserindo códigos articulados a contextos histó-
rico-sociais específicos, as representações cartográficas refletem diferentes 
maneiras de como o espaço é notado e vivenciado, trazendo a baila, injun-
ções carregadas de afetações políticas, culturais e ideológicas.” 
Fonte: Waldman (2013, p. 06).
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Figura 08 - Charles d’Angoulême, em “Les secrets l’histoire naturelle”, em 1480
Fonte: Hernandez (2008, p. 55).
Na obra “O Diabo na Terra de Santa Cruz” (1989), a historiadora Souza aborda 
dois temas interessantes. O primeiro deles refere-se ao fato de que os europeus 
acreditavam que os “habitantes de terras longínquas” constituíam outra huma-
nidade – entendimento esse, aliás, permeado por uma visão etnocêntrica de 
mundo. O outro ponto destacado pela estudiosa é o olhar de exotismo lançado 
em direção aos negros africanos. Em vários textos consultados por Souza, os 
povos negros africanos (e a própria África) eram descritos de maneira ambí-
gua. A África, por exemplo, ora simbolizava o paraíso, ora, o inferno. Entretanto, 
em ambos os casos, o “olhar exótico” (mas também repleto de desprezo) sem-
pre estava presente.
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Durante o século XV, os contatos mais intensos, estabelecidos entre europeus e 
africanos, contribuíram para acentuar as leituras depreciativas que menciona-
mos até agora. 
Certamente, somos todos herdeiros desse imaginário, ao cometermos vários 
equívocos no que diz respeito ao continente africano e às sociedades que o com-
põe. De acordo com a historiadora da África, Hernandez (2008), tal concepção 
está relacionada à constituição de um conhecimento, cuja gênese remonta ao 
século XVI, mas que se desenvolve e se consolida durante a segunda metade do 
“Atribuir aos negros atributos demoníacos possibilitou que a escravidão 
fosse tomada como uma forma de redenção já que se fossem vítimas ou 
agentes de Satã, os africanos não poderiam ser abandonados sem a tentati-
va de livrá-los da influência do Maligno.” 
Fonte: Santos (2002, p. 281, grifo nosso).
Cumpre destacarmos, conforme Oliva (2005), que esse imaginário que infe-
riorizava os africanos não se limitou aos olhares europeus. Em vários relatos 
deixados por viajantes árabes e muçulmanos, que percorreram o Sudão en-
tre os séculos XI e XVI, foram encontradas ideias semelhantes. Porém não 
foram todos os pensadores árabes a concordar com tal postura. Ibn Khal-
dun, por exemplo, foi um dos principais viajantes e historiadores árabes do 
período. Entre os séculos XIV e XV, ele viajou pelo norte da África e escreveu 
a obra “Prolegômenos”, na qual descreve várias sociedades da região e ques-
tiona algumas leituras depreciativas feitas sobre os aspectos socioculturais 
dos habitantes daquela parte do continente. 
Fonte: M’Bkolo (2003, p. 232).
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século XVIII: o racionalismo. Para Hernandez (2008, p. 17-18), os efeitos do 
racionalismo
prolongam-se até os nossos dias, deixando fortes marcas nas ciências 
humanas e, em particular, na antropologia e na historiografia sobre a 
África. As ideias dessa “produção dos tempos modernos” revestem-se 
de uma legitimidade científica que deriva do par dicotômico saber-po-
der [...]. Significa dizer que o saber ocidental constrói uma nova consci-
ência constituída por visões de mundo, autoimagens e estereótipos que 
compõem um “olhar imperial” sobre o universo.
Outra discussão levantada por Hernandez, e que merece ser mencionada, refere-seà questão da história. Nas palavras da autora, “Pela ocultação da complexidade 
e da dinâmica cultural próprias da África, torna-se possível o apagamento de 
suas especificidades em relação ao continente europeu e mesmo ao americano” 
(HERNANDEZ, 2008, p. 18). Nessa perspectiva, as diferenças são tratadas 
segundo arquétipos sociais, políticos e culturais próprios da civilização euro-
peia. Dito de outra modo, é como se a África não tivesse povo, nação, Estado e 
nem passado, logo, é como se não tivesse História. 
Esse modo de conceber o continente e seus habitantes colocou a África no 
patamar inferior dentro de uma escala evolutiva classificatória (e hierarquizan-
tes) dos povos, entre primitivos e civilizados. Ora, essas afirmações imprecisas e 
incertas constituíram, na segunda metade do século XVIII e na primeira metade 
do século XIX, um discurso que se fortaleceu com a emergência dos sistemas 
classificatórios. 
Como esclarece Hernandez (2008, p. 19), no início, aqueles discursos tra-
tavam apenas do reino vegetal, todavia, com o passar do tempo, passaram a 
designar os seres humanos. A publicação do livro “Systema naturae” (século 
XVIII), do botânico sueco Charles Linné, contribui para a ampliação de tais 
ideias. Na obra, o Homo sapiens foi classificado em cinco variedades; as princi-
pais delas são citadas a seguir. 
a. Homem selvagem. Quadrúpede, mudo, peludo. 
b. Americano. Cor de cobre colérico, ereto. Cabelo negro, liso, espesso; nari-
nas largas; semblante rude; barba rala; obstinado, alegre, livre. Pinta-se 
com finas linhas vermelhas. Guia-se por costumes. 
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c. Europeu. Claro, sanguíneo, musculoso; cabelo louro, castanho, ondu-
lado; olhos azuis; delicado, perspicaz, inventivo. Coberto por vestes justas. 
Governado por leis. 
d. Asiático. Escuro, melancólico, rígido; cabelos negros; olhos escuros, severo, 
orgulhoso, cobiçoso. Coberto por vestimentas soltas. Governado por opi-
niões. 
e. Africano. Negro, fleumático, relaxado. Cabelos negros, crespos; pele ace-
tinada; nariz achatado, lábios túmidos; engenhoso, indolente, negligente. 
Unta-se com gordura. Governado pelo capricho (grifo nosso).
Como pudemos verificar, as características físicas e “morais” das populações afri-
canas (e também das populações dos demais continentes) foram precisamente 
descritas pelo botânico sueco. Entretanto não podemos deixar de perceber o olhar 
etnocêntrico e preconceituoso do pesquisador, aliás, como já demonstramos, 
esse modo de perceber as populações africanas era recorrente entre viajantes, 
estudiosos e missionários dos séculos XV, XVI, XVII e XVIII.
Oliva (2005, p. 99) descreve as observações do viajante português do século 
XV, Gomes Eanes de Zurara (1981, p. 225-230), sobre a população da Guiné.
os homens da Guiné tinham o corpo ‘[oposto do] corpo pequeno e 
delgado [do português], poderoso touro, forçoso’. Além das diferenças 
com os portugueses, os ‘guinéus’ eram marcados pela ‘ligeireza muito 
avantajada no correr’ [...]. Para o viajante português, ‘não se podia pin-
tar coisa mais feia’.. 
Leila Leite Hernandez explica, ainda, que esse sistema classificatório – que 
integrou o discurso político-ideológico europeu – “justificou” vários tipos de 
ações empreendidas contra as populações negras africanas, como o tráfico 
atlântico de escravos, os genocídios na África do Sul e a violência colonialis-
ta contra as revoltas de escravos nas Américas. 
Fonte: Hernandez (2008).
A “INVENÇÃO DA ÁFRICA” NO IMAGINÁRIO OCIDENTAL
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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De acordo com Oliva, nos relatos elaborados durante os séculos XVI, 
XVII e XVIII, a África e os africanos continuaram a ser desvalorizados, 
apesar de adquirirem um papel preponderante nas relações econômi-
cas estabelecidas pelos europeus com o mundo atlântico. Em linhas 
gerais, a transformação dos africanos em “simples mercadoria” com-
pletava um “processo de desumanização” (OLIVA, 2005, p. 101) inicia-
do séculos antes, como buscamos demonstrar no decorrer do terceiro 
tópico desta unidade. 
As contribuições do filósofo alemão Friedrich Hegel (1770-1831) tam-
bém são esclarecedoras para compreendermos o pensamento hegemô-
nico de finais do século XVIII e de todo o século XIX. Em sua obra 
“Filosofia da História Universal” (1928, p. 190-194), Hegel escreve que 
[...] os homens vivem ali na barbárie e na selvageria, sem fornecer ne-
nhum elemento à civilização. Encontramos, [...], aqui o homem em seu 
estado bruto. Tal é o homem na África. Porquanto o homem aparece 
como homem, põe-se em oposição à natureza; assim é como se faz ho-
mem. Mas, porquanto se limita a diferenciar-se da natureza, encon-
tra-se no primeiro estágio, dominado pela paixão, pelo orgulho e pela 
pobreza; é um homem estúpido. No estado de selvageria achamos o 
africano, enquanto podemos observá-lo e assim tem permanecido. O 
negro apresenta o homem natural em toda a sua barbárie e violência; 
para compreendê-lo devemos esquecer todas as representações euro-
peias. Devemos esquecer Deus e a lei moral. Para compreendê-lo exa-
tamente, devemos abstrair de todo respeito e moralidade, de todo o 
sentimento. Tudo isso está no homem em seu estado bruto, em cujo 
caráter nada se encontra que pareça humano [...]. 
Em linhas gerais, a perspectiva apresentada por Hegel confere à África um “estado 
de selvageria” em que predomina apenas a natureza, ou seja, não se produz cul-
tura e história. As ideias informam, ainda, que os africanos não têm condições 
de ultrapassar os limites da “selvageria” e de buscar um novo estado de existên-
cia, e os concebem como “seres sem cultura” e sem autonomia para construir a 
sua própria história. 
Somente em meados do século XX, a historiografia e a antropologia sobre a 
África foram ganhando novas perspectivas e passaram a ser tratadas “de maneira 
crescentemente crítica, abrindo possibilidades para que os preconceitos pudes-
sem vir a ser questionados” (HERNANDEZ, 2008, p. 23). Essa nova tendência 
nos estudos sobre o continente caracterizaram uma ruptura com o eurocen-
trismo, até então hegemônico. 
Considerações Finais
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As teorias eurocêntricas criaram várias falsificações históricas que foram 
o fio condutor de imagens estereotipadas acerca da África e seus habitantes. 
Sobre isso, vale uma última reflexão e é com ela que encerramos a primeira uni-
dade de nosso livro. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Prezado(a) aluno(a), ao final da primeira unidade de nosso livro “História da 
África”, gostaríamos que voltasse o vosso olhar para a África como um todo – 
por sua incontestável relevância na história da humanidade, mas, também, pelas 
profundas relações que possuímos com aquele continente. 
A África é um continente amplo e heterogêneo, onde vivem e viveram, desde 
os princípios da humanidade, diversos grupos humanos, com línguas, costumes, 
tradições e crenças singulares à sua própria trajetória histórica. Os estudos de 
campo lá empreendidos permitiram que nós pudéssemos conhecer, mais pro-
fundamente, o processo de evolução do homem em nosso planeta. O território 
africano é, portanto, uma fonte para a história da própria humanidade! 
Ao incursionarmos pelas representações formuladas sobre a África e seus 
habitantes, pelos europeus ocidentais ao longo dos vários séculos de nossa 
História, pudemos notar que elas estão repletas de equívocos e preconceitos. Como 
destaca Santos (2002, p. 277), de modo geral, “há uma imagem do negro afri-
cano, e da África, forjada pelo olhar europeu, e que foi elaborada e reinterpretada 
“O eurocentrismo situa-se

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