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Estresse Pós Traumatico em crianças

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As Crianças e Adolescentes Afetados pelo Estresse Pós-Traumático no Brasil: Seus Efeitos e Consequências para a Vida em Formação.
Amanda de Oliveira Martins
Cristiane Maria Nunes
Ernane Batista Lopes Junior
Larissa Gabriele Carloni
Psicologia – Universidade de Franca, 2018
Resumo: O artigo a transcrito a seguir, descreve o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TETP) e suas dificuldades em relação a vida do indivíduo, vítima desta psicopatologia, trazendo em si observações, estatísticas e informação de forma a fazer com que o assunto abordado, seja objetivo e claro, podendo levar instrutivamente o conhecimento necessário aos possíveis leitores.
Palavras Chave: Estresse Pós-Traumático, TEPT, Crianças, Adolescentes.
Introdução:
O TEPT é o quadro psicopatológico mais frequente na população infanto-juvenil associado à exposição a eventos traumáticos (Bal & Jensen, 2007; Ehlers, Mayou, & Bryant, 2003; Linning & Kearney, 2004; Runyon, Faust, & Orvaschel, 2002; Ziegler, Greenwald, DeGuzman, & Simon, 2005). Crianças podem desenvolver severas sequelas emocionais, tais como o TEPT, após serem expostas a experiências traumáticas, incluindo maus-tratos, abuso sexual, guerra, acidentes de carro, desastres naturais e sérias condições médicas (Catani, Jacob, Schauer, Kohila, & Neuner, 2008; Kaminer, Seedat, & Stein, 2005; Perrin, Smith, & Yule, 2000).
No entanto, uma heterogeneidade de respostas emocionais, cognitivas e comportamentais é vista em crianças expostas a tais eventos, sendo que algumas desenvolvem sequelas emocionais agudas, outras crônicas e outras sobrevivem ao trauma e apresentam uma adaptação positiva (Cook-Cottone, 2004).
Conforme proposto por Terr (1991), algumas características comuns à maioria dos casos de traumas infantis envolvem a presença de memórias visualizadas ou repetidamente percebidas, comportamentos repetitivos, medos específicos relacionados ao trauma e mudanças de atitudes quanto às pessoas, à vida e ao futuro.
Uma pessoa com o TEPT não pode demorar pela busca de um tratamento, pois o quadro pode se agravar fazendo aumentar a incidência de transtornos relacionados.
O tratamento pode incluir diferentes tipos de psicoterapia e o uso de medicamentos pode controlar a evolução do quadro. O paciente pode se cuidar gerenciando o estresse, praticando atividades e com algumas técnicas de relaxamento.
A partir dessas considerações iniciais, o presente artigo apresenta dados da literatura referente à prevalência do TEPT em crianças e adolescentes, discute os critérios para o diagnóstico do TEPT e aponta alguns dos principais instrumentos utilizados para a avaliação clínica do TEPT infantil.
Estatísticas:
2 milhões de casos são registrados no Brasil ao ano, tornando o assunto mais preocupantes, mas mesmo assim ainda não aprofundado e pouco estudado no país.
“É grande a prevalência dos problemas de saúde mental na infância e adolescência, afetando cerca de 20% desta população em todo mundo. ” “ A investigação de TEPT nas fases iniciais do desenvolvimento possibilita identificar aspectos-chave para a prevenção do problema. Estatísticas demonstram que na infância e adolescência a exposição à violência é grande e, comumente, surge em conjunto com outras vulnerabilidades psicossociais, deixando a criança e ao adolescente mais vulnerável para lidar com situações estressantes. ” (LIANA, 2011).
Em 2011 o SINAN (Sistema de Informação de Agravos e Notificação) de Santa Catarina registrou números alarmantes das ocorrências na região que envolviam algum tipo de trauma infanto-juvenil.
Baseando se nos estudos e declarações de Waiselfisz (2012), o sexo feminino é o mais atingido pela violência, e o principal local em que o ato ocorre é na residência da vítima. Com relação aos tipos de violência que merecem destaque, 40,5% (n= 21.279) dos casos são de violência física, 20% (n= 10.425) sexual, 17% (n= 8.948) psicológica e 16% (n= 8.275) negligência.
Para Ximenes, Oliveira e Assis (2009), Borges, Zoltowski, Zucatti e Dell’Aglio (2010), a prevalência da população, em geral, de apresentar alguma vez na vida o TEPT é de aproximadamente 6,5%. Nesta pesquisa, os estudos acerca da prevalência foram organizados da seguinte maneira: a) Eventos intencionais provocados pelo homem (abuso sexual e guerra), b) Eventos não intencionais, provocados pelo homem (acidente de carro e queimaduras intencionais) e c) Eventos provocados pela natureza (furacão, terremoto e tsunami). 
No caso do abuso sexual, Borges e Dell’Aglio (2008) deram enfoque aos sintomas tanto emocionais e comportamentais, presentes no TEPT e em suas comorbidades. O número de participantes estudados por eles, foi de 16 meninas vítimas de abuso sexual, pertencentes à faixa etária dos 7 aos 13 anos. Enurese (n=7), comportamento sexualizado (n=7), pesadelos (n=7), choro frequente (n=9), medos (n=9) e dificuldades de concentração (n=11), foram os principais sintomas referidos pelas mães e ou cuidadores. Com relação à prevalência do diagnóstico,
Com relação à prevalência do diagnóstico, 10 meninas, ou seja, 62,5% delas responderam aos critérios necessários para o diagnóstico de TEPT; as outras seis apresentavam alguns sintomas, porém insuficientes para que um diagnóstico pudesse ser estabelecido. O critério que se sobressaiu foi a excitabilidade fisiológica aumentada, sobretudo nos sintomas de dificuldade de concentração, Hipervigilância, irritabilidade e insônia. Outros estudos foram feitos, porém os resultados se mostram cada vez piores.
Catani e outros (2009) realizaram um estudo no Afeganistão, feito na cidade de Dashti Barchi. 
Eles investigaram crianças em fase escolar de 7 a 13 anos, tendo sido aos eventos traumáticos e com prevalência de TEPT, os meninos conviveram diretamente com a guerra, ao presenciarem espancamentos e ao verem corpos massacrados pela cidade. Expostos à violência familiar por meio de agressões físicas e Psicológicas e a prevalência de TEPT nesse grupo foi de 26,1%. Catani e outros (2009) inferem que os meninos são os mais atingidos, pois a própria cultura propicia a eles maior liberdade. Já as meninas, cuja prevalência de TEPT é de 14,1%, ficam cerceadas ao entorno da casa, não se expondo tanto quanto os meninos aos eventos traumáticos.
Não só a guerra, mas outros fatores de riscos não intencionais podem culminar no TEPT na infância. No estudo de Stallard, Salter e Velleman (2004), por exemplo, 75 meninos e 83 meninas entre 7 e 18 anos sofreram acidente de carro; após quatro semanas, 46 deles (29,1%) preencheram os critérios para TEPT. As meninas foram mais propensas a desenvolver o transtorno do que os meninos. A maneira como ocorreu o acidente e as consequências dele, tais como: quebrar um osso, ficar vários dias hospitalizados, passar por alguns raios-x, não foram preditoras de TEPT.
Na sequência, Young, mesmo que, os casos de TEPT após violência física sejam os mais registrados, a maioria dos casos é por testemunho e observação, nos casos de abuso sexual vividos por meninas, a preocupação neste artigo acabou sendo maior em termos estatísticos, pois, sua prevalência cresce em grande escala no Brasil.
Diagnóstico:
Os sintomas do TEPT podem manifestar-se em qualquer idade e levar meses ou anos para surgir. O transtorno pode se desenvolver depois que as crianças testemunham ou experimentam um ato de violência, tal como o ataque de um cachorro, um tiroteio em uma escola, um acidente ou um desastre natural, o diagnóstico se baseia nos sintomas que ocorrem após um evento traumático. Constitui-se de três “embalagens” de sintomas: revivência, entorpecimento e hipervigilância. 
	Revivência
	• Lembranças intrusivas
• Pesadelos traumáticos
• Flashbacks do TEPT
• Degradações psicológica relacionada ao trauma e evocada por estímulos
• Reações fisiológicas relacionadas ao trauma e evocadas por estímulos
• As crianças não apenas revivem o evento, como também podem se sentir emocionalmente entorpecidas, extremamente tensas e nervosas.
	Evitação
	• Evitação de pensamentos e sensações entorpecimento relacionados ao trauma• Evitação de atividades, pessoas e locais relacionados ao trauma
• Amnésia para memórias relacionadas ao trauma
• Diminuição do interesse
• Sensação de distanciamento ou estranhamento
• Amplitude afetiva restrita
• Redução de perspectivas futuras
	Hipervigilância
	• Insônia
• Irritabilidade
• Dificuldade de concentração
• Hipervigilância
• Reação de proteção exagerada
	Enurese
	• “Xixi na cama” (Urinar noturno)
• Incontinência Urinária
• Urinar em Situações de medo
Também são necessárias, medidas para perseverança e gravidade de tais sintomas após um acontecimento traumático.
No caso da Enurese, a Psicóloga Estela do site Minuto Saudável alerta, “ para muitas crianças, é normal que o fato de molharem a cama aconteça uma vez ou outra. Além disso, é a partir dos 2 anos que as crianças começam a desenvolver um controle dos esfíncteres, músculos que auxiliam na retenção ou liberação da urina e das fezes. 
“Acredita-se que é por volta dos 3 anos que os pequenos começam a ter o total controle da bexiga durante o dia, não molhando mais a cama ou as roupas, já que é por volta dessa idade que as mães começam a tirá-las da fralda. ” (ESTELA, 2018)
Uma criança com enurese, precisa ser observada quanto a sua idade, frequência e ambiente em que ela está inserida, pois razões sociais e psicológicas interferem nas micções, ou seja, no xixi. 
O “xixi na cama” pode ter como motivo distúrbio psicológico, mudanças de escola, de cidade e até mesmo a separação dos pais, qualquer razão que tenha causado algum trauma infantil. Apesar de ser mais frequente em crianças, a enurese pode ocorrer em qualquer idade, em 15% das crianças até 5 anos, 3% aos 10 anos e 1% em adultos (acima de 20 anos), sendo os meninos os mais afetados.
Esses sintomas representam a persistência de reflexões, sensações e comportamentos especificamente relacionados ao evento traumático. Tais lembranças são intrusivas, pois não só são abominadas como também são intensas o suficiente para impossibilitar qualquer outro pensamento. As lembranças durante o dia e os pesadelos traumáticos à noite normalmente evocam pânico, terror, pavor, luto ou desespero. 
Às vezes, as pessoas com TEPT são otimizadas a motivos que lembram o trauma (estímulos relacionados ao trauma) e se encontram subitamente envolvidas em um estado psicológico – o flashback do TEPT – em que revivem a experiência traumática, perdendo toda a conexão com o presente.
Chama-se esse estado de estado dissociativo agudo ou estado psicótico breve, no qual os indivíduos realmente agem como se tivessem que lutar pela vida, como foi o caso durante a exposição ao trauma inicial. Examinemos o exemplo de uma mulher que tenha sido vítima de estupro ao entardecer por um homem escondido em um lugar escuro, que a arrastou até um beco antes de iniciar o ataque sexual. Passados muitos meses, essa mulher está a caminho de casa, voltando do trabalho. O pôr-do-sol produz sombras sobre todos os cantos e frestas próximos à calçada. Ao olhar para um beco bastante escuro, ela “vê” um estuprador a postos, pronto para atacá-la. Na verdade, não há ninguém. A semelhança entre a cena do estupro e as cenas produzidas no presente pelo fim de tarde urbano produziram uma alucinação que é, na verdade, um flashback do TEPT. Como consequência, ela crê estar, mais uma vez, iminente a ser estuprada, e corre pela rua aos gritos. 
Em função da improbabilidade de precaver de modo bem-sucedido a ocorrência de eventos traumáticos, a melhor abordagem possível seria promover a resiliência – um tipo de “vacina psicológica” – em níveis social, comunitário, familiar e individual. Pesquisas epidemiológicas indicam consistentemente que as pessoas variam em sua fraqueza (ou resiliência) em relação ao esgotamento pós-trauma, comprovando estratégias públicas em saúde mental para reconhecer e promover a resiliência entre aquelas em maior risco de respostas graves, crônicas e debilitantes pós-trauma. O estímulo da resiliência poderia ser: 
Em nível social – aumento de leis, políticas e costumes que garantam a melhor preparação possível para ataques terroristas e para respostas à população em relação a tais ataques. 
Em nível comunitário – talvez a “vacina” psicológica mais eficiente para a maioria das crianças e dos adultos seria a psico-educação pró ativa dada nas escolas, em locais de trabalho e na comunidade. 
 Em nível familiar – encorajamento à coesão e ao apoio mútuo, para que a harmonia familiar amenize o impacto do estresse traumático sobre seus membros. 
Em nível individual – aumento da competência do indivíduo para lidar com o estresse traumático por meio de técnicas adaptativas, como comportamentos de proteção, controle das respostas fisiológicas ou procura ativa por apoio social.
O DSM-IV (Manual de Diagnóstico dos Distúrbios Mentais) e o CID-10 (Classificação Internacional das Doenças) determinaram os critérios para o diagnóstico do transtorno do estresse pós-traumático.
A primeira exigência é identificar o agente estressor (evento traumático), que tenha encenado ameaça à vida do portador do distúrbio ou de uma pessoa querida e perante o qual se sentiu debilitado para esboçar qualquer atitude. Os outros levam em conta os sintomas característicos do TEPT.
São opções de tratamento a terapia cognitivo comportamental e a indicação de medicamentos ansiolíticos, quando necessários.
Conclusão:
Por meio desse artigo, concluímos que o trauma não ocorre apenas relacionado à exposição de eventos trágicos, mas depende também da resposta emocional do indivíduo que é exposto a tal acontecimento. As pesquisas sobre TEPT podem contribuir para uma maior compreensão teórica do transtorno e de como o mesmo se apresenta no meio de crianças e adolescentes. 
É importante que o tempo entre a ocorrência do evento traumático e o atendimento psicológico inicial, seja rápido, para que possa reduzir os efeitos traumáticos e os sintomas de estresse. Como tratamento utiliza-se a terapia cognitivo comportamental e medicamentos ansiolíticos.
Referências:
JEANE, L.B; ANA PAULA C.Z; ANA PAULA, N.Z; DÉBORA, D.D. “Transtorno de estresse pós-traumático (tept) na infância e na adolescência”, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, 2010.
JEANE, L. B; DÉBORA, D.D. “RELAÇÕES ENTRE ABUSO SEXUAL NA INFÂNCIA, TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO (TEPT) E PREJUÍZOS COGNITIVOS”
LIANA, F.X “Transtorno de estresse pós-traumático em crianças e adolescentes. O impacto da violência e de outros eventos adversos sobre escolares de um município do estado do Rio de Janeiro”, Tese apresentada com vistas à obtenção do título de Doutor em Ciências na área de Saúde Pública, Rio de Janeiro, abril de 2011.
Habigzang, Luísa Fernanda; Borges, Jeane Lessinger; Dell'Aglio, Debora Dalbosco; Koller, Silvia Helena“ Caracterização dos sintomas do Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) em meninas vítimas de abuso sexual” 2010
Meninas são mais atingidas pelo trauma	
Violência Física	Violência Sexual	Violência Psicológica	Negligência.	21279	10425	8948	8275	
Número de meninas que apresentaram o sintoma	
Meninas 	Enurese	Choro Frequente	 Comportamento Sexualizado	Medos	Pesadelos	16	7	9	7	9	7	
Crianças E Adolescentes que sofreram acidente de carro (entre 7 e 18 anos)
Crianças E Adolescentes (entre 7 e 18 anos)	
meninos	meninas	meninos e meninas com TEPT	75	83	46	
Registros de Estresse Pós Traumático entre
 (1 a 19 anos de idade)
Registros de Estresse PóS Traumatico entre (1 a 19 anos de idade)	
Santa Catarina (casos de violência)	Região Sul (notificações)	Região Sudeste (notificações)	5632	19959	46322	
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