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OPINIÕES VOLÁTEIS OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO Universidade Metodista de são PaUlo Diretor Superintendente do Cogeime Diretor Geral das IMEs Robson Ramos de Aguiar Consad – Conselho superior de administração titulares: Valdecir Barreros (Presidente); Aires Ademir Leal Clavel (Vice-Presidente); Esther Lopes (Secretária); Marcos Gomes Torres; José Erasmo Alves de Melo; Renato Wanderley de Souza Lima; Jorge Pereira da Silva; Andrea Rodrigues da Motta Sampaio; Cassiano Kuchenbecker Rosing; Luciana Campos de Oliveira Dias; Bispa Marisa de Freitas Ferreira Membros suplentes: Eva Regina Pereira Ramão; Josué Gonzaga de Menezes reitor Paulo Borges Campos Jr. diretor de Graduação Sérgio Marcus Nogueira Tavares diretor de educação a distância Marcio Araújo Oliverio diretora de Pós-Graduação e Pesquisa Adriana Barroso de Azevedo diretora de extensão e ações Comunitárias Alessandra Maria Sabatine Zambone diretor da Faculdade de teologia Paulo Roberto Garcia diretor do Campus rudge ramos Kleber Nogueira Carrilho diretor do Campus Planalto Nilton Abreu Zanco diretor do Campus vergueiro Carlos Eduardo Santi Conselho de Política editorial Paulo Borges Campos Jr. (Presidente); Alessandra Maria Sabatine Zambone; Cristiane Lopes (Presidente da Comisão de Livros); Isaltino Marcelo Conceição; João Batista Ribeiro Santos; Lauri Emilio Wirth; Marcelo Furlin; Mário Francisco Guerra Boaratti; Noeme Timbó (Biblioteca) Comissão de livros Adriana Barroso de Azevedo; Almir Martins Vieira; André Luiz Perin; Antonio Roberto Chiachiri; Cristiane Lopes (Presidente) editor executivo Sergio Marcus Nogueira Tavares EDITORA METODISTA Rua do Sacramento, 230, Rudge Ramos 09640-000, São Bernardo do Campo, SP • Tel: (11) 4366-5537 E-mail: editora@metodista.br • www.metodista.br/editora Capa: Cristiano Freitas Editoração eletrônica: Maria Zélia Firmino de Sá Revisão: João Guimarães AFILIADA À Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Biblioteca Central da Universidade Metodista de São Paulo) FICHA CATALOGRÁFICA F225o Farias, Luiz-Alberto de Opiniões voláteis: opinião pública e construção de sentido / Luiz-Alberto de Farias. São Bernardo do Campo : Universidade Metodista de São Paulo. 2019. 144 p. Bibliografia ISBN 978-85-7814-397-8 1. Opinião pública 2. Opinião pública (Relações públicas) 3. Comunicação e mídia 4. Comunicação de massa 5. Mídias sociais I. Título. CDD 303.38 “Homem nenhum pode descrever o que há dentro dos sonhos.” (Paraísos artificiais, Charles Baudelaire) “Podem me prender Podem me bater Podem até deixar-me sem comer Que eu não mudo de opinião.” (Opinião, Zé Keti) Hosana, Vânia, Miguel e Heitor, que escrevem em minha vida os mais lindos sentimentos, palavras e pensamentos. Aos meus irmãos (Maria José, Maria Aparecida e Alfredo), companheiros de memória e de circunstâncias. 7 resumo As opiniões são voláteis: transformam-se no ecossistema social com grande rapidez. Em tempos considerados líquidos, a capaci- dade de informação que passa por superávit pode ser exatamente a grande armadilha aos que recebem fake news, aos que se tor- nam fake readers e aos que se especializam como fake writers. A obra Opiniões voláteis expõe a construção da formação de opinião, notadamente a opinião pública, que conceitualmente é polêmi- ca e se transforma de acordo com muitos fatores que estão em permanente disputa de sentidos. Coloca-se, assim, em discussão, a temática opinião pública e seus desdobramentos no âmbito da sociedade e os diversos efeitos que se produzem. Aspectos midiáticos – analógicos e digitais –, influência da imprensa na formação da opinião dos públicos e presença das mídias sociais digitais também são analisadas frente a questões como etnicida- de e intolerância, em momentos nos quais as transformações da sociedade passam por debates mais constantes, ainda que mais superficiais e muitas vezes edulcorados ou repletos de agror. O livro se origina de pesquisa de livre docência junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo e resgata os alicerces teóricos dos estudos sobre opinião pública, concei- tuações e autores. Formado por cinco capítulos – 1. Opinião pú- blica e a opinião publicada: conceitos, teorias e impactos sobre a formação da Opinião Pública; 2. Opinião e Relações Públicas: persuasão e engajamento; 3. Pesquisa e produção sobre opinião pública no Brasil: anos 2000; 4. Da fogueira à vaidade: o processo de intolerância histórica, da religião à ágora digital; 5. Fake news e pós-verdade: indústria de risco, crise e imagem em tempos de cólera. Ao final da leitura é possível ter o panorama das tensões permanentes e disputas simbólicas que geram a opinião, às ve- zes tornada pública, por vezes localizada em dados grupos, e que influenciam os movimentos da sociedade a todo o tempo. Palavras-chave: Opinião pública. Comunicação. Mídia. Relações públicas. Influência. Persuasão. Sedução. Lista de quadro, tabelas, figura e gráficos Quadro 1 – Fluxos de comunicação ..................................................................... 47 Tabela 1 – Histórico das linhas de investigação em Relações Públicas ......... 59 Tabela 2 – Artigos que possuem como tema central a opinião pública (publicados entre 2000 e 2015) ............................................................................ 64 Tabela 3 – Dissertações que possuem como tema central a opinião pública (publicadas entre 2000 e 2015)............................................................... 85 Tabela 4 – Teses que possuem como tema central a opinião pública (publicadas entre 2000 e 2015) ............................................................................. 92 Tabela 5 – Livros que possuem como tema central a opinião pública (publicados entre 2000 e 2015) ............................................................................ 96 Figura 1 – Fontes de busca das pesquisas sobre Opinião Pública .................. 63 Gráfico 1 – Participação dos periódicos e congressos na produção científica de pesquisa sobre opinião pública ..................................................... 84 Gráfico 2 – Áreas das dissertações produzidas entre os anos 2000 e 2015 ..... 91 Gráfico 3 – Áreas de produção de teses produzidas entre os anos de 2000 e 2015 .............................................................................................................. 95 Gráfico 4 – Participação de publicações relacionadas ao tema Opinião Pública no Brasil entre os anos de 2000 e 2015 ................................................. 98 Gráfico 5 – Temas Relacionados ao Estudo da Opinião Pública em Periódicos, Teses, Dissertações e Livros do Brasil .......................................... 100 Gráfico 6 – Temas Relacionados ao Estudo da Opinião Pública em Periódicos do Brasil ...................................................................................... 100 Gráfico 7 – Temas Relacionados ao Estudo da Opinião Pública em Dissertações do Brasil ......................................................................................... 101 Gráfico 8 – Temas Relacionados ao Estudo da Opinião Pública em Teses do Brasil ............................................................................................... 102 Gráfico 9 – Temas Relacionados ao Estudo da Opinião Pública em Livros do Brasil ................................................................................................................ 102 9 Sumário Prefácio – O império do volátil.........................................................................11 Novas abordagens ................................................................................................13 Apresentação – Nem tudo que é volátil se desmancha no ar! Pistas à compreensão da opinião pública na contemporaneidade .........................15 Desde as origens ....................................................................................................19Introdução .............................................................................................................21 CAPíTuLO 1 Opinião pública e a opinião publicada: conceitos e teorias e impactos sobre a formação da opinião pública ................................................................27 1.1 Conceitos ao longo do tempo ...................................................................29 1.2 Algumas obras de referência .....................................................................36 1.3 Por um conceito balizador ........................................................................38 1.4 Relacionamento com a mídia e exposição ..............................................43 1.4.1. Através das mídias .................................................................................46 CAPíTULO 2 Opinião e relações públicas: persuasão e engajamento ................................51 2.1. Relações Públicas: conceitos e histórico .................................................51 2.2. Pesquisa e produção, associações e mercado no Brasil ........................55 2.3. Agentes de influência: persuasão e gestão de comunicação ...............60 CAPíTULO 3 Pesquisa e produção sobre opinião pública .....................................................63 3.1. Artigos sobre Opinião Pública .................................................................64 3.2. Dissertações sobre Opinião Pública ........................................................85 3.3. Teses sobre Opinião Pública ....................................................................92 3.4. Livros sobre Opinião Pública ..................................................................95 3.5. Estado da Arte ............................................................................................97 CAPíTULO 4 Da fogueira à vaidade: o processo de intolerância histórica – da religião à ágora digital ................................................................................105 4.1. Intolerância na história: religião, etnicidade e outros problemas ...... 107 4.2. Redes sociais digitais e superexposição ...............................................111 4.3. Construção e desconstrução de mitos ..................................................115 CAPíTuLO 5 Fake news e pós-verdade: indústria de risco, crise e imagem em tempos de cólera ...............................................................................................................121 5.1. Comunicação em tempos de cólera ......................................................121 5.2. Cólera em tempos de comunicação ......................................................124 5.3. Cólera como cultura, comunicação como processo ............................126 Reflexões não solitárias ...................................................................................131 Referências ...........................................................................................................137 11 Prefácio O império do volátil Paulo Nassar* O Professor Doutor Luiz Alberto de Farias (ECA-uSP e univer-sidade Metodista de São Paulo) faz parte de um pequeno time de pesquisadores e professores que formam atualmente a cor- rente crítica das Relações Públicas brasileiras e iberoamericanas. Seu livro Opiniões Voláteis é um fruto delicioso, produzido a partir de sua tese de Livre-Docência, defendida na Escola de Comunicações e Artes, da universidade de São Paulo, em 2018, em que discute o tema da opinião pública e seus impactos em uma sociedade obesa de informa- ções e faminta de significado e sentido. um trabalho que coroa uma jornada acadêmica exitosa que equilibra as atividades de pesquisador e de professor engajado na defesa das liberdades de pensamento, de associação e de manifestação. Opiniões Voláteis reflete esse percurso intelectual de Farias e faz um resgate teórico criterioso e referencial do tema da opinião pública, além de estabelecer uma práxis provocadora e inteligente, ao exercitar o que foi pesquisado na análise do estado da arte da temática no con- texto de um Brasil dividido e intolerante, dos anos 2010. Em seu livro, Farias promove a ligação do campo das Relações Públicas aos saberes contemporâneos da Antropologia, da Psicologia, da Sociologia, da Filosofia, das Comunicações e das Artes e de outras * É Doutor, Livre-Docente e Professor Titular da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), Coordenador do Grupo de Estudos de Novas Narrativas (GENN/ECA-uSP) e Diretor Presidente da Associação Brasilei- ra de Comunicação Empresarial (Aberje). 12 Luiz-ALberto de FAriAs interfaces, às vezes inesperadas e não exploradas pelo pensamento das velhas relações públicas, caracterizadas por pesquisadores “mais acostumados a fazer pesquisa-xerox do que pensar a realidade em que vivem”, no dizer de Armando Mendes, citado por Gilberto Freyre, em seu livro Insurgência e ressurgências atuais: cruzamentos de sins e nãos num mundo em transição. Farias, como pesquisador dionisíaco – adjetivo cravado por mim, inspirado na crítica que Freyre fez, por meio das duras palavras de Mendes dirigidas aos burocratas científicos – pesquisa e pratica as Re- lações Públicas, de índole crítica, na linhagem daqueles que são, no dizer de Freyre, hereges, audazes, inconformados, não bitolados, poé- ticos, estéticos, éticos e proféticos. Rebeldia como elogio Somada a essas categorias de pesquisadores que contribuem para o avanço da ciência, elencadas por Freyre, eu acrescento a necessária rebeldia de Luiz Alberto de Farias em tempos de acomodação acadê- mica e social. Nesse engajamento, Farias sabe que as Relações Públi- cas críticas – como pensamento e ação – estão estritamente ligadas às ideias de democracia, de público, de circulação livre de informações, liberdade de pensamento, associação, expressão e de imprensa (o que compreende as possibilidades de divergir, argumentar, de dialogar, de criticar, e em um processo dialógico estabelecer o consenso ou afir- mar a controvérsia) e a existência de meios de comunicação. Nos locais onde existem essas condições tão caras às Relações Públicas de linha crítica – seja nas dimensões de uma pequena casa ou de um palácio, da vila ou de uma metrópole, de um think tank ou de uma universidade, do país, do continente, da Terra – florescem a liberdade, a expressão da diversidade, a inovação educacional, científica e artística. Em uma perspectiva utópica, presente em muitas literaturas e constituições, a ação do homem, mesmo em sua imperfeição, é trans- formada em um espírito do tempo benfazejo e fundamental para a rea- lização do melhor de uma sociedade e de suas pessoas. Isto, dentro do arcabouço de ideias como as de Alexis de Tocqueville, no século XIX, em sua obra A democracia na América, inspiradora, para além da socie- dade norte-americana, das bandeiras da Liberdade e da Igualdade. 13 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO O reverso disso sempre foi a distopia afirmada pelas ditaduras – à esquerda e à direita do espectro político e até da religião, que oprime a sociedade por meio de visões fundamentalistas – que atravessaram de forma triste a maior parte do século XX e ainda se fazem presentes em nosso tempo em muitas partes do mundo. Ou seja, ditaduras im- põem a díade Opressão e Desigualdade e estabelecem o grau zero da democracia, a anulação da opinião pública e a opacidade ilegítima das operações e decisões organizacionais. Novas aboRdageNs Luiz Alberto de Farias explora em seu livro Opiniões Voláteis as novas dinâmicas de formação da opinião pública em uma sociedade de informações excessivas. Terreno em que a formação de opinião pública se dá em meio ao embate dos fatos do cotidiano – em meio à guerra de narrativas – que, na visão de Winston Churchill, já nos anos 1930, estão sempre pulando sobre as mesas daqueles que querem negar ou revisar o passado, ou mesmo esconder o presente. E agora, emnossa época, explodem nas telinhas e nos ouvidos dos smartphones, para o escrutínio imediato de bilhões de pessoas. Fatos que se transformam – por meio de palavras e imagens – em falatório dentro de um ambiente comunicacional, cada dia mais horizontal, circular, transversal e informal, que abrange a conversa entre vizinhos, entre familiares, no interior de grupos físicos ou digi- tais e por todo tipo de meio de comunicação. Ambiente comunicacio- nal que afirma mais e mais a soberania da opinião pública, no dizer do filósofo escocês, David Hume (1711-1776), ainda no contexto do século XVIII, “que pesa e pesará sempre em todas as horas, nas socie- dades humanas”, mesmo naquelas que momentaneamente o medo cerceou as palavras. O que tem pesado, em termos de fatos objetivos e subjetivos, na formação da opinião pública de nossos dias? É uma das perguntas pre- sentes em todo o estudo produzido pelo professor Luiz Alberto de Fa- rias. No presente empírico de nossa sociedade, entre as pesquisas com o termo “o que é” mais acessadas pelos brasileiros no Google estão “<O que é fascismo?>; <O que é intervenção militar?>; <O que é lúpulo?>; 14 Luiz-ALberto de FAriAs <O que é ursal?>; <O que é Corpus Christi?>”. Isso, de certa forma, nos traz a hipótese de um Brasil que se distancia, no frame pesquisado, de um país apenas do futebol, de praias paradisíacas e ensolaradas, das sandálias Havaianas, do samba, do sexo, entre outras imagens estereo- tipadas sobre o que nós brasileiros conversamos em nosso dia a dia. O que nos mostra o dinamismo de formação de opinião públi- ca, enquanto fenômeno de fortes dimensões sociais, históricas, psi- cológicas e antropológicas. Aspectos que ganham características me- moriais, rituais e mitológicas em uma sociedade que quer se afirmar cada vez mais profana. leituRa do pReseNte Muitas das pretensões, decisões e ações de protagonistas públi- cos ou privados produzem, pelo seu potencial impacto nas dimensões econômicas, sociais, ambientais e culturais da sociedade, inúmeros pon- tos de vista e por isso se transformam em questões públicas. Queiram ou não, indivíduos e organizações estão sob a égide de uma sociedade regida pela opinião pública. Nesse contexto, as Relações Públicas po- dem, se críticas, afirmar a sua essência democrática e civilizatória. Essa é uma mensagem de raiz que percorre toda a formulação deste trabalho de Luiz Alberto de Farias. Não bastasse esta afirmação, a leitura de Opi- niões Voláteis é de muitas formas uma leitura estratégica do presente, que atualiza a forma de pensar e fazer Relações Públicas e Comunicação. 15 apresentação Nem tudo que é volátil se desmancha no ar! Pistas à compreensão da opinião pública na contemporaneidade Eneus Trindade* Um dos pilares das pesquisas em Ciências Sociais/Comunicação é o compromisso social de fazer revelar aquilo que o senso comum percebe como efeitos da mídia, mas não consegue ex- plicar ou compreender como processo, bem como, não se percebem as consequências desses efeitos para a vida social. A obra Opiniões voláteis do Prof. Dr. Luiz Aberto de Farias, reflete essa característica da solidez da pesquisa em comunicação, ao tratar pela metáfora da volatilidade a problemática que os fenômenos da opinião pública adquiriram na atual configuração dos ambientes midiáticos e sociais. O autor busca, pelos caminhos da pesquisa, a segurança de um percurso que tenta apreender e compreender os meandros dos proces- sos de formação de opinião pública como fenômeno e conceito, consi- derando suas dinâmicas e volatilidade de apreensão frente às transfor- mações da sociedade e da conjuntura midiática. Trata-se de um livro resultante de uma pesquisa, que deu origem à tese de Livre-Docência do autor de mesmo título, defendida em 2018, na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Pro- cesso no qual eu tive a honra de avaliar e que agora faço honrosamente a apresentação do livro originário da tese. Agradeço publicamente o convite que a mim foi realizado pelo amigo e colega Luiz Alberto. * É Doutor e Professor Associado (Livre-Docente) do Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo, da Escola de Comunicações e Artes, da Univer- sidade de São Paulo. Bolsista Produtividade em Pesquisa - PQ 2 CNPq. 16 Luiz-ALberto de FAriAs Opiniões voláteis é mais do que o autor define como um estado da arte sobre o assunto e se faz revelar como um texto que aborda o estado do conhecimento sobre a produção científica em opinião públi- ca, estudando teses, dissertações, artigos científicos e livros publicados sobre o tema. O valor de trabalhos dessa natureza está no fato de que as in- formações apresentadas são balizadoras dos embates e evoluções do campo científico sobre o tema da opinião pública, revelando os cami- nhos percorridos, as perspectivas teóricas e métodos mais utilizados, o que já saturou, bem como apontam os possíveis caminhos a percor- rer, percebendo o que há por compreender e mostrando os desafios da volatilidade da formação da opinião pública no ambiente midiá- tico digital, como nova fronteira a explorar no campo dos estudos da Comunicação midiática. O livro inicia-se com a discussão Opinião pública e opinião publi- cada: conceitos, teorias e impactos sobre a formação da Opinião Pública, que aborda o lugar do fenômeno no campo das Ciências Sociais e das Ciên- cias da Comunicação. O segundo capítulo Opinião e relações públicas: persuasão e engajamento, situa o tema da opinião pública, na perspectiva da gestão de públicos e explica que as opiniões de públicos não estão desengajadas de interesses de grupos, organizações comerciais, insti- tuições sociais, políticas, governamentais. A opinião pública não se for- ma ingenuamente e o autor demonstra a força da institucionalização dos processos midiáticos nas formações das opiniões, nas mentalida- des e nas ideias dos diversos públicos, daí a aproximação que o Prof. Luiz Alberto apresenta, de forma didática, entre opinião pública e as Relações Públicas, como um aspecto fundamental para o trabalho da gestão comunicacional dos públicos. O terceiro capítulo, Pesquisa e produção sobre opinião pública, é o ponto alto do livro nos termos da valiosa contribuição científica que aporta ao analisar os artigos, teses e dissertações e obras em livros que abordam o tema em debate. Aqui o leitor pode encontrar caminhos seguros, já saturados e identificar desafios na pesquisa sobre opinião pública. Por fim, toda a discussão a respeito de novos caminhos da reflexão sobre a opinião pública ganha corporalidade empírica nos capítulos 4 e 5, respectivamente representados pelas discussões Da 17 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO fogueira à vaidade: o processo de intolerância histórica – da religião à ágora digital (capítulo 4) e Fake news e pós-verdade: indústria de risco, crise e imagem em tempos de cólera (capítulo 5). Trata-se de um presente que o autor oferece aos interessados na temática e que permite concluir que, a partir da complexidade da empiria, é necessário ousar de forma interdisciplinar, mais do que nunca, para entender os novos processos de formação da opinião pública na mediação das mídias digitais. O desafio da mediação do digital na comunicação para a forma- ção da opinião pública passa por questões de ética, sociais, frente ao tipo de sociedade que estamos formando, bem como da compreensão das formas de escrituras e circulação digitais que tais mensagens ope- ram para gerar os fenômenos de apropriação/recepção dos sujeitos e instituições no que se define como opinião pública e sua alta capaci- dade de manipulação e transformação, frente aos interesses de quem detém o controle dos mecanismos de tais formações. É nessa perspectiva de leitura que reconheço a relevância da obra apresentada, bem como a sua oportuna contemporaneidade no tratamento do tema. Luiz Alberto, tomando a liberdade de assim cha- má-lo, na melhor expressão deapreço e amizade que temos mutua- mente como amigos e colegas que somos, consagra-se na maturidade da sua carreira como autor destacado no campo da Comunicação em Relações Públicas e na reflexão sobre opinião pública no cenário bra- sileiro. Recomendo a leitura e manifesto meu desejo de que o conheci- mento aportado pela obra seja útil aos leitores como foi para mim, pois estamos todos em permanente processo de aprendizagem. Boa leitura! São Paulo, 22 de janeiro de 2019 19 Desde as origens A discussão sobre opinião pública começa no momento em que nos apercebemos que fazemos parte de uma sociedade na qual as disputas por poder, por sentido, por espaço e por voz são parte essencial dos rituais existentes nos mais distintos modelos de convivência, e em diferentes gradientes. Começa, de fato, desde os primeiros embates, ainda nas mais juvenis etapas da vida. Por isso, discuti-la é matéria prima para a formação de cidadãos, devendo fazer parte das mais tenras discussões na família, na escola e em todos os grupos sociais. O debate é o habitat da opinião. Opinião é construção, deve vir de processo de debate, de diá- logo. Está presente em todo ser humano, mesmo que nem todas as sociedades permitam a sua livre expressão e circulação, afinal, a ple- na liberdade é defendida em alguns momentos, de modo fantasiado, como expressão para a superioridade, para a desigualdade, entrando em choque, por vezes com a noção de igualdade. E em se tratando de Opinião Pública, nem sempre a sua construção se dá de forma ple- na, com a possibilidade de cidadãos que tenham ampla capacidade de acesso à informação e liberdade para a crítica. Disso surgiu o desejo de olhar com mais atenção para o tema, desde o início da vida docente, em remota década de 1990. Nos últi- mos anos, com a “profissionalização” das fake news – em uma socie- dade na qual a organização de enunciadores a esse fim destinados, na atividade de fake writers, e de largo consumo desses pérfidos produtos por fake readers é crescente e com ínfima crítica – e com a presença de- finitiva da pós-verdade, o tema ficou ainda mais tenso. Afinal, com redes sociais digitais o que seria opinião pública? Teríamos chegado à independência do sujeito, que por meio de suas tessituras relacionais obteria toda a informação necessária e, ao mesmo tempo influenciaria e seria influenciado sem vieses. 20 Luiz-ALberto de FAriAs Esse ledo engano, quase ingênuo, mas bem trabalhado pela in- dústria do consumo informacional etéreo, tem feito do mundo um lu- gar mais distante da crítica. Exatamente a tecnologia de compartilha- mento e o acesso a devices cada vez mais em sistema de segunda pele, fazem que elementos ali presentes – distribuídos em redes de compar- tilhamento e acessíveis em tempo real por meio de gadgets também utilizados em tempo real – ganhem projeção e percam crítica. Esta obra surgiu das diversas angústias relacionadas às transfor- mações no âmbito da comunicação, movidas pelas tecnologias e pelos movimentos sociais, sejam eles evolutivos, no sentido de valorizar as liberdades individuais e a diversidade em todos os sentidos, ou mes- mo por ondas retrógradas que levam a gatilhos de intolerância, esti- mulando a ressuscitação de pensamentos e ações que já fizeram muito mal à humanidade. A pesquisa sobre Opinião Pública resultou em tese de Livre Docência defendida junto à Escola de Comunicações e Artes da universidade de São Paulo, no ano de 2018. A observância sobre os movimentos permanentes de influência sobre o cidadão seja por meios lícitos ou ilícitos é responsabilidade de todos, é necessidade da comunicação pública, educando e munician- do a todos para a análise crítica. Não há sociedade sem debate, sem discussão e sem diferenças. Qualquer outro modelo é ditatorial. Só o ceticismo pode fazer crer na verdade; é pela dúvida permanente que se constrói o sentido de realidade. O [único] caminho para a certeza é questionar [sempre]. 21 Introdução O mundo gira a uma velocidade calculada pela Física, percebi-da a partir dos conceitos de Psicologia, mas identificada pelo mundo próprio de cada pessoa, que existe a partir de sua in- teração e sentimento frente a diversos fatores. A ação impulsionada pelas afeições nos leva a entender que “(...) o homem submetido aos afetos não está sob seu próprio comando, mas sob o do acaso, a cujo poder está (...) sujeitado” (SPINOZA, 2017, p. 263). A construção da realidade se dá de acordo com a capacidade de cada pessoa enxergar a partir de suas lentes pessoais e sociais, de seus óculos filtrantes de realidade, de seus filtros, pela polifonia presente nos diversos tempos e espaços a que estamos sujeitos. Essa realida- de também é devidamente filtrada pela conveniência e interesse de cada qual, responsáveis por modular essas lentes, de fazer enxergar aspectos e espectros mais convenientes a si. Opiniões, muitas vezes, são construídas mais pelo interesse e pelas impressões que pela obser- vância da realidade. De acordo com Lippmann: (...) cada um de nós vive e trabalha numa pequena parte da su- perfície da Terra, move-se num pequeno círculo, e destas coisas familiares conhece somente algumas intimamente. Das ocorrên- cias públicas que têm largos efeitos vemos, na melhor das hipó- teses, somente uma fase e um aspecto. Isso é tão verdade para os eminentes bem-informados que rascunham tratados, fazem leis e dão ordens, como para aqueles para os quais os tratados foram estabelecidos, para quem as leis foram promulgadas, e as ordens foram dadas. Inevitavelmente nossas opiniões cobrem um largo espectro, um longo período de tempo, um número maior de coi- sas que podemos observar. Elas têm, portanto, que ser formadas de pedaços juntados do que outros nos relataram e do que pode- mos imaginar (LIPPMANN, 2008, p. 83). 22 Luiz-ALberto de FAriAs E assim se formam opiniões individuais, multiplicáveis e proje- táveis em diversas medidas para a construção da chamada opinião pú- blica. Por mais que alguns pensadores possam substituir a expressão opinião pública por redes – ou tantas outras expressões aparentemente mais contemporâneas, ou apenas dotadas de um “outfit” mais ajustado às linguagens digitais – vamos poder discutir mais à frente conceitos de opinião e a influência do entorno em sua gênese. As opiniões são voláteis. Transformam-se de acordo com o movimento do espaço e do tempo, influenciadas pela cultura – e seus devidos filtros. E o volátil faz que aquilo que é sólido possa se desmanchar no ar. Opiniões se re- configuram a todo o tempo, assumindo novas formas, novas posturas. Opiniões voláteis são imagens distorcido no espelho do mundo. Não se pode, obviamente, desprezar ou ignorar as novas formas de interação digital entre as pessoas – e seu poder de informação e, cer- tamente, de desinformação –, bem como, o incrível acesso a informa- ções existente na contemporaneidade, mas também pode-se discutir quão rasas podem ser essas relações, e vazias essas informações. Seja pela solidariedade asséptica presente no mundo, em que o digital per- mite participar sem nenhum vínculo dos grandes projetos. Para isso esta obra reflete autores contemporâneos que se dedicam ao estudo das redes, mas acima de tudo procurará se basear nos estudos acerca da formação da opinião. Como as relações públicas e a comunicação influenciam na for- mação da opinião pública? Parte-se neste estudo desse problema, inda- gando os aspectos influenciadores das relações públicas em relação à chamada opinião pública. Entende-se que as ações orquestradas, com vistas à persuasão, sejam determinantes na formação de opiniões ma- joritárias/consensuais. Pretende-se, assim, alcançar o entendimento so- bre o modus faciendi e pensandi da construção de narrativas-discursivas oriundas de políticas de relações públicas sobre a informação dos pú- blicos, com vistas a influenciar a percepção-compreensão-ação. Rela- ções públicas são filosofia que pode contribuir fortemente na paz, mas tambémcom a sua presença ou mesmo ausência levar a pensamentos ou ações belicosos. Como percurso metodológico, buscou-se a revisão de literatura em obras que abordassem relações públicas, opinião pública e também 23 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO levantamento da produção de obras cujo tema fosse a opinião pública, fazendo levantamento e análise dos pontos-chave. Diversos trabalhos foram produzidos na área das Ciências So- ciais/Ciências Sociais Aplicadas sobre o tema opinião pública e é sobre essa produção que parte deste livro se ancora, a partir de pesquisa rea- lizada em fontes como: • Banco de Teses e Dissertações da Capes; • Google Acadêmico; • Sistema Integrado de Bibliotecas da Universidade de São Paulo; • Banco de Dados Bibliográficos da uSP (Dedalus). A partir da consulta a essas fontes de dados, a pesquisa – reali- zada com a assistência excepcional da pesquisadora Bárbara Miano1 – teve como objetivo mapear artigos científicos publicados entre 1990 e 2015 (certamente os anos posteriores deverão maximizar o interesse por pesquisas desse matiz, afinal o uso de técnicas e de tecnologias demonstra o poder de influenciar comportamentos e até mesmo gerar efeitos-manada em públicos os mais diversos), em anais e periódicos, livros, teses e dissertações que abordem o tema/palavra-chave “opi- nião pública” no Brasil2. A partir da palavra-chave foram detectados: • 28 livros; • 181 artigos publicados em anais ou em periódicos; • 19 dissertações; • 8 teses; • totalizando 236 produções. Após a primeira leitura, identificaram-se 45 produções com po- tencial de conceituação e análise acerca do tema-chave opinião pública, as quais foram resenhadas e constam em Quadros no corpo desta obra. Serão considerados esses trabalhos especialmente no capítulo que tratará dos conceitos – em que se apresentarão autores consagrados 1 Mestre e doutoranda em Ciências da Comunicação na ECA-USP. 2 Estudos em outras bases, inclusive internacionais, têm sido feitos sob a orientação do autor em níveis de mestrado e doutorado nos Programas de Pós-Graduação em Comunicação das Universidade de São Paulo e Universidade Metodista de São Paulo. 24 Luiz-ALberto de FAriAs sobre o tema, mas utilizando-se e fazendo as devidas imbricações e con- traposições oriundas desses trabalhos pesquisados. O estudo oferece um conjunto de capítulos que se propõem a colocar em discussão a opinião pública e a capacidade de geração de movimentos a partir dela. Isso, é claro, sem deixar de lado – mas sem ao mesmo tempo ser o nervo central – aspectos ligados às mobiliza- ções digitais – para alguns as novas fontes de efetiva transformação, para outros apenas mais um espaço, mas como tantos outros, sujeito ao controle de determinadas corporações e, portanto, merecedor de olhar cuidadoso. Experiências recentes em nível nacional e mundial mostraram o poder de geração de notícias falsas, ainda que dotadas de grande verossimilhança. Com a tecnologia, esse processo passou a ser de domínio público, de fácil produção, mas o que se pode perceber é o grande investimento em redes de construção de sentido, de acordo com Daniel Reis da Silva (2017) os think tanks ideológicos, que poten- cializam a “embalagem” de verossimilhança, mesmo sem ofertar em seu conteúdo a verdade, atingindo de forma massiva diversos públi- cos, dos mais diferentes níveis receptivos. Ainda nesse nível, passou-se também em algumas sociedades a se questionar a hierarquia do conhecimento, visto se estar diante de um volume de informação disponível a todos, com repositórios aparente- mente democráticos e acessíveis e redes de intercâmbio informacional cuja aparência também gera a frágil ideia de independência e de impar- cialidade. Assim, a sofomania ou crença de pleno saber – ainda que de modo infundado – fragiliza o sofômano e a sociedade, pois esvazia a discussão e leva a um empoderamento falso e a potencial de distorção. O primeiro capítulo (Opinião pública e a opinião publicada: conceitos e teorias sobre os impactos sobre a formação da Opinião Pública) se propõe a colocar em destaque o conceito de opinião pública e tecer as devidas críticas sobre o processo de construção de opinião. No segundo (Opi- nião e relações públicas: persuasão e engajamento), debruça-se sobre a área de relações públicas, aqui entendida como parte essencial – e interes- sada –, com outras áreas, na construção das opiniões. O terceiro capítulo (Pesquisa e produção sobre opinião pública no Brasil) trata do levantamento de produção relativa ao tema opinião 25 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO pública obtido em bases já citadas ao longo de uma década e meia. O quarto capítulo (Da fogueira à vaidade: o processo de intolerância histórica, da religião ao digital) apresenta revisão e análise sobre a construção de uma para-realidade, movida pela ideia de proximidade entre as pes- soas, mas consolidada pela existência da uma forte onda de intolerân- cia. E, por fim, o quinto capítulo (Fake news e pós-verdade: a indústria de risco, crise e imagem em tempos de cólera) discute a presença do risco e da crise como elementos atuais e em forte crescimento por conta das fragilidades decorrentes do apressamento opinativo e da construção de boatos massivos. As opiniões são movimento constante, influenciado por diversos fatores – cultura, aspectos políticos e econômicos, mas essencialmente pela capacidade que cada um tem em enxergar no fato a sua própria verdade. Não se pode deixar de observar a grande relevância da mídia. Desde os tempos nos quais a absoluta maioria da população não era letrada e havia informes públicos, lidos pelos poucos alfabetizados, até hoje, quando se há um acesso agigantado a informações de todo qui- late, a mídia é um espaço que merece atenção e cuja responsabilidade deve-se cobrar. Sim, importa por quais meios ou dispositivos – analógicos ou digitais – se proceda à comunicação ou o espaço que lhe seja dado, e ainda o seu alcance para que se gere a percepção de relevância, o seu efetivo impacto. Como pudemos ver na história recente, a realidade é aquela que se acredita ver, mesmo que seja a partir de um olhar de dentro da caverna. 27 capítulo 1 Opinião pública e a opinião publicada: conceitos e teorias e impactos sobre a formação da opinião pública A opinião é resultante do olhar assentado sobre determinado fato. Por outra, vale ressaltar que: A rigor não existe opinião puramente individual. Todo indivi- duo, quando expressa sua opinião, não só a está tornando pú- blica, como também externando algo que decorre de sua relação com o grupo social a que pertence e também à época e às circuns- tâncias históricas, políticas, sociais e econômicas do momento vivido pelo grupo. Seria, portanto, incorreto separar a opinião individual da opinião pública. Mais correto seria distinguir a opinião expressa da opinião oculta (MATHEuS, 2011, p. 11). Pode-se dizer então que haja uma opinião pública, mas não necessariamente publicada. A distância entre esses dois fatores não é necessariamente um aspecto positivo, ao menos por absoluto. Isso porque se por muito tempo e em diversos sistemas políticos a enuncia- ção de uma opinião poderia ser perigosa ou até mesmo impossível de ocorrer, hoje com a disseminação dos chamados sujeitos midiatizados, aqueles que têm grande ou pleno acesso a redes sociais digitais, essas opiniões são explicitadas em moto contínuo, muitas vezes sem haver verificação sobre o que se está avaliando. Essa capacidade de compartilhamento sem checagem, o proces- so de incontinência enunciativa, decorre de diversos fatores, como um volume significativo de informação que leva a um excedente informa- tivo, a uma necessidade de exposição criada pela cultura da mídia, da qual se faz a apropriação, e também pelo hábito de se fazer o endosso às cegas, o blind endorsement (multiplicação de informações e opiniões 28 Luiz-ALberto de FAriAs não verificadas,cuja ancoragem reside em dados divulgados por ter- ceiros sem a efetiva comprovação dos fatos ou das fontes), que é por si só gerador de grandes riscos. O endosso-cego também decorre da falta de apetite informacional (LIPPMANN, 2008), da incapacidade ou falta de interesse/motivação de verificação de fontes e dados recebidos. Mas se há muita informação e desejo de se pronunciar sobre tudo e sobre todos, por que haveria uma falta de apetite em relação a essas mesmas informações? Talvez porque a cultura da informação em pílu- las, sem aprofundamento cresce e se fortalece na sociedade de blocos, nos quais a interação se dá fortemente entre pares, em um clima de consentimento, sem a predisposição muitas vezes à crítica, que pode ser recebida com intolerância. Além disso, também ganha força a re- putação (ou algo assemelhado) construída de forma apressada – como por exemplo pelos ditos influenciadores ou microinfluenciadores, que surgem não necessariamente por um trabalho de longo prazo e de con- tribuições às truth news, ou pela ação junto à sociedade, mas muitas ve- zes fundamentados na capacidade de amealhar seguidores justamente por temas esvaziados de conteúdo ou pelo uso das fake news. Matheus (2011, p. 16) nos provoca, mostrando o cuidado que se deve ter ao analisar os movimentos opinativos, como dito no título desta obra, voláteis: A opinião pública nem sempre tem capacidade de revelar a ver- dade, mas é a fonte a que todos recorrem quando desejam encon- trar referência para as verdades que pretendem afirmar. Sendo mais do que uma simples fonte de controvérsias e menos do que um modo de comprovação da verdade. Já há muito se fala em opinião: há conceitos que remontam ao sé- culo XVII, na França, presentes em dicionários. Ali havia dois olhares sobre a opinião: 1) afirmação ancorada em estereótipos, preconcei- to e sentimentos; 2) afirmação alicerçada na deliberação e na razão (CHAMPAGNE, 1998). Ambos os olhares, de algum modo, dialogam, pois estão presentes na formação da opinião de modo geral. Ainda assim, alguns autores preferem colocar em xeque a ideia de opinião e questionar a metodologia para que se chegue ao seu reconhecimento (BOuRDIEu, 1973), por conta de se entender que a 29 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO opinião não possa ser fruto das pesquisas e que essas, seja por aspec- tos técnicos, seja por vieses intencionais, podem gerar desvios infor- mativos e interpretativos. Quando se gera uma cortina de fumaça em termos de informação, o conceito de Bourdieu se aclara, pois o que surge em termos de opinião é mesmo uma densa névoa. Se por um aspecto esse raciocínio faz sentido, por outro as pes- quisas podem, sim, dar indicativos de como a opinião tem se construí- do e de como evolui para tornar-se publicada, pública e consensual. Algumas áreas evoluíram fortemente nos últimos anos, como as pes- quisas eleitorais e as ligadas a desenvolvimento e produtos. No que tange aos grandes blocos de dados, os chamados big datas, ali a absor- ção de informação ocorre a todo o tempo e em tempo real. Isso não significa que bastaria ter essa concentração de dados, de movimentos, comportamentos e opiniões, pois a análise é ponto fundamental para que se possa entender o ser humano e a sociedade em que ele vive. 1.1 coNceitos ao loNgo do tempo Não há unanimidade, talvez nem mesmo consenso. Se popular- mente todo cidadão compreende o que significa o termo opinião públi- ca, sem mesmo refletir teoricamente sobre a sua origem ou seu impac- to, em diversos âmbitos o posicionamento é outro: fortes discussões e até mesmo negação. Alguns autores simplesmente determinam não existir opinião pública, pois ela se construiria a partir da influência de terceiros e também seria fruto de vários recortes. Isso é inquestionável, mas os filtros e elementos culturais sempre vão delinear a percepção da maioria sobre os diversos fatos (ou mesmo simulacros). Outros pesquisadores chegariam a defender que as redes sociais digitais destruiriam a possibilidade de formação de uma opinião pú- blica, pois haveria plena interação entre os partícipes, o que sabemos ser impossível, pois os clusters são cada vez mais definidos e levam a interações absolutamente dentro de nichos desenhados pelos algorit- mos, impedindo que haja uma plena discussão de informações, pois são reforçados padrões e não há questionamento sobre o perfil opina- tivo coletivo. 30 Luiz-ALberto de FAriAs Lineide Mosca (2002) alerta-nos sobre a importância de se levar em conta o perfil da audiência, pois: A opinião pública torna-se, hoje, tão forte que cabe ao leitor gran- demente o controle da situação. É claque que se torna um porta- -voz e que desencadeia muitas decisões e atitudes, chegando a produzir resultados inesperados. Essa é a razão pela qual uma das grandes tarefas diante de uma população de pouca ou média instrução constitui a formação do leitor crítico, referindo-nos aqui primordialmente ao que se pode chamar “leitura referencial do mundo”. A memória discursiva do leitor torna-se imprescindível nesse contexto, sobretudo no reconhecimento das “figuras” que povoam o seu mundo de representações (MOSCA, 2002, p. 15). Ainda nos dias de hoje, o conceito de opinião pública é bastan- te discutido e apresenta inúmeras conceituações que foram se trans- formando ao longo do tempo. Do que se tem conhecimento, o termo opinião pública foi utilizado pela primeira vez por Rousseau, em 1750, porém desde Platão e Aristóteles a opinião (e neste caso sem o adjetivo pública acompanhando a palavra) foi trabalhada como um importante conceito, ora para diferenciar de conhecimento, conforme Platão, ora para uma dimensão mais política, de acordo com Aristóteles (CATTO, 2008). Rousseau não utilizava inicialmente e correntemente os termos opinião, persuasão ou manipulação, mas sim “vontade”. Para o au- tor, a vontade geral é mais importante do que a vontade particular. O pacto social (atitudes comuns que viabilizavam a convivência dos indivíduos sob determinada organização e ordem), assim como pro- posto por Hobbes, para Rousseau é o que dará unidade à sociedade e formará a vontade geral. Aristóteles contextualizava uma forma de organização social para finalmente chegar ao termo opinião, que necessitaria daquela para se fundamentar. Vale ressaltar que a opinião não era o foco central de seus estudos, e sim a política (CATTO, 2008). O filósofo trabalhava com a diferença entre governantes e governados e afirmava que do governante se espera discernimento e dos governados, sinceridade de opinião. No século XVII, Thomas Hobbes, exilado na França e protegido pela igreja católica, escreve “The Cive”, obra que defende o absolutis- mo. Nessa obra, a opinião era abordada como algo perigoso, enquanto em uma concepção aristotélica era vista como negativa e perigosa para 31 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO a sobrevivência do Estado. Para Hobbes, a persuasão e a manipulação exercidas pelo rei deveriam ser incontestáveis, pois como o rei sabia o que era melhor para o seu povo, ele determinava e isso deveria ser soberanamente aceito, sem filtro, assim como abordado na teoria da agulha hipodérmica (CATTO, 2008). Outro filósofo, John Locke, formou o seu pensamento sobre opi- nião a partir do contexto em que vivia. Testemunhou um momento bastante conturbado dentro da organização político-econômica de seu país, marcado pela revolução gloriosa – ocorrida entre 1688 e 1689 na Grã-Bretanha –, na qual foi deposto o rei Jaime II em favor de sua fi- lha Maria II e seu marido Guilherme III, príncipe de Orange, graças à outorga do poder dada a este pela Câmara dos Comuns. Com isso, em 1689 Locke mostra que a opinião não pode ser considerada como ciên- cia, pois não passa pelo acordo ou desacordo de ideias, por um pro- cesso de raciocínio, mas por um julgamento e, neste caso, julgamento e opinião são conveniências, mas não ciências (CATTO, 2008). Dessaforma, Locke diferenciava o conhecimento da opinião. Ainda em uma perspectiva de grupo, Blumer enfoca que a opinião pública deveria ser encarada como um produto coletivo. Como tal, não constitui uma opinião unânime com a qual cada membro do público esteja de acordo, não sendo também forçadamente a opinião da maioria. Bourdieu vai um pouco mais além e afirma que a opinião pública não existe. Segundo ele, a questão do uso da opinião pública é um instru- mento de ação política para legitimar uma política e reforçar as relações de força que a fundamentam ou a tornam possível (BOuRDIEu, 1987). Pode-se enxergar aí um posicionamento talvez um tanto radical diante da maneira de o autor enxergar o mundo e as relações nele constituídas. Adotando uma perspectiva mais contemporânea, podem ser ob- servados autores que se debruçaram sobre o conceito, como Agemir Bavaresco e Paulo Kozen, e que revisam a opinião pública sob outras perspectivas, como a Teoria Hegeliana, enquanto fenômeno da contra- dição. Nesse sentido, os autores pensam a opinião pública como algo fluido e precípuo à liberdade: A opinião pública é fator importante da liberdade formal subje- tiva dos cidadãos. Os indivíduos têm o direito de formular seu julgamento particular sobre o universal, como expressão de sua 32 Luiz-ALberto de FAriAs liberdade subjetiva. A opinião pública não é a verdade política absoluta, mas ela guardará, sempre, a força da impaciência, para desestabilizar toda fixidez ou passividade histórica dada, pois o que move o mundo é a contradição, e a opinião pública, ela mes- ma, é uma contradição, que torna efetiva a paciência do conceito. (...) Configura-se, aos poucos, a constituição da oposição entre a mídia tradicional e a imprensa independente/alternativa, tendo como suporte material as novas tecnologias da informação (BA- VARESCO; KONZEN, 2008, p. 65). Os autores ainda acrescentam que o cenário da opinião pública sofreu algumas mudanças, nos últimos anos. Essas transições ocorre- ram, sobretudo, devido às novas tecnologias que expandiram as capa- cidades informativas da TV, do rádio e do impresso e deram origem a blogs, sites independentes e redes sociais. Nesses meios, os autores destacam a imprensa independente que, pouco a pouco, amplia suas capacidades de influenciar a opinião pública e muda o conceito de jornalismo (BAVARESCO; KONZEN, 2008). Não se pode deixar de atentar, todavia, ao fato de haver excesso de informação circulante, além de existir informações de interesse privado transitando como informação de interesse público, e sendo utilizadas para as mais diver- sas finalidades – comerciais, políticas etc. Vale destacar também que já existem discursos organizados no sentido de desqualificar a imprensa tradicional, na tentativa de se criar um espaço controlado de enunciação, no qual determinadas lideranças possam fazer chegar as suas mensagens de forma absoluta, sem críti- cas ou contraposições. E informação sem crítica e sem a possibilidade do contraditório é risco de distorção e de manipulação. Isso pode ocor- rer em situações religiosas, ditatoriais ou mesmo quando há excessiva concentração midiática, em monopólios ou oligopólios. Assim, no sentido hegeliano, a opinião pública seria uma con- tradição que necessita passar por várias mediações, a fim de instau- rar cenários de uma democracia que garanta a liberdade de imprensa cidadã – levando-se em conta que na contemporaneidade o conceito de imprensa vem sendo rediscutido e ressemantizado, afinal as redes dão a impressão duvidosa de que todo cidadão é, em si, uma mídia e um agente de informação. E não é que não o seja, mas o estranho termo “empoderamento” leva à superestima e ao risco de falta de 33 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO crítica. Segundo os autores, a opinião caracteriza-se pela impaciên- cia, querendo, imediatamente, a realização da vontade da pessoa. Os autores ainda delimitam que a opinião pública necessita da liberda- de de imprensa tanto quanto também precisa das novas tecnologias da comunicação, pois valida o sentido de democracia das sociedades ocidentais (BAVARESCO; KONZEN, 2008). Um contraponto necessá- rio é lembrar que mesmo em democracias a força excessiva de organi- zações midiáticas pode levar ao controle da informação e da opinião; o mesmo se aplica às organizações ligadas a tecnologias. Com relação à evolução histórica do termo opinião pública, Sá afirma que o conceito sofreu muitas transformações em sua significa- ção, o que impede que ocorra formulação universal do fenômeno. Ele demonstra que o termo “público” talvez tenha sido aquele que mais so- freu mudanças ao longo do tempo. Hoje, entendido como oposição ao privado, o público, segundo o autor, refere-se ao domínio da liberdade, do diálogo, da transparência e da competência entre iguais (SÁ, 2009). Já no século XIII, um novo sistema de produção trouxe à tona uma nova ordem social demarcada pela circulação de mercadorias e notícias. A circulação das notícias segue um caminho parecido com a cir- culação das mercadorias. As grandes cidades se transformam em fontes de notícias e os comerciantes mudarão o velho sistema de informação por outro mais profissional e rápido (SÁ, 2009, S/P). Entretanto, nessa época ainda não é possível falar de imprensa no sentido que conhecemos hoje, pois as informações ainda não eram de domínio público. A opinião pública apenas começa a ser institu- cionalizada, na visão do autor, quando o parlamentar inglês C. J. Fox dirige-se à Câmara dos Comuns, em 1792, e diz que é verdadeiramente prudente e correto consultar a opinião pública e proporcionar ao pú- blico os meios adequados para a sua formação. Já no século XIX, a política e o desenvolvimento da democracia serão os grandes responsáveis por praticar os conceitos-base do regi- me da opinião – soberania, vontade geral e lei, limitação e divisão de poderes, pluralismo político e parlamentar, articulação da vida públi- ca por meio do sistema de partidos políticos e do processo eleitoral. 34 Luiz-ALberto de FAriAs Entretanto, Sá (2009) demonstra que nem sempre, ao longo da História, a política e formação da opinião pública caminharam juntas. Um exemplo disso é que, durante o século XVII, os debates parlamen- tares eram considerados um privilégio da aristocracia, encarregada de dar direção e sentido aos assuntos de interesse público. Entretanto, apesar da afirmação do Parlamento na defesa do sigilo das sessões, o povo inglês insistiu em conhecer os segredos da vida política e o mun- do da informação e lutou para difundir as discussões parlamentares. Nas reflexões de Paine, entende-se que: ...quando sofremos, ou somos expostos por um governo às mes- mas misérias que poderíamos esperar de um país sem governo, nossa calamidade é ampliada pela reflexão de que nós mesmos suprimos os meios pelos quais sofremos. Governos, como o vestuário, são o emblema da inocência perdida; os palácios dos reis são construídos sobre as ruínas das choupanas do paraíso. Fossem os impulsos da consciência obedecidos de modo claro, uniforme e irresistível, o homem não precisaria de nenhum ou- tro legislador. Mas, como esse não é o caso, ele julga necessário ceder uma parte de sua propriedade a fim de prover os meios para a proteção dos demais; e é induzido a fazê-lo pela mesma prudência que, em todos os demais casos, o aconselha, dentre dois males, a escolher o menor. Consequentemente, sendo a se- gurança o verdadeiro propósito e fim do governo, decorre irre- torquivelmente que qualquer forma de governo que nos pareça mais capaz de garanti-la com o mínimo de aventura e o máximo de benefício, ser preferível a todas as demais (PAINE, 1776 apud BAuMAN e MAuRO, 2015, p. 13). Pozobom (2010) complementa os pensamentos de Sá ao demons- trar que a Idade Média também nos proporciona uma ampliação do conceito de opinião pública. No entanto, é a partir do século XVIII que fica mais evidente a força da opinião pública,posto que passa a ser objeto de análise. Com o surgimento da escola e o aprimoramento de outras instituições que colaboraram para o desenvolvimento cultural, a opinião pública se desenvolveu ainda mais. É visível que, depois da Revolução Francesa a comunicação co- nheceu outro patamar, graças às conquistas industriais e ao alar- gamento e aprimoramento dos públicos. Os públicos restritos se transformaram, lentamente, num público aberto, aumentando o 35 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO seu tamanho e sua importância à medida que o analfabetismo diminuía. Com o passar dos anos, a ascensão da opinião pública vai se relacionando com o desenvolvimento das instituições de- mocráticas, com a diminuição das taxas de analfabetismo e com o destaque que os meios de comunicação vão assumindo (PO- ZOBON, 2010, p. 3). Assim, a autora afirma que a opinião pública se configura, re- configura e transforma de acordo com a evolução das tecnologias. Para explicar esse processo, Pozobon afirma que todo esse elo culminou a partir de quatro grandes revoluções comunicativas: 1. o surgimento da escrita; 2. a invenção dos caracteres móveis; 3. a Revolução Industrial; e 4. o início da cultura de massa e o momento que vivenciamos hoje, e que ainda está em construção. Nesse cenário, Pozobon indica que essas revoluções causaram transformações, sobretudo no fazer jornalístico, que hoje se vê inserido em uma cultura colaborativa demarcada pelas redes digitais que pos- sibilitam uma maior interação entre usuários e a colaboração de massa fundada na “inteligência coletiva”. Com isso, a partir de dados coletados em suas pesquisas, a autora conclui que é possível observar uma nova lógica de comunicação, na qual todos somos construtores da notícia. Rompemos aqui com a ideia de um público que não pode produ- zir informação e conteúdo, entendido, na melhor das hipóteses, como um consumidor consciente. O ambiente digital permite a imensa ampliação dos processos de produção, difusão e distri- buição de conteúdos. Assim, a publicização de uma determinada questão no espaço da visibilidade mediada permite sua dissemi- nação a um público múltiplo e heterogêneo, viabilizando a capa- cidade de uma interpretação crítica e diversificada da audiência (POZOBON, 2010, p. 13). Vale aqui discutir a ideia de “consumidor consciente”, pois a interação com os processos de construção de notícias não faz parte do sistema de consumo dessas mesmas notícias, ou seja, o acesso e a interpretação não estão, necessariamente, conectados. Quanto a ser um potencial fornecedor de dados, isso sem dúvida ganhou escala com a acessibilidade a diversas tecnologias, barateadas, simplificadas 36 Luiz-ALberto de FAriAs e tornadas acessíveis. Vale destacar que olhar o cidadão a partir do conceito de cliente é um tanto reducionista, além de dizer que o forne- cimento de dados próprios é crescente e totalmente fora do controle do próprio indivíduo, o que é delegado a organizações de gerencia- mento de informação, que passam a deter o poder e o controle. Ainda, segundo Dourado (2010), o termo que conhecemos no século XXI como opinião pública remonta a três séculos. Os espaços comuns de convivência de Londres do século XVII – como os jornais, os cafés, os clubs – são o berço desse fenômeno, apesar de a expressão só ter começado a ser conhecida por opinião pública no final do século XVIII na Inglaterra, e depois se espalhou pela França e Alemanha. Dourado demonstra que, entre as décadas de 1920 e 1970, hou- ve uma produção significativa de teorias da comunicação. Essas pes- quisas inauguram uma nova frente de estudos (DOuRADO, 2010). A caracterização da opinião pública no século XXI é o resultado de uma longa tradição de estudos e pesquisas. Cada pesquisador tratou o tema de uma forma particular, tendo como objeto de pesquisa os diferentes tipos de público nas mais variadas épocas e contextos sociais (DOuRADO, 2010). Quando se observa o foco que esses estudos tiveram, é que se percebe a interdisciplinaridade do termo, que pode ser considerado também transdisciplinar, porque perpassa a todos os assuntos discutidos na sociedade. 1.2 algumas obRas de RefeRêNcia Vale aqui um rápido arrazoado destacando que as obras aponta- das não funcionam como um arcabouço fechado, pois sempre haverá obras que não tenham sido aqui citadas. Não se trata, portanto, de um guia para se tornar o vade mecum, apenas um levantamento que não aborda a totalidade, somente um recorte intencional. Quando se trata de opinião pública, uma obra que pode ser apontada como figurando entre as mais importantes nos estudos e pes- quisas da área é o livro A opinião e as massas de Gabriel Tarde (2005), que reflete acerca da formação da opinião e dos conceitos de público e de multidão. Sua relevância e importância para a área da comunicação 37 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO e das humanidades é tamanha que foi o início de um campo de estudo ainda nunca desbravado no século XIX: a psicologia das massas. A respeito da opinião, o autor delimita que ela caminha no tecido social, assim como todos os agentes, e precisa apenas ser descoberta para se tornar viva ou existente. Em relação ao conceito de público, que é o grande objeto da obra, Tarde (2005) delimita que ele é, na verdade, uma grande multidão dispersa a qual é influenciada a todo o momento pelas ações a distância de vários espíritos. O público, em sua visão, seria um modelo que emerge a partir das multidões, uma vez que de- limita que seria “uma evolução mental e social muito mais avançada que a formação de uma multidão” (TARDE, 2005, 46). Ele ainda afirma que a opinião seria um resultado do embate e debate dessa zona de intersecção entre ações das multidões (TARDE, 2005). Outra obra recorrente e, talvez, a mais relevante para o estudo da opinião pública no Brasil e em diversas regiões do mundo é Opinião Pública, de Walter Lippman, que aborda o processo de formação da opinião a partir do conhecimento do mundo e da realidade que se dá em uma relação de desigualdade e assimetria entre o mundo exterior e as imagens que formulamos em nossas cabeças (LIPPMAN, 2008). Obra original de 1922, além de diferenciar opinião pública grafada com caixas baixas e caixas altas, deixando de ser expressões minúscu- las para se tornarem conceitos maiúsculos, também elabora constata- ções acerca do direcionamento do interesse e da importância dos es- tereótipos para a formação das imagens em nossas mentes e opiniões. Habermas é outro autor que contribui de forma consistente para o pensamento sobre a opinião pública, a partir da obra Mudança estru- tural da esfera pública. O livro foi originado a partir da tese de livre do- cência do autor apresentada à Faculdade de Filosofia de Marburg, em 1961, e admite como objeto a esfera pública burguesa. Primeiramente, o autor colabora com o campo da opinião pública, ao separar “públi- co” de “esfera pública”. Habermas, em seus pensamentos, se ampara em uma perspecti- va histórica para abordar a diferença que havia na Grécia entre esfera pública e privada, nas quais a polis configurava grande elemento de distinção, uma vez que era o centro físico e político das tomadas de 38 Luiz-ALberto de FAriAs decisões. Quanto à esfera pública burguesa, objeto de seu estudo, o autor delimita que ela seria um grande e amplo campo de uniformi- zação de pensamentos, ou seja, de uma opinião pública. Ademais, o Brasil, nos últimos 15 anos, recebeu nesse campo im- portantes contribuições. A obra “Deslumbramento Coletivo”, por exem- plo, de Simone Antoniaci Tuzzo, é uma delas que, a partir de uma revi- são dos principais autores que abordam o tema opinião pública, disserta sobre temas como a formação da opinião pública, meios de comunicação de massa e o papel da universidade na formação da opinião pública. Outra obra brasileira que compõe o estudo sobre opinião públi- ca é o livro Controle da opinião pública,de Nilson Lage. Na publicação, o autor analisa o processo crítico de formação da opinião a partir da linguagem voltada ao convencimento, mantendo o cuidado de não se inserir em aspectos hipotéticos e teóricos sobre o processo de formação da opinião (LAGE, 1988). O movimento lógico da opinião pública a teoria hegeliana, de Agemir Bavaresco, é outra publicação que colabora com os estudos da Opi- nião Pública em âmbito nacional. A partir de perspectivas filosóficas e políticas, Bavaresco se propõe a aprofundar o tema opinião pública. Além do tema, o autor traz para a pauta temas como contradição e liberdade e demonstra que a opinião pública, em sua visão, se efetiva no espírito político. 1.3 poR um coNceito balizadoR O conceito de opinião pública ainda não é unânime e já foi dis- cutido por inúmeros pensadores. Como já apontado, estudos indicam que Rousseau, em 1750, foi o primeiro pensador a refletir sobre opinião pública (CATTO, 2008). Além do filósofo francês, Aristóteles e Platão também se debruçaram sobre a opinião em alguns momentos para de- finir o conhecimento e em outros para definir a política (CATTO, 2008). De acordo com Pozobon (2010), os sofistas também se dedicaram à for- mulação do conceito de opinião pública, uma vez que o poder era prá- tica inerente à comunicação. 39 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO Já durante o século XVII, Hobbes elabora a obra The Cive, em que trata da opinião enquanto algo prejudicial à sociedade, uma vez que analisa a persuasão e a manipulação exercidas pela corte (CATTO, 2008). Hegel também se dedicou ao assunto e o tratou como um tema contra- ditório, carente sempre de inúmeras mediações. Pozobon (2010) ainda demonstra que, no século XVIII, a opinião pública passa a ser objeto de estudo, uma vez que a escola e outras formas de desenvolvimento cultural, como a imprensa, permitiram a formulação da opinião pública. É visível que, depois da revolução francesa a comunicação co- nheceu outro patamar, graças às conquistas industriais e ao alar- gamento e aprimoramento dos públicos. Os públicos restritos se transformaram, lentamente, num público aberto, aumentando o seu tamanho e sua importância à medida que o analfabetismo diminuía. Com o passar dos anos, a ascensão da opinião pública vai se relacionando com o desenvolvimento das instituições de- mocráticas, com a diminuição das taxas de analfabetismo e com o destaque que os meios de comunicação vão assumindo (PO- ZOBON, 2010, p. 3). Dialogando com Pozobon, Bavaresco e Konzen (2008), pode-se entender que a imprensa foi o grande agente propulsor da opinião pú- blica, uma vez que permitiu a formulação de “pensamentos públicos” sobre os temas cotidianos e a política. Segundo os autores, a imprensa foi o grande condensador da opinião pública, uma vez que permitiu a liberdade formal subjetiva dos cidadãos. A opinião pública é fator importante da liberdade formal subje- tiva dos cidadãos. Os indivíduos têm o direito de formular seu julgamento particular sobre o universal, como expressão de sua liberdade subjetiva. A opinião pública não é a verdade política absoluta, mas ela guardará, sempre, a força da impaciência, para desestabilizar toda fixidez ou passividade histórica dada, pois o que move o mundo é a contradição, e a opinião pública, ela mes- ma, é uma contradição, que torna efetiva a paciência do conceito. o papel da imprensa independente/alternativa, entendida como não vinculada a uma empresa privada, pública ou estatal, ou al- gum grupo econômico. Configura-se, aos poucos, a constituição da oposição entre a mídia tradicional e a imprensa independen- te/alternativa, tendo como suporte material as novas tecnologias da informação (BAVARESCO; KONZEN, 2008, p. 65). 40 Luiz-ALberto de FAriAs Outros autores, como Arendt (2000), delimitam que na Grécia antiga houve uma primeira tentativa de formulação da opinião públi- ca, uma vez que a pólis grega foi a configuração da antítese ao espaço privado, ou lugar da família que havia privação. O que distinguia a esfera familiar era que nela os homens viviam juntos por serem compelidos por suas necessidades e carência. A força compulsiva era a própria vida, os penates, os deuses do lar, eram, segundo Plutarco, ‘os deuses que nos fazem viver e alimentar o nosso corpo’; e a vida, para sua manutenção indivi- dual e sobrevivência como vida da espécie, requer a companhia de outros. O fato de que a manutenção individual fosse a tarefa do homem e a sobrevivência da espécie fosse a tarefa da mulher no parto, eram sujeitas à mesma premência da vida. Portanto, a comunidade natural do lar decorria da necessidade: era a ne- cessidade que reinava sobre todas as atividades exercidas no lar (ARENDT, 2000, p. 39-40). Segundo a autora, a concepção de público comporta dois pensa- mentos importantes, correlatos, mas não iguais. O primeiro deles seria aquele que se relaciona com a aparência, que elabora uma relação entre o assistir e ser assistido, já o segundo seria aquele que é produzido, reflexo habitado pelo humano. Em segundo lugar, o termo ‘público’ significa o próprio mundo, na medida em que é comum a todos nós e diferente do lugar que nos cabe dentro dele. Este mundo, contudo, não é idêntico à terra ou à natureza como espaço limitado para o movimento dos homens e condição geral da vida orgânica. Antes, tem a ver com o artefato humano, com o produto de mãos humanas, com os negócios rea- lizados entre os que, juntos, habitam o mundo feito pelo homem. Conviver no mundo significa essencialmente ter um mundo de coisas interposto entre os que nele habitam em comum, como uma mesa se interpõe entre os que se assentam ao seu redor; pois, como todo intermediário, o mundo ao mesmo tempo separa e estabelece uma relação entre os homens (ARENDT, p. 62). Outro autor que pensa sobre o conceito de esfera pública é Ha- bermas. Segundo ele, a esfera pública também inaugura o conceito de Estado Moderno tal qual o conhecemos nos dias de hoje. De acordo com Habermas, ele configura um agente controlador ou um poder pú- blico e instaura uma demanda por participação nas questões públicas, berço no qual nasce um espaço representativo que demanda critérios 41 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO de legitimação, ou seja, a opinião pública. Outro ponto que conforme o autor fomentou o nascimento da opinião pública foram os “modernos” meios de comunicação da época que instauraram novos padrões de discussão e formulação de pensamentos acerca da vida cotidiana e das questões políticas. Ao mesmo tempo, essas novas revistas estão ligadas tão intima- mente com a vida dos cafés que ela poderia ser reconstruída atra- vés de cada número. Os artigos de jornais não só são transfor- mados pelo público dos cafés em objeto de suas discussões, mas também entendidos como parte integrantes deles; isto se mostra no dilúvio de cartas, das quais os editores semanalmente publi- cavam uma seleção (...). Também a forma de diálogo, que muitos artigos mantêm, testemunha a proximidade da palavra falada. Transporta para um outro meio de comunicação, continua-se a mesma discussão para, mediante a leitura, reingressar no meio anterior, que era a conversação (HABERMAS, 1984, p. 59). Longhi, em diálogo com Habermas e Arendt, demonstra que o aparecimento do espaço público e, por conseguinte, da opinião públi- ca, ocorrem em dois momentos – o aparecer pela fala e o fazer, ou seja, ver e ser visto. Dada dicotomia, que seria a liga entre o espaço público e o privado, amarra a opinião pública à palavra falada e com as mídias de massa se transforma em bem de consumo padronizado e engessa- do, tida como consenso: Assim, o conceito de opinião pública, em sua origem, se carac- teriza como a conexão que alinhava a tessitura social. Ela está no espaço público literário, neste sentido, espaço não-político, mas também não-privado. Assim, ela se constituiu no intuito de possibilitar o ato comunicativo,interligando público e privado (LONGHI, 2013, p. 53). Reflexões como as de Habermas e Arendt permitiram o nasci- mento de outras concepções acerca da opinião pública como a de Elias que compreende a opinião pública enquanto agente transformador e em transformação. [...] a opinião pública não é simplesmente a sintonia da opinião de muitos seres humanos sobre uma questão do dia, particular e determinada, mas algo compreendido em contínua formação, um processo vivo que oscila em movimentos pendulares e que, 42 Luiz-ALberto de FAriAs no decorrer desse balanço, influencia as decisões que são toma- das em nome da nação (ELIAS, 2006, p. 125). Definir opinião e opinião pública, de forma sumária e categórica, então, não se trata de tarefa fácil – talvez impossível –, pois a polêmica mais elementar – se existe ou não, se pertence ao enunciador ou pro- vém de um dado enunciatário – pode gerar por si só bastante embate. Todavia, a base da discussão é a informação, seu acesso (por quais e que tipos de fontes) e a capacidade de interpretá-la. Se o mundo nos oferece informação em volumes massivos, gerando demasiada expo- sição, talvez estejamos na contramão no sentido de um momento no qual o processamento ocorre em ocasião, muitas vezes, anterior ao da recepção da informação. Informações prontas – sem a possibilidade de reflexão sobre seu conteúdo – ou blindadas não permitem geração de opinião, menos ainda de opinião pública. A força da opinião pública é um pensamento plural e difuso, sem face e sem nome – que se difunde nos grupos e nas coletividades humanas para servir de fonte para um código não escrito que aponta ou define aquilo que, em última instância, será tomado por justo (MATHEuS, 2011, p. 9). Polifonia e polissemia são elementos basilares na formação da opinião pública, pois ela: É um julgamento coletivo que raramente é unânime e que, por ter muitas vozes, não tem voz alguma. Sua voz é um eco que ressoa aos ouvidos dos que supõem escutá-la e seu nome tem quase sempre este singular coletivo que expressa um plural invisível (MATHEuS, 2011, p. 9). Se autores defendem que a informação é trabalhada no sentido de gerar opinião artificial – sem a capacidade de decodificação, de aná- lise, de crítica a partir das quais se geraria a opinião autêntica –, desti- nada a mobilizar e a induzir a pensamentos e a comportamentos, e isso talvez seja até um pensamento simplista, pois de fato é da natureza humana, é importante avaliar que toda opinião se forma diante de um conjunto de fatores, de circunstâncias, delineadas pelo cronos e pelo locus. De acordo com Matheus (2011, p. 11), a opinião individual de- corre da relação com o grupo social e está ancorada em circunstâncias históricas, políticas, sociais e econômicas. 43 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO Assim, vale destacar que nem toda opinião publicada é de fato correspondente à opinião pública, pois o controle sobre os meios de comunicação é fato secular – desde a Idade Média destaca-se o con- trole sobre a leitura, a gestão das informações etc., alterando-se para o controle sobre jornais, revistas, rádio, TV e Internet. E, mais intenso e impactante pode ser o controle sobre a Educação, fator-chave que permite a plena compreensão. A opinião se forma em processo contínuo, movida por fatos, cir- cunstâncias, filtros, culturas e interesses. A opinião pública nem sempre tem a capacidade de revelar a verdade, mas é a fonte a que todos recorrem quando desejam encontrar referências para as verdades que pretendem afirmar. Sendo mais do que uma simples fonte de controvérsias e menos um modo de comprovação da verdade, a opinião pública passou a ocupar uma posição mais explícita (...) (MATHEuS, 2011, p. 16). A opinião se forma diante do acesso a informações – aquelas oriundas de fontes sobre as quais o interlocutor opte por ter como base informacional, ou seja, a formação da opinião antecede ao processo da informação, seja pela escolha das fontes, seja pela capacidade de decodificação –, seu processamento e geração de um código de enten- dimento definido a partir de lentes próprias a cada pessoa, gerando enunciação e possível embate-encontro com outras opiniões, chegando ao consenso. Para entender a opinião pública, é necessária a composição de dados de pesquisa – utilizando-se de estatística e de dados qualitativos que possam lhes dar norte –, mas também e fortemente a observância do trajeto histórico de um dado lugar, suas características comporta- mentais, afetivas, históricas, demográficas e o modo como se colocou diante do olhar do público – ou dos diversos públicos, com suas inte- rações e distâncias – o fato a ser avaliado. 1.4 RelacioNameNto com a mídia e exposição Impossível falar de opinião e de opinião pública se não colo- carmos dois elementos essenciais em sua formação: a imprensa e as 44 Luiz-ALberto de FAriAs mídias sociais digitais. No que tange à imprensa, ela passa por pro- fundas transformações ao longo das últimas décadas. Crises, down- sizing, fusões e aquisições, influências políticas, mudança nos com- portamentos e no consumo de notícias, tudo isso ao redor do mundo, fizeram a imprensa se tornar bem diferente nos tempos atuais. Notadamente, no Brasil, destaca-se o aspecto de que alguns veí- culos de comunicação se tornaram dependentes de verbas públicas, o que compromete a independência, e pela recente democracia, poste- rior a um longo processo de ditadura e censura, que talvez não tenha permitido pleno desenvolvimento da liberdade de expressão. Não foi o único período de ditadura no país, e em todos a imprensa sofreu repressão – não apenas a imprensa, mas todas as formas de expressão foram tolhidas em momentos assim. E ainda focalizando o cenário brasileiro, pode-se dizer que a de- cisão do Supremo Tribunal Federal relativa à não-obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista, as diversas crises financeiras que se abateram sobre grandes grupos de comunicação (muitos indo à bancarrota), diminuição do investimento publicitário em veículos tradicionais impactaram de modo belicoso a atividade. Esses e outros fatores levaram inúmeros jornalistas a migrarem para outras áreas, principalmente as relações públicas. Essa migração con- tribuiu – com outros elementos – a fortalecer outro tipo de comunica- ção, com intenções comunicativas explícitas, e a fragilizar o processo jornalístico como um todo. Sempre bom lembrar que a filosofia da atividade jornalística – expressa na clássica frase de Millôr “jornalismo é oposição” – nem sempre comunga com o discurso e posicionamento de grandes grupos de comunicação, construídos a partir de diversos interesses, sejam eles políticos, ideológicos ou mesmo econômicos. Hoje, como sempre foi, a imprensa busca novas maneiras de ex- pressão – mídias alternativas, veículos independentes etc. – sem deixar de haver a força disseminadora e influenciadora dos grandes veículos. Por mais que boa parte da população, notadamente os mais jovens ve- nham perdendo as conexões (ou sequer as criando) com os veículos tradicionais, estes passam a fazer parte também de outros espaços, es- tes sim, frequentados por essas categorias etárias/comportamentais. 45 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO Quanto às redes sociais digitais, pode-se entender que haja enor- me influência destas sobre informação e opinião. Entretanto, devem-se colocar em questão alguns fatores: a) as grandes mídias/redes estão sob controle de grandes gru- pos, mantendo o formato de oligopólio que as redes analógi- cas apresentaram no século passado; b) o sistema matemático de “encontro” de atores-mídia faz que aumentem os blocos opinativos: pensar junto, viver junto, di- zer junto; c) o nível de informação presente nas redes e a fragilidade de checagem de informações é muito grande, de forma oposta à capacidade de disseminação; d) a emoção condiciona a capacidade de receber mensagens
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