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OPINIÕES VOLÁTEIS OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO Universidade Metodista de são PaUlo Diretor Superintendente do Cogeime Diretor Geral das IMEs Robson Ramos de Aguiar Consad – Conselho superior de administração titulares: Valdecir Barreros (Presidente); Aires Ademir Leal Clavel (Vice-Presidente); Esther Lopes (Secretária); Marcos Gomes Torres; José Erasmo Alves de Melo; Renato Wanderley de Souza Lima; Jorge Pereira da Silva; Andrea Rodrigues da Motta Sampaio; Cassiano Kuchenbecker Rosing; Luciana Campos de Oliveira Dias; Bispa Marisa de Freitas Ferreira Membros suplentes: Eva Regina Pereira Ramão; Josué Gonzaga de Menezes reitor Paulo Borges Campos Jr. diretor de Graduação Sérgio Marcus Nogueira Tavares diretor de educação a distância Marcio Araújo Oliverio diretora de Pós-Graduação e Pesquisa Adriana Barroso de Azevedo diretora de extensão e ações Comunitárias Alessandra Maria Sabatine Zambone diretor da Faculdade de teologia Paulo Roberto Garcia diretor do Campus rudge ramos Kleber Nogueira Carrilho diretor do Campus Planalto Nilton Abreu Zanco diretor do Campus vergueiro Carlos Eduardo Santi Conselho de Política editorial Paulo Borges Campos Jr. (Presidente); Alessandra Maria Sabatine Zambone; Cristiane Lopes (Presidente da Comisão de Livros); Isaltino Marcelo Conceição; João Batista Ribeiro Santos; Lauri Emilio Wirth; Marcelo Furlin; Mário Francisco Guerra Boaratti; Noeme Timbó (Biblioteca) Comissão de livros Adriana Barroso de Azevedo; Almir Martins Vieira; André Luiz Perin; Antonio Roberto Chiachiri; Cristiane Lopes (Presidente) editor executivo Sergio Marcus Nogueira Tavares EDITORA METODISTA Rua do Sacramento, 230, Rudge Ramos 09640-000, São Bernardo do Campo, SP • Tel: (11) 4366-5537 E-mail: editora@metodista.br • www.metodista.br/editora Capa: Cristiano Freitas Editoração eletrônica: Maria Zélia Firmino de Sá Revisão: João Guimarães AFILIADA À Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Biblioteca Central da Universidade Metodista de São Paulo) FICHA CATALOGRÁFICA F225o Farias, Luiz-Alberto de Opiniões voláteis: opinião pública e construção de sentido / Luiz-Alberto de Farias. São Bernardo do Campo : Universidade Metodista de São Paulo. 2019. 144 p. Bibliografia ISBN 978-85-7814-397-8 1. Opinião pública 2. Opinião pública (Relações públicas) 3. Comunicação e mídia 4. Comunicação de massa 5. Mídias sociais I. Título. CDD 303.38 “Homem nenhum pode descrever o que há dentro dos sonhos.” (Paraísos artificiais, Charles Baudelaire) “Podem me prender Podem me bater Podem até deixar-me sem comer Que eu não mudo de opinião.” (Opinião, Zé Keti) Hosana, Vânia, Miguel e Heitor, que escrevem em minha vida os mais lindos sentimentos, palavras e pensamentos. Aos meus irmãos (Maria José, Maria Aparecida e Alfredo), companheiros de memória e de circunstâncias. 7 resumo As opiniões são voláteis: transformam-se no ecossistema social com grande rapidez. Em tempos considerados líquidos, a capaci- dade de informação que passa por superávit pode ser exatamente a grande armadilha aos que recebem fake news, aos que se tor- nam fake readers e aos que se especializam como fake writers. A obra Opiniões voláteis expõe a construção da formação de opinião, notadamente a opinião pública, que conceitualmente é polêmi- ca e se transforma de acordo com muitos fatores que estão em permanente disputa de sentidos. Coloca-se, assim, em discussão, a temática opinião pública e seus desdobramentos no âmbito da sociedade e os diversos efeitos que se produzem. Aspectos midiáticos – analógicos e digitais –, influência da imprensa na formação da opinião dos públicos e presença das mídias sociais digitais também são analisadas frente a questões como etnicida- de e intolerância, em momentos nos quais as transformações da sociedade passam por debates mais constantes, ainda que mais superficiais e muitas vezes edulcorados ou repletos de agror. O livro se origina de pesquisa de livre docência junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo e resgata os alicerces teóricos dos estudos sobre opinião pública, concei- tuações e autores. Formado por cinco capítulos – 1. Opinião pú- blica e a opinião publicada: conceitos, teorias e impactos sobre a formação da Opinião Pública; 2. Opinião e Relações Públicas: persuasão e engajamento; 3. Pesquisa e produção sobre opinião pública no Brasil: anos 2000; 4. Da fogueira à vaidade: o processo de intolerância histórica, da religião à ágora digital; 5. Fake news e pós-verdade: indústria de risco, crise e imagem em tempos de cólera. Ao final da leitura é possível ter o panorama das tensões permanentes e disputas simbólicas que geram a opinião, às ve- zes tornada pública, por vezes localizada em dados grupos, e que influenciam os movimentos da sociedade a todo o tempo. Palavras-chave: Opinião pública. Comunicação. Mídia. Relações públicas. Influência. Persuasão. Sedução. Lista de quadro, tabelas, figura e gráficos Quadro 1 – Fluxos de comunicação ..................................................................... 47 Tabela 1 – Histórico das linhas de investigação em Relações Públicas ......... 59 Tabela 2 – Artigos que possuem como tema central a opinião pública (publicados entre 2000 e 2015) ............................................................................ 64 Tabela 3 – Dissertações que possuem como tema central a opinião pública (publicadas entre 2000 e 2015)............................................................... 85 Tabela 4 – Teses que possuem como tema central a opinião pública (publicadas entre 2000 e 2015) ............................................................................. 92 Tabela 5 – Livros que possuem como tema central a opinião pública (publicados entre 2000 e 2015) ............................................................................ 96 Figura 1 – Fontes de busca das pesquisas sobre Opinião Pública .................. 63 Gráfico 1 – Participação dos periódicos e congressos na produção científica de pesquisa sobre opinião pública ..................................................... 84 Gráfico 2 – Áreas das dissertações produzidas entre os anos 2000 e 2015 ..... 91 Gráfico 3 – Áreas de produção de teses produzidas entre os anos de 2000 e 2015 .............................................................................................................. 95 Gráfico 4 – Participação de publicações relacionadas ao tema Opinião Pública no Brasil entre os anos de 2000 e 2015 ................................................. 98 Gráfico 5 – Temas Relacionados ao Estudo da Opinião Pública em Periódicos, Teses, Dissertações e Livros do Brasil .......................................... 100 Gráfico 6 – Temas Relacionados ao Estudo da Opinião Pública em Periódicos do Brasil ...................................................................................... 100 Gráfico 7 – Temas Relacionados ao Estudo da Opinião Pública em Dissertações do Brasil ......................................................................................... 101 Gráfico 8 – Temas Relacionados ao Estudo da Opinião Pública em Teses do Brasil ............................................................................................... 102 Gráfico 9 – Temas Relacionados ao Estudo da Opinião Pública em Livros do Brasil ................................................................................................................ 102 9 Sumário Prefácio – O império do volátil.........................................................................11 Novas abordagens ................................................................................................13 Apresentação – Nem tudo que é volátil se desmancha no ar! Pistas à compreensão da opinião pública na contemporaneidade .........................15 Desde as origens ....................................................................................................19Introdução .............................................................................................................21 CAPíTuLO 1 Opinião pública e a opinião publicada: conceitos e teorias e impactos sobre a formação da opinião pública ................................................................27 1.1 Conceitos ao longo do tempo ...................................................................29 1.2 Algumas obras de referência .....................................................................36 1.3 Por um conceito balizador ........................................................................38 1.4 Relacionamento com a mídia e exposição ..............................................43 1.4.1. Através das mídias .................................................................................46 CAPíTULO 2 Opinião e relações públicas: persuasão e engajamento ................................51 2.1. Relações Públicas: conceitos e histórico .................................................51 2.2. Pesquisa e produção, associações e mercado no Brasil ........................55 2.3. Agentes de influência: persuasão e gestão de comunicação ...............60 CAPíTULO 3 Pesquisa e produção sobre opinião pública .....................................................63 3.1. Artigos sobre Opinião Pública .................................................................64 3.2. Dissertações sobre Opinião Pública ........................................................85 3.3. Teses sobre Opinião Pública ....................................................................92 3.4. Livros sobre Opinião Pública ..................................................................95 3.5. Estado da Arte ............................................................................................97 CAPíTULO 4 Da fogueira à vaidade: o processo de intolerância histórica – da religião à ágora digital ................................................................................105 4.1. Intolerância na história: religião, etnicidade e outros problemas ...... 107 4.2. Redes sociais digitais e superexposição ...............................................111 4.3. Construção e desconstrução de mitos ..................................................115 CAPíTuLO 5 Fake news e pós-verdade: indústria de risco, crise e imagem em tempos de cólera ...............................................................................................................121 5.1. Comunicação em tempos de cólera ......................................................121 5.2. Cólera em tempos de comunicação ......................................................124 5.3. Cólera como cultura, comunicação como processo ............................126 Reflexões não solitárias ...................................................................................131 Referências ...........................................................................................................137 11 Prefácio O império do volátil Paulo Nassar* O Professor Doutor Luiz Alberto de Farias (ECA-uSP e univer-sidade Metodista de São Paulo) faz parte de um pequeno time de pesquisadores e professores que formam atualmente a cor- rente crítica das Relações Públicas brasileiras e iberoamericanas. Seu livro Opiniões Voláteis é um fruto delicioso, produzido a partir de sua tese de Livre-Docência, defendida na Escola de Comunicações e Artes, da universidade de São Paulo, em 2018, em que discute o tema da opinião pública e seus impactos em uma sociedade obesa de informa- ções e faminta de significado e sentido. um trabalho que coroa uma jornada acadêmica exitosa que equilibra as atividades de pesquisador e de professor engajado na defesa das liberdades de pensamento, de associação e de manifestação. Opiniões Voláteis reflete esse percurso intelectual de Farias e faz um resgate teórico criterioso e referencial do tema da opinião pública, além de estabelecer uma práxis provocadora e inteligente, ao exercitar o que foi pesquisado na análise do estado da arte da temática no con- texto de um Brasil dividido e intolerante, dos anos 2010. Em seu livro, Farias promove a ligação do campo das Relações Públicas aos saberes contemporâneos da Antropologia, da Psicologia, da Sociologia, da Filosofia, das Comunicações e das Artes e de outras * É Doutor, Livre-Docente e Professor Titular da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), Coordenador do Grupo de Estudos de Novas Narrativas (GENN/ECA-uSP) e Diretor Presidente da Associação Brasilei- ra de Comunicação Empresarial (Aberje). 12 Luiz-ALberto de FAriAs interfaces, às vezes inesperadas e não exploradas pelo pensamento das velhas relações públicas, caracterizadas por pesquisadores “mais acostumados a fazer pesquisa-xerox do que pensar a realidade em que vivem”, no dizer de Armando Mendes, citado por Gilberto Freyre, em seu livro Insurgência e ressurgências atuais: cruzamentos de sins e nãos num mundo em transição. Farias, como pesquisador dionisíaco – adjetivo cravado por mim, inspirado na crítica que Freyre fez, por meio das duras palavras de Mendes dirigidas aos burocratas científicos – pesquisa e pratica as Re- lações Públicas, de índole crítica, na linhagem daqueles que são, no dizer de Freyre, hereges, audazes, inconformados, não bitolados, poé- ticos, estéticos, éticos e proféticos. Rebeldia como elogio Somada a essas categorias de pesquisadores que contribuem para o avanço da ciência, elencadas por Freyre, eu acrescento a necessária rebeldia de Luiz Alberto de Farias em tempos de acomodação acadê- mica e social. Nesse engajamento, Farias sabe que as Relações Públi- cas críticas – como pensamento e ação – estão estritamente ligadas às ideias de democracia, de público, de circulação livre de informações, liberdade de pensamento, associação, expressão e de imprensa (o que compreende as possibilidades de divergir, argumentar, de dialogar, de criticar, e em um processo dialógico estabelecer o consenso ou afir- mar a controvérsia) e a existência de meios de comunicação. Nos locais onde existem essas condições tão caras às Relações Públicas de linha crítica – seja nas dimensões de uma pequena casa ou de um palácio, da vila ou de uma metrópole, de um think tank ou de uma universidade, do país, do continente, da Terra – florescem a liberdade, a expressão da diversidade, a inovação educacional, científica e artística. Em uma perspectiva utópica, presente em muitas literaturas e constituições, a ação do homem, mesmo em sua imperfeição, é trans- formada em um espírito do tempo benfazejo e fundamental para a rea- lização do melhor de uma sociedade e de suas pessoas. Isto, dentro do arcabouço de ideias como as de Alexis de Tocqueville, no século XIX, em sua obra A democracia na América, inspiradora, para além da socie- dade norte-americana, das bandeiras da Liberdade e da Igualdade. 13 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO O reverso disso sempre foi a distopia afirmada pelas ditaduras – à esquerda e à direita do espectro político e até da religião, que oprime a sociedade por meio de visões fundamentalistas – que atravessaram de forma triste a maior parte do século XX e ainda se fazem presentes em nosso tempo em muitas partes do mundo. Ou seja, ditaduras im- põem a díade Opressão e Desigualdade e estabelecem o grau zero da democracia, a anulação da opinião pública e a opacidade ilegítima das operações e decisões organizacionais. Novas aboRdageNs Luiz Alberto de Farias explora em seu livro Opiniões Voláteis as novas dinâmicas de formação da opinião pública em uma sociedade de informações excessivas. Terreno em que a formação de opinião pública se dá em meio ao embate dos fatos do cotidiano – em meio à guerra de narrativas – que, na visão de Winston Churchill, já nos anos 1930, estão sempre pulando sobre as mesas daqueles que querem negar ou revisar o passado, ou mesmo esconder o presente. E agora, emnossa época, explodem nas telinhas e nos ouvidos dos smartphones, para o escrutínio imediato de bilhões de pessoas. Fatos que se transformam – por meio de palavras e imagens – em falatório dentro de um ambiente comunicacional, cada dia mais horizontal, circular, transversal e informal, que abrange a conversa entre vizinhos, entre familiares, no interior de grupos físicos ou digi- tais e por todo tipo de meio de comunicação. Ambiente comunicacio- nal que afirma mais e mais a soberania da opinião pública, no dizer do filósofo escocês, David Hume (1711-1776), ainda no contexto do século XVIII, “que pesa e pesará sempre em todas as horas, nas socie- dades humanas”, mesmo naquelas que momentaneamente o medo cerceou as palavras. O que tem pesado, em termos de fatos objetivos e subjetivos, na formação da opinião pública de nossos dias? É uma das perguntas pre- sentes em todo o estudo produzido pelo professor Luiz Alberto de Fa- rias. No presente empírico de nossa sociedade, entre as pesquisas com o termo “o que é” mais acessadas pelos brasileiros no Google estão “<O que é fascismo?>; <O que é intervenção militar?>; <O que é lúpulo?>; 14 Luiz-ALberto de FAriAs <O que é ursal?>; <O que é Corpus Christi?>”. Isso, de certa forma, nos traz a hipótese de um Brasil que se distancia, no frame pesquisado, de um país apenas do futebol, de praias paradisíacas e ensolaradas, das sandálias Havaianas, do samba, do sexo, entre outras imagens estereo- tipadas sobre o que nós brasileiros conversamos em nosso dia a dia. O que nos mostra o dinamismo de formação de opinião públi- ca, enquanto fenômeno de fortes dimensões sociais, históricas, psi- cológicas e antropológicas. Aspectos que ganham características me- moriais, rituais e mitológicas em uma sociedade que quer se afirmar cada vez mais profana. leituRa do pReseNte Muitas das pretensões, decisões e ações de protagonistas públi- cos ou privados produzem, pelo seu potencial impacto nas dimensões econômicas, sociais, ambientais e culturais da sociedade, inúmeros pon- tos de vista e por isso se transformam em questões públicas. Queiram ou não, indivíduos e organizações estão sob a égide de uma sociedade regida pela opinião pública. Nesse contexto, as Relações Públicas po- dem, se críticas, afirmar a sua essência democrática e civilizatória. Essa é uma mensagem de raiz que percorre toda a formulação deste trabalho de Luiz Alberto de Farias. Não bastasse esta afirmação, a leitura de Opi- niões Voláteis é de muitas formas uma leitura estratégica do presente, que atualiza a forma de pensar e fazer Relações Públicas e Comunicação. 15 apresentação Nem tudo que é volátil se desmancha no ar! Pistas à compreensão da opinião pública na contemporaneidade Eneus Trindade* Um dos pilares das pesquisas em Ciências Sociais/Comunicação é o compromisso social de fazer revelar aquilo que o senso comum percebe como efeitos da mídia, mas não consegue ex- plicar ou compreender como processo, bem como, não se percebem as consequências desses efeitos para a vida social. A obra Opiniões voláteis do Prof. Dr. Luiz Aberto de Farias, reflete essa característica da solidez da pesquisa em comunicação, ao tratar pela metáfora da volatilidade a problemática que os fenômenos da opinião pública adquiriram na atual configuração dos ambientes midiáticos e sociais. O autor busca, pelos caminhos da pesquisa, a segurança de um percurso que tenta apreender e compreender os meandros dos proces- sos de formação de opinião pública como fenômeno e conceito, consi- derando suas dinâmicas e volatilidade de apreensão frente às transfor- mações da sociedade e da conjuntura midiática. Trata-se de um livro resultante de uma pesquisa, que deu origem à tese de Livre-Docência do autor de mesmo título, defendida em 2018, na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Pro- cesso no qual eu tive a honra de avaliar e que agora faço honrosamente a apresentação do livro originário da tese. Agradeço publicamente o convite que a mim foi realizado pelo amigo e colega Luiz Alberto. * É Doutor e Professor Associado (Livre-Docente) do Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo, da Escola de Comunicações e Artes, da Univer- sidade de São Paulo. Bolsista Produtividade em Pesquisa - PQ 2 CNPq. 16 Luiz-ALberto de FAriAs Opiniões voláteis é mais do que o autor define como um estado da arte sobre o assunto e se faz revelar como um texto que aborda o estado do conhecimento sobre a produção científica em opinião públi- ca, estudando teses, dissertações, artigos científicos e livros publicados sobre o tema. O valor de trabalhos dessa natureza está no fato de que as in- formações apresentadas são balizadoras dos embates e evoluções do campo científico sobre o tema da opinião pública, revelando os cami- nhos percorridos, as perspectivas teóricas e métodos mais utilizados, o que já saturou, bem como apontam os possíveis caminhos a percor- rer, percebendo o que há por compreender e mostrando os desafios da volatilidade da formação da opinião pública no ambiente midiá- tico digital, como nova fronteira a explorar no campo dos estudos da Comunicação midiática. O livro inicia-se com a discussão Opinião pública e opinião publi- cada: conceitos, teorias e impactos sobre a formação da Opinião Pública, que aborda o lugar do fenômeno no campo das Ciências Sociais e das Ciên- cias da Comunicação. O segundo capítulo Opinião e relações públicas: persuasão e engajamento, situa o tema da opinião pública, na perspectiva da gestão de públicos e explica que as opiniões de públicos não estão desengajadas de interesses de grupos, organizações comerciais, insti- tuições sociais, políticas, governamentais. A opinião pública não se for- ma ingenuamente e o autor demonstra a força da institucionalização dos processos midiáticos nas formações das opiniões, nas mentalida- des e nas ideias dos diversos públicos, daí a aproximação que o Prof. Luiz Alberto apresenta, de forma didática, entre opinião pública e as Relações Públicas, como um aspecto fundamental para o trabalho da gestão comunicacional dos públicos. O terceiro capítulo, Pesquisa e produção sobre opinião pública, é o ponto alto do livro nos termos da valiosa contribuição científica que aporta ao analisar os artigos, teses e dissertações e obras em livros que abordam o tema em debate. Aqui o leitor pode encontrar caminhos seguros, já saturados e identificar desafios na pesquisa sobre opinião pública. Por fim, toda a discussão a respeito de novos caminhos da reflexão sobre a opinião pública ganha corporalidade empírica nos capítulos 4 e 5, respectivamente representados pelas discussões Da 17 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO fogueira à vaidade: o processo de intolerância histórica – da religião à ágora digital (capítulo 4) e Fake news e pós-verdade: indústria de risco, crise e imagem em tempos de cólera (capítulo 5). Trata-se de um presente que o autor oferece aos interessados na temática e que permite concluir que, a partir da complexidade da empiria, é necessário ousar de forma interdisciplinar, mais do que nunca, para entender os novos processos de formação da opinião pública na mediação das mídias digitais. O desafio da mediação do digital na comunicação para a forma- ção da opinião pública passa por questões de ética, sociais, frente ao tipo de sociedade que estamos formando, bem como da compreensão das formas de escrituras e circulação digitais que tais mensagens ope- ram para gerar os fenômenos de apropriação/recepção dos sujeitos e instituições no que se define como opinião pública e sua alta capaci- dade de manipulação e transformação, frente aos interesses de quem detém o controle dos mecanismos de tais formações. É nessa perspectiva de leitura que reconheço a relevância da obra apresentada, bem como a sua oportuna contemporaneidade no tratamento do tema. Luiz Alberto, tomando a liberdade de assim cha- má-lo, na melhor expressão deapreço e amizade que temos mutua- mente como amigos e colegas que somos, consagra-se na maturidade da sua carreira como autor destacado no campo da Comunicação em Relações Públicas e na reflexão sobre opinião pública no cenário bra- sileiro. Recomendo a leitura e manifesto meu desejo de que o conheci- mento aportado pela obra seja útil aos leitores como foi para mim, pois estamos todos em permanente processo de aprendizagem. Boa leitura! São Paulo, 22 de janeiro de 2019 19 Desde as origens A discussão sobre opinião pública começa no momento em que nos apercebemos que fazemos parte de uma sociedade na qual as disputas por poder, por sentido, por espaço e por voz são parte essencial dos rituais existentes nos mais distintos modelos de convivência, e em diferentes gradientes. Começa, de fato, desde os primeiros embates, ainda nas mais juvenis etapas da vida. Por isso, discuti-la é matéria prima para a formação de cidadãos, devendo fazer parte das mais tenras discussões na família, na escola e em todos os grupos sociais. O debate é o habitat da opinião. Opinião é construção, deve vir de processo de debate, de diá- logo. Está presente em todo ser humano, mesmo que nem todas as sociedades permitam a sua livre expressão e circulação, afinal, a ple- na liberdade é defendida em alguns momentos, de modo fantasiado, como expressão para a superioridade, para a desigualdade, entrando em choque, por vezes com a noção de igualdade. E em se tratando de Opinião Pública, nem sempre a sua construção se dá de forma ple- na, com a possibilidade de cidadãos que tenham ampla capacidade de acesso à informação e liberdade para a crítica. Disso surgiu o desejo de olhar com mais atenção para o tema, desde o início da vida docente, em remota década de 1990. Nos últi- mos anos, com a “profissionalização” das fake news – em uma socie- dade na qual a organização de enunciadores a esse fim destinados, na atividade de fake writers, e de largo consumo desses pérfidos produtos por fake readers é crescente e com ínfima crítica – e com a presença de- finitiva da pós-verdade, o tema ficou ainda mais tenso. Afinal, com redes sociais digitais o que seria opinião pública? Teríamos chegado à independência do sujeito, que por meio de suas tessituras relacionais obteria toda a informação necessária e, ao mesmo tempo influenciaria e seria influenciado sem vieses. 20 Luiz-ALberto de FAriAs Esse ledo engano, quase ingênuo, mas bem trabalhado pela in- dústria do consumo informacional etéreo, tem feito do mundo um lu- gar mais distante da crítica. Exatamente a tecnologia de compartilha- mento e o acesso a devices cada vez mais em sistema de segunda pele, fazem que elementos ali presentes – distribuídos em redes de compar- tilhamento e acessíveis em tempo real por meio de gadgets também utilizados em tempo real – ganhem projeção e percam crítica. Esta obra surgiu das diversas angústias relacionadas às transfor- mações no âmbito da comunicação, movidas pelas tecnologias e pelos movimentos sociais, sejam eles evolutivos, no sentido de valorizar as liberdades individuais e a diversidade em todos os sentidos, ou mes- mo por ondas retrógradas que levam a gatilhos de intolerância, esti- mulando a ressuscitação de pensamentos e ações que já fizeram muito mal à humanidade. A pesquisa sobre Opinião Pública resultou em tese de Livre Docência defendida junto à Escola de Comunicações e Artes da universidade de São Paulo, no ano de 2018. A observância sobre os movimentos permanentes de influência sobre o cidadão seja por meios lícitos ou ilícitos é responsabilidade de todos, é necessidade da comunicação pública, educando e munician- do a todos para a análise crítica. Não há sociedade sem debate, sem discussão e sem diferenças. Qualquer outro modelo é ditatorial. Só o ceticismo pode fazer crer na verdade; é pela dúvida permanente que se constrói o sentido de realidade. O [único] caminho para a certeza é questionar [sempre]. 21 Introdução O mundo gira a uma velocidade calculada pela Física, percebi-da a partir dos conceitos de Psicologia, mas identificada pelo mundo próprio de cada pessoa, que existe a partir de sua in- teração e sentimento frente a diversos fatores. A ação impulsionada pelas afeições nos leva a entender que “(...) o homem submetido aos afetos não está sob seu próprio comando, mas sob o do acaso, a cujo poder está (...) sujeitado” (SPINOZA, 2017, p. 263). A construção da realidade se dá de acordo com a capacidade de cada pessoa enxergar a partir de suas lentes pessoais e sociais, de seus óculos filtrantes de realidade, de seus filtros, pela polifonia presente nos diversos tempos e espaços a que estamos sujeitos. Essa realida- de também é devidamente filtrada pela conveniência e interesse de cada qual, responsáveis por modular essas lentes, de fazer enxergar aspectos e espectros mais convenientes a si. Opiniões, muitas vezes, são construídas mais pelo interesse e pelas impressões que pela obser- vância da realidade. De acordo com Lippmann: (...) cada um de nós vive e trabalha numa pequena parte da su- perfície da Terra, move-se num pequeno círculo, e destas coisas familiares conhece somente algumas intimamente. Das ocorrên- cias públicas que têm largos efeitos vemos, na melhor das hipó- teses, somente uma fase e um aspecto. Isso é tão verdade para os eminentes bem-informados que rascunham tratados, fazem leis e dão ordens, como para aqueles para os quais os tratados foram estabelecidos, para quem as leis foram promulgadas, e as ordens foram dadas. Inevitavelmente nossas opiniões cobrem um largo espectro, um longo período de tempo, um número maior de coi- sas que podemos observar. Elas têm, portanto, que ser formadas de pedaços juntados do que outros nos relataram e do que pode- mos imaginar (LIPPMANN, 2008, p. 83). 22 Luiz-ALberto de FAriAs E assim se formam opiniões individuais, multiplicáveis e proje- táveis em diversas medidas para a construção da chamada opinião pú- blica. Por mais que alguns pensadores possam substituir a expressão opinião pública por redes – ou tantas outras expressões aparentemente mais contemporâneas, ou apenas dotadas de um “outfit” mais ajustado às linguagens digitais – vamos poder discutir mais à frente conceitos de opinião e a influência do entorno em sua gênese. As opiniões são voláteis. Transformam-se de acordo com o movimento do espaço e do tempo, influenciadas pela cultura – e seus devidos filtros. E o volátil faz que aquilo que é sólido possa se desmanchar no ar. Opiniões se re- configuram a todo o tempo, assumindo novas formas, novas posturas. Opiniões voláteis são imagens distorcido no espelho do mundo. Não se pode, obviamente, desprezar ou ignorar as novas formas de interação digital entre as pessoas – e seu poder de informação e, cer- tamente, de desinformação –, bem como, o incrível acesso a informa- ções existente na contemporaneidade, mas também pode-se discutir quão rasas podem ser essas relações, e vazias essas informações. Seja pela solidariedade asséptica presente no mundo, em que o digital per- mite participar sem nenhum vínculo dos grandes projetos. Para isso esta obra reflete autores contemporâneos que se dedicam ao estudo das redes, mas acima de tudo procurará se basear nos estudos acerca da formação da opinião. Como as relações públicas e a comunicação influenciam na for- mação da opinião pública? Parte-se neste estudo desse problema, inda- gando os aspectos influenciadores das relações públicas em relação à chamada opinião pública. Entende-se que as ações orquestradas, com vistas à persuasão, sejam determinantes na formação de opiniões ma- joritárias/consensuais. Pretende-se, assim, alcançar o entendimento so- bre o modus faciendi e pensandi da construção de narrativas-discursivas oriundas de políticas de relações públicas sobre a informação dos pú- blicos, com vistas a influenciar a percepção-compreensão-ação. Rela- ções públicas são filosofia que pode contribuir fortemente na paz, mas tambémcom a sua presença ou mesmo ausência levar a pensamentos ou ações belicosos. Como percurso metodológico, buscou-se a revisão de literatura em obras que abordassem relações públicas, opinião pública e também 23 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO levantamento da produção de obras cujo tema fosse a opinião pública, fazendo levantamento e análise dos pontos-chave. Diversos trabalhos foram produzidos na área das Ciências So- ciais/Ciências Sociais Aplicadas sobre o tema opinião pública e é sobre essa produção que parte deste livro se ancora, a partir de pesquisa rea- lizada em fontes como: • Banco de Teses e Dissertações da Capes; • Google Acadêmico; • Sistema Integrado de Bibliotecas da Universidade de São Paulo; • Banco de Dados Bibliográficos da uSP (Dedalus). A partir da consulta a essas fontes de dados, a pesquisa – reali- zada com a assistência excepcional da pesquisadora Bárbara Miano1 – teve como objetivo mapear artigos científicos publicados entre 1990 e 2015 (certamente os anos posteriores deverão maximizar o interesse por pesquisas desse matiz, afinal o uso de técnicas e de tecnologias demonstra o poder de influenciar comportamentos e até mesmo gerar efeitos-manada em públicos os mais diversos), em anais e periódicos, livros, teses e dissertações que abordem o tema/palavra-chave “opi- nião pública” no Brasil2. A partir da palavra-chave foram detectados: • 28 livros; • 181 artigos publicados em anais ou em periódicos; • 19 dissertações; • 8 teses; • totalizando 236 produções. Após a primeira leitura, identificaram-se 45 produções com po- tencial de conceituação e análise acerca do tema-chave opinião pública, as quais foram resenhadas e constam em Quadros no corpo desta obra. Serão considerados esses trabalhos especialmente no capítulo que tratará dos conceitos – em que se apresentarão autores consagrados 1 Mestre e doutoranda em Ciências da Comunicação na ECA-USP. 2 Estudos em outras bases, inclusive internacionais, têm sido feitos sob a orientação do autor em níveis de mestrado e doutorado nos Programas de Pós-Graduação em Comunicação das Universidade de São Paulo e Universidade Metodista de São Paulo. 24 Luiz-ALberto de FAriAs sobre o tema, mas utilizando-se e fazendo as devidas imbricações e con- traposições oriundas desses trabalhos pesquisados. O estudo oferece um conjunto de capítulos que se propõem a colocar em discussão a opinião pública e a capacidade de geração de movimentos a partir dela. Isso, é claro, sem deixar de lado – mas sem ao mesmo tempo ser o nervo central – aspectos ligados às mobiliza- ções digitais – para alguns as novas fontes de efetiva transformação, para outros apenas mais um espaço, mas como tantos outros, sujeito ao controle de determinadas corporações e, portanto, merecedor de olhar cuidadoso. Experiências recentes em nível nacional e mundial mostraram o poder de geração de notícias falsas, ainda que dotadas de grande verossimilhança. Com a tecnologia, esse processo passou a ser de domínio público, de fácil produção, mas o que se pode perceber é o grande investimento em redes de construção de sentido, de acordo com Daniel Reis da Silva (2017) os think tanks ideológicos, que poten- cializam a “embalagem” de verossimilhança, mesmo sem ofertar em seu conteúdo a verdade, atingindo de forma massiva diversos públi- cos, dos mais diferentes níveis receptivos. Ainda nesse nível, passou-se também em algumas sociedades a se questionar a hierarquia do conhecimento, visto se estar diante de um volume de informação disponível a todos, com repositórios aparente- mente democráticos e acessíveis e redes de intercâmbio informacional cuja aparência também gera a frágil ideia de independência e de impar- cialidade. Assim, a sofomania ou crença de pleno saber – ainda que de modo infundado – fragiliza o sofômano e a sociedade, pois esvazia a discussão e leva a um empoderamento falso e a potencial de distorção. O primeiro capítulo (Opinião pública e a opinião publicada: conceitos e teorias sobre os impactos sobre a formação da Opinião Pública) se propõe a colocar em destaque o conceito de opinião pública e tecer as devidas críticas sobre o processo de construção de opinião. No segundo (Opi- nião e relações públicas: persuasão e engajamento), debruça-se sobre a área de relações públicas, aqui entendida como parte essencial – e interes- sada –, com outras áreas, na construção das opiniões. O terceiro capítulo (Pesquisa e produção sobre opinião pública no Brasil) trata do levantamento de produção relativa ao tema opinião 25 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO pública obtido em bases já citadas ao longo de uma década e meia. O quarto capítulo (Da fogueira à vaidade: o processo de intolerância histórica, da religião ao digital) apresenta revisão e análise sobre a construção de uma para-realidade, movida pela ideia de proximidade entre as pes- soas, mas consolidada pela existência da uma forte onda de intolerân- cia. E, por fim, o quinto capítulo (Fake news e pós-verdade: a indústria de risco, crise e imagem em tempos de cólera) discute a presença do risco e da crise como elementos atuais e em forte crescimento por conta das fragilidades decorrentes do apressamento opinativo e da construção de boatos massivos. As opiniões são movimento constante, influenciado por diversos fatores – cultura, aspectos políticos e econômicos, mas essencialmente pela capacidade que cada um tem em enxergar no fato a sua própria verdade. Não se pode deixar de observar a grande relevância da mídia. Desde os tempos nos quais a absoluta maioria da população não era letrada e havia informes públicos, lidos pelos poucos alfabetizados, até hoje, quando se há um acesso agigantado a informações de todo qui- late, a mídia é um espaço que merece atenção e cuja responsabilidade deve-se cobrar. Sim, importa por quais meios ou dispositivos – analógicos ou digitais – se proceda à comunicação ou o espaço que lhe seja dado, e ainda o seu alcance para que se gere a percepção de relevância, o seu efetivo impacto. Como pudemos ver na história recente, a realidade é aquela que se acredita ver, mesmo que seja a partir de um olhar de dentro da caverna. 27 capítulo 1 Opinião pública e a opinião publicada: conceitos e teorias e impactos sobre a formação da opinião pública A opinião é resultante do olhar assentado sobre determinado fato. Por outra, vale ressaltar que: A rigor não existe opinião puramente individual. Todo indivi- duo, quando expressa sua opinião, não só a está tornando pú- blica, como também externando algo que decorre de sua relação com o grupo social a que pertence e também à época e às circuns- tâncias históricas, políticas, sociais e econômicas do momento vivido pelo grupo. Seria, portanto, incorreto separar a opinião individual da opinião pública. Mais correto seria distinguir a opinião expressa da opinião oculta (MATHEuS, 2011, p. 11). Pode-se dizer então que haja uma opinião pública, mas não necessariamente publicada. A distância entre esses dois fatores não é necessariamente um aspecto positivo, ao menos por absoluto. Isso porque se por muito tempo e em diversos sistemas políticos a enuncia- ção de uma opinião poderia ser perigosa ou até mesmo impossível de ocorrer, hoje com a disseminação dos chamados sujeitos midiatizados, aqueles que têm grande ou pleno acesso a redes sociais digitais, essas opiniões são explicitadas em moto contínuo, muitas vezes sem haver verificação sobre o que se está avaliando. Essa capacidade de compartilhamento sem checagem, o proces- so de incontinência enunciativa, decorre de diversos fatores, como um volume significativo de informação que leva a um excedente informa- tivo, a uma necessidade de exposição criada pela cultura da mídia, da qual se faz a apropriação, e também pelo hábito de se fazer o endosso às cegas, o blind endorsement (multiplicação de informações e opiniões 28 Luiz-ALberto de FAriAs não verificadas,cuja ancoragem reside em dados divulgados por ter- ceiros sem a efetiva comprovação dos fatos ou das fontes), que é por si só gerador de grandes riscos. O endosso-cego também decorre da falta de apetite informacional (LIPPMANN, 2008), da incapacidade ou falta de interesse/motivação de verificação de fontes e dados recebidos. Mas se há muita informação e desejo de se pronunciar sobre tudo e sobre todos, por que haveria uma falta de apetite em relação a essas mesmas informações? Talvez porque a cultura da informação em pílu- las, sem aprofundamento cresce e se fortalece na sociedade de blocos, nos quais a interação se dá fortemente entre pares, em um clima de consentimento, sem a predisposição muitas vezes à crítica, que pode ser recebida com intolerância. Além disso, também ganha força a re- putação (ou algo assemelhado) construída de forma apressada – como por exemplo pelos ditos influenciadores ou microinfluenciadores, que surgem não necessariamente por um trabalho de longo prazo e de con- tribuições às truth news, ou pela ação junto à sociedade, mas muitas ve- zes fundamentados na capacidade de amealhar seguidores justamente por temas esvaziados de conteúdo ou pelo uso das fake news. Matheus (2011, p. 16) nos provoca, mostrando o cuidado que se deve ter ao analisar os movimentos opinativos, como dito no título desta obra, voláteis: A opinião pública nem sempre tem capacidade de revelar a ver- dade, mas é a fonte a que todos recorrem quando desejam encon- trar referência para as verdades que pretendem afirmar. Sendo mais do que uma simples fonte de controvérsias e menos do que um modo de comprovação da verdade. Já há muito se fala em opinião: há conceitos que remontam ao sé- culo XVII, na França, presentes em dicionários. Ali havia dois olhares sobre a opinião: 1) afirmação ancorada em estereótipos, preconcei- to e sentimentos; 2) afirmação alicerçada na deliberação e na razão (CHAMPAGNE, 1998). Ambos os olhares, de algum modo, dialogam, pois estão presentes na formação da opinião de modo geral. Ainda assim, alguns autores preferem colocar em xeque a ideia de opinião e questionar a metodologia para que se chegue ao seu reconhecimento (BOuRDIEu, 1973), por conta de se entender que a 29 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO opinião não possa ser fruto das pesquisas e que essas, seja por aspec- tos técnicos, seja por vieses intencionais, podem gerar desvios infor- mativos e interpretativos. Quando se gera uma cortina de fumaça em termos de informação, o conceito de Bourdieu se aclara, pois o que surge em termos de opinião é mesmo uma densa névoa. Se por um aspecto esse raciocínio faz sentido, por outro as pes- quisas podem, sim, dar indicativos de como a opinião tem se construí- do e de como evolui para tornar-se publicada, pública e consensual. Algumas áreas evoluíram fortemente nos últimos anos, como as pes- quisas eleitorais e as ligadas a desenvolvimento e produtos. No que tange aos grandes blocos de dados, os chamados big datas, ali a absor- ção de informação ocorre a todo o tempo e em tempo real. Isso não significa que bastaria ter essa concentração de dados, de movimentos, comportamentos e opiniões, pois a análise é ponto fundamental para que se possa entender o ser humano e a sociedade em que ele vive. 1.1 coNceitos ao loNgo do tempo Não há unanimidade, talvez nem mesmo consenso. Se popular- mente todo cidadão compreende o que significa o termo opinião públi- ca, sem mesmo refletir teoricamente sobre a sua origem ou seu impac- to, em diversos âmbitos o posicionamento é outro: fortes discussões e até mesmo negação. Alguns autores simplesmente determinam não existir opinião pública, pois ela se construiria a partir da influência de terceiros e também seria fruto de vários recortes. Isso é inquestionável, mas os filtros e elementos culturais sempre vão delinear a percepção da maioria sobre os diversos fatos (ou mesmo simulacros). Outros pesquisadores chegariam a defender que as redes sociais digitais destruiriam a possibilidade de formação de uma opinião pú- blica, pois haveria plena interação entre os partícipes, o que sabemos ser impossível, pois os clusters são cada vez mais definidos e levam a interações absolutamente dentro de nichos desenhados pelos algorit- mos, impedindo que haja uma plena discussão de informações, pois são reforçados padrões e não há questionamento sobre o perfil opina- tivo coletivo. 30 Luiz-ALberto de FAriAs Lineide Mosca (2002) alerta-nos sobre a importância de se levar em conta o perfil da audiência, pois: A opinião pública torna-se, hoje, tão forte que cabe ao leitor gran- demente o controle da situação. É claque que se torna um porta- -voz e que desencadeia muitas decisões e atitudes, chegando a produzir resultados inesperados. Essa é a razão pela qual uma das grandes tarefas diante de uma população de pouca ou média instrução constitui a formação do leitor crítico, referindo-nos aqui primordialmente ao que se pode chamar “leitura referencial do mundo”. A memória discursiva do leitor torna-se imprescindível nesse contexto, sobretudo no reconhecimento das “figuras” que povoam o seu mundo de representações (MOSCA, 2002, p. 15). Ainda nos dias de hoje, o conceito de opinião pública é bastan- te discutido e apresenta inúmeras conceituações que foram se trans- formando ao longo do tempo. Do que se tem conhecimento, o termo opinião pública foi utilizado pela primeira vez por Rousseau, em 1750, porém desde Platão e Aristóteles a opinião (e neste caso sem o adjetivo pública acompanhando a palavra) foi trabalhada como um importante conceito, ora para diferenciar de conhecimento, conforme Platão, ora para uma dimensão mais política, de acordo com Aristóteles (CATTO, 2008). Rousseau não utilizava inicialmente e correntemente os termos opinião, persuasão ou manipulação, mas sim “vontade”. Para o au- tor, a vontade geral é mais importante do que a vontade particular. O pacto social (atitudes comuns que viabilizavam a convivência dos indivíduos sob determinada organização e ordem), assim como pro- posto por Hobbes, para Rousseau é o que dará unidade à sociedade e formará a vontade geral. Aristóteles contextualizava uma forma de organização social para finalmente chegar ao termo opinião, que necessitaria daquela para se fundamentar. Vale ressaltar que a opinião não era o foco central de seus estudos, e sim a política (CATTO, 2008). O filósofo trabalhava com a diferença entre governantes e governados e afirmava que do governante se espera discernimento e dos governados, sinceridade de opinião. No século XVII, Thomas Hobbes, exilado na França e protegido pela igreja católica, escreve “The Cive”, obra que defende o absolutis- mo. Nessa obra, a opinião era abordada como algo perigoso, enquanto em uma concepção aristotélica era vista como negativa e perigosa para 31 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO a sobrevivência do Estado. Para Hobbes, a persuasão e a manipulação exercidas pelo rei deveriam ser incontestáveis, pois como o rei sabia o que era melhor para o seu povo, ele determinava e isso deveria ser soberanamente aceito, sem filtro, assim como abordado na teoria da agulha hipodérmica (CATTO, 2008). Outro filósofo, John Locke, formou o seu pensamento sobre opi- nião a partir do contexto em que vivia. Testemunhou um momento bastante conturbado dentro da organização político-econômica de seu país, marcado pela revolução gloriosa – ocorrida entre 1688 e 1689 na Grã-Bretanha –, na qual foi deposto o rei Jaime II em favor de sua fi- lha Maria II e seu marido Guilherme III, príncipe de Orange, graças à outorga do poder dada a este pela Câmara dos Comuns. Com isso, em 1689 Locke mostra que a opinião não pode ser considerada como ciên- cia, pois não passa pelo acordo ou desacordo de ideias, por um pro- cesso de raciocínio, mas por um julgamento e, neste caso, julgamento e opinião são conveniências, mas não ciências (CATTO, 2008). Dessaforma, Locke diferenciava o conhecimento da opinião. Ainda em uma perspectiva de grupo, Blumer enfoca que a opinião pública deveria ser encarada como um produto coletivo. Como tal, não constitui uma opinião unânime com a qual cada membro do público esteja de acordo, não sendo também forçadamente a opinião da maioria. Bourdieu vai um pouco mais além e afirma que a opinião pública não existe. Segundo ele, a questão do uso da opinião pública é um instru- mento de ação política para legitimar uma política e reforçar as relações de força que a fundamentam ou a tornam possível (BOuRDIEu, 1987). Pode-se enxergar aí um posicionamento talvez um tanto radical diante da maneira de o autor enxergar o mundo e as relações nele constituídas. Adotando uma perspectiva mais contemporânea, podem ser ob- servados autores que se debruçaram sobre o conceito, como Agemir Bavaresco e Paulo Kozen, e que revisam a opinião pública sob outras perspectivas, como a Teoria Hegeliana, enquanto fenômeno da contra- dição. Nesse sentido, os autores pensam a opinião pública como algo fluido e precípuo à liberdade: A opinião pública é fator importante da liberdade formal subje- tiva dos cidadãos. Os indivíduos têm o direito de formular seu julgamento particular sobre o universal, como expressão de sua 32 Luiz-ALberto de FAriAs liberdade subjetiva. A opinião pública não é a verdade política absoluta, mas ela guardará, sempre, a força da impaciência, para desestabilizar toda fixidez ou passividade histórica dada, pois o que move o mundo é a contradição, e a opinião pública, ela mes- ma, é uma contradição, que torna efetiva a paciência do conceito. (...) Configura-se, aos poucos, a constituição da oposição entre a mídia tradicional e a imprensa independente/alternativa, tendo como suporte material as novas tecnologias da informação (BA- VARESCO; KONZEN, 2008, p. 65). Os autores ainda acrescentam que o cenário da opinião pública sofreu algumas mudanças, nos últimos anos. Essas transições ocorre- ram, sobretudo, devido às novas tecnologias que expandiram as capa- cidades informativas da TV, do rádio e do impresso e deram origem a blogs, sites independentes e redes sociais. Nesses meios, os autores destacam a imprensa independente que, pouco a pouco, amplia suas capacidades de influenciar a opinião pública e muda o conceito de jornalismo (BAVARESCO; KONZEN, 2008). Não se pode deixar de atentar, todavia, ao fato de haver excesso de informação circulante, além de existir informações de interesse privado transitando como informação de interesse público, e sendo utilizadas para as mais diver- sas finalidades – comerciais, políticas etc. Vale destacar também que já existem discursos organizados no sentido de desqualificar a imprensa tradicional, na tentativa de se criar um espaço controlado de enunciação, no qual determinadas lideranças possam fazer chegar as suas mensagens de forma absoluta, sem críti- cas ou contraposições. E informação sem crítica e sem a possibilidade do contraditório é risco de distorção e de manipulação. Isso pode ocor- rer em situações religiosas, ditatoriais ou mesmo quando há excessiva concentração midiática, em monopólios ou oligopólios. Assim, no sentido hegeliano, a opinião pública seria uma con- tradição que necessita passar por várias mediações, a fim de instau- rar cenários de uma democracia que garanta a liberdade de imprensa cidadã – levando-se em conta que na contemporaneidade o conceito de imprensa vem sendo rediscutido e ressemantizado, afinal as redes dão a impressão duvidosa de que todo cidadão é, em si, uma mídia e um agente de informação. E não é que não o seja, mas o estranho termo “empoderamento” leva à superestima e ao risco de falta de 33 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO crítica. Segundo os autores, a opinião caracteriza-se pela impaciên- cia, querendo, imediatamente, a realização da vontade da pessoa. Os autores ainda delimitam que a opinião pública necessita da liberda- de de imprensa tanto quanto também precisa das novas tecnologias da comunicação, pois valida o sentido de democracia das sociedades ocidentais (BAVARESCO; KONZEN, 2008). Um contraponto necessá- rio é lembrar que mesmo em democracias a força excessiva de organi- zações midiáticas pode levar ao controle da informação e da opinião; o mesmo se aplica às organizações ligadas a tecnologias. Com relação à evolução histórica do termo opinião pública, Sá afirma que o conceito sofreu muitas transformações em sua significa- ção, o que impede que ocorra formulação universal do fenômeno. Ele demonstra que o termo “público” talvez tenha sido aquele que mais so- freu mudanças ao longo do tempo. Hoje, entendido como oposição ao privado, o público, segundo o autor, refere-se ao domínio da liberdade, do diálogo, da transparência e da competência entre iguais (SÁ, 2009). Já no século XIII, um novo sistema de produção trouxe à tona uma nova ordem social demarcada pela circulação de mercadorias e notícias. A circulação das notícias segue um caminho parecido com a cir- culação das mercadorias. As grandes cidades se transformam em fontes de notícias e os comerciantes mudarão o velho sistema de informação por outro mais profissional e rápido (SÁ, 2009, S/P). Entretanto, nessa época ainda não é possível falar de imprensa no sentido que conhecemos hoje, pois as informações ainda não eram de domínio público. A opinião pública apenas começa a ser institu- cionalizada, na visão do autor, quando o parlamentar inglês C. J. Fox dirige-se à Câmara dos Comuns, em 1792, e diz que é verdadeiramente prudente e correto consultar a opinião pública e proporcionar ao pú- blico os meios adequados para a sua formação. Já no século XIX, a política e o desenvolvimento da democracia serão os grandes responsáveis por praticar os conceitos-base do regi- me da opinião – soberania, vontade geral e lei, limitação e divisão de poderes, pluralismo político e parlamentar, articulação da vida públi- ca por meio do sistema de partidos políticos e do processo eleitoral. 34 Luiz-ALberto de FAriAs Entretanto, Sá (2009) demonstra que nem sempre, ao longo da História, a política e formação da opinião pública caminharam juntas. Um exemplo disso é que, durante o século XVII, os debates parlamen- tares eram considerados um privilégio da aristocracia, encarregada de dar direção e sentido aos assuntos de interesse público. Entretanto, apesar da afirmação do Parlamento na defesa do sigilo das sessões, o povo inglês insistiu em conhecer os segredos da vida política e o mun- do da informação e lutou para difundir as discussões parlamentares. Nas reflexões de Paine, entende-se que: ...quando sofremos, ou somos expostos por um governo às mes- mas misérias que poderíamos esperar de um país sem governo, nossa calamidade é ampliada pela reflexão de que nós mesmos suprimos os meios pelos quais sofremos. Governos, como o vestuário, são o emblema da inocência perdida; os palácios dos reis são construídos sobre as ruínas das choupanas do paraíso. Fossem os impulsos da consciência obedecidos de modo claro, uniforme e irresistível, o homem não precisaria de nenhum ou- tro legislador. Mas, como esse não é o caso, ele julga necessário ceder uma parte de sua propriedade a fim de prover os meios para a proteção dos demais; e é induzido a fazê-lo pela mesma prudência que, em todos os demais casos, o aconselha, dentre dois males, a escolher o menor. Consequentemente, sendo a se- gurança o verdadeiro propósito e fim do governo, decorre irre- torquivelmente que qualquer forma de governo que nos pareça mais capaz de garanti-la com o mínimo de aventura e o máximo de benefício, ser preferível a todas as demais (PAINE, 1776 apud BAuMAN e MAuRO, 2015, p. 13). Pozobom (2010) complementa os pensamentos de Sá ao demons- trar que a Idade Média também nos proporciona uma ampliação do conceito de opinião pública. No entanto, é a partir do século XVIII que fica mais evidente a força da opinião pública,posto que passa a ser objeto de análise. Com o surgimento da escola e o aprimoramento de outras instituições que colaboraram para o desenvolvimento cultural, a opinião pública se desenvolveu ainda mais. É visível que, depois da Revolução Francesa a comunicação co- nheceu outro patamar, graças às conquistas industriais e ao alar- gamento e aprimoramento dos públicos. Os públicos restritos se transformaram, lentamente, num público aberto, aumentando o 35 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO seu tamanho e sua importância à medida que o analfabetismo diminuía. Com o passar dos anos, a ascensão da opinião pública vai se relacionando com o desenvolvimento das instituições de- mocráticas, com a diminuição das taxas de analfabetismo e com o destaque que os meios de comunicação vão assumindo (PO- ZOBON, 2010, p. 3). Assim, a autora afirma que a opinião pública se configura, re- configura e transforma de acordo com a evolução das tecnologias. Para explicar esse processo, Pozobon afirma que todo esse elo culminou a partir de quatro grandes revoluções comunicativas: 1. o surgimento da escrita; 2. a invenção dos caracteres móveis; 3. a Revolução Industrial; e 4. o início da cultura de massa e o momento que vivenciamos hoje, e que ainda está em construção. Nesse cenário, Pozobon indica que essas revoluções causaram transformações, sobretudo no fazer jornalístico, que hoje se vê inserido em uma cultura colaborativa demarcada pelas redes digitais que pos- sibilitam uma maior interação entre usuários e a colaboração de massa fundada na “inteligência coletiva”. Com isso, a partir de dados coletados em suas pesquisas, a autora conclui que é possível observar uma nova lógica de comunicação, na qual todos somos construtores da notícia. Rompemos aqui com a ideia de um público que não pode produ- zir informação e conteúdo, entendido, na melhor das hipóteses, como um consumidor consciente. O ambiente digital permite a imensa ampliação dos processos de produção, difusão e distri- buição de conteúdos. Assim, a publicização de uma determinada questão no espaço da visibilidade mediada permite sua dissemi- nação a um público múltiplo e heterogêneo, viabilizando a capa- cidade de uma interpretação crítica e diversificada da audiência (POZOBON, 2010, p. 13). Vale aqui discutir a ideia de “consumidor consciente”, pois a interação com os processos de construção de notícias não faz parte do sistema de consumo dessas mesmas notícias, ou seja, o acesso e a interpretação não estão, necessariamente, conectados. Quanto a ser um potencial fornecedor de dados, isso sem dúvida ganhou escala com a acessibilidade a diversas tecnologias, barateadas, simplificadas 36 Luiz-ALberto de FAriAs e tornadas acessíveis. Vale destacar que olhar o cidadão a partir do conceito de cliente é um tanto reducionista, além de dizer que o forne- cimento de dados próprios é crescente e totalmente fora do controle do próprio indivíduo, o que é delegado a organizações de gerencia- mento de informação, que passam a deter o poder e o controle. Ainda, segundo Dourado (2010), o termo que conhecemos no século XXI como opinião pública remonta a três séculos. Os espaços comuns de convivência de Londres do século XVII – como os jornais, os cafés, os clubs – são o berço desse fenômeno, apesar de a expressão só ter começado a ser conhecida por opinião pública no final do século XVIII na Inglaterra, e depois se espalhou pela França e Alemanha. Dourado demonstra que, entre as décadas de 1920 e 1970, hou- ve uma produção significativa de teorias da comunicação. Essas pes- quisas inauguram uma nova frente de estudos (DOuRADO, 2010). A caracterização da opinião pública no século XXI é o resultado de uma longa tradição de estudos e pesquisas. Cada pesquisador tratou o tema de uma forma particular, tendo como objeto de pesquisa os diferentes tipos de público nas mais variadas épocas e contextos sociais (DOuRADO, 2010). Quando se observa o foco que esses estudos tiveram, é que se percebe a interdisciplinaridade do termo, que pode ser considerado também transdisciplinar, porque perpassa a todos os assuntos discutidos na sociedade. 1.2 algumas obRas de RefeRêNcia Vale aqui um rápido arrazoado destacando que as obras aponta- das não funcionam como um arcabouço fechado, pois sempre haverá obras que não tenham sido aqui citadas. Não se trata, portanto, de um guia para se tornar o vade mecum, apenas um levantamento que não aborda a totalidade, somente um recorte intencional. Quando se trata de opinião pública, uma obra que pode ser apontada como figurando entre as mais importantes nos estudos e pes- quisas da área é o livro A opinião e as massas de Gabriel Tarde (2005), que reflete acerca da formação da opinião e dos conceitos de público e de multidão. Sua relevância e importância para a área da comunicação 37 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO e das humanidades é tamanha que foi o início de um campo de estudo ainda nunca desbravado no século XIX: a psicologia das massas. A respeito da opinião, o autor delimita que ela caminha no tecido social, assim como todos os agentes, e precisa apenas ser descoberta para se tornar viva ou existente. Em relação ao conceito de público, que é o grande objeto da obra, Tarde (2005) delimita que ele é, na verdade, uma grande multidão dispersa a qual é influenciada a todo o momento pelas ações a distância de vários espíritos. O público, em sua visão, seria um modelo que emerge a partir das multidões, uma vez que de- limita que seria “uma evolução mental e social muito mais avançada que a formação de uma multidão” (TARDE, 2005, 46). Ele ainda afirma que a opinião seria um resultado do embate e debate dessa zona de intersecção entre ações das multidões (TARDE, 2005). Outra obra recorrente e, talvez, a mais relevante para o estudo da opinião pública no Brasil e em diversas regiões do mundo é Opinião Pública, de Walter Lippman, que aborda o processo de formação da opinião a partir do conhecimento do mundo e da realidade que se dá em uma relação de desigualdade e assimetria entre o mundo exterior e as imagens que formulamos em nossas cabeças (LIPPMAN, 2008). Obra original de 1922, além de diferenciar opinião pública grafada com caixas baixas e caixas altas, deixando de ser expressões minúscu- las para se tornarem conceitos maiúsculos, também elabora constata- ções acerca do direcionamento do interesse e da importância dos es- tereótipos para a formação das imagens em nossas mentes e opiniões. Habermas é outro autor que contribui de forma consistente para o pensamento sobre a opinião pública, a partir da obra Mudança estru- tural da esfera pública. O livro foi originado a partir da tese de livre do- cência do autor apresentada à Faculdade de Filosofia de Marburg, em 1961, e admite como objeto a esfera pública burguesa. Primeiramente, o autor colabora com o campo da opinião pública, ao separar “públi- co” de “esfera pública”. Habermas, em seus pensamentos, se ampara em uma perspecti- va histórica para abordar a diferença que havia na Grécia entre esfera pública e privada, nas quais a polis configurava grande elemento de distinção, uma vez que era o centro físico e político das tomadas de 38 Luiz-ALberto de FAriAs decisões. Quanto à esfera pública burguesa, objeto de seu estudo, o autor delimita que ela seria um grande e amplo campo de uniformi- zação de pensamentos, ou seja, de uma opinião pública. Ademais, o Brasil, nos últimos 15 anos, recebeu nesse campo im- portantes contribuições. A obra “Deslumbramento Coletivo”, por exem- plo, de Simone Antoniaci Tuzzo, é uma delas que, a partir de uma revi- são dos principais autores que abordam o tema opinião pública, disserta sobre temas como a formação da opinião pública, meios de comunicação de massa e o papel da universidade na formação da opinião pública. Outra obra brasileira que compõe o estudo sobre opinião públi- ca é o livro Controle da opinião pública,de Nilson Lage. Na publicação, o autor analisa o processo crítico de formação da opinião a partir da linguagem voltada ao convencimento, mantendo o cuidado de não se inserir em aspectos hipotéticos e teóricos sobre o processo de formação da opinião (LAGE, 1988). O movimento lógico da opinião pública a teoria hegeliana, de Agemir Bavaresco, é outra publicação que colabora com os estudos da Opi- nião Pública em âmbito nacional. A partir de perspectivas filosóficas e políticas, Bavaresco se propõe a aprofundar o tema opinião pública. Além do tema, o autor traz para a pauta temas como contradição e liberdade e demonstra que a opinião pública, em sua visão, se efetiva no espírito político. 1.3 poR um coNceito balizadoR O conceito de opinião pública ainda não é unânime e já foi dis- cutido por inúmeros pensadores. Como já apontado, estudos indicam que Rousseau, em 1750, foi o primeiro pensador a refletir sobre opinião pública (CATTO, 2008). Além do filósofo francês, Aristóteles e Platão também se debruçaram sobre a opinião em alguns momentos para de- finir o conhecimento e em outros para definir a política (CATTO, 2008). De acordo com Pozobon (2010), os sofistas também se dedicaram à for- mulação do conceito de opinião pública, uma vez que o poder era prá- tica inerente à comunicação. 39 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO Já durante o século XVII, Hobbes elabora a obra The Cive, em que trata da opinião enquanto algo prejudicial à sociedade, uma vez que analisa a persuasão e a manipulação exercidas pela corte (CATTO, 2008). Hegel também se dedicou ao assunto e o tratou como um tema contra- ditório, carente sempre de inúmeras mediações. Pozobon (2010) ainda demonstra que, no século XVIII, a opinião pública passa a ser objeto de estudo, uma vez que a escola e outras formas de desenvolvimento cultural, como a imprensa, permitiram a formulação da opinião pública. É visível que, depois da revolução francesa a comunicação co- nheceu outro patamar, graças às conquistas industriais e ao alar- gamento e aprimoramento dos públicos. Os públicos restritos se transformaram, lentamente, num público aberto, aumentando o seu tamanho e sua importância à medida que o analfabetismo diminuía. Com o passar dos anos, a ascensão da opinião pública vai se relacionando com o desenvolvimento das instituições de- mocráticas, com a diminuição das taxas de analfabetismo e com o destaque que os meios de comunicação vão assumindo (PO- ZOBON, 2010, p. 3). Dialogando com Pozobon, Bavaresco e Konzen (2008), pode-se entender que a imprensa foi o grande agente propulsor da opinião pú- blica, uma vez que permitiu a formulação de “pensamentos públicos” sobre os temas cotidianos e a política. Segundo os autores, a imprensa foi o grande condensador da opinião pública, uma vez que permitiu a liberdade formal subjetiva dos cidadãos. A opinião pública é fator importante da liberdade formal subje- tiva dos cidadãos. Os indivíduos têm o direito de formular seu julgamento particular sobre o universal, como expressão de sua liberdade subjetiva. A opinião pública não é a verdade política absoluta, mas ela guardará, sempre, a força da impaciência, para desestabilizar toda fixidez ou passividade histórica dada, pois o que move o mundo é a contradição, e a opinião pública, ela mes- ma, é uma contradição, que torna efetiva a paciência do conceito. o papel da imprensa independente/alternativa, entendida como não vinculada a uma empresa privada, pública ou estatal, ou al- gum grupo econômico. Configura-se, aos poucos, a constituição da oposição entre a mídia tradicional e a imprensa independen- te/alternativa, tendo como suporte material as novas tecnologias da informação (BAVARESCO; KONZEN, 2008, p. 65). 40 Luiz-ALberto de FAriAs Outros autores, como Arendt (2000), delimitam que na Grécia antiga houve uma primeira tentativa de formulação da opinião públi- ca, uma vez que a pólis grega foi a configuração da antítese ao espaço privado, ou lugar da família que havia privação. O que distinguia a esfera familiar era que nela os homens viviam juntos por serem compelidos por suas necessidades e carência. A força compulsiva era a própria vida, os penates, os deuses do lar, eram, segundo Plutarco, ‘os deuses que nos fazem viver e alimentar o nosso corpo’; e a vida, para sua manutenção indivi- dual e sobrevivência como vida da espécie, requer a companhia de outros. O fato de que a manutenção individual fosse a tarefa do homem e a sobrevivência da espécie fosse a tarefa da mulher no parto, eram sujeitas à mesma premência da vida. Portanto, a comunidade natural do lar decorria da necessidade: era a ne- cessidade que reinava sobre todas as atividades exercidas no lar (ARENDT, 2000, p. 39-40). Segundo a autora, a concepção de público comporta dois pensa- mentos importantes, correlatos, mas não iguais. O primeiro deles seria aquele que se relaciona com a aparência, que elabora uma relação entre o assistir e ser assistido, já o segundo seria aquele que é produzido, reflexo habitado pelo humano. Em segundo lugar, o termo ‘público’ significa o próprio mundo, na medida em que é comum a todos nós e diferente do lugar que nos cabe dentro dele. Este mundo, contudo, não é idêntico à terra ou à natureza como espaço limitado para o movimento dos homens e condição geral da vida orgânica. Antes, tem a ver com o artefato humano, com o produto de mãos humanas, com os negócios rea- lizados entre os que, juntos, habitam o mundo feito pelo homem. Conviver no mundo significa essencialmente ter um mundo de coisas interposto entre os que nele habitam em comum, como uma mesa se interpõe entre os que se assentam ao seu redor; pois, como todo intermediário, o mundo ao mesmo tempo separa e estabelece uma relação entre os homens (ARENDT, p. 62). Outro autor que pensa sobre o conceito de esfera pública é Ha- bermas. Segundo ele, a esfera pública também inaugura o conceito de Estado Moderno tal qual o conhecemos nos dias de hoje. De acordo com Habermas, ele configura um agente controlador ou um poder pú- blico e instaura uma demanda por participação nas questões públicas, berço no qual nasce um espaço representativo que demanda critérios 41 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO de legitimação, ou seja, a opinião pública. Outro ponto que conforme o autor fomentou o nascimento da opinião pública foram os “modernos” meios de comunicação da época que instauraram novos padrões de discussão e formulação de pensamentos acerca da vida cotidiana e das questões políticas. Ao mesmo tempo, essas novas revistas estão ligadas tão intima- mente com a vida dos cafés que ela poderia ser reconstruída atra- vés de cada número. Os artigos de jornais não só são transfor- mados pelo público dos cafés em objeto de suas discussões, mas também entendidos como parte integrantes deles; isto se mostra no dilúvio de cartas, das quais os editores semanalmente publi- cavam uma seleção (...). Também a forma de diálogo, que muitos artigos mantêm, testemunha a proximidade da palavra falada. Transporta para um outro meio de comunicação, continua-se a mesma discussão para, mediante a leitura, reingressar no meio anterior, que era a conversação (HABERMAS, 1984, p. 59). Longhi, em diálogo com Habermas e Arendt, demonstra que o aparecimento do espaço público e, por conseguinte, da opinião públi- ca, ocorrem em dois momentos – o aparecer pela fala e o fazer, ou seja, ver e ser visto. Dada dicotomia, que seria a liga entre o espaço público e o privado, amarra a opinião pública à palavra falada e com as mídias de massa se transforma em bem de consumo padronizado e engessa- do, tida como consenso: Assim, o conceito de opinião pública, em sua origem, se carac- teriza como a conexão que alinhava a tessitura social. Ela está no espaço público literário, neste sentido, espaço não-político, mas também não-privado. Assim, ela se constituiu no intuito de possibilitar o ato comunicativo,interligando público e privado (LONGHI, 2013, p. 53). Reflexões como as de Habermas e Arendt permitiram o nasci- mento de outras concepções acerca da opinião pública como a de Elias que compreende a opinião pública enquanto agente transformador e em transformação. [...] a opinião pública não é simplesmente a sintonia da opinião de muitos seres humanos sobre uma questão do dia, particular e determinada, mas algo compreendido em contínua formação, um processo vivo que oscila em movimentos pendulares e que, 42 Luiz-ALberto de FAriAs no decorrer desse balanço, influencia as decisões que são toma- das em nome da nação (ELIAS, 2006, p. 125). Definir opinião e opinião pública, de forma sumária e categórica, então, não se trata de tarefa fácil – talvez impossível –, pois a polêmica mais elementar – se existe ou não, se pertence ao enunciador ou pro- vém de um dado enunciatário – pode gerar por si só bastante embate. Todavia, a base da discussão é a informação, seu acesso (por quais e que tipos de fontes) e a capacidade de interpretá-la. Se o mundo nos oferece informação em volumes massivos, gerando demasiada expo- sição, talvez estejamos na contramão no sentido de um momento no qual o processamento ocorre em ocasião, muitas vezes, anterior ao da recepção da informação. Informações prontas – sem a possibilidade de reflexão sobre seu conteúdo – ou blindadas não permitem geração de opinião, menos ainda de opinião pública. A força da opinião pública é um pensamento plural e difuso, sem face e sem nome – que se difunde nos grupos e nas coletividades humanas para servir de fonte para um código não escrito que aponta ou define aquilo que, em última instância, será tomado por justo (MATHEuS, 2011, p. 9). Polifonia e polissemia são elementos basilares na formação da opinião pública, pois ela: É um julgamento coletivo que raramente é unânime e que, por ter muitas vozes, não tem voz alguma. Sua voz é um eco que ressoa aos ouvidos dos que supõem escutá-la e seu nome tem quase sempre este singular coletivo que expressa um plural invisível (MATHEuS, 2011, p. 9). Se autores defendem que a informação é trabalhada no sentido de gerar opinião artificial – sem a capacidade de decodificação, de aná- lise, de crítica a partir das quais se geraria a opinião autêntica –, desti- nada a mobilizar e a induzir a pensamentos e a comportamentos, e isso talvez seja até um pensamento simplista, pois de fato é da natureza humana, é importante avaliar que toda opinião se forma diante de um conjunto de fatores, de circunstâncias, delineadas pelo cronos e pelo locus. De acordo com Matheus (2011, p. 11), a opinião individual de- corre da relação com o grupo social e está ancorada em circunstâncias históricas, políticas, sociais e econômicas. 43 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO Assim, vale destacar que nem toda opinião publicada é de fato correspondente à opinião pública, pois o controle sobre os meios de comunicação é fato secular – desde a Idade Média destaca-se o con- trole sobre a leitura, a gestão das informações etc., alterando-se para o controle sobre jornais, revistas, rádio, TV e Internet. E, mais intenso e impactante pode ser o controle sobre a Educação, fator-chave que permite a plena compreensão. A opinião se forma em processo contínuo, movida por fatos, cir- cunstâncias, filtros, culturas e interesses. A opinião pública nem sempre tem a capacidade de revelar a verdade, mas é a fonte a que todos recorrem quando desejam encontrar referências para as verdades que pretendem afirmar. Sendo mais do que uma simples fonte de controvérsias e menos um modo de comprovação da verdade, a opinião pública passou a ocupar uma posição mais explícita (...) (MATHEuS, 2011, p. 16). A opinião se forma diante do acesso a informações – aquelas oriundas de fontes sobre as quais o interlocutor opte por ter como base informacional, ou seja, a formação da opinião antecede ao processo da informação, seja pela escolha das fontes, seja pela capacidade de decodificação –, seu processamento e geração de um código de enten- dimento definido a partir de lentes próprias a cada pessoa, gerando enunciação e possível embate-encontro com outras opiniões, chegando ao consenso. Para entender a opinião pública, é necessária a composição de dados de pesquisa – utilizando-se de estatística e de dados qualitativos que possam lhes dar norte –, mas também e fortemente a observância do trajeto histórico de um dado lugar, suas características comporta- mentais, afetivas, históricas, demográficas e o modo como se colocou diante do olhar do público – ou dos diversos públicos, com suas inte- rações e distâncias – o fato a ser avaliado. 1.4 RelacioNameNto com a mídia e exposição Impossível falar de opinião e de opinião pública se não colo- carmos dois elementos essenciais em sua formação: a imprensa e as 44 Luiz-ALberto de FAriAs mídias sociais digitais. No que tange à imprensa, ela passa por pro- fundas transformações ao longo das últimas décadas. Crises, down- sizing, fusões e aquisições, influências políticas, mudança nos com- portamentos e no consumo de notícias, tudo isso ao redor do mundo, fizeram a imprensa se tornar bem diferente nos tempos atuais. Notadamente, no Brasil, destaca-se o aspecto de que alguns veí- culos de comunicação se tornaram dependentes de verbas públicas, o que compromete a independência, e pela recente democracia, poste- rior a um longo processo de ditadura e censura, que talvez não tenha permitido pleno desenvolvimento da liberdade de expressão. Não foi o único período de ditadura no país, e em todos a imprensa sofreu repressão – não apenas a imprensa, mas todas as formas de expressão foram tolhidas em momentos assim. E ainda focalizando o cenário brasileiro, pode-se dizer que a de- cisão do Supremo Tribunal Federal relativa à não-obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista, as diversas crises financeiras que se abateram sobre grandes grupos de comunicação (muitos indo à bancarrota), diminuição do investimento publicitário em veículos tradicionais impactaram de modo belicoso a atividade. Esses e outros fatores levaram inúmeros jornalistas a migrarem para outras áreas, principalmente as relações públicas. Essa migração con- tribuiu – com outros elementos – a fortalecer outro tipo de comunica- ção, com intenções comunicativas explícitas, e a fragilizar o processo jornalístico como um todo. Sempre bom lembrar que a filosofia da atividade jornalística – expressa na clássica frase de Millôr “jornalismo é oposição” – nem sempre comunga com o discurso e posicionamento de grandes grupos de comunicação, construídos a partir de diversos interesses, sejam eles políticos, ideológicos ou mesmo econômicos. Hoje, como sempre foi, a imprensa busca novas maneiras de ex- pressão – mídias alternativas, veículos independentes etc. – sem deixar de haver a força disseminadora e influenciadora dos grandes veículos. Por mais que boa parte da população, notadamente os mais jovens ve- nham perdendo as conexões (ou sequer as criando) com os veículos tradicionais, estes passam a fazer parte também de outros espaços, es- tes sim, frequentados por essas categorias etárias/comportamentais. 45 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO Quanto às redes sociais digitais, pode-se entender que haja enor- me influência destas sobre informação e opinião. Entretanto, devem-se colocar em questão alguns fatores: a) as grandes mídias/redes estão sob controle de grandes gru- pos, mantendo o formato de oligopólio que as redes analógi- cas apresentaram no século passado; b) o sistema matemático de “encontro” de atores-mídia faz que aumentem os blocos opinativos: pensar junto, viver junto, di- zer junto; c) o nível de informação presente nas redes e a fragilidade de checagem de informações é muito grande, de forma oposta à capacidade de disseminação; d) a emoção condiciona a capacidade de receber mensagense, por conta disso, gera-se a pós-verdade; e) as fake news ganharam força e se tornaram ação de propagan- da ideológica, utilizando-se de mídias muitas vezes de difícil monitoramento. Esse conjunto de itens permite que se pense na fragilidade do trânsito de informações e se questione se de fato há um tráfego livre de informações. O simplismo de dizer que todos podem dizer o que quiserem, quando quiserem, para quem quiserem nas redes sociais di- gitais leva ao perigo de que se acredite que não haja inúmeros filtros que determinem o que circula e de que modo. Ou seja, há diversos controles não explícitos. O olhar apocalíptico não tem por intenção desqualificar ou di- minuir o poder e a importância desses meios de comunicação – ora massivos, ora dirigidos, mas sempre com grande espectro de atuação e poder de persuasão. Ao contrário: a capacidade de penetração e de rápida circulação, a possibilidade de diversos agentes ali atuarem, sem necessariamente haver identificação com o mainstream informativo, a amplitude de oportunidades de encontro e de debate são realmente fator de grande mérito e importância. 46 Luiz-ALberto de FAriAs 1.4.1 Através das mídias Por mais óbvio que pareça a afirmação, é preciso dizer que uma opinião jamais será pública caso não seja publicada ou torna- da pública. Nesse sentido, a mídia e os meios de comunicação de massa possuem papel fundamental na condensação e na transmissão de pensamentos que vivem uma constante possibilidade de vir a ser a expressão de uma opinião pública. Entretanto, há também de se concordar que nem todos os pensamentos são de interesse público. Apenas o são aqueles que impactam determinado grupo de pessoas, conforme demonstra Vestena (2008): Opinião Pública é a expressão de opiniões do público a respeito de temas de interesse comum, que se diferencia da Opinião Publicada, que é a apresentação pública da opinião (VESTENA, 2008). Nesse sentido, para que ocorra a publicação das opiniões, há a articulação entre um processo bifásico que acontece entre um promo- tor ou organizador de um pensamento ou uma opinião e a midiati- zação ou a amplificação desse pensamento que ocorre via meios de comunicação de massa (CORRÊA, 1993) ou mesmo por redes sociais – digitais ou não – e que impacta os públicos. Corrêa (1993) delimita que esse processo não é unidirecional, porém é desigual, uma vez que os públicos também impactam os líderes de opinião e os meios de co- municação de massa, porém não com a mesma intensidade que são impactados por eles. Nesse sentido, vale destacar a ação intencional e programada de desqualificar os meios tradicionais de comunicação, criando “vias al- ternativas” de informação, as quais não estariam submetidas ao julgo opinativo, visto serem de distribuição entre pares, um engodo que pa- rece ter grande eficiência. Assim, a informação assumiria a aparência de notícia, sem contudo ser efetivamente publicada –quando não vem a público, diminui a chance de verificação, podendo se distanciar da verdade, ainda que ofereça verossimilhança – ou mesmo partir de fon- tes confiáveis e checadas, que tenham compromisso, responsabilidade e risco em tudo que disseminarem. 47 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO Quadro 1 – Fluxos de comunicação Fonte: Modelo de fluxos de comunicação social. Elaborado por Corrêa (1993), adaptado de Dumazeider (1973). Assim, a construção da opinião pública é um processo no qual diversos atores influenciam, distintos agentes impactam: Organizações influenciam a mídia e seus conteúdos como fon- tes informativas e disseminadoras de informações com vistas à notícia, como elementos da própria notícia ou como usuárias de espaço pago para a disseminação institucional ou promocional. A intermediação entre esses agentes – organizações e mídia – é um dos pilares das relações públicas. Acredita-se ainda que, de modo substancial, é dessa relação – entre públicos estratégicos para a área de relações públicas – que se originam os componen- tes para a formação da opinião pública, seja em formato off-line ou on-line. A sociedade pauta suas discussões nas enunciações midiáticas, e estas são influenciadas, entre outros elementos, pelo agir organizacional e por sua ação intencional de envio e acompanhamento de informações, em especial os veículos de co- municação, que ressignificam essas mensagens e as transformam em material para o processamento e a geração de sentido, levan- do à formação da opinião e à geração de posicionamento social, político e mercadológico (FARIAS, 2016, p. 241). Uma das primeiras teorias elaboradas a partir do tema seria o modelo em cascata que, segundo Lima (2005), explica a formação da opinião pública como um resultado verticalizado, no qual elaboram-se as concepções dominantes no topo ou nas classes tidas como dominan- tes que descem, em formato de cascata, até a base. Independentemente de qualquer análise, esse modelo faz sentido em diversos momentos 48 Luiz-ALberto de FAriAs da História, pois o controle sobre a informação, a centralização em sua disseminação pode permitir que se determine o que se divulgará e, por conseguinte, a pauta de informação-conhecimento-opinião. Sartori (1994) acredita que as opiniões públicas são inatas e que sofrem um processo de disseminação que ocorre via elites, um pensa- mento em acordo com Vestena (2008). A autora delimita que, nos dias de hoje, a mídia tradicional perdeu a centralidade da formação da opi- nião pública, devido à ascensão de outros tipos de mídia, assim como a internet, por exemplo. Embora se atente a esse fato, a autora também demonstra que a TV ainda possui importância enquanto veículo regis- trador da realidade. Com relação ao assunto, Borba e Baldissera (2009) acrescentam que os meios de comunicação de massa contribuem, nas sociedades modernas, para debilitar a esfera pública, pois focam em demasia no entretenimento e na distração, algo que incentiva a passividade. Além de configurar fonte de lazer e não de reflexão, a mídia também pode se apropriar do consumo e mediar a esfera pública com conteúdos pobres. Essa influência, no fluxo social acarreta efeitos diversos na socie- dade, especialmente efeitos políticos, por exemplo pelo seu po- der de agendamento da mídia, ou agenda-setting. Na sociedade midiatizada, a mídia é responsável por pautar os assuntos cole- tivamente mais relevantes, indicando as preocupações sociais e a agenda política do dia (BORBA; BALDISSERA, 2009, s/p). Ainda que o conceito de agendamento originalmente desenha- do por McCombs tenha relação direta com a política, pode-se dizer que o efeito atribuído a essa disposição e incidências privilegiadas e intencionais circule por todas as esferas de relação social, e que de fato relacione-se com o entreter em lugar do informar, menos ainda do de- bater. A ideia de relevância está conectada com audiência no sentido comercial-mercadológico, menos, seguramente, com a ideia de temas de transformação social. Ainda em relação às reflexões de Borba e Baldissera, eles afir- mam que a capilarização da internet e das novas ferramentas tecnoló- gicas não apenas ampliam o espaço para a produção de sentido midia- tizada como também aumentam a possibilidade de formação a partir de dadas reflexões. Fica visível a influência dos meios de comunicação 49 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO na esfera pública como difusores de novas possibilidades de media- ções midiatizadas pelas tecnologias da informação, que direcionam a construção coletiva da opinião pública. Atualmente, os meios de comunicação de massa são centrais nes- sas relações de identificação e constituição da esfera pública [...] por difundir códigos e valores e pelo retrato que fazem da pró- pria sociedade (BORBA; BALDISSERA, 2009, s/p). Borba e Baldissera também demonstram que, tanto quanto os meios de comunicação configuram um grande e vasto espelho da es- fera pública, eles também procuram tratartemas de identificação co- mum a indivíduos. É preciso observar que os meios de comunicação, na medida em que cumprem um papel de extensão e representação dessa esfera pública, considerando-se que visam gerar identificação, tratam principalmente de temas interessantes a esta (identificação). As representações na mídia tendem a ser um reflexo das representações sociais dos indivíduos (BORBA; BALDISSERA, 2009, s/p). A esse processo extensivo das capacidades de publicação dos as- suntos comuns, atribui-se o nome de midiatização, um fenômeno que, nos últimos anos, com o advento das novas mídias e tecnologias tem ganhado força e corpo. A midiatização diz respeito às transformações estruturais de lon- ga duração na relação entre mídia e outras esferas sociais. Em contraste à mediação, que lida com o uso da mídia para práticas comunicativas específicas em interação situada, a midiatização preocupa-se com os padrões em transformação de interações so- ciais e relações entre os vários atores sociais, incluindo os indiví- duos e as organizações (HJARVARD, 2014, p. 24). Essa capacidade extensora de publicação de pensamentos não apenas atinge tecnologias e novos meios, como também cidadãos que podem ser também agentes de divulgação e expansão de opiniões pró- prias ou públicas. Tendo como base uma perspectiva sociossemiótica, Verón nos apresenta o conceito de midiatização a partir do que se chama de mercado de discursos, incorporando o que é ou não considerado 50 Luiz-ALberto de FAriAs midiático. Em outras palavras, as mensagens em contextos midiá- ticos circulam como produtos dentro de um contexto de oferta dis- cursiva (PENAFIERI, 2015, p. 46). Assim, nesse contexto de construção de sentidos, seja no indivi- dual, seja no social, seja no privado, seja no público, seja no corporati- vo, cabe às Relações Públicas a gestão dos “ritos para entendimento e aceitação naturalizados por práticas controladas por enunciações or- ganizadas, em ambientes administrados, cuja mensagem tem o intuito de buscar persuasão – seja com participação ativa, seja passiva” (NAS- SAR e FARIAS, 2016). Enfim, os discursos influenciarão na capacidade de geração de sentido e, por conseguinte, de geração de opinião, formando a tríade informação-sentido-opinião. Ou ainda, pelo fato de nas redes sociais digitais as informações circularem tão rapidamente e sem haver neces- sariamente a devida reflexão, que se pode ainda haver outras possibi- lidades triádicas: informação-opinião-sentido, ou ainda opinião-(des) informação-sentido. Afinal “os acontecimentos têm uma hierarquia e podem ser dife- renciados em função de seu poder de afetar os seres e de impregnar as situações de qualidades difusas que as individualizam” (SODRÉ, 2012, p. 34), pois, como ressalta Sodré “a ocorrência direta e inteiramente” (IDEM, p. 34) recebe tratamento personalizado e, por isso, interpreta- ção/entendimento/sentido próprios. Inevitavelmente nossas opiniões cobrem um largo espectro, um longo período de tempo, um número maior de coisas que pode- mos diretamente observar. Elas têm, portanto, que ser formadas de pedaços juntados do que outros nos relataram e do que pode- mos imaginar (LIPPMANN, 2008, p. 83). No capítulo seguinte será discutida a ligação entre as relações públicas e a influência do campo sobre a formação das opiniões, resga- tando-se história e personagens que consolidaram a profissão. 51 capítulo 2 Opinião e relações públicas: persuasão e engajamento A área de relações públicas – muitas vezes chamada no Brasil como comunicação organizacional, comunicação corporati-va, comunicação institucional ou tantas outras nomenclaturas – surgiu a partir de demandas relacionadas a impactos oriundos da opinião pública. Os primeiros passos, no começo do século XX, nos Estados unidos, dão conta de uma atividade profissional que somente mais à frente teve sustentação conceitual-teórica (PERuZZO, 1986). É de grande importância destacar o impacto de qualquer movimento de opinião pública sobre a atividade de relações públicas, e a intencionalidade a priori dessa área em buscar equilíbrio entre inte- resses de pessoas e de empresas com os dos públicos. 2.1. Relações públicas: coNceitos e históRico Os pontos-chave da História contam da criação do primeiro es- critório, em Nova Iorque pelo chamado pai das Relações Públicas Ivy Ledbetter Lee, em 1906, e da publicação do primeiro livro que tratava diretamente do tema (e já ligava a área à opinião pública): “Cristalizan- do a opinião pública”, de Edward Bernays, em 1923 (PERuZZO, 1986). De acordo com os pesquisadores da área, relações públicas se notabilizou como área de atuação profissional quando Lee passou a atender ao milionário John D. Rockefeller em 1914, em meio a uma grande ebulição da opinião pública em relação a ele e a outros me- gaempresários da época (FARIAS, 2009, p. 49). E, como destaca Nassar 52 Luiz-ALberto de FAriAs (2007, p. 31), “não é uma coincidência que, no ambiente da democracia norte-americana, as relações públicas nascentes foram instrumento de difusão em direção à sociedade, sob o patrocínio dos grandes capitalis- tas daquele momento histórico”. Assim, pode-se conectar democracia e relações públicas, potencializando a profissão como importante hub entre informação e formação de opinião. No Brasil, no mesmo ano de 1914, criou-se o primeiro departa- mento de relações públicas na empresa canadense Light and Power Co. Todavia, ainda não possuía a amplitude de ação de relações públicas, limitando-se a uma parcela de instrumentos do que hoje podemos ver como componentes da atividade – assessoria de imprensa, por exemplo. Diversos nomes poderiam ser listados aqui como precursores da atividade e de seu amadurecimento, mas optou-se por um número restrito, buscando localizar o desenvolvimento da profissão. Eduardo Pinheiro Lobo, responsável pela criação do departamento de relações públicas na Light, ainda é considerado o pai das relações públicas no país. Se de um lado historicamente se consolidou a figura de um cria- dor das relações públicas em nível mundial – Lee – e de outro no âm- bito brasileiro – Lobo –, pode-se entender que são aspectos simbólicos, pois certamente nenhuma área se constitui por somente uma perso- nalidade, por uma ação iluminada, mas ao contrário, existe sempre a necessidade de um grupo de apoio, um corpo que possa dar força e materialidade às ideias. Por sua vez, destaque-se, essa nomeação de referências, de marcos, pode ser de ajuda no sentido de estimular a criação de identidade de área. Um nome essencial é o de Candido Teobaldo de Souza Andra- de, responsável por diversas iniciativas: primeira obra sobre relações públicas no Brasil (“Para entender relações públicas”, 1962), participa- ção ativa na consolidação da Associação Brasileira de Relações Públi- cas (fundada em 1954), criação do primeiro curso de relações públicas do Brasil (ECA-uSP, em 1966), entre outros pioneirismos. Deve-se a Teobaldo grande parte do que podemos encontrar na área hoje, tendo ele publicado inúmeros artigos e diversos livros sobre o campo. Dois profissionais também precisam ser destacados: Rolim Valença e Valen- tim Lorenzetti, destacados mobilizadores e “profissionalizadores” da atividade, entre outros. 53 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO Além desses nomes, vale destacar o trabalho de Roberto Porto Simões, cuja obra “Relações Públicas – função política” é referencial para o estudo do campo e de Margarida M. Krohling Kunsch, cuja pro- dução tem sido base para estudo de diversos pesquisadores, além de seu trabalho como orientadora de pesquisas stricto sensu e agitadora do campo, tendo criado a Abrapcorp (entidade que congrega pesqui- sadores, criada em 2006), a Organicom (revista especializada em rela- ções públicas e em comunicação organizacional, criada em 2004) e o Prêmio ABRP (criado em 1982), destinado a estudantes de graduação, entre outras iniciativas. A relações-públicasMargarida Kunsch tem se destacado na construção do campo em nível nacional e internacional. Também cabe destaque a Waldyr Gutierrez Fortes, impulsiona- dor da área e criador da aproximação entre relações públicas e marke- ting, gerando o conceito de transmarketing, importante ferramenta à época de sua proposição (1999). Vale também a menção ao trabalho de Cicília Krohling Peruzzo, responsável por abrir espaço para a pesquisa relacionada à comunica- ção com a comunidade, tendo produzido a obra intitulada “Relações públicas no modo de produção capitalista”, e que, de algum modo, abriu a estrada para o que hoje se conhece por teoria crítica de relações públicas, largamente pesquisada na Europa, especialmente na Ingla- terra (e sobre o que há tese de doutorado recente desenvolvida no Bra- sil por Else Lemos Inácio Pereira). Diversos conceitos foram grafados ao longo da trajetória de rela- ções públicas no Brasil. De acordo com Kunsch, relações públicas: É administrar e gerenciar, nas organizações, a comunicação com os diversos públicos, com vistas à construção de uma identidade corporativa e de um conceito institucional positivo junto à opinião pública e à sociedade em geral (KuNSCH, 199, p. 140). Segundo Farias, pode-se definir relações públicas conectando-a à área de comunicação organizacional: Comunicação organizacional é a área do pensamento respon- sável pela permanente busca de teorias e pela transformação destas em modos interpretáveis pelos agentes da comunicação, representados pela área de relações públicas, as quais, por sua 54 Luiz-ALberto de FAriAs vez, são as teorias, as estratégias e os conjuntos de técnicas e de instrumentos – estes utilizados de modo articulado entre si – que buscam a opinião pública favorável a um determinado objetivo (FARIAS, 2009, p. 57). A imbricação das duas áreas no Brasil chega a ser quase uma superposição, de modo diferente de outros lugares, como nos Estados unidos, em que há uma fronteira bem delimitada entre os dois cam- pos, havendo pesquisadores e pensamentos independentes, ou seja, efetivamente um dualismo, partindo-se do pressuposto que haja dois caminhos. No Brasil, grassa a ideia que as duas áreas sejam xifópagas, criando um espaço no qual pesquisadores dos dois campos caminham proximamente e, às vezes, dualmente. A atuação de relações públicas (e de comunicação organizacio- nal) também influencia na geração de redes de valor, à medida que potencializam: A necessidade de administrar um trabalhador que transforme as informações recebidas da administração em conhecimento, em valor para organização. E, em muitos desses modelos, existe a extensão dessa criação de valor também para a cadeia de públi- cos estratégicos organizacionais, que se reúnem em redes atópi- cas, tendo como principais suportes as tecnologias de comunica- ção digital (NASSAR, 2007, p. 57). Nesse sentido, o autor traz à cena o debate acerca da velocidade de disseminação da informação e, ao mesmo tempo, o potencial de contribuição e de atuação das relações públicas em suportes digitais, hoje largamente difundidos (e até mesmo mitificados) e de alcance nos mais diferentes segmentos. Relações públicas, por ser uma área multi/interdisciplinar, dia- loga com muitos esforços de pesquisa e de pensamento, o que a torna, de algum modo, híbrida. Nesse sentido, e lembrando da sua relação direta como a formação e com os impactos da opinião pública, não se pode esquecer que ela deve fazer parte de todos os esforços comuni- cacionais, independentemente do suporte por onde trafegue a mensa- gem e seus feed backs. 55 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO Na pesquisa europeia relativa aos estudos críticos sobre rela- ções públicas, pode-se destacar a definição da pesquisadora britânica Lee Edwards: (...) como o fluxo de comunicação intencional produzido em nome de indivíduos, formalmente constituídos e grupos cons- tituídos informalmente, por meio de suas transações contínuas com outras entidades sociais. Tem efeitos sociais, culturais, po- líticos e econômicos em nível local, nacional e mundial. Esta definição tem uma série de elementos-chave. Primeiro, defino RP como fluxo de comunicação. A noção de fluxo é extraída da conceituação de fluxos culturais de Appadurai (1996), que in- clui o agregado de atos individuais de um tipo particular (...). Este agregado é inseparável dos próprios atos, que criam o fluxo conforme são promulgados e se mesclam com outros atos para se tornarem parte de um movimento maior. Assim, RP pode ser entendido como ambos e agregado, e também como uma prática particular. A noção de fluxo capta a natureza dinâmica da RP e reforça suas dimensões temporais e espaciais. Também captura a noção de que as pessoas que participam do fluxo estão implica- das na direção que tomam. Essa direção não é necessariamente visível para aqueles cujos atos o criam, mas formato e modelo de sua prática, sim. É mais provável que sejam visíveis as várias maneiras pelas quais o(s) fluxo(s) de RP interagem com outros fluxos culturais globais para mudar o contexto social, cultural, político e econômico - incluindo o da organização (EDWARDS, 2012, p. 21-22) [Tradução do autor]. A ideia de fluxo pode permitir a combinação de diversos olha- res, pois oferece continuidade e movimento, além da interação conse- quente. Edwards firma ainda o pacto necessário para que se entenda os diferentes níveis de interação e de impacto decorrentes das ações de relações públicas. E, por serem articuladas, também impactarão e reagirão frente a outros movimentos e fluxos das mais distintas ori- gens e proporções. 2.2. pesquisa e pRodução, associações e meRcado No bRasil A organização das relações públicas no mundo, e notadamente no Brasil, está associada à capacidade de grupos de profissionais/pesquisa- dores se reunirem em torno de esforços coletivos de desenvolvimento 56 Luiz-ALberto de FAriAs da área. Nesse sentido, vale destacar que algumas associações precisam ser lembradas ao longo dessa trajetória: 1) Associação Brasileira de Rela- ções Públicas (ABRP), criada em 1954; 2) Associação Brasileira de Comu- nicação Empresarial (Aberje), criada em 1967; 3) Associação Brasileira das Agências de Comunicação (Abracom), criada em 2002; 4) Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação Organizacional e Relações Públicas (Abrapcorp), criada em 2006. A ABRP, criada por um grupo de profissionais há 64 anos, com o objetivo de estabelecer um novo paradigma para a área, hoje tem como sua principal vinculação a relação com estudantes, notadamente os de graduação. O Prêmio de Monografias e Projetos Experimentais, criado em 1982, é um marco de desenvolvimento para a área. A Aberje, que recentemente comemorou meio século desde a sua fundação, evoluiu com as décadas de uma entidade que reunia edito- res de jornais e revistas empresariais para um think tank da comunica- ção no ambiente das organizações. Congrega as maiores empresas bra- sileiras e estimula a evolução da produção de conceitos e de técnicas no setor. Oferece ainda uma importante publicação – a Revista Comu- nicação Empresarial – que a partir de sua regularidade (está prestes a completar 30 anos de existência) pauta debates nos meios profissionais e acadêmicos. Destaca-se aqui o trabalho do Prof. Paulo Nassar, que fez da Aberje, em conjunto com seus conselhos, um espaço de refe- rência na comunicação, inclusive ampliando de modo consolidado as ramificações internacionais. A Abracom, por sua vez, reúne as maiores agências de relações públicas do país e trabalha no sentido de fortalecer o espaço de atuação para esse tipo de serviço, até pouco tempo dominado por empresas de outros segmentos da comunicação, especialmente em concorrências públicas. Já a Abrapcorp, tem como fundamento a consolidação do campo acadêmico e científico, realizando congressos temáticos cien- tíficos e colocando à disposição da comunidade produções científicas sob a formade revista, anais e livros. Com a oferta de congressos inter- nacionais, a Abrapcorp mantém a ponte entre a pesquisa no Brasil e no mundo. A interação ocorrida nesses espaços e a consequente informa- ção levam a um processo de formação de opinião. 57 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO Ainda cabe lembrar dos conselhos regionais que formam o sis- tema Conferp (Conselho Federal de Relações Públicas). Com a fina- lidade de regular e fiscalizar a área, esses conselhos são autarquias, portanto, com sistema de funcionamento absolutamente diferente das associações. Talvez possam ser destacados três momentos especiais: a regulamentação da profissão (Lei 5.377, de 11/12/1967), que deu ori- gem posteriormente à criação dos conselhos; o trabalho desenvolvi- do na gestão da Profa. Sidinéia Gomes Freitas, nos anos 1990, quando presidente do Conferp, que gerou a Carta de Atibaia (documento que se propugnava a rever a regulamentação da profissão, com a possibili- dade de abertura a outro tipo de formação além do bacharelado, entre outras modificações) e o trabalho de revisão do debate em torno da regulamentação, na gestão do relações-públicas Flavio Schmidt, nos fim dos anos 2010. Do ponto de vista da pesquisa e da produção científica, há di- versos movimentos que podem ser percebidos ao longo do tempo e do espaço. Muitos dos inputs são originários dos Estados Unidos, mas no Brasil também já se pode entender a consolidação do campo. A existência de linhas de pesquisa em programas de stricto sensu que contemplam as relações públicas, o número de obras e os resultados de pesquisa em nível de mestrado e de doutorado ampliam o debate, os temas de aprofundamento e também criam um cenário de representa- ção identitária. Programas de pós-graduação, como os da Escola de Comunica- ções e Artes da universidade de São Paulo, (criados em 1972), e o da universidade Metodista de São Paulo (criado em 1978), formaram boa parte dos pesquisadores atuantes no país. E permitiram que houvesse um significativo desenvolvimento de outras frentes de ensino, exten- são e pesquisa. Atualmente, há algumas frentes de pesquisa distribuí- das pelo Brasil, extrapolando a ideia de um centro em torno do qual devem orbitar todas as pesquisas. Outro aspecto importante no desenvolvimento de pesquisas foi a criação, em 2007, do Congresso Brasileiro Científico de Comuni- cação Organizacional e Relações Públicas (Abrapcorp), que oportu- nizou o intercâmbio com diversos pesquisadores estrangeiros, colo- cando o debate em nível internacional. Além disso, o programa fellow 58 Luiz-ALberto de FAriAs ship da Aberje também contribuiu nesse sentido, permitindo uma es- tância no país de pesquisadores de alto nível, ampliando os debates e as interações. Vale destacar também a aproximação – por meio de convênios, de parcerias, de interação em atividades profissionais e acadêmicas – e ocorrida entre agentes do mercado profissional e representantes da academia. Agências, empresas e universidades passaram, na última década, em especial, a desenvolver projetos comuns, melhorando o fluxo de informação e de evolução. Não há espaços estanques em um campo, pois: De acordo com Gramsci (1995), as escolas contribuem para a sociedade e esta indica-lhes os caminhos para efetivarem essa contribuição. Tanto mercado quanto escola (universidades, fa- culdades e todos os demais níveis) não são estanques, recebem da sociedade impulsos e retornam a esta com resultados – de re- flexão teórica ou de caráter prático, permitindo a práxis da pro- fissão (FARIAS, 2004, p. 35). Na 59pode-se perceber que os principais acontecimentos se deram, praticamente, com uma década de intervalo, salvo algumas décadas que tiveram maior movimentação. Isso pode ser entendido pelo fato de não ser uma área “populosa” em termos de pesquisado- res, ou mesmo pelo fato de haver a necessidade de maturação para que um processo de pesquisa científica possa ser dado como público e aceito. Pode-se ver, do ponto de vista qualitativo, uma trajetória que procurou se consolidar, transitando por áreas próximas nas quais bus- cava substância e suporte, outros momentos caminhando para a con- solidação de um pensamento mais funcionalista, que até hoje pode ser visto como uma contribuição importante. Com a contemporaneidade, a trajetória pode estar direcionada para um olhar mais crítico, menos cartesiano, que possa dar à área mais solidez e capacidade de criar um pensamento independente. 59 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO Tabela 1 – Histórico das linhas de investigação em Relações Públicas Período acontecimento 1923 Criação das bases para um enfoque sistemático de Relações Pú- blicas pela publicação do livro Crystalling public opinion, de Ed- ward L. Bernays, criando bases para a área. 1937 Publicação do periódico Public Opinion Quarterly, com artigo de Bernays – “Recent Trends in Public Relations activities”. 1947 Os autores Hyman e Sheatsley esboçam as barreiras psicológicas da comunicação em “Some reasons why informations campaigns fail”. 1955 Bernays publica Engineering of consent, que estabelece um enfoque sistemático das Relações Públicas e do papel da pesquisa. 1965 Lucien Matrat cria a Escola de Paris, grupo sediado na Europa, e começa a estabelecer um novo polo para as pesquisas em Rela- ções Públicas. 1972 Pesquisa sobre o processo clássico de persuasão (“Attitude change: the information-processing paradigm”) é publicada por McGuire. 1976 Grunig publica “Communication behaviors ocurring in decision and non-decision situations”, trabalho que introduz os princípios de uma visão situacional da persuasão em Relações Públicas. 1977 Lerbinger publica “Corporate uses of research in PR”, marco me- todológico para compreender a pesquisa de Relações Públicas. 1979 Broom e Smith exploram as regras e as metodologias dos profissio- nais de relações públicas, em “Testing practitioner’s impact on client”. 1984 Grunig identifica quatro modelos para a ação de Relações Públi- cas, em “Organizations environments and models of PR”. 1991 Murphy publica “The limits of symmetry: a game theory approa- ch to symmetric and assymetric public relations”, que cria polê- mica sobre a teoria de Grunig (simétrica de duas vias). 1992 Grunig organiza a publicação de Excellence in public relations and communicational management, trabalho de pesquisa mais impor- tante já publicado, em cuja elaboração se investiram cinco anos de pesquisa. 1999 Publica-se o primeiro livro exclusivo sobre o tema Relações Pú- blicas na internet – Public relations on the net –, escrito por Holtz. 2000 Ledingham e Bruning publicam a obra Public relations as rela- tionship management, focada nas Relações Públicas como agentes de gestão de relacionamentos. 2012 A revista PR Inquiry publica o artigo da professora Lee Edwards “De- fining the ‘object’ of public relations research: a new starting point”. Fonte: FARIAS (2006, p. 79-80), adaptado de Xifra (2003, p. 11). 60 Luiz-ALberto de FAriAs 2.3. ageNtes de iNfluêNcia: peRsuasão e gestão de comuNicação As Relações Públicas sempre estiveram associadas a processos de busca de persuasão – em si uma palavra polêmica – e, por conseguin- te, aos processos de formação de opinião – individuais e coletivas. Esse trabalho sempre foi feito pela busca de criação de prestígio: geração de diferenciação, de atratividade, de sedução, por meio de informação des- tinada a esclarecer sobre pessoas, organizações, marcas, projetos etc. A referida persuasão está vinculada a processos informacionais intencionais, deliberadamente preparados para que as interlocu- ções alcancem resultados programados. É claro que a intenciona- lidade está em todos os discursos, impregnados de dialogismo, pois trazem informações de discursos anteriores e influenciam discursos posteriores “no encontro dialógico as duas culturas não se fundem nem se mesclam, cada uma conserva sua unida- de, sua totalidade aberta,porém ambas se enriquecem mutua- mente” (BAKHTIN, 2003, p. 352). Nesse sentido, ocorre o mesmo quando uma mensagem é rece- bida, passando pelo filtro. Por isso, e exatamente por isso, as Relações Públicas servem-se de estratégias de ação ancoradas em ritos para entendimento e aceitação, naturalizados por práticas controladas por enunciações organizadas, em ambientes administrados, cuja mensa- gem tem o intuito de buscar persuasão – seja com participação ativa, seja passiva (NASSAR e FARIAS, 2016). Em contraposição a esse olhar Else L. I. Pereira, baseando-se em Collister (apud PEREIRA, 2016), destaca que: Com as transformações tecnológicas dos últimos anos, o ambiente narrativo-discursivo experimenta, portanto, uma situação singu- lar, em que as organizações perdem a centralidade e a produção de sentidos é compartilhada por diferentes atores, configurando- -se um ambiente narrativo-discursivo que não pode mais ser vis- to como passível de controle, por mais que se busque reforçar as narrativas favoráveis. Essa nova realidade interferiu de forma profunda nos modos de pensar e fazer relações públicas, e o que antes se resolvia por meio de relacionamento com a imprensa, por exemplo, já é insuficiente e até irrelevante em situações de imi- nente crise ou urgência comunicativa. Nesse sentido, indivíduos, grupos, organizações, todos são produtores de conteúdo e, mais, 61 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO de sentido. Até mesmo a agência não humana representada pelos algoritmos interfere aqui (PEREIRA, 2016, p. 58). Se aparentemente as duas últimas citações oferecem contrarie- dade entre si, por sua vez ambas podem estar no contexto da comple- mentariedade. Isso porque, de fato há incrível produção de narrativas por diversos atores, como destacado por Pereira, mas não obstante deve-se considerar: 1. essas narrativas e discursos estão fadados a transitarem por espaços restritos, uma vez que são dirigidas por algoritmos; 2. as lideranças opinativas (chamadas de influencers nas re- des sociais digitais) continuam a existir – independente do suporte utilizado – e podem também levar a determinadas compreensões e, em certos casos, forças opinativas, forças influenciadoras, podem ser capitaneadas em prol de dado objetivo, seja por questões ideológicas, seja por aspectos co- merciais; destaque-se que os influencers não são agentes de relações públicas, pois suas ações são motivadas por estímu- los econômicos em prol do discurso das instituições, pelas quais podem ser contratados; 3. diversas organizações (de forma direta ou por intermédio de suas assessorias) também atuam de forma massiva nos am- bientes fora da imprensa tradicional (e esta também está em outros ambientes além dos analógicos, concorrendo com to- dos os demais atores); 4. há forte concorrência de fake news, notícias-espetáculo, ações de astroturfing etc., além de ações de impulsionamento de mensagens (posts) formais e informais. As duas colocações dialogariam no sentido de que há forte im- pacto narrativo-discursivo e há volume e presença de novos atores na construção da narrativa prevalente, em oposição à ação orquestrada por organizações com fins de criarem clima positivo para a recepção de suas mensagens, seja por intermédio de ações de relações públicas junto à da imprensa, seja pela veiculação de publicidade, por ações de propaganda etc. Isso faz que a ação de relações públicas, de algum modo, se rede- senhe e se reconstrua, mas continue a atuar como ação voltada para o 62 Luiz-ALberto de FAriAs consenso a partir da persuasão. Se autores falam em bem comum como justificativa, isso se estilhaçaria pela simples razão de haver intencio- nalidade precípua em toda ação de relações públicas quando voltada para a construção de reputações organizacionais. Em meio a isso, o cenário da atuação de relações públicas se torna complexo diante do universo presente nas organizações. São inúmeros os desafios profissionais e acadêmicos. A comunicação organizacional é responsável pela tecitura dos públicos, dos ambientes, do clima e, por conseguinte, dos resultados organizacionais. É uma verdadeira trama que se ressignifica a todo o momento, seja pelas transformações decorrentes do que se chama popularmente de gerações, seja pelos im- pactos sócio-político-econômicos, seja pelas alterações decorrentes de fusões e hibridizações de culturas das organizações. No capítulo seguinte será trabalhada pesquisa relativa ao levan- tamento realizado em um período de uma década referente a pesqui- sas no campo da opinião pública. Foram feitos levantamentos relativos a livros, artigos, teses e dissertações desenvolvidos em 1,5 década em nosso país. A partir do trabalho serão articuladas as principais tendên- cias de estudo relativas a esse tema. 63 capítulo 3 Pesquisa e produção sobre opinião pública A pesquisa sobre opinião pública pode ter várias origens, diver- sos interesses e gerar diferentes produtos. Mas é a partir da construção de sentidos, no dia a dia, e de sua reconstrução contínua – de modo automático, espontâneo, natural ou planejado, preparado, persuasivo, intencional – que ela realmente impacta a vida das pessoas, das orga- nizações, dos diversos setores que compõem a sociedade. Por conta disso, buscamos tratar neste capítulo das pesquisas desenvolvidas ao longo de um período de uma década e meia para buscar os pontos-cha- ve que possam levar à compreensão desse tema tão volátil e relevante. Além de bibliotecas da Universidade de São Paulo, recorreu-se à consulta em repositórios e fontes de referência (ver Quadro 2) que pudessem dar a base de informação necessária para que se listasse e compilasse, em um primeiro momento, e analisasse, em um segundo. Figura 1 – Fontes de busca das pesquisas sobre Opinião Pública 64 Luiz-ALberto de FAriAs 3.1. aRtigos sobRe opiNião pública Para este estudo, foi realizado levantamento de artigos publica- dos no Brasil entre os anos 2000 e 2015, ano em que esta pesquisa foi iniciada, redundando no trabalho ora apresentado. Com isso, chegou- -se ao número de 160 artigos publicados no âmbito nacional e, com a finalidade de se garantir rigor científico a esta pesquisa, aqueles que não continham datas foram excluídos da base de dados. Entre esses artigos, buscou-se diálogo entre eles e alguns receberão destaque pelo impacto que parecem propor ao estudo do tema. Tabela 2 – Artigos que possuem como tema central a opinião pública (publicados entre 2000 e 2015) título do artigo autor ano de publicação Periódico / anais A DIALÉTICA DA OPINIÃO PÚBLICA: EFEITOS RECíPRO- COS DA POLíTICA PÚBLICA E DA OPINIÃO PÚBLICA EM SOCIEDADES DEMOCRÁTICAS CONTEMPORÂNEAS MICHAEL HOWLETT 2000 OPINIÃO PÚBLICA A OPINIÃO PÚBLICA BRASI- LEIRA E A QuESTÃO DA POS- SE DA ILHA DA TRINDADE VIRGíLIO C. ARRAES 2000 MÚLTIPLA A OPINIÃO PÚBLICA SOBRE OS TRANSGÊNICOS LUISA MASSARANI 2000 HISTÓRIA, CIÊNCIAS, SAÚDE-MAN- GUINHOS IMPRENSA E CONTROLE DA OPINIÃO PÚBLICA ROBERTO AMARAL 2000 REVISTA DE INFORMAÇÃO LEGISLATIVA APOIO POPULAR ÀINTEGRA- ÇÃO ECONÔMICA REGIONAL NA AMÉRICA LATINA MITCHELL A. SELIGSON 2000 OPINIÃO PÚBLICA PARA UMA CONCEITUALIZA- ÇÃO DE OPINIÃO PÚBLICA A PARTIR DAS CATEGORIAS GRAMSCIANAS DE HEGEMO- NIA E BLOCO HISTÓRICO LUIZ MAGNO PINTO BASTOS JÚNIOR 2000 SEQuÊNCIA: ESTUDOS PO- LíTICOS E JURí- DICOS 65 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO PARTIDOS POLíTICOS, OPI- NIÃO PÚBLICA E O FuTuRO DA DEMOCRACIA NA VENE- ZUELA RICHARD S. HILL- MAN / THOMAS J. D’AGOSTINO 2000 OPINIÃO PÚBLICA O PAPEL DAS PESQuISAS DE OPINIÃO PÚBLICA NA CON- SOLIDAÇÃO DA DEMOCRA- CIA FABIÁN ECHEGA- RAY 2001 OPINIÃO PÚBLICA O PROBLEMA DAS “SEITAS” – OPINIÃO PÚBLICA, O CIENTIS- TA E O ESTADO HUBERT SEIWERT 2001 REVISTA DE ESTUDOS DA RELIGIÃO ÁTICOS E BEÓCIOS NA REPÚBLICA DAS LETRAS: ASPECTOS DA OPINIÃO PÚBLICA NO RIO DE JANEIRO (1836-1837) JEFFERSON CANO 2002 CAD. AEL DIVERSIDADE ESOLIDARIE- DADE DIANNE M. PIN- DERHUGHES 2002 CADERNO CRH NEUTRALIDADE, MíDIA E OPINIÃO PÚBLICA1 REGINA GLÓRIA NUNES ANDRADE 2002 INTERCOM O FAZER LABORATORIAL DA OPINIÃO PÚBLICA WALDENEY ALCI- DES DA SILVA 2002 INTERCOM POLíTICAS CONTRA O RACIS- MO E OPINIÃO PÚBLICA STAN BAILEY / ED- WARD TELLES 2002 OPINIÃO PÚ- BLICA CAMPO MIDIÁTICO, OPINIÃO PÚBLICA E LEGITIMAÇÃO EUGENIA MARIANO DA ROCHA BARI- CHELLO 2003 INTERCOM ELEIÇÕES, OPINIÃO PÚBLICA E MíDIA LUIS FELIPE MIGUEL 2003 POLíTICA & SOCIEDADE MíDIA, “OPINIÃO PÚBLICA” E AS POSSIBILIDADES DE UM NOVO SENSO COMUM SYLVIA MORETZ- SOHN 2003 ANPUH O PARLAMENTO E A OPINIÃO PÚBLICA EM PORTUGAL CRISTINA LESTON- -BANDEIRA 2003 ANÁLISE SOCIAL SONDAGENS DE OPINIÃO PÚBLICA EM ESPANHA E EM PORTUGAL JOSÉ IGNACIO WERT 2003 ANÁLISE SOCIAL título do artigo autor ano de publicação Periódico / anais 66 Luiz-ALberto de FAriAs PESQuISAS DE OPINIÃO: A OPINIÃO PÚBLICA NA CONS- TRuÇÃO DE uMA IMAGEM PÚBLICA FAVORÁVEL MARCELLO CHA- MuSCA / MÁRCIA CARVALHAL 2004 PORTAL RP- BAHIA OPINIÃO PÚBLICA, ESTRATÉ- GIA PRESIDENCIAL E AÇÃO DO CONGRESSO NO BRASIL: CARLOS PEREIRA / TIMOTHY POWER/ LÚCIO RENNÓ 2005 OPINIÃO PÚBLICA PODER DIRECIONADOR? DAVID WEAKLIEM / ROBERT ANDERSEN 2005 OPINIÃO PÚBLICA DEBATES POLíTICOS NA IN- TERNET: A PERSPECTIVA DA CONVERSAÇÃO CIVIL FRANCISCO PAULO JAMIL ALMEIDA MARQuES 2006 OPINIÃO PÚBLICA DETERMINANTES DAS ATITU- DES DO ELEITORADO BRASI- LEIRO COM RELAÇÃO À PRI- VATIZAÇÃO E AOS SERVIÇOS PÚBLICOS ELIZABETH BALBA- CHEVSKY/DENILDE OLIVEIRA HOLZHA- CKER 2006 OPINIÃO PÚBLICA INVESTIGANDO A LEGITIMI- DADE CHRISTINA W. AN- DREWS 2006 OPINIÃO PÚBLICA O POLIMENTO DA IMAGEM PÚBLICA DE LUIZ INÁCIO ÁLVARO NUNES LARANGEIRA 2006 COMPÓS ORIGENS DO CONCEITO DE OPINIÃO PÚBLICA CARLA REIS LON- GHI 2006 COMUNICA- ÇÃO E SOCIE- DADE OS MILITANTES SÃO MAIS INFORMADOS? DESIGuALDA- DE E INFORMAÇÃO POLíTICA NAS ELEIÇÕES DE 2002 LUCIO RENNÓ 2006 OPINIÃO PÚBLICA SOCIEDADE BRASILEIRA, OPI- NIÃO PÚBLICA E OPERAÇÕES MULTINACIONAIS MAURíCIO SANTO- RO 2006 VI CICLO DE ESTUDOS ES- TRATÉGICOS, ORGANIZADO PELO CENTRO DE ESTUDOS ESTRATÉGICOS A INCERTEZA CIENTíFICA E A OPINIÃO PÚBLICA NA BA- LANÇA DAS NEGOCIAÇÕES SOBRE MUDANÇA DE CLIMA AíMOLA, L. A. L/SIL- VA DIAS, P. L. 2007 INTERFACEHS título do artigo autor ano de publicação Periódico / anais 67 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO A FORMAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA E AS INTER-RELA- ÇÕES COM A MíDIA E O SISTE- MA POLíTICO LIDIANE MALAGO- NE PIMENTA 2007 CONGRESSOS DA ASSOCIA- ÇÃO BRASILEI- RA DE PESQuI- SADORES EM COMUNICA- ÇÃO E POLí- TICA A OPINIÃO PÚBLICA E O ESTATUTO DA CIDADE JANAíNA RIGO SAN- TIN*/DIEGO MAFFA- ZZIOLI SANTOS 2007 JUSTIÇA DO DIREITO AS CONFERÊNCIAS POPU- LARES DA GLÓRIA COMO ESPAÇO DE SOCIABILIDADE E FORMAÇÃO DE OPINIÃO PÚBLICA, 1873/1880 KAROLINE CARULA 2007 ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE HISTÓRIA COMO OS PARLAMENTARES DO MERCOSuL ESTÃO uSAN- DO A INTERNET PARA SE COMUNICAR E INTERAGIR COM A OPINIÃO PÚBLICA? SÉRGIO BRAGA/ MARIA ALEJANDRA NICOLAS 2007 COMPOLíTICA A COMuNICAÇÃO ORGANI- ZACIONAL E A FORMAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA1 CASSIANA MARIS LIMA CRUZ 2007 INTERCOM ESTETIZAÇÃO DA POLíTICA VS. FORMAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA: uMA APORIA DA RAZÃO COMuNICACIONAL? AMARILDO LUIZ TREVISAN 2007 EDuCAÇÃO MEDO E OPINIÃO PÚBLICA NO BRASIL CONTEMPORÂ- NEO DÉBORA REGINA PASTANA 2007 ESTUDOS DE SOCIOLOGIA MíDIA, FORMAÇÃO DA OPI- NIÃO PÚBLICA E VOTO PO- PULAR PAuLO VAZ /MAuRI- CIO LISSOVSKY 2007 COMPÓS MíDIA, POLíTICA E PESQuI- SAS DE OPINIÃO PÚBLICA FERNANDA BARTH 2007 REVISTA DEBA- TES NOTíCIAS DE CRIME E FOR- MAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA MAURICIO LISSO- VSKY/PAuLO VAZ 2007 LOGOS título do artigo autor ano de publicação Periódico / anais 68 Luiz-ALberto de FAriAs A CONTRIBuIÇÃO DA FILO- SOFIA NA PRÁTICA PEDAGÓ- GICA E NA FORMAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA CRíTICA NO CONTEXTO ESCOLAR ELVIO DE CARVALHO 2008 SIMPÓSIO NACIONAL DE EDuCAÇÃO A FORMAÇÃO E EVOLuÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA NAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE PELOTAS-RS-BRASIL EM 2008 FÁBIO SOUZA DA CRUZ, JENNIFER AZAMBUJA DE MORAIS 2008 BOCC.UBI.PT CRISE NO ESPAÇO PÚBLICO, AGENDA-SETTING E FORMA- ÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA MIGUEL MIDÕES 2008 WWW.BOCC. UBI.PT “O CRIME QuE CHOCOu O BRASIL”: MíDIA, JuSTIÇA E OPINIÃO PÚBLICA NA PRI- MEIRA FASE DO CASO ISABE- LLA NARDONI SYLVIA MORETZSOHN 2008 ENCONTRO NACIONAL DE PESQuISADO- RES EM JORNA- LISMO - UMESP O PAPEL DA MíDIA NA FOR- MAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLI- CA: A CONTRIBuIÇÃO DE BOURDIEU CARLA LUCIANE BLUM VESTENA 2008 GUAIRACÁ OPINIÃO PÚBLICA E EDuCA- ÇÃO SOBRE ABATE HuMANI- TÁRIO ANA SILVIA PEDRA- ZZANI, ANTÔNIO OSTRENSKY NETO 2008 CIÊNCIA ANIMAL BRASILEIRA OPINIÃO PÚBLICA, MEDIA E CIDADANIA: AS MANIFESTA- ÇÕES PELA PAZ NAS VÉSPE- RAS SUSANA BORGES 2008 RESEARCHGATE A OPINIÃO PÚBLICA NA CLP TENAFLAE LORDÊLO 2008 REVISTAS.UNI- VERCIENCIA. ORG OPINIÃO PÚBLICA E POLíTI- CA EXTERNA CARLOS AuRÉLIO 2008 REV. BRAS. POLíT. PERSuASÃO, MANIPuLAÇÃO E OPINIÃO PÚBLICA CAMILO CATTO 2008 CADERNOS DE ESCOLA DE CO- MuNICAÇÃO A TEORIA DA DINÂMICA DA OPINIÃO PÚBLICA PEDRO SANTOS MUNDIM 2009 CONTEMPORÂ- NEA CENÁRIOS DA LIBERDADE DE IMPRENSA E OPINIÃO PÚBLI- CA EM HEGEL AGEMIR BAVARES- CO / PAuLO ROBERTO KONZEN 2009 KRITERION título do artigo autor ano de publicação Periódico / anais 69 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO DAS MíDIAS À MIDIATIZA- ÇÃO: REFLEXÕES SOBRE OPI- NIÃO PÚBLICA12 MÁRIO PEREIRA BORBA/RuDIMAR BALDISSERA 2009 ABRAPCORP IDENTIDADE COLETIVA NE- GRA E ESCOLHA ELEITORAL NO BRASIL GLADYS MITCHELL 2009 OPINIÃO PÚBLICA MíDIA E OPINIÃO PÚBLICA: PONDERAÇÕES SOBRE CIDA- DANIA E DEMOCRACIA PE- LAS TIRAS DA MAFALDA MARTA MORAES BITENCOURT 2009 COMPOLíTICA MUDANÇA INSTITUCIONAL E ATITUDES POLíTICAS MARIO FuKS / FA- BRíCIO MENDES FIALHO 2009 OPINIÃO PÚBLICA O PAPEL DA OPINIÃO PÚBLI- CA NA VIOLÊNCIA INSTITU- CIONAL ANGELA MENDES DE ALMEIDA 2009 LATIN AMERI- CAN STUDIES ASSOCIATION OPINIÃO PÚBLICA E ESCRA- VIDÃO ALAIN EL YOUSSEF 2009 ALMANACK BRAZILIENSE OPINIÃO PÚBLICA, IMPRENSA E PARLAMENTO FERNANDA SÁ 2009 PLATAFORMA- DEMOCRATI- CA.ORG OPINIÃO PÚBLICA E ESCRA- VIDÃO ALAIN EL YOUSSEF 2009 ALMANACK BRAZILIENSE PARTIDOS, OPINIÃO PÚBLICA E A COMPETIÇÃO ELEITORAL NO BRASIL EMERSON URIZZI CERVI 2009 EM DEBATE PERCEPÇÕES SOBRE O PRO- GRAMA BOLSA FAMíLIA NA SOCIEDADE BRASILEIRA HENRIQuE CARLOS DE OLIVEIRA DE CASTRO / MARIA INEZ MACHADO TELLES WALTER 2009 OPINIÃO PÚBLICA TEMPO, CIÊNCIA E CONSENSO ISAAC EPSTEIN / JOSÉ APARECIDO DE OLIVEIRA 2009 INTERFACE A CONSTRuÇÃO DO ETHOS A SERVIÇO DA SENSIBILIZAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA EM O QuARTO PODER KARIN CRISTINA BETIATI/ IVO JOSÉ DITTRICH2 2010 TRAVESSIAS A AMAZÔNIA ATRAVÉS DA MíDIA: A FORMAÇÃO DA OPI- NIÃO PÚBLICA NACIONAL EM LONGO PRAZO PIRAJU BOROWSKI MENDES / SÉRGIO LUIZ GOMES DE MELO 2010 REVISTA DAS CIÊNCIAS MILITARES título do artigo autor ano de publicação Periódico / anais 70 Luiz-ALberto de FAriAs ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE AS POSSIBILIDADES QuE AS ELEIÇÕES OFERECEM PARA SE CONHECER O COM- PORTAMENTO ELEITORAL DOS CIDADÃOS E A OPINIÃO PÚBLICA LUIZ MIGUEL DO NASCIMENTO2 2010 TEMPOS HISTÓRICOS FARRA DAS PASSAGENS: CRí- TICA AO PATRIMONIALISMO E ESTRATÉGIAS DE AGENDA- MENTO E MOBILIZAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA NO JOR- NAL O POVO ADILSON RODRI- GuES DA NÓBREGA/ LUíS CELESTINO DE FRANÇA JÚNIOR3 2010 INTERCOM INFORMAÇÃO POLíTICA E ATITUDES SOBRE GASTOS GO- VERNAMENTAIS E IMPOSTOS NO BRASIL LuCIO RENNÓ / MA- THIEU TURGEON 2010 OPINIÃO PÚBLICA OLHANDO PARA A ÁGuIA: VISÕES DA OPINIÃO PÚBLICA NO BRASIL E NO MUNDO SO- BRE OS ESTADOS UNIDOS EDISON BENEDITO DA SILVA FILHO / RODRIGO FRACA- LOSSI DE MORAES 2010 BOLETIM DE ECONOMIA E POLíTICA IN- TERNACIONAL OPINIÃO PÚBLICA E FuTE- BOL: QuANDO A TRADIÇÃO E O PRESENTE INTERAGEM WALTER JOSÉ MOREIRA DIAS JUNIOR 2010ENCONTRO REGIONAL DA ANPUH OPINIÃO PÚBLICA E REPRE- SENTAÇÃO POLíTICA DAS MuLHERES: NOVOS HORI- ZONTES PARA 2010? MARLISE MATOS 2010 EM DEBATE OPINIÃO PÚBLICA NA CuL- TURA DA CONVERGÊNCIA REJANE DE OLIVEIRA POZOBON 2010 CULTURA MIDIÁTICA OPINIÃO PÚBLICA, PESQuI- SAS ELEITORAIS E A INTER- NET EM 2010: POSSíVEIS CE- NÁRIOS MARCELO COUTINHO 2010 EM DEBATE OPINIÃO PÚBLICA, uMA RE- VISÃO DE CONCEITOS KAMILLA DOS SANTOS 2010 INTERCOM PERIODISMO MAÇÔNICO, PO- LíTICA E OPINIÃO PÚBLICA NA CORTE IMPERIAL THIAGO WERNECK GONÇALVES 2010 ANPUH PESQuISA DE OPINIÃO PÚBLI- CA: MAPEAMENTO ESTRATÉ- GICO DE QuESTÕES SOCIAIS FLÁVIA, OBARA KAI / LuCAS CRIVELARI FORTES 2010 INTERCOM título do artigo autor ano de publicação Periódico / anais 71 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO TEORIA DA OPINIÃO PÚBLICA EM JOHN STUART MILL ROUGER DOS SAN- TOS / AGEMIR BAVA- RESCO 2010 XI SALÃO DE INICIAÇÃO CIENTíFICA PUCRS TRIBUNAS DE HONRA, TRIBU- NAIS DE JuSTIÇA: OPINIÃO PÚBLICA E A MORALIDADE OITOCENTISTA NANCY RITA SENTO SÉ DE ASSIS 2010 REVISTA INTER- NACIONAL DE HISTÓRIA POLí- TICA E CULTU- RA JURíDICA A CONCEPÇÃO KANTIANA DE OPINIÃO PÚBLICA: SuA RELAÇÃO COM A GuERRA E A CORRuPÇÃO DO PODER PÚBLICO FRANCISCO JOZI- VAN GUEDES DE LIMA1 2011 SEMANA ACADÊMICA DO PPG EM FILOSOFIA DA PUCRS A REPÚBLICA DE MR. SLANG DANYLLO DI GIOR- GIO M. DA MOTA 2011 SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA CIBERESPAÇO, OPINIÃO PÚBLICA E SOBERANIA POPuLAR: JOSÉ AFONSO SILVA JuNIOR/PRISCILA MUNIZ DE MEDEI- ROS 2011 CONTEMPORÂ- NEA DIREITO, OPINIÃO PÚBLICA E RACISMO NOS ESTADOS UNIDOS E NO BRASIL MONICA GRIN 2011 REVISTA ESPAÇO ACADÊMICO ESTADO E LEGITIMIDADE: O ESTADO DE EXCEÇÃO, A LEGALIDADE E A LEGITIMI- DADE PRESSIONADOS PELA OPINIÃO PÚBLICA ESTARÃO VIVOS EM 4.300 A/C ? EMERSON DE LIMA PINTO2 2011 FACULDADE DE DIREITO CESUCA HGPE E FORMAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA NO BRASIL EMERSON URIZZI CERVI / MICHELE GOULART MAS- SUCHIN 2011 IV CONGRES- SO LATINO- -AMERICANO DE OPINIÃO PÚBLICA DA WAPOR JORNALISMO: uMA RELAÇÃO COM OPINIÃO PÚBLICA NARA LYA SIMÕES CAETANO CABRAL / MAYRA RODRIGUES GOMES2 2011 RUMORES A OPINIÃO PÚBLICA E POLí- TICAS PÚBLICAS DE EDUCA- ÇÃO PARA O CONSuMO: LITON LANES PILAU SOBRINHO1 2011 REVISTA DO DIREITO UNISC OPINIÃO PÚBLICA, ENXAMES E CONTORNOS VISíVEIS DA ESFERA PÚBLICA NA WEB ANDERSON DE AL- MEIDA CANO ORTIZ 2011 COMPOLíTICA título do artigo autor ano de publicação Periódico / anais 72 Luiz-ALberto de FAriAs OPINIÃO PÚBLICA, GuERRA E CORRuPÇÃO DO PODER PÚ- BLICO NA FILOSOFIA POLíTICA DE KANT FRANCISCO JOZI- VAN GUEDES DE LIMA 2011 REVISTA OPINIÃO FILOSÓFICA OPINIÃO PÚBLICA, MÉDIA E LíDERES DE OPINIÃO: uM ES- TUDO EXPLORATÓRIO SOBRE A INFLuÊNCIA DOS MÉDIA E DOS LíDERES DE OPINIÃO NA FORMAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA. MIGUEL MIDÕES 2011 RESEARCHGATE BRASIL, AS AMÉRICAS E O MuNDO: OPINIÃO PÚBLICA E POLíTICA EXTERNA LEANDRO PIQuET CARNEIRO / JANINA ONuKI/ MARIA HER- MíNIA TAVARES DE ALMEIDA 2011 IV CONGRES- SO LATINO- -AMERICANO DE OPINIÃO PÚBLICA DA WAPOR POLíTICA EXTERNA E INSTI- TUIÇÕES DEMOCRÁTICAS NO GOVERNO LULA DHIEGO DE MOURA MAPA 2011 ANAIS DO SEMINÁRIO NACIONAL DA PÓS-GRADUA- ÇÃO EM CIÊN- CIAS SOCIAIS- -UFES QuALIDADE DE VIDA, OPI- NIÃO PÚBLICA E AÇÃO DE BAIRRO LEONARDO MELLO E SILVA 2011 REVISTA CRí- TICA DE CIÊN- CIAS SOCIAIS SINAIS DE UMA NOVA ICO- NOCLASTIA: INTELECTuAIS E OPINIÃO PÚBLICA NA IDADE DE OURO DA IMPRENSA ISABEL CORRÊA DA SILVA 2011 LUSíADA HISTÓRIA TEORIA CRíTICA DA OPINIÃO PÚBLICA AO MODELO ESTATAL: LITON LANES PILAU SOBRINHO1 2011 REVISTA NEJ A OPINIÃO PÚBLICA A RES- PEITO DOS ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICA- DOS NO BRASIL CARLOS EDUAR- DO FRICKMANN YOuNG/BIANCCA SCARPELINE DE CASTRO 2012 RESEARCHGATE A PESQuISA DE OPINIÃO PÚBLICA: O PRIMEIRO PASSO PARA A CONSTRuÇÃO DE AUDIÊNCIAS VALMOR RHODEN, JOEL FELIPE GUIN- DANI, ÂNGELA SOWA 2012 VERSO E RE- VERSO título do artigo autor ano de publicação Periódico / anais 73 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO CIBERATIVISMO E A INFLUÊN- CIA DA OPINIÃO PÚBLICA SOBRE A ESFERA PRIVADA PRISCILA MUNIZ DE MEDEIROS / TE- NAFLAE DA SILVA LORDÊLO 2012 GEMINIS CONVERSAÇÕES POLíTICAS ONLINE E SEUS EFEITOS NA OPINIÃO PÚBLICA RUDIMAR BALDIS- SERA / MATHEuS LOCK2 2012 CONTEMPORÂ- NEA DA OPINIÁO PÚBLICA PARA A INTELIGÊNCIA COLETIVA REJANE DE OLIVEI- RA POZOBON 2012 REVISTA LATI- NOAMERICA- NA DE COMU- NICACIÓN É POSSíVEL TER PRAZER ANAL: A DECLARAÇÃO DA CANTORA SANDY NA REVISTA PLAYBOY E A POLÊMICA CRIADA PELA OPINIÃO PÚBLICA NO TWITTER1 FELIPE ANACLETO/ ANA PAULA CAM- POS LIMA 2012 TEMÁTICA DELIBERAÇÃO ONLINE E OPI- NIÃO PÚBLICA NO CASO DO MOVIMENTO GOTA D’ÁGUA CONTRA A USINA DE BELO MONTE1 ANGELA SALGUEI- RO MARQuES/LuIS MAURO SÁ MAR- TINO 2012 CONTEMPORÂ- NEA INTERESSES PuBLICADOS: GRuPOS E OPINIÃO PÚBLICA NAS NARRATIVAS JORNALíS- TICAS LUIS ANTONIO HANGAI 2012 SBPJOR – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQuISADO- RES EM JORNALISMO MíDIA, OPINIÃO PÚBLICA E LEGITIMIDADE DEMOCRÁ- TICA ANA PAOLA AMO- RIM 2012 CADERNOS DA ESCOLA DO LEGISLATIVO MOBILIZAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA ANNE CAROLINA FESTUCCI, PATRI- CIA GUILHEM DE SALLES CARVALHO, PAULA MAIA WUNDER ANDREOLA 2012 CADERNOS DE COMUNICA- ÇÃO NET ATIVISMO: NOVOS AS- PECTOS DA OPINIÃO PÚBLI- CA EM CONTEXTOS DIGITAIS MASSIMO DI FELICE 2012 FAMECOS NO JORNALISMO NÃO HÁ FI- BROSE: A RuíNA DAS FONTES, O DENuNCISMO E A OPINIÃO PÚBLICA FELIPE PENA 2012 INTERCOM título do artigo autor ano de publicação Periódico / anais 74 Luiz-ALberto de FAriAs O DIÁLOGO DA OPINIÃO PÚBLICA SOBRE A CENSURA ATUAL MARIANA FuJISAWA / ANTÔNIO REIS JUNIOR 2012 INTERCOM O ESPAÇO FíSICO DA OPINIÃO PÚBLICA BENTO ITAMAR BORGES 2012 PROBLEMATA O PAPEL DA IMPRENSA COMO FORMADORA DA OPINIÃO PÚBLICA POLíTICA RODOLPHO RA- PHAEL DE OLIVEIRA SANTOS 2012 REVISTA TEMÁTICA O PODER VISíVEL JOSÉ MIGuEL SAR- DICA 2012 ANÁLISE SOCIAL OPINIÃO PÚBLICA: uM CON- CEITO POLíTICO EM DISPUTA FERNANDO SÁ 2012 ALCEU OPINIÃO PÚBLICA, COMuNI- CAÇÃO LIBERDADE DE EX- PRESSÃO E CENSuRA CASTILHO COSTA, MARIA CRISTINA 2012 OBSERVATÓ- RIO DE CO- MUNICAÇÃO, LIBERDADE DE EXPRESSÃO E CENSURA. RELATÓRIO APRESENTADO À FAPESP A PESQuISA DE OPINIÃO PÚBLICA: O PRIMEIRO PASSO PARA A CONSTRuÇÃO DE AUDIÊNCIAS VALMOR RHODEN, JOEL FELIPE GUIN- DANI, ÂNGELA SOWA 2012 VERSO E REVERSO POLíTICA E OPINIÃO PÚBLI- CA: A VISÃO DE ELEITORES, PARLAMENTARES E ESPECIA- LISTAS SOBRE A REFORMA POLíTICA NO BRASIL ANTONIO TEIXEIRA DE BARROS / CRIS- TIANE BRUM BER- NARDES 2012 ANAIS DO V CONGRESSO LATINO-AME- RICANO DA ASSOCIAÇÃO MUNDIAL PARA PESQUISAS DE OPINIÃO PÚ- BLICA A OPINIÃO PÚBLICA BRA- SILEIRA, OS PARTIDOS E A DEMOCRACIA: ESTuDO LON- GITUDINAL ENTRE OS ANOS DE 2002 E 2010 BRUNO MELLO SOUZA 2013 V CONGRESSO DA COMPOLíTICA AS RUPTURAS NOS FLUXOS DE COMuNICAÇÃO POLíTICA ENTRE A OPINIÃO PÚBLICA E AS INSTÂNCIAS POLíTICAS SÉRGIO ROBERTO TREIN 2013 ANUÁRIO UNESCO título do artigo autor ano de publicação Periódico / anais 75 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO ASPECTOS DA FORMAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA PAuLISTA TIAGO EGíDIO AVANÇO CUBAS 2013 REVISTA NERA COMuNICAÇÃO POLíTICA E QuALIDADE DA DEMOCRA- CIA ANA LÚCIA HEN- RIQuE TEIXEIRA GOMES, JOÃO LuIZ PEREIRA 2013 OPINIÃO PÚBLICA CORRuPÇÃO E OPINIÃO PÚ- BLICA NO ESPíRITO SANTO RAFAEL CLÁUDIO SIMÕES 2013 MEMÓRIAS, TRAUMAS E RUPTURAS DESOBEDIÊNCIA CIVIL, DRA- MATuRGIA ESTRATÉGICA E OPINIÃO PÚBLICA JOÃO GuILHERME BASTOS DOS SAN- TOS 2013 ANUÁRIO UNESCO GuERRA E OPINIÃO PÚBLICA NOS ESTADOS uNIDOS: O CASO DA GUERRA DO IRA- QuE EM 2003 DAMIN, CLÁUDIO JÚNIOR 2013 IV SIMPÓSIO DE PÓS-GRA- DuAÇÃO EM RELAÇÕES IN- TERNACIONAIS DO PROGRAMA “SAN TIAGO DANTAS” HIPÓLITO DA COSTA: A CONSTRuÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA SOBRE A REVOLU- ÇÃO HAITIANA NO CORREIO BRAZILIENSE SORAYAMATOS DE FREITAS 2013 EDUFOP LIDERANÇA NA OPINIÃO PÚBLICA? JULIANA GAGLIAR- DI 2013 COMPOLíTICA MíDIA, OPINIÃO PÚBLICA E POLíTICA PENAL MARíLIA DE NAR- DIN BUDÓ 2013 SIPECOM MULHERES BRASILEIRAS E GÊNERO NOS ESPAÇOS PÚBLI- CO E PRIVADO: uMA DÉCADA DE MuDANÇAS NA OPINIÃO PÚBLICA VENTURI, GUSTAVO; GODINHO, TATAU 2013 ESPAÇO ACADÊMICO O DESAFIO DO ENCONTRO DA OPINIÃO PÚBLICA DEMO- CRÁTICA COM A SOBERANIA POPULAR ANA PAOLA AMO- RIM 2013 MEDIAÇÃO O PAPEL ESTRATÉGICO DA MíDIA NA FORMAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA GILVAN FERREIRA DE ARAÚJO 2013 COMPOLíTICA título do artigo autor ano de publicação Periódico / anais 76 Luiz-ALberto de FAriAs OPINIÃO PÚBLICA E CIDA- DANIA DANILO ROTHBERG / FABíOLA DE PAULA LIBERATO 2013 COMPOLíTICA REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE FUTUROS PROFESSORES A RESPEITO DA ENERGIA NU- CLEAR: POSSíVEIS IMPLICA- ÇÕES NA OPINIÃO PÚBLICA RAFAELLA MENE- ZES AYLLÓN, DÉBO- RAH I. T. FÁVARO, LUCIANA APARECI- DA FARIAS 2013 INTERNATIO- NAL NUCLEAR ATLANTIC CONFERENCE SOFISTICAÇÃO POLíTICA E OPINIÃO PÚBLICA NO BRASIL FREDERICO BATISTA PEREIRA 2013 OPINIÃO PÚBLICA TELENOVELA E OPINIÃO PÚBLICA: “SALVE JORGE” E A CONTRIBuIÇÃO PARA A ABORDAGEM DO TRÁFICO HUMANO NO BRASIL BÁRBARA RAQuEL ABREU FERNANDES LIMA2 2013 INTERCOM WALTER LIPPMANN E JOHN DEWEY: CRISE E uTOPIA DA OPINIÃO PÚBLICA NO PERíO- DO ENTRE-GUERRAS FRANCISCO RÜDI- GER 2014 12º. ENCONTRO NACIONAL DE PESQuISADO- RES EM JORNA- LISMO SANTA CRUZ DO SUL A IMPRENSA DO SEGUNDO REINADO NO PROCESSO PO- LíTICO CONSTITuCIONAL: FORÇA MORAL E OPINIÃO PÚBLICA LUíS FERNANDO LOPES PEREIRA / JuDÁ LEÃO LOBO* 2014 REVISTA DA FACULDADE DE DIREITO A INFLUÊNCIA DA MíDIA NA OPINIÃO PÚBLICA E NOS ERROS JUDICIAIS SONIELY MOURA VILHENA / FERNAN- DES MACHADO MENDES 2014 CADERNO DE CIÊNCIAS HU- MANAS E SO- CIAIS APLICADAS A INFLuÊNCIA DA OPINIÃO PÚBLICA NO DESENVOL- VIMENTO DO PROJETO DE CROWDFUNDING VERONICA MARS DANIEL REIS SILVA / LEANDRO AUGUSTO BORGES LIMA 2014 REVISTA EPTIC ONLINE A PESQuISA GOVERNAMEN- TAL DE OPINIÃO PÚBLICA: RAZÕES, LIMITES E A EXPE- RIÊNCIA RECENTE NO BRASIL WLADIMIR G. GRA- MACHO 2014 REVISTA DO SERVIÇO PÚ- BLICO BIBLIOTECA PÚBLICA – ESPA- ÇO DE FORMAÇÃO DA OPI- NIÃO PÚBLICA? MARIA GUIOMAR DA CUNHA FROTA 2014 PERSPECTIVAS EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO título do artigo autor ano de publicação Periódico / anais 77 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO CONTRA-AGENDAMENTO NA FOLHA DE SÃO PAuLO EMERSON URIZZI CERVI; LEONARDO M. BARRETA 2014 REVISTA EPTIC ONLINE CONTRADIÇÃO E OPINIÃO PÚBLICA HENRIQuE JOSÉ DA SILVA SOUZA 2014 REVISTA OPINIÃO FILOSÓFICA JORNALISMO OPINATIVO E ÉTICA BRUNA ALVES TEI- XEIRA / VINICIuS ARTHuR SANTOS/ ELZA APARECIDA OLIVEIRA FILHA 2014 INTERCOM MíDIA E OPINIÃO PÚBLICA: ESTUDO DE CASO SOBRE O MENSALÃO NAS ÓPTICAS DOS JORNAIS FOLHA DE S. PAULO E O ESTADO DE S. PAULO SUSSANE MARTINS 2014 UNIVERSITAS NET ATIVISMO: INTERFACES ENTRE A NOVA OPINIÃO PÚ- BLICA E AS MARCAS1 LIVIA LANCIA NO- RONHA BELLATO 2014 PMKT – REVIS- TA BRASILEIRA DE PESQuISAS DE MARKE- TING, OPINIÃO E MíDIA O PAPEL DAS REVISTAS VEJA E CARTA CAPITAL NA FOR- MAÇÃO DA OPINIÃO RAFAELA ALBU- QuERQuE GONÇAL- VES 2014 REVISTA ANAGRAMA O REACIONARISMO DA OPI- NIÃO PÚBLICA E SEu PAPEL DETERMINANTE NA LEGI- TIMAÇÃO IDEOLÓGICA DA VIOLÊNCIA POLICIAL RENATO NUNES BITTENCOURT 2014 DESAFIOS A OPINIÃO PÚBLICA ÀS VÉS- PERAS DO GOLPE DE 1964 DEMIAN BEZERRA DE MELO 2014 MARX E O MARXISMO OPINIÃO PÚBLICA, AuTONO- MIA (RELATIVA) E UM NOVO CONTEXTO DENIS RENÓ / AN- DRESSA KIKUTI DANCOSKY 2014 RAZÓN Y PALABRA OPINIÃO PÚBLICA E AS JOR- NADAS DE JuNHO: uM ES- TuDO SOBRE A REGuLAÇÃO DOS DISCURSOS MIDIÁTICOS NO BRASIL JANINE JUSTEN 2014 ARTEFACTUM OPINIÃO PÚBLICA E INTER- NET JuLIANA DEPINÉ ALVES GuIMARÃES 2014 COLÓQuIO SEMIÓTICA DAS MíDIAS título do artigo autor ano de publicação Periódico / anais 78 Luiz-ALberto de FAriAs OPINIÃO PÚBLICA E TRANSIÇÃO DEMOCRÁTICA JAQuELINE DA SILVA BORGES / FLÁVIA BOZZA MARTINS 2014 REVISTA DE DISCENTES DE CIÊNCIA POLíTICA DA UFSCAR OPINIÃO PÚBLICA: HISTÓRIA, CRíTICA E DESAFIOS SUSANA BORGES 2014 EXEDRA OPINIÃO PÚBLICA, MíDIA E MOVIMENTOS SOCIAIS PATRíCIA MILANO PÉRSIGO / ANELISE LORENZON MACHADO 2014 CADERNOS DE COMUNICA- ÇÃO REFLEXOS DA CRISE: REFORMA INSTITUCIONAL E OPINIÃO PÚBLICA NA uNIÃO EUROPEIA ANA PAULA TOSTES 2014 IX ENCONTRO DA ABCP VEJA E A FORMAÇÃO DE uMA OPINIÃO PÚBLICA FAVORÁ- VEL AO REGIME MILITAR ANTONIO CARLOS HOHLFELDT / RANIELLE LEAL 2014 INTERCOM VIOLÊNCIA: RELAÇÕES DE PODER, AÇÕES DE ESTADO E OPINIÃO PÚBLICA CASSIRA LOURDES DE ALCÂNTRA 2014 REBESP IDEOLOGIA, HEGEMONIA, OPINIÃO PÚBLICA MARILIA DE NARDIN 2015 REDES O LuGAR DA OPINIÃO MARIA DA PENHA SMARZARO SIQuEIRA 2015 CADERNOS METRÓPOLE O PAPEL DA UNIVERSIDADE NA FORMAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA E SUA CONFIGURA- ÇÃO NO ESPAÇO SOCIAL SANDRA NUNES LEITE / LAYS DE LIMA ALPINO 2015 INTERCOM OPINIÃO PÚBLICA E COMuNI- CAÇÃO POLíTICA EM #ELEI- ÇÕES2014 ARTHuR ITuASSu/ SERGIO LIFSCHITZ 2015 COMPÓS POLíTICAS PÚBLICAS DA EDuCAÇÃO SuPERIOR DO BRASIL KRYSTIN ENGEL / MARCOS JOSÉ ZABLONSKY 2015 INTERCOM RAíZES HISTÓRICAS DO CON- CEITO DE OPINIÃO PÚBLICA EM COMuNICAÇÃO FERNANDA VAS- QuES FERREIRA 2015 EM DEBATE título do artigo autor ano de publicação Periódico / anais 79 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO Entre essas publicações, observou-se uma forte tendência e preo- cupação com as delimitações epistemológicas do objeto “Opinião Pú- blica”. Como exemplo dessa preocupação temos o artigo “Origens do conceito de opinião pública: um diálogo com Hannah Arendt e Jürgen Habermas”, no qual Carla Reis Longhi faz um levantamento do de- senvolvimento do termo ao logo do tempo e, para tanto, a autora se ampara, sobretudo, em autores como Arendt e Habermas. Em seus pensamentos, Longhi demonstra a importância, para a delimitação da opinião pública, do diálogo entre o público e o privado. Habermas aparece em suas constatações, quando a autora demonstra que o entendimento de Estado Moderno, como conhecemos hoje, ape- nas foi possível por meio da admissão da noção de esfera pública e que o conceito de opinião pública se ampara e reside em um lugar de fronteira entre o não político e o não privado. Assim, o conceito de opinião pública, em sua origem, se carac- teriza como a conexão que alinhava a tessitura social. Ela está no espaço público literário, neste sentido, espaço não político, mas também não privado. Assim, ela se constituiu no intuito de possibilitar o ato comunicativo, interligando público e privado (LONGHI, 2013, p. 53). Arendt é necessária à reflexão de Longhi (2013), pois demonstra a permanente constituição do espaço público e privado e suas múl- tiplas interfaces. Partindo da concepção grega, Arendt formula esses dois conceitos em um espaço demarcado pela polis grega, na qual o pri- vado correspondia à família, ou seja, um espaço no qual há privação. Arendt separa o espaço público em dois momentos – o aparecer pela fala e o fazer, ou seja, ver e ser visto. Outro artigo que pode exemplificar essa preocupação da acade- mia com a epistemologia do conceito opinião pública é o artigo “Per- suasão, Manipulação e Opinião Pública: dos clássicos às críticas” do autor Camilo Catto (2008) que ressalta a volatilidade da conceituação do termo Opinião Pública e demonstra a importância de se resgatar a perspectiva histórica do conceito. Ele revela que o termo opinião pú- blica foi utilizado pela primeira vez por Rousseau, em 1750, porém desde Platão e Aristóteles a opinião (e neste caso sem o adjetivo pú- blica acompanhando) se constituiu como um conceito ora usado para 80 Luiz-ALberto de FAriAs diferenciar de conhecimento, conforme Platão, ora para uma dimensão mais política, segundo Aristóteles. Catto (2008) também demonstra que Aristóteles contextualizava toda uma forma deorganização social para finalmente chegar ao ter- mo opinião. O filósofo trabalhava com a diferença entre governantes e governados e afirmava que do governante se espera discernimento e dos governados sinceridade de opinião. Em uma perspectiva filo- sófica, além de Aristóteles, Catto (2008) também se utiliza de outros pensadores como Locke, Rousseau, Blumer e Hobbes para demonstrar como o conceito opinião pública evoluiu ao longo dos anos. Além de uma tendência de estudo voltada para o resgate das ori- gens e a reformulação do termo “Opinião Pública” ao longo da histó- ria da humanidade, observa-se também uma preocupação, em artigos, com o diálogo entre o objeto e as suas relações com a mídia e a política. um dos artigos que podem bem exemplificar essa questão é “A for- mação da opinião pública e as inter-relações com a mídia e o sistema político” da autora Lidiane Pimenta. No artigo, a autora demonstra que mídia e sistema político são alguns dos fatores que influenciam na formação da opinião pública, pois, se por um lado os atores midiáticos facilitam o acesso à vida política, por outro, é do interesse dos atores políticos o que as pessoas pensem sobre suas ações e propostas. Como a esfera civil é composta por eleitores que podem reconfi- gurar sua opinião diariamente sobre a esfera política, esta tam- bém busca informações sobre a esfera civil. A mídia e a pesquisa de opinião as abastecem (PIMENTA, 2007, p. 6). Entretanto, a autora ainda demonstra que, incapaz de retratar toda a complexidade da realidade, a mídia submete os acontecimentos a alguns filtros e, assim, escolhe o que noticiar e como noticiar, contro- lando assim o que é discutido na esfera pública. Diante dessas considerações, é possível afirmar que a forma- ção da opinião de cada indivíduo, que culminará na formação da opinião pública e posição da esfera pública política, acontece num momento de fusão de informações. Cada indivíduo, de pos- se de seu repertório e subjetividade, toma conhecimento de um fato por meio da mídia e irá discuti-lo com sua família, onde (sic) cada membro também de posse de seu repertório e subjetivida- 81 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO de, recebe informações da mídia e discute o assunto com outras pessoas (PIMENTA, 2007, p. 7). Aqui, de algum modo, insere-se o conceito de agendamento (agenda setting), em que os veículos teriam poder para gerar atenção ou negligência sobre os fatos/acontecimentos e, desse modo, impactar em sua repercussão (WOLF, 2003, p. 143). Assim como Longhi (2013) e Pimenta (2007) se amparam em Habermas, Catto (2008) também recorre aos pensamentos de Dryzek (2004) sobre esfera pública, a qual seria composta por uma “constela- ção de discursos” formada pelas manifestações mais particulares das opiniões. O autor conclui que a mídia configura uma importante ferra- menta de influência dos cidadãos no sistema político e dada influência ocorre por meio da opinião pública. Outro exemplo dessa tendência de se estudar a opinião pública sob a perspectiva das mídias é o artigo “O papel da mídia na forma- ção da opinião pública: a contribuição de Bourdieu”, de Carla Luciane Blum Vestena, em que a autora reflete sobre a mídia e sua influência na formação da opinião pública, com base na teoria de Bourdieu. A autora também se ampara nos pensamentos de Bobbio para delimitar que a opinião pública pode ter como objeto qualquer coisa e nasce do debate público, e então resgata Sartori para delimitar que as opiniões públicas são inatas. Por fim, em suas considerações críticas, embora, Vestena (2008) demonstre que, nos dias de hoje, a mídia tradicional tenha perdido a centralidade da formação da opinião pública, devido à ascensão de outros tipos de mídia alternativas, por se apegar aos pensamentos de Bourdieu, ela demonstra que a televisão ainda possui uma importân- cia no meio social, como fonte de informação. Além de formular um importante meio de comunicação, a televisão consiste também um re- gistro da criação da realidade. Vale um destaque para o fato de a TV ainda possuir um forte aparato de pesquisa e consolidação de notícias, servindo de aparato, muitas vezes, para outros veículos – e, claro, ali- mentando-se desses outros, também. Ainda dentro das tendências de estudos sobre opinião pública e mídias, vemos também um grande entusiasmo de pesquisadores em 82 Luiz-ALberto de FAriAs estudar o objeto presente no contexto das redes. O artigo “Opinião pública na cultura da convergência”, de Pozobom (2010), exemplifica essa questão e elucida como a cultura da convergência e o protagonis- mo dos usuários no processo de produção e difusão de informações tem transformado as produções midiáticas e, por conseguinte, tem impactado a opinião pública. O artigo, segundo a autora, justifica-se, porque há uma reconfiguração da vida cotidiana causada pelo avanço e ampliação de possibilidades de comunicação nos ambientes digitais. De acordo com Pozobom (2010), a cultura da convergência repre- senta uma transformação cultural a partir do momento em que os con- sumidores são incentivados a procurar informações e a fazer conexões em meio a diversos conteúdos. Nesse cenário, Pozobon demonstra que essas revoluções causaram transformações, sobretudo no fazer jorna- lístico que hoje se vê inserido em uma cultura colaborativa demarcada pelas redes digitais que possibilitam uma maior interação entre usuá- rios e a colaboração de massa fundamentada na “inteligência coletiva”. Esse aspecto, o colaboracionismo, e a ideia de interação já foram dis- cutidos neste trabalho, mas vale a ressalva ao fato de haver controles também sobre esses dois elementos por parte dos gestores midiáticos. A autora, por fim, considera que é possível observar uma nova lógica de comunicação, na qual todos somos construtores da notícia. Ela fecha seus pensamentos com as constatações de Lemos e Lévy (2010), que afirmam que o cenário de transformação contemporânea é sustentado por três grandes pilares: 1) a crescente relação de depen- dência entre mídias e comunidades; 2) a convergência entre os supor- tes midiáticos e; 3) o princípio da conexão generalizada, aliando mobi- lidade e eficácia informativa. Rompemos aqui com a ideia de um público que não pode produ- zir informação e conteúdo, entendido, na melhor das hipóteses, como um consumidor consciente. O ambiente digital permite a imensa ampliação dos processos de produção, difusão e distri- buição de conteúdos. Assim, a publicização de uma determinada questão no espaço da visibilidade mediada permite sua dissemi- nação a um público múltiplo e heterogêneo, viabilizando a capa- cidade de uma interpretação crítica e diversificada da audiência (POZOBON, 2010, p. 13). 83 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO Mesmo que a citação anterior possa ter um olhar que dá a ideia de possibilidade de interpretação crítica somente por conta da disse- minação ampliada de informações, tem diversos aspectos importantes, pois de fato há uma possibilidade de trânsito informativo diferenciado com as redes sociais abrigando-se em plataformas de maior alcance e rapidez, mesmo que isso também gere riscos como o blind endorsement, as fake news etc. Além das tendências de estudo da opinião pública localizada no campo da epistemologia e da concepção do termo em diálogo com o contexto das mídias, também pode-se observar nos artigos analisados, um desejo de constituição do objeto como constructo próprio do cam- po da comunicação organizacional. Um exemplo que pode bem eluci- dar essa questão é o artigo “A Comunicação Organizacional e a Forma- ção da Opinião Pública” de Cassiana Maris Lima Cruz que demonstra que a relevância da comunicação organizacional está na compreensão e na capacidade de articulação desses processos, posicionando as orga- nizações como agentes sociais e que podem interferir e ser interferidos pela opinião pública. A autora demonstra, por meio dos pensamentos de Tocqueville,que a opinião, na visão desse autor, é representada por uma associação que reúne o conflito e a discussão e juntos eles geram o objetivo único. Nesse sentido, a imprensa seria o grande representante dessas associa- ções ou opiniões: A imprensa e as associações são necessárias à democracia, pois os jornais multiplicam o pensamento de muitos e tornam-se mais necessários quando os homens tornam-se mais iguais e onde o individualismo precisa ser combatido. A associação para ter po- der, na democracia, precisa ser numerosa (CRuZ, 2007, p. 3). Ainda fazendo o uso dos pensamentos de Tocqueville, Cruz (2007) demonstra que a opinião, na visão desse autor, é representada por uma associação que reúne o conflito e a discussão e juntos eles geram o objetivo único. Nesse sentido, a imprensa seria o grande re- presentante dessas associações ou opiniões: A imprensa e as associações são necessárias à democracia, pois os jornais multiplicam o pensamento de muitos e tornam-se mais necessários quando os homens tornam-se mais iguais e onde o individualismo precisa ser combatido. A associação para ter po- der, na democracia, precisa ser numerosa (CRuZ, 2007, p. 3). 84 Luiz-ALberto de FAriAs Por fim, a autora elabora uma crítica a respeito do uso indiscri- minado do termo opinião pública, que cientificamente está relaciona- do a um contexto social e político e a torna dinâmica. Nesse sentido, as organizações funcionam como microrganismos sociais que formulam esferas públicas internas e que permitem a reconstrução da opinião pú- blica. Logo, a comunicação organizacional se configura como aspecto extremamente relevante na articulação e mediação da opinião pública. Ademais, vale destacar que, além da temática e das perspecti- vas abordadas nos artigos, analisou-se também a contribuição cientí- fica dos periódicos brasileiros para a contribuição da pesquisa sobre o tema opinião pública no Brasil. O levantamento foi feito a partir da análise da publicação original dos 160 artigos analisados. Com isso, destaque-se que o periódico que, nesses últimos 15 anos, mais tem contribuído com a pesquisa sobre opinião pública é a revista “Opinião Pública” (Qualis A1 – Ciência Política), publicada pelo Centro de Estudos de Opinião Pública da Universidade Estadual de Campinas (CESOP) desde 1993. Entre os artigos levantados, 11% correspondem a esse periódico, conforme pode ser observado no grá- fico a seguir: Gráfico 1 – Participação dos periódicos e congressos na produção científica de pesqui- sa sobre opinião pública Fonte: elaborado pelo autor. 85 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO Depois do periódico “Opinião Pública”, os anais da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) são os periódicos que mais concentram produção científica sobre “opi- nião pública”, com 9% de contribuição. Ainda como metodologia de análise, todos os periódicos analisados que continham apenas um ou dois artigos publicados nos últimos quinze anos foram admitidos na categoria “outros”, que constituem 66% da contribuição de produção científica sobre o tema. O último dado revela uma situação preocupante, uma vez que a produção científica sobre o objeto, mesmo sendo um tema antigo e im- portante para a constituição da sociedade e da humanidade, ainda não constituiu um campo científico forte no Brasil, a ponto de condensar sua produção científica em poucos periódicos que dialoguem entre si. Nesse sentido, observa-se que há massa crítica sobre o tema, no entan- to, ela é pulverizada e não adensada, algo que pode prejudicar a sua consolidação dentro do campo científico. 3.2. disseRtações sobRe opiNião pública Além do levantamento dos artigos publicados nos últimos quin- ze anos, foi também elaborado um estudo das dissertações publicadas em âmbito nacional que possuíssem como tema central a opinião pú- blica. Como resultado, foram obtidas 16 publicações sobre o tema que trafegam entre áreas como educação, comunicação e até engenharia. Tabela 3 – Dissertações que possuem como tema central a opinião pública (publicadas entre 2000 e 2015) título autor ano Universidade OPINIÃO VERDADEIRA E OPINIÃO PÚBLICA ROMUALDO VICENTIN 2003 UNIVERSIDADE DE SÃO PAuLO O COMPROMISSO PEDAGÓ- GICO COM A FORMAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA ELAINE CONTE 2005 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SAN- TA MARIA O CDES NA MíDIA LAERSON BRUXEL 2005 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL 86 Luiz-ALberto de FAriAs TERRORISMO E LIBERDA- DE DE IMPRENSA: ESTuDO COMPARADO DO EFEITO DO ATO TERRORISTA EM UMA AMOSTRA SEGMENTADA DO CLIMA DE OPINIÃO PÚBLICA GAÚCHO E NORTE-AMERI- CANO ANELISE ZANONI CARDOSO 2006 PONTIFíCIA UNI- VERSIDADE CA- TÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL O SETOR ELÉTRICO BRASILEI- RO E A MíDIA IMPRESSA CRISTIANE PERES BER- GAMINI MARQuES 2006 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS CHARGES: DO DISCuRSO “POLíTICO” ELEITORAL AO DISCURSO POLíTICO DA OPINIÃO PÚBLICA ROSILENE ALVES DA SILVA 2008 UNIVERSIDADE FE- DERAL DE MINAS GERAIS A INFLUÊNCIA DA MíDIA NA OPINIÃO PÚBLICA E SOBRE A INFLUÊNCIA DESTA NA MíDIA WESLEY CALLEGARI CARDIA 2008 PONTIFíCIA UNI- VERSIDADE CATÓ- LICA OPINIÃO PÚBLICA E CON- TRA-AGENDAMENTO ISABELLA D´AVILLA 2009 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL LAS BAYONETAS INTELIGEN- TES: IMPRENSA E OPINIÃO PÚ- BLICA NOS ESCRITOS DE DOMINGO FAUSTINO SAR- MIENTO ANA CRISTINA FIGUEI- REDO DE FRIAS 2011 PONTIFíCIA UNI- VERSIDADE CATÓ- LICA DO RIO DE JANEIRO OPINIÃO PÚBLICA E PuNI- ÇÃO: DÉBORA DE SOuZA DE ALMEIDA 2011 PONTIFíCIA UNI- VERSIDADE CA- TÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL DECIFRANDO A VOLATILI- DADE DA OPINIÃO PÚBLICA ROBERTO SANTOS 2012 UNIVERSIDADE FEDERAL DE PER- NAMBUCO OPINIÃO PÚBLICA E INTE- GRAÇÃO ECONÔMICA MATEUS RODRIGUES 2012 UNIVERSIDADE DE SÃO PAuLO IRAQuE EM CENA MARIA CLARA 2013 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMI- NENSE OPINIÃO PÚBLICA E LIN- GUAGEM POLíTICA NO A MATUTINA MEIAPONTENSE (1830-1834) THALLES MURILO VAZ COSTA 2013 UNIVERSIDADE FE- DERAL DE GOIÁS título autor ano Universidade 87 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO A REPÚBLICA IMPRESSA: CULTURA DA IMPRENSA, OPINIÃO PÚBLICA E LIN- GUAGENS POLíTICAS MAY XUE 2013 UNICAMP DEMOCRACIA E INTERNET HELIO CEZAR 2013 FACULDADE DE DIREITO LARGO DE SÃO FRANCISCO Nesse sentido, observou-se uma preocupação da área da educa- ção com o tema. Uma das dissertações analisadas que podem exempli- ficar esse dado é a “O Compromisso Pedagógico com a Formação da Opinião Pública Crítica”, de Elaine Conte (2005), que tem como obje- tivo principal compreender o sentido do conceito de opinião pública na educação e averiguar de que modo a proposta de esfera pública de Habermas pode contribuir na produção da democracia educacional. Para tanto, a autora baseia seu estudo nos pensamentos de Gada- mer e Habermas. A metodologia utilizada pela autora compreende o campo da hermenêutica filosófica de Habermas e sua escolha justifica- -se pela possibilidade de uma reconstrução a partir das opções teóricas que permitem novas interpretações e juízos analíticos sobre o conceito de opinião pública para a interpretação das racionalidades educativas. A dissertação elaborada por Conte (2005) se propõe a aprofun- dar a relação entre a formação da opinião pública e o desenvolvimento docente e, com isso, a autora utiliza os pensamentos de Adorno para elucidar a relação existente entre poder e a indústria cultural, uma ex- plícita manifestação da razão instrumental em que o consumo direcio- na toda a realidade, inclusive os meios de comunicação de massa que influenciam os processos educacionais, submetendo a docência às leis mercadológicas. Além de se observar uma tendência de preocupação da área da educação sobre o tema, também se analisou uma inquietação da his- tória e da ciência política acerca do tema. A dissertação “O CDES na mídia: gênese de uma esfera pública política na disputa pela opinião pública”, de Laerson Bruxel, publicada em 2005, demonstraessa ques- tão, uma vez que analisa as manifestações do Conselho de Desenvol- vimento Econômico e Social (CDES), instituído pelo Governo Lula e título autor ano Universidade 88 Luiz-ALberto de FAriAs formado por diversos representantes da sociedade, na cena midiática a partir de uma coletânea de cinco dos principais veículos de comu- nicação impressos do Brasil. O estudo tem como objetivo avaliar se a forma como os temas da agenda política que são lançados para a esfera pública podem privilegiar determinados segmentos na disputa pela formação da opinião pública, e se utiliza de referências como Jürgen Habermas e Wilson Gomes. Assim, de acordo com Bruxel, os meios de comunicação são es- senciais para a legitimação do poder político que se dota, muitas vezes, de certa espetacularização. A razão pela qual esse processo ocorre re- side no fato de que “na sociedade contemporânea, a esfera de visibi- lidade pública dominante é a cena midiática” (BRuXEL, 2005, p. 25). O autor também considera as três variáveis essenciais para o en- tendimento do que seria a opinião pública – 1) publicidade de uma opinião; 2) um repertório comum de posições; 3) sinônimo de popu- lação – e remonta às origens da expressão que, segundo ele, data do final do século XVIII e estaria relacionada à ascensão das democracias modernas, o que consolidou o imaginário de que os governantes devam legitimar suas ações por meio da opinião pública. Por fim, a partir da importância da mídia nas sociedades moder- nas, o autor demonstra o poder exercido pelos meios de comunicação de massa que intervêm no curso dos acontecimentos e organiza uma série de produtos simbólicos, carregados de sentidos. Daí a importân- cia da mídia para o jogo político que apenas alcançará a opinião públi- ca, pela intermediação da mídia. Além da dissertação de Bruxel (2005), a publicação “Charges: do discurso ‘político’ eleitoral ao discurso político da opinião pública”, de Rosilene Alves da Silva, também reafirma essa preocupação das áreas que circundam a política e a história com relação ao tema opinião pú- blica. Nesse sentido, a dissertação de Silva (2005) tem como objeto de pesquisa o discurso político, traçando a patente degenerescência do discurso político eleitoral e a politização do discurso da opinião públi- ca, o qual se configura através do filtro da carnavalização do discurso político eleitoral. O corpus é composto por seis charges publicadas no jornal Folha de S. Paulo durante o período eleitoral de 2006, as quais se constituem em uma grande narrativa das eleições presidenciais. 89 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO A dissertação “Terrorismo e liberdade de imprensa: estudo com- parado do efeito do ato terrorista em uma amostra segmentada do cli- ma de opinião pública gaúcho e norte-americano”, de Anelise Zanoni Cardoso, assim como a publicação de Silva (2005), também elucida a questão da política como um agente parceiro da opinião pública, uma vez que tem como objetivo conhecer a opinião de cidadãos do Rio Grande do Sul diante de situações de ameaça. A partir daí, compara dados obtidos em pesquisas nos Estados Unidos e descreve o trabalho da imprensa sob um ponto de vista histórico. Nesse contexto, a problemática a ser investigada parte de uma pesquisa realizada pelo Instituto Gallup, nos Estados Unidos, no pe- ríodo pós-atentado de 11 de setembro de 2001, que constatou que 78% dos cidadãos afirmam que é importante se abster da liberdade para garantir a segurança nacional. Para tanto, fora elaborada uma pesquisa de abordagem empírica e regional com 222 leitores de Porto Alegre e Região Metropolitana. A hipótese trabalhada foi a de que quem vive longe do terroris- mo se opõe às restrições do direito à imprensa livre e os dados coleta- dos foram quantificados por meio de técnicas estatísticas. Cardoso ini- cia o primeiro capítulo “Liberdade de imprensa e opinião pública: uma construção democrática” demonstrando os primeiros sinais históricos da censura que datam do século XVIII, quando, na França, aparecem os primeiros livros manuscritos. Nesse sentido, a autora delimita que a censura ou controle da in- formação é uma forte estratégia de guerra que atende a certos interes- ses ideológicos, bem como, a legitima. A autora utiliza exemplos como Primeira Guerra Mundial, Guerra Fria, Guerra do Golfo e Guerra do Iraque para corroborar suas constatações. Por fim, Cardoso (2008) de- monstra a presença do uso da espetacularização de ações terroristas, seja pelo poder formal, seja pelo poder midiático. Assim, “com o poder de disseminar o medo e a pressão psicológica em nome de um objetivo (político ou ideológico), o terrorismo se alimenta do poder da mídia para atingir diretamente a opinião pública e, por seu intermédio, legi- timar suas ações” (CARDOSO, 2006, p. 82). 90 Luiz-ALberto de FAriAs Vale destacar que o terror pode, também, ser utilizado como es- tratégia de dominação mesmo por representantes aparentemente de- mocráticos, em nome da adesão que leve ao controle. Por fim, observa-se ainda um reconhecimento da academia da convergência da opinião pública e das áreas e subáreas relacionadas à comunicação. A dissertação “A influência da mídia na opinião pública e sobre a influência desta na mídia”, de Wesley Callegari Cardia, de- monstra essa questão, uma vez que utiliza uma análise de conteúdo das revistas Época e Veja a fim de identificar se há ou não influência das teorias de agenda setting e framing sobre as publicações. O corpus definido baseia-se em exemplares das revistas Veja e Época, de março de 2006 a setembro de 2007, com todas as pesquisas de opinião pública realizadas nesse período, pelo Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião e Estatística), sobre o governo do então presidente da República Luís Inácio Lula da Silva. Após evidenciar sua problemática, as metodologias utilizadas e os respectivos objetivos, no segundo capítulo, Cardia elabora uma revisão de conceitos que permearão sua análise de corpus. O primeiro conceito abordado pelo autor faz menção à cultura, e se baseia em re- ferências como John B. Thompson. O segundo conceito revisado pelo autor é o de Opinião Pública. Em seus pensamentos acerca da Opinião Pública, Cardia de- monstra a necessidade da mídia para a atual sociedade do espetáculo. Não importa ter um carro, mas sim como esse carro é visto, e como você é visto com o carro. A sociedade perde seu valor. O homem perde seu valor. Ganha importância a expressão social, a aparência desse homem. Nesse contexto, a mídia adquire um papel ainda mais relevante (embora muito criticada); sua função não é outra senão servir de meio para a proliferação de imagens espetaculares. E numa sociedade onde (sic) a imagem e a repre- sentação são carregadas de significados, a opinião pública adqui- re uma importância ainda maior (CARDIA, 2008, p. 38). O autor também utiliza os pensamentos de Lippman (2004) a fim de demonstrar que a opinião pública reflete as informações fornecidas pelos veículos de massa e, nesse contexto, o acesso à informação é es- sencial. Em seguida, Cardia aborda a hipótese do efeito agenda setting, 91 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO de Maxwell McCombs e Donald Shaw, na qual a mídia tenta organizar a realidade e ditar o que deve ser pensado sobre determinados assun- tos. O autor ainda acrescenta a discussão de que dada teoria não dá conta de explicar se o grau de informação da audiência influenciaria na formulação de uma opinião pública crítica. O agendamento das publicações é exercido (quando se trata de matérias sobre o presidente Lula, seus ministros e seu governo), em todas as seções das revistas. O agendamento poderia ser exclusivo das matérias sobre política, ou seja, das editorias políticas. Neste caso, as “Seções de Cartas” poderiam trazer resultados diversos daqueles en- contrados nas matérias políticas (CARDIA, 2008, p. 391). Segundo Cardia (2008), outra importanteconclusão é a de que a teoria do Gatekeeping também colabora com o processo de agendamen- to. “Mesmo sendo a teoria do gatekeeping uma teoria menor, se compa- rada com a agenda setting e com o framing, neste processo de análise, ela toma um corpo maior, por ser um meio de comprovação do escopo do trabalho” (CARDIA, 2008, p. 392). Nesse sentido, vale destacar que, de acordo com o levantamento elaborado, as áreas que mais se preocupam com as questões relaciona- das à opinião pública são a de comunicação e a de história. No entanto, ainda se observa uma pulverização do tema entre outras áreas do co- nhecimento, assim como filosofia, relações internacionais, entre outros. Gráfico 2 – Áreas das dissertações produzidas entre os anos 2000 e 2015 Fonte: elaborado pelo autor. 92 Luiz-ALberto de FAriAs 3.3. teses sobRe opiNião pública Ademais, também foram analisadas teses de doutorado produzi- das em âmbito nacional que tenham sido publicadas entre os anos 2000 e 2015. Como resultado, foram coletadas seis teses que contam como tema central a opinião pública. Tabela 4 – Teses que possuem como tema central a opinião pública (publicadas entre 2000 e 2015) título autor ano Universidade A ABDICAÇÃO DE D. PE- DRO I FERNANDA CLAUDIA 2007 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA IDEIAS, DEBATES, MíDIA E OPINIÃO PÚBLICA MONICA ESTER 2008 uNIVERSIDADE DE SÃO PAULO REPRESENTAÇÕES DA OPINIÃO PÚBLICA EM EDITORIAIS SOBRE A ELEIÇÃO PRESIDENCIAL DE 2006 MARIA APARE- CIDA SILVA FUR- TADO 2010 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS O IBOPE, A OPINIÃO PÚ- BLICA E O SENSO COMUM SILVIA ROSANA MODENA MAR- TINI 2011 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS IMPRENSA E OPINIÃO PÚBLICA NO BRASIL IM- PÉRIO LUCIANO DA SILVA MOREIRA 2011 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS O ATO DA SOCIEDADE PAULISTA CARLA DE ARAUJO 2012 ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAuLO Assim como em dissertações, vemos uma tendência de preocu- pação do campo da história com o tema. Uma das teses que podem melhor exemplificar essa questão é “A abdicação de D. Pedro I: espaço público da política e opinião pública no final do primeiro reinado”, de Fernanda Cláudia Pandolfi. Na tese a autora remonta à abdicação de D. Pedro I (em favor de seu filho, que se tornaria D. Pedro II), em 7 de abril de 1831, por meio de uma análise de periódicos de 1931, sob o enfoque da ampliação do espaço público no Brasil a partir da ascensão dos ideais liberais. 93 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO Dada ampliação na esfera pública brasileira é, sobretudo, fomen- tada pela liberdade de imprensa que inicia uma época de fertilização para o aparecimento de inúmeros periódicos na cidade do Rio de Ja- neiro, editados pela elite política. Nesse contexto, a opinião pública configura-se como um forte motivador para a abdicação de D. Pedro I. Ainda, em sua conclusão, Pandolfi demonstra que a luta política do período que antecede à abdicação de D. Pedro I fora demarcada, pri- mordialmente, por recursos jornalísticos, como boatos, intrigas e cons- pirações, com fim de convencer os leitores. Outra tese que pode exemplificar essa questão é “Imprensa e Opinião Pública no Brasil Império: Minas Gerais e São Paulo (1826- 1842)”, na qual Luciano da Silva Moreira trata do processo de politi- zação da imprensa brasileira, entre 1826 e 1842, que contribuiu para a construção das bases da sociedade e do Estado Imperial Brasileiro. A hipótese defendida por Luciano é a de que a imprensa fora um grande facilitador da formação de elites regionais entre São Paulo e Minas Ge- rais, bem como, uma poderosa estratégia no processo de constituição do Estado Imperial. De acordo com os levantamentos de Moreira (2011), a opinião pública fora um tema demasiadamente discutido entre os anos finais do Primeiro Reinado e na primeira metade do período regencial. As- sim, a conclusão à qual o autor chega é que o aparecimento da impren- sa fora um marco na criação de condições históricas que determinaram as relações entre elites e as estratégias políticas na constituição do Es- tado Imperial. Assim como nas dissertações, vemos uma preocupação da área da Ciência Política sobre o tema, campo no qual encontramos a tese “Ideias, debates, mídia e opinião pública: uma análise das dinâmicas de interação entre atores estatais e não-estatais nas disputas acerca das patentes farmacêuticas”, de Monica Ester Struwe Razuk. A tese tem como objetivo aprofundar o entendimento das dinâmicas de interação entre atores estatais e não estatais nos processos de criação, continui- dade e mudança de regimes internacionais. Para tanto, além de uma revisão bibliográfica, a autora adota como metodologia um estudo de caso demarcado a partir da criação 94 Luiz-ALberto de FAriAs do novo regime internacional de proteção dos direitos de patentes, instituído em 1994, quando da adoção do Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (TRIPS) pelos países membros do General Agreement on Tariffs and Trade (GATT). O argumento central defendido pela autora refere-se ao pa- pel da mídia na constituição de um importante elemento de ligação nos processos por meio dos quais atores não estatais com capacidade material reduzida exercem influência sobre atores estatais nas decisões acerca da política externa – tanto no âmbito bilateral como multilateral. Ademais, observou-se também, durante a compilação, uma preo- cupação da Letras com o tema opinião pública. Nesse campo, foi possí- vel encontrar a tese “Representações da opinião pública em editoriais sobre a eleição presidencial de 2006”, de Maria Aparecida Silva Furta- do. No estudo, a autora tem como objetivo analisar as representações da opinião pública em editoriais de jornais impressos de referência no Brasil: a Folha de S. Paulo e o Estado de Minas, bem como, compreender a natureza da opinião que caracteriza o texto editorialístico dentro do contrato de comunicação midiático e, com isso, ampliar os estudos da Análise do Discurso num diálogo com o campo do Jornalismo. Por fim, a área da Comunicação é outro campo que também tem se mantido atento ao tema. A tese “O ato da sociedade paulista: opi- nião pública e censura ao teatro de 1957 a 1968 – manifestações popu- lares presentes nos processos do Arquivo Miroel Silveira da Biblioteca da ECA/uSP”, publicada por Carla de Araujo Risso, e que ilustra essa questão. No estudo a autora tem como objeto de pesquisa os processos de censura ao teatro profissional presentes no Arquivo Miroel Silveira, bem como, sobre as páginas dos principais veículos de mídia impressa da cidade de São Paulo. A amostra recolhida diz respeito aos abaixo- -assinados, telegramas, cartas e manifestos populares em processos de censura de três peças de teatro: “Perdoa-me por me traíres”, de Nelson Rodrigues (1957); “A Semente”, de Gianfrancesco Guarnieri (1961); e “Roda Viva”, de Chico Buarque (1968). Na tese, a autora também in- vestiga “A Promessa”, de Bernardo Santareno (1957), uma peça por- tuguesa que corresponde ao objetivo de compreender e caracterizar a cultura, a moral e os valores da época para além das barreiras espa- ciais, fixando-se no território da estrutura simbólica da língua. 95 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO Com isso, observa-se que na distribuição de contribuição por áreas, o campo do conhecimento que mais tem se debruçado sobre os estudos acerca da opinião pública é a história, com 33% de contribui- ção. Comunicação (Jornalismo), Ciência Política, Sociologia e Letras aparecem com 17% de contribuição. Gráfico 3 – Áreas de produção de teses produzidas entre os anos de 2000 e 2015 3.4. livRos sobRe opiNião pública Note-se que neste levantamento não haverá a plena cobertura do que se produziu em relação à opinião pública, mas apenas as obras que poderiam ser detectadas por apresentarem indícios ancorados em palavras-chave. Para o estudo, também foram consideradosos livros publicados no Brasil entre os anos 2000 e 2015. Com isso, foram consideradas 11 publicações sobre o tema nesse espaço temporal. Entre as publicações encontra-se a obra “Deslumbramento coletivo”, de Simone Antoniaci Tuzzo, que, a partir de uma revisão dos principais autores que abor- dam o tema opinião pública, disserta sobre temas como a formação da opinião pública, meios de comunicação de massa e o papel da univer- sidade na formação da opinião pública. 96 Luiz-ALberto de FAriAs Tabela 5 – Livros que possuem como tema central a opinião pública (publicados entre 2000 e 2015) título autor ano publicação editora DESLUMBRAMENTO COLETIVO OPINIÃO PÚBLICA, MíDIA E UNIVERSIDADE SIMONE ANTONIACI TUZZO 2005 ANNA- BLUME CRISES EMPRESARIAIS COM A OPINIÃO PÚBLICA S J DE ALMEIDA JUNIOR 2005 S/ED. ESCRITOS E ENSAIOS: ESTADO, PROCESSO, OPINIÃO PÚBLICA NORBERT ELIAS; FEDERICO NEI- BURG; LEOPOLDO WAIZBORT; SÉRGIO BENEVI- DES; ANTÔNIO CARLOS DOS SANTOS 2006 JORGE ZAHAR OPINIÃO PÚBLICA & MARKETING POLíTICO CÉLIA MARIA RETZ GODOY DOS SANTOS 2007 FAAC- -UNESP OPINIÃO PÚBLICA WALTER LIPPMANN 2008 VOZES A TEORIA DA AGENDA: A MíDIA E A OPINIÃO PÚBLICA MCCOMBS, MAXWELL 2009 VOZES O MOVIMENTO LÓGICO DA OPI- NIÃO PÚBLICA A TEORIA HEGELIANA AGEMIR BAVARESCO; PAULO ROBERTO KONZEN 2011 LOYOLA INTELECTUAIS E HISTÓRIA DA EDuCAÇÃO NO BRASIL: PODER, CULTURA E POLíTICAS ALVES, CLAUDIA; LEITE, JUÇARA LUZIA 2011 EUFES SONDAGENS, ELEIÇÕES E OPINIÃO PÚBLICA PEDRO MAGALHÃES 2011 S/ED. OPINIÃO PÚBLICA... FALEI E DISSE JOSÉ DE ALENCAR NOBRE DE ALMEIDA 2012 S/ED. OPINIÃO PÚBLICA: EMPOWERMENT E INTERFACES CÉLIA MARIA RETZ GODOY DOS SANTOS 2012 QuEIROZ EDITOR Nesta pesquisa, também foi coletada a obra “Crises empresariais com a opinião pública”, de Roberto de Castro Neves. Na publicação o autor resgata grandes casos de crises vividas por empresas tradicio- nais como Mitsubishi, Schering e AT&T, e evidencia a necessidade de se realizar investimentos em comunicação com a finalidade de evitá- 97 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO -las. Ainda, o autor revisa a teoria da agenda para demonstrar o ambí- guo papel assumido pela mídia ao delimitar os assuntos que povoarão a pauta pública. Vale destacar que não se trata de obra científica, com embasamento em pesquisas ou reflexão teórica, mas se origina de vi- vência profissional do autor. Ademais, vale destacar que, nesse espaço de tempo, também fora publicada a obra “O movimento lógico da opinião pública a teo- ria hegeliana”, de Agemir Bavaresco, a qual, a partir de perspectivas filosóficas e políticas, se propõe a aprofundar o tema opinião pública. Além do tema, o autor traz para a pauta temas como contradição e liberdade e demonstra que a opinião pública, em sua visão, se efetiva no espírito político. Já em 2008, o Brasil recebe uma grande contribuição da Editora Vozes, por meio da tradução da obra “Opinião Pública”, de Walter Lipp- mann, de 1922, que desenvolve seu pensamento acerca da opinião pú- blica sob a perspectiva da sociedade de massa e sua impossibilidade de conhecer a totalidade da realidade. Nessa obra, o autor faz levantamen- to de conceitos extremamente importantes para o estudo do tema como os estereótipos, interesses e marcos sociais. Trata-se de obra referencial. Por fim, em 2012, fora organizado o e-book “Opinião pública, em- powerment e interfaces” por Célia Maria Retz Godoy dos Santos, no qual a autora procura avaliar o cenário atual dos estudos sobre opinião pública no Brasil. Ela ainda promove o diálogo do tema com outras áreas do conhecimento, além da comunicação, e também demonstra a opinião pública como agente “empoderador” de cidadãos a partir do desenvolvimento de inserção nos processos políticos. 3.5. estado da aRte Com a finalidade de se levantar o estado da produção científica de publicações sobre o tema opinião pública, foi efetuado um levanta- mento da produção de teses, dissertações, artigos científicos e livros publicados entre os anos 2000 e 2015. Nesse sentido, foram levantadas 177 publicações entre esses anos. 98 Luiz-ALberto de FAriAs Com isso, verifica-se que a maior parcela da produção científica relacionada ao campo da opinião pública vem de artigos publicados em periódicos, com 82% de participação. Em seguida, estão as disser- tações, com 9%, e em terceira e quarta posições, com 6% e 3%, respec- tivamente, os livros e as teses. Gráfico 4 – Participação de publicações relacionadas ao tema Opinião Pública no Brasil entre os anos de 2000 e 2015 Fonte: elaborado pelo autor. Assim, ao se realizar o levantamento dos temas relacionados ao estudo da opinião pública em periódicos, teses, dissertações e livros, aferiu-se que o tema é inscrito em onze grandes áreas. São elas: 1. Sustentabilidade; 2. Estudos Climáticos e Opinião Pública; 3. Estudos Sociológicos e Filosóficos sobre a Opinião Pública; 4. Comunicação Organizacional e Opinião Pública; 5. Pesquisa e Métodos de Coleta da Opinião Pública; 6. Educação e Formação da Opinião Pública; 7. História Geral do Brasil e Mundial; 8. Internet e Novas Interfaces da Comunicação; 99 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO 9. Epistemologia da Opinião Pública e Estudos sobre sua For- mação; 10. Estudos das Mídias Tradicionais e seus Impactos sobre a Opinião Pública; 11. Ciências Políticas e Opinião Pública. Pode-se ainda verificar a ocorrência de pesquisas que versam sobre o tema opinião pública oriundas de outras áreas (ainda que de maneira esporádica) como engenharia e direito. A respeito da representatividade das áreas, verifica-se que o tema que aparece em primeiro lugar com maior recorrência são as “Ciências Políticas e Opinião Pública”, com 31% de participação. Em segundo lugar, aparecem os “Estudos das Mídias Tradicionais e Seus impac- tos sobre a Opinião Pública, com 26%, e em terceiro lugar, surgem os trabalhos relacionados à Epistemologia da Opinião Pública e Estudos sobre sua Formação, com 9%. Assim, a partir desses dados, observa-se grande concentração do campo em relação ao estudo das Ciências Políticas e das mídias tradicionais associadas ao campo da opinião pública, uma vez que a diferença do primeiro e do segundo lugar para o terceiro é de aproxi- madamente 20 pontos percentuais. Por sua vez, observa-se uma opor- tunidade de estudo para temas que estão em ascensão na pauta pú- blica nos últimos anos e vem se confirmando como realidade latente, como os estudos climáticos e aqueles associados à internet e às novas interfaces da comunicação. Outro ponto a ser observado nessa compilação é que a comuni- cação organizacional possui pouca representatividade em relação aos estudos sobre a opinião pública, uma vez que corresponde a 4% de toda a produção científica dos últimos 15 anos. Nesse ponto, vale a ressalva em relação à importância da opinião pública para os estudos e a atuação profissional no campo das relações públicas e da comuni- cação organizacional, o que gera certa surpresa. Talvez isso possa ser explicado pela existência de práticas e materiais de uso profissional em lugar de pesquisas e de produções científicas. 100 Luiz-ALberto de FAriAs Gráfico 5 – Temas Relacionados ao Estudo da Opinião Pública em Periódicos, Teses, Dissertações e Livros do Brasil Fonte: elaborado pelo autor. O quadro é bem semelhante ao que ocorre nos periódicos, nos quais a Ciência Política e os estudos das mídias tradicionais dominam a pauta com 32% e 24% respectivamente. Vale destacar que essa apro- ximação entre os quadros já era esperada, uma vez que o volume de periódicos corresponde a 82% de toda a amostra. Gráfico 6 – Temas Relacionados ao Estudo da Opinião Pública em Periódicos do Brasil Fonte: elaborado pelo autor. 101 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO Já nas dissertações verifica-se, primeiramente, que o quadro de temáticas torna-se um pouco mais enxuto, passando para seisgrandes áreas, das onze indicadas no quadro geral. Ainda, diferente do que ocorre no quadro geral e no quadro de publicações em periódicos, os estudos das mídias tradicionais dominam a pauta das pesquisas acerca da opinião pública no Brasil, com uma representatividade de 40% da amostra. Em segundo lugar, aparecem a Ciência Política, com 27%, e em terceiro a Epistemologia, com 13%. Gráfico 7 – Temas Relacionados ao Estudo da opinião pública em Dissertações do Brasil Fonte: elaborado pelo autor. Ainda mais enxuto que o quadro de dissertações encontra-se o panorama das teses no Brasil, o qual possui uma fatia de aproxima- damente 60% composta por temas relacionados a História Geral e a Estudos das Mídias Tradicionais. As teses reforçam ainda mais a opor- tunidade aferida no quadro geral de estudos relacionados à internet e às novas interfaces, e à comunicação organizacional, temas que não aparecem no quadro de teses. 102 Luiz-ALberto de FAriAs Gráfico 8 – Temas Relacionados ao Estudo da opinião pública em Teses do Brasil Fonte: elaborado pelo autor. Já no campo dos livros, duas grandes áreas saltam: a Ciência Política e a Epistemologia da Opinião Pública, ambas com 20% de representatividade no campo. Gráfico 9 – Temas Relacionados ao Estudo da Opinião Pública em Livros do Brasil Fonte: elaborado pelo autor. 103 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO A partir deste estudo podemos entender que há um espaço con- siderável a ser preenchido no sentido de pesquisas que possam dis- cutir a temática opinião pública frente às diversas demandas sociais contemporâneas. Destaque-se a necessidade de maior número de pes- quisas em nível de mestrado e de doutorado – que naturalmente costu- mam redundar em artigos científicos derivados das dissertações e das teses – no campo das relações públicas e da comunicação organizacio- nal, que têm toda a sua atividade ligada à temática relacionamento e, por conseguinte, aos movimentos opinativos, ainda mais em tempos de volatilidade da opinião. A seguir será tratada a intolerância, que grassa na contempora- neidade em sistemas bem elaborados e permeado pela sedução, ca- pazes de aparentar plena democracia e justiça, como um xamã ou a própria panaceia, mas também de levar à execração compulsória. 105 capítulo 4 Da fogueira à vaidade: o processo de intolerância histórica – da religião à ágora digital A ideia da fogueira como elemento de purificação vem da an-tiguidade. A ela foram destinadas inúmeras pessoas que por alguma razão não estavam em sintonia com o status quo. Isso foi feito por bárbaros e por cristãos, representando expurgação de pe- cados e oportunidade de purificação, ou simplesmente tortura para infligir dor e sofrimento extremos. Essas fogueiras, não esqueçamos, eram rodeadas por curiosos, por consumidores do espetáculo mórbi- do, atualmente ressignificados em morbidez digital. Se hoje a ideia de fogueira como “método pedagógico” absurdo parece fora de hora – não diriam isso os tribunais do crime existentes em lugares como as grandes cidades brasileiras e de outras paragens de mesmo nível de violência, que sabidamente utilizam esse método bárbaro e inominável – a incineração da imagem é altamente praticada e banalizada. Se alguém está fora do estado determinado para as coi- sas, se lhe aplica uma admoestação de maior ou menor intensidade a fim de colocá-lo em seu devido lugar. É claro que o contrário é absolu- tamente correto: também pode-se alçar ao estrelato (fugaz ou perene) certo alguém somente a partir de sua imagem. A fama, a glória e a reputação se misturam em meio às ce- lebridades. Enquanto a fama não tem relação com a qualidade do que possa ter feito o personagem, a glória mostra a notoriedade de alguém que fez algo fora do comum, as façanhas, um tipo de comemoração do herói na memória coletiva, e a reputação é o jul- gamento relativo a um membro dessa coletividade (LILTI, 2018, p. 14). A construção e a destruição dessas reputações também podem 106 Luiz-ALberto de FAriAs acontecer de modo calculado, pois palavras podem ser pequenas do- ses de arsênico (KLEMPERER, 2009), plantadas de modo contínuo, com forte incidência e disposição seletiva. Ainda que o risco esteja sempre presente e a rondar, a vaidade de ser guindado ao cume do sucesso midiático pode levar pessoas a ado- tar atitudes que possam estimular esse processo – e aqui vale destacar a possibilidade de isso ocorrer em diversos campos, das celebridades aos políticos, do cidadão comum ao mundo corporativo. Mesmo que se trate de um estrelato restrito a um pequeno grupo, ao cluster3 a que pertença a pessoa, ainda assim pode-se empregar grande energia. (...) sempre existiram pessoas muito conhecidas, mas antes elas deviam a notoriedade a suas façanhas, seus talentos e suas obras, ao passo que hoje são célebres unicamente em razão da exposição midiática, sem fazer jus a qualquer outro título (LILTI, p. 12, 2018). Enquanto a imprensa sempre foi o cerne da disseminação de um nome ou de uma marca, hoje ela divide essa função com as redes so- ciais digitais – que em muitos casos pretende substituir a própria im- prensa. Do jornalismo e da literatura de Tom Wolfe, emprestou-se a ideia deste capítulo, que entende que o new journalism criado por Wol- fe – entre outros – e a literatura convivem nesses espaços. E coabitam com a permanente pira que é o olhar da sociedade – conduzida pela moral, pela cultura, pela intolerância ou apenas por opiniões decorren- tes de interpretações –, e a vaidade que leva pessoas e organizações a brilhar ou a arder nesses cenários simbólicos. Nesse desvelar de notícias e construções, as fake news, notícias fal- sas engendradas industrialmente de modo intencional e com o reforço dos recursos tecnológicos com vistas à consumação de determinados objetivos – os quais se possa imaginar serem sombrios – , soma-se à ideia de pós-verdade, quando os elementos objetivos de interpretação são substituídos pelos emotivos, e o logos dá lugar ao pathos, apelan- do-se para sentimentos em lugar da razão, fazendo com que grupos predispostos ou sensibilizados a dado comportamento aceitem mais facilmente distorções em favor de suas crenças. 3 Cluster no sentido de grupos que se relacionam de modo estanque, independentemente do mundo exterior, criando atmosfera de microgrupo. 107 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO 4.1. iNtoleRâNcia Na históRia: Religião, etNicidade e outRos pRoblemas Das inquisições e holocausto nazista às agressões que ocorrem no Brasil e no mundo a minorias – ou melhor qualificando: a grupos minorizados –, observa-se que a intolerância é uma constante no com- portamento humano, ao longo da História. Vale ainda afirmar que o ato de “intolerar” está diretamente relacionado à não permissão da subjetividade do outro. O sentido de alteridade pode levar exatamente à compreensão das diferenças e, por conseguinte, à possibilidade de tolerância. Estar no lugar do outro, entender as diferenças, compreen- der o que pode ser natural a outrem, são patrimônios relacionais de enorme importância em todas as sociedades. A ideia de outro já refor- ça, de algum modo em si, a busca pela supremacia, pela superioridade. Tolerar significa, da forma como entendemos, permitir que o outro exista, se manifeste, mas não é porque toleramos que, ne- cessariamente, aceitamos e compreendemos. Estatísticas reve- lam, por exemplo, que grande parte da população é tolerante aos homossexuais. No entanto, ver dois homens ou duas mulheres trocando afetos e carinhos pode ser um ato de estranhamento e agressividade para a maioria das pessoas. Há uma tolerância, certamente, desde que ele se manifeste e seja ele mesmo nos luga- res que lhes são reservados (OLIVEIRA, ROCHA, LEAL, 2017). Oliveira, Rocha e Leal (2017) demonstram que a fragmentação tem se tornado uma constante na sociedade moderna. Há uma perma- nência do nicho nos padrões e espaços sociais que permitee direciona uma relação direta e aproximada entre iguais e afastada e escassa entre diferentes. Nesse sentido, o diferente torna-se ainda mais passível de estranhamento e rejeição e a intolerância ganha espaço e raízes cada vez mais profundas. Nesse sentido, a necessidade de se afirmar enquanto tal gera uma intolerância doentia acerca do outro, no qual não se reco- nhece. A prática da alteridade, capacidade de se colocar no lugar do outro não ocorre. Muito ao contrário, a definição e afirmação de si levam ao exercício de negar o outro que é externo, diferente, bárbaro (OLIVEIRA, ROCHA, LEAL, 2017). Cavalcanti (2002) demonstra que o preconceito e a intolerância são precedidos por uma construção muito singular e particular ao ser 108 Luiz-ALberto de FAriAs humano, uma capacidade que torna a vasta complexidade do mundo passível de entendimento pela limitada mente humana – os estereóti- pos. São eles que nos ajudam a captar e a assimilar os fatos externos a nós. Entretanto, por sua qualidade superficial e redutora da realidade, eles são passíveis de cometerem erros crassos. Há uma imagem do mundo mais ou menos ordenada e consistente, a qual os nossos hábitos, nossos gostos, nossas capacidades, nossos confortos e nossas esperanças se ajustaram. (...) são uma imagem do mundo a qual nos adaptamos (LIPPMANN, 2008, p. 96). A mídia, enquanto organizadora dos infinitos frames que com- põem a realidade, favorece e fortalece os estereótipos, uma vez que eles se alimentam e transmitem apenas uma pequena e distorcida par- cela da realidade que, por sua vez, é entendida pelo público como re- sumo de sua completude. A própria mídia é preconceituosa quando constrói seus estereó- tipos. Faz parte de nossa razão elaborar cálculos, não matema- ticamente, falando neste sentido, mas psicologicamente. Assim, muitas vezes o preconceito pode servir como norma de prudên- cia que nos serve como um sinal de alerta, seja para não cairmos no erro de contatar certas pessoas que deveríamos evitar ou para entrarmos em certos locais que não parecem ser atraentes aos nossos olhos etc. Quantas vezes não acertamos então em nossas previsões “preconceituosas”? Por outro lado, quantas vezes fa- lhamos em nossas previsões? Portanto, a resposta sobre a ques- tão do preconceito não comporta uma resposta absoluta e ob- jetiva, mas pode implicar em (sic) uma incógnita, ou seja, tudo depende (...) (CAVALCANTI, 2002, p. 1). Os conceitos e preconceitos também podem ser construídos por meio de obra resultante de equação matemática, disseminados de for- ma exaustiva, repetitiva, por canais que possam parecer confiáveis ou de baixo nível de checagem. Vale destacar ainda que essa fragmentação e a redução da reali- dade feitas pela mídia não podem ser entendidas como algo aleatório e inocente. Ao contrário: é meticulosamente selecionada e influenciada, inclusive, por outros padrões de estereótipos produzidos previamen- te que precisam, por inúmeras razões, ser reforçados. De acordo com Vargas Llosa: 109 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO A fronteira que tradicionalmente separava o jornalismo sério do sensacionalista e marrom foi perdendo nitidez, enchendo-se de buracos, até evaporar em muitos casos, a tal ponto que em nos- sos dias é difícil estabelecer diferença nos vários meios de infor- mação (VARGAS LLOSA, 2013, p. 47). Quanto ao aspecto da geração de sentido, ressalte-se a construção do discurso, que leva a dadas interpretações, a possíveis persuasões: Assim, como foi mostrada, a questão do discurso entra como um canal através do qual se exerce o poder e o controle sobre os ou- tros. A eugenia no Brasil revela um quadro de intolerância, étni- ca, racial, cultural e social que acabou por levar pessoas inocentes a manicômios e prisões. Além de acentuar o preconceito racial sobre os negros, à medida que propõe um embranqueamento dos povos, relacionando à cor da pele ao atraso, à perversão, à barbárie e à degenerescência (OLIVEIRA, ROCHA, LEAL, 2017). De acordo com Barbujani (2007) e Poutignat e Streif-Fenart (2011), toma força a ideia de que nem todos podem/devem ter os mesmos direi- tos. Determinados tópicos discriminatórios são reforçados – cor da pele, língua, religião, passaporte etc – além da difusão de ideias da inferio- ridade de raças frente ao referencial branco, em que filhos oriundos de etnias diferentes são atribuídos a “raças inferiores”. Ainda, nesse senti- do, a ideia de trabalhador imigrante (ou mesmo migrante) pode ser a de inferioridade ou até mesmo de superioridade, de acordo com seus loci de origem e seus padrões culturais. Grassa pelo mundo, ainda, a multi- plicação de discursos de projetos coletivos ameaçadores, bipolarizando o mundo e criando a necessidade de defensores com status acima da lei. Uma ditadura discursiva que pode levar a ditaduras políticas. Vale ainda destacar que essa transmissão de ideologias intole- rantes não é exclusiva apenas das mídias tradicionais, mas também está presente nas novas mídias – e talvez, até, maior, por conta da ideia de se tratar de “território livre” e cuja legislação dificilmente conse- gue acompanhar a evolução tecnológica, criando em alguns momentos sensação de “terra de ninguém”. E, nesse sentido, a “democracia digi- tal” dá contornos verossímeis, como se garantisse igualdade. Dugnani (2016) delimita que esse processo ocorre em uma relação antagônica, uma vez que a proposta inicial das novas mídias (digitais) seria justa- mente a aproximação e a troca de diferentes informações: 110 Luiz-ALberto de FAriAs Primeiro, a evolução tecnológica dos meios de comunicação está diretamente ligada ao encurtamento de distâncias entre grupos humanos, e com isso a busca por trocas de informação que pu- dessem ligar esses grupos. [...] ou seja, o fim último da comuni- cação deveria ser o de desenvolver as relações humanas, para que elas possam dividir conteúdos para que seja possível tornar comum os conteúdos, para que se possa desenvolver uma co- munidade que possa viver de maneira harmônica (DUGNANI, 2016, s/p). Entretanto, acontece justamente o contrário, há sim uma aproxi- mação, porém entre pensamentos e ideologias semelhantes e, com isso, ocorre o afastamento entre diferentes e o discurso de ódio e a intole- rância ganham raízes de suporte – aquelas que podem crescer mesmo em áreas não sólidas, até pantanosas – e forças. A presença de grupos fechados, com restrição ideológica, é marca do chamado ambiente li- vre. Em certo aspecto a liberdade da restrição, a inclusão restrita, a exclusão por princípio. A força da opinião pública não decorre apenas da quantidade de adesões e nem da veemência de suas lideranças: decorre da coesão interna de seu impulso e da oportunidade objetiva da manifestação das correntes internas que a formam (MATHEuS, 2011, p. 8). Além das questões tratadas relativas às intolerâncias raciais, vale destacar que o amadurecimento em relação a temas como a diversida- de, que ganham força e mobilização na contemporaneidade por meio de lideranças e coletivos organizados em torno desses temas, em de- terminados momentos parece caminhar para trás, frente a pensamentos retrógrados. Assim, a intolerância também afronta diversidade sexual, cultural, étnica etc. A opinião muitas vezes se move no ódio, no caminho da censura gratuita, da ideia de salvação coletiva, fugindo ao cerne de que a salvação – como quer que seja entendida – é de cunho individual. Há momentos, inclusive, cuja aderência a políticas de integração, de diversidade podem seguir padrões de moda, de discursos corpo- rativos ou sociais sem lastro. Alterações em palavras, expressões etc, podem ser de cunho afirmativo, mas também podem não ter atrás de si políticas que de fato lhes deem suporte. Nesse sentido, o emprego de termos e regras que não tragam juntamente o desenvolvimento das 111 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO óticas de relacionamento, que influenciem a transformaçãocultural, podem ser um idioma estrangeiro, não absorvido como sentimento pela sociedade de forma geral ou pelos grupos sociais. 4.2. Redes sociais digitais e supeRexposição É difícil sabermos onde e quando estamos sob a mira de lentes que captam e se apoderam de nossa imagem. Sejam as não explícitas, porém disseminadoras, as “amigas” ou até mesmo as nossas próprias. A popularização da internet permitiu não apenas que nós tivéssemos mais acesso à informação, como também que nós produzíssemos con- teúdo sobre o mundo e sobre nós mesmos, criando uma avassaladora onda de evasão de privacidade. A internet proporcionou nos últimos anos uma superexposi- ção de informações antes inimaginável, atingindo patamares de evolução a ponto de interferir na privacidade e intimidade das pessoas, mais especificamente em relação àqueles que desejam ter seus dados sobre fatos passados definitivamente apagados e se veem submetidos à uma pena perpétua social devido a per- manência de conteúdos privativos à persecução penal pelo qual percorreram em ambiente virtual amplamente acessível (CAR- VALHO; VIANA, 2015). De acordo com Baldissera (2009, p. 118-119), além das pessoas, há também o processo de disseminação comunicacional das organiza- ções, havendo o conceito de organização comunicada (a fala autoriza- da), a organização comunicante (quando qualquer sujeito estabelece relação com a organização), o que se pode entender que leve a gerar a organização disseminada, impactando a própria organização e le- vando-a à necessidade de reorganização permanente, para neutralizar uma percepção equivocada ou mesmo para construir imagem junto aos públicos com os quais interaja. A permanência e a capacidade de capilarização de tais conteúdos – fora do que se deseje ou controle, e perto da intolerância – é tamanha que o Direito tem se adaptado e criado leis que preveem inclusive o di- reito de o cidadão ser esquecido (CARVALHO; VIANA, 2015). A ideia de desmemoria na contemporaneidade é quase inimaginável diante de tantos repositórios formais e obscuros, mesmo que possa haver o 112 Luiz-ALberto de FAriAs momento pelo qual o desejo e a necessidade apontem pela busca da deslembrança. Como se sabe, vivemos numa época em que dispomos de todas as facilidades para a captura de imagens, seja por meio de câme- ras e/ou filmadoras digitais, celulares ou de webcams, recursos estes às vezes utilizados para registrar momentos íntimos que se quer rememorar na posteridade. Todavia, tornaram-se comuns, na mídia, os casos de indivíduos anônimos e de celebridades que tiveram fotografias e/ou vídeos publicados na Internet por parceiros(as), ou, por ex-parceiros(as) afetivos e/ou sexuais. Bas- ta divulgar uma vez esses conteúdos relacionados à vida privada e o dano estará feito. Certamente os textos, as fotografias e os vídeos permanecerão armazenados em algum ponto indetermi- nado da nuvem digital (FERREIRA, 2014). Outro ponto importante é que a internet, tanto quanto criou no- vos canais de comunicação, também deu origem a novas maneiras de violência. A violência é um fenômeno presente em diferentes sociedades humanas, sejam elas simples ou complexas, sendo tradicional- mente estudado no campo das Ciências Sociais. Ao longo de sua existência histórica e social ela tem variado conforme os meios para realizá-la, passando pelo uso do fogo e dos instrumentos rudimentares no Paleolítico, pelo aparecimento de armas bran- cas como a espada, na Antiguidade, pela besta, na Idade Média, e pelas armas de fogo aprimoradas na Modernidade. Estes exem- plos do que se tem como uma espécie de tecnologia da violência ilustram os meios físicos utilizados pelos indivíduos para impor sua vontade e poder sobre o(s) Outro(s). Já na contemporaneida- de, temos assistido à sofisticação dos mecanismos para efetivar ações violentas. Graças a esse processo ela foi elevada a formas mais sutis, porém, não menos dolorosas do ponto de vista dos efeitos que pode provocar nas vítimas (FERREIRA, 2014). Determinadas violências são consideradas inaceitáveis pela so- ciedade, mas muitas são ou foram consolidadas pelo próprio modo de os grupos sociais interagirem. Como relata Foucault (2009, p. 9), houve tempo em que a penúria pública, o infligir de penas máximas e aterra- doras fazia parte do comportamento social altamente recomendável. O espetáculo da agrura se dava em tablados públicos, tendo transfiguran- do-se para o ambiente cibernético, mas ainda assim, dotado de humana 113 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO curiosidade mórbida e moral adaptada aos conceitos que melhor aten- dam ao espaço-tempo. Damiens fora condenado a pedir perdão publicamente diante da porta (...) da Igreja (...) levado e acompanhado numa carro- ça, nu, de camisola (...) e às partes que será atenazado se aplica- rão chumbo derretido, óleo fervente, piche em fogo (...) (FOu- CAULT, 2009, p. 9). Desde o mecanismo arquitetural batizado de panóptico criado pelo arquiteto Jeremy Bentham, cuja finalidade era o domínio visual sobre a distribuição de corpos em ambientes de controle – prisões, ma- nicômios, fábricas etc – a ideia caminhou para o conceito foucaultiano de mesmo nome, em que o poder e o conhecimento são artifícios para o controle social: O panóptico de Bentham [...] É conhecido: na periferia, uma construção em anel; no centro, uma torre; esta é vazada de largas janelas que se abrem sobre a face interna do anel; a construção periférica é dividida em celas, cada uma atravessando toda a es- pessura da construção; elas têm duas janelas, uma para o interior correspondendo às janelas da torre; outra, que dá para o exterior, permite que a luz atravesse a cela de lado a lado. Basta então co- locar um vigia na torre central, e em cada cela trancar um louco, um doente, um condenado, um operário ou um escolar (FOU- CAuLT, 2007, p 165-167). Se o panoptico iniciou-se com a ideia de uma construção que permitisse o acesso às pessoas – e estas com absoluta evasão de suas privacidades, fossem elas condenados, proscritos ou mesmo trabalha- dores sob controle de tempos e movimentos – hoje a mesma evasão se dá de forma mais cordial, engendrada por um processo de recompen- sas mediadas pela presença em redes sociais digitais edulcoradas pela ideia de imortalidade temporária. E mesmo em um mundo virtual e de pretensas liberdades e de- mocracias construídas por trocas dessas mesmas liberdades, agressões físicas continuam em diversos países como forma de punição, de con- trole sobre o ser humano. Se o panoptico permeia a contemporaneida- de de modos mais suaves e gentis, em alguns ambientes esse controle pode ser dado de modo mais explicitamente abusivo. É claro que isso 114 Luiz-ALberto de FAriAs deve ser entendido como agressão social e do Estado, inaceitável em qualquer parte, mas muitas vezes até naturalizado. Mas surgem com força as novas maneiras de impingir dor, cujas marcas e cicatrizes estão além do olhar humano, e no mais profundo do atingido. O ciberbulling (ou violência cibernética) é um dos novos termos criados para definir as agressões feitas via contextos digitais que podem variar desde uma discussão ainda no contexto da internet entre pessoas que pensem de maneira diferente até agressões físicas e verbais que alcancem a real materialidade. A respeito desta nova realidade, definimos como ciberviolência toda e qualquer ação pela qual as TIC são utilizadas para propa- gar o medo e a dor psíquica aos cibercidadãos que têm acesso aos recursos tecnológicos e comunicacionais disponíveis na socieda- de da informação. Logo, telefones celulares, redes sociais, pro- gramas de conversação online, sites, blogs, comunidades virtuais de relacionamento e a própria Internet são recursos que podem ser apropriados por indivíduos, ou por grupos, para se converte- rem em veículos high tech de violência (FERREIRA, 2014). Ainda, conforme é possível observar, Ferreira (2014) delimita que a ciberviolência ésempre feita por cibercidadãos, sujeitos por ex- celência inseridos na lógica da imaterialidade. Por cibercidadãos, entendemos todos os indivíduos que partici- pam da experiência do múltiplo convívio num espaço de nature- za imaterial (ciberespaço), sustentado por uma base tecnológica material que lhes permite novas experiências de sociabilidade, estas agora vivenciadas por meio de interações sociais remotas (FERREIRA, 2014). Ferreira dialoga diretamente com os pensamentos de Gonçalves (2017) quando o autor delimita que os cibercidadãos vivem em lógicas singulares de espaço-tempo, na qual o espaço pode ser desterritoria- lizado e o tempo totalmente habitável. “Com a desreferencialização do espaço emerge, pouco a pouco, nas sociedades contemporâneas a noção segundo a qual o espaço se transmuta em um ‘espaço-tempo’” (GONÇALVES, 2017). Nessas novas reconfigurações o indivíduo habi- ta esse espaço por meio da exposição: quanto mais exposto, mais pre- sente está no meio e mais sujeito está à visibilidade de outros expostos. Desse modo a sua imaterialidade o torna, estranhamento, mais real. 115 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO E ainda, no conceito de Augé, perde-se a noção de lugar por con- ta de cada vez mais haver espaços sem relações duradouras, sem vín- culos, lugares e passagem: O lugar não é mais o mesmo que sempre foi. Ou mais, os lugares não são mais os mesmos que foram outrora. um mesmo espaço pode mudar ao longo da história. Os espaços ocupados podem ser os mesmos, mas é certo que todas as mudanças nele promo- vidas são acompanhadas por uma ressignificação dos sentidos que lhe são atribuídos. São os mesmos espaços, mas diferentes lugares (MOCELLIM, 2009, p. 77). Lugar e tempo se redimensionam, se ressignificam, perdem a es- sência e passam a fazer parte de um admirável mundo novo e virtual, etéreo, muitas vezes vazio. Os espaços e as matérias perdem as suas presenças, cedendo espaço a outros modos de significação. 4.3. coNstRução e descoNstRução de mitos O mundo ganhou mais porosidade: “vídeo, tela interativa, multi- mídia, internet, realidade virtual: a interatividade nos ameaça de toda parte. Por tudo, mistura-se o que era separado; por tudo, a distância é abolida” (BAuDRILLARD, 2005, p. 129). Nesse texto, grafado original- mente em 1996, o pensador francês já nos convidava a um momento de construção e de desconstrução, simultâneas e avessas, como um tri- buto pela ideia de que todos podem participar de absolutamente todas as instâncias. Um convite à democracia – ou algo que possa assim ser entendido – propiciada pelo digital. Além de abrirem espaço para uma ressignificação da lógica tem- po e espaço, as novas mídias também criam espaço para a formação de novos efêmeros heróis que, diferentes daqueles que encontramos nos veículos tradicionais, possuem uma condimentação a mais de rea- lidade e proximidade, adocicando-a. “As celebridades, heróis e estre- las estabelecem uma relação entre o real e o imaginário, porque, além do mundo terreno, participam do mundo sobrenatural e dos sonhos” (CAMPOS, 2008). Afinal “homem nenhum pode descrever o que há dentro dos sonhos”, nos avisava Baudelaire (2007). 116 Luiz-ALberto de FAriAs Sobre o fenômeno, Campos (2008) delimita que os meios de co- municação de massa, incluindo a internet, possuem essa capacidade ímpar de mitificação de pessoas comuns e transformação de cidadãos em celebridades, heróis e estrelas. Ao contrário de sujeitos comuns, essas novas criações são transformadas em produtos a serem consumi- dos pelo público e a moeda de troca é a constante exposição midiática. A serviço da Indústria Cultural, estão os meios de comunicação de massa, os quais, com sua extraordinária capacidade de reprodu- ção, criam e divulgam um elenco variado de produtos culturais. Ao lado de filmes, músicas, livros, programas de rádio e televi- são, essa indústria produz um tipo de mercadoria, que a princípio pode não ser identificada como tal. São as celebridades, heróis e estrelas, que fazem parte da indústria do entretenimento e cuja imagem pública é produzida pela mídia, ou seja, adquirem fama e sobrevivem graças à exposição midiática. Esses personagens se expõem para o consumo, nas telas da televisão, do cinema, da In- ternet e nas páginas de revistas e jornais, assim como os demais produtos industriais são expostos em vitrines e prateleiras das lojas, para que sejam consumidos. E mesmo naqueles lugares ocu- pados pelas outras mercadorias, muitos deles estão presentes; seja em um display de ponto de venda ou em produtos que adquiri- ram o direito de utilizar seu nome ou imagem, como sandálias, cadernos ou mochilas, por exemplo (CAMPOS, 2008). A transformação de cidadãos em produtos consumíveis é um processo que, segundo Campos (2008), ocorre via dessacralização, uma vez que acontece de forma artificial e “industrializada”. Segundo ele “os mitos da mídia são, assim, modelos culturais dessacralizados, exaltados pelos meios de comunicação, que têm em comum o fato de serem mercadorias culturais, se não inteiramente criadas, pelo menos difundidas pela Indústria” (CAMPOS, 2008). Por sua vez, vale também acrescentar que tanto quanto as novas mídias criam heróis e mitos, elas também possuem o poder de desmitificação, uma vez que a superex- posição permite uma maior exibição de vulnerabilidades. Não há captura da realidade empírica que não passe pelo filtro de um ponto de vista particular, o qual constrói um objeto parti- cular que é dado como um fragmento do real. Sempre que tenta- mos dar conta da realidade empírica, estamos às voltas com um real construído, e não com a própria realidade (CHARAUDEAU, 2012, p. 131). 117 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO Os mitos ora são efeito de causas não intencionais, ora são cons- truídos. Para tanto atuam os meios de comunicação por conta própria ou pautados por agentes cuja intenção é explícita, como os agentes de Relações Públicas: “por trás das narrativas míticas podemos encontrar um fundo moral, lições de vida (...)” (LAGE NETO, 2010, p. 26-27). E, nesse movimento de construção, novos sentidos se criam, como a reconstrução da oralidade, defendida por Eliade (2012), que passa a ter novos contornos, passando a ser reinventada, ressemantizada e até mesmo apresentada por novos padrões não orais, mas imagéticos. Toda essa transformação leva a novos mitos. As histórias são contadas e recontadas, significadas e ressignifi- cadas. Enfim, narradas. E, desse modo, “a narrativa passa, assim, a ter uma dimensão tal que, quando proferida, se presta à causa de curar, e, ao mesmo tempo, dilatar a fenda da consciência humana em relação às forças das quais ainda é inconsciente” (CONTRERA, 2000, p. 46). As histórias são construídas e narradas de modo a gerar ritos de passagem, produzirem delimitações entre o profano e o sagrado, em busca da sacralização do comum. A mídia, assim, permite dar a aura sagrada ao comum, ao normal, ao cotidiano, extraindo-o de seu espaço e criando-lhe um aparente lugar de representação. Criam-se fronteiras e marcos que permitam heroificar e pavimentar uma trajetória especial ao discurso e aos agentes nele envolvidos (GENNEP, 2013). As histórias, por conta desse processo paradisíaco, porém artifi- cial, tendem a acelerar o apogeu e, por conseguinte, devido à velocida- de artificial, seu declínio. Reinaugura-se, assim, o terror do inferno e a expectativa de anjos que levem ao céu. O céu midiático, mas ainda um céu. Todavia, perto demais do próprio inferno. Há um nascer que precisa ser reconhecido pela mídia e pela opi- nião pública, do contrário haverá o fardo da inexistência ou da insigni- ficância, como nos relata Eliade: Quando acaba de nascer, a criança só dispõe de uma existência física, não é ainda reconhecida pela família nem recebida pela co- munidade. São os ritos que se efetuam imediatamente após o par- to que conferem ao recém-nascido o estatuto de ‘vivo’ propria-mente dito; é somente graças a estes ritos que ele fica integrado 118 Luiz-ALberto de FAriAs na comunidade dos vivos. [...] Para certos povos, [...] a morte de uma pessoa só é reconhecida como válida depois das cerimônias funerárias, ou quando a alma do defunto foi ritualmente condu- zida à sua nova morada, no outro mundo, e lá embaixo foi aceito pela comunidade dos mortos (ELIADE, s.d., p. 143-144). Os mitos (narrativa e outros aspectos) fixam os modelos exem- plares de todos os ritos e de todas as atividades humanas significativas (NASSAR, FARIAS, 2017). Os rituais são narrativas construídas por meio de elementos simbólicos (corporais, orais ou não orais) que são marcados pela repetição e pela intenção retórica. Nesse primeiro enquadramen- to conceitual pode-se falar em narrativas da experiência. Estão presentes nas memórias de todas as culturas, como processos de identificação e afirmação dessas culturas e de seus integran- tes. Nesse segundo enquadramento pode-se falar em memórias rituais. Essas narrativas rituais e da experiência – marcadas na memória humana – podem se caracterizar como sagradas ou profanas (NASSAR E FARIAS, 2017). Os rituais são processos narrativos de evocação e rememoração de histórias de origem – mitos – ou de importância destacável naquilo que foi experimentado e que se quer experimentar novamente, no âm- bito do sagrado ou do profano (NASSAR e FARIAS, 2017). A criação de mitos, por meio de ritos, deve-se ao desejo de exercer poder sobre a situação vivida, no caso aqui em questão, sobre a opinião. A artificia- lização da ideia de mito também pode ser um recurso narrativo, que a partir da estratégia da repetição, leva à criação de pseudo realidades. Ainda em relação aos rituais, eles se reconstroem no contempo- râneo, ganhando aura de inovação, mas de modo geral, reproduzindo aquilo que gera sentido, que ecoa nas mentes de modo a fazer-se en- tender e a buscar as referências tradicionais, mesmo que muitas vezes expressas em novos suportes, novos devices/gadgets/dispositivos, estru- turas de abrigo e que por si só não gerariam sentido não fossem ampa- radas por rituais que as transcendessem. Enfim, há um jogo permanente de construção e desconstrução de mitos – e que não se confunda aqui a mitomania que muitas vezes são a base para a heroificação de personagens –, em velocidade cada 119 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO vez mais acelerada, mas sempre ancorado em bases que possam ge- rar representação simbólica para os atores e para seus públicos. Nesse sentido, o capítulo seguinte trabalha riscos e crises de imagem a partir de dois conceitos-chave: as fake news e as pós-verdades, ambas tratadas a partir das paixões contemporâneas, da indústria que se origina com finalidades político-eleitorais, estratégicas, geopolíticas, militares, co- merciais etc. 121 capítulo 5 Fake news e pós-verdade: indústria de risco, crise e imagem em tempos de cólera 5.1. comuNicação em tempos de cóleRa A comunicação está por toda parte, compõe cada instância do discurso – seja pela compreensão, ou pela ausência dela. Suas funções, seus objetivos podem estar em diversas direções. Seja pelo bem co- mum, pelo encontro de pontos que unam pessoas, comunidades, ci- vilizações e seus componentes, seja mesmo pelo alcance de metas de distintas nuanças e matizes. Para que aconteça o encontro, a possibilidade dialogal, a comu- nicação está sujeita a ambientes e a condições específicas. Em certa me- dida, a comunicação é expressão do acontecimento, e se dá pela pos- sibilidade de diálogo – e este acontece anterior e posterior ao próprio acontecimento (BAKHTIN, 2003) – e da geração de significados para os atores envolvidos. A capacidade de filtrar ocorrências de acordo com as lentes individuais ou coletivas também é marca do ser humano, que se coloca frente a uma situação antes mesmo de ela ocorrer. Em tempos de grandes embates que ocorrem prioritariamente e como condição sine qua non na sociedade da intolerância, o risco deve ser um elemento calculado e trabalhado para evitar os processos de crises de comunicação e de imagem. No escopo da comunicação o risco é elemento dotado de grande carga simbólico. E o risco e a possibilidade de existência de crise devem fazer par- te de processos e de estratégias de comunicação no âmbito das relações públicas. Como comunicação de crise pode-se definir que seja: 122 Luiz-ALberto de FAriAs (...) o processo de narrativas interpessoais ou midiatizadas no es- paço interno ou externo de uma dada organização, podendo al- cançar ou não os veículos de comunicação de massa, relacionadas a uma crise, que pode ser entendida como a ruptura das condições de relacionamento concreto/ efetivo ou simbólico entre uma orga- nização/personalidade e seus públicos de relacionamento. Segun- do Farias (2009), crises de imagem podem ter diferentes origens e apresentam o potencial de levar pessoas e organizações a signifi- cativas perdas, de diferentes tipos – desde questões simbólicas até materiais. A crise pode levar a empresa a lucro cessante, perda de clientes e de fornecedores, de acionistas, de licenças para funcio- namento etc. Enfim, potencializa a geração de perda de imagem ou de reputação e, por consequência, de mercado. As crises po- dem ter diversas fases. Nem sempre são detectadas, antecipada- mente, mas a gestão de suas etapas aguda (eclosão da percepção de crise) e crônica (sustentação do processo de crise) devem per- mitir a antecipação da fase pós-traumática (início da minimiza- ção temática e de percepção, seja pelo efeito, seja pela perda de interesse como agenda). Mesmo após a crise, esta deve ser trata- da como elemento-chave no planejamento de relações públicas, quaisquer tenham sido os seus resultados. Segundo Rosa (2007, p. 21) “as crises de imagem são eventos cada vez mais presentes em nosso cotidiano, mas ainda constituem um campo da sociedade brasileira, praticamente não devassado e quase nada explorado pelos principais agentes e instituições do país”, o que dificulta a elaboração de planejamentos de comunicação para situações de crise. A comunicação de crise é essencial no escopo do pensar or- ganizacional, pois esse processo marca a história e a trajetória da relação entre organização e seus públicos: a partir dos processos de narrativas comunicacionais ali desenvolvidos/desenrolados, gerando-se estruturas produtoras de significados. À medida que um acontecimento relacionado a uma crise seja objeto de dissemi- nação (midiatizado em alguma medida) a ocorrência gera outras percepções, outras ocorrências que se associam imediatamente à percepção de crise original. A comunicação, em situações de con- flito ou de crise, pode contribuir para a legitimação dos princípios organizacionais (missão, visão, valores, filosofia, objetivos) junto aos públicos (FARIAS, 2010, p. 253). Antes, ainda, pode-se entender a necessidade do trabalho de comunicação no sentido de evitar que crises se estabeleçam, mesmo que se tratem de ambientes férteis ao aparecimento e ao crescimento dessas, inclusive pelo potencial de disseminação atual por conta dos instrumentos tecnológicos. Por conta disso, a comunicação de risco, 123 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO aquela voltada à avaliação dos cenários e condições que possam levar a um cenário de crises, deve ser presente e atuante. Nesse sentido, a comunicação de risco: Está diretamente associada ao campo de atuação de determi- nados segmentos/corporações. Trata-se de matéria fundamen- tal para a construção da atividade de relações com os públicos – independentemente do tipo de relação estabelecida: a partir de quesitos geográficos, impactos de poder etc.; interno ou ex- ternos. A comunicação de risco é área de pesquisa ainda recente, tendo seus primeiros estudos a partir da década de 1980 (SJÖ- BERG, 2007). De acordo com Forni (FARIAS, 2007, p. 201), “(...) no Brasil, ainda, não temosa prática da prevenção, de investi- mentos ou mesmo qualificação para evitar situações de risco”. A sua existência está diretamente relacionada à necessidade que determinados assuntos têm em ser esclarecidos a certas audiên- cias/populações/usuários: passa pelo processo de transmissão de informações de especialistas a diferentes públicos, dentre os quais, leigos, utilizando-se para tanto de mídias de massa e diri- gidas. Os conceitos de risco devem ser trabalhados sempre que algum setor apresentar potencial de surgimento de problemas motivado por uso, instalação, produção ou relacionamento entre empresas/ organizações/instituições-pessoas-ambiente-(...). Tan- to pode tratar de riscos imediatos como de eventualidades futu- ras, sempre com olhar sobre prevenção, tratamento ou percepção sobre o a origem e o foco do risco (BATISTA, 2007). Os riscos podem ser efetivos ou simbólicos, resultantes de interação entre sujeitos ou organizações, ação produtiva ou mesmo construção de simulacros, que podem advir de boatos ou spins (técnica de rodear um problema sem ir diretamente ao assunto). Quaisquer públicos que estejam envolvidos de forma direta (especialmen- te) ou indireta em situações de risco têm o direito à clara infor- mação – que leve ao adequado entendimento – sobre quaisquer perigos aos quais estejam sujeitos. Ao mesmo tempo, a comu- nicação precisa estabelecer processos de clareza de informação que não permitam a geração de pânico ou descontrole: deve-se gerar comunicação responsável. A percepção da emergência está diretamente relacionada à imagem e à reputação dos envolvidos e pode potencializar um processo de equilíbrio ou de desequilí- brio entre as partes. A comunicação de risco pode ou não estar associada a situações de crises, pois pode antecipar-se a estas, mitigando-as, ou mesmo, se não trabalhada de modo correto, pode ampliá-las (FARIAS, 2010, p. 255). 124 Luiz-ALberto de FAriAs A análise de riscos – que não deve ser utilizada de forma tanato- lógica, mas também, afinal riscos podem ser decorrentes de situações históricas e podem levar a mortes simbólicas ou concretas de organi- zações ou imagens – faz parte da moderna comunicação de relações públicas, entendida como filosofia e não apenas como ação profilática ou discursiva. Quando em determinada situação se defende que não haja a intenção precípua de se fazer relações públicas – como se estas esti- vessem a serviço de agradar a determinada plateia, exclusivamente –, equivoca-se: relações públicas vem de um processo comportamental pleno, capaz de produzir significativos resultados, pois trabalha no sentido de gerar relacionamentos e esses são fluidos e voláteis, e de- pendem de interação entre interesses e atores. Cada vez mais, com monitoramentos colaborativos, os erros do cidadão, das corporações e do poder público ficam expostos rápida e massivamente. Quando há danos, estes devem ser tratados em todas as suas vertentes, mirando-se todas as arestas, sem deixar de lado a essência, a causa motivadora, inclusive não apenas do ponto de vista comunicacional. Nos danos podem ser observados os elementos ma- teriais, mas não podem ser deixados de lado os diversos aspectos sim- bólicos ali presentes e capazes de gerar novos danos, novas perdas e impactar de modo irrefreável pontos como a reputação. 5.2. cóleRa em tempos de comuNicação Cólera é sentimento tão antigo quanto a humanidade – ainda que muito associada ao catolicismo, é anterior a este, que a utilizou de for- ma didática para educar sobre vícios e fraquezas diversos –, atribuída fundamentalmente aos animais, por se tratar de situação não movida pela racionalidade. Trata-se de forte oposição, motivada por sensação de prejuízo ou de moléstia, gerando um dos sete pecados capitais: a Ira. A cólera é quase inamovível, pois está longe da razão. Mas o que se normalmente se imaginaria é que a cólera seja mo- tivada por algo que nos afete diretamente, que nos leve ao conheci- mento do suposto gerador do mal, ao agressor ou assim entendido. 125 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO Em tempos contemporâneos os comportamentos iracundos têm se tor- nado mais comuns que em outras épocas, pois eles passam também a ser gerados por fatos aparentemente desencontrados com os interesses do sujeito afetado, motivados por farta circulação de informação e de opinião – mesmo que essas sejam construídas como fruto de fontes du- vidosas. Isso porque a multiplicação das fontes de emissão de opinião se multiplicaram de modo exponencial. E, por conta da suposta ideia de que todos passaram a ser formadores de opinião4 devido a novas modalidades de expressão, assim também cresceu a ira. Comunicar em cenários cuja predisposição seja negativa – ou no qual o ambiente seja instável, a priori – é sempre um risco, uma si- tuação de maior empenho e potencialmente menores colheitas. Para a gestão dos relacionamentos em ambientes desse perfil, há a indicação da comunicação de risco associada à comunicação de crises. Determinados aspectos são fundamentais para que a comunica- ção se efetive, e o ambiente é essencial para isso. Tanto o ambiente con- creto quanto o simbólico. Além disso, espaço e tempo também são vitais na análise do cenário, pois têm caráter persuasivo sobre a audiência e a sua compreensão, são representações da cultura. A cenografia do am- biente (proxêmica), a movimentação em cena (kinésica), gestualidade e figurino, entre outros, podem causar determinadas compreensões: por isso a preocupação das organizações e das pessoas com o desenho de seu outfit5, muitas vezes criando aparências altamente superficiais, indo ao encontro do que a opinião pública prevalente a conduza. Exemplos disso são as ações de propaganda e de relações pú- blicas associadas a grandes temas que estejam em voga – diversidade, direitos femininos, sustentabilidade e outros que ganhem destaque –, assinadas por empresas que justifiquem ser esses assuntos parte de seu DNA (expressão que se tornou lugar-comum no discurso corporativo, emprestada da Biologia, utilizada de modo geral de forma pouco feliz). 4 Leve-se em consideração que esses aparentes formadores de opinião, os sujeito-mídia, de modo geral não têm fonte própria de informação, o que os torna reprodutores – nem sempre com precisão ou clareza – de informações de terceiros. E a disseminação de informação car- rega em si, sempre, intencionalidade. 5 Expressão utilizada aqui de modo metafórico, figurando como representação imagética, como indumentária simbólica. 126 Luiz-ALberto de FAriAs Haveria aqui uma tentativa de primazia do imaginário biológico (LE BRETON, 2012, p. 17), algo que justifique a essência, que fortaleça os modismos e o escorregamento de significados. Essas campanhas podem servir de embalagem e de discurso, buscando boa atenção para as marcas. Em tempos de cólera, esse pode ser um bom caminho, uma boa estratégia, mas perigosa, justamente por conta do monitoramento colaborativo, em que o passado se torna o presente dos fatos passados, vindo à tona resgatados pelo poder de repositórios absolutamente poderosos – mesmo que nem sempre tão confiáveis. O enxerto de imagens à história é algo já muito antigo, mas ganhou novos contornos por conta da acessibilidade tecnológica. Po- deríamos falar aqui de uma “grilagem”6 histórico-tecnológica. Além da cólera, outro aspecto importante é a predisposição à into- lerância (como já tratado em páginas anteriores), sempre tão vívida, e já criticada por Voltaire (1763) em plena França de Monarquia Absolutista. A ideia de tolerância tem em sua base a relação com a liberdade religio- sa, e de crença, aos direitos humanos e à liberdade de expressão (CRE- PPELL, 2003). E a liberdade de expressão hoje justifica o silêncio exigido a determinadas partes e a democracia prêt a porter. Ou seja, a aceitação do diferente muitas vezes é uma conquista de grupos minorizados. Se Voltaire (1763) classificava, já no século XVIII,a intolerância como bárbara e irracional, isso nos leva ao pensamento e à ação co- lérica. Assim, o comportamento intolerante e colérico tanto pode ser gerado por ações de fanatismo quanto de absoluto posicionamento ra- dical (entendido aqui como drástico, inflexível e intransigente). E nesse contexto pode se referir a um tipo de fanatismo opinativo. 5.3. cóleRa como cultuRa, comuNicação como pRocesso A comunicação nas organizações foi estabelecida há muito como alternativa de crescimento e sustentação. Sejam estratégias de publici- dade voltadas à construção e ao crescimento de share de mercado ou lembrança de marca, podendo-se agregar valor a esta, sejam ações de 6 Grilagem é o sistema de apropriação de terras a partir de documentos envelhecidos artifi- cialmente, aqui utilizado como metáfora. 127 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO propaganda destinadas à construção de identidades, sejam políticas de relações públicas destinadas à criação e gestão de relacionamen- tos. Muitas vezes, inclusive, estratégias adotadas de forma integrada e planejada, e ainda podendo-se recorrer a modelos de marcas guar- da-chuva (PEREZ, 2004, p. 18) que associam invariavelmente o nome de empresas e de produtos. De algum modo, na contemporaneidade, busca-se de forma obsessiva por ações de disrupção, que possam inter- romper o seguimento natural de processos, dando maior capacidade para romper ou alterar o curso das relações entre produtos-organiza- ções e seus públicos. Todavia, no tocante a questões de crises, ainda há em diversas organizações, senão na maioria, um sentimento de mal-estar levando ao distanciamento do debate sobre casos passados e aspectos sensíveis atuais ou futuros. Esse é um aspecto nitidamente cultural, a ser tratado em cada ecologia corporativa dentro de suas características próprias e o saber relativo às necessidades organizacionais, seus significados e sentidos, pois “todo conhecimento move-se em nós pelos sentidos: eles são os nossos mestres [...]. A ciência começa por eles e resolve-se neles” (MONTAIGNE apud LE BRETON, 2016, p. 21). Deve ser levado em conta e trabalhar-se movimentos de forma a se buscar a saturação sobre o tema. A fuga ao debate, ao contrário, gera instabilidade e incer- teza, além de ser proibitiva ao uso de aprendizados de forma a mitigar crises futuras e também evitá-las. A crise assume, então, caráter polissêmico, visto ser encarada como oportunidade pelos atores midiáticos – sejam os massivos, soli- damente constituídos, sejam os entrantes, alguns, talvez até arrivistas e, por isso, mais afetos a crises como produto de subvenção a sua auto- promoção – e até mesmo por figuras públicas, e absoluto receio e fuga pelo universo corporativo e mesmo pessoal. Isso leva a uma disputa de sentidos de certo modo obscura, cuja opacidade se deve ao fato de nenhum dos actantes assumir claramente a sua predisposição. Os su- jeitos midiáticos não deixam claro o seu desejo de consumo da crise como produto, e as corporações, tampouco, mostram-se claramente preparadas para lidar com o tema. Entender que haja uma cultura à crise por quem se beneficia dela faz todo o sentido. Acreditar que seja natural a existência de um 128 Luiz-ALberto de FAriAs processo preventivo em relação a crises é um crasso engano. Se algu- mas empresas investem em procedimentos de previsão e prevenção de risco – e de fato muitas assim o fazem – isso pode ser decorrente de determinações de compliance, de memória oriunda de crises já ha- vidas, ou mesmo de ações discursivas, efetivas ou evasivas. Para gerenciar uma crise o ponto inicial é a concentração sobre o risco. Determinadas organizações, por força do segmento, estão mais acostumadas a entender o risco como algo diário, mas nem sempre de forma tão natural, pois ele – seja operacional ou mesmo de comunica- ção – se apresenta por diversas formas e de inúmeras origens. Diversas circunstâncias podem levar a crises. Antes de elas exis- tirem é necessário que se diagnostique o ambiente corporativo e se busque identificar nele as fragilidades – a ponto de serem minimizadas ou compreendidas – e as forças, para serem estimuladas. Muitos elementos levam a crises de imagem/comunicação. Po- dem ser falhas em processos ou sistemas de produção, erros de gestão ou de gestores, declarações erradas ou mal interpretadas, boatos, redes sociais afoitas etc. Tudo isso pode alterar ou influenciar a opinião de públicos acerca de uma empresa, como em um flash. Enfim, crises de imagem podem destruir a reputação de uma companhia (FARIAS, 2010). Nos últimos tempos várias situações têm levado a enfrentamen- tos entre organizações e opinião pública. Situações como declarações homofóbicas (caso recente envolvendo o presidente de uma indústria alimentícia), denúncias espetaculares e duvidosas (caso de um roedor supostamente encontrado em uma garrafa de refrigerante), erros de processos e produtos (contaminações, adulterações etc), superexposi- ção à opinião pública e à mídia (casos de artistas, empresários e políti- cos), denúncias de trabalho escravo (como o que ocorreu com algumas lojas de departamento e de vestuário, por exemplo, levando à neces- sidade de criação de Termos de Ajuste de Conduta – TACs e gerando fortes desgastes), crises de gestão, ética e compliance (como o que ocor- reu com indústrias nacionais e internacionais, como algumas do ramo automobilístico no Brasil e pelo mundo) e situações de grave impacto ambiental e perdas humanas (casos de vazamento, rompimentos de barragens e tragédias técnicas decorrentes de diversos tipos de falhas). 129 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO Organizações de perfis e portes os mais diversos podem estar sujeitas a boa parte desses riscos, necessitando antever e criar escu- dos simbólicos que possam mitigar riscos e crises. Ainda assim, as or- ganizações têm determinado poder de comunicação sobre si mesmas e, ao mesmo tempo, enorme dificuldade de controlar o que é dito a seu respeito, a sua revelia (BALDISSERA, 2009). A organização – e as pessoas – é simplesmente disseminada, sem qualquer controle sobre esses fluxos. Em algumas situações de controvérsias com a comunidade ou com o poder público, aliadas a essa dificuldade de controlar o que é dito a seu respeito, a empresa pode acabar perdendo sua licença social para operar, ou seja, uma autorização que a sociedade concede para que uma organização inicie ou mantenha as suas atividades em deter- minado segmento. Porém, se a empresa conquistar a licença social para operar por um processo de inteligência, patrocinado por alta direção, tendo como objetivo refletir sobre os impactos sociais, políticos e comuni- cacionais das ações da organização, dentro de um quadro estratégico de longo prazo, destacadamente institucional, ela pode, nessas oca- siões controversas, inclusive, fortalecer suas narrativas comunicantes e comunicadas, estabelecendo relações de confiança entre a organiza- ção e seus públicos. Há também modos de prevenção como a avaliação sobre quais são os principais riscos da empresa, pensando quais são as fragilidades internas e quais ameaças vêm de fora, de modo a definir as melhores políticas, estratégias e ações para impedir o rompimento do controle e a perda da capacidade de gerenciar situações previsíveis e imprevisí- veis, chegando-se às melhores práticas. A criação de uma matriz de Sensibilidades e Oportunidades (Matriz S&O), destacando-se temas oportunos e sensíveis, deve ser feita como guia para todos os discursos e ações organizacionais. Para isso, devem ser reunidos todos os líderes tomadores de decisão, sensi- bilizados para os efeitos e a volatilidade da comunicação e, a partir daí, iniciado o trabalho de desenho de riscos organizacionais, chegando-se a uma matriz que permita a atividade organizada e planejada de todos 130 Luiz-ALberto de FAriAs os setores, avaliando-se possíveis desdobramentos e interações entre riscose ações. Comunicação em tempos de volatilidade opinativa, endossos às cegas e precocidade e incontinência enunciativas geram risco a pessoas e a corporações, a grupos e a sociedades. A informação cuidadosa e a educação permanente – tanto a formal quanto aquela encontrada em processos de treinamentos e interações –, é que podem gerar uma so- ciedade com responsabilidade sobre os discursos, entendendo o peso de cada palavra, de cada “postagem”, de todas as manifestações pú- blicas, que podem ir muito além das fronteiras e consequências ima- ginadas. Isto é opinião pública: o incontrolável, pois do contrário, será manipulação e equívoco. 131 Reflexões não solitárias “Não há fatos eternos, como não há verdades absolutas.” F. Nietzsche O universo da comunicação é perpassado por inúmeras disputas simbólicas. O conceito de opinião pública é amplo e, sob certo aspecto, controverso. A ideia de que seja resultante de controle, manipulação, intencionalidade e, por isso, não exista como tal, mas apenas enquanto representação de dados interesses, não é equivocada – ao menos não em seu todos –, mas certamente é radical. Se não podemos hesitar em dizer que haja diversos desses pon- tos no processo de formação da opinião pública e, claramente, haja in- tencionalidade de diferentes forças em desenhá-la, há, por outro lado, elementos que se agregam nesse processo de formação de sentido. A opinião pública é resultante da geração de sentido, o qual deriva de distintos inputs, de diversos processos de construção, reconstrução, formação, formatação, distorção, interpretação, ressignificação etc. A proximidade e o interesse existentes na matriz do pensamento de relações públicas vista como um elemento sistêmico e de inserção no modus pensandi da comunicação sobre a opinião pública de certa- mente existem e impactam a ação orquestrada, coordenada, planejada sobre os processos de informação e de formação de opinião. A revisão relativa à produção científica voltada ao tema opinião pública, contemplando o espaço de uma década e meia (de 2000 a 2015), demonstrou produção qualificada acerca do tema, mas ainda de pouco volume no que se refere a comunicação e relações públicas, es- pecialmente. Com isso, pode-se vislumbrar um significativo potencial 132 Luiz-ALberto de FAriAs de pesquisa que se enverede nessa direção, ou ainda possa se explicitar nesse tipo de estudo. A existência de produção em todos os produtos pesquisados – artigos, livros, teses e dissertações – demonstra a relevância e o alcance do tema. A questão levantada em alguns momentos deste texto – se de fato existe ou não uma opinião pública – parece se responder a partir da argumentação de existir produção oriunda de diferentes campos e em diferentes empreitadas. Essas produções articulam-se entre si à medida que vêm de origens diferentes, mas se complementam, dialo- gam sobre o objeto. O fato de a opinião ser publicada ou não também é um aspecto de grande relevância, pois só pode haver opinião pública em ambien- tes nos quais haja liberdade de expressão – tanto individual quanto coletiva, tanto pessoal quanto institucional. Mas por sua vez regimes de exceção e situações de intolerância também podem levar ao silên- cio – mesmo que não imposto formalmente –, à fuga da manifestação, o que impede a plena informação e o debate, essenciais à formação de juízo de valor, de julgamento sobre os fatos e, por conseguinte, de opinião. Intolerância é ditadura, e a conjunção desses dois fatores leva à distorção opinativa. A revisão relativa à opinião pública permitiu o levantamento de conceitos ao longo do tempo – bem como, de obras e pesquisadores – levando a um cenário de possibilidades de compreensão. E, nesse sen- tido, concluiu-se o necessário para se permitir a plena compreensão do termo e de seus desdobramentos. Bem como entender a real dimensão do conceito e sua relevância como objeto de estudo e de influenciador da sociedade. A apresentação dos conceitos de relações públicas, bem como, a apresentação de sua trajetória puderam demonstrar a força crescente como campo de pesquisa e de atuação profissional no Brasil. Ainda que se trate de área relativamente jovem, apresenta massa crítica e conjunto de pesquisa e de pesquisadores que lhe dão substância (FARIAS, 2009). Discutir opinião na contemporaneidade é impossível sem que se olhe os elementos digitais que se incorporaram aos processos cotidianos 133 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO de comunicação no espaço dos indivíduos, das corporações, dos gover- nos etc. E, nesse sentido, pode-se entender que a intolerância, semelhante aos processos inquisitórios medievais, continua a acontecer e com uma capacidade destrutiva sem precedentes. A violência praticada por meio das comunicações é algo que precisa ser levado em conta e entendido como um fenômeno comparável aos grandes julgamentos e execuções públicas, nos quais os réus atendiam a uma demanda quase circense, não muito diferente do que ocorre hoje. Assim, construir sentidos e ge- rar opinião pública não é apenas uma luta de maiorias contra minorias, mas de uma disputa em meio a uma guerra de sentidos. E mesmo as chamadas minorias podem ser numericamente superiores, mas mino- rizadas (e popularmente chamadas de minorias, quando podem ser em diversos aspectos a maioria) pelos grupos detentores de maior poder. O subjugo semântico dá força à manutenção do poder àqueles que domi- nam o discurso. Acredita-se mesmo que os processos de formação da opinião pú- blica vêm se transformando, ou se transformaram ao longo do tem- po, em um continuum. Se no começo do século XX havia a imprensa convencional, tradicional, analógica para mediar e determinar os processos de transformação dos fatos em informação (atuando sob os diversos modelos de gestão da informação, como o gatekeeping, o fra- ming, o agenda setting etc), hoje ela se mescla às interações digitais – seja oriundas da grande mídia, agora analógica e digital, seja de grupos or- ganizados de mediação e midiatização, seja pelos indivíduos, de forma organizada ou não. Conclui-se que as relações públicas, como problematizado na In- trodução deste livro, influenciam de modo intencional, dentro de suas ações e estratégias, e nas condições a que tenha acesso, a formação da opinião pública, processo deliberado e orquestrado que se pode cha- mar ação persuasiva. A busca do consenso, da opinião favorável a de- terminados objetivos e causas é a própria semente. Isso faz parte do habitus da profissão, e faz parte da natureza das relações entre pessoas, organizações e governos, ou seja, de toda a sociedade. A revisão de literatura em relações públicas mostra que a produção ainda é um tanto cuidadosa no sentido de admitir de forma plena a ideia de se tratar de atividade/área/campo/ profissão destinada a mobilizações 134 Luiz-ALberto de FAriAs voltadas a interesses organizacionais – sejam de origem do primeiro, se- gundo ou terceiro setores. Ainda podem ser encontrados discursos mais brandos e até justificadores, como se houvesse ali, na ação de relações públicas, sempre, uma utilidade essencial para os públicos envolvidos. E ainda que haja, não há conflito de interesses, a priori, como é o caso de diversas atividades profissionais. Mas também pode-se pautar a ação de relações públicas com focos que sejam de fato contributivos a grupos mi- norizados, campanhas de interesse público etc, sem que isso se torne justi- ficativa ou razão para a permanente (auto)crítica. Esse argumento voltado ao pleno equilíbrio pode ser encontra- do na proposta de Grunig (1992) e Grunig e Hunt (2003) relativo ao conceito de relações públicas excelentes, chamado de forma um tanto pomposa teoria de excelência em relações públicas. A pesquisa desen- volvida pelos relações-públicas norte-americanos pautou-se na bus- ca de respostas relativa à ideia de retornos e investimentos, e chega à conclusão da possibilidade de políticasde relações públicas absolu- tamente pautadas no pleno equilíbrio entre as partes: organizações e públicos. E o pleno equilíbrio parece algo pouco crível, onde quer que se busque aplicar. A visão funcionalista manifestada por Grunig e outros tem seu valor, visto que apresenta uma proposta de modelo, que inclusive foi amplamente aceito por um largo espaço e tempo – e que se mostra hoje um tanto longe da realidade –, mas incapaz de observar a atividade de modo pleno e amplo. Esse tipo de recorte dá a ideia de uma atividade que está em sintonia de mão dupla, ignorando as tensões, as disputas simbólicas e de sentido, tão naturais ao campo da comunicação. Esse olhar pode ser contraposto pela ideia de relações públicas com visão crítica, na qual todas as atividades estão ligadas aos interes- ses sociais, mas certamente tem em si, em seu bojo, objetivos anteriores e ulteriores. E, nesse caso, o percurso construtivo da opinião pública estaria em sua natureza (PEREIRA, 2016). Isso poderia ser visto na ação voltada aos mercados financeiros (FARIAS, NASSAR, PARAVENTI, 2017) ou à gestão de crises e confli- tos (FARIAS, NASSAR, MIANO, 2017), entre tantos outros temas, que são parte essencial da literatura e da atividade profissional de relações 135 OPINIÕES VOLÁTEIS – OPINIãO PúbLIca E cONSTruçãO dE SENTIdO públicas, sem deixar de haver pesquisas que alicercem esses assun- tos. Nesses dois casos em destaque – mercados financeiros e gestão de crises de imagem – o interesse das organizações não está, a priori, em equilíbrio com os interesses da sociedade. Vale considerar que as relações públicas devem refletir o con- ceito de pluralidade. E isso porque faz parte de sua essência a análise dos cenários em que estejam presentes as controvérsias. Analisar os ambientes é parte do processo de planejamento das relações públicas, bem como, a identificação e o reconhecimento dos públicos envolvidos nesse processo. É de suma importância que se conheçam as diversas abordagens teórico-conceituais, a fim de que se possa compreender o campo, de forma ampla. Retomando o conceito de Edwards, entender as relações públicas como fluxo, o qual é processo permanente e em constante transformação (EDWARDS, 2012, p. 23). E ainda a contemporaneidade traz aos envolvidos com a comu- nicação – e a comunicação das e nas organizações – desafios das mais diversas ordens e grandezas, pois passa-se a ampliar o convívio e a ne- cessidade de equilíbrio entre gêneros, culturas, etnias, orientações se- xuais, diferenças físicas, religiões etc, seja com os públicos localizados no interior ou no exterior das organizações (RADFORD, 2012, p. 49). A popularização do acesso a mídias digitais e, por consequência, ao crescimento da presença dos indivíduos nas redes sociais em âm- bito digital, tem feito com que haja um novo discurso relativo à cons- trução de sentido. Como se de fato a plena democratização narrativo- -discursiva fosse realidade. E dificilmente seria assim, afinal o grande número de dados circulante nas redes digitais permite a grupos em- presariais e a organizações terem o domínio de boa parte dos perfis e das ações, inclusive com a invasão sutilmente consentida por meio dos aparelhos que vão à intimidade do cidadão para buscar seus textos, imagens e áudios e configurá-los algoritmicamente, a serviço de ações de propaganda e de marketing, sobre os quais não têm controle e cuja volumosa informação circulante lhes é imposta. Robôs e humanos em luta desigual na criação de informação, de sentido e, por conseguinte, de opinião. Campanhas – de produtos, serviços, fake news etc – brotam na rede, invadem por ações humanas, de bots ou ciborgues. 136 Luiz-ALberto de FAriAs Mutatis mutandis, a opinião é mesmo um sistema em permanente construção, absolutamente fluida. Fruto de informação frente às con- sequências originadas nos filtros a que se submetem, gerando percep- ções que vão além do lugar e do tempo, pois resultam de elementos impregnados ao pensamento que vêm de fora, da experiência e do re- lato de outrem. A pesquisa sobre a formação da opinião do indivíduo e a opinião pública têm um largo caminho a ser percorrido. Este trabalho é uma contribuição que reúne outros trabalhos – afinal todas as obras são na- turalmente fruto de polifonias – e faz conexão entre uma das áreas da comunicação e a amplitude relativa à opinião pública. Se diversos traba- lhos já foram produzidos, muito ainda há a ser pesquisado e debatido. Em tempos marcados por verdades absolutas, por discussões pautadas pela regra do pensamento linear e unânime, e até mesmo pela “xenofobia” destinada a quem habita outra bolha que não a sua, as formas de comunicação devem ser colocadas em xeque, reavaliadas. Homem e sociedade só evoluem com livre pensamento, livre-arbítrio e livre expressão. 137 Referências ANDRADE, C. T. de S. Curso de relações públicas, 2. ed. São Paulo: Atlas, 1977. ANDRADE, C. T. de S. Para entender relações públicas. São Paulo: Biblos, 1962. ARENDT, Hannah. a condição humana. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2000. BAKHTIN, M. estética de la creación verbal. Trad. de Tatiana Bubnova. Mé- xico: Siglo 21, 2003. BALDISSERA, R. Comunicação organizacional na perspectiva da complexi- dade. In: organicom revista Brasileira de Comunicação organizacional e relações Públicas. Ano 6. Números 10/11, 2009. BARBUJANI, Guido. a invenção das raças – existem mesmo raças humanas? Diversidade e preconceito racial. Trad. Rodolfo Ilari. São Paulo: Contexto, 2007. BAUDELAIRE, C. Paraísos artificiais – o haxixe, o ópio e o vinho. São Paulo: LP&M, 2007. BAUDRILLARD, J. tela total – mito-ironias do virtual e da imagem. Org. e trad.: Juremir Machado da Silva. Porto Alegre: Sulina, 2005. 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