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psicoterapia do ponto de vista de comportamentalista

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REVISTA BRASILEIRA DE ANÁLISE DO COMPORTAMENTO / BRAZILIAN JOURNAL OF BEHAVIOR ANALYSIS, 2007, VOL. 3, NO. 1, 121-144
RESUMO
O processo pelo qual o comportamento dos organismos é adquirido, modelado e eliminado, durante suas
transações com o ambiente, é o tema central das formulações da psicopatologia e da psicoterapia. A análise funcional
do comportamento de Skinner afirma que a descoberta de como variáveis ambientais controlam o comportamento
pode substituir explicações mentalistas e explicações fisiológicas inferidas. Uma característica proeminente daqueles
que realizaram as primeiras contribuições comportamentais ao estudo da doença mental era seu forte envolvimento
com a pesquisa básica com animais no início de suas carreiras e sua posterior preocupação com a aplicação desse
conhecimento aos problemas humanos. As abordagens comportamentais aos problemas clínicos, com sua ênfase na
aplicação de princípios de aprendizagem, opuseram-se também ao uso da epistemologia da vida mental e do
“modelo médico”. Uma importante contribuição de uma psicologia comportamental é a linguagem sobre a conduta
humana. A análise funcional do comportamento operante pode servir como uma linguagem para converter o
conhecimento encoberto, derivado da experiência, em termos objetivos e possibilitar que as práticas sejam refinadas
pela experiência e comunicadas. Esse texto apresenta as bases conceituais e as contribuições metodológicas da
psicologia operante, explorando, em seguida, as possibilidades de uma análise funcional das interações terapeuta-
paciente, com ênfase especial no papel do comportamento verbal.
Palavras-chave: psicoterapia, psicopatologia, interações paciente-terapeuta
ABSTRACT
The processes by which the behavior of organisms is acquired, shaped, and eliminated during the organism’s
transaction with the environment is the central theme of behavioral formulations of psychopathology and
psychotherapy. Skinner´s functional analysis of behavior asserted that the discovery of how environmental variables
controlled behavior could substitute for mentalistic and inferred physiological explanations. A prominent
characteristic of those who made the first behavioral contributions to the study of mental illness was their sustained
involvement in basic animal research and their concern with applying this knowledge to human problems.
Behavioral approaches to clinical problems, in addition to their emphasis on applying learning principles, also
opposed the use of the epistemology of the metal life and the “medical model”. An important contribution of the
behavioral psychology is a language about human conduct. The functional analysis of operant behavior can serve
as a language to convert experiential knowledge to objective terms so that practices can be refined by experience
and communicated. The present text presents the conceptual basis and methodological contributions of operant
psychology and explores the possibilities of a functional analysis of the interactions between patient and therapist,
emphasizing the role of verbal behavior.
Key words: psychotherapy, psychopathology, patient-therapist interactions
PSICOTERAPIA DO PONTO DE VISTA DE UM COMPORTAMENTALISTA1
PSYCHOTERAPY FROM THE STANDPOINT OF A BEHAVIORIST
1 Artigo originalmente publicado em 1979 como o Capítulo 12 do livro Psychopathology in Animals, Editado por J. D. Keehn, ISBN 0-12-403050-5, pela
Academic Press Inc. Tradução de Rachel Rodrigues Kerbauy (Universidade de São Paulo) revisado por Deisy das Graças de Souza (Universidade Federal
de São Carlos). Resumo e abstract extraídos do texto pelas tradutoras; a publicação original não incluía resumo.
CHARLES. B. FERSTER
O processo pelo qual o comportamento
dos organismos é adquirido, modelado e
eliminado, durante suas transações com o
ambiente, é o tema central das formulações de
psicopatologia e psicoterapia. As tradições de
Pavlov, Hull e Skinner salientaram a
plasticidade do comportamento humano,
principalmente através das descobertas em
laboratório com animais. Os experimentos de
Pavlov com o reflexo condicionado em cães e as
extensões de Watson para seres humanos
conduziram às aplicações dos princípios de
aprendizagem à psicopatologia. Ambos criaram
modelos de patologia comportamental no
laboratório e as trataram manipulando as
mesmas variáveis pelas quais cada patologia foi
C. B. FERSTER
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criada. Pavlov observou o subproduto
“neurótico” dos procedimentos do
condicionamento salivar. Watson, no
experimento que fez o menino Alberto temer
objetos de pêlo, criou uma disfunção pelo
condicionamento reflexo da resposta a um ruído
forte. A tentativa de reverter a disfunção
empregou os mesmos processos, em um
procedimento semelhante ao que Wolpe,
posteriormente, denominou inibição recíproca
e relaxamento progressivo. Apesar da
epistemologia de causas cerebrais do
comportamento de Pavlov e da construção de
variáveis intervenientes neurológicas de Hull
(1943), todos esses programas pioneiros de
pesquisa compartilhavam a noção de que os
processos comportamentais eram ordenados e
controlados pelo ambiente. A análise funcional
do comportamento de Skinner, a mais recente
explicação sobre o mesmo tema, asseverou que
a descoberta de como as variáveis ambientais
controlam o comportamento poderia substituir
as explicações mentalistas e fisiológicas inferidas.
O behaviorismo radical de Skinner estabeleceu
um modelo de um programa de pesquisa que
alcançou grande magnitude no controle do
comportamento do organismo individual.
TERAPIAS COMPORTAMENTAIS COMO METÁFORA
DO CONTROLE COMPORTAMENTAL
Uma característica proeminente daqueles
que realizaram as primeiras contribuições
comportamentais ao estudo da doença mental
era seu forte envolvimento com a pesquisa básica
com animais no inicio de suas carreiras e sua
posterior preocupação com a aplicação desse
conhecimento aos problemas humanos. Apesar
da preocupação primordial de Pavlov com a
pesquisa técnica de laboratório, ele se refere à
patologia humana e a aplicações aos problemas
humanos em sete de suas 23 aulas, que resumem
o trabalho de sua vida (Pavlov, 1927). Na aula
20, por exemplo, ele escreveu sobre “a gravidez
imaginária e outros tipos de doenças
imaginárias”. John B. Watson (1968), que se
empenhou, nos 20 anos iniciais de sua carreira,
em pesquisa básica com animais, contribuiu no
experimento com o pequeno Alberto, em
colaboração com Raynor, no momento em que
estava saindo de seu trabalho acadêmico no
laboratório. O livro Behaviorismo (Watson,
1919, 1930), que estava destinado a ser o clarim
de chamada do behaviorismo, foi publicado
depois que ele deixou o trabalho de laboratório.
Em 1953 Skinner concentrou-se em escrever
Ciência e comportamento humano e aplicar os
princípios do condicionamento operante à
educação, à psicoterapia, e a outras iniciativas
sociais amplas. A carreira daqueles que, como
Azrin, Ferster e Sidman, passaram de uma
intensa dedicação à pesquisa básica com
animais, para o trabalho em hospitais de
doenças mentais, escolas para retardados,
educação, psicoterapia, e extensões teóricas dos
princípios de reforçamento operante aos
problemas de depressão, obesidade, e da origem
da doença mental, espelhou-se na carreira
dividida de Skinner. Para cada um desses
cientistas, os resultados conseguidos com a
pesquisa animal levaram à convicção de que os
métodos poderiam ser expandidos de modo
efetivo e poderoso para as preocupações com os
humanos. O condicionamento operante teve
um impacto especial naqueles interessados na
extensão das descobertas do laboratório aos
problemas clínicos, talvez porque tantas das
características do trabalho de laboratório da
psicologia operante estavam de pleno acordo
com os procedimentos clínicos, particularmente
PSICOTERAPIA E COMPORTAMENTALISMO
123
a ênfases no comportamento dos sujeitos
individuais, mais do que as médiasdos grupos
e a inferência estatística (Ferster, 1974).
A experiência de condicionar um pombo,
muitas vezes relatada tanto por iniciantes
quanto por profissionais, ilustra a valorização
especial que liga muitos psicólogos
experimentais ao campo clínico. O
experimentador, entrando em contacto com o
animal apenas por meio de um botão, aumenta
instantaneamente a freqüência de um ato e o
modela em uma nova forma complexa, em
questão de minutos. É necessária uma dose
adequada de arte, mais do que uma aplicação
mecânica, mesmo que o experimentador saiba
que certamente cedo ou tarde, ele produzirá o
comportamento condicionado. A interação tem
um forte sabor clínico porque o experimentador
precisa observar os detalhes do comportamento
do pombo e ajustar suas ações às peculiaridades
do comportamento da ave individual. Nenhum
pombo é tão difícil que o experimentador não
possa ser bem sucedido e nenhuma tarefa é
difícil demais para ser tentada. A demonstração
mostra o controle ordenado do comportamento
e esclarece como os procedimentos de
reforçamento interagem com o comportamento
da ave para produzir o resultado esperado. Mas
o que é especialmente importante, é que o
experimento também demonstra outro aspecto
do controle: a habilidade que o experimentador
adquire. Ele ou ela estabelece como alvo o
aumento da freqüência de um ato particular,
pressiona o botão que apresenta o reforçador, e
instantaneamente, vê o aumento dramático em
sua freqüência. Quando o experimentador deixa
de pressionar o interruptor, o comportamento
torna-se menos freqüente e desaparece. Ele tem
a sensação tanto de ter criado, como diminuído
um comportamento. É um evento dramático,
compartilhado por muitos daqueles com
intenso investimento em psicologia
comportamental, o que explica como tantos
experimentadores na tradição operante
encaminham-se para os limites entre a ciência
natural e a prática clínica.
Essa metáfora do controle estendeu-se
ainda mais com as pesquisas sobre esquemas de
reforçamento com pombos (Ferster & Skinner,
1957), que permitia antecipar um milhão de
bicadas por mês em um sujeito individual,
como também controlar detalhadamente,
momento a momento, aspectos do
comportamento do animal. A experiência
reforçou a convicção, como acontecera com os
resultados do experimento de Watson-Raynor
com Alberto, de que o comportamento é
plástico e que a patologia humana pode ser
igualmente reversível se a submetermos a
contingências de reforçamento análogas. Esse
estilo de pesquisa, no qual a variável dependente
era a freqüência do desempenho de um sujeito
individual, deu um ar clínico às pesquisas do
laboratório de condicionamento operante. Os
procedimentos experimentais eram ajustados
continuamente, dependendo do
comportamento do sujeito; os fatores
responsáveis pela singularidade do animal eram
levados em consideração, os animais cujo
comportamento se desviava do esperado não
eram automaticamente descartados; e mudanças
no comportamento tinham magnitude
suficiente para terem utilidade prática.
Walden Two (Skinner, 1948), uma ficção
sobre um modelo de sociedade na qual uma
vida ótima era construída baseando suas
práticas e tipos de controle em princípios de
comportamento, funcionou como um
poderoso estimulante, mais ou menos como
o experimento com Alberto, para a idéia de
C. B. FERSTER
124
que uma vida utópica poderia ser alcançada
pela aplicação dos princípios
comportamentais.
Não é tão surpreendente que tantos
cientistas tenham reagido ao sucesso com que
controlavam o comportamento no laboratório
como um prelúdio para estender suas
habilidades e descobertas aos problemas
humanos. Além de sua utilidade inerente, a
solução dos problemas humanos práticos é
uma fuga do isolamento social do laboratório
teórico, onde a primeira tarefa poderia ser
definida como “descobrir mais e mais sobre
menos e menos.” O laboratório é um
empreendimento solitário no qual as
descobertas abstratas freqüentemente não têm
uma ligação direta com atividades práticas, e
onde é não somente possível, como desejável,
criar e estudar fenômenos que podem não
existir na natureza. Conquistas significativas
do laboratório geralmente requerem esforço
constante, longo e intenso e o pesquisador
trabalha sem colaboração e apoio de seus
colegas.
É paradoxal que Freud, que serviu como
contraste para tantos que defenderam o estudo
e o tratamento do comportamento humano
como ciência natural, tenha vindo de uma
tradição semelhante à de Pavlov, Watson e
Skinner. Por um período de 20 anos, desde a
escola de medicina até iniciar a prática clínica,
Freud estava interessado principalmente na
histologia, neurofisiologia, neuro-anatomia e
neurologia, gastando mais tempo no
microscópio que como clínico. É geralmente
aceito que a epistemologia da vida mental de
Freud é uma metáfora de seu conhecimento do
arco reflexo. Foi o sucesso com o poder da
ciência natural no laboratório, misturado com
o isolamento social do trabalho, que conduziu
Freud, assim como Pavlov, Watson e Skinner,
ao trabalho prático com pessoas.
É tentador especular que o pequeno
impacto que Lewin (1935), Guthrie (1935) e
Tolman (1932) tiveram na extensão das leis
básicas da aprendizagem aos problemas clínicos
esteja relacionado à ausência de um
envolvimento substancial na pesquisa técnica
de laboratório que alcançou controle explícito
sobre o comportamento. Na mesma linha, não
surpreende que Miller (1941, 1944) e Salomon
(1977), cujas pesquisas com animais no
laboratório adquiriram considerável controle
sobre o comportamento do sujeito individual,
tenham escrito mais sobre as implicações clínicas
de seu trabalho do que fizeram outros
estudantes de Hull.
ABORDAGENS COMPORTAMENTAIS DA
PSICOPATOLOGIA COMO UMA REAÇÃO CONTRA O
“MODELO MÉDICO”
As abordagens comportamentais aos
problemas clínicos, acrescidas de sua ênfase em
aplicar princípios de aprendizagem, também se
opuseram ao uso da epistemologia da vida mental
e do “modelo médico”, um legado da prática
médica de Freud com pacientes que se queixavam
de dificuldades somáticas, tais como anestesias
ou paralisias. Outros impulsos para definir
neurose como patologia médica, originaram-se
no esquema conceitual do seu treino neurológico
que Freud adotou, tendo como modelo a falha
da descarga nervosa, que causa variações
somáticas dos impulsos não canalizados. O
surgimento da psicologia do ego, com sua ênfase
em uma gama de transações humanas mais
amplas que a resolução dos conflitos, foi o
desenvolvimento que abriu a psicoterapia para
profissionais não médicos (Hartman, 1950).
PSICOTERAPIA E COMPORTAMENTALISMO
125
A oposição ao modelo médico não se
restringiu aos psicólogos comportamentais, mas
tomou a forma de grupos de sensibilidade,
terapia não diretiva, biofeedback, treino de
assertividade, métodos de grito primal, terapia
emotivo racional e muitas outras. É tentador
pensar na terapia comportamental cognitiva
(Mahoney, 1977) como outro exemplo de
oposição ao modelo médico, mesmo que em
outros aspectos a proposta seja semelhante à de
Freud. A semelhança entre as cognições como o
dado principal, e a afirmação de Freud de que
ele lidava com a representação mental da
experiência atual, coloca a teoria cognitiva mais
perto da estrutura teórica da psicologia
psicodinâmica que do comportamentalismo.
Todas essas abordagens da psicoterapia são
denominadas de comportamentais, não no
sentido de que sejam conduzidas pelos
princípios de aprendizagem e pela descrição
objetiva do comportamento, mas porque elas
rejeitam as afirmações da teoria freudiana a
respeito do lugar central da resolução do
conflito, que é ligado com a epistemologia
freudiana da descarga motora.
OS PRINCÍPIOS DE APRENDIZAGEM E AS CIÊNCIAS
NATURAIS COMO REFERENCIAL PARA ESCLARECER A
PRÁTICA CLÍNICA
A aplicação dos princípios
comportamentais sob o rótulo de terapia
comportamentale modificação do
comportamento contrasta com o emprego mais
amplo do comportamentalismo, como um
conceito científico natural, da natureza humana.
Inicialmente, por meio do trabalho
pioneiro de Eysenck (1957) e de Wolpe (1958),
as implicações dos escritos de Pavlov e Watson
encontraram sua expressão na prática clínica
vigente, como terapia comportamental. Como
é inevitável na prática clínica, é difícil dizer
quanto da terapia é guiada pela teoria
orientadora e quanto pela interação e descoberta
com o paciente. Os terapeutas estão
reconhecendo cada vez mais a importância da
habilidade clínica, na interação com o paciente,
bem como a necessidade de ajustamento
contínuo do procedimento clínico. De modo
semelhante, na prática da modificação do
comportamento Azrin (1977) vem salientando
a importância de que os métodos clínicos se
desenvolvam naturalmente e a importância das
interações nas quais as mudanças no
comportamento do paciente modelam o
procedimento clínico do terapeuta. As
implicações dessas tendências são uma contínua
separação das tarefas da terapia comportamental
e da psicologia comportamental. Os
procedimentos clínicos estão se tornando
orientados pela prática e pela experiência, talvez
até mesmo adotando práticas das terapias
convencionais. A terapia comportamental e a
modificação do comportamento parecem estar
se orientando mais pelos procedimentos práticos
descobertos no campo.
Qual é, então, a relevância e a
aplicabilidade de uma ciência do
comportamento? Ela não se encontra em
posição de descobrir os tipos de fenômenos
complexos que os escritores, comentaristas
sociais, filósofos e clínicos descrevem. Uma
importante contribuição da uma psicologia
comportamental é uma linguagem sobre a
conduta humana, uma língua franca que seja
uma alternativa à linguagem comum e à
epistemologia mentalista da psicologia e da
filosofia psicodinâmicas. Os clínicos experientes
parecem ser capazes de se comunicarem
eficientemente uns com os outros, e há
C. B. FERSTER
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freqüentemente acordo de que alguma coisa
relevante, substantiva, está sendo comunicada
quando um clínico experiente está falando. Mas
freqüentemente é difícil saber em detalhes qual
parte da terapia resulta em beneficio para o
paciente. Na medida em que é possível
descrever o que acontece, uma transmissão eficaz
parece ocorrer entre pessoas que já sabem
bastante daquilo que está sendo dito.
A linguagem comportamental tem a
mesma vantagem para o trabalho clínico que a
fisiologia tem para a medicina. O reforçamento,
como a conseqüência imediata de um
desempenho, é o alicerce da linguagem cientifica
sobre o comportamento porque nos permite
observar os detalhes dos componentes de uma
atividade complexa em acréscimo ao seu
funcionamento mais amplo. O principio básico
de uma descrição comportamental é a separação
da conduta humana, no ato em si, e a mudança
que produz no ambiente, se essa mudança é no
ambiente externo, dentro do indivíduo, ou em
outra pessoa. Muitos clínicos reclamam que
descrever em detalhes um ato complexo retira
dele a qualidade essencialmente humana - e há
razões para compartilhar essa preocupação. A
minúcia de detalhes do experimento e a visão de
conjunto de um praticante ilustram bem como
a ciência e a prática se complementam. Um dos
lados é ilustrado pela metáfora da pessoa com
doutorado como aquela que sabe mais e mais
sobre menos e menos, e de outro lado pelo
praticante, como a fonte de conhecimento
adquirido nas interações diárias com os
problemas da existência humana. É importante
olhar, para além de uma linguagem particular -
clínica, coloquial ou mentalista, para a observação
do paciente que deu margem à fala do clínico. É
razoável supor que o clínico eficiente, levado a
falar, viu alguma coisa importante. O psicólogo
experimental requer a colaboração do clínico para
saber quais são as experiências humanas
importantes a serem formuladas cientificamente
e quais de suas dimensões são particularmente
salientes. De outra maneira, como poderiam os
cientistas naturais saber quais espécimes colocar
sob o microscópio? Um sentido de controle é
ilustrado quando o alimento é empregado para
condicionar comportamento, como no
experimento com pombos descrito previamente.
Outro sentido de controle é a análise funcional,
depois do fato, que relaciona o que aconteceu
com as variáveis das quais o fato é função. É nesse
último sentido que a análise funcional do
comportamento operante pode servir como uma
linguagem para converter o conhecimento
encoberto derivado da experiência em termos
objetivos e possibilitar que as práticas sejam
refinadas pela experiência e comunicadas. Uma
função da teoria da aprendizagem tem sido
analisar vários modelos de terapia.
Análise Psicológica da Terapia Psicodinâmica
Desde a publicação do texto sobre
psiquiatria de Masserman (1943), no qual ele
tentou relacionar a patologia humana aos
experimentos com animais em laboratório, tem
havido um constante progresso dos teóricos que
tentam estabelecer uma ponte conceitual entre
a psicologia experimental e a clínica, no sentido
de uma análise funcional do fenômeno. O livro
pioneiro de Dollard e Miller (1950)
Personalidade e psicopatologia foi uma das
primeiras tentativas explícitas de aplicar, de uma
maneira conceitual ampla, princípios de
aprendizagem à psicoterapia. Eles seguiram a
direção apontada por Watson, de que os
princípios de aprendizagem poderiam conduzir
todo o intercâmbio pessoal com o ambiente e
esclarecer como padrões anormais emergem e
PSICOTERAPIA E COMPORTAMENTALISMO
127
como as mudanças no ambiente poderiam ser
realizadas na terapia, para alterar os padrões
individuais de comportamento, para outros
padrões que seriam mais efetivos para manter
seu comportamento nas condições atuais.
Diferente de Watson e das terapias
comportamentais que seguiram a direção de
Wolpe (1958), Dollard e Miller aceitaram a
terapia psicodinâmica como um
empreendimento prático e utilizaram
princípios da aprendizagem para tornar a teoria
e a prática comunicáveis. Como aqueles que
tentaram anteriormente aplicar a ciência à
prática, eles assumiram que padrões patológicos
de comportamento foram aprendidos, como os
normais, e que toda terapia influencia o
comportamento através dos processos que
descrevem como a aprendizagem ocorre.
Dollard e Miller reconciliaram duas tradições.
Primeiramente existia a psicanálise como um
modelo influente de tratamento e a
esquematização teórica das causas da
psicopatologia. Como a teoria da
aprendizagem, a psicanálise buscava as causas
do comportamento anormal no inicio da
história pessoal e social da criança. Dollard e
Miller aplicaram as tradições de Pavlov,
Thorndike, Hull e da aprendizagem social como
uma tentativa de trazer a conduta patológica,
revelada por Freud, para a visão de eventos
naturais que podem ser descritos
cientificamente. O pressuposto subjacente das
duas perspectivas – a psicodinâmica e a
comportamental - era que os fenômenos
obedecem a leis estáveis.
Wachtel (1977), um psicanalista que
também sofreu a influência de Dollard e Miller,
continuou uma empreitada semelhante, embora
seu livro, Psicanálise e terapia comportamental,
tenha enfatizado informações da prática clínica
que os princípios de aprendizagem deveriam,
em alguns casos, contribuir para esclarecer.
Wachtel, de sua visão privilegiada como
terapeuta, foi capaz de descrever o
comportamento do paciente e do terapeuta
em mais detalhes do que normalmente se
encontra, tanto em casos clínicos como em
escritos comportamentais. Sua apresentação
dos principais temas da teoria e da prática
psicodinâmica beneficiou-se das relações que
ele encontrou entre a teoria comportamental,
principalmente na abordagem de Dollard e
Miller, e algumas das práticas da terapia
comportamental. A visão de Wachtel da teoria
psicodinâmica pode servir como um iníciopara os psicólogos de orientação
comportamental que gostariam de pensar
sobre o fenômeno comportamentalmente,
como Miller e Dollard o fizeram.
Condicionamento Operante
A abordagem do condicionamento
operante para uma concepção da conduta
humana pode ser representada por dois livros.
O primeiro é o livro introdutório, clássico, de
Keller e Schoenfeld (1950), que se inicia com a
explicação dos princípios de aprendizagem,
principalmente com animais, e termina com
capítulos sobre o comportamento emocional e
social na situação natural. O segundo é o livro
Ciência e comportamento humano de Skinner
(1953), que formula as principais dimensões
da vida humana, pessoal e social, em uma
perspectiva de princípios operantes. Como a
aplicação da teoria de aprendizagem de Hull
por Dollard e Miller à prática psicanalítica,
Keller e Schoenfeld e Skinner usaram os
princípios de aprendizagem para esclarecer o
conhecimento do comportamento humano
adquirido em outras fontes. Keller e Schoenfeld
C. B. FERSTER
128
salientaram as observações feitas pelas outras
especialidades psicológicas, diferentes do
condicionamento operante, enquanto Skinner
explicou o controle comportamental envolvido
nas observações rotineiras das agências humanas,
como a lei, o governo, a psicoterapia e a religião,
e em comportamentos complexos como
autocontrole, eventos privados, e causação
múltipla de repertórios. Essa visão panorâmica
que Skinner apresentou, sobre grandes áreas de
controle comportamental, serviu pra delinear
os tipos de variáveis independentes que
deveriam ser examinadas e os dados empíricos
que deveriam ser observados. O capítulo sobre
autocontrole, em Ciência e comportamento
humano, por exemplo, serviu com um
paradigma para Ferster (1962) trabalhar com
o controle alimentar, o que, em contrapartida,
estimulou uma série de aplicações à pesquisa
empírica. A análise funcional do repertório de
pessoas depressivas (Ferster, 1972) representa
exemplo semelhante do emprego do paradigma
básico, por propor-se a analisar funcionalmente
os comportamentos componentes através do
processo básico do comportamento operante.
A análise funcional da depressão representa uma
mudança no emprego dos princípios do
condicionamento operante das técnicas de
tratamento para seu emprego complementar
com observações clínicas. A discussão da
depressão começou assim:
A primeira tarefa de uma análise comportamental
é definir o comportamento objetivamente, dando
ênfase a classes funcionais (genéricas) de
desempenhos que estejam de acordo com fatos que
prevalecem na clínica, cujos componentes
comportamentais possam ser observados,
classificados e contados. Então é possível
descobrir, pela aplicação dos princípios
comportamentais, o tipo de circunstâncias que
permitem aumentar ou diminuir a freqüência de
certos tipos de atuação. Finalmente, um relato
objetivo do fenômeno da depressão pode
oferecer-nos um esquema para a experimentação
que nos permita medir de maneira válida
fenômenos clínicos complexos. Um relato objetivo
a respeito da relação funcional entre o
comportamento de um paciente e suas
conseqüências no ambiente físico e social
permitirá identificar itens eficazes de um
procedimento terapêutico que possam ser aplicados
seletivamente e com maior freqüência. (p.85,
destaque acrescentado).
O mesmo paradigma é representado pela
descrição do repertório da criança autista e seu
desenvolvimento no ambiente natural (Ferster,
1967a). Apesar do grande número de
experimentos tentando ampliar o repertório
de crianças autistas que esse relato estimulou,
é importante notar que os experimentos
iniciais – demonstrando o sucesso da
modificação no laboratório, do repertório de
uma criança autista com reforçadores
arbitrários, como alimento ou fichas – foram
apresentados como uma força tarefa. O
repertório comportamental desenvolvido por
essas crianças, embora não tão complexos como
aqueles envolvidos em um repertório social
normal, foram utilizados para indicar a
existência de um processo normal em um nível
básico. A discussão do experimento concluiu:
 Nós não consideramos essas técnicas
como tentativas de reabilitação, mas como uma
análise experimental dos repertórios atuais e
potenciais dessas crianças. Se for provado que é
possível desenvolver e ampliar repertórios
comportamentais significativos na sala
experimental, então isso indicaria a
PSICOTERAPIA E COMPORTAMENTALISMO
129
possibilidade de que o mesmo potencial para
modificação comportamental exista no meio
social, se as condições adequadas puderem ser
produzidas. (p.97).
Recomendações para terapias específicas
estão praticamente ausentes nas publicações
de Skinner, apesar de seu apoio para esse
modelo de tratamento. Skinner teve
experiência própria somente no campo da
educação, para o qual ele sugeriu métodos
específicos de prática (Skinner, 1968). No
entanto, ele escreveu sobre sistemas de
classificação da prática existente, como em
Ciência e Comportamento humano.
 A ênfase da psicologia operante no repertório
positivamente reforçado. Uma importante
contribuição do condicionamento operante
para a terapia clínica é a ênfase no
desenvolvimento e manutenção de um
repertório global. Até certo ponto, essa ênfase
parece ser um resultado natural do viés
instrucional da abordagem operante; e em parte
é um subproduto da experiência, com o controle
técnico, em a filigrana, do comportamento, que
foi discutido anteriormente. O grande impacto
emocional de Walden Two (1948) em tantos de
seus leitores parece derivar de sua promessa de
que toda a sociedade pode ser reforçada
positivamente e acentuar a capacidade de todos
os seus membros. Pavlov, Masserman e Miller
e Dollard estiveram preocupados, em suas
aplicações da pesquisa do laboratório aos
problemas humanos, com o efeito destrutivo
das experiências aversivas. No entanto, antes
que Skinner abrisse a possibilidade do estudo
técnico do reforçamento positivo no sujeito
individual, existiam poucas maneiras de
estudar a modelagem e a manutenção do
repertório subjacente, cuja destruição pelo
impacto da estímulação aversiva era a razão de
preocupação. Havia não somente a
possibilidade de que alguns prejuízos fossem
o resultado de um repertório subjacente fraco,
mas começou a surgir também a noção de que
muitos repertórios importantes podiam estar
ausentes porque o indivíduo nunca encontrou
a experiência necessária em seu
desenvolvimento – essencialmente uma lacuna
de desenvolvimento. Embora Hull tenha
lidado bastante com esse assunto,
especialmente na discussão da “força do
hábito”, a ênfase em construtos hipotéticos
inferidos e em experimentos que testavam
hipóteses estatisticamente, sem tratar
diretamente com o processo comportamental
do indivíduo, enfraquecia o impacto de seu
trabalho em assuntos clínicos. Vários daqueles
para os quais Walden Two foi uma visão de uma
nova sociedade, que poderia se tornar possível
se os princípios de reforçamento positivo
fossem amplamente aplicados aos problemas
sociais, tinham a experiência de modelar e
manter solidamente o comportamento de um
pombo individual. Eles tinham tido a
oportunidade de observar em primeira mão,
ou por ler um registro acumulado,
conhecimentos de um processo
comportamental básico, como os estudos de
O Comportamento dos organismos (Skinner,
1938) e os de Estes (1944).
A ênfase da psicologia operante no
repertório atual como um produto da interação
de uma pessoa com o ambiente físico e social
tem um paralelo na história da psicologia
psicodinâmica. A formulação de Freud
salientava o domínio da perturbação dos
principais componentes do repertório
socialmente eficaz como um subproduto dos
conflitos que eles engendravam. A terapia
comportamental tem a mesma crença da visão
C. B. FERSTER
130
inicial de Freud quando procurava remover os
resíduos destrutivosde episódios traumáticos
passados. As formulações psicodinâmicas mais
recentes da psicologia do ego (Hartmann,
1950) salientaram uma esfera de
desenvolvimento comportamental que podia
agir independente dos impulsos biológicos e
instintivos e dos conflitos que produziam. As
formulações dos psicólogos do ego são
consistentes com os processos que emergem da
interação com o ambiente por meio dos
processos básicos de reforçamento positivo.
ANÁLISE TÉCNICA DO COMPORTAMENTO: UMA
MANEIRA DE DESCREVER UMA INTERAÇÃO
TERAPÊUTICA COMPLEXA, DE FORMA OBJETIVA
COMUNICÁVEL E EM DETALHES
A principal contribuição dos princípios
do condicionamento operante é a precisão que
pode ser alcançada na descrição dos eventos
naturais que estão ocorrendo. Se a análise é um
complemento da prática clínica, será então
necessário contribuir para a observação e
descrição do fenômeno clínico como ele ocorre
em toda sua complexidade, no ambiente
natural. Keehn e Webster (1969) fizeram a
mesma distinção quando diferenciaram entre a
terapia comportamental e a modificação de
comportamento. Eles definiram a tarefa da
análise comportamental (modificação) como
uma maneira de entender como o
comportamento é adquirido e alterado, e por
isso aplicável aos objetivos da psicodinâmica
como também da terapia comportamental. Um
trabalho de Ferster (1967b) descrevendo os
detalhes das interações de uma terapeuta
experiente com uma criança autista, exemplifica
como uma descrição objetiva no nível do
desempenho com reforçadores imediatos
contribui para a comunicabilidade e o
refinamento da terapia. É importante salientar
que as descrições eram da filigrana dos
desempenhos da terapeuta e da criança e que a
significância funcional da interação forneceu um
quadro que complementava as descrições
objetivas dos eventos imediatos.
Consistente com esse esforço colaborativo,
a terapeuta e o experimentador apresentaram
contribuições e obtiveram ganhos. O
experimentador aprendeu sobre as maneiras
engenhosas pelas quais a terapeuta influenciava
a criança. Em acréscimo à análise funcional das
interações por meio de princípios do
comportamento bem conhecidos, emergiu um
conteúdo que só poderia ser descoberto a partir
da experiência, da habidade, e do inesperado
vivenciados pela terapeuta e pelo paciente
enquanto modelavam, por reforçamento
diferencial, seus respectivos repertórios. Da
perspectiva da terapeuta, a descrição
comportamental da terapia permitiu que
pequenos componentes dela se tornassem visíveis
e comunicados em detalhe. A terapeuta,
descrevendo a maneira como a análise do
comportamento influenciou seu trabalho,
relatou que agora ela pode explicar pequenos
procedimentos passo a passo de modo que sua
terapia ficava menos intuitiva e misteriosa.
Como resultado disso, ela estava mais atenta
para os detalhes dos eventos que tornavam
eficiente o seu trabalho com as crianças e podia
refiná-los, torná-los mais intensivos, e ensinar
a outras pessoas habilidades semelhantes.
Falando de sua experiência com a análise do
comportamento, ela disse: “Sou capaz de ver os
minúsculos pequenos passos e explicar muito
melhor o que estou fazendo com a criança, e
assim, a mágica está fora de Linwood – o que
penso ser maravilhoso” (Ferster, 1976b, p.149).
PSICOTERAPIA E COMPORTAMENTALISMO
131
REFORÇAMENTO ARBITRÁRIO E NATURAL E A
NATUREZA GENÉRICA DO COMPORTAMENTO
OPERANTE
A distinção entre reforçamento arbitrário
e natural (Ferster, 1967a, 1972a, 1974) refere-
se a uma definição genérica do comportamento
operante (Skinner, 1938; Findley, 1962) e
consiste em um conceito crucial para a
aplicação dos princípios comportamentais às
modificações comportamentais que ocorrem
na prática clínica. Resumindo, os
procedimentos terapêuticos são arbitrários
quando os comportamentos que eles reforçam
são operantes diferentes daqueles da vida
diária do paciente e nos quais incidem os
problemas clínicos.
A análise de um exemplo relativamente
simples do comportamento animal ilustra o
princípio de que o desempenho operante é uma
classe de atividades definida não por sua
topografia, mas pela alteração no ambiente
(reforçador) que, em contrapartida, aumenta
sua freqüência. Assim, o som do alimentador
que funciona quando o rato pressiona a barra
aumenta a freqüência daqueles movimentos que
deslocam a barra o suficiente para acionar o
mecanismo que disponibiliza o alimento. Há
uma conexão natural entre os movimentos do
rato que aumentam de freqüência, as
propriedades físicas da barra e o dispositivo
elétrico que ela fecha. Porque o reforçador
aumenta a freqüência dos desempenhos que ele
segue, é possível descrever a pressão à barra
como um tipo de comportamento que fecha o
circuito elétrico, mais do que pela topografia
do movimento. Existe uma relação semelhante
entre o desempenho e o reforçador quando
viramos o volante ou pressionamos o freio do
automóvel. A topografia dos movimentos da
mão e do pé que são reforçados é determinada
pela mudança na direção do carro ou sua
desaceleração. O desempenho e seu resultado
constituem uma unidade comportamental
integral, na qual um define o outro. A
manutenção de tais formas de comportamento
é virtualmente automática e tão estável quanto
a relação natural do desempenho e as mudanças
no ambiente que o mantém.
Há inúmeros exemplos desses
desempenhos reforçados pela conexão física
natural com as mudanças que eles produzem no
ambiente. Os movimentos necessários para andar
de bicicleta são reforçados pelas mudanças
produzidas no balanceamento do ciclista com a
gravidade; os movimentos de uma chave de fenda
são modelados pela sua posição na ranhura do
parafuso; os movimentos iniciais de “vestir o
casaco” são reforçados pela posição do braço na
manga; os movimentos de despejar água são
reforçados pelo cair água no copo; os movimentos
da pele do pescoço e do corpo da foca são
reforçados pelo balanço da bola no nariz da foca;
a magnitude do fechar e abrir os olhos é
controlada pela intensidade da luz que bate nos
olhos; e o movimento da pena sobre o papel é
reforçado pelos formatos dos caracteres que
aparecem e pela sua correspondência com as
práticas normais da comunidade verbal da pessoa
que usa a caneta. Em todos esses casos há uma
primorosa interação entre o desempenho e as
mudanças no ambiente que são fisicamente
conectadas a ele. A unidade comportamental é
estável e precisa e é mantida por tanto tempo
quanto as leis físicas continuarem atuando. Os
efeitos deletérios do desenho no espelho, as
tentativas de escrever de olhos vendados, de falar
sem ouvir os sons, ilustram o que acontece sem
uma conexão natural, genérica, entre o
desempenho e seu reforçador.
C. B. FERSTER
132
Os contrastes e alternativas para esses
reforçamentos genéricos são virtualmente
impensáveis. Não há uma maneira prática de
que o reforçamento com alimento possa reforçar
as nuances da escrita, mesmo se aplicado como
um reforçador condicionado antecedente. É
difícil conceber como as nuances dos
movimentos da musculatura vocal possam ser
reforçados por outra coisa que a conexão
genérica fina resultante dos padrões auditivos.
Por essa razão, muitas tentativas de reforçamento
arbitrário ocorrem depois de um encadeamento
comportamental no qual esses exemplos são os
primeiros deles. Mas as mesmas propriedades
do reforçamento genérico operam mesmo
quando essas atividades são os comportamentos
iniciais em uma cadeia, contribuindo para outro
efeito prático ou para as interações sociais.
Considere, por exemplo, o comportamento de
colocar o casaco de uma criança, reforçado por
alimento. É claro que o alimento pode ser
empregado para ensinar a criança a colocar o
casaco utilizando aproximações sucessivas do ato
completo. O casaco é mantido na posição
adequada e algum reforçador condicionado,
derivado de alimento, pode reforçar
precisamente as aproximações requeridas. Nesseestágio, a posição das mãos da criança na manga
do casaco pode ser um reforçador para uma
cadeia de comportamentos que conduza a
alimento ou fichas, como a pressão à barra para
o rato pode ser reforçador para olhar a posição
da barra e manipular manualmente o
dispensador de alimento quando ele se move
na distância requerida. O problema não é se
um reforçador ou outro pode reforçar
diferencialmente o comportamento de colocar
o casaco, mas os efeitos colaterais indesejáveis e
quanta sobreposição há, em colocar o casaco,
por alimento e colocá-lo, para ficar aquecido.
Tecnicamente, os dois casos são cadeias de
desempenhos, nos quais os primeiros
componentes são reforçados, pela posição do
casaco no braço da criança. O segundo
componente é tanto a ficha, no caso arbitrário,
como o alivio do frio, no caso natural.
Reforçamento Natural
O diagrama da Figura 1 mostra o
repertório da criança e do terapeuta interagindo
entre si quando o reforçamento é natural. Todos
os reforçadores que mantém o vestir estão na
parte inferior do diagrama. Colocar o casaco é
o elo inicial da cadeia, a segunda parte é um
operante negativo – esquiva das temperaturas
frias. A tarefa do terapeuta é inteiramente
instrucional, provendo um apoio colateral que
é diminuído à medida que a criança realiza mais
e mais o vestir. No início, o terapeuta coloca o
casaco na criança, com exceção da última manga.
Ele coloca o braço da criança na entrada da
manga e assim, com uma simples extensão do
seu braço, a criança completa o vestir. Com o
casaco, a criança pode ir para fora sem sentir
frio. Com aproximações sucessivas do repertório
final, o terapeuta contribui progressivamente
menos, até que o vestir esteja completo, sem
apoio, e a intervenção do terapeuta não é mais
necessária. A intervenção é educacional porque
o terapeuta na realidade não reforça o
comportamento da criança, mas facilita o
reforçamento que ocorre quando a criança vai
para fora no frio. Ele provê apoio colateral que
amplia o comportamento da criança para
permitir que ele seja reforçado naturalmente,
em outros lugares. Em uma linguagem mais
geral, podemos dizer que o terapeuta facilita o
comportamento que, quando ocorre, terá
suporte independente dele, pela relação
inerente entre o ar frio, a temperatura da pele e
PSICOTERAPIA E COMPORTAMENTALISMO
133
estar usando o casaco. Exemplos semelhantes
podem ser prontamente construídos com os
utensílios de comer, montar e desmontar de um
cavalinho de balanço, beber de um copo,
colocar os sapatos, ou subir os degraus de escada
de um local da casa para outro.
Reforçamento Arbitrário
A Figura 2 é o diagrama ilustrando o
reforçamento arbitrário do mesmo
desempenho. Vestir-se é reforçado em um
encadeamento, como no exemplo do
reforçamento natural apresentado
anteriormente, mas com a diferença que o elo
final da cadeia é “comer biscoitos” e não ficar
aquecido. Para manter a atividade de vestir-se,
o terapeuta necessita continuar a reforçar com
biscoitos em contraste com o caso natural,
quando o terapeuta tem apenas que providenciar
apoio colateral para mediar temporariamente
suas interações com o tempo frio.
Aspectos Sociais Da Interação Terapêutica
A considerável complicação do
procedimento de reforçamento arbitrário
decorre da natureza social da interação
terapêutica. A terapia é uma interação na qual
o reforçamento do comportamento do
terapeuta, pelos desempenhos que se
desenvolvem no repertório da criança, é um
componente tão importante quanto o
desempenho da criança reforçado pelas
contingências ou instruções fornecidas pelo
terapeuta. É nessas interações, nas quais o
terapeuta e a criança liberam os reforçadores
para as participações um do outro, que uma
análise da relação genérica entre os desempenhos
e seus reforçadores pode ter uma ampla e prática
importância para os resultados da terapia. Os
desempenhos do terapeuta são reforçados
porque induzem a criança a colocar seu casaco.
Os desempenhos da criança, com o casaco, são
reforçados pelo alimento ou pelas fichas que o
terapeuta lhe dá. Se a criança come ou não, não
é importante, em si mesmo, para o terapeuta; e
se a criança põe seu casaco, em si mesmo, não é
importante para a criança. O terapeuta poderia
parar de dar alimento se a criança se vestisse
por outras razões, e a criança poderia parar de
vestir-se se recebesse alimento sem fazê-lo.
Uma conseqüência do controle interpessoal
do reforçamento arbitrário é a filigrana, a
correspondência o ponto a ponto do desempenho
da criança com a reatividade do terapeuta, mais
do que os efeitos de ficar aquecido lá fora.
Enquanto o desenvolvimento de um repertório
interativo entre a criança e outras pessoas pode
ser um dos mais importantes objetivos da
psicoterapia, essas interações [arbitrárias] têm
subprodutos inerentemente indesejáveis que, a
longo prazo, serão anti-terapêuticos. A
desvantagem do reforçamento arbitrário vai além
Figura 1. Controle Natural
C. B. FERSTER
134
da ausência de uma conexão genérica entre usar
um casaco e a experiência da criança lá fora, no
ar frio, que ocorre quando a comida substitui o
calor do casaco.
A Luta pelo Poder
Um desastroso subproduto do controle
arbitrário é o contra-controle que pode ocorrer
quando o terapeuta tenta aumentar a freqüência
de algum comportamento que o cliente não está
disposto a emitir. A propriedade específica do
reforçamento arbitrário que conduz a uma
disputa entre os participantes é salientada no
diagrama de interações arbitrárias mostrado na
Figura 2. O reforçamento da atividade de cada
participante depende do outro. A criança, que
foi interrompida em sua forma costumeira de
obter alimento pode implicar ou obstruir o
trabalho do terapeuta, retendo o reforçador do
terapeuta – a cumplicidade com os objetivos
da terapia do reforçamento. Essa propriedade
da interação é especialmente proeminente e
crítica quando a criança, por outras razões,
tende a agir agressivamente com o terapeuta. A
dificuldade é ainda maior porque a atividade
agressiva da criança com o terapeuta pode ser,
em si mesma uma importante questão para a
terapia. Esses conflitos entre a criança e o
terapeuta podem ter uma escalada, porque a
criança pode reforçar diferencialmente formas
extremas de controle ao deixar de apresentar o
comportamento que o terapeuta está tentando
aumentar de freqüência. Quando o terapeuta
intensifica o desafio aplicando mais privação e
impedimentos, a agressividade da criança
geralmente aumenta, requerendo por sua vez,
maiores níveis de controle aversivo pelo
terapeuta. No final a interação pode ser descrita
como “uma luta de vontades”. O resultado é
paralelo ao processo que ocorre quando a criança
apoquenta seus pais, que diferencialmente
reforçam caprichos e provocações concordando
com as exigências da criança, ou atendendo
somente quando as exigências tornam-se
suficientemente aversivas para aumentar a
freqüência de um desempenho que terminará
ou evitará o capricho. A primitividade e o
paradoxo desses desafios é que os pais,
intencionalmente ou não, reforçam o
comportamento da criança que é o mais aversivo
para ele ou ela, até que controles extremamente
aversivos sejam praticados pelos dois lados.
Embora essas lutas de poder, como
descritas clinicamente, sejam mais
proeminentes quando incluem controle pelo
estímulo aversivo, esse fato é em si mesmo a
característica que define o controle arbitrário.
O estímulo aversivo pode aumentar a freqüência
do comportamento genericamente e
naturalmente como, por exemplo, quando
Figura 2 - Controle arbitrário
PSICOTERAPIA E COMPORTAMENTALISMO
135
protegemos os olhos da intensa luz solar,
colocamos os dedos no ouvido para atenuar o
barulho alto, colocamos ou retirarmos roupas
para o frio ou calor, e tapamos as narinas para
evitar o odor insalubre. A relação entre esses
comportamentos e o controle aversivoque eles
atenuam são estáveis e totalmente previsíveis,
em contraste com o controle interpessoal, onde
um participante influencia o comportamento
do outro com estímulos aversivos para
aumentar a freqüência de algum desempenho
relevante para o reforçamento de seu próprio
repertório. Inversamente, eventos que pelo
nome podem funcionar como reforçadores
positivos podem se tornar um componente no
controle arbitrário, como por exemplo, o
emprego de alimento, discutido nas seções
precedentes, para reforçar o vestir ou o falar.
Esses procedimentos têm as características do
controle arbitrário porque a maneira costumeira
natural com pela qual a criança é alimentada é
descontinuada ou bloqueada, permitindo assim
ao terapeuta uma ampla possibilidade de
arranjar qualquer contingência entre comer e o
desempenho desejado. É a liberdade de ação
do terapeuta, quando ele ou ela ajusta as
contingências reforçadoras com o propósito de
criar o repertório que busca desenvolver, que
conduz ao relacionamento competitivo no qual
cada parte pode exercer controle aversivo sobre
a outra. Dessa forma, o repertório que resulta
se desvia da maneira natural com que o
ambiente alimenta a criança, para um outro que
advém da reatividade de um terapeuta em
particular e do procedimento reforçador
específico que o terapeuta aplica.
Alimento como um Reforçador Natural
Se a comida é genericamente relacionada
com o desempenho que ela reforça, ela pode
também ser um reforçador natural. Por exemplo,
se é dada à criança alguma responsabilidade por
preparar sua refeição, de acordo com seu
repertório existente e em aproximações
sucessivas para formas mais complexas, o
desenvolvimento comportamental resultante
será semelhante ao reforçamento de colocar o
casaco que descrevemos anteriormente.
Reforçamento Arbitrário como uma Transição
É possível que o reforçamento arbitrário
possa ser empregado na terapia como uma
transição para a mesma topografia
naturalmente reforçada. Infelizmente temos
pouco conhecimento clínico sobre o processo
pelo qual o reforçamento de uma topografia
de comportamento mantida por um reforçador
contribui para a sua manutenção por um
reforçador inteiramente diferente em outra
situação. Sabemos, no entanto, que o problema
é facilmente evitado pelo emprego dos mesmos
princípios comportamentais do reforçamento
natural. Temos evidência de que tais
reforçadores têm potencial para manter o
comportamento tão fortemente como a
comida, por exemplo, nos experimentos
relatados por Creed e Ferster (1972) e Ferster
e Hammer (1966), sem os efeitos perniciosos
colaterais do controle arbitrário.
A estratégia para aplicar princípios
comportamentais no ambiente natural é
começar com algum comportamento do
repertório do paciente e prover variáveis
colaterais que permitirão reforçá-los em um
ambiente ao qual o paciente normalmente tem
acesso. Reforçadores potenciais para quase todo
tipo de repertório existem em alguns ambientes.
Pode ser possível construir um repertório
prosseguindo em pequenos passos a partir de
um desempenho que vem sendo mantido
C. B. FERSTER
136
atualmente em uma parte do ambiente do
paciente, para um desempenho ligeiramente
mais complexo, que poderia ser reforçado em
outra parte do ambiente, também acessível
(Ferster, 1979). A tarefa consiste em arranjar
apoio colateral para a capacidade que o paciente
já tem e que pode trazê-la para uma forma que
seja naturalmente reforçada por uma
característica estável do seu ambiente. Neste
caso, o apoio colateral pode ser gradualmente
esvanecido para outro controle de estimulo
(fading), de acordo com a capacidade do
paciente, até que surja um repertório que seja
reforçado sem a intervenção do terapeuta.
Infelizmente, o aspecto de “inércia” de muitos
tipos de déficits comportamentais complica esse
remédio direto (Ferster, no prelo) embora o
princípio básico ainda pareça aplicável.
Dois Sentidos Do Controle
Implícitos nas diferentes propriedades de
reforçamento arbitrário e natural encontram-
se dois sentidos de controle que os
procedimentos de reforçamento carregam. Um
sentido é pejorativo, quando os
comportamentos que podem ser aumentados
de freqüência o são para beneficio do
controlador, com menor atenção aos objetivos
do controlado. O professor exige que o aluno
fique quieto na classe; o atendente de enfermaria
julga que os pacientes devam manter sua roupa
limpa; o terapeuta comportamental acha que o
paciente mudo deva falar. O outro sentido, mais
de acordo com o reforçamento natural e com o
emprego dos princípios comportamentais como
um quadro descritivo, elucida a relação
funcional entre a conduta do paciente e as
variáveis das quais ela é função. Para o melhor
ou o pior, todo o comportamento do paciente
é controlado. O ponto principal é se uma relação
clara do controle pode ser comunicada e para o
beneficio de quem e por quais razões o controle
é exercido. O reforçamento arbitrário não é,
evidentemente, limitado aos procedimentos de
terapia comportamental.
O seguinte relato de Jeanne Simmons
(Ferster, 1967a) trata do emprego de
reforçamento natural na psicoterapia de um
ponto de vista diferente daquele das terapias
comportamentais.
E esta é a razão pela qual andamos atrás da criança.
Ela sente sua proteção quando você anda atrás.
Se você dá a ela a oportunidade de ir para qualquer
direção, ela pode estar errada quando vai em uma
ou outra direção. Apenas siga-a. Se ela tomar um
caminho sem saída, pegue-a gentilmente e traga-
a para o caminho principal. Mas nunca pense
que você sabe a resposta, porque você está
tratando com um indivíduo que pode querer ir
por caminhos diferentes, que para ele podem ser
os melhores. É por isso que me sinto mais
confortável atrás das crianças, pois assim, posso
ver para onde estão indo. (p.346).
Essas afirmações sobre os objetivos da
terapia salientam a importância crucial do
reforçamento natural, genericamente
relacionado com o repertório existente da
criança, mesmo quando a linguagem é a de um
clínico totalmente envolvido nas interações
pessoais com as crianças. A afirmação do
objetivo da terapia implica que ela se inicia com
os comportamentos existentes no repertório da
criança, mantidos pelos reforçadores atuais. Os
procedimentos descrevem apoios colaterais do
terapeuta, para o repertório da criança, que
antecipa dificuldades que a criança pode
encontrar e encoraja as partes mais eficazes da
capacidade atual da criança (buscando a saúde
PSICOTERAPIA E COMPORTAMENTALISMO
137
da criança, ela diria). O mesmo tema é
recorrente em outras fontes da literatura clínica
(Searles, 1965; Glover, 1955; Rogers, 1965).
O PAPEL FUNDAMENTAL DO COMPORTAMENTO
VERBAL NA PSICOTERAPIA
A psicodinâmica e outras terapias
convencionais consistem em relatos
principalmente das queixas sobre dificuldades
na vida e a interação verbal com o terapeuta a
respeito delas. Várias abordagens
comportamentais também envolvem o cliente
falando com o terapeuta, apesar do referencial
teórico que salienta o comportamento
observável que é passível de enumeração
objetiva. A abordagem comportamental para
autocontrole, delinqüência, e problemas sexuais
começam com o relato de uma entrevista sobre
as queixas do paciente e falas sobre elas, como
na terapia de dessensibilização, ou instruções
para o paciente para a realização de ações fora
da sessão. A observação de que interações verbais
predominam tanto no diagnóstico como na
terapia tem grandes implicações sobre como
uma ciência do comportamento humano pode
prover suporte para o tratamento clínico. O
primeiro passo nessa aventura é a explicação
comportamental de como o terapeuta e o cliente
alteram o comportamento um do outro no
contexto imediato de sua interação. Depois
disso, a empreitada pode voltar-se para explicar
como o comportamento verbal que emerge
como produto da terapiapode amenizar
problemas na vida do paciente.
Dado que o ponto de partida da análise
comportamental é a interação imediata entre o
paciente e o terapeuta, é aconselhável iniciar
com uma revisão geral de como o reforçamento
verbal ocorre, antes de discutir o reforçamento
da fala do paciente na entrevista terapêutica. O
comportamento verbal, como comportamentos
operantes mais simples, é definido pelos seus
reforçadores, mais do que pelas topografias do
desempenho. Sua topografia, os movimentos da
boca, dos lábios, da língua e do diafragma, é
muito complexa para ser reforçada por alguma
coisa mais do que sua relação fina com o som
que produz, de uma maneira análoga ao balanço
da bola no nariz da foca ou o equilibrista na
bicicleta. A reação do ouvinte é a contrapartida
genérica do falante. No sentido de seu aspecto
mais refinado e da imediaticidade, o
comportamento verbal é reforçado pelo “falante
como seu único ouvinte” que liga as práticas
reforçadoras da comunidade verbal ampla. A
questão do reforçamento arbitrário e natural é
ainda mais crucial no comportamento verbal
que nas formas não verbais. Propriedades do
comportamento do terapeuta mantidas estáveis
provêm as reações que sustentam e modelam a
fala do paciente. Ou alternativamente, a fala
do paciente reflete o controle pelos ouvintes
anteriores, indutivamente. As partes dos dois
repertórios que se interligam representam um
reforçador que tem uma fina sintonia, igual à
sensibilidade do terapeuta e ao seu treinamento
como ouvinte. Um déficit em controle
interpessoal é um obvio objetivo
comportamental que pode ser desenvolvido
através de reforçadores naturais inerentes à
interação terapêutica. A reatividade diferencial
do terapeuta, como um ouvinte treinado, tem
o potencial de remediar aquelas partes da fala
do paciente que são mais controladas por sua
privação do que pelas circunstâncias nas quais
ela pode ser reforçada. Especialmente relevantes
para o reforçamento diferencial são as
expectativas impraticáveis ou as exigências
irreais feitas ao terapeuta. De outro lado, as
C. B. FERSTER
138
reações que o paciente evoca no terapeuta são
dados sobre seu repertório. O resíduo no
repertório do terapeuta, também é verbal. O
controle estreito entre o para falante-ouvinte,
terapeuta-paciente, cria uma situação na qual
os reforçadores são naturais, no sentido de que
são mantidos por propriedades estáveis de
ambos os repertórios.
A Confusão entre os Eventos da Vida do Paciente e
o que Ele Diz Sobre Eles
Se a interação verbal entre o paciente e o
terapeuta é observável e comportamentalmente
objetiva, os eventos sobre os quais ambos falam,
aqueles da vida do paciente em outro local, são
inferências sujeitas a distorções e descrições
incompletas, não importa quão objetivos sejam
os termos. Se a descrição de eventos comuns
está sujeita a distorções, então o relato do
paciente de porque ele ou ela agem é ainda mais
duvidosa. Frequentemente há uma frouxa
correspondência entre, por exemplo, a descrição
do paciente sobre o que levou a faltar a um
compromisso ou a razão de porque certos
tópicos são omitidos, e as variáveis
independentes que podem eventualmente
chegar a ser descobertas. A falha em diferenciar
o que está sendo falado da própria fala é uma
dificuldade técnica importante que pode ocorrer
em qualquer terapia verbal, mas é mais visível
nas terapias comportamentais do que em outras
porque a linguagem comportamental amplia a
discrepância.
Uma razão para a confusão entre os
eventos da vida do paciente e a fala que ocorre
em psicoterapia é que os reforçadores verbais
são arbitrários em relação aos comportamentos
relatados sobre a vida do paciente e vice-versa.
A contrapartida genérica do comportamento
do paciente na terapia são as influências sobre
o terapeuta que está ouvindo e sobre o
paciente como seu próprio ouvinte. A
contrapartida genérica dos eventos em
andamento na vida diária do paciente são as
ocorrências do dia a dia. Obviamente, o que
é dito sobre a vida do paciente influencia o
que o paciente pode fazer em seguida, e vice-
versa, mas a conexão é um repertório que
precisa ser examinado separadamente.
Uma Análise dos Comportamentos que Ocorrem
nas Interações Próximas entre o Paciente e o
Terapeuta
O comportamento que ocorre na terapia
é um dado objetivo no qual muitas atividades e
seus reforçadores podem, pelo menos
potencialmente, ser observadoS por ambas as
partes. Talvez, porque estejamos acostumados
a buscar para além dos eventos imediatos da
interação terapêutica, sua natureza
potencialmente objetiva e comportamental é
desconsiderada.
1. O controle inicial da fala do paciente.
Quando dizemos que o paciente “fala com um
terapeuta”, a implicação é que a fala do paciente
é mantida pela maneira pela qual ele o
influencia. Quando dizemos que o terapeuta
escuta o paciente, os eventos imediatos são o
controle do terapeuta pelo paciente. Contudo,
ao começar, nenhuma das partes tem uma
história de controle pela outra. Claramente, o
controle sobre o paciente, no início, não é
completamente especifico àquele terapeuta em
particular. Se assim não fosse, seria pouco
provável que o paciente falasse longamente,
frequentemente com poucos comentários do
terapeuta, durante a primeira entrevista. Muito
de seu comportamento parece funcionar como
um mando mágico como “Eu gostaria que
parasse de chover”, ou “ Opa, estou com fome”;
PSICOTERAPIA E COMPORTAMENTALISMO
139
são todos queixas generalizadas que são extensões
para além das circunstâncias normais nas quais
poderia haver quaisquer expectativas realistas de
que o ouvinte normal fornecesse alívio (Skinner,
1957, Cap. 3). Essas queixas generalizadas têm
conexão com circunstâncias passadas onde ajuda
semelhante tenha estado disponível. A situação
de terapia, bem como os exemplos de mando
mágico mencionados anteriormente, são
diferentes das situações comuns onde ocorrem
operantes negativamente reforçados. Nesses
casos, o nível de privação do paciente-falante
excedeu a história normal de controle pela
audiência, causando a emissão da queixa ou
pedido por alívio, apesar da falta de história
com o terapeuta especifico. É por essa razão que
as primeiras entrevistas são tecnicamente tão
difíceis em psicoterapia.
O repertório inicial a partir do qual deve
emergir a conexão entre as duas partes é uma
fantasia à qual não é plausível que o ouvinte
reaja fornecendo o alívio buscado. Contudo, é
a partir deste repertório, o inicial, que o
desenvolvimento comportamental deve
emergir. Uma qualidade óbvia do repertório
inicial do paciente é sua inércia. Uma parte
considerável dele parece ser controlada pela
privação, mais do que pela audiência que
governa onde e quando pode ser reforçado. Um
corolário desse repertório é uma falha em
observar em detalhes e com algum
distanciamento das privações pessoais, as
características de outras pessoas em cujo
repertório há reforçadores potenciais.
Repertórios com essa propriedade de
imobilidade são reminiscência de padrões
alimentares infantis, quando o nível de privação
esvaziava todo comportamento brincalhão e a
atenção a qualquer outro evento além da
refeição. Mesmo formas complexas de fala
podem ser funcionalmente equivalentes à
alimentação da a criança se os reforçadores que
as mantém são controlados de perto por altos
níveis de privação do falante, mais do que pelo
reforçamento generalizado. Uma frase elegante
ou um poema podem funcionar como uma
queixa ou solicitação, apesar de sua topografia
complexa. O terapeuta, como um ouvinte
treinado que analisa funcionalmente a interação
verbal com o paciente, está em posição de reagir
diferencialmente a um paciente, dependendo
da verdade do que esteja sendo dito.
2. Reforçamento do comportamento verbal
pelo terapeuta-ouvinte. A mudança das
reclamações generalizadas para desempenhos
reforçados por seu efeito genéricosobre o
terapeuta-ouvinte é, em si mesma, um exercício
de análise do reforçamento generalizado.
Mesmo que queixas e solicitações por ajuda
possam requerer a participação do terapeuta-
ouvinte, eles funcionam diferentemente da
interação verbal que pode ocorrer
posteriormente na terapia, quando a interação
imediata com o terapeuta começa a manter a
fala do paciente. O repertório inicial do paciente
é relativamente insensível às reações do
terapeuta, em grande parte porque é um
operante negativamente reforçado, um mando
é um jargão verbal, em grande parte sob o
controle da privação do paciente e de
estimulação aversiva. A frase final do terapeuta
em Complexo de Portnoy de Phipip Roth, novela
sobre psicanálise, “Agora podemos começar”,
depois de um livro inteiro de queixas solilóquias,
ilustra a mesma mudança no controle funcional
entre a fala do paciente e sua relação com o
repertório do terapeuta. A mudança da queixa
generalizada para o desempenho mediado pelo
terapeuta é um exemplo da definição refinada
de comportamento verbal discutida
C. B. FERSTER
140
anteriormente (Skinner,1957, pp. 224-226) na
qual a forma e as características do
comportamento do falante (o paciente) são
determinadas pela reatividade verbal , sem
igual, do ouvinte (o terapeuta). A analogia com
o exemplo da foca balançando a bola é com a
pressão no nariz como reforçador, ao invés da
comida. A definição refinada do
comportamento verbal supõe o efeito imediato
da interação entre duas pessoas, do mesmo
modo como ocorre com uma luz no olho, a
virada da cabeça, e como o conteúdo de uma
resposta corresponde às variáveis que controlam
a afirmação do paciente. O mesmo processo
ocorre, claro, ainda com maior imediaticidade
e sutileza quando o falante ouve a si próprio.
Na medida em que a interação com o
terapeuta é semelhante àquela que acontece com
outros, ela constitui um incremento na
capacidade social. O contexto abrigado da
entrevista terapêutica, particularmente a
respeito do apoio colateral que o terapeuta
provê, pode criar uma capacidade social que se
estenderá para outras pessoas e situações. Os
eventos comportamentais na situação
terapêutica imediata fornecem uma
oportunidade para interpretação e descrição
porque elas são uma aproximação do tipo de
observações que podem ser realizadas em outro
lugar. De significação clínica equivalente é o
comportamento de efetivamente relatar os fatos
para o terapeuta. A fala do paciente “para o
terapeuta” tem duas funções simultâneas. A
primeira é um tato, geralmente bastante
distorcido e impuro, sob o controle de fatos do
momento ou da infância (ou de qualquer outro
evento passado que o paciente esteja falando
sobre); talvez seja algum resíduo intraverbal
de um fato passado. Segundo, e mais
importante, é o desempenho cuja forma foi
modelada pelos falantes dos quais o paciente
teve influência no passado. Se a reatividade
latente do terapeuta é semelhante à dos
indivíduos que mantiveram o comportamento
do paciente no passado, o episódio verbal terá
sucesso e será estável. Na medida em que o
terapeuta não reage da mesma maneira que os
ouvintes do paciente fizeram, há uma
oportunidade, primeiro, para reforçamento
diferencial, e segundo, para observação da
discrepância entre o comportamento do
paciente e o reforçamento do terapeuta.
Quando o paciente está contando ao
terapeuta, por exemplo, sobre a sua infância,
o efeito que é produzido no terapeuta, como
um ouvinte, é a característica mais importante
do comportamento verbal do que evento que
ele descreve. O reforçador nesse episódio verbal
é sutil e está no cerne da definição de
reforçamento verbal. A delicada interação
entre duas pessoas, que ocorre quando alguém
tenta explicar alguma coisa, ilustra o processo.
Há um dar e receber quando falante e o ouvinte
interagem entre si até que o ouvinte fale que
ele entendeu e o falante não é mais inclinado
a explicar porque o ouvinte pode agora, dizer
o que foi explicado. Funcionalmente, a fala do
paciente é um desempenho reforçado
principalmente por “fazer o terapeuta
entender” e só secundariamente um
desempenho que descreve a vida passada do
paciente. A vantagem dessa relação funcional
entre terapeuta e paciente, ouvinte e falante,
é que a interação reforça (e, portanto, aumenta
a freqüência) de explicações e observações da
vida do paciente. A habilidade do terapeuta
em fazer uma análise funcional do
comportamento emitido que ele está
observando na situação imediata e o interesse
do terapeuta nas observações do paciente dão,
PSICOTERAPIA E COMPORTAMENTALISMO
141
à reatividade verbal do terapeuta, uma
vantagem única.
3. Ensinando o paciente a observar seu
próprio comportamento e descrever suas interações
com o terapeuta. Os eventos imediatos da
interação psicoterapêutica provêem
oportunidades específicas para o terapeuta,
como um ouvinte e observador treinado, dar
dicas e reforçar as atividades verbais do paciente
que são descritivas de suas experiências públicas
e privadas. Quando o par terapêutico é uma
díade na qual a reatividade de um reforça a
atividade do outro, o resultado é um aumento
do repertório verbal sob controle dos eventos
imediatos que ocorrem. As reações diferenciais
do terapeuta podem reforçar descrições das
ocorrências atuais, falar sobre os eventos privados
debaixo da pele e que o paciente pode não ter
consciência, os eventos externos dos quais esses
eventos privados são função e o comportamento
de outros que interagem no processo. Embora
falemos, coloquialmente, sobre como a paciente
nota seu próprio comportamento, a realidade,
comportamentalmente, é o reverso porque é a
reação diferencial do terapeuta que reforça o
comportamento verbal sob controle dos eventos
privados, as ações e as influências encobertas
prévias e as variáveis que controlam o
comportamento do paciente. Essa atividade
verbal aumentada emerge como tatos e
comportamento intraverbal sob o controle de
interações entre o terapeuta e o paciente à
medida que eles lidam com os eventos
imediatos, que rodeiam sua tarefa comum. O
terapeuta como um ouvinte treinado que está
fazendo uma análise funcional da interação
entre eles, pode trazer a atenção do paciente
para um aspecto do comportamento, mais do
que outro. O controle do paciente pelo terapeuta
é que genericamente define o desempenho,
incluindo o reforçador do qual é função, mais
do que o conteúdo, a topografia, ou “o sentido
superficial” do que o paciente está dizendo.
Um dos objetivos da psicoterapia, que a
distinguem do procedimento educacional, é
permitir ao paciente falar dos processos
encobertos ao criar condições através das quais
ele pode observar aspectos de sua conduta e de
seus antecedentes funcionais que, de outra
maneira, passariam despercebidos. Silêncios
prolongados, conflitos sobre o agendamento de
sessões e esquemas de pagamento, discrepâncias
entre as exigências do paciente e a visão prática
do tipo de ajuda possível, chegar tarde ou
perder agendamentos, por exemplo,
frequentemente ocorrem porque alguns fatos
atuais são muito aversivos de se abordar. Uma
vez que o terapeuta torna-se um ouvinte cuja
atenção torna-se genericamente conectada à fala
do paciente, surge a possibilidade de repertório
verbal que pode conduzir o paciente a observar
os múltiplos determinantes dos atrasos ou do
silêncio e a falar sobre variáveis das quais são
função. O controle discriminativo do
comportamento humano é predominantemente
verbal. De fato, muito do controle diferencial
do comportamento humano pelo ambiente
físico, bem como social, pode ocorrer somente
verbalmente, principalmente com aqueles
comportamentos que são sociais e verbais.
A dessensibilização do controle aversivo
do comportamento verbal é outro produto
potencial de qualquer entrevista ou
procedimentos terapêuticos nos quais a fala do
paciente sobre assuntos difíceis vai sendo
ajustada àsua habilidade de tolerá-los. Como
foi salientado na sessão anterior sobre terapia
comportamental, um aumento na quantidade
da atividade verbal contribuirá para muitas
outras funções terapêuticas.
C. B. FERSTER
142
Como o Comportamento Verbal com um Ouvinte
Treinado Pode Inlfuenciar a Vida do Paciente em
Outros Locais
Dado que os comportamentos que
ocorrem na terapia são diferentes das atividades
que ocorrem em outros ambientes, uma tarefa
crucial da análise comportamental é descrever
o processo pelo qual os dois repertórios se
influenciam mutuamente. Se não houvesse uma
grande discrepância entre o que de fato
aconteceu com o paciente em sua vida diária e
seu relato sobre o que acontece, não haveria,
com toda probabilidade, um problema que
exigisse terapia.
1. O repertório interpessoal com o terapeuta.
A interação entre as duas partes é em si mesma
um aumento do repertório e um modelo, para
melhor ou pior, do que pode acontecer entre
quaisquer duas pessoas. À medida que o paciente
aprende a influenciar o terapeuta há elementos
de seu repertório que podem influenciar por
outras pessoas em outras situações. Na medida
em que o paciente pode observar os detalhes da
conduta do terapeuta, como ele ou ela a
influenciaram e o processo reverso, o paciente
faz progressos n a habilidade de fazer as mesmas
observações em outros lugares. Se o paciente
observa seu próprio aborrecimento e sonolência
e aprende a buscar por antecedentes
provocativos para essa evidência de sua
ansiedade, há a possibilidade de que ele possa
ser capaz de fazer uma busca semelhante em
outras ocasiões em que ficar sonolento ou
aborrecido. O terapeuta, como um observador
treinado, que constantemente está fazendo
análise funcional entre os eventos atuais na
interação entre eles, está em posição análoga à
do professor de violino que pode ajudar o
estudante a ouvir nuances de tons que de início
são audíveis para o professor mas não para o
estudante. A condição necessária, no entanto,
é que haja uma disposição significativa para
tocar o violino de tal modo que as notas
executadas possam ser examinadas.
2. O Repertório Verbal da Psicoterapia
Aumenta a Observação. A habilidade do paciente
em observar eventos em sua vida está intimamente
ligada com sua habilidade de falar sobre eles, do
mesmo modo que tocar alguma coisa, apontando
ponto a ponto com o indicador, para o leitor
iniciante, coloca o comportamento sob um
controle mais sutil dos detalhes componentes, do
que se o único movimento fosse o do globo ocular
e seu foco. Uma vantagem educacional de um
repertório verbal, tatos e intraverbais, é que ele
permite uma correspondência discreta, ponto a
ponto com os itens interpessoais que emergem
entre eles. Descrições, se podem ser estendidas da
psicoterapia para a vida diária, mudarão o controle
funcional do comportamento do paciente, de
formas encobertas para formas abertas, para além
dos limites da situação terapêutica.
3. Um Repertório Verbal Aumenta o
Reforçamento Positivo e Reduz o Controle Aversivo.
Há conseqüências práticas amplas com a presença
ou ausência de um repertório verbal que
corresponda ao próprio comportamento do
indivíduo, ao comportamento dos outros e à
maneira pela qual eles se controlam. Sem esse
repertório, há pouca possibilidade de reduzir
tanto a quantidade do controle aversivo como a
quantidade de reforçamento intermitente e de
extinção. O processo é análogo ao choque livre
em um experimento com animal, quando
comparado com outro precedido por um
estímulo de aviso; ou uma ocorrência incerta de
um reforçador positivo quando comparado com
um fato claro que dá dicas quando um
desempenho pode ser reforçado. Um repertório
verbal que corresponda estreitamente às
PSICOTERAPIA E COMPORTAMENTALISMO
143
condições de reforçamento e punição constitui
visão previsível e ordenada de eventos que
maximiza a freqüência de reforçamento positivo
e minimiza o controle aversivo. Quando esse
repertório está ausente, um corolário são os
subprodutos emocionais, relacionados à extinção
e ao reforçamento intermitente, que são descritos
coloquialmente como perda, isolamento e
desespero. O contraste entre uma vida diária
ampliada pelo comportamento verbal sobre ela
e a ausência de tal ampliação verbal é o contraste
entre um mundo que é ordenado e previsível e
um que é inconstante (Beck, 1967).
É frequentemente observado, por exemplo,
que um paciente interrompido durante a terapia
por freqüentes chamadas telefônicas pode não
ser capaz de falar sobre suas queixas, seja
abertamente ou intraverbalmente. A persistência
e a magnitude de um aborrecimento podem ser
tão grandes, no entanto, que invadem quase todos
os outros tipos de interações com o terapeuta, e
o paciente falará sobre estar aborrecido, por não
ter nada para dizer, ou sobre deixar a terapia –
ou o paciente pode chegar tarde para a próxima
sessão. Se o paciente puder falar sobre sua própria
reação e a relação com a atividade telefônica do
terapeuta, há alguma possibilidade de ver os
comportamentos de ambos claramente, e de
influenciar ativamente os fatos importantes – as
interrupções e a raiva resultante. A alternativa é
uma mistura confusa de três ângulos de um
triângulo: a observação da interrupção pelo
paciente, seu aborrecimento e a visão do
terapeuta como a pessoa responsável por tudo.
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