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Professor: JULIANO YAMAKAWA Turma: CARREIRAS POLICIAIS Data:27.01.2020 DIREITO PENAL PARTE GERAL MUDE SUA VIDA! 1 LEI PENAL NO ESPAÇO TEORIA DA UBIQUIDADE (MISTA) MUITO IMPORTANTE CONCEITO O Código Penal adotou a teoria da ubiquidade (mista) para o lugar do crime. Art. 6º do CP: “Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.” Nesse sentido, não importa se no local ocorreu a ação ou omissão (teoria da atividade) ou se foi naquele ambos, serão considerados lugar do crime (teoria da ubiquidade). DÚVIDA: O que significa crime à distância? Crime à distância é aquele em que a ação ou omissão ocorre em um país, enquanto o resultado ocorre em outro. A teoria da ubiquidade foi adotada pelo Código Penal exatamente para essa espécie de crime. Em região de fronteira, é muito comum a ocorrência de crimes à distância, ou seja, o delito tem início no Brasil e resultado no exterior, ou vice e versa. Se o Código Penal, por exemplo, tivesse adotado a teoria da atividade, todo crime com resultado no Brasil deveria observar a lei penal estrangeira. Assim, para evitar a situação acima descrita, o Código Penal, acertadamente, adotou a teoria da ubiquidade, pouco importando se a conduta ou o resultado ocorreu no Brasil, em ambos os casos, o Direito Penal brasileiro será aplicado. DÚVIDA: Crime à distância é sinônimo de crime plurilocal? A resposta é NÃO. Enquanto o crime à distância envolve diferentes países, o crime plurilocal ocorre em duas ou mais comarcas. Por exemplo, seria classificado como crime plurilocal, caso João fosse alvejado por disparos de arma de fogo na cidade de São Paulo/SP (local da atividade) e viesse a falecer dias depois, internado em um hospital de São José do Campos (local do resultado). CUIDADO: não se aplica a teoria da ubiquidade aos crimes plurilocais, em regra, adota-se a teoria do resultado. REGRAS E EXCEÇÕES REGRA O Direito Penal brasileiro foi criado para ser adotado no território brasileiro. Tal conclusão, ainda que óbvia, expõe a regra da TERRITORIALIDADE, prevista no art. 5º do Código Penal. Art. 5º do CP – “Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional". DÚVIDA: O que significa territorialidade mitigada? A territorialidade mitigada é adotada pelo Código Penal ao afirmar que será aplicada a lei brasileira ao crime cometido no território nacional, com exceção de disposições previstas em tratados internacionais (atenuação/mitigação da territorialidade). LEI PENAL NO ESPAÇO TEORIA DA UBIQUIDADE TEORIA DA ATIVIDADE TEORIA DO RESULTADO TEORIA DA UBIQUIDADE Professor: JULIANO YAMAKAWA Turma: CARREIRAS POLICIAIS Data:27.01.2020 DIREITO PENAL PARTE GERAL MUDE SUA VIDA! 2 Por exemplo, é o que ocorre com a chamada imunidade diplomática, prevista em tratado internacional assinado pelo Brasil, que impede a aplicação do Direito Penal brasileiro aos agentes diplomáticos estrangeiros que cometam infrações penais dentro do território nacional. EXCEÇÃO Se a regra é a territorialidade, a exceção será a EXTRARRITORIALIDADE. A extraterritorialidade consiste na aplicação do Direito Penal brasileiro, por um juiz brasileiro, para um crime cometido fora do território brasileiro. As hipóteses de extraterritorialidade estão elencadas no art. 7º do Código Penal, que serão comentadas em tópico específico. EXTENSÃO TERRITORIAL MUITO IMPORTANTE CONCEITO Para compreender a regra da territorialidade, é preciso saber qual a extensão do território para fins penais. DÚVIDA: O que é considerado território brasileiro para o Direito Penal? A resposta se encontra no art. 5º, §1º, do Código Penal: Art. 5º, 1º, do CP: “Para os efeitos penais, consideram- se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.” Portanto: DÚVIDA: O Consulado ou a Embaixada é território brasileiro em país estrangeiro e vice-versa? A resposta é NÃO. Na realidade, a restrição de acesso às sedes diplomáticas existe por conta de tratados internacionais e não por se tratar de território no estrangeiro do país acreditante (da missão diplomática). Por exemplo, recentemente, houve polêmica envolvendo a mudança da sede da Embaixada do Estado Palestino na capital federal por determinação do Chefe do Poder Executivo. TEORIA: Ubiquidade REGRA: Territorialidade Mitigada EXCEÇÃO: Extraterritorialidade EXTENSÃO TERRITORIAL PARA DIREITO PENAL Território Geográfico Embarcações e aeronaves de natureza pública Embarcações e aeronaves de natureza privada em alto-mar (espaço aéreo correspondente) Professor: JULIANO YAMAKAWA Turma: CARREIRAS POLICIAIS Data:27.01.2020 DIREITO PENAL PARTE GERAL MUDE SUA VIDA! 3 Caso a sede da Embaixada do Estado Palestino fosse seu território no Brasil, não haveria possibilidade de alteração do local, já que seria território estrangeiro, portanto, sem ingerência do Estado Brasileiro. DÚVIDA: O que é o princípio da reciprocidade? No Direito Internacional, é muito comum a aplicação do princípio da reciprocidade. A ideia envolve o emprego da reciprocidade nas relações diplomáticas. Por exemplo, se um país exige visto de entrada para o cidadão brasileiro, em regra, o Brasil também vai exigir o visto de entrada para o cidadão desse país. Portanto, da mesma forma que uma embarcação ou aeronave brasileira de natureza pública é território brasileiro em qualquer lugar do mundo, por reciprocidade, embarcação ou aeronave estrangeira de natureza pública será considerada território estrangeiro, ainda que ancorada/taxiada em porto ou aeroporto brasileiro. EXTRATERRITORIALIDADE CONCEITO A extraterritorialidade consiste na aplicação do Direito Penal brasileiro, por um juiz brasileiro, para um crime que foi cometido no estrangeiro. Sem dúvidas, a extraterritorialidade é medida excepcional, pois esbarra na soberania de outro Estado, que terá que aceitar a aplicação de legislação estrangeira para um fato ocorrido dentro de seu território. A extraterritorialidade pode ser classificada em: INCONDICIONADA e CONDICIONADA. EXTRATERRITORIALIDADE INCONDICIONADA A extraterritorialidade incondicionada é aquela que autoriza a aplicação do Direito Penal brasileiro, independentemente, do preenchimento de requisitos. Art. 7º, I, do CP – “Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: I - os crimes: a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil;” Se a aplicação da extraterritorialidade é excepcional, a modalidade incondicionada é ainda mais. Não é por outrarazão que a extraterritorialidade incondicionada é reservada para os crimes mais graves contra o Estado brasileiro. OBS: Na hora da prova, caso se esqueça quais são os crimes que admitem a extraterritorialidade incondicionada, lembre-se de que ela é reservada aos crimes mais graves. EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA A extraterritorialidade condicionada é aplicada desde que preenchidas determinadas condições. EXTRATERRITORIALIDADE INCONDICONADA CONDICIONADA Contra a vida e a liberdade do Presidente da República Contra o patrimônio ou a fé pública Contra a Administração Pública Genocídio Professor: JULIANO YAMAKAWA Turma: CARREIRAS POLICIAIS Data:27.01.2020 DIREITO PENAL PARTE GERAL MUDE SUA VIDA! 4 Art. 7º, II, do CP – “(...) os crimes a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; b) praticados por brasileiro; c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados.” Portanto, os crimes que admitem a extraterritorialidade condicionada são: Por outro lado, as condições cumulativas estão previstas no art. 7º, §2º, do Código Penal: Art. 7º, § 2º, do CP – “Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: a) entrar o agente no território nacional; b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.” OBS: Vale ratificar que somente será possível aplicar a extraterritorialidade condicionada se TODAS as condições forem preenchidas. EXTRATERRITORIALIDADE SUPERCONDICIONADA A extraterritorialidade supercondicionada ocorre para os crimes praticados contra vítima brasileira. CUIDADO: Caso o agente seja brasileiro, será hipótese de extraterritorialidade condicionada. Art. 7º, § 3º, do CP – “A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: a) não foi pedida ou foi negada a extradição; b) houve requisição do Ministro da Justiça;” JULGAMENTO NO ESTRANGEIRO TEMA DE APROFUNDAMENTO O art. 7º, §1º, do Código Penal, aduz que, nos casos de extraterritorialidade incondicionada, o agente será punido segundo a lei brasileira. § 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro.(Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984) Diante disso, caso a hipótese seja de extraterritorialidade condicionada, se o agente já foi julgado no estrangeiro, NÃO poderá sofrer novo julgamento no Brasil. EXERCÍCIOS 1. (CESPE – 2019/DPE-DF - Defensor) Considerando o Código Penal brasileiro, julgue o item a seguir, com relação à aplicação da lei penal, à teoria de delito e ao tratamento conferido ao erro. Em razão da teoria da ubiquidade, considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria ter sido produzido o resultado. ( Tratado ou convenção internacional Praticados por brasileiros Praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras privadas, quando não houve julgamento no exterior Vítima brasileira Professor: JULIANO YAMAKAWA Turma: CARREIRAS POLICIAIS Data:27.01.2020 DIREITO PENAL PARTE GERAL MUDE SUA VIDA! 5 2. (CESPE – 2018/PF - Papiloscopista) - Na tentativa de entrar em território brasileiro com drogas ilícitas a bordo de um veículo, um traficante disparou um tiro contra agente policial federal que estava em missão em unidade fronteiriça. Após troca de tiros, outros agentes prenderam o traficante em flagrante, conduziram-no à autoridade policial local e levaram o colega ferido ao hospital da região. Nessa situação hipotética, para definir o lugar do crime praticado pelo traficante, o Código Penal brasileiro adota o princípio da ubiquidade. 3. (CESPE – 2018/EMAP - Analista) - A respeito da aplicação da lei penal, julgue o item a seguir. Aplica- se a lei penal brasileira a crimes cometidos dentro de navio que esteja a serviço do governo brasileiro, ainda que a embarcação esteja ancorada em território estrangeiro. 4. (CESPE – 2015/TCE-RN - Assessor) - Acerca da aplicação da lei penal, dos princípios de direito penal e do arrependimento posterior, julgue o item a seguir. O crime contra a fé pública de autarquia estadual brasileira cometido no território da República Argentina fica sujeito à lei do Brasil, ainda que o agente seja absolvido naquele país. 5. (CESPE – 2013/PC-DF - Escrivão) - Julgue os itens seguintes, relativos à teoria da norma penal, sua aplicação temporal e espacial, ao conflito aparente de normas e à pena cumprida no estrangeiro. Considere a seguinte situação hipotética. Jurandir, cidadão brasileiro, foi processado e condenado no exterior por ter praticado tráfico internacional de drogas, e ali cumpriu seis anos de pena privativa de liberdade. Pelo mesmo crime, também foi condenado, no Brasil, a pena privativa de liberdade igual a dez anos e dois meses. Nessa situação hipotética, de acordo com o Código Penal, a pena privativa de liberdade a ser cumprida por Jurandir, no Brasil, não poderá ser maior que quatro anos e dois meses. GABARITO 1. Certo 2. Certo 3. Certo 4. Certo 5. Errado Comentário da questão 1: A questão é mera reprodução do art. 6º do Código Penal: Art. 6º do CP: “Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir- se o resultado.” Dessa forma, percebe-se que o Código Penal optou por considerar o local do crime tanto o da atividade, quanto o do resultado, ou seja, teoria mista, também conhecida como teoria da ubiquidade. Comentário da questão 2: De fato, o Código Penal brasileiro adota a teoria da ubiquidade para o local do crime, conforme preceitua o art. 6º do Código Penal. Art. 6º do CP: “Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir- se o resultado.” Comentário da questão 3: O conceito de território para o Direito Penal abrange, além do território geográfico, as embarcações e aeronaves brasileiras de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem (CP, art. 5º, §1º). Dessa forma, como o navio estava a serviço do governo brasileiro, será aplicada a lei brasileira para o crime cometido dentro da embarcação, uma vez que, para fins penais, é território brasileiro. Comentário da questão 4: O caso narrado no enunciado amolda-se à hipótese de extraterritorialidade incondicionada, nos termos do art. 7º, I, b, do Código Penal. Art. 7º - “Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: I - os crimes: b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade Professor: JULIANO YAMAKAWA Turma: CARREIRAS POLICIAIS Data:27.01.2020 DIREITO PENAL PARTE GERAL MUDE SUA VIDA! 6 de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público;” Diante disso, aplica-se o disposto no art. 7º, §1º, do Código Penal. § 1º - “Nos casos do inciso I, oagente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro.” Comentário da questão 5: A questão é bastante interessante. O tráfico internacional de drogas se enquadra em uma das hipóteses de extraterritorialidade condicionada (CP, art. 7º, II, alínea a), já que o Brasil é signatário de tratado internacional sobre o tema. Art. 7º, II - os crimes: a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; Contudo, apenas as hipóteses de extraterritorialidade incondicionada admitem a chamada dupla punição, nos termos do art. 7º, §1º, do Código Penal. Art. 7º, § 1º - Nos casos do inciso I (extraterritorialidade incondicionada), o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro. Nesse sentido, se o agente já cumpriu pena no estrangeiro, ainda que parcial, não se admite a punição segundo a lei brasileira para os casos de extraterritorialidade condicionada (como é o caso concreto). Questão de alto grau de exigência.
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