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Libertinagem - Manuel Bandeira

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LIBERTINAGEM - Manuel Bandeira 
(Resumo) 
Libertinagem é o quarto livro de poemas de Manuel Bandeira, mas é o seu primeiro 
livro verdadeiramente moderno e importante. 
Libertinagem é o quarto livro de poemas de Manuel Bandeira, mas é o seu 
primeiro livro verdadeiramente moderno e importante. 
É uma sucessão de poemas espantosos, cheios de novidade, humor, erotismo, 
refinamento musical, força de imagens – tudo isso produzindo uma intensidade 
emocional que, às vezes, aproxima-se do piegas, mas nunca cai nele. 
 
(Esse é um dos aspectos fortes da poesia de Bandeira: levar a simplicidade até a 
beira da sentimentalidade, mantendo-se sempre, com mestria e finura, longe de 
qualquer vulgaridade.) 
Alguns dos poemas mais famosos de Bandeira fazem parte deste livro: 
“Pneumotórax”, cena de humor negro envolvendo um tuberculoso e um médico 
infame; “Pensão familiar”, cena do cotidiano de uma “pensãozinha burguesa”, 
com o inesquecível gatinho que “faz pipi” e “encobre cuidadosamente a 
mijadinha” 
– “a única criatura fina da pensãozinha burguesa”; “Profundamente”, um dos 
grandes poemas da morte deste grande poeta da morte, e, talvez o mais 
célebre de seus poemas, “Vou-me embora pra Pasárgada”, deliciosa utopia que 
apresenta a fantasia de um país em que todos os desejos se satisfazem, 
especialmente os desejos sexuais: 
“Vou-me embora prá Pasárgada 
RESUMO 
Libertinagem, publicado em 1930, é composto por 38 poemas. O primeiro deles 
é “Não sei dançar”, uma espécie de resumo poético dos temas que o livro vai 
apresentar, são eles: reflexões sobre a vida, o país e o fazer poético, bem ao 
gosto do modernismo pós Semana de 22. 
Logo de início, percebe-se a intenção do autor em romper com o formalismo 
parnasiano e simbolista. A descrição de cenas urbanas, em poemas como 
“Camelôs” e “Mangue”, revela a preocupação com episódios da vida moderna. 
Outros poemas, como “Belém do Pará” e “Evocação do Recife”, refazem a 
trajetória afetiva da vida do autor, que viveu em várias cidades. “Poética” é uma 
síntese das ideias do poeta sobre o que deveria ser a poesia daí em diante, 
tendo um caráter de manifesto: abaixo todo o lirismo que não seja libertação. 
A maior parte do livro é composta de poemas curtos, muitos dos quais se 
incorporaram ao imaginário cultural do país, como “Pasárgada”. Há também no 
livro dois poemas em francês. O poema que talvez revele o máximo da vontade 
de transformar o cotidiano em poesia é “Poema tirado de uma notícia de jornal”, 
que é, na verdade, a reprodução da notícia em forma de poema, com a mesma 
linguagem direta e coloquial. 
 
Com caráter quase biográfico, o livro traz ousadia formal e temática, tendo se 
estabelecido como um marco da poesia modernista do Brasil na primeira metade 
do século XX. 
CONTEXTO 
Sobre o autor 
 
Manuel Bandeira consagrou-se como o principal nome da poesia na primeira 
fase do modernismo brasileiro. O autor rompia com o fazer poético tradicional, 
trazendo o lirismo para falar do cotidiano. 
 
Importância do livro 
 
Libertinagem é o quarto livro de poemas de Bandeira. Publicado em 1930, é 
considerado o primeiro livro inteiramente modernista do autor. É composto de 38 
poemas escritos entre 1924 e 1930. Na obra, Bandeira abandona o formalismo 
e opta pela linguagem livre. A temática também é inovadora: cenas do cotidiano, 
recordações da infância e visão lírica do cenário urbano. Destacam-se os 
poemas “Evocação do Recife”, “Pneumotórax”, “Andorinha”, “Vou-me embora 
pra Pasárgada”, dentre outros. 
 
Período histórico 
 
Na Semana de Arte Moderna, os modernistas combatiam uma poesia 
considerada formal demais e pouco criativa. Era um período de valorização da 
cultura popular e de liberdade para experimentar formas e linguagens. Manuel 
Bandeira coloca em prática essa fase do modernismo na obra Libertinagem. 
ANÁLISE 
Libertinagem é um manifesto pela liberdade na poesia. Liberdade tanto na forma 
quanto no conteúdo. Bandeira viveu intensamente o período de transição entre 
os séculos XIX e XX, da passagem do tradicionalismo formal, parnasiano e 
simbolista, para o despojamento modernista. Em seu quarto livro, que 
é Libertinagem, a opção modernista se consolida. 
Alguns dos poemas do livro são muito conhecidos e fazem parte de qualquer 
coletânea da poesia brasileira de todos os tempos. Isso porque Bandeira 
consegue unir o lirismo e o dia a dia de forma nunca vista. Os poemas têm desde 
recordações da infância, nas quais a idealização das origens apresenta certa 
evocação romântica, até o erotismo. Tudo muito bem dosado, em poemas curtos 
e precisos. 
Nenhuma fase da vida humana é esquecida, a autor fala da infância, da 
descoberta do amor, da velhice e da morte. Tudo é tratado com lirismo e também 
com certo humor, muitas vezes. É possível acompanhar a trajetória do autor por 
meio de seus poemas, que, apesar de adquirirem com isso um tom biográfico, 
intimista e confessional, não resvalam para o sentimentalismo vulgar. 
Podemos dizer que o livro transita de forma inteligente entre a vontade de ser 
livre, de pertencer ao mundo e um ideal cada vez mais intimista, que traz 
recordações de pessoas e paisagens da infância de forma muito explícita. É o 
mundo de um artista que queria viver muito, mas que, por motivos de saúde, teve 
a ameaça da morte sempre muito próxima. 
A simplicidade, aliada à sutileza no uso da linguagem, faz com 
que Libertinagem nos apresente poemas eternos, já incorporados ao imaginário 
cultural e popular do brasileiro. Tais elementos fazem dele, senão o mais 
importante, um dos mais importantes livros de poesia do século XX. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"Libertinagem" - resumo e análise do livro de 
Manuel Bandeira 
Nesse seu primeiro livro inteiramente modernista, Manuel Bandeira 
revelase seguro no domínio do verso livre e das demais inovações que a 
Geração de 22 adotou, inspiradas nas vanguardas européias 
23/01/2009 12h 49 
Publicado em 1930, Libertinagem, de Manuel Bandeira, é um livro de poemas 
que sintetiza todas as aspirações revolucionárias da fase heróica do 
modernismo brasileiro, a Geração de 22. A obra reúne 38 poemas (dois dos 
quais em francês), escritos entre 1924 e 1930. Em sua maioria, nota-se a 
intenção do poeta de cortar laços com as formas tradicionais, acadêmicas e 
passadistas. Por esse motivo, é considerado o livro mais vanguardista de 
Manuel Bandeira e o primeiro totalmente modernista. Nele, pode-se 
observar um poeta mais seguro em relação à própria liberdade de expressão 
proposta pelo modernismo. 
 
POÉTICA DA LIBERTAÇÃO 
Influenciados pelas tendências das vanguardas européias (futurismo e 
cubismo, principalmente) que surgiram nas primeiras décadas do século XX, 
jovens intelectuais paulistanos decidem organizar um evento para 
comemorar o centenário da independência: a Semana de Arte Moderna, em 
1922. Em certa medida, esse movimento expressava, nas artes, o combate 
que a burguesia industrial e progressista travava com as oligarquias 
cafeeiras e tradicionais no plano político. De forma combativa, os 
modernistas contestavam um padrão de arte considerado estagnado e 
estéril, principalmente a poesia parnasiana. 
 
Entre outras inovações literárias, o modernismo trouxe o nacionalismo sob 
uma visão crítica da história; a pesquisa e o experimentalismo de novas 
estéticas - sem modelos rígidos - como os versos livres (sem métrica 
regular), ou seja, uma poesia que se aproximava da prosa; a valorização da 
cultura popular, do cotidiano e da linguagem coloquial, livre do rigor 
sintático lusitano; e o humor crítico e irônico (o poema-piada). 
 
Manuel Bandeira havia sido um dos primeiros autores a colocar em prática 
alguns desses experimentos, em obras anteriores, como Carnaval, mas é 
em Libertinagem que ele decide efetivamente explorar todas as 
potencialidades, de forma madura e sem limites, como indica o próprio títulodo livro. 
 
O poema "Poética" funciona como uma espécie de manifesto: 
 
Estou farto do lirismo comedido 
Do lirismo bem comportado 
Do lirismo funcionário 
[público com livro de ponto 
[expediente protocolo 
[e manifestações 
[de apreço ao sr. diretor. 
 
Estou farto do lirismo 
[que pára e vai averiguar 
no dicionário o cunho 
[vernáculo de um vocábulo 
 
Abaixo os puristas 
Todas as palavras sobretudo 
[os barbarismos universais 
[Todas as construções 
sobretudo as sintaxes 
[de exceção 
Todos os ritmos 
[sobretudo os inumeráveis 
 
Estou farto 
[do lirismo namorador 
Político 
Raquítico 
Sifilítico 
De todo lirismo que capitula 
[ao que quer que seja 
[fora de si mesmo. 
 
De resto não é lirismo 
Será contabilidade 
[tabela de co-senos secretário 
[do amante exemplar 
[com cem modelos de cartas 
[e as diferentes maneiras 
[de agradar às mulheres, etc. 
 
Quero antes 
[o lirismo dos loucos 
O lirismo dos bêbados 
O lirismo difícil 
[e pungente dos bêbados 
O lirismo 
[dos clowns de Shakespeare 
 
- Não quero mais saber 
[do lirismo que não é libertação. 
 
Nesse poema, valendo-se da metalinguagem, Bandeira prega uma arte 
universal que valoriza a expressão poética da palavra. Ao mesmo tempo, 
como bom modernista, recusa tanto a poesia burocrática, contida no plano 
formal e sentimental do parnasianismo, quanto a poesia demagógica e 
debilitada do romantismo. 
Entretanto, o poeta soube equilibrar as inovações com a tradição, como 
ocorre no famoso Vou-me embora pra Pasárgada", composto de redondilhas 
maiores (sete sílabas poéticas): 
 
Vou-me embora pra Pasárgada 
Lá sou amigo do rei 
Lá tenho a mulher que eu quero 
Na cama que escolherei 
Vou-me embora pra Pasárgada 
 
Vou-me embora pra Pasárgada 
Aqui eu não sou feliz 
Lá a existência é uma aventura 
De tal modo inconseqüente 
Que Joana a Louca de Espanha 
Rainha e falsa demente 
Vem a ser contraparente 
Da nora que nunca tive 
 
E como farei ginástica 
Andarei de bicicleta 
Montarei em burro brabo 
Subirei no pau-de-sebo 
Tomarei banhos de mar! 
E quando estiver cansado 
Deito na beira do rio 
Mando chamar a mãe-d’ água 
Pra me contar as histórias 
Que no tempo de eu menino 
Rosa vinha me contar 
Vou-me embora pra Pasárgada 
 
Em Pasárgada tem tudo 
É outra civilização 
Tem um processo seguro 
De impedir a concepção 
Tem telefone automático 
Tem alcalóide à vontade 
Tem prostitutas bonitas 
Para a gente namorar 
E quando eu estiver mais triste 
 
Mas triste de não ter jeito 
Quando de noite me der 
Vontade de me matar 
- Lá sou amigo do rei - 
Terei a mulher que eu quero 
Na cama que escolherei 
Vou-me embora pra Pasárgada. 
 
Característica fundamental da poética de Bandeira, vários de seus poemas 
são de caráter confessional, como esse "Vou-me embora pra Pasárgada". Ao 
contrário de seus contemporâneos, o autor de Libertinagem, de forma 
autobiográfica, expõe sua melancolia, fruto da condição de homem 
desenganado pela medicina - já que, aos 18 anos, contraiu tuberculose, 
doença mortal na época. Sua vida inteira foi uma longa e solitária espera 
pela morte, que, no poema citado, o eu-lírico extravasa na forma do 
escapismo, em busca da felicidade. No entanto, em vez da evasão utópica da 
poesia romântica, Bandeira deseja o prazer nas coisas simples da vida. 
Outra forma de fuga em seus poemas é o recurso às lembranças de infância. 
"Porquinho-da-índia" é um exemplo disso. A simplicidade do lirismo e o tom 
levemente irônico levam o poeta a relembrar uma epifania, uma revelação 
despertada por uma experiência pueril e prosaica, mas, ao mesmo tempo, 
bela e comovente: 
 
Quando eu tinha seis anos 
Ganhei um porquinho-da-índia. 
Que dor de coração me dava 
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão! 
Levava ele pra sala 
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos 
Ele não gostava: 
Queria estar debaixo do fogão. 
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas... 
- O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada. 
 
No belo "Evocação do Recife", as recordações do tempo de criança 
misturam-se a comentários sobre a vida da gente simples e as 
transformações ocorridas na cidade: 
 
(...) 
Rua da União... 
Como eram lindos os nomes 
[das ruas da minha infância 
Rua do Sol 
(Tenho medo que hoje se 
[chame do Dr. Fulano de Tal) 
(…) 
A vida não me chegava pelos 
[jornais nem pelos livros 
Vinha da boca do povo 
[na língua errada do povo 
Língua certa do povo 
Porque ele é que fala gostoso 
[o português do Brasil 
Ao passo que nós 
O que fazemos 
É macaquear 
A sintaxe lusíada 
(...) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Libertinagem - Manuel Bandeira 
Manuel Bandeira 
Filho do engenheiro Manuel Carneiro de Sousa Bandeira e de sua 
esposa Francelina Ribeiro, era neto paterno de Antônio Herculano de Sousa 
Bandeira, advogado, professor da Faculdade de Direito do Recife e deputado 
geral na 12ª legislatura. Tendo dois tios reconhecidamente importantes, 
sendo um, João Carneiro de Sousa Bandeira, que foi advogado, professor de 
Direito e membro da Academia Brasileira de Letras e o outro, Antônio 
Herculano de Sousa Bandeira Filho, que era o irmão mais velho do engenheiro 
Sousa Bandeira e foi advogado, procurador da coroa, autor de expressiva 
obra jurídica e foi também Presidente das Províncias da Paraíba e de Mato 
Grosso. 
Seu avô materno era Antônio José da Costa Ribeiro, advogado e 
político, deputado geral na 17ª legislatura. Costa Ribeiro era o avô citado em 
Evocação do Recife. Sua casa na rua da União é referida no poema como "a 
casa de meu avô". No Rio de Janeiro, para onde viajou com a família, em 
função da profissão do pai, engenheiro civil do Ministério da Viação, estudou 
no Colégio Pedro II (Ginásio Nacional, como o chamaram os primeiros 
republicanos) foi aluno de Silva Ramos, de José Veríssimo e de João Ribeiro, 
e teve como condiscípulos Álvaro Ferdinando Sousa da Silveira, Antenor 
Nascentes, Castro Menezes, Lopes da Costa, Artur Moses. 
Em 1904 terminou o curso de Humanidades e foi para São Paulo, onde 
iniciou o curso de arquitetura na Escola Politécnica de São Paulo, que 
interrompeu por causa da tuberculose. Para se tratar buscou repouso em 
Campos do Jordão, Campanha e outras localidades de clima mais ameno. 
Com a ajuda do pai que reuniu todas as economias da família foi para a Suíça, 
onde esteve no Sanatório de Clavadel. ao regressar, iniciou na literatura, com 
"A Cinza das Horas", em 1917, e dois anos depois, com a publicação de 
"Carnaval". 
Em 1935, foi nomeado inspetor federal do ensino e, em 1936, foi 
publicada a “Homenagem a Manuel Bandeira”, coletânea de estudos sobre 
sua obra, assinada por alguns dos maiores críticos da época, alcançando 
assim a consagração pública. De 1938 a 1943, foi professor de literatura no 
Colégio D. Pedro II, e em 1940, foi eleito membro da Academia Brasileira de 
Letras. Posteriormente, nomeado professor de Literaturas Hispano-
Americanas na Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil, cargo do qual 
se aposentou, em 1956. 
Manuel Bandeira faleceu no dia 13 de outubro de 1968, com 
hemorragia gástrica, aos 82 anos de idade, no Rio de Janeiro, e foi sepultado 
no mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no Cemitério São João Batista, 
no Rio de Janeiro. 
 
Libertinagem 
Libertinagem é o quarto livro de poesia do escritor brasileiro Manuel Bandeira, 
publicado em 1930, mas é o seu primeiro livro verdadeiramente moderno e 
importante. É composto por 38 poemas, entre os quais se 
destacam "Pneumotórax", "Pensão Familiar", "Profundamente" e 
"Vou-me embora pra Pasárgada”. 
Os poemas de Libertinagem contêmhumor, erotismo e refinamento 
musical. 
É uma sucessão de poemas espantosos, cheios de novidade, humor, 
erotismo, refinamento musical, força de imagens – tudo isso produzindo uma 
intensidade emocional que, às vezes, aproxima-se do piegas, mas nunca cai 
nele. 
 
Análise do livro "Libertinagem" 
 
Estilo 
A poesia de Manuel Bandeira caracterizou-se pela variedade criadora, 
desde o soneto parnasiano, pela prática do verso livre, até por experiências 
com a poesia concretista. Por outro lado, conservou e adaptou ao espírito 
moderno os ritmos e formas mais regulares, como os versos em redondilhas 
maiores. Em sua poesia, observa-se uma constante nota de ternura e paixão 
pela vida. Seu lirismo intimista registra o cotidiano com simplicidade, 
atribuindo-lhe um sentido de evento e espetáculo. Nela, também, estão 
presentes a infância, a terra natal, a cultura popular, a doença, a preocupação 
com a morte, a defesa da linguagem modernista, a sensualidade, o lirismo 
tradicional, o antilirismo, a reflexão existencial, a infância e o humor. 
Verificamos, em Manuel Bandeira, traços indicadores de uma 
sensibilidade romântica, sobretudo de uma profunda tristeza, aliada ao 
desencanto e à melancolia. A confissão de seu estado de espírito, da presença 
do “eu” em poemas e da morte como motivo poético mais freqüente conferiu-
lhe uma aura romântica. 
 
Temáticas e estilos 
A morte estava muito presente na vida de Bandeira, pois muito jovem 
descobriu a tuberculose. Como não pôde seguir a vida como arquiteto, 
Bandeira começou a se dedicar à poesia para preencher o espaço. Esta 
temática está presente desde o primeiro livro. A morte também determinou 
um estilo, mas sem o entusiasmo dos modernistas da época. Os paulistas 
eram extremamente exaltados, como Oswald e Mário de Andrade. Bandeira 
era um poeta da humildade, do tom mais baixo. 
Outra temática dos poemas de Bandeira é a sensualidade, tratada de 
maneira diferente, não tradicional. O objeto do desejo era principalmente as 
prostitutas. Em função da própria experiência de vida sexual dele, não 
convencional por causa da doença. 
Também a infância, como retorno ao passado, opõe-se a este presente 
de angústia e dor vivenciado pelo poeta. O folclore, suas quadras e canções 
populares, a família sempre apareceram ligados à infância. Foi o tempo feliz 
antes da doença. Depois o pai, a mãe e o irmão morreram, então foi o tempo 
de comunhão com os parentes. 
(Esse é um dos aspectos fortes da poesia de Bandeira: levar a 
simplicidade até a beira da sentimentalidade, mantendo-se sempre, com 
mestria e finura, longe de qualquer vulgaridade.) 
Alguns dos poemas mais famosos de Bandeira fazem parte deste livro: 
“Pneumotórax”, cena de humor negro envolvendo um tuberculoso e um 
médico infame; “Pensão familiar”, cena do cotidiano de uma “pensãozinha 
burguesa”, com o inesquecível gatinho que “faz pipi” e “encobre 
cuidadosamente a mijadinha” – “a única criatura fina da pensãozinha 
burguesa”; “Profundamente”, um dos grandes poemas da morte deste grande 
poeta da morte, e, talvez o mais célebre de seus poemas, “Vou-me embora 
pra Pasárgada”, deliciosa utopia que apresenta a fantasia de um país em que 
todos os desejos se satisfazem, especialmente os desejos sexuais: 
Analise de alguns poemas 
Pneumotórax 
Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos. 
A vida inteira que podia ter sido e que não foi. 
Tosse, tosse, tosse. 
Mandou chamar o médico: 
– Diga trinta e três. 
– Trinta e três... trinta e três... trinta e três... 
– Respire. 
.............................................................. 
 
– O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão 
direitoAche os cursos e faculdades ideais para você. É fácil e rápido. infiltrado. 
– Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax? 
– Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino. 
 
- Refere-se à doença de Manuel Bandeira - a tuberculose. A morte, 
novamente em evidência, é tratada em tom jocoso da primeira geração 
modernista: humor negro, coloquialismos, auto-ironia, além da técnica de 
marcação teatral com o emprego do diálogo. 
“Vou-me embora prá Pasárgada 
Vou-me embora pra Pasárgada 
Lá sou amigo do rei 
Lá tenho a mulher que eu quero 
Na cama que escolherei 
Vou-me embora pra Pasárgada 
Vou-me embora pra Pasárgada 
Aqui eu não sou feliz 
Lá a existência é uma aventura 
De tal modo inconseqüente 
Que Joana a Louca de Espanha 
Rainha e falsa demente 
Ver a ser contraparente 
Da nora que nunca tive 
E como farei ginástica 
Andarei de bicicleta 
Montarei em burro brabo 
Subirei no pau-de-sebo 
Tomarei banhos de mar! 
E quando estiver cansado 
Deito na beira do rio 
Mando chamar a mãe-d’água 
Pra me contar as histórias 
Que no tempo de eu menino 
Rosa vinha me contar 
Vou-me embora pra Pasárgada 
Em Pasárgada tem tudo 
É outra civilização 
Tem um processo seguro 
De impedir a concepção 
Tem telefone automático 
Tem alcalóide à vontade 
Tem prostitutas bonitas 
Para a gente namorar 
E quando eu estiver mais triste 
Mas triste de não ter jeito 
Quando de noite me der 
Vontade de me matar 
– Lá sou amigo do rei – 
Terei a mulher que eu quero 
Na cama que escolherei 
Vou-me embora pra Pasárgada 
 
- Nesse poema, Bandeira busca a utopia, a evasão, o lugar onde possa 
realizar-se, onde fuja da morte (Quando de noite me der / vontade de me 
matar), onde se mesclem os elementos reais e o non-sense, onde a doença 
não será empecilho porque simplesmente não existirá, onde a infância será 
revivida e os homens e mulheres que participaram de sua vida, presentes, 
representados por Rosa. 
O coloquialismo, os versos em redondilha maior e a repetição do verso 
"Vou-me Embora Pra Pasárgada" remetem-nos à poesia popular. 
O termo Pasárgada ocorreu ao poeta num momento de desânimo 
devido à doença. Ouvira no colégio algo sobre uma civilização ideal, antiga, 
fundada por Ciro, na Pérsia. 
 
"Porquinho-da-Índia" 
Quando eu tinha seis anos 
Ganhei um porquinho-da-índia. 
Que dor de coração eu tinha 
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão! 
Levava ele pra sala 
Pra os lugares mais bonitos, mais limpinhos, 
Ele não se importava: 
Queria era estar debaixo do fogão. 
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas... 
- O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada. 
 
- Poema de tom narrativo e memorialista, destaca a pureza, a 
inocência de uma criança que dedica todo seu afeto a um bicho de estimação. 
O toque de humor fica por conta do verso final, espécie de conclusão em que 
se introduz a fala do eu lírico. 
 
“A Virgem Maria" 
O oficial do registro civil, o coletor de impostos, o mordomo 
da Santa Casa e o administrador do cemitério de S. João 
Batista 
Cavaram com enxada 
Com pás 
Com as unhas 
Com os dentes 
Cavaram uma cova mais funda que o meu suspiro de renúncia 
Depois me botaram lá dentro 
E puseram por cima 
As Tábuas da Lei 
 
Mas de lá de dentro do fundo da treva do chão da cova 
Eu ouvia a vozinha da Virgem Maria 
Dizer que fazia sol lá fora 
Dizer i n s i s t e n t e m e n t e 
Que fazia sol lá fora. 
 
A Virgem Maria foi escrito em 1926, seus versos elaborados de maneira 
livre, exprimem a proximidade do poeta com a morte. A morbidez pode ser 
considerada um dos temas basilares da poesia bandeiriana, e sua presença 
possuí relação intrínseca com a tuberculose que o acometeu em 1904. 
Durante vários anos, Bandeira, foi desenganado por uma miríade de médicos. 
Devido a essa enfermidade ele chegou a viajar para outros locais em busca 
de climas mais propícios para curar a doença. 
Virgem Maria, escrito em primeira pessoa, traz em seu primeiro verso, 
“O oficial do registro civil, o coletor de impostos, o mordomo da Santa Casa 
e o administrador do cemitério de S. João Batista.” Como é possível notar, o 
poeta cita vários profissionais, que ao longo do poema, estão ligados ao 
sepultamento do narrador.Primeiramente, temos a figura do oficial de 
registro civil, a este o enterro de alguém é, de certo modo, algo inerente à 
sua profissão, haja vista que, a ele é incumbido o ato de registrar quem nasce 
e quem morre. Ao administrador do cemitério, o falecimento de alguém 
possuí relevância inegável, não apenas pelo fato de ter que administrar o 
local de enterro. Sua importância pode ser evidenciada em um sentido 
oneroso, uma vez que, existem taxas que são cobradas para sepultar as 
pessoas. Ao citar o coletor de impostos e o mordomo da Santa Casa, é 
possível notar que o poeta utilizou-se da ironia, isso se evidencia fortemente 
nos versos subseqüentes. A explicação do uso desse tropo é facilmente 
entendida se pensarmos que o coletor de impostos só cobra tributos de 
alguém ao vivo, mesmo assim ele é uma das figuras que enterram o narrador. 
Já o Mordomo, nomenclatura antiga que era utilizada para designar os 
diretores responsáveis pelo serviços de todo o hospital, auxilia os outros no 
enterro. Ora, se analisarmos bem, era dever deste profissional tentar 
organizar sua equipe da melhor maneira possível para salvar a vida dos 
pacientes. 
Destarte, como vemos nos versos que vão do dois até o oito, todos os 
sujeitos mencionados anteriormente empreendem um esforço hercúleo para 
sepultar o eu-lírico, dado que, recorrem não apenas a enxada e a pá, utilizam-
se também dos dentes e das unhas para cavar uma cova, como nos diz o 
verso seis, “mais funda que o meu suspiro de renúncia.” Logicamente 
percebemos que Bandeira recorreu à metáfora para elaborar esses versos, 
uma vez que, os atos empenhados pelos profissionais citados não 
necessariamente se dão na abertura real da sepultura, ou de um buraco 
propriamente dito, mas sim na maneira que todos estas pessoas 
desenganaram o narrador através de outro atos que são inerentes a profissão 
que cada um desempenha. Analisando por este viés, fica fácil 
compreendermos que a sepultura não precisa ser interpretada como sendo 
necessariamente física. Mas esta pode estar no íntimo do narrador, ou seja, 
o sepulcro na verdade estaria calcado no fato da solidão e angústia que ele 
sente por estar sendo “enterrado” por estes profissionais. 
Nos versos seguintes ele é finalmente sepultado. Para cobrir o sepulcro 
são utilizadas as Tábuas da Lei. Eis que nos surge a seguinte indagação: teria 
o indivíduo transgredido algum dos princípios estabelecidos no decálogo? 
Talvez sim, se pensarmos que em uma das Tábuas que é dedicadas ao amor 
a Deus, ele no momento de sua doença, poderia ter negado a existência do 
ser supremo. Já na segunda Tábua dedicada ao amor ao próximo, não fica 
explicito no poema, se o sepultado violou ou não uma das normas. 
Depois de se ser sepultado, como poder-se-á notar no poema, ainda 
vivo, ele escuta a vozinha da Virgem Maria. A mesma, em forma de imagem, 
é comumente colocada em cima de sepulturas. A santa viola o silêncio do 
túmulo e diz com sua vozinha que “fazia sol lá fora.” Em seguida, fala “i n s i 
s t e n t e m e n te”, repetindo que havia sol lá fora. Analisando os versos, 
perceber-se-á que o uso do diminutivo empregado no substantivo “voz” 
denota certa brandura. Já o soletramento da palavra “insistentemente”, ajuda 
a frisar para o leitor a idéia de que o sol estava presente lá fora. Como vemos, 
o poeta utilizou de uma metáfora bem construída, pois a frase “fazia sol lá 
fora”, na verdade indica que ainda existia vida. 
Analisando todos os versos de A Virgem Maria, concluímos que, 
Bandeira, consegue transmitir de maneira surrealista, por meio de metáforas 
bem elaboradas, como é o sentimento de ser desenganado e enterrado. 
Enfim, ele transmite qual é a sensação de sentir-se sem esperanças em 
relação à vida. Os versos finais do poema, apesar de nos trazerem que ainda 
havia uma chance de vida para o indivíduo, essa já não é eficaz, pois a Virgem 
Maria diz no pretérito imperfeito do indicativo que “fazia sol lá fora.” As 
palavras da santa ajudam a reforçar também que mesmo com chances de 
viver ele se deixou vencer, ou seja, o cidadão realmente não estava 
interessado em viver pois ficou inerte enquanto todas as pessoas que ele cita 
o “sepultavam.” 
O poema conta com quatorze versos. Além disso, poder-se-á observar 
que, em A Virgem Maria, não existe nenhum tipo de pontuação a partir do 
segundo verso até o restante do poema, a ausência desta é totalmente 
proposital. O poeta utilizou sabiamente o recurso, pois ao lermos o texto, 
ficamos com falta de ar. Além disso, somos invadidos por um grande 
desespero. Estas duas emoções, causadas graças à falta de pontuação, 
conseguem transmitir de maneira magistral os sentimentos de ser 
enclausurado vivo em uma sepultura. 
No tocante às figuras de linguagem, Bandeira recorre à anáfora. Nos 
versos três, quatro e cinco, ela é usada através da preposição “com”, que 
enfatiza o ato de sepultar o indivíduo, e não apenas faz isso, pois este recurso 
também ajuda a criar uma sonoridade que se encaixa perfeitamente ao ritmo 
do poema . 
Dos tropos mais marcantes que se engendram nos versos, podemos 
citar a metáfora – que como vimos anteriormente é amplamente utilizada – 
e a ironia que se dá principalmente no primeiro verso. 
Mesmo tendo sido construído com base nos pilares da versificação 
livre, Bandeira não abandona em certas partes do poema a rima, que em A 
Virgem Maria adicionam uma sonoridade especial ao ritmo. Os versos livres 
não necessariamente rompem com as rimas, como elucida de maneira 
brilhante, Antonio Candido, em sua obra Estudo analítico do poema, ele diz 
que “no modernismo a rima nunca foi abandonada. Mas os poetas adquiriram 
grande liberdade no seu tratamento.” 
Para findar esta análise. é de suma importância ressaltar que Virgem 
Maria tem como características precípuas, as metáforas acerca da morte, 
ironia, versos livres e. por fim, a desesperança em relação à vida. Estes são 
os fatores cruciais que nos levam um entendimento maior da obra. Porém, 
apenas estes, como foi demonstrado, não seriam suficientes caso não 
tivéssemos recorrido ao contexto de como e quando o poema foi produzido. 
- As figuras que aparecem na primeira estrofe revelam a realidade 
opressora e a morte se pronunciando. Ansiedade, ira e hipocrisia compõem o 
quadro do enterro até que, em oposição à escuridão e à morte, surge a 
imagem da Virgem Maria, da qual o poeta só ouve a voz dizendo-lhe que 
"fazia sol lá fora". É a vida, a liberdade. O termo insistentemente foi grafado 
de forma especial no poema para enfatizar o seu significado. 
 
"Evocação do Recife" 
Recife 
Não a Veneza americana 
Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais 
Não o Recife dos Mascates 
Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois 
- Recife das revoluções libertárias 
Mas o Recife sem história nem literatura 
Recife sem mais nada 
Recife da minha infância 
A rua da União onde eu brincava de chicote-queimado 
e partia as vidraças da casa de dona Aninha Viegas 
Totônio Rodrigues era muito velho e botava o pincenê 
na ponta do nariz 
Depois do jantar as famílias tomavam a calçada com cadeiras 
mexericos namoros risadas 
A gente brincava no meio da rua 
Os meninos gritavam: 
Coelho sai! 
Não sai! 
 
À distância as vozes macias das meninas politonavam: 
Roseira dá-me uma rosa 
Craveiro dá-me um botão 
 
(Dessas rosas muita rosa 
Terá morrido em botão...) 
De repente 
nos longos da noite 
um sino 
Uma pessoa grande dizia: 
Fogo em Santo Antônio! 
Outra contrariava: São José! 
Totônio Rodrigues achava sempre que era são José. 
Os homens punham o chapéu saíam fumando 
E eu tinha raiva de ser menino porque não podia ir ver o fogo. 
 
Rua da União... 
Como eram lindos os montes das ruas da minha infância 
Rua do Sol 
(Tenho medo que hoje se chame de dr. Fulano de Tal) 
Atrás de casa ficava a Rua da Saudade... 
...onde se ia fumar escondido 
Do lado de lá era o caisda Rua da Aurora... 
...onde se ia pescar escondido 
Capiberibe 
- Capiberibe 
Lá longe o sertãozinho de Caxangá 
Banheiros de palha 
Um dia eu vi uma moça nuinha no banho 
Fiquei parado o coração batendo 
Ela se riu 
Foi o meu primeiro alumbramento 
Cheia! As cheias! Barro boi morto árvores destroços redemoinho sumiu 
E nos pregões da ponte do trem de ferro 
os caboclos destemidos em jangadas de bananeiras 
 
Novenas 
Cavalhadas 
E eu me deitei no colo da menina e ela começou 
a passar a mão nos meus cabelos 
Capiberibe 
- Capiberibe 
Rua da União onde todas as tardes passava a preta das bananas 
Com o xale vistoso de pano da Costa 
E o vendedor de roletes de cana 
O de amendoim 
que se chamava mudubim e não era torrado era cozido 
Me lembro de todos os pregões: 
Ovos frescos e baratos 
Dez ovos por uma pataca 
Foi há muito tempo... 
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros 
Vinha da boca do povo na língua errada do povo 
Língua certa do povo 
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil 
Ao passo que nós 
O que fazemos 
É macaquear 
A sintaxe lusíada 
A vida com uma porção de coisas que eu não entendia bem 
Terras que não sabia onde ficavam 
Recife... 
Rua da União... 
A casa de meu avô... 
Nunca pensei que ela acabasse! 
Tudo lá parecia impregnado de eternidade 
Recife... 
Meu avô morto. 
Recife morto, Recife bom, Recife brasileiro 
como a casa de meu avô. 
 
- A subjetividade, o memorialismo, a infância, o folclore e a cultura 
popular caracterizam esse famoso poema de Manuel Bandeira. 
O eu lírico revive cenas do passado, como se fosse menino outra vez. 
Ao lado das brincadeiras de infância, surgem pessoas com as quais 
conviveu: parentes, vizinhos, amigos. Até os nomes das ruas eram líricos: 
Rua da União, do Sol, da Aurora. 
O poema alude ao erotismo, à força das águas, aos pregões e à 
exaltação do falar popular: "(...) língua errada do povo/ Língua certa do 
povo". 
O ataque ao artificialismo lingüístico, no tom da primeira geração 
modernista, está em: "Ao passo que nós/ O que fazemos/ É macaquear/ A 
sintaxe lusíada". Leia-se por nós, pessoas cultas - escritores, professores, 
leitores... 
A morte, tema fundamental em Bandeira, surge nas últimas estrofes, 
reforçando que a cidade de Recife de seu passado fora-se como seu avô, 
restou-lhe apenas a memória. 
 
"Irene no Céu" 
Irene preta 
Irene boa 
Irene sempre de bom humor. 
 
Imagino Irene entrando no céu: 
- Licença, meu branco! 
E São Pedro bonachão: 
- Entra, Irene. Você não precisa pedir licença 
 
O poema é formado de 7 versos irregulares, possui duas estrofes, é 
um poema . Primeira estrofe tem 3 versos – com a palavra semelhante 
“Irene”. Na segunda estrofe possui 4 versos . Podemos encontrar o uso de 
travessões – que são características de uma narrativa (diálogo) 
O narrador fantasia a personagem Irene no céu, esta tem um pequeno 
diálogo com o terceiro personagem do texto, que é São Pedro: 
Imagino Irene entrando no céu: 
- Licença meu branco! 
E São Pedro bonachão: 
- Entra, Irene. Você não precisa pedir licença. 
Olhando ainda para a primeira estrofe não encontramos verbos, 
enquanto na segunda estrofe há presença de verbos. Sem os mesmos o 
segundo parágrafo perderia sua essência marcante. A linguagem é do tipo 
coloquial (exemplo: bonachão) . 
 O foco narrativo é da primeira pessoa. O assunto ou seqüência dos 
fatos apresentados estão em sintonia com o tema, porque consiste na idéia 
de elucidar uma circunstância real e costumeira da época. Isso também é 
visto pela presença dos ideais religioso da igreja católica, isto é, a idéia do 
céu e de São Pedro como seu porteiro ou guardador. 
Há no texto interiorização de figuras familiares, conhecidas, dessa 
maneira é bem provável que a personagem “Irene” era alguém próximo da 
história de vida do autor. Percebi-se tal “intimidade” na medida em que o 
narrador e personagem apresenta os fatos: 
Irene preta 
Irene boa 
Irene sempre de bom humor (...) 
 “Irene no céu”, é uma crônica já que se caracteriza pelo tom 
humorístico ou crítico, que aborda um tema do passado (discriminação racial) 
bastante culminante na época. Só para se ter uma idéia, a discriminação de 
raças nesta época era tão grande que era possível presenciar frases do tipo: 
"Alugam-se quartos. Não se admitem pessoas de cor". 
O tratamento de inferioridade dispensado a uma pessoa ou grupo de 
pessoas por motivos raciais, religioso, político, entre outros na época era 
constante. O pobre, o negro, o necessitado, parecia que não tinha lugar 
privilegiado nas classes sociais , imagine no céu. 
A dialética aplicada pelo autor é simplesmente, a meu ver, um grito de 
justiça e de lição a favor dos pobres e necessitados. No jogo de palavras do 
texto, encontramos implícitas ou explicitas as oposições da vida: Preto e o 
branco, o rico e o pobre, o céu e o inferno, o mal e o bom e o conhecido e o 
desconhecido. A personagem “Irene” é uma tipologia do tipo de pessoa da 
comunidade pobre: 
O texto elucida uma verdadeira lição de moral : “Irene” era pobre e 
preta, mas tinha valores que em muitos ricos e brancos não se encontravam: 
era boa e bem humorada, era do bem, e por ser tão intima foi bem recebida 
por São Pedro. Ganhou passagem ao céu. 
- Embora o poema refira-se à imagem de uma pessoa querida pelo 
poeta, presente em sua infância, Irene representa também a mulher escrava, 
submissa, inferiorizada. O poeta sutilmente opõe branco e negro na segunda 
estrofe, onde Irene pede licença a São Pedro, chamando-o de meu branco. 
Há ainda a exaltação à linguagem coloquial. A fala de São Pedro 
ordena: "- Entra, Irene. Você não precisa pedir licença". Na linguagem 
normativa, o correto seria conservar o tu ou empregar o verbo na 3ª pessoa 
do singular. Assim, teríamos: 
- Entra, Irene. Tu não precisas pedir licença 
- Entre, Irene. Você não precisa pedir licença 
----- 
"Libertinagem contém os poemas que escrevi de 1924 a 1930 - os anos 
de maior força e calor do movimento modernista. Não admira pois que seja 
entre os meus livros o que está mais dentro da técnica e da estética do 
modernismo". (Manuel Bandeira) 
Síntese 
Obra publicada em 1930, Libertinagem é composta por trinta e oito 
poemas. Embora comporte características da primeira geração modernista, 
como o humor, os versos livres e brancos, a linguagem mais coloquial e o 
cotidiano, o toque especial do poeta faz-se presente em todos os poemas: a 
simplicidade. 
A simplicidade é um elemento importante no estilo de Bandeira. Ela é 
responsável pelo refinamento dos poemas - abordar o simples é que é difícil 
- e chega ao primarismo sentimental, sem resvalar na vulgaridade ou no 
pieguismo. 
Libertinagem é, portanto, a novidade, o erotismo, a musicalidade, a 
força de imagens, o cunho biográfico, a paixão pela vida e a visão da morte, 
a infância, a pureza, a crítica, a liberdade, a saudade, o amor, a alegria, a 
tristeza, a evasão, a solidão. 
 
"Pensão Familiar" 
Jardim da pensãozinha burguesa. 
Gatos espaçados ao sol. 
A tiririca sitia os canteiros chatos. 
O sol acaba de crestar os gosmilhos que murcharam. 
Os girassóis 
 amarelo! 
 resistem. 
E as dálias, rechonchudas, plebéias, dominicais. 
Um gatinho faz pipi. 
Com gestos de garçom de restaurant-Palace 
Encobre cuidadosamente a mijadinha. 
Sai vibrando com elegância a patinha direita: 
- É a única criatura fina na pensãozinha burguesa. 
 
Realizaremos uma breve análise do poema "Pensão Familiar", de 
Manuel Bandeira, de forma a relacionar os poemas segundo padrões estéticos 
e ideológicos do Movimento Modernista Brasileiro, fazendo-se importante 
ressaltar que o trabalho a seguir não tem a pretensão de realizar qualquer 
tipo de análise semântica aprofundada do conteúdo de nenhum dos dois 
poemas, atendo-se apenas a questões formais.Para tanto, há de levar-se em conta o fato de que ambos os poemas 
foram compostos por seus respectivos autores num período que abarca os 
anos de 1922 a 1930, fase de caráter "radical" modernista, na qual, entre 
outras, houve a publicação do "Manifesto da Poesia Pau Brasil", por Oswald 
de Andrade, obra na qual se observa a proposição de alguns aspectos de 
extrema relevância, que caracterizam a poética do período, e da qual nota-
se influência tanto sobre os poemas em questão quanto sobre grande parte 
das composições literárias e artísticas contemporâneas a ela. 
"Pensão Familiar", em anexo, foi publicada no livro "Libertinagem", de 
Manuel Bandeira, no ano de 1930, tendo sido composta em 1925 pelo poeta. 
Situando-se entre uma vasta gama de artistas que deram origem ao 
Movimento Modernista; iniciado em 22 com a Semana de Arte Moderna, na 
qual o próprio autor teve participação ativa em sua concretização junto a 
Mário, Oswald de Andrade e outros; Bandeira apresenta em boa, se não toda, 
parte de sua obra traços especificamente modernistas. O poema, conforme 
se pretende verificar na seqüência, ilustra a afirmação. Apesar de intitulado 
"Pensão Familiar", o poema apresenta apenas figuras como os gatos, a 
tiririca, o sol, gosmilhos, girassóis e dálias, sendo composto por uma única 
ação efetiva: a do gato "fazer pipi" e "encobrir a mijadinha". Ao resgatar seus 
atos e afirmar a superioridade na elegância do animal, ressaltada pelo 
travessão (último verso), sobre todos os outros moradores da pensão, 
sobretudo levando em conta os versos que antecedem este último (última 
estrofe) e denotam os gestos do gato, que urina e cobre a excreção, 
comparando sua naturalidade à de um garçom, em tom de humor, Bandeira 
debocha e infama cinicamente a sociedade, e provavelmente trata-se aqui da 
baixa burguesia, em decadência. 
O poema seguem a "linha modernista" em relação à métrica, ou seja, 
opta pelo rompimento com o tradicional, não apresentam regularidade 
aparente entre os versos, assim como é possível observar-se através de suas 
composições por verso-livre. Os recursos usados na imposição de ritmo aos 
poemas são a estrutura dos versos, a pontuação e a disposição consonantal, 
apreciadas adiante; 
 
"Profundamente" 
Quando ontem adormeci 
Na noite de São João 
Havia alegria e rumor 
Estrondos de bombas luzes de Bengala 
Vozes, cantigas e risos 
Ao pé das fogueiras acesas. 
 
No meio da noite despertei 
Não ouvi mais vozes nem risos 
Apenas balões 
Passavam, errantes 
Silenciosamente 
Apenas de vez em quando 
O ruído de um bonde 
Cortava o silêncio 
Como um túnel. 
Onde estavam os que há pouco 
Dançavam 
Cantavam 
E riam 
Ao pé das fogueiras acesas? 
 
— Estavam todos dormindo 
Estavam todos deitados 
Dormindo 
Profundamente. 
 
* 
Quando eu tinha seis anos 
Não pude ver o fim da festa de São João 
Porque adormeci 
 
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo 
Minha avó 
Meu avô 
Totônio Rodrigues 
Tomásia 
Rosa 
Onde estão todos eles? 
 
— Estão todos dormindo 
Estão todos deitados 
Dormindo 
Profundamente. 
 
Nota-se um sentimento de tristeza quando o poeta se lembra de um 
tempo “que não volta mais”: quando eu tinha seis anos... 
Outro tema recorrente é a sensualidade. Muitas vezes expressada por 
um sentimento de impossibilidade de alcance do desejo sexual, em virtude 
dos problemas de saúde que impedem o poeta de ter um vida social e afetiva 
comum. 
Mostra, além de um saudosismo pela infância do eu-lírico de forma 
melancólica, ideais modernistas, pela quebra de paradigmas com a forma fixa 
e a métrica (versos livres) e a brincadeira com o campo semântico das 
palavras em contexto.Interpretando o poema, pode-se dizer que o mesmo se 
apresenta em dois tempos distintos: o passado (quando tinha seis anos) e o 
presente (hoje); bem destacados pelos advérbios que aparecem no início da 
1ª e da 5ª estrofes, respectivamente.O início do texto mostra algumas 
lembranças do eu-lírico vividas na noite de São João, quando ele tinha seis 
anos e não pôde ver o final da festa, porque tinha adormecido. Então, ao 
acordar (possivelmente, no meio da madrugada), toda a alegria produzida 
pelas músicas, risadas e brincadeiras do cotidiano das pessoas daquela época 
tinha desaparecido, porque todos da casa estavam dormindo profundamente 
(no sentido literal - denotativo). No entanto, a partir da 5ª estrofe, percebe-
se a mudança de tempo e a mesma angústia vivida pelo eu-lírico de não ouvir 
mais as vozes daquele tempo e se questiona até perceber que eles não 
estavam mais lá, pois haviam morrido (“dormido profundamente” no sentindo 
conotativo).É interessante a brincadeira que o poeta faz com as palavras em 
seu sentido denotativo e conotativo (“dormir profundamente”- 4ª e 7ª 
estrofes); percebe-se, portanto, que se trata de um bom entendedor das 
palavras que o cercam e que, através de um vocabulário simples, consegue 
atingir temas tão profundos como a morte e a saudade.Além disso, ele utiliza-
se de alguns recursos estilísticos, como o som e, para tal, a terceira estrofe 
pode ajudar, pois nos quatro primeiros versos, dá para notar a constante 
repetição do som “s” que provoca a idéia do queimar da pólvora produzida 
pelo balão (“[...] Estrondos de bombas luzes de Bengala / Vozes, cantigas e 
risos/ Ao pé das fogueiras acesas. / No meio da noite despertei / Não ouvi 
mais vozes nem risos / Apenas balões /Passavam, errantes /Silenciosamente 
[...]”), cuja zoada é cortada pelo advérbio de modo “Silenciosamente”, pois 
o som do fonema “s”, nesse caso, transmite a idéia do pedir silêncio (a 
onomatopéia do silêncio “siiii...”), uma vez que, tudo estava calmo, sem 
zoadas ou sons e quando acontecia algum ruído, era porque um ou outro 
bonde que passava “cortando o silêncio como um túnel” (comparação).O 
poema, através de um simples vocabulário, atinge temas tão profundos, de 
forma criativa, simples (utiliza-se de fatos do cotidiano das pessoas daquela 
época na noite de São João) e saudosista; típicas características desse autor 
pernambucano que não só marcou a literatura local, como a do Brasil como 
um.

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