Patrimônio Cultural Material e Imaterial

Prévia do material em texto

Patrimônio Cultural Material e Imaterial: 
Um olhar sobre a cidade de Bela Vista de Minas, MG 
Giselle Almeida 
RESUMO 
O artigo contempla as tendências que constituem o patrimônio cultural que 
pode ser verificado atualmente no Brasil. No primeiro momento será abordado 
aspectos relacionados ao patrimônio cultural e os seus ajustes até a conclusão 
das categorias de cultura material e imaterial. Em seguida a pesquisa propõe uma 
breve discussão relacionada ao conceito de cultura material e imaterial, e suas 
vertentes no que diz respeito ao Estado de Minas Gerais e a Cidade de Bela Vista 
de Minas. Como forma de concretização do estudo, torna-se importante a 
construção de uma proposta de atividade que tem como finalidade trabalhar a 
Educação Patrimonial Cultural no ambiente escolar. Desta forma a estruturação do 
projeto se pauta em dialogar nos espaços escolares os bens materiais e 
principalmente as culturas locais que fazem parte da experiência vivenciada e do 
próprio cotidiano do estudante. 
 
Palavras-chave: Patrimônio, Cultura, Material, Imaterial. 
 
ABSTRACT 
This article analyzes the trends that constitute the cultural heritage which can be 
currently seen in Brazil. At first it will be addressed aspects related to cultural 
heritage and its adjustments to the completion of the categories of tangible and 
intangible culture. Then the research proposes a brief discussion related to the 
concept of tangible and intangible culture, and its aspects with regard to the state 
of Minas Gerais and the City of Bela Vista de Minas. As embodiment of the study, 
it is important to build a proposed activity that is intended to work the Cultural 
Heritage Education in the school environment. Thus the structure of the project is 
guided in dialogue in school spaces material goods and especially local cultures 
that are part of lived experience and the student himself everyday. 
 
Keywords: Heritage , Culture , Material, Immaterial . 
 
 
PATRIMÔNIO CULTURAL 
 No contexto de Estado Novo, com Getulio Vargas no governo, tem-se a 
apresentação da nova Constituição de 1937. Na sua nova estruturação a 
Constituição inclui o Decreto-lei nº 25 que representa como Patrimônio toda forma 
Histórica e Artística. Assim, 
O conjunto de bens móveis e imóveis existentes no País e cuja 
conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos 
memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor 
arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico. (BRASIL. Lei nº 25, 
de 30 de novembro de 1937) 
 
 Nessa perspectiva é notável que a definição de patrimônio, parte de um 
viés material, palpável, onde os objetos são trabalhados isoladamente nas 
produções humanas. O conceito não prioriza uma integração com elementos que 
permeiam a sociedade que é enraizada de costumes, saberes e tradições 
populares. Diante deste cenário, percebeu a necessidade de uma reorganização 
da concepção de patrimônio. 
 A compreensão de que o conceito de Patrimônio deveria incorporar 
categorias de análises tanto materiais quanto imateriais foi consolidada a partir da 
alteração do artigo 216, amparado pela Constituição de 1988, que modificaria 
também a sua nominação para Patrimônio Cultural Brasileiro. 
 
Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e 
imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de 
referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos 
formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem. (Constituição 
da República, art. 216, 1988) 
 
 No entanto, o Patrimônio Cultural Brasileiro terá em seu escopo parte de 
uma análise que engloba a cultura como elemento fundamental, já que é através 
desta ferramenta que se tem a construção de identidades e das diversidades 
sociais formadas na sociedade brasileira. 
 Para entendimento do estudo é importante trazer à discussão o conceito de 
cultura, assim: 
Na dimensão antropológica, a cultura se produz através da interação 
social dos indivíduos, que elaboram seus modos de pensar e sentir, 
constroem seus valores, manejam suas identidades e diferenças e 
estabelecem suas rotinas. (BOTELHO, 2001) 
 
 
Destaca-se que o Brasil é um país multicultural, e as influências desta 
característica perpassam e são determinadas principalmente pela colonização que 
envolveu a visita de diversas culturas. No entanto, o meio sociocultural dos 
sujeitos inseridos na sociedade é repleto de crenças, valores, tradições, costumes, 
mitos e ritos. Nessa perspectiva tem-se como proposta abordar as finalidades e os 
elementos que compõe a cultural material e a cultura imaterial. 
 
PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL 
 O acordo estabelecido pela Unesco em 2003, compreende o Patrimônio 
Cultural Imaterial, como práticas, representações, expressões, conhecimentos e 
técnicas – junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que 
lhes são associados – que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os 
indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural. Este 
patrimônio cultural imaterial, que se transmite de geração em geração, é 
constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu 
ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um 
sentimento de identidade e continuidade e contribuindo assim para promover o 
respeito à diversidade cultural e à criatividade humana. 
 Assim, a cultura imaterial permeia as dimensões “abstratas” como os 
costumes, as tradições relacionadas às festas, os saberes medicinais, a 
diversidade de religiões, aspectos climáticos, as músicas, os poemas e poesias 
que contam as histórias de uma comunidade a partir de práticas sociais que nelas 
se desenvolvem. No entanto, estas comunidades estão em constantes 
modificações em busca pelo respeito de sua ancestralidade para a geração futura. 
 Fazendo uma análise através do portal Instituto Estadual do Patrimônio 
Histórico e Artístico (lepha-MG) refere-se à cultural Imaterial do Estado de Minas 
Gerais o modo de fazer o queijo de Minas, o Congado, o toque dos Sinos que 
evidenciam a diversidade sociocultural das cidades de São João Del Rei e Ouro 
Preto, o modo de fazer a viola de 10 cordas do Alto e Médio São Francisco e a Festa 
de Nossa Senhora do Rosário em Sabará. 
 
 
 Na cidade de Bela Vista de Minas, MG, através do Patrimônio Cultural 
Municipal tem-se o processo de registro que formalizou o Congado Nossa 
Senhora do Rosário como um bem imaterial que faz parte da cultura da cidade em 
questão. A comunidade do Congado tem toda uma rotina quando participa da 
festa religiosa da cidade. A guarda prepara para tomar um café, em seguida são 
feitos os cortejos do congado pelas ruas da cidade no intuito de compor a 
procissão. No término da procissão os congadeiros se preparam para o almoço 
acompanhado de um momento de descanso e seguem para a Missa Conga, ao 
chegar ao seu término preparam-se para a posse do rei e da nova rainha festeiros. 
 
PATRIMÔNIO CULTURAL MATERIAL 
 Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Iphan, o 
patrimônio material é composto por um conjunto de bens culturais classificados 
segundo sua natureza nos quatro Livros do Tombo: arqueológico, paisagístico e 
etnográfico; histórico; belas artes; e das artes aplicadas. Eles estão divididos em 
bens imóveis como os núcleos urbanos, sítios arqueológicos e paisagísticos e 
bens individuais; e móveis como coleções arqueológicas, acervos museológicos, 
documentais, bibliográficos, arquivísticos, videográficos, fotográficos e 
cinematográficos. 
 Nesta abordagem a cultura material se estrutura como uma forma mais 
“concreta” onde é possível visualizar através da paisagem projetos e construções 
arquitetônicas, consolidações de estruturas físicas da terra que resultaram em 
eventos importantes como as grutas e as cavernas. 
 O estado de Minas Gerais, segundo aUnesco é a região que concentra 
bens declarados como patrimônio cultural material. Como exemplo tem-se a 
cidade histórica de Ouro Preto e seu projeto arquitetônico; o Santuário do Senhor 
Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, com as esculturas dos Profetas, de 
Aleijadinho; e o centro histórico de Diamantina, além de abranger Cataguases 
como a cidade modernista. 
 A cidade de Bela Vista de Minas ainda não contempla através de decretos o 
tombamento de bens materiais, mais se faz presente, por meio da pesquisa que a 
 
 
Igreja Matriz de São Sebastião e a Igreja Nossa Senhora de Fátima pelo contexto 
e pela sua história serão, futuramente, consideradas formalmente como 
Patrimônio Cultural Material. 
 
MEMÓRIAS E HISTÓRIAS: UMA ENTREVISTA A PARTIR DAS PERCEPÇÕES 
DE UM MORADOR DA CIDADE DE BELA VISTA DE MINAS 
 Na perspectiva de conhecer a cultura da cidade de Bela Vista de Minas foi 
realizada uma entrevista com o Senhor Hermes Leni, morador da cidade há 49 
anos. Como proposta ele contou um pouco das tradições e memórias da sua 
experiência na infância e adolescência e relatou alguns bens imateriais da própria 
cidade. 
 O senhor Hermes chegou a cidade de Bela Vista de Minas, em 1966 devido 
a designação do seu pai, que era soldado, para trabalhar na cidade em questão. A 
cidade tinha apenas 4 anos de emancipação política, num contexto histórico bem 
complicado, onde as ruas não tinham calçamentos, os empregos eram poucos e 
as mão de obra era absolvida pela companhia industrial da cidade vizinha, João 
Monlevade. A partir deste momento ele acompanha e testemunha o 
desenvolvimento, as tradições da cultura da cidade do que havia e do que restou. 
 A infância foi muito difícil, mais o pouco que tinha divertia-se muito, era 
época da Televisão preta e branca que assistiam os desenhos da extinta TV tupi, 
na janela da casa do vizinho. 
 Já na fase adulta lembra-se de certas tradições culturais que acabaram 
talvez por pouca valorização por parte do poder público ou até mesmo por falta de 
uma associação da comunidade. Como tradição, havia um grupo de senhoras que 
quando demorava a chover punha garrafas de água na cabeça e iam orando com 
velas acessas até o alto de um cruzeiro e que a partir da fé e da crença acabava 
chovendo bastante na região. Os festivais da Canção, um evento artístico que 
dava oportunidade para os talentos jovens da cidade a concorrem a premiações e 
mostrarem seus talentos. O Festival de Papagaios que era o encanto da criançada 
tinha o envolvimento da família, dos amigos e dos vizinhos e servia como uma 
distração para os finais de semana. 
 
 
 É lembrado também do carnaval apesar de ser uma festa que vem 
perdendo a identidade com as raízes antigas carnavalescas, pois as filosofias de 
música atualmente são muito diferentes até mesmo pela geração de hoje. Outra 
perda muito grande é a festa de São Sebastião que é uma tradição cultural 
religiosa mais que a comunidade não está se envolvendo tanto na atividade. 
 Ainda que de geração em geração o Senhor Hermes comentou estar vendo 
a cultura ficar mais enfraquecida, já que não há muitas políticas públicas e sociais 
voltada para a área em questão, mais se lembra do Congado que através das 
dificuldades já vem atravessando ao longo dos anos, talvez pela liderança, pela 
luta e pelas reivindicações, políticas que valorizam esta cultura, inclusive foi 
tombada como Patrimônio Imaterial Municipal. 
 O senhor Hermes termina a entrevista fazendo um rápido prognóstico do 
que será do futuro, já que a cultura de um povo jamais pode morrer e de modo 
algum pode ser esquecida, deve ser uma chama viva de cada comunidade local 
para alcançar os objetivos da valorização, conservação e preservação da própria 
cultura local. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 Nessa perspectiva, a finalidade presente é o de englobar como cultura 
imaterial produções inatingíveis da comunidade como forme de preservação de 
memórias, costume e histórias que compartilham determinadas identidades e 
grupos sociais diferentes que compõe a sociedade brasileira. 
 Já a cultura material a partir das formas palpáveis e do olhar paisagístico se 
tornam importantes para a cidade, estado e o país já que em suas diversas e 
variadas expressões acabam se tornando referências turísticas que contribuem 
para gerações de emprego, renda e visibilidade local. 
 No entanto é necessária a consciência da conservação dos bens imateriais 
e materiais com o intuito de resguardar a cultura e a identidade da localidade das 
predações, violências e pichações que acarretam danos irreparáveis. 
 
 
 
 
PROPOSTA DE ATIVIDADE: 
 
TEMA: EDUCAÇÃO PATRIMONIAL NAS ESCOLAS: PRESERVAÇÃO DOS 
BENS MATERIAS E IMATERIAIS, UM RECORTE PARA A CIDADE DE BELA 
VISTA DE MINAS. 
 Busca expandir possibilidades de se trabalhar com a Educação Patrimonial, 
em diversificadas esferas, que tem como propósito permitir que os alunos dos 
anos iniciais do ensino fundamental tenham um contato direto com os elementos 
que compõem esta temática. Busca-se concentrar os estudos, referentes a 
Educação Patrimonial, na perspectiva das categorias da cultura material, imaterial 
e a importância da conservação e preservação destes bens. 
 
JUSTIFICATIVA 
 É necessário integrar projetos que visam associar a comunidade escolar à 
sociedade. Nessa concepção a proposta de divulgar esta ação no contexto escolar 
decorre pelo fato do ambiente abranger diversificados sujeitos. Assim a instituição 
escolar é um espaço que tem como finalidade uma qualidade de aprendizagem e 
a futura formação do cidadão, preparando-o para atuar como sujeito ativo e 
reflexivo que contribui para a mudança da sociedade. Portanto a escola abre 
oportunidades para que o processo de ensino aprendizagem seja de forma 
pedagógica, lúdica e crítica. 
 Nessa perspectiva o projeto sobre a Educação Patrimonial confere 
condições favoráveis para que o estudante possa compreender as temáticas 
desenvolvidas durante a aplicação da oficina e que consiga passar os 
conhecimentos construídos durante a oficina para a comunidade local. 
 
OBJETIVOS 
GERAL: O projeto busca proporcionar a construção e mediação das temáticas 
básicas que permeiam a Educação Patrimonial, orientando os alunos ao 
conhecimento da área e os resultados que se pretende alcançar. Outra finalidade 
 
 
é despertar a importância da preservação, conservação e valorização da cultura 
material e imaterial. 
 
ESPECÍFICOS: 
 Compreender o que é a cultura material e imaterial. 
 Analisar as diferentes formas de origem da cultura material e imaterial. 
 Conhecer alguns tipos de cultura material e imaterial da sua Cidade e do 
seu Estado. 
 Desenvolvimento do senso crítico acerca da conservação e valorização. 
 Diminuir as barreiras entre comunidade local e instituição escolar. 
 Proporcionar atividades práticas e pedagógicas para melhor 
compreensão da temática. 
 
METODOLOGIA 
É necessário a elaboração do planejamento para a aplicação do projeto. 
Para atender os objetivos é necessário desenvolver as atividades propostas de 
forma dinâmica, interativa e lúdica. No primeiro momento será apresentado 
conceitos e processos históricos importantes para compreender como foi 
estruturado a temática que envolve Patrimônio Cultural. 
Depois será proposta uma aula de campo que tem como finalidade levar os 
estudantes a Patrimônios que estão em processo de tombamento de cunho 
material e a conhecer os organizadores da Comunidade do Congado para 
compreender o processo histórico e o desenvolvimento da cultura imaterial que 
permeia a identidade religiosa. 
Em seguida trabalhar com recortes e colagens a necessidade de preservar 
os patrimônios culturais materiais e valorizar os patrimônios culturais imateriais da 
sua cidade. A iniciativa aqui partirá da imaginação do sujeito para produzir 
cartazes, folders, fanzines, entre outros.RESULTADOS ESPERADOS 
Espera-se que na finalização do projeto Educação Patrimonial destinado 
aos alunos dos anos iniciais do ensino fundamental, os sujeitos conseguem 
interagir no ambiente escolar. A expectativa é que os alunos através das 
dinâmicas, dos diálogos e do trabalho de campo, conseguem concretizar a 
importância de fazer um resgate histórico dos processos, formas de conservar e 
preservar o patrimônio e respeitar as diversidades da nossa sociedade. 
 
REFERÊNCIAS 
BRASIL. Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937. Constituição, 1937. 
BRASIL. Constituição da República, art. 216, 1988. 
BOTELHO, Isaura. As dimensões da cultura e o lugar das políticas públicas. São 
Paulo em perspectiva, v.15, 2001. 
Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais. Disponível 
em: <http://www.iepha.mg.gov.br/> Acesso: 13 de maio de 2016. 
Neilson Venute, Congado Caxambu. Disponível em: 
<http://neilsonvenutecongado.blogspot.com.br/2013/09/festa-de-congado-n-s-
rosario-de-bela.html> acesso: 22 de maio de 2016. 
Prefeitura de Bela Vista de Minas, Minas Gerais Disponível em: 
<http://www.belavistademinas.mg.gov.br/Materia_especifica/6506/Turismo> 
Acesso: 22 de maio de 2016 
UNESCO. Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial. Paris: 
UNESCO, 2003. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001325/ 
132540por.pdf>.