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Visão sistêmica no trabalho e em organizações Qual seria um bom lugar para mim nessa organização? Porque será que sempre assumo a responsabilidade de algo que não me pertence? Como poderemos fazer para que esse projeto de mudanças possa funcionar sem problemas? Qual é a descrição de função que mais combina com o novo gerente? Qual é a melhor posição para mim em uma organização como consultor? Qual será a reação do mercado em relação a um novo produto? Essas são umas das mais de mil perguntas sobre trabalho e organizações que foram feitas por pessoas que participaram de constelações organizacionais. Nesse livro você encontrará opiniões, exemplos vindos da prática, experiências pessoais e um quadro teórico de cinco anos de trabalho com o pensamento sistêmico a respeito das perguntas mais frequentes de organizações. O livro é lido como se fosse uma coleção de artigos. Leve, em contato com a realidade e apresenta momentos de reconhecimento para o leitor. Interessante e inspirador para quem trabalha dentro de organizações ou com organizações. Editora Atman Jan Jacob Stam (1954) teve o seu primeiro contato com constelações familiares como consultor organizacional em 1996. Imediatamente começou a desenvolver a ideia de que esse método poderia também ser usado em questões organizacionais. Ele estudou na Alemanha e fundou em 2000, juntamente com sua esposa, Bibi Schreuder, o Instituto Holandês Bert Hellinger e depois de dois anos fundou a Editora Het Noordelicht. Jan Jacob está constantemente explorando novos caminhos no aprofundamento das inúmeras possibilidades do trabalho sistêmico. "O que eu encontro lá me dá novas visões sobre sistemas, organizações e sobre a sociedade. Mas eu me sinto modesto a respeito disso. As novas visões eu divido com as outras pessoas, em Workshops, em cursos e através desse livro". JAN JACOB STAM A alma do negócio As Constelações Organizacionais na prática Tradução Pollyane Wiesener Décio Fábio de Oliveira Jr Revisão Wilma Costa Gonçalves Oliveira 2006 Título do original holandês: Het Verbindende Veld Organisatieopstellingen in de prasktijk Uitgeverij Het Noorderlicht Groningen - Nederland Copyright 2004 by Uitgeverij Het Noorderlicht - todos os direitos reservados ISBN 90-77290-02-8 Todos os direitos para a língua portuguesa reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou usada de qualquer forma ou por qualquer meio (eletrônico, mecânico, inclusive fotocópias, gravações ou sistema de armazenamento em banco de dados) sem permissão escrita do detentor do “Copyright”, exceto no caso de textos curtos para fins de citação ou crítica literária. 1a Edição - junho 2006 ISBN 85-98540-08-0 Direitos de tradução para a língua portuguesa adquiridos com exclusividade pela: EDITORA ATMAN Ltda. Caixa Postal 2004 - 38700-973 - Patos de Minas - MG - Brasil Telefax: (34) 3821-9999 - http://www.atmaneditora.com.br editora@atmaneditora.com.br que se reserva a propriedade literária desta tradução. Capa: Alessandra Duarte Diagramação: Virtual Diagramação Revisão ortográfica: Elvira Nícia Viveiros Montenegro Coordenação editorial Wilma Costa Gonçalves Oliveira Depósito legal na Biblioteca Nacional, conforme o decreto no 10.994, de 14 de dezembro de 2004. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) S783a Stam, Jan Jacob. A alma do negócio: as constelações organizacionais na prática / Jan Jacob Stam; tradução de Pollyane Wiesener e Décio Fábio de Oliveira Jr. - Patos de Minas: Atman, 2006. p.200. ISBN 85-98540-08-0 1. Sistemas organizacionais. 2. Comportamento organizacional. 3- Dinâmica organizacional. I. Wiesener, Pollyane (trad.). I. Título. CDD: 658.314 5 Pedidos: www.atmaneditora.com.br Este livro foi impresso com: comercial@atmaneditora.com.br Capa: supremo LD 250 g/m2 (34) 3821-9999 Miolo: offset LD 75 g/m2 http://www.atmaneditora.com.br/ mailto:editora@atmaneditora.com.br http://www.atmaneditora.com.br/ mailto:comercial@atmaneditora.com.br SUMÁRIO PREFÁCIO À EDIÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA 9 PREFÁCIO 11 1 BEM-VINDO AO SISTEMA CHAMADO "ORGANIZAÇÃO" 13 Um cartão rápido de referências sistêmicas UMA ORGANIZAÇÃO 15 • O QUE FAZ UMA ORGANIZAÇÃO SER SAUDÁVEL? 16 DINÂMICAS 21 • TRIANGULANDO 22 • AGINDO COMO PAIS: INVERSÃO DA ORDEM 24 IDENTIFICAÇÃO COM O OBJETIVO 27 • OLHAR ALGO QUE O OUTRO NÃO CONSEGUE OLHAR 28 TENTAR RESOLVER ALGO QUE NÃO FOI RESOLVIDO EM UM OUTRO NÍVEL 29 EU SIGO VOCÊ 30 • POSIÇÕES QUE NÃO EXISTEM 32 • O ESCRIVÃO MUNICIPAL 34 LUGARES SOBRECARREGADOS 39 • RECONHECER O QUE ESTÁ ACONTECENDO 41 2 NOVA ECONOMIA 43 Dinheiro e vendas dentro da visão sistêmica NOVOS VALORES 43 • EQUILÍBRIO ENTRE DAR E RECEBER 44 • DÍVIDA E SENTIMENTO DE CULPA 47 VINGAR-SE COM AFEIÇÃO 49 • LIBERDADE, DEPENDÊNCIA E DIGNIDADE 50 INTERESSES PESSOAIS E INTERESSES DA EMPRESA 52 "SE VOCÊ AMA ALGUÉM, LIBERTE-O." (Sting) 52 • CRESCIMENTO E LUCRO 53 SUBSÍDIO 54 • PAGAMENTO DE SUBSÍDIO MENSAL 56 • UMA PANCADA 57 3 ONDE ESTÁ O CHEFE? 59 Sobre liderança O PRIMEIRO LUGAR 59 • TRÊS PRINCÍPIOS DA LIDERANÇA 60 • ORDENAÇÃO 61 • LIDERARA PARTIR DA PRIMEIRA OU DA ÚLTIMA POSIÇÃO 63 • EQUIPES AUTÔNOMAS 64 • ONDE ESTÁ O CHEFE, NA REALIDADE? 65 • QUAL É A DISTÂNCIA E ALTURA EM QUE O CHEFE SE ENCONTRA? 67 O SALVADOR: COMO VOCÊ SE DESFAZ DESSA MEDALHA? 69 • LIDERANÇA E TRABALHO EM "REDES" 70 4 VIVER EM UAAA EMPRESA FAMILIAR 77 PROPRIEDADE PÚBLICA 86 5 MUDANÇAS NA ORGANIZAÇÃO 89 "Não mude aquilo que está funcionando." (Gunthard Weber) TRÊS PONTOS DE ATENÇÃO EM UMA MUDANÇA ORGANIZACIONAL 96 MUDANÇAS EM CONTATO COM A REALIDADE 98 • COMO NOS LIVRAREMOS DAQUELE MALDITO OBJETIVO! 100 FORTES IDEAIS, ÀS VEZES, EXCLUEM COISAS IMPORTANTES 1 02 ORGENOGRAMA 103 • CONVERSA SISTÊMICA SOBRE O FUNCIONAMENTO 106 6 O DESEJO DE ALCANÇAR UM OBJETIVO QUE NA REALIDADE NÃO PODE SER ALCANÇADO 109 A influência da história familiar no ambiente de trabalho O IRMÃO GÊMEO QUE FALECEU 111 FILHINHADO PAPAI, FILHINHA DA MAMÃE, FILHINHO DO PAPAI E FILHINHO DA MAMÃE 113 O CHEFE OCULTO 116 - CARREGAR O FARDO DE OUTRA PESSOA 1 1 7 IMAGEM DUPLA 119 • ESPECTADOR OCULTO 122 • CRISES DE MEIA-IDADE NO TRABALHO 123 A QUEM VOCÊ HONRA FAZENDO UMA COISA ASSIM? 1 26 7 O QUE SÃO REALMENTE ESSAS TAIS CONSTELAÇÕES? 129 Sobre o método da constelação sistêmica O QUE PODEMOS OBTER DE UMA CONSTELAÇÃO ORGANIZACIONAL? 1 36 UMA CONSTELAÇÃO PODE SER USADA PARA QUALQUER COISA? 139 8 VOCÊ PODE ENVIAR O SEU CURRICULUM VITAE? 141 O que dá força para alguém no seu trabalho? SELEÇÃO ADMISSIONAL 143 • TRABALHO DE INFORMAÇÕES 145 • ORDENAÇÃO DE EXPERIÊNCIAS DE TRABALHOS ANTIGOS 147 • REALIZAR O SONHO DE OUTRA PESSOA 150 • TOMADO A SERVIÇO 152 9 PRODUTOS SÃO COMO PESSOAS 157 Como fazer com que um novo produto, conceito ou atitude tenha sucesso? AUMENTOS PARA BEBÊS 158 • O QUE ACONTECE DO IADO DE DENTRO SE REPETE DO LADO DE FORA 161 OS PROPRIETÁRIOS OCULTOS 161 • ESCOLHER ENTRE DOIS MERCADOS 162 O TÍTULO 165 • OS EFEITOS DE UMA CONSTELAÇÃO DE MARCAS 168 10 DIAGNÓSTICO SISTÊMICO: QUANDO AS ORGANIZAÇÕES FUNCIONAM BEM? 175 HIERARQUIA: UM LUGAR ADEQUADO PARA TODOS 177 • EQUILÍBRIO ENTRE DAR E RECEBER 1 80 • TODOS TÊM O MESMO DIREITO A UM LUGAR: UM MONUMENTO PARA O FUNDADOR, UM MONUMENTO PARA SI MESMO 1 83 PREFÁCIO à edição em língua portuguesa Alguns meses atrás o diretor e a enfermeira-chefe de uma clínica de repouso me solicitaram uma constelação. A clínica estava com problemas, o número de clientes decrescia e a situação financeira parecia desesperada. Após uma constelação muito tocante o diretor e a enfermeira-chefe se sentiram cheios de força e fé. Apesar disso, a situação ficou ainda pior. O diretor e a enfermeira olharam um para o outro e disseram: "Nós devemos fechar nossa clínica ou manter a fé e a confiança?" Eles mantiveram a fé e a confiança e um mês depois conseguiram um empréstimoinesperado, o número de clientes aumentou e desde então a clínica tem estado cheia. O trabalho sistêmico e as constelações não são apenas um método para encontrar soluções para questões pessoais ou organizacionais. E sobre confiança, concordância com a realidade, reconciliação e crescimento. É sobre apoiar a vida e a sociedade e sobre uma vívida troca entre elas, mesmo se "crescer" signifique que uma organização tenha que fechar. Eu estou muito grato à Editora Atman por ter aceito o risco e ter tido a confiança de traduzir esse livro do holandês para o português. Dividir lucros é uma coisa fácil, confrontar o risco e uma possível perda de olhos bem abertos dá força às organizações. Que esse livro possa contribuir para você leitor como uma inspiração para o seu trabalho, seus negócios e suas organizações. Jan Jacob Stam PREFÁCIO Este livro apresenta uma visita sistêmica ao âmbito do trabalho, profissões e organizações. Ligados a um todo maior, cada um de nós vive e trabalha dentro de certas possibilidades e limitações. O conceito de "sistema" está ligado a mecanismos e dinâmicas que se desenvolvem, muitas vezes, inconscientemente dentro desse sistema, podendo, às vezes, tanto nos dar asas quanto nos paralisar. O filósofo e terapeuta alemão Bert Hellinger descobriu um método para tornar visíveis essas dinâmicas ocultas: o método da Constelação Sistêmica. Gunthard Weber, juntamente com muitos colegas, desenvolveu esse método para a área de trabalho, profissões e organizações. Essas constelações mostram algo essencial sobre os sistemas, onde o filtro da opinião e do julgamento não se aplica. Essa abordagem sistêmica está diretamente ligada à realidade observada e nos deu novas visões sobre como organizações e pessoas, dentro das organizações, podem encontrar soluções. O interesse pelas constelações organizacionais e pelas ideias sistêmicas cresce rapidamente, pois essas fornecem inúmeras novas informações sobre o que acontece em uma organização. Como consultor organizacional, tenho agora cinco anos de experiência com a abordagem sistêmica e com as constelações organizacionais. Este livro possui ideias, muitos exemplos práticos e algumas experiências próprias. Foi escrito como uma coleção de artigos e assim, também, deverá ser lido. A ordem da leitura não importa muito. Caso você não conheça o método das constelações organizacionais ou constelações sistêmicas pode começar pelo capítulo 7. Dê uma olhada. Talvez este livro prenda sua atenção em alguns lugares importantes e interessantes na paisagem da nossa vida profissional. Eu lhe desejo um bom passeio através dele. Abries, outubro de 2003. Jan Jacob Stam 1 BEM-VINDO AO SISTEMA CHAMADO “ORGANIZAÇÃO” Um cartão rápido de referências sistêmicas Quem sabe, daqui a alguns anos, no seu primeiro dia de trabalho em uma nova organização, ao lado do seu cartão de entrada você receberá também um mapa, um "orgenograma", uma lista de abreviações e também um cartão rápido de referências sistêmicas da empresa!! Então, você poderá, num piscar de olhos, ver quais são as dinâmicas mais importantes na empresa. Essas dinâmicas são os ventos invisíveis que sopram pela empresa afora, podendo causar tanto bem-estar aos funcionários como também desprazer, e isso sem que eles saibam ou desejem. O "orgenograma" seria um tipo de organograma da história da empresa. Se você estudasse esse "orgenograma" com o cartão rápido de referências, imediatamente tudo ficaria claro a respeito do lugar onde você espera trabalhar prazerosamente, nos próximos anos. O cartão mencionaria, por exemplo, as seguintes dinâmicas: • O fundador era um homem de ideais que queria fazer algo bom para muitas pessoas e fundou, para isso, uma sociedade. Depois de muitos anos ele deixou a empresa e começou outra. Todavia, ainda há muitos funcionários que são mais fiéis a ele do que à nova direção da empresa. • Muitos anos atrás a sociedade já havia mudado seus rumos. Ela se transformou em uma empresa dirigida por um grupo fechado, atingindo também outros mercados, mas um só membro da diretoria parece se identificar com o público originário de onde a organização, com o passar do tempo, afastou-se. • Mais adiante, o cartão rápido de referência sistêmico menciona que, na empresa, muitas pessoas são voltadas para o assistencialismo e se distanciaram das atividades contratuais, as quais são pagas justamente pela empresa. • Na gerência da seção técnica existem lugares que estão sobrecarregados e que são mencionados com uma cruzinha preta no cartão. • Depois da reorganização, ocorrida há seis anos, muitas pessoas não acharam um lugar no sistema (e, nesse momento, um deles está procurando emprego). • O diretor geral se sente mais ligado à equipe de cúpula da organização do que à própria empresa. • Os departamentos de construção possuem uma força extraordinária. O seu intercâmbio sistêmico cresce permanentemente tanto entre os departamentos como dentro do mercado. Nós lhe desejamos um tempo de muito prazer, com um ótimo desenvolvimento do equilíbrio entre o dar e o receber. Faça um bom uso desse equilíbrio. Bem-vindo ao mundo do pensamento sistêmico! UMA ORGANIZAÇÃO O que é na verdade uma organização, a partir da perspectiva sistêmica como foi originalmente observado por Bert Hellinger em sistemas familiares? Uma organização pode existir há centenas de anos. Pode não existir mais ninguém do tempo de sua fundação, mas mesmo assim a organização de um modo geral permaneceu a mesma. Por um determinado tempo, um trabalhador está ligado a uma organização, completa suas tarefas que estão em andamento, aprimora-se e depois de um tempo se despede. O lugar desse trabalhador na organização estará disponível para que outra pessoa possa ocupá-lo por um mais um tempo. Em uma organização as pessoas funcionam como representantes na constelação de um sistema. Elas tomam suas posições e nessa posição reina um sistema dinâmico que, acima de tudo, traz também junto de si a dinâmica pessoal. Depois vão embora, e o lugar no sistema permanece. Esse lugar no sistema dá àquele que o ocupa um tipo de liberdade de movimento. Oferece possibilidades e limitações pertencentes a um todo maior. A partir desse ponto de vista, uma organização é mais complicada de se criar do que pensamos ou queremos. O QUE FAZ UMA ORGANIZAÇÃO SER SAUDÁVEL? Quais são as condições nas quais uma organização é saudável? Saudável aqui quer dizer que os trabalhadores se sentem bem no seu trabalho e podem fazê-lo bem, que a organização preenche o seu objetivo na sociedade e que há também uma troca dinâmica dentro da organização e com o mundo lá fora. Resumindo, um lugar onde você gostaria de trabalhar. Como sistema, uma organização existe a partir de várias partes: das pessoas que lá trabalham, dos clientes, dos produtos e serviços, do objetivo e de muitos outros elementos. O sistema como um todo tem mais outras características que ultrapassam aquelas que resultam da simples soma das suas partes e parece, por isso, com um tipo de organismo vivo. Uma pessoa como um todo possui, por exemplo, outras características além daquelas de todos os seus órgãos juntos. O sistema de uma organização tem suas próprias dinâmicas, e essas não têm nada a ver com as pessoas que atualmente pertencem a ele. Nas dinâmicas, o mais importante é o que está acontecendo entre os elementos desse sistema e como é a relação deles entre si. Elas influenciam o comportamento e sentimento das pessoas no sistema e, infelizmente, não são diretamente perceptíveis, já que atuam inconscientemente. Entretanto, os efeitos das dinâmicas sistêmicas são visíveis. Os efeitos positivos são experimentados pelas pessoas da organização como: "Eu estou bem aqui no meu lugar. Nós somos uma organização viva e vigorosa. Podemos reagir bem às mudanças, somos determinados e estamos em contatocom o mundo ao nosso redor." Os efeitos negativos das dinâmicas sistêmicas são experimentados como problemas dentro da organização: "Não estamos progredindo, temos problemas internos de comunicação, até parece que não podemos dar certo! Sabemos que somos capazes, mas agimos aquém de nosso potencial etc." Na realidade, esses problemas não são realmente o problema, e sim a reação do sistema a determinadas dinâmicas. Com esse enfoque em mente, olhamos então de uma maneira diferente para isso: o que atua por detrás, no contexto desse sistema, que causa aquilo que as pessoas experimentam como sendo "o problema"? Um sistema pode funcionar saudavelmente se os princípios básicos relacionados abaixo forem seguidos: - Cada pessoa tem igual direito a um lugar. - Há uma ordem correta de posições. - Há um equilíbrio entre dar e receber nas relações de troca. Numa organização saudável, todas as pessoas que lá trabalham são consideradas. Isso não é válido somente para as pessoas que estão trabalhando, mas também para aqueles que foram importantes na história da organização. Por exemplo, são levados em conta os fundadores e outras pessoas que contribuíram para o crescimento e sobrevivência de todo o sistema. Na consciência do sistema eles têm um lugar próprio, sem que a organização fique apegada a eles. Na medida em que a organização estiver direcionada para o futuro, os fundadores estarão presentes por detrás como uma força de apoio. Numa empresa saudável, para cada trabalhador é válida a seguinte afirmação: "Ele tem independência para cumprir sua função no sistema, seja ele diretor ou um funcionário que trabalha no depósito. Cada posição, cada pessoa tem seu próprio lugar, é considerada e tem valor. De diferentes maneiras, mas sempre valorizada." Há uma ordem nas posições. Ela tem a ver com o objetivo da organização. Quem cria a estrutura onde todos podem atuar vem em primeiro lugar. Aquele que cria a estrutura onde os seguintes vão trabalhar vem em segundo lugar e assim sucessivamente. Dessa maneira, cada um tem sua própria posição de confiança, onde pode trabalhar bem. Por último, há um equilíbrio entre dar e receber. Cada pessoa oferece algo para a empresa e recebe algo de volta, numa troca constante que pode crescer permanentemente. Isso não é válido somente para as pessoas que lá trabalham, mas também para a organização como um todo. Há uma troca constante com os clientes, fornecedores e outros. Em uma empresa saudável, essa troca pode crescer continuamente e mudar ao longo do desenvolvimento da empresa. O crescimento pode ser um aumento na quantidade, mas também um aumento de intensidade ou qualidade. Organizações que já existem há muito tempo, possuem, assim, um "peso". Não se trata de importância, mas valor, peso. Elas estão ligadas a muitas pessoas e suas famílias que deram o seu melhor para que a organização crescesse. O líder de tal organização possui também "peso". Uma organização assim atrai continuamente coisas novas, e a direção decide o que pode ser feito ou não e qual é o tempo certo para cada coisa. Pode ser também que o tempo para algo dentro de uma organização tenha acabado. Assim é bom que ela pare, resolva e crie um espaço para algo novo. Bert Hellinger observou que em sistemas trabalha uma força que vigia a existência contínua do sistema em seu todo. Ele chama isso de consciência coletiva. Aqui também é válido que o todo é mais do que o funcionamento da soma das partes desse todo. A consciência coletiva tenta restaurar as "batidas" e "amassados" que o sistema está sofrendo. Para que o todo possa continuar existindo, é preciso que algumas partes sejam sacrificadas, assim como um lagarto, quando é atacado, sacrifica sua calda para salvar a vida. A consciência coletiva não funciona através de decisões conscientes, a maior parte do trabalho funciona inconscientemente. Na tentativa de restauração, a organização, às vezes, cresce "torta" ou adquire todo tipo de cicatrizes. Essa força de restauração, essa dinâmica, começa o seu trabalho quando, por um motivo ou outro, as bases das condições de funcionamento do sistema, anteriormente mencionadas, não são respeitadas. A consciência coletiva parece não estar interessada nas razões pelas quais isso ocorre, ela somente reage a acontecimentos e fatos. O sistema não permite que algo ou alguém, que é essencial para a organização, seja excluído. Se, por exemplo, um diretor for despedido injustamente e sua participação na empresa for negada pelos seus sucessores ou se falarem dele como se fosse inferior, então é como se fosse recusado a esse diretor o direito ao seu lugar no sistema, e isso funciona como uma exclusão. Seu sucessor então, mais tarde, talvez, apresentará sentimentos que na verdade deveriam pertencer ao diretor e, assim como esse diretor, sentir que deve deixar a organização. Se um produto que faz uma organização ser grande for colocado de lado, então os outros produtos com certeza irão cair. Nisso não há nada moralista, o fato de que isso acontece frequentemente é apenas uma observação. Para o sistema, aquele que está em primeiro lugar tem prioridade sobre o que vem depois. Se aqueles que vêm depois podem levar isso em consideração, terão então um bom lugar. Dessa forma, haverá também espaço para algo novo. Isso significa que aqueles que vêm depois não precisam se envolver em determinadas situações que existiam antes. Em organizações isso funciona como uma hierarquia. Assim sendo, não pode funcionar bem uma equipe de subordinados que se sente melhor que seus superiores. Com a ajuda da constelação sistêmica, podemos ver que a consciência coletiva tenta restaurar o que está estragado. Isso acontece à custa de uma desvantagem para aqueles que vêm depois. Por isso, existem tantos problemas nessa "segunda geração". Inconscientemente ela foi colocada a serviço para corrigir as injustiças ou para representar aqueles que foram anteriormente excluídos. Aqui, também, o julgamento de valores não se aplica. Alguém que se sente melhor que a diretoria faz sempre isso na tentativa de querer fazer algo bom que, na visão dele ou dela, é muito importante; na verdade, uma rebelião causada por amor. Entretanto, tais tentativas acabam falhando devido ao fato de terem como consequência que a pessoa para num lugar do sistema que lhe é inapropriado. O sistema não permite que a ordem seja perturbada. Finalmente, o sistema toma atitude caso haja alguma dívida a ser paga. Se a empresa, por exemplo, tornou-se rica à custa da saúde de outros, então se torna devedora desses. Depois haverá pessoas nesse sistema que sofrerão por causa da dívida antiga ou tentarão assumir essa dívida para que o equilíbrio entre o dar e o receber seja restaurado. Eles fazem isso sem que eles próprios saibam algo sobre a dívida e sem que estejam conscientes disso. Inconscientemente pagam até mesmo com a sua própria saúde e, dessa forma, são solidários com as vítimas de antes, que para eles são, na maioria das vezes, desconhecidas. DINÂMICAS Este capítulo fala a respeito de dinâmicas nos sistemas organizacionais. Veremos algumas dessas dinâmicas de tentativas de restaurar o equilíbrio e usaremos vários exemplos oriun- dos da prática. No próximo capítulo falaremos sobre aquilo que levamos para uma organização, a partir do nosso sistema familiar de origem. TRIANGULANDO Ana, no momento, trabalhava fazendo coaching com um funcionário de uma empresa. Depois de uma sessão de treinamento, que aconteceu dentro da empresa, encontrou o chefe do funcionário nos corredores, que perguntou se ela gostaria de entrar e conversar um pouco. Embora não achasse isso muito correto, decidiu mesmo assim aceitar o convite. O chefe perguntou se ela estava tendo algum progresso com o funcionário e se ele tinha potencial, porque afinal de contas preocupava-se com ele. Ana respondeu suas perguntas, mas, no caminhode volta para casa, não se sentiu muito bem. Por que ela se deixou levar e respondeu tais perguntas? Havia um código do escritório de coaching onde trabalhava que dizia que, durante o período do treinamento, o treinador não deveria dar informações ao contratante a respeito do conteúdo de seu treinamento. Isso também era, desde o início, combinado claramente entre as partes. Novamente ela se encontrava em um campo de tensão entre duas pessoas. Não tinha e não queria ter nada a ver com o campo de tensão entre essas duas pessoas, mas isso acontecia frequentemente com ela: ser colocada entre dois partidos opostos. Essa dinâmica é chamada de triangulação. Triangulação é uma perturbação da ordem hierárquica. Uma pessoa é colocada em uma alta posição no sistema onde, na realidade, não deveria estar. Isso acontece frequentemente em situações de conflito onde essa pessoa é colocada no meio de duas outras ou grupos e acaba se fazendo de intermediária. Essa posição é tentadora, pois oferece status. Porém, com isso, torna-se rapidamente arrogante, e os outros dentro da organização olham para esse "intermediário" com desconfiança. Muitas vezes, em um treinamento, eu disse para alguém: "Acho que você está no lugar errado. Você deveria estar na equipe da gerência." Tais observações frequentemente têm uma função muito esclarecedora. Em princípio, funcionários não têm nada a ver com o que acontece com a diretoria. Conflitos têm que permanecer no mesmo nível onde se iniciam. Ser envolvido nisso como funcionário é um convite para entrar no problema. Triangulação é como uma sedução. Uma pessoa da gerência pergunta sua opinião sobre um problema que está acontecendo por lá e assim começa, inocentemente. Você já se sente um pouco lisonjeado, principalmente se perceber que a sua opinião tem valor. Mas chega um momento onde não se sente mais confortável com a situação: "Onde eu vim parar? Não sei se quero saber mais sobre esse assunto." Você tem um sentimento de que não deveria estar fazendo aquilo. Porém, não é mais tão fácil voltar atrás. Lentamente você é envolvido numa situação da qual, na realidade, não faz parte. Na triangulação, é embaraçoso para um gerente quando ele sabe muito a respeito do que está acontecendo no alto nível da organização, isso o enfraquece, ao invés de fortalecê-lo. A primeira vista, parece que saber das intimidades da equipe de superiores os torna mais humanos mas, na realidade, enfraquece a posição do gerente se ele não recusar o convite para se aprofundar ainda mais no caso. Pessoas que passaram por dinâmicas de triangulação dentro do seu sistema familiar são muito propensas a essa dinâmica. É possível acabar com a triangulação quando um funcionário diz: "Eu sou somente um funcionário" e o supervisor diz: "Você é um funcionário, eu sou o chefe e do meu lado estão os meus colegas de trabalho. O que está acontecendo entre nós pode ser resolvido por nós mesmos. Fique fora disso." Claro que essa frase não precisa ser dita em voz alta. Uma pessoa pode, internamente, voltar para a sua própria posição, e a outra pessoa inconscientemente percebe. Isso pode ser desfeito de diversas maneiras. Devolvemos assim a cada um sua dignidade, sua posição e sua força. AGINDO COMO PAIS: INVERSÃO DA ORDEM “Do chefe ninguém pode ganhar.” (Bert Hellinger) "Na verdade, sinto-me melhor que meu chefe. Estou acima dele. Sinto-me realmente melhor do que toda a diretoria. No fundo do meu coração, eu os desprezo um pouco pela maneira como dirigem essa empresa. Eu iria fazer diferente. Você quer ouvir como?" "Agir como pais", quer dizer que uma pessoa se sente superior a outra que está acima dela na ordem hierárquica. Com isso a ordem hierárquica é totalmente invertida. Agir como pais, dentro de uma organização, gera inquietude e perda de energia. A atenção do funcionário é mais direcionada para tentar manter sua posição do que para o seu trabalho. Se uma pessoa que é observadora entra nessa organização pode perceber rapidamente quando essa dinâmica está fortemente presente ou não. Um profissional especializado pode se sentir melhor que o seu chefe, principalmente quando se trata do conteúdo técnico de sua profissão. O perigo é que ele venha a se sentir melhor que o seu chefe em tudo e também melhor que a gerência: claro que isso vai gerar problemas. Na procura por uma solução, a ordem terá que ser novamente restaurada. O chefe dirá para o funcionário: "Você é bom na sua profissão e eu o valorizo por isso." Se isso acontece de maneira sincera, então o funcionário pode dizer: "Você é o meu chefe e pode me ter na posição de seu funcionário." Em uma grande firma de energia havia um conflito constante entre os conselheiros internos da empresa e o gerente. Eles achavam que ele não gerenciava bem o departamento, que como gerente não executava as tarefas simples de organização, tais como uma agenda de compromissos gerenciais, e que ele não agia de boa vontade quanto ao resto da organização. O gerente me convidou para fazer um workshop de um dia com todos do departamento, para novamente tentar encontrar uma maneira de trabalhar em harmonia. Ficou muito claro para mim que a maioria dos funcionários desse departamento se sentia melhor que o seu gerente. Ele era um homem muito amável e possuía também qualidades comprovadamente suficientes como gerente. Escolhi a seguinte estratégia de trabalho: nós nos reuníamos para uma série de rodadas de conversas e cada um dos funcionários podia dizer aquilo que precisava para poder trabalhar bem. A formulação foi mantida de maneira muito estrita e tão logo alguém começava a falar que o gerente teria que fazer diferente e a reclamar sobre algo que não era bom na organização, eu o trazia novamente à pergunta inicial: "O que você precisa para fazer bem o seu trabalho?" E, assim, cada funcionário desse departamento pôde dizer aquilo de que precisava. Nem o gerente e nem ninguém podia dar a sua opinião sobre o que o outro estava falando, somente ouvir. Depois dessa rodada, iniciamos outra com a pergunta: "Depois de tudo que você ouviu na primeira rodada, em sua opinião o que lhe parece que seria bom para esse departamento?" Todos que desejaram tiveram a oportunidade de falar alguma coisa. O gerente só escutava e não havia nenhuma discussão. Depois foi a vez de o gerente falar. Ele poderia falar naquele momento, mas poderia também deixar para falar na semana seguinte. Ele falou quais sugestões iria aceitar e quais não. Foi notável, que a cada momento, essa conferência se tornava mais tranquila e foi assim a tarde toda. Devido à tranquilidade, a palavra de cada um teve mais força de expressão. Se cada um diz aquilo de que necessita para poder fazer bem o seu trabalho, isso está ligado a uma emoção primária e tem conexão direta com a realidade. Nesse momento a pessoa se responsabiliza completamente e com seriedade, por seu trabalho. Quando alguém reclama do chefe ou da organização, geralmente é combinado com muita agitação, mas possui pouca força. Reclamação está ligada a um sentimento secundário, que esconde as verdadeiras necessidades primárias. Essa rodada de conversas contribuiu para que várias sugestões, que foram dadas por muitas pessoas, pudessem ser usadas. Mas acima de tudo foi primeiramente uma intervenção sistêmica. Os colaboradores foram abordados com a pergunta: "De que você precisa para poder fazer bem o seu trabalho e novamente tomar sua própria posição e não a posição do gerente." IDENTIFICAÇÃO COM O OBJETIVO "Por um lado tenho muita vontade de fazer as coisas e o trabalho é desafiador. Por outro, percebo também que estou perdendo a mim mesmo. Às vezes, tenho tantas coisas para fazer que nem consigo mais ver o que deve ser feito. Não sei mais quando tenho que parar e gostaria muito de trocar meu perfeccionismo por um pouco de tranquilidade em fazer as coisas." Um diretor de projetos tinhadificuldades em terminar o seu projeto. Depois de ter olhado mais de perto, ele percebeu que seu projeto, tão necessário para muitos de seus funcionários, não havia sido colocado em prática. Em uma constelação, os funcionários sentiram a arrogância desse diretor. Isso foi estranho, pois ele não era assim dentro da empresa. Na sequência do trabalho, parecia que, quando os funcionários olhavam para o diretor de projetos, viam nele algo mais. Esse algo mais era o objetivo do projeto. Depois que o diretor e o objetivo do projeto foram representados separadamente um do outro, por dois representantes diferentes, o diretor de projetos foi então aceito pelos seus funcionários como pessoa e como colega de trabalho. Puderam novamente se dar bem uns com os outros. O diretor percebeu então que, sem que ele notasse, o objetivo do projeto se tornara uma carga pesada demais de se carregar custando a ele, como pessoa, um alto preço. Acontece muito que uma pessoa se identifica com um objetivo ou com uma tarefa. Então não é você que possui um objetivo, mas o objetivo que possui você. Se os seus colegas de trabalho fizerem brincadeiras dizendo: "Ihiiii! Lá vem a senhora perfeccionista!", então já é tempo de se perguntar o que está acontecendo e se você quer mesmo isso ou não. Muitas vezes pode até ser que o objetivo pertença a uma outra parte da organização, a outra gerência ou departamento. Se uma pessoa à qual o objetivo pertence não toma logo uma atitude, uma decisão, o objetivo procura então outra pessoa para não ser esquecido e não ficar inativo. Mas, se esse objetivo não for o seu, pouco a pouco irá carregar um fardo que pertence a uma outra pessoa e isso se tornará muito desgastante. Carregar o objetivo de outra pessoa, por mais bonito que seja, é uma tarefa sem fim. O objetivo é enfraquecido, enfraquece-o e enfraquece também aquele a quem ele pertencia originalmente. OLHAR ALGO QUE O OUTRO NÃO CONSEGUE OLHAR Erling fundou, há 20 anos a trás, juntamente com sua esposa, uma escola em Estocolmo para jovens problemáticos. Na realidade alguns jovens pediram que eles fizessem isso. Erling lutava agora com sua posição de diretor. Em uma constelação os funcionários demonstraram sentir medo. Perguntei a Erling se eles tinham medo de perder o seu emprego, mas ele não soube me responder, porém, era um outro tipo de medo. Os representantes dos funcionários agiam como se tivessem medo de serem punidos, como se tivessem sido julgados, mas não por Erling e nem por sua esposa. Eles nada tinham a reclamar de Erling, cujo representante estava muito enfraquecido na constelação. Então colocamos um representante para o "julgamento" sem saber quem ou o que ele representava. Isso mudou tudo. A representante da esposa de Erling ficou de repente muito forte. O representante de Erling ganhou vida de novo e os funcionários conseguiram relaxar um pouco. Então Erling, que estava sentado ao meu lado, olhando relaxadamente para a constelação, disse: "Esse é o poder judiciário que tira algumas crianças de suas casas e as entrega aos nossos cuidados." Quando sua escola começou, Erling era jovem, idealista, crítico em relação à sociedade e desdenhava do poder judiciário. O que não conseguia olhar, seus funcionários olhavam em seu lugar. Sentiam um medo que não pertencia a eles, mas a Erling. TENTAR RESOLVER ALGO QUE NÃO FOI RESOLVIDO EM UM OUTRO NÍVEL Muitas vezes vemos que toda uma equipe é colocada a serviço, na tentativa de resolver algo que não foi resolvido em outro nível. Assim, existe um conflito nessa equipe que sempre retorna. Eles procuram soluções, expressam-se, fazem compromissos, mas depois de um tempo a tensão volta. Se isso acontece é hora de se perguntar se a equipe, inconscien- temente, está tentando resolver algo que está em um nível mais elevado e que ainda não foi resolvido. Em uma universidade se iniciou um grande projeto de mudanças que significavam trabalhar mais comercialmente e mais orientado para o mercado. A questão levantada pelo conselho executivo foi: se seria melhor implantar essas mudanças de forma padronizada em toda a organização ou se cada uma das três unidades deveria seguir sua própria trajetória. Entre a equipe de gerência e os funcionários havia muita desordem e desejava-se, num golpe rápido, resolver essa questão. Isso já durava muito tempo! Uma nova proposta foi aventada e estabeleceu-se um prazo a cumprir. Tivemos uma reunião com o conselho executivo que era constituído pelo diretor geral e os três diretores de cada uma das unidades. O diretor da unidade técnica quis constelar a sua equipe de gerentes, pois aí havia muita tensão. Não somente a equipe de gerência foi representada na constelação como também o conselho executivo e para surpresa de todos, as duas equipes mostraram possuir o mesmo padrão e os seus representantes se sentiam da mesma forma. A equipe de gerência da unidade técnica estava tentando resolver um problema que pertencia ao conselho executivo. A tensão deles foi "tomada" desse conselho. O padrão das relações foi praticamente copiado pela gerência daquela unidade. Nesse caso a solução não estava na equipe de gerência da unidade técnica. Eles ainda podiam conversar sobre muitas coisas e encontrar uma forma de concordar em muitos pontos, mas se a fonte de tensão não estava presente naquele nível, então a solução também não poderia ser encontrada lá. EU SIGO VOCÊ Quando em uma organização existem problemas na segunda geração, o exemplo a seguir quase sempre se destaca. Um escritório de consultoria de muito sucesso queria organizar um workshop sobre as constelações organizacionais para todos os funcionários. Eles também queriam levantar questões sobre o próprio negócio e fizemos isso no final do dia. Os funcionários mais jovens demonstravam uma maior necessidade de resolver algo. Eles conversaram antes a esse respeito e o tema da conversa tinha a ver com a estrutura da organização. Sentiam-se, ao mesmo tempo, responsáveis e inquietos. Na constelação as três gerações foram colocadas em suas devidas posições. Primeiro os fundadores, que há muito tempo atrás haviam deixado a empresa para fazerem outras coisas. Em segundo lugar os seus seguidores: os gerentes e diretores atuais, e em terceiro lugar os funcionários novos que trabalhavam há poucos anos na empresa. Na constelação alguns representantes desses funcionários estavam inclinados a deixar o sistema. Os funcionários reais contaram, com muita dor no coração, que estavam realmente pensando nisso. Os seus representantes estavam sempre olhando para os fundadores. Apenas quando os fundadores garantiram aos funcionários novatos que eles estavam bem em suas novas atividades, e que eles haviam transferido o controle da empresa aos atuais gerentes de bom grado foi que eles se sentiram mais tranquilos. Quando os fundadores disseram: "Se vocês puderem guardar as nossas boas ideias e usá- las para fazer algo bom, ficaremos muito felizes", os funcionários ficaram emocionados, especialmente emocionados com a maneira como os representantes dos funcionários novatos e dos fundadores se entreolharam. Na verdade é um trabalho de compensação, que uma segunda geração de funcionários esteja assim tão ligada a fundadores que nem conheceram e o quanto eles se preocupam com o futuro e patrimônio daqueles. Esse não era o caso da primeira geração de seguidores que deram sequência aos fundadores da empresa. Isso acontece frequentemente em uma constelação. Se você percebe que há uma inquietude no ar, do tipo "será que fico ou será que eu saio?" ou que há uma grande decadência ou uma equipe de direção que não é capaz de mudar isso, você deve então se perguntar quem também deixou a organização antes. POSIÇÕES QUE NÃO EXISTEM Eu acabara de conhecer a abordagem sistêmico-fenomenológica quando, em 1998, uma associação de construtoras me pediu para analisar um problema dentro da organizaçãocomo consultor organizacional. Ainda não podia presumir o que ela poderia trazer nos próximos anos que viriam. "O problema" dessa associação mostrou ser um gerente, que era um dos três diretores. Um homem simpático, altamente capacitado, vigoroso e com excelentes qualidades de gerenciamento. Segundo seus funcionários e três chefes de departamento, ele causava "sofrimento" na organização. Um dos funcionários já estava há um tempo em casa sem trabalhar. Foram realizadas muitas reuniões e tensões foram dissipadas, mas na realidade não ajudou muito. O estranho era que ninguém conseguia colocar o dedo na ferida. Um chefe de departamento disse: "a presença dele causa certa paralisia. Tentamos encontrar formas de resolver os problemas, mas não conseguimos." Hoje eu sei que sintomas como esse podem ser a indicação para um "atoleiro" em um sistema. Nessa época eu, como consultor, também não podia fazer nada, pois não conseguia descobrir o que estava acontecendo. Finalmente decidimos fazer uma constelação. Estávamos inseguros pelo fato da "técnica" ser ainda tão nova. Surgiu na constelação algo surpreendente: o lugar do terceiro diretor não estava disponível no sistema. A noite, o diretor geral me ligou e disse: "Está certo. Eram somente dois diretores: o diretor técnico e eu. Havíamos colocado o homem que agora está causando problemas como gerente de projetos. Ele era tão bom no trabalho que fazia que quisemos mantê-lo na empresa e o colocamos como diretor de negócios internos. Na época, a votação foi unânime mas, na verdade, nós nunca criamos, realmente, um terceiro lugar na equipe da diretoria Para o gerente foi doloroso, pois ele já sentia, há três anos, que alguma coisa estava errada. Trabalhara duro para fazer bem o seu trabalho e agora percebia que na realidade nunca havia tido uma chance. Mas foi também um alívio. Sua autoconfiança, já desgastada, tinha a ver com o lugar no sistema onde ele se sentia preso, lugar esse que limitava suas oportunidades. Na verdade é uma ideia nova que um lugar ou posição em uma organização não esteja disponível ou não exista. Afinal, você não foi nomeado para aquela função? Mas muitas constelações organizacionais tornaram esse doloroso fenômeno bem visível. É de grande importância que principalmente novas funções no sistema sejam primeiramente criadas, antes que alguém seja nomeado para essa função. Daremos a seguir um exemplo ocorrido em organizações governamentais. O ESCRIVÃO MUNICIPAL No âmbito da separação dos poderes, onde é feita uma separação entre o conselho de governo municipal (executivo) e os representantes da população (legislativo), surgiu uma nova função no município: o escrivão do conselho municipal. Um escrivão municipal é um secretário administrativo oficial que assessora o conselho municipal. Anteriormente, as tarefas desse trabalho pertenciam ao pacote de tarefas do secretário municipal. Esse último é o diretor da organização administrativa do município e secretário da câmara dos vereadores e do prefeito. Antigamente, portanto, o secretário municipal era também secretário do conselho de governo municipal. Em um curto workshop com sete escrivães municipais foi trazido por Peter, um dos participantes, o seguinte caso: PETER Sou escrivão municipal há 10 meses e minha posição ainda não é clara para mim. Isso não me preocupa todos os dias, mas é uma questão importante para mim. Sem dar maiores informações, Peter posicionou na constelação o prefeito, dois parlamentares A e B, o secretário e alguém para representar ele mesmo. O prefeito e os dois parlamentares estavam juntos em um triângulo. A certa distância estava o secretário e, atrás dele, o escrivão. Figura 1 EM Escrivão Municipal (cliente) SM Secretário Municipal P Prefeito Parl A Parlamentar A Parl B Parlamentar B Imediatamente Peter percebeu que pareciam ser dois subsistemas: os parlamentares e o prefeito formavam um sistema e o secretário, juntamente com o escrivão municipal, outro. O parlamentar B também queria ver o secretário e o escrivão, então se virou na direção deles. O prefeito se sentiu bem na sua posição. O parlamentar A se sentiu forte e através de sua posição e reações percebeu-se que ele tinha a direção sobre todo o sistema. Peter confirmou isso. A constelação mostrou o quanto é difícil preencher a função de um escrivão municipal. Quando o representante do secretário foi colocado frente a frente com o escrivão, pôde-se perceber que estava acontecendo algo entre eles. STAM Quem nomeou o escrivão? Hesitação entre todos os participantes. PARTICIPANTES O conselho talvez? STAM Quem conversa com o escrivão? PARTICIPANTES Ninguém, na realidade. depois de um tempo, um outro participante disse Eu deixo isso para os parlamentares fazerem. No sistema, o prefeito não se mostrava forte como líder. O parlamentar A, sim. PREFEITO para Stam Eu me sinto ligado ao secretário, mas com o escrivão, ainda não. PREFEITO para o secretário Eu trabalhei um longo tempo com você. Obrigado por isso. O secretário se sentiu lisonjeado e se virou mais para a direção do parlamentar A. PARLAMENTAR A para o secretário Foi tirada de você uma parte de sua tarefa, mas isso não tem nada de pessoal contra você. ESCRIVÃO para o secretário Você trabalhou muito tempo aqui como secretário do conselho municipal. Isso eu percebo e respeito. Encarrego-me, a partir de agora, dessa tarefa na minha nova atuação. Ter dito essa frase foi bom tanto para o secretário como para o escrivão. Então procuramos uma imagem final onde todos os representantes se sentissem bem em suas posições. Figura 2 Para o escrivão e para os parlamentares, era melhor que o escrivão ficasse à esquerda dos parlamentares. Nos sistemas isso significava que o escrivão dava apoio e assessoria aos parlamentares e ao conselho. Na conversa que aconteceu com os sete escrivães municipais do conselho, chegamos a algumas conclusões provisórias: Nessa constelação, o secretário e o escrivão municipal demarcaram seus territórios e funções mais claramente. O secretário era valorizado pelo trabalho que fez como secretário do conselho. Era reconhecido pelo parlamentar A que essa tarefa chegara ao fim. Na maioria das organizações, onde os participantes desse workshop trabalhavam, esse processo não fora realizado. Para que essa nova função tivesse um bom começo ela parecia pedir que no sistema fosse criada uma instância ou agência ou pessoa que estivesse acima, tanto do secretário como do escrivão municipal. Isso seria necessário para o bom funcionamento da antiga função de secretário municipal, como também para que pudesse ser criado um novo espaço para o escrivão municipal. Peter comentou, dizendo que para ele a situação não poderia mais continuar como estava, pois se continuasse dessa forma teria de largar a função. Todos os sete escrivães que estavam presentes vinham da parte administrativa das organizações municipais. Cinco deles diziam ser mais ligados a suas funções administrativas originais. Dois diziam que se sentiam mais pertencentes ao conselho municipal do que a suas funções administrativas anteriores, no poder executivo. Alguns dos cinco se sentiam mais ligados a organizações governamentais por uma questão de segurança. Se não desse certo nessa função, eles poderiam voltar ao posto anterior. Muitos deles diziam, cuidadosamente, que se sentiam como traidores em relação a seus colegas de trabalho que permaneceram na função administrativa, enquanto eles estavam trabalhando para o conselho. Dois deles ainda tinham dois anos, antes de se aposentarem. Ambos estavam visivelmente entusiasmados com a nova função. Um deles disse: "Estou livre, ninguém pode fazer nada contra mim, ao assumir essa nova função." Uma nova função não pode simplesmente existir pelo fato de alguém dizer para uma pessoa: "Eu te nomeio para essa nova função." A função e a pessoa quea assume são grandemente diferentes uma da outra dentro do sistema. Se uma função está bem instalada, alguém pode então assumi-la depois. Se essa pessoa for embora, a função fica livre para que outra pessoa possa novamente assumi-la. A experiência mostra, até o momento, que a criação de uma nova função exige muito de uma pessoa que esteja a um ou dois níveis gerenciais acima dessa. Uma nova função tem que ser encaixada dentro de um sistema, e alguém tem que criar a estrutura de referência onde ela possa ser bem executada. Por sua vez, essa nova função cria, mais uma vez, a estrutura referencial, a partir da qual outros poderão fazer bem o seu trabalho. Dessa forma, uma nova posição pode tornar-se funcional dentro da organização. Por exemplo, às vezes alguém é nomeado diretor adjunto, porque o diretor está ocupado demais para fazer tudo que tem que fazer. Se a função de diretor adjunto não for suficiente- mente clara, ela pode-se tornar inativa. Na realidade, o diretor adjunto não existe no sistema, ele é nada mais, nada menos que um apêndice do diretor. Muitos diretores adjuntos sentem isso na pele, infelizmente. LUGARES SOBRECARREGADOS Às vezes existem lugares sobrecarregados em uma organização, podendo ser desde uma simples função a um departamento inteiro. Qualquer pessoa que assume a função parece não dar certo ou não consegue ficar por muito tempo. Por exemplo, um cargo de supervisor, que durante um período de três anos quatro pessoas passaram por essa mesma função. No início eles estão cheios de energia, mas depois de um tempo, para sua própria proteção, eles deixam a posição, ou, por exemplo, em um restaurante onde um cozinheiro atrás do outro, deixa o emprego sem apontar uma razão clara para isso. Um lugar pode tornar-se sobrecarregado quando, por exemplo, uma pessoa deixa o emprego de uma maneira desagradável. Isso pode acontecer através de um infortúnio, um conflito não resolvido, um acontecimento como um acidente ou pelo falecimento do dono anterior daquela função ou ainda quando alguém simplesmente é excluído ou demitido injustamente. Daremos um exemplo de um departamento inteiro que estava sobrecarregado. Uma jovem psicóloga que trabalhava há um ano em um instituto de psicogeriatria desejava constelar. Havia um trauma na organização que estava exaltando os ânimos e dificultando o trabalho em conjunto. Os funcionários sentiam-se observados de uma forma incriminadora pelos outros departamentos da clínica. Ela disse que, antes de chegar ao instituto, os pacientes haviam sido maltratados e os culpados foram demitidos. Colocou-se então um representante para as vítimas e um para os culpados. O representante dos culpados não conseguia olhar para o representante das vítimas. O culpado só olhava para baixo e estava inquieto. Ele não se sentia à vontade e suas mãos estavam suando. VÍTIMA para o representante dos culpados Por favor, olhe para mim. Depois de muito tempo, o culpado olhou para a vítima e eles se olharam por um longo período. Então a direção e o chefe de departamento foram colocados na constelação, cada um no seu lugar. Ambos não podiam olhar para as vítimas nem para os culpados. Um representante da enfermaria foi acrescentado à constelação. Esse tomou o representante dos culpados pela mão e juntos olharam para o representante das vítimas. O representante da enfermaria começou a tremer intensamente. Somente depois de olhar um longo tempo para o representante das vítimas, ele se acalmou novamente. Nesse ponto, interrompemos a constelação. Os participantes e o público ficaram muito emocionados. Para as vítimas, o pior não foi o mau trato e sim o fato de depois, como seres humanos, não serem vistas com dignidade. Elas não se sentiram mais vistas como pessoas e sim como vítimas. Os culpados também não foram vistos como pessoas, e isso os excluiu do sistema. Quando ambos, vítimas e culpados, foram aceitos no sistema como pessoas, um clima de tranquilidade sobreveio sobre todos os envolvidos. RECONHECER O QUE ESTÁ ACONTECENDO Todas essas dinâmicas e exemplos testemunham a elasticidade do sistema de uma organização, mesmo que essas dinâmicas, às vezes, sejam dolorosas para as pessoas. Esse mecanismo deixa de lado o valor da opinião, da ideologia e das crenças, atuando a partir de um contexto inconsciente. É isso que significa a expressão "estar a serviço de algo." Existem muito mais conexões dentro de uma organização do que se pode ver e se reconhecermos que elas existem e se vermos como elas funcionam, isso poderá nos ajudar a compreender quais são as condições em que a organização e as pessoas podem ter sucesso. 2 NOVA ECONOMIA Dinheiro e vendas dentro da visão sistêmica NOVOS VALORES No tempo da explosão da internet observei, surpreso, meu filho de 18 anos. Ele era — e ainda é — a favor do Linux e contra a Microsoft. Um dia ele me perguntou onde se inscreve, quando se vai abrir uma nova empresa. Seguindo minhas instruções foi à Câmara Regional do Comércio. Queria construir um programa de busca juntamente com dois amigos para o sistema operacional Linux. Segundo ele, para a realização desse projeto, precisava de um computador melhor e de abrir uma empresa. Claro que pensei que ele queria abrir uma empresa para ganhar mais dinheiro, mas parecia que realmente não eram essas suas intenções. Fiquei ultrapassado, em se tratando de computadores, por isso sempre peço aos outros para me darem explicações. O que sei é que o Linux é mais que um sistema operacional — é na realidade uma filosofia. O sistema operacional é aberto e todo mundo pode fazer download via internet, e se alguém desenvolve algo novo isso é também colocado à disposição dos outros. Assim, todos acres- centam algo ao sistema, fazendo-o crescer e se desenvolver cada vez mais. Meu filho e seus amigos perceberam que não havia um sistema de busca a respeito do Linux, e lhes pareceu uma grande contribuição criar algo assim. A princípio eles mantiveram esse plano somente entre eles, pois não queriam que outros colegas usassem a ideia deles antes que tivessem terminado o projeto. Perguntei se pensavam em receber de volta algo do investimento feito, então meu filho respondeu: "Um dia a gente recebe." E pela forma como disse me chamou atenção para uma coisa: ele não disse isso por uma insegurança infantil e muito menos com a ingenuidade de alguém que não conhece as regras do jogo deste mundo. Tampouco soava como uma crença ideológica, soava ser uma nova verdade, um novo mecanismo, uma nova economia, talvez a verdadeira "nova economia". Um novo mecanismo de troca. Uma economia onde um novo equilíbrio entre o dar e o receber pode agir, no qual possamos confiar tanto quanto confiamos no sistema de preços e tarifas do mercado atual. EQUILÍBRIO ENTRE DAR E RECEBER Se existe um mecanismo ao qual as pessoas são verdadeiramente sensíveis é o equilíbrio entre dar e receber. Isso funciona com mais força em situações de trabalho do que no con- texto da família. Talvez por isso as pessoas que começam a trabalhar têm que aprender a lidar com esse equilíbrio. Muitas pessoas ainda estão dando seus primeiros passos nesse assunto. O equilíbrio em dar e receber funciona assim: nós temos um "sentido sistêmico"1 que é sensível ao dar e receber. É um tipo de sentido de equilíbrio que nos diz se devemos ou se temos crédito com alguém. Imagine que alguém lhe deu algo. Então você sente a necessidade ou a pressão de ter que dar algo de volta. Se você der um pouco mais do que recebeu, o outro vai se sentir em dívida e terá a necessidade ou pressão de também dar algo de volta. Se esse algo que foi dado for novamente mais do que o anteriormente recebido, então existe aí uma troca entre dar e receber que cresce continuamente. Isso forma a base de uma longa, fértil e enriquecedora troca. Uma organização, muitas vezes, mantém-se unida através desse mecanismo detroca. Dentro da organização é formada uma base para uma fértil relação entre os trabalhadores. Existem várias formas desse intercâmbio se manifestar. Uma pessoa oferece o seu trabalho e recebe muitas coisas de volta: continuidade do trabalho, segurança financeira, certeza de que a família tem o que comer, de que pode sair de férias, momentos agradáveis no trabalho, salário, entre outros. Esse equilíbrio parece funcionar muito precisamente e nem sempre combina com as decisões negociadas pelo sindicato dos trabalhadores. Em uma determinada transação, geralmente é o equilíbrio entre dar e receber que determina o montante de energia que vai ser empregada e quão satisfatória ela será. Ambos os fatores determinam com grande precisão o sucesso e a força da transação. Pense agora em um trabalho ou transação que você realizou e no qual ganhou dinheiro. Pergunte-se o que teria acontecido com essa transação se o seu ganho tivesse sido duas vezes maior. Isso faria com que a transação — para ambos os lados — fosse mais forte ou mais fraca? E o que teria acontecido se esse ganho tivesse sido um terço a mais ou dois terços a menos daquilo que você realmente ganhou? Geralmente com a ajuda desse barômetro de preços as pessoas podem apontar o ponto de otimização onde a transação tem mais força. Para minha grande surpresa, ganhei a altíssima quantia de 1.500 euros por uma hora de trabalho enquanto que, independente de qualquer coisa, aceitaria fazer aquele workshop até de graça! Geralmente, se dou um workshop sobre trabalho sistêmico em um terreno novo, como por exemplo, para advogados de divórcio, eu só peço para pagarem as despesas de transpor- te. O equilíbrio entre dar e receber funciona da seguinte forma para mim: eu aprendo algo deles e eles aprendem algo de mim. É mais uma troca de conhecimentos do que somente um lado dando algo que ainda por cima precisa ser remunerado. Em casos como esse é 1 Aqui “sentido” tem o significado de sentido físico como visão, tato, olfato, etc. (N.T.) apropriado, para mim, pedir que paguem apenas os meus gastos para a realização do workshop. Assim, fico livre e os meus participantes também. Não preciso somente dar, mas posso também receber deles a mesma quantidade. Além disso, eu me preparo precisamente para o workshop o quanto for necessário. Se em uma reunião dois colegas de trabalho trocam uma moeda de um euro, cada um vai embora com uma moeda de um euro. Se dois colegas trocam uma ideia, cada um vai embora com duas ideias. Isso é o que acontece nesses tipos de workshops, cada um volta enriquecido para casa. No final, o alto montante pago a mim naquele workshop foi equilibrado de forma bem apropriada. A tarefa foi realmente um desafio para mim. Parecia-me impossível dar um workshop de uma hora com demonstração de uma constelação em relação ao tema do congresso que era "Rituais de despedidas no trabalho". Eu tinha negado no início, mas de- pois voltei atrás e fiquei duas semanas com um frio na barriga. Como eu deveria me preparar para o primeiro minuto crucial? No final, esse workshop foi tão intenso, tinha tanta energia, atenção e intercâmbio que nessa única hora o meu honorário, minha participação nessa troca foram completamente refletidos e equilibrados pelo montante pago. Surpreendente! "Não é importante o quanto de dinheiro você ganha com uma tarefa e sim o que você vai fazer depois com esse dinheiro". (Bert Hellinger) DÍVIDA E SENTIMENTO DE CULPA Se em uma transação o dar e o receber estão em equilíbrio, então ambos os lados são livres, livres para lidar um com o outro, com outros e com a próxima transação. Talvez isso seja uma simpática aproximação de uma profissão livre: depois de cada transação ambos estão livres novamente. Mas se há uma dívida, então você fica preso. Dívida, é aqui: uma necessidade de pagar algo para que as coisas estejam novamente em equilíbrio. Dívidas antigas sempre podem voltar. Elas podem nos prender ao passado. Pode transformar-se em um sentimento de culpa: "Eu me sinto culpado." Sentimentos de culpa são geralmente chamados sentimentos "secundários", pois nos prendem a uma imagem interna de algo que aconteceu no passado. Através disso perdemos o contato com a realidade atual. Esses sentimentos de culpa fazem com que as negociações se tornem impossíveis, nos paralisam. Sentimo-nos desamparados, como vítimas. Outras pessoas até querem nos ajudar, mas elas se sentem usadas ao fazê-lo. No geral, não há muita energia e força no sentimento de culpa e no sentimento secundário. A solução é ver a realidade com os próprios olhos: um ganhou mais e ao outro custou mais: ponto final. Isso é a verdade, com todas as suas consequências. Somente quando você começa a ver a realidade com os seus próprios olhos se torna novamente possível negociar. Você tem que suportar sua dívida em relação ao outro, e isso às vezes é doloroso, ainda mais se o outro teve que pagar um alto preço. Sentimentos secundários desaparecem a partir do momento em que você entra em contato com o sentimento primário. O sentimento de culpa desaparece, se você olhar para a sua dívida com os seus próprios olhos. O sentimento primário está ligado a acontecimentos reais. Através desse sentimento você pode observar o mundo ao seu redor e direcionar suas energias para o futuro e para uma possível solução. O mesmo vale para aqueles que estão do outro lado do equilíbrio e que ganharam pouco. Se esse sentimento de injustiça se fixar e se transformar em um sentimento secundário, então eles ficarão presos para sempre a esse acontecimento. Vão reclamar e continuarão se sentindo como vítimas e então, acontecerá a verdadeira pobreza. Não é possível mais estabelecer um equilíbrio entre dar e receber. A troca diminui e isso traz solidão. Depois, com o passar do tempo, uma pessoa não vai mais pertencer a lugar algum. Assim, o que ajuda é voltar ao momento onde a troca perdeu seu equilíbrio e encará-la com os próprios olhos. Sem repreensão e sem querer mudar algo. O outro recebeu mais e eu paguei um preço. Ponto final. Assim foi como aconteceu. Que Pena! Ao estar em contato com a realidade, há possibilidades de novamente ter senti- mentos primários, assim como a dor da injustiça. Essa dor desaparece com o tempo. Você acha uma nova força e permanece em contato com a corrente da vida. Uma nova troca pode vir a acontecer, apesar das desigualdades que ela pode trazer consigo. VINGAR-SE COM AFEIÇÃO O equilíbrio em dar e receber acontece também quando uma pessoa é injustiçada. Então, existe o direito ou a necessidade de também cometer uma injustiça a alguém. Em certos casos as exigências do injustiçado restauram o equilíbrio, fazendo com que ambas as partes consigam olhar um para o outro novamente. Quando uma pessoa, respondendo às injustiças sofridas, deseja causar injustiça e dor àquele que a magoou, porém mais do recebeu, o equilíbrio não é restaurado. Esse é o modelo para uma escalada do conflito. Quando uma pessoa, respondendo às injustiças sofridas, claramente dá o troco, porém mais brandamente do que recebeu, o equilíbrio pode voltar a existir novamente. Somente assim ambos podem olhar diretamente um nos olhos do outro sem que entre eles haja culpa ou casos mal resolvidos. Isso é uma forma de vingar-se com afeição. Esse é um modelo para a reconciliação. LIBERDADE, DEPENDÊNCIA E DIGNIDADE É notável como funciona de forma tão precisa o equilíbrio entre dar e receber. Algumas pessoas cuidam em estar constantemente dando mais do que recebem, por isso seus clientes sempre estão em débito. O efeito disso é que os clientes não se esforçam para se comportarem como adultos. Existe uma exceção em relação ao funcionamento do equilíbrio entre dar e receber anteriormente citado. Nas famílias existem dois tipos diferentes de relação. Entre parceiros, o equilíbrio funciona como uma troca entre iguais,mas entre pais e filhos existe uma relação muito diferente. Os pais dão mais e os filhos recebem mais. Os filhos não podem e nem precisam trazer equilíbrio a esse intercâmbio. Eles recebem muito e podem aceitar isso. Assim haverá um "excesso" no intercâmbio entre os filhos e seus pais. Depois, quando os filhos forem adultos, poderão usar esse "excesso", dando também mais para seus próprios filhos. Também podem, como adultos, dar a sua energia ou talento a um objetivo da socie- dade, sem exigir muito de volta. A mesma coisa é, às vezes, válida para professores e alunos. Os estudantes não podem compensar totalmente aquilo que eles receberam. Por isso, sentem a necessidade de fazer algo bom às outras pessoas. Professores ou institutos a quem você tem muito que agradecer sentem-se honrados se você, como ex-aluno, publicar ou passar à frente as novas ideias que recebeu. Dessa forma, os novos conceitos crescem cada vez mais e com isso a sociedade se torna mais rica. O equilíbrio entre o dar e o receber, além de liberdade, tem a ver com dignidade. Isso eu percebo fortemente quando trabalho em países onde as pessoas têm pouco dinheiro. Quanto os diretores de Kolchozen2 da Rússia têm que pagar por um curso de gerên- cia que acontece na Holanda? Aqui também funciona o barômetro de preços. A nossa primeira tendência era de não os deixar pagar nada, mas, assim, eles iriam perder sua digni- dade. Nós iríamos nos sentir como "pais" e os diretores iriam receber a posição de "filhos" e, com isso, o treinamento perderia o valor. Não haveria força nessa transação. INTERESSES PESSOAIS E INTERESSES DA EMPRESA Quando uma pessoa trabalha em algum lugar, sempre acontecem trocas: com os clientes, com os colegas de trabalho, com o chefe, com os supervisores. Muitas pessoas têm um grande movimento de intercâmbio no seu trabalho, não em termos de dinheiro, mas em termos de realizar muitas transações que oferecem um permanente crescimento na troca entre o dar e o receber. Uma grande troca, um grande intercâmbio nos proporcionam um sentimento de riqueza. Quando alguém não está em posição de ter um bom movimento de trocas, de intercâmbio, na empresa em que trabalha, essa pessoa procura, então, uma maneira de au- mentar seu intercâmbio pessoal. Assim ela pode ir trabalhar para a associação dos empregados ou buscar servir de apoio para seus colegas. Essas atividades também são boas para o empreendimento e são enriquecedoras para todos. Se, através disso, crescer somente o seu lucro pessoal, então isso não vai durar muito tempo. Em constelações vemos que, se o objetivo de um empreendimento vai a favor de um objetivo pessoal, então o lucro pessoal aumenta à custa do empreendimento e, ao final, não traz nada de bom. Mais cedo ou mais tarde alguém tem que sair ou ser mandado embora para que esse processo possa parar. “SE VOCÊ AMA ALGUÉM, LIBERTE-O.” (Sting) 2 Cooperativas rurais da Rússia. (N.T.) Se alguém tiver mais talento do que a organização precisa ou pode pagar, isso irá gerar um rendimento que estará abaixo do seu potencial. Aqui também existe um equilíbrio entre o dar e o receber, porém terá uma duração limitada, pelo fato desse alguém trabalhar abaixo do nível do seu talento. Se isso durar muito tempo, o seu valor próprio diminuirá e a sua autoestima também. É importante que a firma empregadora, os demais colaboradores e o próprio empregado reconheçam esse talento especial. Às vezes, uma empresa cria uma posição para uma pessoa talentosa que na realidade não existe para, dessa forma, mantê-la dentro da empresa. Assim a organização desvaloriza a si mesma, o que também não é uma solução. Talvez fosse melhor se essa organização dissesse para esse funcionário: "Nós vemos que você tem mais talento e potencial do que a função que podemos lhe oferecer e pagar. Da nossa parte, você está livre para partir, mas, enquanto você ficar, nós valo- rizaremos ao máximo seu trabalho." Então esse alguém pode ainda ficar um tempo e fazer coisas boas para o empreendimento, até chegar o seu tempo de partir. CRESCIMENTO E LUCRO O lucro e o crescimento de um empreendimento podem ser vistos de uma forma diferente da que habitualmente se entende por "crescimento econômico". O crescimento pode acontecer na troca com o ambiente, no lucro sistêmico ou em fortes transações que aumentem a dignidade de funcionários e clientes. Esse crescimento dá li- berdade a clientes e funcionários, ao invés de dependência. Traz mais experiência ao empreendedor que adquire, então, um respeitado lugar na sociedade. No artigo "O homem de negócios do ano", sobre um israelita que atualmente mora nos Estados Unidos, perguntou-se diretamente a seus funcionários qual era o segredo do seu sucesso. A resposta deles foi: "Ele é generoso. Generoso com todos: funcionários, fornecedores, parceiros de negócios e clientes". Ele era com certeza alguém que tinha muito lucro. Acima de tudo parecia ser alguém que, com o dinheiro que ganhava, tentava preencher sua responsabilidade na sociedade e que fazia algo parecido com isso para resolver o problema em Israel. SUBSÍDIO Uma colega me contou, muito contente, que havia recebido subsídio da embaixada Holandesa para dar cursos no Suriname. No final do curso, ela me disse: "Nunca mais farei desse jeito. O subsídio parece não ter funcionado bem. Os surinameses se sentem maltratados, e eu me sinto a cada dia mais infeliz". Em se tratando de subsídio deve-se procurar saber se não há uma terceira parte envolvida de forma oculta e que mais tarde virá exigir algo, mesmo que esteja por trás da cena, que enfraquecerá a transação. Nesse contexto específico, podemos imaginar que o estado holandês ainda se sente em dívida em relação ao Suriname. Isso "contagia" o sub- sídio, pois seria então uma tentativa disfarçada para tentar saldar a dívida antiga. Para todas as partes isso é inconscientemente perceptível. Vejam essa reportagem, por exemplo: "Na França, artistas irritados perturbaram o Tour de France." Na França existe uma regra que diz que artistas que trabalham dois meses por ano podem receber subsídio o resto do ano. Assim, eles podem se dedicar totalmente a sua profissão e paixão. Existe também um teatro muito desenvolvido, repleto de talentos, testemunhado em muitos festivais de alta qualidade. Agora o atual governo quer mudar essa regra. Fora as interpretações políticas você pode se perguntar qual seria a transação mais forte: - O que aconteceria se os artistas vissem a regra como um direito ao invés de um presente? Isso faria do todo mais forte ou mais fraco? Se você recebe um subsídio como um presente, então é como se ele fosse uma maravilhosa pressão em querer fazer algo de bom para as outras pessoas, em troca. - Como é que os artistas manterão sua criatividade livre? O que tem para eles o maior impulso criativo, e como pode o público e a sociedade receberem essa criatividade? Os direitos aqui exigidos dão mais dignidade ou enfraquecem o sistema inteiro? Os direitos aqui exigidos se tornam então uma vitória de Pirro3? Em se tratando de subsídios adquiridos ou exigidos, o ganhador se sente melhor que o doador do subsídio, assim como um filho exige direitos dos seus pais. Isso não durará muito tempo. O que vejo nas constelações é que essa situação varia de caso para caso. Um bom ponto de partida é que, no equilíbrio entre dar e receber, mesmo não sendo subsidiado por uma terceira parte, não somente exista prazer no trabalho mas também em toda a transação. PAGAMENTO DE SUBSÍDIO MENSAL Em uma constelação, a história de uma mulher que estava vivendo da previdência social emocionou a muitos. Ela queria encontrar algumas possibilidades para reiniciar e desenvolver o seu trabalho. Era diretora de uma escola e gostaria de descobrir qual rumo profissional daria a ela mais força. Escolhemos um representante para a previdênciasocial, e isso teve um bom efeito. A mulher disse que já havia recebido muito da previdência social e que era importante que isso fosse reconhecido. Ela tinha aceitado isso como presente e feito algo de bom com o que ganhou, o que deu a ela liberdade, apoio e força de que tanto precisava para dar uma nova forma a sua vida profissional. Todos que estavam presen- tes na constelação se sentiram tocados e receberam, de repente, uma outra imagem das possibilidades da previdência social. A pergunta se um subsídio dá força aos envolvidos ou tira a força do sistema tem que ser olhada em cada situação, de forma diferente. Vejamos outro exemplo: UMA PANCADA 3 No ano de 279-AC, o rei Pirro, de Épiro (atual Albânia), reuniu seus oficiais no campo de batalha de Asculum, perto de Roma, para saudar a vitória parcial das suas tropas contra o poderoso exército romano. Diante das enormes perdas de oficiais e soldados, porém, ele constatou que “com mais uma vitória como esta” o seu reino estaria perdido. Daí o termo “vitória de Pirro”, que expressa uma conquista em que as perdas do vencedor são tão grandes quanto as do perdedor. (N.R.) Uma mulher estava fazendo um curso de consultoria organizacional e depois iria trabalhar na Marinha. Logo depois, ela sofreu um acidente de trabalho, onde levou uma pancada na nuca, sofrendo um dano funcional. Pelo fato de eu ser o docente do curso e ela me conhecer, escreveu-me uma carta perguntando se eu estava preparado para fazer uma análise sincera do seu potencial. Ela queria exigir da organização empregadora uma indenização, antes de deixar a mesma e estava sofrendo muito com isso. Muito cuidadosamente escrevi de volta, dizendo que a via como uma potencial chefe de departamento de uma média ou grande organização. Sem muita hesitação acrescentei duas frases: "Qual vida é mais valiosa, aquela com ou sem a pancada?" E: "Se você receber agora uma indenização, você estará mais ligada ou menos ligada a sua antiga empregadora? Isto a fará mais fraca ou mais forte?" Depois de um tempo, recebi dela uma carta de agradecimento com um presente. Escreveu dizendo que estava feliz com minha análise do seu potencial, mas as duas últimas frases foram as que mais a sensibilizaram e a ajudaram. Uma gerente capacitada e dinâmica era líder de um grupo de funcionários na cidade de Amsterdã. Ela se perguntava por que os funcionários se apresentavam mais inexperientes e menos capacitados do que eles na verdade deveriam ser, de acordo com seu grau de estudo. Muitos dos funcionários eram de descendên- cia judaica e, por isso, recebiam subsídio de uma fundação para descendentes das vítimas do Holocausto. Então ficou claro para a gerente que aquele subsídio colaborou para que os seus funcionários continuassem se sentindo como vítimas e, com isso, suas oportunidades se tornaram limitadas. Ela olha agora com outros olhos para esse problema. "Presentes pequenos ajuntam, grandes presentes separam. O que seria um presente apropriado de despedida?” (Bert Hellinger). 3 ONDE ESTÁ O CHEFE? Sobre liderança "Uma pessoa se torna autoritária quando usa mais poder no seu trabalho e nos seus interesses pessoais do que lhe é incumbido. Assim, estará desperdiçando sua autoridade.” (Bert Hellinger). Quando a liderança foi bem estabelecida, então, talvez, a condição mais importante para uma organização se desenvolver bem foi alcançada. Liderança é principalmente uma questão de ordem, ou seja, construir uma ordenação que funcione. O PRIMEIRO LUGAR "A pessoa mais importante em uma organização é o proprietário. E ele ou ela que cria a estrutura referencial dentro da qual os outros poderão exercer suas funções. Essa importante função também pode ser exercida por um diretor geral ou um conselho administrador. A gerência só pode usar sua autoridade com o apoio do proprietário ou do conselho admi- nistrativo. Por isso a gerência tem que respeitá-los. Se o proprietário e a gerência se respeitam mutuamente, então eles se sentem livres em fazer, em determinadas situações, o que lhes parecer melhor. Na realidade, o diretor presta um serviço. Em uma organização é sempre importante se perguntar se o diretor coloca sua autoridade a serviço dos outros." (Bert Hellinger). A autoridade é aceita quando os outros percebem que essa autoridade é usada em prol deles. A autoridade é rejeitada quando alguém usa o seu poder não colocando essa autoridade em prol dos outros. TRÊS PRINCÍPIOS DA LIDERANÇA O primeiro princípio da liderança é colocar, em primeiro lugar, aquele que constrói a estrutura referencial onde os demais vão atuar. Depois desse, o outro que cria a estrutura para a função daqueles que estão abaixo e assim, um após o outro sucessivamente, formando, então, uma hierarquia sistêmica. O segundo princípio da liderança é colocar o grupo ou as funções que mais contribuem para o funcionamento da organização em primeiro lugar, tendo mais prioridade. Em um hospital, os médicos (clínicos gerais) vêm em primeiro lugar em relação aos fisioterapeutas, nutricionistas e outros paramédicos que exercem as demais funções. O terceiro princípio da liderança é a precedência. Aquele que está há mais tempo na organização tem mais prioridade do que outro que chegou depois. Esses princípios geram tensão, um em relação ao outro, você pode perceber isso em hospitais, por exemplo. Aquele que cuida dos meios financeiros para que o hospital possa existir vem em primeiro lugar, e geralmente não é um médico especialista. Seguradoras e Ministério da Saúde são também elementos muito importantes no sistema de um hospital e no sistema de saúde. Aliás, isso também é válido para aqueles que dão dinheiro e para financiadores de uma organização. Uma vez, em um workshop para professores, minha mulher, de maneira muito simples, posicionou representantes para o Ministério da Educação e para a Secretaria de Educação da prefeitura. Ficou claro o quanto essas duas últimas posições são essenciais para a escola. Em organizações que não visam ao lucro, financiadores e aqueles que patrocinam são, muitas vezes, esquecidos. Outras vezes, são excluídos pelo fato de serem vistos como inferiores ou como se o que ocorresse na instituição não fosse da conta deles. ORDENAÇÃO Em uma companhia teatral, uma mulher que cuidava da elaboração dos planos e também de conseguir dinheiro para novas produções foi colocada em primeiro lugar no sistema. Isso aconteceu lentamente e ela ficou muito emocionada, quando isso ficou claro na constelação. Não era a fundadora da companhia. Curiosamente, a gerente de negócios deles, na constelação, não fazia parte do sistema da companhia, tinha mais a função de consultora ou conselheira. O reconhecimento dessa realidade pelas pessoas do grupo teatral foi o começo de um novo rumo e de um grande desenvolvimento para eles. Nesse sentido, a realidade que é reconhecida é sempre benevolente. O reconhecimento da situação tal como ela é nos coloca em contato com a realidade e torna o novo possível, mas não podemos dizer o mesmo a respeito de sonhos, ilusões, imagens internas, reclamações e acusações. Essas coisas nos paralisam, nos tiram do essencial e nos impedem de agir. Que a ordenação jurídica e a ordenação sistêmica não são sempre coincidentes, já pude experimentar. Eu trabalhava em uma organização, onde depois de um tempo de serviço você poderia ser convidado para fazer parte da sociedade. Claro que eu tinha essa ambição e gostaria muito de pertencer ao grupo de sócios! No papel éramos todos iguais nessa sociedade e tínhamos os mesmos direitos. Os colegas de trabalho que vieram depois receberam também todas as possibilidades de alcançar suas ambições. Para isso os relatórios de desempenho eram avaliados com frequência. Mesmo assim, durante todo aquele ano em que pertenci à sociedade eu me sentia como se fosse um empregado. Apesar das minhas
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