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brinGando e aprendendo Gom 05 JOr®OSCOO?H~}-.IrVOS Reinaldo Soler brinGando e aprendendo GOmos JOl®OSCOopp,.~ATrVOS Direitos exclusivos para a língua portuguesa Copyright©2005 by EDITORA SPRlNT LTDA. Rua Guapiara, 28 - Ttjuca CEP20521-180 - RiodeJaneiro-RJ Te/efax: OXX-21-2264-8080 / OXX-21-2567-0295/ OXX-21-2284-9340 e-mail: sprint@Sprint.com.br home page: www.sprint.com.br Reservados todos os direitos. Proibida a duplicação ou reprodução desta obra, ou de suas partes, sob quaisquer fonnas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia ou outros) sem o consentimento expresso, por escrito, da Editora. Capa: Leandro Peres Editoraçio: Julia Soares 1lllStraçõcs: AvllZ Revisão: Cristina da Costa Pereira CIP-Brasil. Catalogação na fonte. Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ. Soler, Reinaldo Brincando e aprendendo com os jogos sooperativos /Reinaldo Soler. _ Rio de Janeiro: Sprint, 2005 inclui biblíografia ISBN 85-7332-229-2 I. Jogos infantis. 2. Jogos em grupo 3. Cooperação (psicologia) 04--2774. 08.10.04/15.10.04 f 07m CDD790.1922 CDU796.11 Depósito Legal na Biblioteca Nacional, conforme Decreto nO 1.825 de 20 de dezembro de 1967. Impresso no Brasil . Printed in Brazil mailto:sprint@Sprint.com.br http://www.sprint.com.br 'bumário PAPO INICIAL Deixando~se tocar pela magia dos jogos cooperativos 15 CAPÍTULO I O poder transformador dos Jogos Cooperativos 25 1. Principais objetivos trabalhados pelo jogo 29 2. Enfoques projetados sobre o jogo .30 3. Criando novos jogos '.31 4. Qual é a proposta? 32 5. Um pouco da história dos Jogos Cooperativos 34 6. Como apresentar os Jogos Cooperativos 37 7. Organizando um evento cooperativo 38 8. Uma história sobre cooperação .40 9. Algumas idéias para diminuir a competição .41 CAPÍTULO 11 Cooperar é preciso 43 1. É da natureza humana competir? 47 2. A competição traz à tona o melhor de nós? 47 3 A . - ,. '1 48. competlçao constrOl o carater. . 4. A criança precisa aprender a perder? 48 5. O mercado de trabalho exige competição? .49 6 A . - é d' " " . 1 49. compettçao que a graça ao Jogo . CAPÍTULO lI! Jogos Cooperativos: Uma pedagogia mais que viável. 61 L Definindo 67 2. Categorias de Jogos Cooperativos 70 3. Como ensinar a jogar e viver de forma cooperativa 72 4. O que é condicionamento competitivo? 74 5. Papel do facilitador/focalizador de Jogos Cooperativos 75 6. Quais as vantagens de contar com um co,focalizador? 79 7. Tamanho ideal dos grupos 79 8. Formando noVos grupos 79 8.1. Como facilitar a formação de grupos? 80 8.2. Habilidades sociais desenvolvidas no trabalho grupa!....................................................... 81 9. Existe faixa etária? 81 10. Onde será jogado este jogo?. 81 11. Importância do Feedback 82 12. Premiando a todos 83 13. Planejando os jogos 84 14. Habilidades desenvolvidas com a cooperação 84 15. Princípios que se desenvolvem quando utilizamos o Jogo Cooperativo 85 16. Os Jogos Cooperativos ajudam quem joga em 85 17. Modelo de ficha para catalogar Jogos Cooperativos 86 18. Criando grupos cooperativos 87 19. Como utilizar os Jogos Cooperativos nas aulas? 87 19.1. Efeitos da Aprendizagem Cooperativa 88 20. Evitando comparações 88 21. Formando multiplicadores 91 22. Danças circulares 92 22.1. Importância do círculo 93 CAPÍTULO 1V Aprendendo a conviver por meio dos. Jogos Cooperativos 95 1. Educando para a paz 100 CAPÍTULO V Jogos Cooperativos auxiliando na inclusão das diferenças 105 1. Importância da auto~estima na formação da criança 109 1.1. Auto~estima é 109 1.2. A auto~estima tem dois aspectos inter~relacionados 110 CAPÍWLO VI Criando e recriando Jogos Cooperativos 115 CAPÍWLO VII Jogos cooperativos utilizando Pára;quedas 289 CAPÍWLO VIII Ligando e rehgando idéias e ideais .309 "Fim decretado que o homem não precisard nunca mais duvidar do homem." (Thiago de Metia) A Adelino da Silva Antunes, amigo e grande parceiro no jogo da vida. A Hipólito Carvalho Santana, novo~velho amigo. À Editora SPRIN'T, por me dar asas. Sou também muito grato às pessoas que compartilham comigo o ideal da cooperação. "Se você quer tTansformar o mundo, expeTimeme primeiro promover o seu aperfeiçoamento pessoal e realizar inova~ ções 110 seu próprio interior. Estas atitudes se refletirão em mudanças positivas 110 seu ambiente familiar. Deste ponto em diante, as mudanças se expandirão em proporções cada vez maiores. Tudo o que fazemos produz efeito, causa algum impacto." (DAlAI LAMA) lIDe repente, me deu vontade de um abraço ... Uma vontade de entrelaço, de 'idade D 'de 'lá'"prOXITn ... e am/..Za ,set . (Vinícius de Morais) Ofereço esse livro, assim como toda a minha vida, a duas pessoas espe~ ciais que mudaram meu mundo: meu pai Serafim Soler, com quem com, partilhei os caminhos da vida e que de onde estiver deve estar sorriu, do. E a meu filho e parceiro no jogo, Leonardo Corrêa Soler. Obriga, do, filho, por entender as minhas viagens e sempre me esperar com uma novidade. À minha mãe, Maria Aparecida Lemes Soler, assim como tantas Marlas, uma verdadeira guerreira do amor. Às minhas irmãs Rosangela e Rira. Professor de Educação Física da Rede Municipal de Santos ~SP; Professor de Educação Física da Rede Municipal de Praia Grande ~SP; Pós~graduado em Jogos Cooperativos (UNIMONTE~. Santos~SP); Autor dos livros: Jogos Cooperativos, Editora SPRIN1: Brincando e aprendendo na Educação Física Especial, Editora SPRIN1: Jogos Cooperativos para a Educação Infantil, Editora SPRIN1: Educação Física Escolar, Editora SPRIN1: 'PA'PO INIt:.IAL Df,IAANDO-'i>f, TOC.A~ l'f,LA MA6.IA DO'i> :rOc"O'i>C.OOl'f,~TIVO'i> "Quem olha para fora, sonha: quem olha para dentro, desperta." (Carljung) ;.. . primeira coisa que temos que compreender é que a COO~ .: peração é uma arte que seduz, emociona e humaniza e, : como tal, precisamos, se quisermos saber como aprender a cooperar, seguir alguns passos necessários para se aprender qualquer tipo de arte que nos leve ao encontro de nossos objetivos. Fromm (1971) nos fala sobre quais passos são necessários para se aprender uma arte qualquer: O processo de aprendizagem é dividido em duas partes interdependentes entre si, ou seja, uma não existe sem a outra: Domínio da teoria. Domínio da prática. Só podemos dominar a teoria entrando em contato com a biblio· grafiadisponível no mercado, e que não é muita extensa, conheceu· do quais são os conceitos e características dos Jogos Cooperativos. Mais do que ler é preciso compreender uma nova filosofia que se inicia no jogo e continua na vida. É o que chamamos de Filosofia Cooperativa. Ela necessita ser construfda num movimento de dentro para fora. Já a prática virá por meio de muito exercício; devemos exercitar a cooperação em todos os momentos possfveis e imagináveis. Após cada sessão teórica devemos exercitar experiências práticas, discuti~las e avaliá~las. Dessas sessões os participantes desenvolvem a competência e a confiança para continuar jogando na escola ... E fundamentalmente na vida. O que nasce da união entre teoria e prática é algo que chamamos dePRÁXIS. Além de aprender a teoria e a prática, um outro fator é fundamen~ tal para se formar um mestre/aprendiz em qualquer arte. Nada pode ser mais importante no mundo do que a arte aprendida, Por tudo isso devemos, sempre, buscar conhecer, aprofundar e exercitar a arte da cooperação. Aqui trataremos de transformações, e sempre é muito difícil falar em transformações, mas é importante frisar que a transformação fun~ damental é algo muito maior que a simples mudança de uma forma de enxergar o jogo e a vida, por outra. Toda transformação forçada não é uma transformação real, pois foi conseguida mediante a influência externa, e não sendo consttuída pelo indivíduo, não será significativa. Aqui falamos também da importância de, além de querer transformar, sentir essa transformação de dentro para fora ~o primeiro a ser transformado deve sempre ser eu. Quem não sonhou um'dia com um mundo melhor? Onde todas as pessoas pudessemconviver pacificamente? Onde a violência e a com~ petição exagerada não nos tomassem a todos reféns? Onde não fôsse~ mos todos perdedores? Esse sonho pode se tomar real, basta que cada um faça a parte que lhe cabe. Falar em cooperação é falar em aceitação, ajuda mútua, divertimento, prazer, qualidade de vida, enfim, criar possibilidades de mudanças. Este livro é direcionado àquelas pessoasque ainda acreditam no sonho de um dia construir um mundo para todos. Um mundo mellior. E também para que possamos despertar nossas consciências e mantê~las despertas, ajudando outras pessoasneste eterno despertar. Será que a competição, a agressão e a violência fazem parte da nossa natureza? A nossa cultura ocidental dizque sim.Particularmente, baseado em muitos estudiosos e em minha experiência pessoal, grito que não. Será que então posso mudar alguma coisa? O que fazer? Por onde começar esta mudança? Vivemos imersos em uma cultura que poderíamos denominar fa~ cilmente de "CULTURA MUTLEY", isto mesmo, refiro~me àquele personagem dos desenhos animados da dupla Hanna e Barbera, em forma de cachorro, que só agia mediante medalhas. Vivemos a cultu~ ra do quem pode mais chora menos. As pessoas envolvidas por esta cultura Mutley, primeiro querem saber o que irão ganhar para depois agir de uma forma ou de outra. A única motivação que alguns profes~ sores encontram para incentivar o jogo são as medalhas.Será o me~ lhor caminho? O personagem apenas reflete o que aconteceu, acon~ tece ou acontecerá em nossa sociedade. Se não pararmos de alguma forma essa onda de competição desen~ freada, seremos com toda certeza engolidos por ela, e sobrará muito pouco a ser feito. Corrupção e distorção de valores humanos existem em todos os setores, em todos os níveis e domínios, sejam eles na política, negóci~ os, leis e esportes. Cabe observar onde são gerados. Acredito ser a es~ cola o local ideal para se refletir sobre o que temos sido, tentando, de alguma forma, não cometer os mesmos erros, evitando pisar sobre as mesmas pegadas. Acredito muito no que disse Robert Kennedy, pouco antes de sua trágica morte: "Para que as forças do mal vençam, só é necessário que alguns homens de bem não façam nada." A palavra-chave é "COMPARTILHAR". Quando uso o termo JOGOS COOPERATIVOS, entendo~o como um processo educativo baseado na cooperação e na resolução pacífica de conflitos, cujo propósito maior é unir pessoas ao redor de um obje~ tivo comum. A meta deve ser a superação de obstáculos e desafios externos ao grupo. Creio serem os Jogos Cooperativos a magia necessária para que esta modificação profunda aconteça em nossa sociedade que cada dia está mais doente. Com isso conseguiremos, enfim, fazer a dife~ rença nas vidas das pessoas. Convém lembrar que a sociedade oci~ dental é normalmente baseada no consumismo e na competição selvagem, exagerada e desumana. Inconscientemente, reproduzi~ mos esse modelo sem analisá~lo criticamente. Afinal, já estamos condicionados a só agir de uma forma: competição. E assim, associ~ amos o jogo e a vida com a competição, como se um fosse sinônimo do outro, como se um não vivesse e/ou existisse sem o outro. Assim como Mariotti (2000), também entendo ser a competitividade uma radicalização da competição e todos que a ela são expostos se tornam perdedores de alguma forma. É isso que queremos enquanto seres humanos para o nosso futuro? Claro que não, todos responderão mais que depressa. O que é melhor: competir ou cooperar? Não tenho nada contra a competição, muito pelo contrário. Mas acredito que o que vemos atualmente não é a busca da vitória, porém, a busca pela destruição do outro. Acredito muito que a mudança se construa pela forma como pro~ pomos as brincadeiras e jogos, já que fomos levados a essa competitividade puramente por circunstâncias culturais. Ensinaram~ nos a só agir de uma maneira: pela competição. O que mais escuta~ mos durante a nossa vida dentro e fora da escola, é "vá e vença, pois o mais importante é a vitória final". Devemos buscar alternativas e outros meios de compreensão, ritualizando a cooperação em todos os lugares, momentos e com pes~ soas possíveis, até para que possamos minimizar os efeitos do condi~ cionamento competitivo que nos envolve e nos torna a todos perdedores. Uma das formas mais utilizadas para reforçar este condicionamen~ to é premiar os vencedores. Kamii (1998) fala um pouco sobre a questão de premiar os melhores: "Ironicamente, muitos educadores gostariam de ver a autonomia mo~ ral e a autonomia intelectual em seus alunos. A tragédia está em que, por não saber a distinção entre autonomia e heterorwmia, e por terem idéias ultrapassadas sobre o que é que faz as crianças boas e educadas, continu~ am a depender de prêmios e punições, convencidos de que estes são essen- ciais para a produção de futuros cidadãos adultos bons e inteligentes." Um fator é incontestável: o mundo não é competitivo, ele está competitivo, o que é muito diferente. Mariotti (2000) fala um pouco mais sobre esse condicionamento competitivo: "Ela (competitividade) é um valor produzido pelos nossos condiciona~ mentos de base, e desse modo é justificável (e justificada) por esses mes~ mos condicionamentos." Falar sobre Jogos Cooperativos para mim é muito agradável, pois falo de algo em que acredito e o qual utilizo em minhas aulas, e procuro tam~ bém aprender a viver e conviver de forma cooperativa. Confesso que é um eterno aprender/ensinar. Tenho a clara compreensão de que só por meio da prática poderemos transformar e minimizar osefeitosdesse condi~ cionamento que nos leva a competir em todos os momentos. Mas, infelizmente, o que vemos no dia~a~dia é totalmente diferen~ te, pois existe uma ilusão de separatividade1 que faz com que as pessoas se distanciem cada vez mais. O querer vencer a qualquer custo, acu~ mular mais riqueza do que se precisa e o individualismo tomaram~se para o homem moderno muito mais importantes do que o amor, a amizade, a cooperação, a paz e a responsabilidade. Pois bem, se me ensinam a viver desta forma, o mais provável é que aprenderei a lição e ensinarei outras pessoas a viverem assim, também. A proposta é tentar transformar primeiro o adulto para depois che~ gar até a criança, pois quem tem a responsabilidade de levar o jogo à criança é justamente o professor, o treinador, o pai, enfim, pessoas sig- nificativas para a vida dela. Pessoas significativas passam a ser espelhos, se essas pessoas muda- rem o seu modo de ver os jogos e a vida, com certeza a criança terá oportunidade de conhecer novas formas para se jogar e viver. E poderá libertar~se da falta de opção, uma vez que só tem um único modelo. Como se sabe, até hoje só se ensinou a competir. Escrevo este livro com a plena convicção de que tenho uma missão, talvez silenciosa, mas que temopoderde transformar as vidas das pesso~ as que se deixarem envolver pela capacidade que os Jogos Cooperativos têm de modificar comportamentos, criando alternativas coopelâtivas para a nossa dependência competitiva. Mas, para isso, precisamos enxergar não apenas com os olhos e sim, com o coração. Dar voz ao coração é o melhor caminho para que se inicie uma transformação efetiva em nossas vidas. Afinal, o que é melhor para nossas vidas? Tenho plena certeza de que o nosso papel é mostrar as várias formas que temos para jogar e viver, pois cada vez mais me convenço de que jogo do jeito que vivo e vivo do jeito que jogo. A escolha deverá ser feita agora, quando há opções a serem escolhidas, não mais como no passado em que não podíamos escolher e, portanto, éramos escolhidos pela competição. Conhecendo um só lado da moeda fica muito difícil avaliar os benefícios e malefícios de cada forma. Desde 1994 conhecendo e trabalhando com os Jogos Cooperati- vos, percebo que a aceitação tanto nas escolas como empresas, clubes e até na Universidade é cada vez maior. As pessoas já perceberam que ou aprendemos a cooperar uns com os outros ou então pereceremos todos. A cooperação é talvez a única saída para o ser se tomarhuma- no. Pois nascemos ser e nos tomamos humanos no decorrer da vida. Então, por que não ensinar nossas crianças a enxergar o outro que joga, como um amigo e um ser solidário, para que possamos ver esse comportamento refletido no mundo? A grande busca da Educação é tentar fazer com que a criança, sendo sujeito de sua ação, possa se tornar o tão almejado "homem integral".Teles (1996) nos fala do comportamento deste homem integral: "O homem integral é universalista. Para ele não existem raças, nem fron, teiras. Como ele alcançou um patamar superior, vê todos os habitantes do planeta como uma família, que, mesmo usando roupas diferentes, comendo alimentos diferentes, falando línguas diferentes, vivem as mesmas alegrias e , . "as mesmas angustias. Que bom será o dia em que poderemos, apesar das diferenças, nos reconhecer como semelhantes e a partir daí criar um mundo sem ex, clusões, onde as pessoas percebam como possuem coisas valiosas para compartilhar e para aprender, umas com as outras. O que estou sugerindo é apenas uma mudança nos jogos que pro~ pomos para as pessoas jogarem, tentando com isso criar uma nova pe, dagogia, baseada no respeito, na cooperação e no amor. Se vai dar certo, se mudaremos o mundo, isso já é outra coisa, pois não podemos afirmar que a mudança ocorrerá, mas só pelo desafio da mudança de modelo, já ficamos esperançosos. Os jogos descritos aqui são os que aprendi com outras pessoas, al~ guns são criados por mim e outros devem ser criados por você. Apren~ der a criar e recriar jogos é um exercício que cada pessoa só conseguirá tentando. Os jogos descritos neste livro são ativos e estimulam a criatividade, a imaginação e a cooperação e não necessitam de equipamentos caros ou habilidades especiais, sendo divertidos e servindo para todas as idades. A idéia é que você possa criar um programa de Jogos Cooperativos, sempre lembrando que uma das características dos Jogos Cooperativos é que as regras são flexíveis, portanto, mãos à obra, construa, junto com o grupo que estiver focalizando, novos jogos com novas regras, sempre buscando a participação de todos. Convém lembrar que a mudança pode ser lenta e gradual e, nem por isto, podemos desistir. O que devemos fazer é apresentar estes novos jogos para as crianças e deixar que elas decidam se preferem jogar com o outro ou contra o outro. Quando Terry Orlick propôs novos jogos não~competitivos para crianças canadenses, dois de cada três meninos e todas as meninas preferiram os jogos cooperativos aos antigos jogos com oponentes. Isto prova que o que a criança quer, na realidade, é ser feliz, e também que a mulher, culturalmente, é mais cooperativa que o homem. Nos últimos anos muito tem se escrito a respeito de como colocar em prática uma nova pedagogia, agora apoiada na cooperação. O tra~ balho pioneiro de Brotto merece destaque, pois foi ele quem primeiro trouxe a proposta dos Jogos Cooperativos para o Brasil, e quem mos~ trou ser a pedagogia cooperativa viáveL Este livro tenta, discutindo o modelo atual, criar uma nova cultura em que não mais sejamos orientados por binômios, tal como nos mos~ tra Mariotti (2000) : ou eu ou o outro; ou venço ou sou vencido; ou elimino ou sou eliminado, mas sim visando criar um mundo para to~ dos, sem exceção, onde todas a pessoas possam jogar juntas e vencer. Tudo isso faz parte de um esforço para transformar uma realidade difícil, moldada pela competitividade e que, em última instância, nos toma a todos perdedores. Só quando tivermos uma percepção mais ampliada sobre determina~ do assunto é que poderemos pensar em soluções criativas e eficazes. Deixe~se tocar pela magia dos Jogos Cooperativos, e colabore com a transformação que eles podem proporcionar, primeiro a você e de~ pois, às outras pessoas e, quem sabe, talvez ao mundo inteiro. c.A'PíTULD I o VOD~~T~~fO~MADO~ DO~ ;ro(;,o~ c.oOV~~TIVO~ "Amaior de todas as ignorâncias é rejeitar uma coisa sobre a qual nada sabe." (H. Jackson Brown) ]) e onde vem o jogo? Pergunta difícil de responder. O ; jogo, assim como a literatura e a música, também faz • parte de uma cultura popular. Os jogos ganham varian~ tes e se transformam no tempo e espaço. O jogo é um tema que já foi muito estudado e discutido, mas sem, pre é importante lembrar o poder que esse fenômeno cultural possui, e como também, por meio do jogo podemos modificar comportamentos e evitar que questões sociais venham a se tomar, futuramente, proble, mas reais. Aristóteles, quando classificou os vários aspectos do homem, divi, diu;os em homo sapiens (o que conhece e aprende), homo faber (o que faz, produz) e homo ludens (o que brinca, o que cria) A importância do jogo no desenvolvimento integral do ser humano é um fato real. O jogo é algo que acompanha a evolução da humanidade, pois Homem já fala de jogos infantis na Odisséia, datada do ano VIII a.c. , por isso é muito difícil precisar com exatidão a origem do jogo. Sabe~ mos que de alguma forma ele sempre seguiu nossos passos. Acredito que tudo o que for falado sobre o jogo é muito importante e é só olhar para o lado para perceber que tudo gira em torno dele. Mesmo quando já somos adultos, ele faz parte de nossas vidas, pois quem não ouviu falar em ciranda financeira, jogo de interesses etc.? A palavra jogo (jocu) tem origem latina e possui como significado maior gracejo, ou seja, o jogo é divertimento e distração. Porém, o jogo também significa trabalho sério, pois tem o poder de transformar valo~ res , normas e atitudes. O jogo é um dos conteúdos mais utilizados pela Educação Física Es~ colar, mas com o decorrer dos anos o seu uso vem diminuindo até, praticamente, se extinguir. Quando falamos do jogo, algumas perguntas são necessárias: Para que serve o jogo? Serve para seviver; relaxar, aprender e, fundamentalmente, conectar~ se com a essência da vida, e com isso realizar transformações, criando um mundo melhor. O jogo tem o poder fantástico de abrir novas portas, fazendo com que quem joga entre em contato com um mundo novo. O jogo é um meio extremamente poderoso de formar comporta~ mentos. Podemos também, por meio do jogo, modificar uma socieda~ de, tomando~a mais humana, cooperativa e pacífica, ou, ao contrário, tomando essa mesma sociedade extremamente competitiva, violenta e desumana. Devemos lembrar que o jogo pode nos levar a direções variadas. ~Qual a direção que realmente queremos tomar? Pelo jogo, também podemos buscar alcançar diversos objetivos edu~ cacionais, e de uma forma prazerosa e divertida. É muito importante ir além das regras, táticas e técnicas presentes no jogo. Devemos sempre reforçar a importância da compreensão; não basta jogar, tem que se compreender o que se acabou de fazer. O que na verdade diferencia o racional do irracional é justamente o poder de simbolizar. Reforçando a idéia de que o jogo prepara para a vida, Aristóteles sugere, para a educação de crianças pequenas, o uso de jogos que imi- tem atividades sérias, ocupações adultas, como forma de preparo para a vida futura. E sepretendemos transformar uma cultura competitiva e agressiva,seria impJrtante apoiar~nosem jogosbaseados em princípios CXX)perativos. E buscando uma solução para a agressividade, entendemos como Platão, em Les Lois (1948),z o valor e a importância de se aprender brincando, em oposição à utilização da violência e da opressão. Mas, O que prende uma criança ao jogo? Temos que compreender que o que possibilita isso à criança é o lúdico presente. Pois o lúdico representa a liberdade de expressão, criação e recriação. Até bem pouco tempo atrás, só a Educação Física e a Recreação uti~ lizavam o jogo como elemento educativo, mesmo assim de modo incipientej as outras áreas do conhecimento simplesmente o ignoravam. O jogo era visto como algo menor só servindo como passatempo. Hoje, todas as áreas do conhecimento utilizam~se do jogo, e defendem a sua inclusão, pois já descobriram a força que o mesmo possui. O jogo tam~ bém, além do seu poder educativo, proporciona momentos de alegria, prazer,fantasia e descontração. e vale lembrar que sem alegria, prazer e descontração, não existe conhecimento significativo. O ser humano precisa de alegria para viver com plenitude. 1. Principais objetivos trabalhados pelo jogo: Quando jogamos, estamos entrando em contato com muitos objeti~ vos que são essenciais para o desenvolvimento humano. Vale citar al~ gunsdeles, a) Possui função terapêutica. b) Serve para desenvolver habilidades físicas, afetivas, sociais e inte~ lectuais. c) Desenvolve a criatividade. d) Permite uma maior socialização. e) Abre novos canais de comunicação. f) Permite a catarse.3 O jogo possui funções essenciais, importantes na formação do ser humano, e, pesquisando, descobri algumas delas: 1. Serve para explorar: O mundo que rodeia quem joga, como tam~ bém explorar as suas próprias normas, regras e atitudes. 2. Reforça a convivência: O alto grau de liberdade que o jogo permi~ te faz com que as relações fiquem mais saudáveis, e dependendo da ori~ entação que o jogo possibilita, pode modificar e aprimorar o relacio~ namento interpessoal. Daí a importância de se tentarem criar jogos para o encontro e não mais para o confronto. 3. Equilibrar corpo e alma: Devido ao seu caráter natural, atua como um circuito auto~regulável de tensões e relaxamentos. 4. Produzir normas, valores e atitudes: Tudo o que acontece no mundo real pode ser utilizado dentro do jogo por meio da fantasia. Entendo que o jogo pode nos formar em direções variadas; cabe a cada um de nós fazer a escolha. 5. Fantasiar: Transforma o sinistro em fantástico, sempre dentro de um clima de prazer e divertimento. 6. Induz a novas experimentações: Permite aprender por meio de erros e acertos, pois sempre se pode recomeçar um jogo novo. 7. Toma a pessoa mais livre: Dentro de um jogo, existem infinitas escolhas, permitindo à pessoa que joga estruturar~se e desestruturar~se frente às dificuldades. 2. Enfoques projetados sobre o jogo: A minha intenção é mostrar como o jogo é rico na formação do ser humano, e sendo assim, percebemos alguns enfoques que são projetados sobre ele, como nos orienta Friedmann (1996): Sociológico: Influência do contexto social no qual os diferentes gru~ pos de crianças brincam. Educacional: Contribuição do jogo para o desenvolvimento e apren~ dizagem das crianças. Psicológico: Utilizado para perceber as emoções e a personalidade de quem joga. Antropológico: O jogo refletindo nos costumes e na história das di~ ferentes culturas. Folclórico: Analisando o jogo como expressão das diversas gerações, e de como é transmitido através dos tempos. Filosófico: Quais valores humanos estão presentes ou ausentes no jogo. Está indubitavelmente comprovado que o jogo é fundamental na formação do ser humano, e que possui uma grande importância como elemento educacional, pois segundo Friedmann (1996), o jogo apri~ mora algumas dimensões, tais como: Desenvolvimento da linguagem: O jogo é o canal pelo qual os pen~ samentos e sentimentos são comunicados pela criança. Desenvolvimento cognitivo: O jogo dá acesso a um maior número de informações. Desenvolvimento afetivo: O jogo é a oportunidade que a criança tem para expressar seus afetos e emoções. Desenvolvimento físico~motor: A interação da criança em ações mataras, visuais, táteis e auditivas sobre os objetos do seu meio é essen~ daI para o seu desenvolvimento integral. Desenvolvimento moral: A construção das regras cria uma relação de respeito com o adulto ou com outras crianças. Para termos certeza de que um jogo tem ou não utilidade educado~ nal, podendo fazer parte do trabalho escolar, é só verificarmos três pila~ res, que Kamiie ensina: Proposição de alguma interessante e desafiadora questão para as crianças resolverem. Permitir que elas possam se auto~avahar quanto a seu desempenho. Permitir que todos os jogadores possam participar, ativamente, do começo ao fim do jogo. Quando planejarmos a aplicação de um jogo, e tivermos dúvidas se ele é ou não educacional, é só nos lembramos destes três princípios; se faltar um, já saberemos que o jogo não é educacional, e pode levar, isso sim, à exclusão. 3. Criando novos jogos: Se o jogo que conhecemos não nos leva à construção de um mun, do melhor, então a alternativa é criar um jogo totalmente novo, e segundo Brown (1994), na sua criação, devemos levar alguns fatores em conta: I. Estabelecer o uso possível do jogo: Para relaxar, um jogo quebra~ gelo etc. 11.Estabelecer o destinatário do jogo: Crianças, jovens, adultos, gru, pos maiores ou gruços com necessidades especiais. IH. Detenninar se o jogo é para grupos pequenos, grandes e onde se pode jogá,lo (dentro de um salão, na rua, numa quadra etc.). Quando se está satisfeito com a idéia, podem~se anotar OS passos do jogo e experimentar para sentir se dão os resultados esperados. Recriar é muito importante e o facilitador deve estar sempre atento para remodelar, ressignificar, reconstruir, enfim transformar o jogo com a perspectiva de melhorá,lo para todos. Continuamos com Brown (1994, p. 103), quando diz quais são as perguntas que podem ser feitas para ver se o novo jogo corresponde ao nosso objetivo: O jogo reflete bom humor? Permite que os participantes riam todos juntos? Reflete a idéia de que, às vezes, faz sentido fazer coisas que, aparentemente, não têm sentido? O jogo é cooperativo? Os participantes pooem jogar com os outros e não contra os outros? Pode~se ter prazer no jogo e não no resultado? O jogo é positivo? Anima os participantes a apoiar~se?Há ausência de comentários críticos? Os participantes se sentem bem durante e depois do jogo? O jogo é participativo? Entusiasma todos a jogarem em vez de obser, varem? Os participantes se sentem mais unidos depois do jogo? O jogo permite que os participantes sejam criativos e espontâneos? Pennite a recreação, a possibilidade de mudá,lo? Há igualdade de participantes no jogo?É um jogo em que o facilitador é também mais um jogador? Cada participante pode estabelecer seu próprio ritmo? O jogo evita projeções pessoais e facilita a participação coletiva? O jogo oferece um desafio? Tem espírito de aventura? O jogo leva em conta os participantes? Coloca ênfase no desenvolvi~ mento ou no resultado? O jogo é divertido? Eu acrescentaria mais uma pergunta: "Tem a ver com uma nova visão de mundo?" A parte mais fantástica é a criação, pois é neste aspecto que o profes- sor mostra toda a sua criatividade, e deve sempre se preocupar também com o atitudinal presente no jogo criado. Ele deve ter claro quais são seus objetivos quando utiliza um determinado jogo. Quais serão os valo~ res, normas e atitudes transformados com o novo jogo. Na criação existem alglUlSpassos que são muito importantes e que devem ser seguidos, se quisermos obter êxito ao colocá~los em prática. 4. Qual é a proposta? Criar um jogo cooperativo inédito. Colocar o jogo em prática. Avaliar os resultados. Se o novo jogo atende a todas as perguntas, então já podemos dizer, sem medo de errar, que estamos diante de um jogo cooperativo, que tem o poder transformador de ajudar a nos tornarmos o tipo de pessoa que realmente gostaríamos de ser. Lembrando que nos referimos ao jogo educacional, ou seja, aque~ le que está dentro da escola, e alguns cuidados são importantes, nes~ te sentido. Sempre devemos considerar um princípio fundamental, que é o da participação, que também pode ser chamado de princípio da cooperação. Todos devem estar dentro do jogo, do início ao fim. Para completarmos o processo de criação, precisamos responder a mais algumas perguntas: O quê? Criaremos um jogo, uma dança ou outra atividade? Para quem? Quem jogará esse jogo? Crianças? Jovens? Adultos? Idosos? Para quê? Qual o intuito do jogo? Passatempo? Ensinar alguma coisa? Relaxar? Onde? Qual o local do jogo? Praia? Campo? Quadra de esportes? Quando? No horário da aula? Após a aula? De dia? De noite? Com quais recursos? Qual o material disponível? Do que precisa~ remos? Regras? Quais serão as regras básicas do jogo? Precisa~se de re~ gras? Quemdecidirá as regras: professor ou alunos? Como vimos, o processo é simples, mas envolve estudo e dedica~ ção, tomando~se viável para qualquer pessoa que se interessar em criar novos jogos. A criatividade deve ser exercitada, pois quanto mais recriarmos, mais estaremos desenvolvendo o nosso poder criativo. Freire (1989) observa que por meio da transformação dos jogos as pessoas podem desenvolver sua criatividade, sua cognição e, princi~ palmente, aprender a resolver problemas. Muitos jogos favorecem a exclusão dos menos hábeis, dos porta~ dores de necessidades especiais, ou mesmo das meninas, e quando pensamos em transformá~los é justamente para atender a inclusão de todos. E quando começamos a criar novos jogos, não paramos mais. Quando criamos novos jogos podemos criar um ambiente acolhe~ dor e fazer com que todos se sintam incluídos e aceitos pelo grupo que joga. A participação do grupo que jogará o jogo é essencial para que possamos criar novos jogos e impulsionar a idéia de transformação a IÚveis cada vez mais altos. A criação de jogos pode ser realizada nas mais diferentes faixas etárias, adaptando sempre a complexidade. Passamos agora a falar das várias formas de se jogar, comparando, para entender e clarear a nossa compreensão e não, para falar que uma forma é boa e a outra, ruim. Só conhecendo as várias maneiras de se ver uma situação é que podemos decidir entre uma ou outra. Os jogos podem ser divididos em: ~DIVIDUV ~OLETIVõ0 Os Jogos Coletivos se dividem em: 1 -+ I COMPETITIVOS I JOGOS I I______ -+ COOPERATIVOS Brown (1994), em seu livro Jogos cooperativos: teoria e prática, nos mostra algumas características da forma competitiva e cooperativa de se jogar: Forma Competitiva Forma Cooperatiya Individualista Grup"j Participação limitada Todos participam Desordem Organização C3anhador/perdedor Todos ganham Desw1ião União Trapaça,/Esperteza Honestidade Frustrante Reconfortante Limitante Amplo Repúdio Acolhida/Confiança Conformismo Desafio coletivo mo iooo sou eu" "O jogo somos nós" Fig. 02. Caracterlsticas competitivas e cooperativas. 5. Um pouco da história dos Jogos Cooperativos: Importante conhecer e analisar um pouco da história sobre os Jo~ gos Cooperativos. Tudo começou há milhares de anos quando membros das comu~ nidades tribais se reuniam para celebrar a vida. Podemos dizer que, consciente ou inconscientemente, os Jogos Cooperativos sempre existiram, diferentemente do que muitos acreditam pois o senso co~ mum nos mostra que o homem pré~histórico era extremamente com~ petitivo. Por meio de pinturas rupestres com aproximadamente mais de quarenta mil anos, podemos observar como o homem pré~histó~ rico era cooperativo e se preocupava com seu grupo. Nas comunidades primitivas o trabalho e a produção de bens eram coletivos, não existia quem fosse mais ou menos importante. Tudo era distribuído e não havia a exploração de uns pelos outros. Isto mudou quando a riqueza passou a ser controlada somente por al~ guns, passando também a existir o poder de uns sobre os outros; foi justamente aí que a cooperação deu lugar à competição. Podemos afrrmar que no mundo ocidental a proposta da coopera~ ção e também dos Jogos Cooperativos é relativamente nova, pois como veremos a seguir ela começou poucas décadas atrás. Através do tempo muitas pessoas estudaram o Jogo Cooperativo e a sua influência no comportameilto das pessoas. O psicólogo social Morton Deutsch iniciou diversos estudos por meio de experiências na área da psicologia no ano de 1949. Outro estudioso de que temos notícia foi Ted Lentz, atuante ativista para a criação de uma cultura de paz nos Estados Unidos. Executou pesquisas na década de 50. Foi um pioneiro na utilização de Jogos Cooperativos, e juntamente com Ruth Comelius elaborou um ma~ nual intitulado AU together. Talvez este seja o primeiro material sobre Jogos Cooperativos. Em 1961, a antropóloga Margaret Mead analisou diversas cultu~ ras e concluiu que tanto competição quanto cooperação são deter~ minadas pela estrutura social. Em 1972, Jim e Ruth Deacove criaram vários Jogos Cooperativos: eles transformaram jogos de tabuleiro e de salão sempre envolvendo valores positivos. Isto aconteceu pois observavam suas frlhas mais brigando do que jogando; procuraram, então, jogos que promoviam a cooperação, e, como não encontraram, decidiram, então, criar seus próprios jogos. Mil novecentos e setenta e sete é o irúcio do trabalho de Dale N. Le Fevre com os novos jogos, jogos que nos levam à cooperação. Em 1976, Andrew Fluegelman colaborou com a expansão dos Jo~ gos Cooperativos quando escreveu um livro chamado: New Games Book (Livro de novos jogos). Os jogos eram destinados à mais pura di~ versão, buscando que as pessoas pudessem desfrutar das atividades. Terry Orlick, canadense, doutor em psicologia e docente da Univer- sidade de Otawa, é, talvez, a mais importante referência quando o as~ sunto é Jogos Cooperativos. Muito do que se sabe hoje sobre este tema é graças a seu trabalho inovador. O seu trabalho é baseado na sociologia aplicada à Educação. Publicou em 1978, o livro intitulado "Wmning through coaperatian" 4 que serve de inspiração para muitas pesquisas sobre o tema, sendo a pessoa que introduziu os Jogos Cooperativos na Educa- ção, com seu trabalho na Educação Infantil do Canadá. Cecília Marks, na Revista Educação nQ221, set/99, pp. 20/24, fala sobre os estudos de Terry Orlick: "Em seus estudos, buscava entender por que uma brincadeira perde a graça e o que leva uma criança a abandonar um jogo. Pesquisando diversas culturas e diferentes momentos históricos, constatou que os jogos infantis reproduzem a estrutura social, refletem valores e anseios da sociedade." Guillermo Brown, educador em comunicação social, especialista em mediação de conflitos, Coordenador do Programa Resolução de Conflitos no Instituto Notre Dame em Baltimore, USA, também é um expoente sobre o assunto Jogos Cooperativos, pois como educador IX>~ pular na Venezuela, realizou várias vivências utilizando o Jogo Coope~ rativo. Publicou o livro Que tal si jugamos? (1987). No Brasil o livro se chamou Jogos Cooperativos teoria e prática, e nele Brown descreve seu trabalho como educador popular, e mostra como utiliza os jogos nas reuniões. No Brasil, Brotto introduziu os Jogos Cooperativos e criou junto com Gisela Sartori Franco, sua esposa, em 1992, o Projeto Cooperação - comunidade de serviços, dedicada à difusão dos Jogos Cooperativos e da ética da cooperação, por meio de oficinas, palestras, eventos, pu~ blicações e produção de materiais didáticos. Publicou, em 1995, um livro que é o pioneiro na história dos Jogos Cooperativos no Brasil, Jogos Cooperativos: se o importante é competir, o fundamental é cooperar. Em 1998, é constituída a Cooperando: consultoria em Dinâinicas cooperativas, também destinada ao desenvolvimento de programas e serviços para a promoção da Cooperação e Jogos Cooperativos. Em 1999, acontece o primeiro Festival de Jogos Cooperativos, orga~ nizado pelo Projeto Cooperação - SP e pela Cooperando - Sp, que é realizado na cidade de Taubaté~SP.A proIX>staé que o festival aconteça a cada dois anos. Mais recentemente, Brotto coordenou o primeiro curso de Pós~gradu~ ação em Jogos Cooperativos do Brasil, que iniciou em 2000, no Centro Universitário Monte Serrat (UNIMONTE) em Santos - SP.5 Em 2001, Brotto lança o seu segundo livro intitulado}ogos Coope~ rativos; O jogo e o esporte como um exercício de convivência. Em 2001, também é lançada por Luciano Lannes e Mônica Teixeira a primeira revista sobre Jogos Cooperativos do Brasil, O título é: RE~ VISTA DEJOGOS COOPERATIVOS. Agora, o Jogo Cooperativo já pode ser mais facilmente expandido, pois a revista tem um alcance enorme. Também nesse ano acontece a 2ª edição do Festival de Jogos Cooperativos em Taubaté~SP. Trabalho desde 1994 com a proposta dos Jogos Cooperativos em minhas aulas de Educação Física Escolar,participei da primeira turma do curso de Pós-graduação em Jogos Cooperativos (2000) e em 2002tive o prazer de escrever e publicar pela SPRINT o livro Jogos cooperativos,6 em que descrevo um pouco da sua fundamentação teórica e também apre- sento 100 jogos. Em 2003, lancei o livro Jogos cooperativos para educação infantil com 200 jogos e termino essa trilogia com este, contendo qua~ trocentos e vinte JogosCooperativos. Também trabalho como focalizador dos Jogos Cooperativos dando assessoria pedagógica. A percepção que tenho é que a proposta dos Jogos Cooperativos está cada vez mais fortalecida, e não existe um evento educacional que não tenha, dentre suas atividades, a cooperação. Hoje é comum falartnos sobre isso, mas não foi sempre assim. Lembro que, quando iniciei, encontrei muitas barreiras e principalmente na área de Educa- ção Física o tabu era enorme. Em alguns eventos de que participei como palestrante, pude perceber o pouco interesse pelo assunto. Nos dias atuais sempre, quando tenho a oportunidade de participar de even~ tos, noto justamente o contrário, uma aceitação cada vez maior. Continue a escrever a história dos JogosCooperativos ...Junte~se a nós. 6. Como apresentar os Jogos Cooperativos: Devemos entender com clareza que o jogo é muito importante, e q~e educa, mas para que issoocorra é necessário que o facilitadorlfocaltzador siga alguns passos. Platts (2001) divide esta apresentação em três partes: Apresentação das instruções para o jogo. Jogando o jogo. Processando o jogo. Platts (2001) segue, reforçando a idéia: "Considere estas três partes como as três pernas de um banquinho; todas são necessárias para que o banquinho/jogo possa funcionar." a) Apresentação das instruções para o jogo: O focalizador/ facilitador deve se apresentar e permanecer leve e cheio de vivacida~ de, pois é um modelo para o grupo que joga. Deve explicar os objeti- vos propostos no joga. b) Jogando o jogo: O facilitador/focalizador deve perceber qual é o tempo necessário para o jogo, não deixando que este se tome entediante, pois quando isso acontece deverá propor um novo jogo. Importante também criar um ambiente acolhedot e seguro para quem joga. c) Processando o jogo: O diálogo, a conversa e a intercomunicação de idéias são mais do que importantes quando falamos de Jogo Coopera~ tivo. O facilitador/focalizador deve abrir espaço para que isso aconteça. Permitir a discussão após o jogo é fundamental para que aquele que joga estabeleça uma conexão com a sua vida prática. A finalização do jogo é importante e faz com que o grupo se fortale~ ça cada vez mais. 7. Organizando um evento cooperativo: Quando pensamos em fazer um evento esportivo na escola, muitas vezes as pessoas já associam com competição, e é comum escutar algo parecido com a frase a seguir: ~Para envolver os alunos, só se houver uma competiçãozinha! O senso comum associa jogo com competição, como se os dois fos~ sem sinônimos. E acredita~se que para um jogo ter graça tem que ha~ ver competição. Hoje, sabemos que para a criança tanto faz competir ou cooperar, pois o que ela mais quer é se divertir. Devemos também fazer algumas perguntas importantes, tais como: Que objetivos temos quando propomos atividades recreativas na escola? Qual a possibilidade de o evento dar certo? Qual o envolvimento do grupo na organização e execução do evento? A idéia é amarrar todo o trabalho de um semestre com um evento em que as pessoas possam exercitar tudo o que aprenderam sobre coo~ peração. Sugiro que seja criado um Festival de Jogos Cooperativos em forma de circuito, com vários estágios em que as pessoas tenham entrado em contato com jogos para todos, sem exceção. As atividades podem e devem ser construídas pelas pessoas que or~ ganizarem o festival e sempre de acordo com as necessidades e objeti~ vos buscados com tal propósito. (De::> C' . d "dad CDtrCUlto e a~Vl es .o. coop="v", Q) (D<=:J Fig. 03. Circuito de atividades cooperativas. Claro que criar um evento cooperativo requer muita inspiração, transpiração e até um pouco de piração, pois a proposta é transformar as antigas gincanas competitivas em alternativas que incluam a coope~ ração, o jogar com o outro e não contra o outro. Existem alguns passos para esta criação: 1. Envolver toda a comunidade escolar no evento: pais, alunos, professores, funcionários e equipe de direção. 2. Conhecer o grupo de participantes (faixa etária, sexo, saber se já se conhecem erc.). 3. Decidir os jogos que entraram nos estágios do circuito. 4. Duração do evento. 5. Materiais disponíveis para utilização. Vamos imaginar que o circuito contasse com seis estágios, por exemplo: 1. Pára~quedas. 2. Ponte de corda. 3. Dance comigo. 4. Voleibol gigante. 5. Futpar. 6. Arte cooperativa. Todos estes jogos estão no capítulo Criação e Recriação de Jogos Cooperativos. Os participantes teriam alguns minutos para vivendar cada está~ gio, e passariam portodos os estágios. A separação dos grupos deve ser feita com crachás, fitas ou bonés de cores diferentes, então cada cor representará um estágio, havendo a troca cada vez que se esgotar o tempo predeterminado pelo facilitadorl focalizador. Talvez, no início, haja uma rejeição a este tipo de evento, pois devemos lembrar que somos "especialistas" em competição, e até que consigamos minimizar esse condicionamento competitivo de~ vemos exercitar a cooperação nos jogos e na própria vida. Ao final do evento, com toda certeza, todos estarão jogando e vivendo uns com os outros. 8. Uma história sobre cooperação: Existem muitas histórias interessantes que vivenciei trabalhan~ do com grupos de pessoas, nas oficinas de Jogos Cooperativos e a partir de agora passarei a descrever uma delas. A transformação pro~ posta pelos Jogos Cooperativos está presente nesta história. Em uma oficina de Jogos Cooperativos em uma cidade do estado de São Paulo tudo transcorreu normalmente até o final, quando sugeri que fizéssemos um grande círculo no centro da sala para aVa~ liarmos o trabalho do dia, naquilo que costumo chamar loveback (devolução do amor). As pessoas começaram a falar deixando men~ sagens quando uma professora, que até então estava muito quieta, pediu a palavra, e começou a chorar copiosamente. De início, me assustei tentando descobrir o que havia feito aquela pessoa se de~ sesperar tanto, e ela passou a descrever a SUaparticipação. Disse, resumindo, que havia adorado a experiência e que ali encontrou uma peSSOa,professora como ela, que não via há muito tempo, e com quem, depois de uma briga de que já nem se lembrava mais sobre o que se tratava, deixou de conversar por dez anos. Durante a oficina, depois de muitos abraços e toques, se viu Cara a cara com ela. E que conversaram e desfueram qualquer mal~entendido que o passado deixou. Nisso, em outro ponto do círculo, outra pessoa pas~ sou a chorar e se encaminhou em direção à pessoa que relatava os fatos, e chegandofrente a ela deu~lhe um grande e fraterno abraço e disse: ~Hoje eu posso dizer que estou feliz, porque não convivia bem com essa separação, e em várias ocasiões nos encontrávamos e fingíamos que não nos conhecíamos. Essa oficina fez com que toda mágoa fosse esquecida, pois acredito que a vontade de dar esse abraço já existia e a cooperação fez com que fosse possível. Não vou revelar nomes, pois acredito não ser necessário, mas essa é só uma das muitas histórias que os Jogos Cooperativos produzem. 9. Algumas idéias para diminuir a competição: Evite jogos que busquem a eliminação. Valorize mais o processo e menos o resultado final. Fuja de jogos individuais, valorize os jogos em grupo. Divida os times de forma criativa e não por terem mais ou menos habilidades. Proponha Jogos Competitivos e Cooperativos para que o grupo possa perceber onde se sente melhor. Permita que a liderança circule pelo grupo; todos devem, em algum momento, liderar. Abra espaço para que a intercomunicação de idéias aconteça. Pare o jogo sempre que for necessário, para discutir com o grupo que joga. C.,c..l'íTULO \I "O homem só é forte pela união e feliz pela paz." (Mirabeau) Tenho a mais absoluta certeza de quetodas as pessoasum dia já se fizeram as seguintes perguntas: Por que devome incomodar? Será que me incomodando mudarei algu~ ma coisa? Por onde começar? Acredito que precisamos, agora, colocar em prática tudo aquilo que acreditamos ser possível fazer. E fazer do nosso sonho, um sonho im~ possível a todos. Ou seja, conhecer, discutir, ampliar, aprofundar e enriquecer nosso conhecimento sobre os Jogos Cooperativos. Terry Orlick (1989) mostra a atual situação: "Em nossa cultura somos sitiados pela competição. Recompensamos os vencedores e rejeitamos os perdedores." Mas, o que é competição? Geralmente, competir para o senso comum significa entrar num jogo para vencer. Significa que o meu sucesso representa a sua falha. Se eu conseguir meu objetivo, necessariamente você terá que não conseguir o seu. E a velha história de o importante é competir serve apenas como consolo para os derrotados, pois os vencedores são tratados como verda, deiros heróis, não importando os meios usados para se atingir tal vitória. É amais pura exaltação à esperteza, pois quem consegue burlar as regras do jogo e vencer, se toma quase um semideus. Na competição, jogo sempre contra alguém. O jogo competitivo exalta a vitória, o êxito, a supremacia, enfim, exalta a discriminação. A competição também, segundo alguns autores, pode ocorrer de duas formas: a) Competição direta: Uma pessoa jogando contra outra pessoa ou mais pessoas jogando umas "contra" as outras. b) Competição indireta: Um colega de trabalho "minando" o seu desempenho visando ficar com o seu lugar na empresa, ou um partici~ pante de um time que não passa a bola para os seus companheiros. Citando um conceito de vida mais saudável por meio da coopera- ção, Orlick (1987) diz que: "... por expô~las geralmente em competi- ção angustiante e fazê-Ias se sentirem ansiosas e encabuladas por não serem suficientemente boas, estaremos na verdade privando-as de uma qualidade de vida melhor". As formas de competição às vezes só nos levam à frustração, angús~ tia e agressividade e, em casos mais extremos, à violência. Isso quando falamos de crianças é, além de tudo, cruel. Kamii (1991) fala sobre a competição infantil: 'í\s crianças devem competir consigo mesmas e não umas com as outras." Será que ensinamos nossas crianças a competirem com elas mesmas? Infelizmente, nossas crianças estão competindo cada vez mais cedo, e essa competição precoce é terrível para o desenvolvimento futuro de~ Ias. Lamentavelmente, alguns professores e treinadores incentivam essa competição precoce acreditando que só exista esta fonua de ensinar. Segundo Mesquita, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1999), a criança pequena de 3 ou 4 anos, por estar numa fase deno~ minada por Piaget de "egocentrismo", ainda não consegue "enxergar" o outro que joga, preferindo jogar sozinha. Esta atitude muitas vezes passa a ser confundida com egoísmo, que significa conseguir algo só para si. Diferente de egoísmo, o egocentrismo não permite perceber o ponto de vista do outro. Alguns educadores aproveitam-se desta fase para reforçar a competição. A criança pequena ainda não compara a sua performance com a das outras pessoas. O ideal seria propor ativi- dades cooperativas para que ela já cresça em um ambiente que propi- cie o encontro em vez do confronto. O mais estranho é que a raiz latina do termo competição (competere), significa, justamente, esforçar~se para obter algo junto, empenhar-se juntos, estando muito próxima do significado da palavra cooperação que, traduzido, quer dizer operar junto ou negociar para chegar a um acordo que pareça adequado a todos os envolvidos. Por que então competir hoje tem o sentido de destruir, eliminar e hu- milhar o adversário, se asduas palavras querem dizerquase amesma coisa? Vygotsky nos dá uma preciosa dica a respeito disso quando fala que se uma criança puder aprender com o auxílio de outras pessoas, terá um ritmo de desenvolvimento mais acelerado que outra, que tiver de fazer tudo sozinha. Existem muitos mitos que sustentam a competição, e só consegui~ remos superá~los clareando as idéias e desmistificando~os. Passarei a citar alguns mitos criados ao longo da história e que refor~ çam a competição, e tentarei provar o contrário: 1. É da natureza humana competir? Esta opinião ainda é defendida e reforçada por muitas pessoas, apesar do fato, que há meio século a antropóloga Margaret Mead provou, de que existem povos ancestrais que não pautam suas vidas pela competição. E se encontro um único ser no planeta que não aja de forma competitiva, não posso afirmar que a competição seja ine~ rente à espécie humana. Mead provou, por exemplo, que entre os índios zuni e os iroquois a competição era desconhecida. Como já dissemos e a antropóloga Mead provou, competição e cooperação são definidas pela estrutura social, não nascemos com~ petindo ou cooperando, mas sim, aprendemos a agir destas duas for~ mas. Podemos dizer que nascemos com as duas formas, e dependen~ do das interações que temos durante nossa vida, potencializamos uma forma ou outra. Boff (1997) reforça a influência do meio, quando diz: ''A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. Para compreender, é essencial conhecer o lugar social de quem olha." É um erro afirmar que a nossa cultura é competitiva; ela está com~ petitiva, o que é muito diferente. 2. A competição traz à tona o melhor de nós? Pelo contrário, é justamente a cooperação que nos realiza plena~ mente, isto provado por meio de pesquisas (Morton Deutsch). A com~ petição, por sua vez, aumenta a ansiedade e impede que as informa~ ções sejam compartilhadas, e a alegria e o prazer em jogar também desaparecem. Na competição, utilizamos máscaras e nunca somos nós mesmos, pois mostrando nossas deficiências nunca somos aceitos, uma vez que o que mais importa são os pontos que conseguimos marcar. E quando não conseguimos ser melhor do que somos, acontece o fracasso, que irá refletir como a auto~imagem que temos sobre nós e, fatalmente, a nossa auto, estima será afetada. 3. A competição constrói o caráter? A possibilidade de ser humilhado está sempre presente quando o assunto é competição. Lembrando que mais perdemos do que ganha~ mos numa competição, então a chance de sair frustrado do jogoé muito grande. Quando aprendemos a simular, enganar, não aceitar a derrota e trapacear dentro do jogo, estamos, ao mesmo tempo, levando esses conceitos para a formação do caráter da pessoa. Ninguém é diferente do que é, jogando. Por que não criar novos jogos que nos tomem pessoas mais hones- tas, solidárias, cooperativas, amigáveis, atenciosas, e assimcorrer o de~ licioso risco de também viver dessa forma? Se a criança aprende que vencer é o que mais importa, que para ganhar vale fazer qualquer coisa, incluindo aí trapacear e até usar de violência, com certeza atuará assim também na própria vida. Não podemos mais gastar nossa energia tentando fazer o outro perder, e pior, enxergar o outro como o inimigo que me fará naufra~ - gar.N a realidade, a competição tem servido para destruir o caráter e nunca para construí~lo. 4. A criança precisa aprender a perder? Aprender a perder não significa especializar~se em perdas, 7 pois o que na realidade acontece é justamente isso: especializamo,nos para a derrota. Muitas pessoas defendem a competição dizendo que devemos aprender a perder, como se alguém gostasse disso. O sucesso e a competição são coisas distintas, pois posso trabalhar e ter sucesso sem precisar impedir que outras pessoas obtenham tam~ bém sucesso em alcançar seus objetivos. Competência nada tem a ver com competição, a idéia é que possamos ser cada vez mais com, petentes sem prejudicar alguém. Nós conseguimos produzir melhor quando não estamos tentando derrotar alguém. A criança não aprende a perder em nossa sociedade, mas é treina, da a só competir em todos os momentos, e isso é muito cruel, pois ela só consegue ver um pedaço da verdade. Existem inúmeros momen~ tos em que não precisamos da competição, mas ela continua sendo sempreescolhida para resolver a situação, afinal, não conhecemos outra saída. Nossos esforços para derrotar os outros, na escola, no jogo, no trabalho, e até em nosso tempo livre, nos transformam a todos em perdedores. Temos que reestruturar essas instituições para o nosso próprio be, nefício, de nossas crianças, enfim de nossa sociedade. 5. O mercado de trabalho exige competição? Essa é mais uma meia verdade que de tanto ser dita passa a ser verdade absoluta (passa?). Claro que passa, se não esclarecermos isso, pois hoje sabemos que as grandes empresas não mais procuram funci, onários competidores, uma vez que já perceberam que agindo assim só irão perder. Poiso competidor só sabe jogar sozinho, e se a empresa não formar um time cooperativo em que todos tenham o mesmo objetivo, acabará perdendo. Focalizadores de JogosCooperativos hoje já atuam nas empresas ensinando ao grupo a jogar junto para vencer. Hoje, muito se fala de "co~opetências",ou seja, competências compar~ tilhadas, pois quanto mais pessoas jogando juntas, melhor. 6. A competição é que dá "graça" ao jogo? Observando crianças jogando de forma cooperativa, pode~se per~ ceber que a graça está presente, e que todos sentem prazer jogando. Então, não é correto afirmar que é a competição que dá graça ao jogo. Pelo contrário, a competição, na maioria das vezes, retira a graça do jogo, pois as pessoas que jogam estão tão preocupadas com o fmal que não se divertem. A competição pode ser o elemento desafiador dentro de um jogo, mas daí dizer que a graça presente no jogo é a competição vai uma distância enorme. Assim como desafia, a competição também fazcom que quem joga se sinta estressado, angustiado e preocupado. Isso só acaba com o fim do jogo. Sendo assim, tudo que o jogo tem de bonito não é apreciado, pois a ênfase está no resultado fmal. Os Jogos Cooperativos fazem com que as pessoas que jogam possam apreciar tudo o que o jogo pode oferecer, pois não tenho que me pre~ ocupar com o resultado final, mas sim, com todos os momentos do jogo. Não tenho nenhuma garantia de que, mudando o jogo, mudarei a fonua como as pessoas vivem, porém tenho muitos indicativos de mu~ danças, pois somos influenciados por uma cultura perversa, mas tam~ bém podemos influenciá~la com amor, bondade, cooperação, respeito etc. Os jogos que as crianças jogam se tornaram seus jogos de vida. Devemos abrir um espaço onde a criança possa jogar e discutir va- lores humanos tais como ganhar, perder, poder, solidariedade, respeito, sucesso, fracasso, ansiedade, rejeição, jogo limpo, aceitação, amizade, cooperação e competição sadia. Eu tenho plena convicção de que o Jogo Cooperativo favorece e muito uma tomada de consciência a respeito desses valores que são essenciais para nossas vidas. A idéia difundiu-se e hoje diversas pessoas desenvolvem Jogos Co- operativos aplicados na Educação, empresas e serviços comunitários. Em alguns países, a proposta está incluída em escolas de diversas metodologias, sendo utilizada como educação preventiva para conter a crescente violência entre os jovens. Santin (1994) prega uma Educação Física que contribua para a humanização do ser. Vejo a Escola como uma das melhores oportuni~ dades para que isto aconteça. Orlick, em seu livro Vencendo a competição (1989), diz: "O melhor preparo para ser um adulto humanista, responsável e feliz é viver a infância em toda a sua plenitude." Orlick (1989) continua dizendo: "Devemos trabalhar para que seres humanos confiantes, cooperativos e felizes não se tomem uma espécie ameaçada de extinção." Os JogosCooperativos possuem algumas características próprias, que irei descrever: ~Os participantes jogam uns com os outros e não uns contra os outros. ~Joga-se para superar desafios e não para derrotar alguém. ~Busca~se atingir um objetivo comum e não fins mutuamente ex- clusivos. ~Aprende~se a considerar o outro, que joga como um parceiro, um solidário, em vez de se tê~10como temível adversário. ; A pessoa que joga passa a ter consciência dos próprios sentimentos. ; Colocam, se uns no lugar dos outros, priorizando o trabalho em equipe. ~Joga;se para se gostar do jogo, pelo prazer de jogar com os outros. , Reconhece;se que todos os jogadores são importantes para se alcançar o objetivo final. ~Não há comparação de habilidades, muito menos de performances anteriores. O Jogo Cooperativo rambém é considerado UM JOGO INFINITO: ; Não tem regras fixas. , joga;se com o propósito de continuar jogando. ~Jogadores infinitos são brincalhões. ~Quem joga, gosta de ser surpreendido. - Enquanro o Jogo Comperitivo é UM JOGO FINITO: ; Regras fixas. ; A finalidade maior é terminar o jogo. ; Jogadores sérios. ~Quem joga, gosta de controlar o jogo. Você pode jogar jogos finitos dentro de um jogo infinito. Você não pode jogar jogos infinitos dentro de um jogo finito. Os Jogos Cooperativos são propostas que buscam diminuir a agressividade nos jogos e na própria vida, promovendo em quem joga atitudes positivas, tais como: cooperação, solidariedade, amizade e co~ municação. São jogos desenhados para o encontro, buscando a parti; cipação de todos e sempre desafiando rumo a objetivos coletivos. Os jogos propostos para as crianças jogarem devem possuir caracte~ rísticas condizentes com o trabalho em grupo e o desenvolvimento integral do ser humano. Como nestes jogos não existe pressão para alcançar um resultado, o foco passa a ser o processo. O Jogo Cooperativo é uma alternativa que pode ajudar a solucio; nar problemas e conflitos, pois está diretamente relacionado com a comunicação, coesão, confiança e auto, estima. Os Jogos Cooperativos, enfatizo, são aqueles em que os participantes jogam uns com os outros, em vez de uns contra os outros. Joga~se para superar desafios. São jogos para compartilhar, unir pessoas, despertar a coragem para assumir riscos, gerando pouca preocupação com o fracasso ou com o sucesso como fins em si mesmos. Eles reforçam a confiança mútua e todos podem participar autenticamente. Ganhar e perder são apenas referências para o contínuo aperfeiçoamento pessoal e coletivo. 51 Os elementos primordiais presentes nos jogos são a cooperação, a aceitação, o envolvimento e a diversão. Os Jogos Cooperativos buscam a participação de todos, sem que alguém fique excluído, o objetivo e a diversão de tais jogos estão centrados em metas coletivas e não em metas individuais. No Jogo Cooperativo, o medo do fracasso não existe, conseqüente- mente, a autoconfiança, a amizade e a ludicidade são potencializadas. Reproduzo, a seguit; um resumo das hipóteses de Deutsch (1949), que foram atestadas por meio de provas experimentais em seu trabalho: ~Os indivíduos em situações cooperativas consideram que a realiza~ ção de seus objetivos é, em parte, conseqüência das ações dos ou~ tros participantes, enquanto os indivíduos em siruações competi~ tivas consideram que a realização de seus objetivos é incompatí~ vel com a realização dos objetivos dos demais membros. ~Os membros de grupos cooperadores terão mais facilidade do que os membros de grupos competitivos para valorizar as ações de seus companheiros propensos a atingir os objetivos comuns e para não reagir negativamente diante das ações capazes de difi~ cultar ou impedir a obtenção de tais objetivos. ~Os indivíduos em situações cooperativas são mais sensíveis às solicitações dos companheiros do que os indivíduos em situa~ ções competitivas. - Os membros de grupos cooperadores ajudam-se mutuamente com maior freqüência do que os membros de grupos competidores. ~Após certo tempo, registra~se uma freqüência maior na coorde- nação de esforços em situações cooperativas do que em situa~ ções competitivas. -A homogeneidade quanto à quantidade de contribuições ou par- ticipações é maior nas situações cooperativas do que nas situa- ções competitivas. - A especialização numa atividade é maior nos grupos cooperati- vos do que em grupos competitivos. - Existe maior pressão para o agir nos grupos cooperativos do que em grupos competitivos. - A atenta observaçãoda produção de sinais emitidos pelos mem~ bros de uma situação competitiva é menor do que a revelada numa situação cooperativa. - Existe maior aceitação da intercomunicação nos grupos coope~ rativos do que nos competitivos. - A produtividade, em termos qualitativos, é maior nos grupos co- operativos do que nos grupos competitivos. - Existe uma maior manifestação de amizade entre os membros dos grupos cooperativos do que entre os dos grupos competitivos. - Os membros dos grupos cooperativos avaliam a sua produção mais favoravelmente do que os membros dos grupos competitivos. - Registra-se um percentual maior de funções coletivas nos grupos cooperativos do que nos competitivos. - Os membros de grupos cooperativos consideram que são mais capazes de produzir efeitos positivos sobre seus companheiros de grupo do que os membros de grupos competitivos. Deutsch entendeu, também, por intermédio de suas pesquisas, que é muito mais fácil se mover da cooperação para a competição de uma forma harmoniosa do que o contrário. Ele inclusive diz que a compe- tição "canibaliza" a cooperação. A cooperação produz algo semelhante à figura de uma espiral be- nigna, pois a tendência é sempre aumentar de dentro para fora, tor- nando a cooperação sempre crescente. Já a competição produz a mes- ma figura, só que na direção contrária, de fora para dentro, gerando isolamento e agressividade. É difícil entender como pessoas gastam tanta energia tentando su- perar o outro, e com medo de serem superadas. O mais aconselhável seria unir essas energias em busca do bem comum. Os Jogos Cooperativos têm várias características liberradoras que são muito coerentes com o trabalho em grupo: 1. Libertam da competição: O objetivo é que rodos participem para poder alcançar uma meta comum. 2. Libertam da eliminação: O esboço do jogo cooperativo busca a integraçáo de todos. 3. Libertam para criar: Criar é construir e, para construir, a colabo- ração de todos é fundamental. As regras são flexíveis, e os participan- tes podem contribuir para mudar o jogo. 4. Libertam da agressão física: Certamente, gastamos energia na atividade física, mas se promovemos a agressão física contra o outro, estamos aceitando um comportamento destrutivo e desumanizante, e o Jogo Cooperativo propõe justamente o contrário. Em resumo, podemos oferecer algumas alternativas para se jogar, tentando com isso dar opções para quem joga, e que a escolha pos- sa ser feita havendo alternativas a serem escolhidas, pois do contrá~ rio não escolho e sim, sou escolhido. Tomei o cuidado de não determinar faixas de idade para aplica~ ção dos jogos, pois acredito que o facilitador/focalizador saberá adequá~los. Entendo, também, que qualquer jogo pode ser aplica~ do nas mais diferentes faixas etárias. Considero que toda vitória individual é efêmera, ou seja, não é duradoura, acabando muito rapidamente. A grande conquista traz alegria sópor um tempo, e logo depois nem quem ganhou tem prazer com isso. A vitória só é real quando pode ser compartilhada. Os JogosCooperativos favorecem algumas atitudes essenciais para o exercício da convivência: ~Evitam situações de exclusão. ~Diminuem as chances de experiências negativas. ~Favorecem o desenvolvimento das habilidades motoras e capa~ cidades físicas (universo psicomotor) de forma prazerosa. ~Estimulam um clima de alegria e descontração. ~Promovem o respeito e a valorização pelo diferente. ~Ensinam para além das regras e estruturas do jogo. Quando estiver propondo os jogos, o facilitadorlfocalizador ele~ gerá o que melhor atende a suas necessidades, e os que se adaptem às condições dos participantes. Os jogos elencados neste livro devem ter participação total, não discriminando ninguém. O importante é jogar do modo como for possível, e fazer da vida um eterno encontro. Acredito no "jogo possível", aquele que prioriza a participação de todas as diferenças, pois sabemos que cada ser humano é uno, e sempre tem alguma coisa para contribuir com o grupo. Aqui, uma lembrança se faz necessária: quem joga, sempre é mais importante do que o jogo. Existem alguns fatores que possibilitam a existência do Jogo Coo~ perativo. São eles: ~Enxergar o outro como um amigo em potencial. ~Alegria. ~Criatividade. ~Solidariedade. ~Confiança entre os participantes. ~Ser motivante. ~Possível para todos. ~Ninguém é excluído. ~Simplicidade. Quando jogamos cooperativamente, mostramos o que realmente somos, nos entregamos ao jogo da forma mais intensa, contribuindo com aquilo que conseguimos, e que nos é possível. E cada pessoa passa a ser muito importante, pois para que o grupo alcance seu ob~ jetivo precisará de todos, com cada um dando aquilo que pode, no momento. A intercomunicação de idéias faz com que as pessoas que jogam fiquem expostas a uma socialização crescente, havendo muita negociação entre o grupo para se alcançar o objetivo. O mais impor~ tante é que não sendo arrancado do jogo, quem pode dar pouco hoje será cada vez mais capacitado, pois estará aprendendo e ensinando com todos os que jogam. Depois que você ler e reler este livro, passe adiante a idéia, colo~ que-a em prática, deixe as pessoas com água na boca, com vontade de participar, pois com toda certeza, quando isso acontecer, será mui~ to difícil pará-Ias, e como uma verdadeira rede, iremos influenciar a cultura e talvez o mundo se torne um lugar melhor para se jogar e viver. Jogando cooperativamente passamos a compreender melhor o que significam as palavras: Com~partir,Com~vivere Com-vencer. - Com~partir:Aprendemos no jogo a compartilhar enxergando o mundo como um ambiente de inclusão, onde há espaço para todos desde que cada um compartilhe o que tem. ~Com-viver: No jogo, aprendemos a viver uns com os outros, em vez de uns contra os outros, e cada jogo se toma uma experiên- cia única para tal fim. - Com-vencer: Aprendemos a vencer junto, e a curtir urna felicida- de comum, e passamos a dar valor à vitória compartilhada. Sempre que comparamos duas coisas, as pessoas imaginam que fa~ zemos isto para dizer que uma coisa é boa e a outra, ruim. Nem sempre isso é verdadeiro, pois pretendo aqui apenas clarear as nossas idéias em relação às duas formas de jogar e viver. Devemos mostrar, para quem joga, que sempre existe mais de uma forma de viver uma determinada situação, e que, às vezes, podemos nos entregar e ter prazer em participar de um jogo. Segundo Brotto (Z001), nestes jogos, chamados cooperativos, é importante deixar claro para todos os participantes que: ~Não há seleção dos melhores porque cada um é vital para o jogo domomente. ~Não há primeiro nem último lugar, porque o lugar que ocupamos é nosso lugar comum. ~Não há vencedores nem perdedores porque jogamos para 'VenSer', para Vir a Ser quem somos, plena e essencialmente. ~Não há adversários, porque somos todos parceiros de uma mesma jornada. ~Não há troféus, medalhas ou outras recompensas, porque já ga~ nhamos tudo o que precisávamos ter... para saber que a verda- deira conquista é poder continuar jogando uns com os outros, em vez de uns contra os outros, como venho reiterando. Podemos falar um pouco sobre interdependência, afinal, estamos conectados de alguma forma, e perceber isto no dia-a-dia é uma tarefa que nos desafia a tentar cada vez mais. "'Isto é como isto é porque aquilo é como aquilo é.' A imagem que podemos perceber desta frase é a de que três juncos cortados só podem ficar de pé quando estão encostados uns sobre os outros. Se você tirar um, os outros dois cairão. Para uma mesa existir, precisamos de madeira, de um carpinteiro, de tempo, de habilidade e de muitas outras causas. E cada uma destas causas precisa de outras causas pa~a existir. A madeira precisa da floresta, do brilho do sol, da chuva e assim por diante. O carpinteiro precisa de seus pais, de ali~ mento, de ar fresco e assim por diante. E cada uma dessas coisas, por sua vez, tem de ser trazida por outras condições. Se continuarmos a olhar deste modo, veremos que nada foi deixado de fora. Tudo no cosmos veio junto paranos trazer a mesa. Olhando mais profunda~ mente para o brilho do sol, para as folhas da árvore e para as nuvens, poderemos ver a mesa. O um pode ser visto no todo e o todo pode ser visto no um." 8 Não podemos mais deixar de perceber esta imensa teia que forma~ mos quando cooperamos e devemos, isso sim, tirar vantagens para que possamos evoluir enquanto seres humanos. Qualquer problema pode ser facilmente resolvido, se contar com a participação de outras pessoas, pois sozinho sempre posso muito pou~ COj junto vou mais longe. Neste livro você aprenderá e ensinará também que se deve: - Jogar muitos jogos novos. ~Criar e recriar jogos. ~Colocar~se no lugar dos outros. ~Facilitar a liberdade e criatividade. ~Integrar a competição e a cooperação. - Aumentar a participação. - Propiciar o contato físico. ~Permitir a verbalização do grupo investindo na intercomunicação. ~Envolver todos, o mais possível. ~Planejar e organizar eventos cooperativos. - Adaptar todos os jogos para que todos possam jogar. - Defender suas idéias e acolher as idéias dos demais. A melhor maneira de promover tudo isso é jogando, portanto, o ideal é sempre começar uma sessão jogando, o que fará com que o grupo intemalize a cooperação e depois, sustente essa cooperação na vida. Lembro que a cada jogo temos a oportunidade de aprender a con~ viver, aceitar, respeitar e valorizar todas as diferenças, porque precisa~ mos de um treinamento intensivo em Jogos Cooperativos, pois no quesito competição já estamos pra láde treinados. Não podemos ficar ansiosos para que o resultado chegue logo, te- mos que compreender que, como tudo na vida, esta mudança de uma forma de jogar para outra faz parte de um processo. Mais cedo ou mais tarde, e com muita paciência, veremos a paisagem da janela ser trans~ formada, e melhor ainda, saberemos que de alguma fonua fizemos a diferença para alguém. Zlmarian Jeane Walker (1987) fez uma comparação das duas for- mas de jogar: Sio divertidoo "J'<"" I""" olgun>. AlgUM i"ll"do<e5 têm o •••• tUn=to de ••••• AIg:\ln6jogado"" ,",o ""duíoo. por sua 1i./lAde hobilidade. Apr=de."" 6=- d=nJ1ado, 'Pla OU 6 .., •••• th= md;"dmdos com os Dhi••.•, po' categoria>: meoinoo X n>eoino~ <'>.\o"do bo,"';,,,,, ."IR as """",.,. jwtillClUl.do as dife«nÇll' coroo lJIU" r"""" de exd" ••o. o. pen:kdo,,,, licam d. fom do jogo e &~~~~""tOOMmo~ad~~ o. jogadoreo niia '" .oHdarizont e Gcam fi,]"", quando .lgu"", coisa de "mÍD>." =tccr "'" ontro~ o. iogado.- •• peTd<rn a ""nfitu'l'a •••• si me5IllO!! qu."do ete. ,"o rei •• ",d"" ou qnando peTd<ltl- Pouca roledncia à derrota desenV<llve em alguns jopd<>res wu se"timento de de.istência em face das dificuldades. Tooo. "" JOGadores rem um """TU,mlO de~itório. Todo> '" ,,"wolveul, h,depeodentem=te de "'" khi1id...k. Hó miotum de grup'" que brinClUll iuntos criando alIO ••í"d de aceitação ,"Útua. o. iogadom; ••••.0 envolvidos n", jog'" por llD1 porú>do maio!; lendo 1IIi\Í> tenlpO para desenvolv<:!" "' •• ",pocldndes. Aprende_ •• D ",..,!idsri= con>. '" sentim<ntoo do. oulroo e <beja.", lamb€w. o •• u lIllC=»- o. iogo.dorc,;"I"endem o te! um ""'-'O do unidode. Deoc:n,,01vem o outoeo<,/ianço po<que todoo oiío kIn·.oeíto •. A hohilidod. de 1""'=""" Íil<:<: Os düiculàade. é furnd<cido. Todos encontram um ""minho p.ra = e 'e desetwnlver. Fig 04. Quadro comparativo: Situação competitiva e cooperativa. Podemos perceber, pelo menos, duas situações de ver~e~viver a vida, uma mais desejável e outra nem tanto. E que irão determinar como serão as relações entre as pessoas que jogam e que vivem a vida. ~ MEIOS E FINS SÃOHUMANIZADORES ~'U~Õ~PW'~ RELAÇÃO HUMANIZADORA: BONDADE, CONSIDERA- çÃO, COMPAIXÃO, COMPREENSÃO, COOPERAÇÃO, AMIZADE E AMOR. RELAÇÃO DESUMANIZADORA: FALTA DE INTERESSE PARA COM °SOFRIMENTO DO OUTRO, CRUELDADE, BRUTALIDADE, E A DESCONSIDERAÇÃO GERAL PARA COM OS VALORES HUMANOS. C-A.l'iTULO 111 ;roc.o'b C.OOl'E.AATIVO'b: UMA l'E.DAG.OC.IA MAI'b QUE. VIÁVE.L "Não espere pela vontade de fazer algo positivo, inicie~o e sentirá vontade de continuar." (Zig Zigla,) fi oje em dia, uma das mais graves questões dentro dasescolas é como acabar, ou pelo menos diminuir, aagressividade que sempre leva à violência sem limites.Le rando que a escola é um espelho da nossa sociedade, e se ela (sociedade) está violenta, essa violência ref1ete~se dentro das escolas. Muitas são as tentativas e quase sempre levam a nada, pois o que podemos fazer enquanto educadores comprometidos com uma nova pedagogia é modificar o foco, tentando criar um clima de cumplidda~ de, em que as pessoas possam perceber e descobrir o outro. Observando os jogos que são oferecidos para as crianças jogarem, percebo que sempre estão cheios de agressividade, sendo que vencer é a maior meta, e sempre às custas do fracasso de outros. As crianças aprendem dentro dos jogos competitivos a gozar os perdedores, e estão tão condicionadas a querer só vencer que já não enxergam a alegria presente nos jogos. É triste constatar que alguns professores investem justamente nestes jogos. Sabemos também que é por meio dos jogos que as crianças se prepa~ ram para sua vida adulta, então, se não modificarmos as bases deste jogo, dificilmente modificaremos o sistema; pelo contrário, estaremos conservando o modelo atual. Sabendo que a real necessidade é ensinar e aprender a viver uns com os outros, podemos desenvolver um programa em que isto possa ser exercitado no dia~a~dia escolar. É por isso também que chamamos o Jogo Cooperativo de exercício de convivência. O que estou ousando sugerir é uma mudança nos jogos que propo~ mos para as pessoas jogarem, tentando com isso criar uma nova peda~ gogia, baseada no respeito, ajuda mútua, cooperação e no amor. Aliás, não acredito em nenhuma pedagogia senão a do amor. Se vai dar certo, só o tempo poderá nos mostrar, mas só pelo desafio de transformação já é uma aventura e tanto. Não é mesmo? A construção de uma pedagogia cooperativa é totalmente viável, pois a escola necessita ensinar para além do ler, escrever ou calcular. Não que isso não seja importante, é claro que é, mas a escola deve sempre estar preocupada em ser um elemento de transformação, ensi- nando valores humanos essenciais. Infelizmente, a escola fomenta a competição e, agindo assim, alimenta um sistema perverso que vive da competição. A escola tem um grande poder de transformação, mas ela, por si só, não modifica nada, quem tem a missão de mudar é quem está dentro dela; atingindo o aluno, fatalmente atingirei a sociedade como um todo. Primeiro, entendo que a escola deva começar a enxergar o corpo, pois como diz Freire (1989), o ser que está dentro da escola é monstro; oso, pois tem uma cabeça enorme e um corpo diminuto. Corpo que, quanto mais quieto estiver, melhor. A idéia é depois de se enxergar o corpo criar uma pedagogia coopera- tiva para tentar se alcançar uma ética cooperativa, em que as pessoas passem a pautar suas vidas pelo espírito da cooperação. O objetivo, então, é ajudar as pessoas a construir uma ética coope; rativa, uma ética para a convivência, que permita a aproximação en- tre as pessoas no complexo mundo em que vivemos. Mariotti (2000) nos revelauma nova forma de enxergar o outro; ele acredita que o outro é indispensável, e não podemos viver sem ele, como podemos notar a seguir num trecho de seu livro O dragão e a borboleta: ''l\. noção invariável do outro como adversário, como inimigo a extermi- nar, é uma das marcas fundamentais da competitividade da nossa cultura. Por meio dela, vivemos no cotidiano essa paranóia. 1Tata~se de uma visão de mundo que exclui a possibilidade de que o outro possa ser superado pela competência, mas preservado para ser capaz.de por sua vez aprender a ven- cer, isto é, aprender a ser competente. O ideal da competitividade, pelo con- trário, é vencer de tal modo que o vitorioso seja sempre o primeiro e o único - como se pudéssemos existir sem os outros." Os três pilares dessa ética são: - respeito pelo outro. - solidariedade com o outro. - cooperação
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