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2009 TELE PRESENÇA Eliane Schlemmer © 2009 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. S341 Schlemmer, Eliane. / Telepresença. / Eliane Schlemmer. — Curitiba : IESDE Brasil S.A. , 2009. 180 p. ISBN: 978-85-387-0738-7 1. Ensino a distância. 2. Aprendizagem. 3. Tecnologia educacional. 4. Ambiente de sala de aula. I. Título. CDD 371.35 IESDE Brasil S.A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1 482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Todos os direitos reservados. Capa: IESDE Brasil S.A. Imagem da capa: Jupiter Images / DPI Images Eliane Schlemmer Doutora em Informática na Educação e Mestre em Psicologia do Desenvolvimento pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Bacharel em Informática: ênfase em Análise de Sistemas, Bacharel em Informática pela UNISINOS (Universidade do Vale do Rio dos Sinos). Professora e Pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Educação da UNISINOS, onde coordena o Grupo de Pesquisa em Educação Digital. Sumário Ambientes de aprendizagem presenciais e virtuais ...........11 Conceitos e contextualização .....................................................................................................................11 Concepções epistemológicas: o paradigma educacional presente nos ambientes de aprendizagem .................................................................16 Interação e aprendizagem em AVAs ........................................................................................................18 Modelos de avaliação em AVAs ..................................................................................................................20 Metodologia e mediação pedagógica em AVAs ..................31 Concepções e metodologias ......................................................................................................................31 Metodologias interacionistas-construtivistas-sistêmicas .................................................................34 Projetos de aprendizagem e Identificação e resolução de problemas ........................................36 Acompanhamento e avaliação da aprendizagem em AVAs ............................................................42 Telepresença, presenças físicas e relacionais na aprendizagem ...................................................53 Conceitos e contextualização .....................................................................................................................53 Mídias, tecnologias e telepresença ...........................................................................................................55 Linguagens e formas de comunicação e interação na telepresença ...........................................58 Imersão e telepresença .................................................................................................................................61 Presença digital virtual em tecnologias emergentes ....69 A presença digital virtual em metaversos ...................................................................................... 69 Avatar: a representação/ação do “eu digital virtual” por meio de um corpo tecnologizado ........................................................ 74 A simultaneidade dos mundos (presencial físico e presencial digital virtual) .................. 78 Vida digital virtual ................................................................................................................................... 79 Interação e interatividade ...................................................... 87 Conceitos e contextualização ............................................................................................................. 87 Interação sujeito-meio .......................................................................................................................... 90 Formas de interação ............................................................................................................................... 92 Níveis de interação e aprendizagem ................................................................................................ 94 Colaboração e cooperação ..................................................103 Conceitos e contextualização ..........................................................................................................103 Formas de colaboração, cooperação e o trabalho em grupo ..............................................105 Tecnologias colaborativas e cooperativas ..................................................................................106 Respeito mútuo e solidariedade interna .....................................................................................112 Comunidades de aprendizagem ............................................123 Conceitos e contextualização ................................................................................................................. 123 Indicadores para a identificação de CVAs .......................................................................................... 129 Animação das CVAs .................................................................................................................................... 131 ECODIS (Espaços de Convivência Digital Virtual) na Sociedade em Rede ................................. 141 Conceito e contextualização ................................................................................................................... 141 Integração de tecnologias ....................................................................................................................... 146 A configuração de um espaço de convivência digital virtual ..................................................... 149 Convivência digital virtual: a Sociedade em Rede na era dos avatares ................................... 154 Gabarito ........................................................................................... 163 Referências ...................................................................................... 171 Apresentação Atualmente, tecnologias digitais virtuais de toda natureza têm sido utilizadas em diferentes setores da sociedade, incluindo a educação, o que nos leva a refletir sobre a emancipação digital necessária ao cidadão para viver em uma sociedade em rede, interligada e altamente conectada. Esse é o contexto, no qual os nativos digitais se desenvolvem, aprendem, vivem e convivem. A telepresença, que surge como uma possibilidade efetiva de se fazer presente (mesmo estando distante geograficamen- te), é o que permite a ação e a interação dos sujeitos nesse mundo tecnologizado, fazendo surgir um tipo de vida denominado por muitos teóricos de vida digital virtual. É nesse contexto e com essa preocupa- ção que apresentamos esse trabalho cuja centralidade está na telepresença, a qual é discutida ao longo de oito capítulos, confor- me a seguir: O capítulo um se inicia com uma discussão sobre aprendizagem e conhecimento e concei- tua ambientes de aprendizagem presenciais e virtuais no contexto de uma cultura de aprendi- zagem. Apresenta alguns AVAs e suas principais ferramentas, descrevendo-as. Na sequência são apresentadas e discutidas as concepções episte- mológicas, evidenciando o paradigma educacional presente nos AVAs e aspectos relacionados à interação e à aprendizagem. Para finalizar o capítulo, é apresentado um modelo de avaliação para AVAs. O capítulo dois aborda as principais concepções epistemo- lógicas e apresenta algumas metodologias interacionistas- construtivistas-sistêmicas, destacando a metodologia de proje- tos de aprendizagem e resolução de problemas. Esse capítulo é finalizado com a discussão dos processos de acompanhamento e avaliação da aprendizagem em AVAs. O capítulo trêsconceitua e contextualiza presença e telepre- sença. São apresentadas algumas mídias/tecnologias que possibilitam a telepresença, bem como as linguagens e formas de comunicação e interação por elas propiciadas. O capítulo é finalizado com a discussão sobre imersão e telepresença. No capítulo quatro é feita uma dis- cussão da presença digital virtual em Metaversos, conceituando o termo avatar e apresentando-o como uma representação/ação do eu digital virtual por meio de um corpo tecnológico. Dis- cute também a simultaneidade dos mundos (presencial físico e presencial digital virtual) e finaliza com a tematização do que é atu- almente compreendido como uma vida digital virtual. O capítulo cinco conceitua e contextualiza interação e interatividade. Apresenta e discute a interação sujeito-meio, as formas de interação e apresenta os níveis de interação e aprendizagem. No próximo capítulo são conceituadas e con- textualizadas a colaboração e a coopera- ção. Apresentam-se essas duas formas e o trabalho em grupo, abordando algumas tecnologias que as possibilitam enquanto se discute respeito mútuo e solidariedade interna. Os capítulo sete conceitua aspectos vin- culados às comunidades virtuais de apren- dizagem e como se constituem as CVAs, apresentando alguns indicadores para a sua identificação e animação. Por fim, o capítulo oito possibilita aos participantes o conhecimen- to de novos espaços que propiciam novas formas de convivência no contexto da sociedade em rede, na era dos avatares. A partir dessa pequena descrição do livro, convido você a refletir comigo sobre essas questões que nos instigam a pensar numa educação digital para uma sociedade em rede. Eliane Schlemmer Ambientes de aprendizagem presenciais e virtuais Conceitos e contextualização A aprendizagem, em geral, é provocada por situações externas e ocorre so- mente quando há, da parte do sujeito, uma assimilação1 ativa: “toda a ênfase é colocada na atividade do próprio sujeito, e penso que sem essa atividade não há possível didática ou pedagogia que transforme significativamente o sujeito” (PIAGET, 1972, p. 11). O autor nos diz ainda que o conhecimento não é uma cópia da realidade, nem simplesmente olhar, fazer uma cópia mental ou imagem de um aconte- cimento: “conhecer é modificar, transformar o objeto, compreender o proces- so dessa transformação e, consequentemente, compreender o modo como o objeto é construído”. Nessa concepção o conhecimento é construído pelo sujeito que age sobre o objeto percebido interagindo com ele, sendo as trocas sociais condições necessárias para o desenvolvimento do pensamento. Piaget opõe-se ao ideal de um conhecimento impessoal dizendo que o conhecimento como tal não existe, mas somente pessoas em relação ao que conhecem. Assim, um ambiente de aprendizagem, precisa reunir as condições neces- sárias para que a aprendizagem possa ocorrer, ou seja, necessita disponibili- zar acesso à informações em diferentes fontes e meios e promover a ação e a interação entre os sujeitos, de forma a criar espaços dialógicos que busquem o desenvolvimento da colaboração e da cooperação. Um ambiente de apren- dizagem de mediação pedagógica precisa ser suficientemente provocador/ instigador, de forma a desafiar o sujeito a estabelecer relações entre o conhe- cimento construído e as novas informações, criando suas redes de significa- ção para a ampliação do conhecimento, promovendo o desenvolvimento da autonomia e da autoria2. 1 Assimilação segundo Piaget consiste na incorporação de um elemento exterior a um esquema sensório-motor ou conceitual do sujeito. 2 Autoria no sentido de que o sujeito seja autor do seu processo de aprendizagem, ou seja, se autorize frente às situações de aprendizagem que são provocadas. Telepresença 12 Papert (1994), fala da necessidade de que nos ambientes de aprendizagem sejam colocados, à disposição do sujeito, ferramentas para ajudar a aprender, objetos “para pensar com”. Nesse contexto, podemos falar de ambientes pre- senciais-físicos de aprendizagem e Ambientes Virtuais de Aprendizagem. Um ambiente presencial-físico de aprendizagem se caracteriza pela pre- sença física dos sujeitos envolvidos no processo educativo, num mesmo tempo (síncrono) e no mesmo espaço geográfico. Numa cultura da aprendizagem, o foco do processo educacional está na construção do conhecimento, na aprendizagem, no desenvolvimento de competências e habilidades. Há um respeito ao ritmo de desenvolvimento do sujeito, pois se acredita que a aprendizagem é um processo coletivo, sig- nificado individualmente pelo sujeito a partir das construções/ significações anteriores (SCHLEMMER, 2002). O espaço educacional é heterárquico3, propiciando condutas de coopera- ção, gerando respeito mútuo e solidariedade interna. O processo educacional é centrado na atividade do aprendente em inte- ração com o objeto do conhecimento e demais sujeitos, na identificação e resolução de problemas, onde o professor é o mediador e coparticipante. O conteúdo é construído na criação de redes de informação, o que incentiva a atividade do sujeito, a autoria e o desenvolvimento da autonomia. Para Primo (1999) a interação é mútua, ou seja, o processo é constante- mente construído por meio de negociações realizadas pelos interagentes e a avaliação é vista como processo, objetivando a correção de rumos. Os AVAs (Ambientes Virtuais de Aprendizagem) são sistemas que sinte- tizam a funcionalidade de software para CMC (Comunicação Mediada por Computador) e métodos de entrega de material de cursos on-line. Os Ambientes Virtuais de Aprendizagem, VLEs (Virtual Learning Environ- ments), Ambientes de Aprendizagem On-line, Sistemas Gerenciadores de Educação a Distância e Software de Aprendizagem Colaborativa são todas denominações utilizadas para softwares desenvolvidos para o gerenciamen- to da aprendizagem via web. 3 O contrário de hierárquico, onde o professor é o “dono do conhecimento”. Um espaço heterárquico é um espaço onde todos podem parti- cipar, interagir para construir conhecimentos. Ambientes de aprendizagem presenciais e virtuais 13 Outra definição refere-se aos AVAs como: sistemas que combinam funcionalidades relacionadas à disseminação, produção, arma- zenamento e recuperação de informações; possibilitam comunicação e interação síncro- na e assíncrona entre sujeitos; suportam o desenvolvimento de trabalhos colaborativos e cooperativos; auxiliam na organização do processo de aprendizagem em nível individual e coletivo, à gestão dos processos de ensino e de aprendizagem e do próprio ambiente. (SCHLEMMER et al., 2007, P. 8) A maior parte desses sistemas é baseada na arquitetura cliente-servidor. Geralmente, o cliente é um navegador web que é usado para acessar as pági- nas HTML no servidor. O servidor é um computador com software específico para esse fim, com capacidade para criar, implementar e gerenciar páginas de HTML dinâmicas, com possibilidade de postar mensagens para uma confe- rência ou quadro de avisos, de manter base de dados de informações relacio- nadas aos grupos de usuários e de disponibilizar material de aprendizagem e estrutura do curso. Muitos desses sistemas reproduzem os ambientes presenciais físicos para o meio on-line, outros buscam, além de simplesmente reproduzir ambientes educacionais existentes para um novo meio, usar a tecnologia para propiciar aos aprendizes novas ferramentas que instiguem a aprendizagem. Esses últimos procuram suportar uma grande e variada gama de estilos de aprendizagem e objetivos, encorajando a colaboração, a aprendizagem base- ada em pesquisa, além de promover compartilhamento e reúso dos recursos. Atualmente, existem inúmeros AVAs que se propõem a dar suporte aos processos de ensino e de aprendizagem baseados na web, tanto originários do meio acadêmico, quanto do meio comercial. Cada um deles tem, de forma implícita ou explícita, concepções sobre como ocorre o processo de ensino e de aprendizageme servem a propósitos específicos. A seguir apresento as principais iniciativas surgidas no cenário internacio- nal e nacional, quanto ao desenvolvimento de AVAs: Quadro 1 – Cenário internacional AVAs Origem URL (S CH LE M M ER , 2 00 2. A da pt ad o) FirstClass Classrooms SoftArc http://www.softarc.com Learning Space IBM/Lotus http://www.lotus.com Virtual-U Simon Fraser University http://www.emediadesign.com/ sfu/index.html WebCT University of British Columbia http://www.blackboard.com Moodle Software Livre http://moodle.org Telepresença 14 Quadro 2 – Cenário Nacional AVAs Origem URL (S CH LE M M ER , 2 00 2. A da pt ad o) AulaNet PUC-Rio http://www.eduweb.com.br/portugues/aulanet_o_ aulanet.html Teleduc Unicamp http://www.teleduc.org.br eProInfo SEED/MEC http://www.eproinfo.mec.gov.br Eureka PUCPR https://eureka.pucpr.br AVA-UNISINOS UNISINOS http://www.unisinos.br/ava Cada uma dessas iniciativas apresenta um conjunto de características que a definem como um AVA, disponibilizando ferramentas que podem poten- cializar processos de interação, de colaboração e de cooperação. No entanto, muitos se restringem à apresentação de conteúdos e proposição de tarefas/ exercícios/testes/provas já organizados e sistematizados anteriormente pelo professor/tutor. Em muitos deles a cooperação serve somente como técni- ca para motivar o estudante a executar o que já foi previamente definido, preparado e apresentado pelo tutor, sendo esse o aspecto principal em de- trimento da aprendizagem cooperativa, resultante de um processo de inte- ração, que propicia ao estudante autoria e autonomia no seu processo de aprendizagem. De um modo geral, a maior parte dos AVAs apresenta um conjunto de ferramentas que são utilizadas durante o planejamento e o desenvolvimento do processo educacional baseado na web. O quadro abaixo apresenta as principais ferramentas encontradas nos am- bientes e sua descrição: Quadro 3 – Ferramentas e características Ferramentas Descrição Quadro de notícias, avisos Ferramenta que possibilita fornecer informações importan- tes ao estudante no momento em que ele entra no sistema. Desenho do curso, plano do curso Ferramenta que proporciona uma visão geral da estrutura do curso, possibilitando a inclusão de datas para tarefas, testes, leituras, videoconferências etc. O sistema fornece a estrutura para que o tutor possa criar o plano do curso, que poderá conter hiperlinks para páginas do próprio curso, ou simples- mente páginas HTML contendo algum material relevante do curso. E-mail Ferramenta para comunicação interna entre o tutor e os es- tudantes do curso. ( BR IT A IN ; L IB ER , 1 99 9, a pu d SC H LE M M ER , 2 00 2) Ambientes de aprendizagem presenciais e virtuais 15 Ferramentas Descrição Ferramentas para conferência Ferramenta que propicia a realização de conferências assín- cronas ou grupos de discussão que possibilitam aos estu- dantes se engajar em uma troca colaborativa sobre tópicos do curso. Lista da classe e páginas pessoais dos estudantes Ferramenta que oferece uma lista dos estudantes do curso com endereço de e-mail. Alguns sistemas possibilitam a in- clusão de uma página pessoal para cada estudante, outros, ainda disponibilizam um editor de fácil uso para edição de páginas. A possibilidade de ter algumas informações sobre os estudantes de um curso é fundamental em ambientes de aprendizagem, pois o tutor poderá conhecer um pouco mais sobre as ideias, interesses e objetivos dos estudantes. Metadado Ferramenta que fornece informações sobre um objeto. É fun- damental para categorização e procura de objetos de acor- do com as intenções de uso em um contexto particular. Um metadado sofisticado pode fornecer uma grande e variada informação sobre um objeto, o que pode facilitar a localiza- ção e o reúso de uma determinada informação. Tarefas Ferramenta que possibilita ao tutor criar tarefas para os es- tudantes realizarem, utilizando o material do curso. A ferra- menta poderá incluir um meio para o estudante retornar às tarefas completas para o tutor classificar, nivelar e dar um retorno. Avaliação Ferramenta que possibilita automatizar testes on-line para avaliar a performance do estudante, alguns sistemas ofere- cem ao estudante um recurso para realizar autoteste. Ferramentas de colaboração síncrona Ferramenta tais como chat, whiteboards compartilhados, group browsing e videoconferência. Recurso de multimídia Ferramenta que possibilita o uso de materiais sofisticados como simulações interativas, as quais também podem ser publicadas on-line. Uma das vantagens dos Ambientes Virtuais de Apren- dizagem é a facilidade com que recursos de multimídia podem ser acessados e armazenados dentro de ambientes de aprendi- zagem como parte integral de um curso. Área para upload de arquivos Ferramenta que possibilita aos estudantes disponibilizarem seus materiais dentro do sistema para que o tutor e os outros estudantes possam acessar, alguns ambientes de aprendi- zagem incluem facilidades que possibilitam aos estudantes construírem seus próprios materiais. Calendário Ferramenta para construir calendário. Ferramentas de busca Ferramenta para facilitar a procura de um determinado con- teúdo dentro do ambiente. Marcadores Ferramenta que possibilita ao participante construir sua pró- pria base de recursos usando marcadores, essa facilidade economiza o tempo gasto na navegação, pois o participante pode ir diretamente para o item em questão no ambiente. Telepresença 16 Ferramentas Descrição Modelo de navegação A navegação é parte da experiência do uso de um ambiente virtual de aprendizagem. A facilidade de navegação possibi- lita ao usuário se mover no ambiente, sendo que o modelo de navegação ou metáfora na conjunção com o olhar e o sentir de um sistema é extremamente importante, pois ele define as várias formas como o sistema é usado. Diferentes Ambientes Virtuais de Aprendizagem irão apresentar ferra- mentas e estruturas de cursos de diferentes modos. Dois modelos são mais populares: usar uma página pessoal, na qual o curso é apresentado através de hiperlinks que agem como estações de pulo para várias ferramentas que estão dispo- nibilizadas, ou alternativamente, usar uma estrutura hierárquica de árvore. Essas duas são frequentemente usadas em conjun- to com a estrutura de árvore provida num plano de curso com links para o conteúdo do curso dentro do ramo da árvore. Os Ambientes Virtuais de Aprendizagem podem viabilizar a oferta de educação na modalidade a distância. Esses ambientes se caracterizam pela presença digital virtual dos sujeitos envolvidos no processo educativo. Essa presença se manifesta basicamente em forma de interação textual e pode ocorrer num mesmo tempo (síncrono, por meio de ferramentas de bate-pa- po), em tempos diferentes (assíncrono, por meio de ferramentas de fórum, diário, entre outros) e em espaços geográficos distintos. Normalmente, os usuários de sistemas AVAs são os estudantes e os tutores. Os tutores possuem algumas ferramentas adicionais e privilégios de acesso ao sistema que permite: adicionar materiais, criar conferências e acompanhar o progresso dos estudantes. Em alguns casos os estudantes têm uma área para conversação privada. Nessa visão já é possível identificar a presença de uma concepção sobre como se acredita que ocorra o processo educacional, por isso é fundamental identificar o pressuposto epistemológico presente no desenvolvimento desses sistemas. Concepções epistemológicas: o paradigma educacional presente nos ambientes de aprendizagem Tanto historicamente, quanto nos processos atuais, identificam-se conflitos na tomada de decisão para a oferta de EAD pelas instituições e organizações. O modo de pensar e decidir o uso das plataformas tecnológicas para EAD (AVAs) oscila entre a concepção de reproduzir cursos já existentes no modelo presencial e a responsabilidade de iniciativas de mudanças, adotando-seAmbientes de aprendizagem presenciais e virtuais 17 tecnologias que permitam trabalhar em novos paradigmas educacionais, con- siderando as mudanças e as necessidades de aprendizagem de uma socieda- de em rede (SCHLEMMER; FAGUNDES, 2001). As avaliações de AVAs normalmente consideram as ferramentas disponibili- zadas e as facilidades propiciadas, suas especificações técnicas e o custo. Porém, quando se fala em educação, o primeiro e mais importante item a ser avaliado é o critério didático-pedagógico do software, pois todo e qualquer desenvolvimento de um produto para educação é permeado por uma concepção epistemológica, ou seja, por uma crença de como se dá a aquisição do conhecimento, de como o sujeito aprende. Essa concepção é a base do desenvolvimento do processo edu- cacional, que é expresso nas ações educativas (SCHLEMMER, 2002). Um AVA também traz consigo uma série de instituições e papéis predefi- nidos, por exemplo, a centralidade do processo educacional no estudante ou no professor/tutor; o papel que cada um pode e deve desempenhar, concep- ções sobre como o ser humano aprende e como se avalia a aprendizagem, entre outros elementos importantes. Em alguns AVAs é possível identificar a aplicação de uma concepção epis- temológica em particular ao processo escolhido para o design. Em especial, duas abordagens teóricas distintas podem ser verificadas: a empirista e a interacionista. Essas duas vertentes têm compreensões diferentes sobre a forma como o conhecimento é adquirido pelo sujeito. Na concepção empirista acredita-se que as bases do conhecimento estão nos objetos. O conhecimento é algo que precisa ser passado, sendo adquirido pelos sentidos e dessa forma impresso na mente do sujeito. O empirismo consiste numa concepção que valoriza as relações hierárquicas. O docente que tem como base essa concepção acredita que a transmissão de conhecimento é o que garante a aprendizagem e o bom desempenho do ensino. Assim, o aluno é entendido como uma “tábula rasa”, em termos de conhecimento, como se a aprendizagem fosse algo de fora, externo ao sujeito. Nesse processo o aluno é passivo e o professor é ativo, na relação pedagógica o papel do professor é o de transmitir e o do aluno o de receber essa transmissão. Essa concepção encontra apoio na psicologia compor- tamentalista, no associacionismo, no behaviorismo e no neobehaviorismo (SCHLEMMER, 2005). Na concepção interacionista acredita-se que o conhecimento ocorre num processo de interação entre sujeito e objeto de conhecimento, entre um in- divíduo e seu meio físico e social. Para Becker (1993, p.122) o interacionismo Telepresença 18 assume a linguagem, a experiência e a ação do educando, sendo que o co- nhecimento não está nem no sujeito, nem no objeto, mas sim na interação, dando-se a real importância da ação do sujeito no seu próprio processo de aprendizagem. O autor ainda diz que: “a aprendizagem do aluno só acon- tece na medida em que este age sobre os conteúdos específicos e age na medida em que possui estruturas próprias, previamente construídas ou em construção.” Para que o processo de construção do conhecimento ocorra, há necessi- dade de uma profunda mudança nas relações que se estabelecem entre pro- fessores e alunos, elas passam a ser dinâmicas, com regras estipuladas pelo grupo de alunos e pelo professor podendo ser rompidas e restabelecidas caso se fizer necessário. Nessa concepção o professor oportuniza o acesso às informações, de forma que o sujeito se aproprie e experimente o processo de aprendizagem. O professor assume a função de mediador, de problema- tizador, de instigador, de orientador, de articulador do processo. Deve estar claro para o professor que é a ação do sujeito em interação com o objeto de conhecimento e demais sujeitos que é realmente importante para que a aprendizagem ocorra. Sinteticamente, pode-se distinguir uma da outra, por meio de suas po- tencialidades de interação; a concepção interacionista potencializa uma inte- ração comunicacional, ou seja, com simetria de linguagem, proporcionando ao usuário, fluência, colaboração e cooperação; já na concepção empirista, a condição de interação é restrita à “simples interação” entendida como relação que proporciona ao usuário operar o sistema (BRITAIN; LIBER, 1999). Interação e aprendizagem em AVAs Segundo Primo (1999), a interação é uma “ação entre” os participantes, cujo foco está na relação estabelecida entre os interagentes. A interação ocorre na medida em que o comportamento de um influencia no comporta- mento do outro. A interação também é vista por Freire (2005), como um processo dialó- gico, imprescindível na comunicação e na intercomunicação entre sujeitos, fundamental para a construção da curiosidade epistemológica. A interação pode ocorrer de “um-para-muitos” (possibilitada nos meios de comunicação de massa onde uma mesma mensagem é enviada para todos Ambientes de aprendizagem presenciais e virtuais 19 a partir de um centro de distribuição, como, por exemplo, na TV ou no rádio), de “um-para-um” ou de “muitos-para-muitos” (possibilitada pelas tecnologias digitais virtuais). Primo (2003) propõe o estudo da interação a partir de uma perspectiva sistêmico-relacional, que enfatiza o aspecto relacional da interação e busca valorizar a complexidade do sistema interativo. Para isso busca elementos em Piaget que ao estudar a construção da inteligência, deixa claro que o fator principal não é “nem o indivíduo nem o conjunto de indivíduos, mas a relação entre indivíduos, e uma relação modificando ininterruptamente as consciên- cias individuais elas mesmas” (PIAGET, 1973, p. 167). Fundamentado em Piaget, Bateson (e sua proposição de uma ecologia da mente), Maturana e Varela, Maraschim e Axt (1998) e Primo (2005), propõem ainda que o conhecimento seja conceituado como relação, essa ideia traz uma dessubstancialização do conhecimento. Em que sentido? O conhecimento con- cebido como relação, ou produto da relação, deve ser pensado como atividade e não como faculdade. Não constitui um reservatório estático sem transformação, movimento ou ressignificação, não configura um objeto que se possua ou não. Não pode ser compreendido como matéria, substância. É antes, ação, exercício, atividade, movimento, redes, relações, conexões. Numa abordagem sistêmico-relacional, a partir de um olhar focado no que se passa entre os interagentes, no relacionamento estabelecido, classi- fica a interação em mútua e reativa, dizendo que “a primeira se apresenta como plena e a segunda como fraca e limitada” (PRIMO, 1998, p. 7). Na interação mútua, os interagentes reúnem-se em torno de contínuas problematizações e o processo é constantemente construído por meio de negociações realizadas por eles. O sistema por ser aberto, tem um fluxo dinâ- mico receptivo ao contexto, a evolução e ao desenvolvimento. As ações são interdependentes, influenciam o comportamento do outro, e tem seu com- portamento influenciado. A cada evento comunicativo a relação se transfor- ma, o throughput4 se dá pelo confronto da mensagem recebida com a com- plexidade cognitiva do interagente. O throughput afeta o input de forma que o output jamais pode ser totalmen- te previsto, pois leva em conta uma complexidade global de comportamentos. A interação mútua é um constante vir a ser, que se atualiza por meio das ações de um interagente em relação à(s) do(s) outro(s). Ou seja, a interação não é 4 O que ocorre entre o input e o output. Telepresença 20 mera somatória de ações individuais. Um exemplo de interação mútua é um debate que ocorre num fórum de um Ambiente Virtual de Aprendizagem. A própria relação entre os interagentes é um problema que motiva uma constante nego- ciação. Cada ação expressa tem um impacto recursivo sobre a relação e sobre o compor- tamento dos interagentes. [...] Enquanto a interação mútua se desenvolve em virtude da negociação relacional durante o processo, a interação reativa depende da previsibilidadee da automatização nas trocas. Uma interação reativa pode repetir-se infinitamente numa mesma troca: sempre os mesmos outputs para os mesmos inputs. (PRIMO, 2003, p. 11) A interação reativa acontece baseada na ação-reação, estímulo-resposta. Assim, o sistema por ser fechado não percebe o contexto, as noções de reali- dade, os processos significativos ou interpretativos. A interação é baseada no estímulo-resposta, relação causal e ação e reação. Por não efetuar trocas com o ambiente o sistema não evolui, apresenta relações lineares e unilaterais. O reagente tem pouca ou nenhuma condição de alterar o agente, há sequência definida de acontecimentos sucessivos – demasiado determinístico, de pouca liberdade criativa. O throughput é mero reflexo ou automatismo-mecânico. Silva (1999) apud Aires e Ern (2002, p. 81) diz que há algumas singularida- des ou prerrogativas que possibilitam dizer que um produto, uma comuni- cação, um equipamento ou uma obra são interativos, quer seja imbuídos de uma concepção que contemple “complexidade, multiplicidade, não-lineari- dade, bidirecionalidade, potencialidade, permutabilidade (princípio combi- natório), imprevisibilidade etc. permitindo ao usuário a liberdade de partici- pação, de intervenção”. Primo (1999) diz que um sistema interativo deve dar total autonomia ao usuário. Segundo ele os sistemas que apresentam “interação mútua” se in- terfaceiam virtualmente, de forma que uma interface totalmente interativa é aquela que trabalha na virtualidade, possibilitando a ocorrência da proble- mática e viabilizando atualizações. Quanto mais uma interface permitir inte- ratividade, mais contribuirá para a construção do conhecimento. Modelos de avaliação em AVAs Atualmente, há uma proliferação de AVAs disponíveis ao “mercado educa- cional”, tanto desenvolvidos por empresas privadas, quanto por instituições educacionais, entre eles softwares proprietários e softwares livres. No entanto, quando uma instituição ou empresa decide fazer uso de um AVA, quais são as preocupações, os critérios que permeiam essa escolha? Ambientes de aprendizagem presenciais e virtuais 21 Para nos ajudar nessa escolha podemos recorrer a modelos de avaliação de AVAs. Nesse contexto destacam-se: o modelo Conversational Framework, proposto por Laurillard (1993), Dearing Report (1997), Crawley (1999) apud Britain e Liber (1999) e o modelo Viable Systems Model – VSM proposto por Beer (1981) e adaptado para o contexto educacional por Líber (1998, apud BRITAIN; LIBER, 1999). Os dois modelos são complementares de muitas ma- neiras, tendo diferentes escopos e orientação. Muitas avaliações comparativas de AVAs têm sido realizadas, porém, a maior parte delas utiliza-se de critérios um tanto reducionistas, sendo em sua maio- ria baseados no número de características técnicas que o sistema apresenta. Enquanto outras apresentam alguma preocupação com o aspecto didático- pedagógico e também com o administrativo (SCHLEMMER; FAGUNDES, 2001). Um olhar complementar mais abrangente e sistêmico pode ser proposto para a análise desses ambientes, incluindo a concepção epistemológica sobre o qual foi desenvolvido, a funcionalidade, a usabilidade e a avaliação do siste- ma, sobretudo no contexto humano ou sistemas organizacionais dentro dos quais ele se insere. Não basta apenas saber quais são as características principais de um siste- ma, mas como elas são integradas para facilitar a aprendizagem e a adminis- tração e que metáforas são construídas para guiar o modo como o sistema é usado. É necessário um olhar mais holístico sobre a avaliação, que nos permi- ta conhecer sobre que princípios educacionais os sistemas foram desenha- dos e quão bem os educadores e aprendizes podem utilizar seus recursos e ampliá-los (ser coautores do sistema). Assim, em função da identificação de outras perspectivas compreendidas como fundamentais num processo de avaliação de AVAs, os modelos cita- dos anteriormente foram sendo aperfeiçoados e ampliados, dando origem a novos modelos, tais como o “Modelo interacionista/construtivista/sistêmico” proposto por Schlemmer e Fagundes (2001) e Schlemmer (2002). Esse modelo toma como referência os modelos descritos por Britain e Liber (1999), (Conversational Framework e Viable Systems Model – VSM) e o contraste entre o paradigma que norteia o processo educacional, numa cul- tura de ensino fundamentada numa sociedade industrial e o paradigma da cultura da aprendizagem, impulsionado pela Sociedade em Rede, expostos por Schlemmer (2002). Esse modelo de avaliação é construído a partir do pa- radigma da sociedade em rede, nas seguintes perspectivas: técnica, didático- Telepresença 22 pedagógica, comunicacional-social e administrativa, as quais são brevemen- te detalhadas na sequência: perspectiva técnica – considera as ferramentas disponibilizadas pelo AVA: ferramentas de autoria, de trabalho individual e coletivo, suporte tecnológico e serviços diversos; perspectiva didático-pedagógica – analisa as questões epistemológicas e os paradigmas educacionais que fundamentam a criação de um AVA; perspectiva comunicacional-social – analisa a dinâmica nas interações comunicacionais e sociais que um AVA possibilita; perspectiva administrativa – considera questões referentes à adminis- tração das comunidades dentro do AVA e o papel dos diferentes atores (conceptores de comunidades, articuladores, alunos, secretários etc.). Esse modelo foi tomado como base, para realizar a avaliação de AVAs du- rante a aplicação prática e após essa aplicação, resgatando-se as aprendiza- gens ocorridas num processo de reflexão sobre o modelo. O mesmo modelo foi revisto e ampliado por Schlemmer, Saccol e Garrido (2007) e pode apoiar instituições educacionais e organizações que desejem adquirir ou repensar suas plataformas de software para EAD, considerando múltiplas perspectivas: didático-pedagógica, tecnológica, comunicacional-social e de gestão. Ainda segundo as autoras é importante ressaltar primeiramente que as alterações realizadas no modelo original tiveram como pressuposto torná-lo aplicável a uma situação real de avaliação de AVAs que foi realizada no con- texto de uma equipe interdisciplinar composta por educadores, gestores e profissionais da área de Informática. As alterações visaram às perspectivas e respectivas questões, para que pu- dessem ser avaliadas não em blocos isolados por profissionais específicos, por exemplo: a perspectiva pedagógica avaliada somente por uma equipe de educadores/pedagogos ou a perspectiva técnica considerada somente por técnicos, mas sim, que a equipe interdisciplinar pudesse avaliar todas as questões ao mesmo tempo, enriquecendo ainda mais a análise dos AVAs. Esse entendimento é essencial e tem como base o paradigma da comple- xidade, e não uma visão cartesiana do conhecimento. Tomando como base o modelo original, a partir da experiência de aplicação prática do modelo e também da reflexão após essa aplicação por parte dos pesquisadores envol- Ambientes de aprendizagem presenciais e virtuais 23 vidos no processo, propõe-se um novo modelo, que comporta as modifica- ções e expansões descritas na sequência, de acordo com cada perspectiva diferente. Aos elementos já considerados, pela perspectiva técnica no modelo ori- ginal, foi agregado um bloco de questões a serem avaliadas que dizem res- peito à adequação geral e usabilidade do sistema, no qual se procura avaliar o ambiente especialmente do ponto de vista da adequação às atividades de apoio à educação presencial física e a EAD (Blended Learning; b-Learning e totalmente a distância). Também se avalia a facilidade de uso (amigabilidade) e personalização. Essa extensão do modelo é baseada em estudos provenientes da área de Sistemas de Informação (DAVIS et al., 1989; FERREIRA; LEITE, 2002, apud SCHLEMMER, SACCOL; GARRIDO, 2007). Também foi incorporada a avaliação de diferentes ferramentas, algumas delas até então não disponíveis ou pouco utilizadasna época de concepção do modelo original (2001-2002), como, por exemplo, chat com voz. A abran- gência de ferramentas avaliadas pelo modelo atual visa identificar, ainda mais claramente, qual a concepção epistemológica que sustenta a criação de um AVA. Esse novo escopo do modelo potencializa o seu uso por diferentes instituições e diferentes propósitos de adoção de um AVA. Da mesma forma, as questões que estavam sob a perspectiva comunica- cional-social do modelo original foram fundidas à anterior – perspectiva téc- nica, uma vez que ambas as perspectivas estão estreitamente interligadas de acordo com as possibilidades que o sistema oferece em termos de comunica- ção e interação social. Da mesma forma, no modelo original as questões da perspectiva comuni- cacional-social eram muito longas e possuíam alto grau de abstração. Logo, elas foram reescritas visando permitir a sua avaliação por uma equipe inter- disciplinar de avaliadores, não somente acadêmicos, mas profissionais das áreas de Gestão e Informática, por exemplo. Segundo Schlemmer, Saccol e Garrido (2007), a fusão entre os elementos tecnológicos e comunicacionais/sociais está fundamentada em uma pers- pectiva de construção social da tecnologia. De acordo com essa perspectiva, não é possível separar totalmente os elementos sociais e tecnológicos, uma vez que toda tecnologia é uma construção social. Telepresença 24 Considerando que um AVA é uma tecnologia que visa possibilitar comu- nicação e interação, torna-se ainda mais difícil separar esses elementos. Com essa fusão, que aproxima a tecnologia, considerada como modo de fazer coisas e comunicação/interação social, denomina-se esse novo bloco de questões como pertencendo a uma perspectiva tecnológica e comunicacional/social. Questões puramente de cunho técnico que não referentes às funcionali- dades do AVA em si (manutenção técnica, configuração de microcomputador necessária para rodar o sistema etc.) foram incorporadas a uma nova pers- pectiva proposta, denominada de perspectiva de gestão, que envolve ques- tões relacionadas à gestão da tecnologia por parte dos administradores da instituição de ensino. Na perspectiva didático-pedagógica, algumas questões propostas pelo modelo original exigiam um elevado grau de aprofundamento teórico na área da Educação para que pudessem ser avaliadas. Sua linguagem foi sim- plificada e elas foram reelaboradas visando permitir que uma equipe inter- disciplinar de avaliadores (não só educadores ou pedagogos, mas também alunos, técnicos, gestores) também pudessem identificar os elementos didá- tico-pedagógicos com clareza. Além disso, expandiu-se o bloco de questões que foca a avaliação do processo de ensino e de aprendizagem. Como já foi mencionada, além da mudança nessas perspectivas, uma nova perspectiva foi incorporada ao modelo: a perspectiva de gestão. Essa pers- pectiva envolve questões de cunho administrativo, relacionadas ao custo, ao processo de compra e de manutenção futura da ferramenta na instituição de ensino. Ela possui um viés bastante pragmático, baseado na ideia de cálculo do custo total de propriedade do software (TCO – Total Cost of Ownership) visando ponderar, além dos custos totais, também a reputação e a relação com o fornecedor do software, a futura atualização de versões e o contrato que estão implicados. Para Schlemmer, Saccol e Garrido (2007), essa perspectiva é fundamen- tada na área de gestão da Tecnologia de Informação, tomando como base referências voltadas para a escolha de pacotes de software, tais como Tonini (2003) e Escouto e Schilling (2003) e também sobre qualidade de software (VIDAL, 2005), além de referências clássicas na área de gestão da informação (O’BRIEN, 2003). Ambientes de aprendizagem presenciais e virtuais 25 Cabe ressaltar que a perspectiva de gestão do novo modelo precisa ser distinguida da perspectiva administrativa constante no modelo original, uma vez que esta dizia respeito à gestão dentro do ambiente, nas atividades edu- cacionais, comunidades etc. e não às questões de gestão da tecnologia da informação que são importantes para os gestores da instituição de ensino. Por meio deste estudo, o modelo proposto por Schlemmer e Fagundes (2001) foi revisto e expandido com base em uma aplicação prática realizada numa instituição de ensino superior. O trabalho da equipe interdisciplinar da instituição (educadores, gestores e profissionais de informática) incorporou novos elementos e fundiram outros, tornando o modelo ainda mais robusto e de fácil aplicação, capaz de comportar diferentes olhares sobre os funda- mentos teóricos e funcionalidades que um AVA pode oferecer. É importante ressaltar que na medida em que as tecnologias evoluem e novas ferramentas e possibilidades de EAD vão surgindo, essas ferramentas e inovações precisam ser consideradas pelo modelo. Um exemplo disso é a possibilidade de se utilizar os AVAs avaliados no contexto do mais recente patamar de aplicação de tecnologias para EAD, seja qual for a Aprendizagem com Mobilidade (Mobile Learning ou M-learning). Segundo Sharples (2000) apud Schlemmer, Saccol e Garrido (2007), M-learning se refere a processos de aprendizagem que ocorrem, necessaria- mente, apoiados pelo uso de tecnologias móveis e sem fio5, que têm como característica fundamental a mobilidade de atores humanos, que podem estar fisicamente/geograficamente distantes de outros atores e também de espaços físicos formais de educação, tais como salas de aula, salas de treina- mento ou locais de trabalho. Contudo, o novo modelo, por ser bastante abrangente, pode ser útil a di- versas instituições de ensino e organizações que necessitem avaliar AVAs, seja para programas de educação formal, seja para programas eminentemente pro- fissionalizantes e de educação corporativa. Pode oferecer suporte a gestores e educadores no processo decisório pela escolha de um software que sirva como plataforma para a Educação a Distância (EAD) nesses diferentes contextos. 5 Compreendem ferramentas de tecnologia da informação e comunicação que permitem o acesso a dados e a comunicação pessoal de forma móvel, via acesso a redes sem fio. Exemplos: telefone celular (2,5G ou 3G), Palmtops, Telefones inteligentes, PDAs ou laptops habilitados à conexão com redes sem fio, assim como aplicações de RFID (Radio Frequency Identification) (SACCOL; REINHARD, 2005). Telepresença 26 Texto complementar Sloodle: União entre o Moodle e o Second Life? (BRITO, 2008) Usar ambientes virtuais para prover educação on-line é uma das últimas tendências na educação a distância. Um dos problemas associados a esse tipo de ambiente é a falta de integração com um robusto LMS, para que seja possível integrar as atividades síncronas e assíncronas. Como a inte- ração em ambientes virtuais é realizada de maneira síncrona, na maioria das vezes, o professor acaba tendo que estar sempre presente nas intera- ções. Mas e se fosse possível integrar o Moodle com o Second Life? Essa é a proposta do projeto Sloodle, que está desenvolvendo um módulo especial que fará a integração entre o ambiente do Second Life e do Moodle. Isso seria fantástico para a administração e planejamento das interações dos alunos. Pela descrição existente no web site do projeto é possível ter uma ideia sobre como essa integração acontece. Imagine um aluno que participa de um curso, participando de uma palestra virtual no Second Life, fazen- do perguntas e interagindo com o palestrante e os outros colegas. Tudo isso via chat. Com a integração dos sistemas, esse tipo de registro pode fazer parte dos logs de uma disciplina/curso no Moodle, para que o tutor possa avaliar e acompanhar o aluno. Além do registro das atividades do Second Life no Moodle é possível transformar algumas atividades do Moodle, como os blocos, em elementos virtuais do Second Life. Isso traz um novo nível de interação, para as pes- soas que acham o ambiente do Moodle um pouco monótono. Aqui temos quelevar em consideração que muitas das coisas do Second Life são pagas, então a instituição de ensino ou empresa que estiver disposta a investir nesse tipo de iniciativa, deve se preparar para ter um investimento extra. Mesmo que a sua instituição de ensino não tenha pretensões de investir em ambientes 3D, fazer uma visita ao web site do projeto é interessante. Até porque ele é construído na plataforma Moodle, de maneira seme- lhante a um curso. Ambientes de aprendizagem presenciais e virtuais 27 Como o futuro da Educação a Distância pode estar nesses ambientes de realidade virtual, esse tipo de iniciativa pioneira pode nos preparar para algo que pensávamos estar ainda muito distante. Se você trabalha com o Moodle vale muito a pena a visita ao Sloodle. Nota: O nome Sloodle é um acrônimo modificado do Moodle para Second Life Ob- ject-Oriented Distribued Learning Environment. Atividades 1. Que aproximações e distanciamentos podem ser identificados no con- texto dos ambientes presenciais físicos de aprendizagem e Ambientes Virtuais de Aprendizagem? Telepresença 28 2. Que relações você identifica entre formas e níveis de interação e a aprendizagem? Comente. Ambientes de aprendizagem presenciais e virtuais 29 Dicas de estudo BARBOSA, Rommel Melgaço (Org.). Ambientes Virtuais de Aprendi- zagem. Porto Alegre, 2005. A criação e o uso de Ambientes Virtuais de Aprendizagem têm crescido muito no Brasil nesses últimos anos. Têm sido cada vez mais utilizadas ferramentas como chats, listas de discussão e fóruns para o auxílio em cursos presenciais e a distância, bem como para a criação e gerencia- mento de comunidades virtuais. Esta obra reúne artigos de professo- res/pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento e de diversas universidades do Brasil, que vêm utilizando com sucesso Ambientes Virtuais de Aprendizagem. VALENTINI, Carla Beatris; SOARES, Eliana Maria do Sacramento (Org.) Ambientes Virtuais de Aprendizagem: compartilhando ideias e cons- truindo cenários. Caxias do Sul: Editora da UCS - EDUCS, 2005. Em cada capítulo desse livro o leitor encontrará definições claras e pro- postas que incluem repensar o tradicional para gerar transformações. Que se tornam agora viáveis, porque dispomos de uma tecnologia que enriquece os ambientes, facilita a contextualização dos conceitos e a comunicação amplamente interativa. Metodologia e mediação pedagógica em AVAs Concepções e metodologias Toda metodologia desenvolvida no âmbito do processo educativo é per- passada por uma concepção epistemológica, ou seja, por uma crença sobre como se origina o conhecimento e sobre como o sujeito aprende. Essa me- todologia se traduz nas práticas e processos de mediação pedagógica que serão desenvolvidas. No quadro abaixo podemos visualizar os modelos pe- dagógicos e modelos epistemológicos segundo Becker (1997): Quadro 1 – Modelos pedagógicos e modelos epistemológicos – a mediação da psicologia Epistemologia Psicologia Metodologia (B EC KE R, 1 99 7, a pu d SC H LE M M ER , 2 00 5) Modelo Teoria Modelo Teoria Modelo Teoria S⇒O Apriorista I⇒MA Gestal A⇒P Não-diretiva S⇐O Empirista I⇐MA Behaviorismo A⇐P Diretiva S⇔O Interacionista I⇔MA Genética e Sócio-histórica A⇔P Relacional Onde: S O I MA A P Sujeito Objeto Indivíduo Meio ambiente Aluno Professor Essas concepções apresentam compreensões diferenciadas sobre a aqui- sição do conhecimento e se expressam nas metodologias que guiam as prá- ticas e processos de mediação pedagógica desenvolvidas pelos professores, conforme explicitado a seguir: Telepresença 32 Concepção apriorista Acredita-se que o conhecimento está a priori, ou seja, que a origem do conhecimento está no próprio sujeito, sendo que as estruturas de conheci- mento já vêm programadas na bagagem hereditária de forma inata ou sub- metidas ao processo de maturação (SCHLEMMER, 2005). O professor que tem como base essa concepção acredita que as condições de possibilidade do conhecimento são dadas na bagagem hereditária, são predeterminadas ou a priori, como se a bagagem estivesse situada apenas como um pré-requisito e não como uma instância de interação com o meio. O conhecimento é entendido como algo exclusivo do sujeito, de forma que o meio não participa dele. O conhecimento parece ser algo que precisa ser des- pertado no aluno, como se ele já estivesse ali, mas faltou a ocasião certa para esse conhecimento manifestar-se. Dessa concepção surgem as metodologias do tipo “le se faire”, onde todo o processo depende do aluno e praticamente inexiste a mediação pedagógica, por se acreditar que isso possa atrapalhar o sujeito no seu processo de conhecer. Concepção empirista As bases do conhecimento estão nos objetos, o conhecimento é algo que precisa ser passado, sendo adquirido pelos sentidos e dessa forma impresso na mente do sujeito. O empirismo consiste numa concepção que valoriza as relações hierárquicas. O docente que tem como base essa concepção acredita que a transmissão de conhecimento é o que garante a aprendizagem e o bom desempenho do ensino. Assim, o aluno é entendido como uma “tábula rasa”, em termos de conhecimento, como se a aprendizagem fosse algo de fora, ex- terno ao sujeito. Nesse processo o aluno é passivo e o professor é ativo. Na relação pedagógica o papel do professor é o de transmitir e o do aluno o de receber essa transmissão. Essa concepção encontra apoio na psicologia comportamentalista, no associacionismo, no behaviorismo e no neobehavio- rismo e, sobre a qual está estruturado praticamente todo o nosso sistema de ensino. Dessa concepção surgem metodologias como a aula expositiva, exer- cício de repetição do tipo treinamento, onde a mediação pedagógica muitas vezes se resume a reforços positivos e/ou negativos, correções de exercícios, aplicação de testes e provas, cuja avaliação é pontual, classificatória, usada como premiação ou punição. Metodologia e mediação pedagógica em AVAs 33 Concepção interacionista O conhecimento ocorre num processo de interação entre sujeito e objeto de conhecimento, entre um indivíduo e seu meio físico e social. Segundo Becker (1993) o interacionismo assume a linguagem, a experiência e a ação do educando, sendo que o conhecimento não está nem no sujeito, nem no objeto, mas sim na interação, dando-se a real importância da ação do sujeito no seu próprio processo de aprendizagem. Becker (1993, p.122), diz que: “a aprendizagem do aluno só acontece na medida em que este age sobre os conteúdos específicos e age na medida em que possui estruturas próprias, previamente construídas ou em construção.” Para que o processo de construção do conhecimento ocorra, há necessi- dade de uma profunda mudança nas relações que se estabelecem entre pro- fessores e alunos, elas passam a ser dinâmicas, com regras estipuladas pelo grupo de alunos e pelo professor podendo ser rompidas e restabelecidas caso se fizer necessário. Nessa concepção o professor oportuniza o acesso às informações, de forma que o sujeito se aproprie do conhecimento e expe- rimente o processo de aprendizagem, tendo a postura de alguém que seja mediador, problematizador, instigador, orientador e articulador do processo. Ela se materializa em metodologias como projetos de aprendizagem, casos, desafios/problemas, entre outras, onde a avaliação é continuada e formativa, com o objetivo de corrigir rumos e apontar caminhos. Deve estar claro para o professor que é a ação e interação do sujeito que realmente importa no processo de aprendizagem. Becker (1993) apud Schlemmer (2005) nos diz que não basta ter nascido para ser sujeito de conhecimento como nos mostra os aprioristas, pois um corpo sim é dado por hereditariedade, mas um sujeito é construído passo a passo, por força da ação própria, ação no espaço e no tempo. Ação sobre o meio social econômico, cultural, mas nunca uma ação no vazio. Por outro lado, o meio, por si só não se constitui num “estímulo”, de forma que o sujeitopor si só, não se constitui “sujeito” sem que haja a mediação do meio físico e social. Portanto esse é um processo de interação entre o mundo do sujeito e o mundo do objeto (interação) ativada pela ação do sujeito. A concepção epistemológica explicita a compreensão que se tem de como os sujeitos conhecem/aprendem. É sobre ela que estão fundamenta- das as metodologias que se traduzem nas práticas pedagógicas e nos proces- sos de mediação que serão possíveis desenvolver com o uso das tecnologias Telepresença 34 digitais. Assim, o entendimento que temos sobre o processo educativo, as relações entre o ensino e a aprendizagem, orientam as escolhas tecnológicas de forma que o seu uso suporte as práticas pedagógicas e os processos de mediação condizentes com a concepção epistemológica orientadora. Com relação ao uso de tecnologias digitais no processo educacional, quando falamos em concepção empirista, falamos em instrução programa- da, CBT (instrução assistida pelo Computador), WBT (Treinamento Baseado na Web), WBI (Instrução Baseada na Web) e Ensino a Distância. Essas tecno- logias apresentam a informação em seções breves, testam o estudante após cada seção e fornecem feedback imediato para as respostas dos estudantes. Nesse sentido o computador é visto como máquina de ensinar. Quando falamos em concepção interacionista, falamos em Ambientes Vir- tuais de Aprendizagem, comunidades virtuais de aprendizagem, espaços nos quais os sujeitos podem interagir e construir conhecimento. Nesse sentido o computador é visto como meio para o desenvolvimento cognitivo. Metodologias interacionistas-construtivistas- -sistêmicas As metodologias classificadas como interacionistas-construtivistas-sistê- micas, são consideradas interacionista no sentido que reconhece que sujeito e objeto de conhecimento são organismos vivos, ativos, abertos, em cons- tante troca com o meio ambiente através de processos interativos indissoci- áveis e modificadores das relações, a partir dos quais os sujeitos em relação modificam-se entre si. É construtivista no sentido que o conhecimento é entendido como um pro- cesso em permanente construção, que se transforma na interação do sujeito com o mundo a partir da ação do sujeito sobre o objeto de conhecimento. É sistêmica no sentido que o processo de conhecimento é compreendido como sendo um todo integrado cujas propriedades fundamentais têm sua origem nas relações entre suas partes. Constituído de sub-sistemas que se inter-relacionam formando uma rede em que estes estão interligados e são interdependentes. Nesse contexto é possível citar as seguintes metodologias e ações: Metodologia e mediação pedagógica em AVAs 35 projetos de aprendizagem – é uma metodologia problematizadora, que se desenvolve a partir da curiosidade e do interesse dos sujeitos da aprendizagem ou grupos, decorrentes dos conflitos e perturbações do próprio estudante. Parte da identificação dúvidas e certezas sobre o problema a ser investigado. Nessa metodologia, os sujeitos identificam e criam critérios de julgamento sobre a relevância do assunto em rela- ção a determinado contexto. Nos projetos de aprendizagem, quem es- colhe o tema a ser investigado são os estudantes e os professores, que nesse contexto, além de serem especialistas, também são aprendizes e passam a ser provocadores da aprendizagem, articuladores da prática e orientadores dos projetos; casos – é uma metodologia proposta para solução de situações reais e/ ou hipotéticas contextualizadas; desafios/problemas – é uma metodologia que envolve a proposição de situações específicas, que propiciem a superação de necessidades e dificuldades pontuais, desenvolvidas de forma individual e/ou coletiva; oficinas – é uma metodologia para aprofundamento de necessidades específicas identificadas no processo educativo e surgidas no decorrer do desenvolvimento dos projetos/casos/desafios etc; seminários – é uma metodologia em que os sujeitos envolvidos no processo apresentam e discutem cientificamente investigações ou experimentos realizados; workshops – é uma metodologia que propicia aos sujeitos envolvidos no processo trabalhar sobre um determinado tema, numa determina- da área do conhecimento, de forma que todos os participantes pos- sam, de alguma forma, contribuir. Essas metodologias, entre outras, possibilitam a interatividade e a pro- blematização e envolvem processos de pesquisa, manipulação, descoberta, exploração, experimentação e criação. Propiciam o respeito ao ritmo de de- senvolvimento do sujeito, o entendimento da aprendizagem como signifi- cação interna do sujeito, a partir da sua ação e interação no sentido de esta- belecer relações entre o conhecimento anterior e o novo, num processo de construção do conhecimento de forma coletiva e dialogada. Telepresença 36 O objetivo é aprender a pensar, aprender a fazer perguntas, aprender a aprender, aprender a ser e aprender a conviver, possibilitando a atividade do sujeito, a autoria, o desenvolvimento da autonomia e o trabalho colaborativo e cooperativo, gerando respeito mútuo e solidariedade interna. Os processos de cooperação constituem-se a partir do objetivo em comum, do estabeleci- mento de relações entre pontos de vista diferentes – articulação dos conhe- cimentos, da construção de escala comum de valores resultando em chaves para a cooperação, da conservação da escala de valores e da reciprocidade na interação. Essas metodologias são baseadas no pressuposto da atividade cooperati- va, que possibilita um processo de ação-reflexão continuados dos sujeitos da aprendizagem. Inclui e incentiva o trabalho interdisciplinar e transdisciplinar, oportunizando o desenvolvimento do pensamento e da autonomia por meio de trocas intelectuais, sociais, culturais e políticas, e favorece a tomada de consciência da aprendizagem. Os professores além de serem especialistas, têm a função de orientador, de articulador e de problematizador. Isso implica participação, fomento à discussão, acompanhamento e análise da constru- ção do conhecimento por meio da participação coletiva e individualizada (SCHLEMMER, Eliane et al., 2001; 2002). Projetos de aprendizagem e Identificação e resolução de problemas O desenvolvimento da metodologia de projetos de aprendizagem base- ado em problemas consiste ela mesma num projeto de aprendizagem que pressupõe vivência metodológica daquele que deseja utilizá-la em sua prá- tica docente. Não há passos definidos a serem seguidos, mas sim uma base conceitual epistemológica que a sustenta. A metodologia de projetos de aprendizagem pode ser desenvolvida a partir de uma plataforma temática ou plataforma livre. Ambos os processos partem de uma decisão coletiva entre alunos e professores, a partir de uma discussão inicial que considera desejos, necessidades, atualidades e caracte- rísticas da área de conhecimento em questão e propósitos a serem persegui- dos (SCHLEMMER, 2005). Inicialmente, define-se em conjunto, professor e aluno, a natureza dos pro- jetos de aprendizagem, ou seja, por plataforma temática ou plataforma livre. Metodologia e mediação pedagógica em AVAs 37 A partir daí pode-se iniciar dependendo da natureza definida, uma discus- são livre, orientada por texto, áudio, vídeo, relato de experiência, depoimen- to de vida, entre outros. Durante a discussão, realiza-se com os estudantes um levantamento das dúvidas temporárias e das certezas provisórias. Porque dúvidas temporárias e certezas provisórias? Uma dúvida pode se transfor- mar numa certeza? Uma certeza pode se transformar numa dúvida? O que é dúvida para um pode ser certeza para outro e vice-versa? Esse processo pode ser registrado para uma melhor visualização e posteriormente guiar o desenvolvimento dos projetos. Para desenvolver o projeto de aprendizagem é fundamental: realizar com os estudantes um levantamento das dúvidas temporárias e das certezas provisórias; definir o(s) problema(s) a ser(em) investigado(s) e critériosde julga- mento sobre relevância em relação a determinado contexto; organizar os grupos de acordo com o interesse no assunto (problema(s)); criar e desenvolver um planejamento do projeto de forma cooperativa que compreenda: levantar as hipóteses; buscar/localizar/selecionar/recolher informações; definir/escolher/criar procedimentos para testar a relevância das in- formações escolhidas em relação aos problemas e às questões for- muladas; avaliar a qualidade da própria produção (durante o processo). organizar e comunicar o conhecimento construído através de apresen- tações sistemáticas – trocas entre grupos diferenciados. Nos projetos de aprendizagem, quem escolhe o tema a ser investigado são os estudantes e os professores. Ele é gerado pelos conflitos, pelas pertur- bações do próprio estudante, num determinado contexto, em seu ambien- te de vida. A questão a ser pesquisada deve ter como ponto de partida a curiosidade, as dúvidas, as indagações do estudante, o desejo e a vontade do aprendiz, pois a motivação é intrínseca, própria do sujeito que aprende. As decisões são heterárquicas e não impostas pelo professor. Telepresença 38 Quando o aprendiz é desafiado a questionar, quando ele se perturba e necessita pensar para expressar suas dúvidas, quando lhe é permitido formular questões que tenham significação para ele, emergindo de sua história de vida, de seus interesses, seus valores e condições pessoais, passa a desenvolver a competência para formular e equacionar problemas. Quem consegue formular com clareza um problema, a ser resolvido, começa a aprender a definir as direções de sua atividade. (FAGUNDES; MAÇADA; SATO, 1999, p. 16) No contexto de projetos de aprendizagem, o professor, além de ser espe- cialista, também é aprendiz e passa a ser ativador da aprendizagem, articula- dor da prática, orientador dos projetos. Buscar a informação em si, não basta. É apenas parte do processo para desenvolver um aspecto dos talentos necessários ao cidadão. Os alunos precisam estabelecer relações entre as informações e gerar conhecimento. Não há interesse em registrar se o aluno retém ou não uma informação, aplicando um teste ou uma “prova” objetiva, por exemplo; porque isso não mostra se ele desenvolveu um talento ou se construiu um conhecimento que não possuía. O que interessa são as operações que o aprendiz possa realizar com estas informações, as coordenações, as inferências possíveis, os argumentos, as demonstrações. Pois, para construir conhecimento, é preciso reestruturar as significações anteriores, produzindo boas diferenciações e integrando ao sistema as novas significações. Esta integração é resultado da atividade de diferentes sistemas lógicos do sujeito, que interagem entre si e com os objetos a assimilar ou com os problemas a resolver. Finalmente, o conhecimento novo é produto de atividade intencional, interatividade cognitiva, interação entre os parceiros pensantes, trocas afetivas, investimento de interesse e valores. (FAGUNDES, MAÇADA; SATO, 1999 p. 24) A metodologia de projetos de aprendizagem favorece a cooperação, a qual se dá por trocas recíprocas e respeito mútuo. Busca-se aprender conteú- dos e aprofundar conceitos por meio de procedimentos que ajudam o sujeito a desenvolver a própria capacidade de continuar aprendendo, num processo construtivo e simultâneo de questionar-se. A avaliação é usada para verificar como o sujeito está pensando, que recursos já utiliza, que relações consegue estabelecer, que operações realiza ou inventa, ou seja, há um acompanha- mento de todo o processo da aprendizagem. A metodologia de identificação e resolução de problemas traz em si uma abordagem problematizadora. A aprendizagem é “provocada” por meio de situações problema, desafios, casos, os quais podem ser desenvolvidos e pro- postos pelo professor e também pelos estudantes. Normalmente as situações problema, desafios e casos estão baseados em situações da vida cotidiana, cuja solução irá exigir dos participantes conhecimentos dos conceitos envol- vidos, processo de discussão, análise, reflexão, sendo necessário mobilizar uma série de competências até que se encontre uma solução. Uma forma de utilizar a abordagem problematizadora é através da “solução coletiva”, ou seja, a partir da situação problema, desafio ou caso proposto, os estudantes, indi- vidualmente ou em pequenos grupos tentam encontrar uma solução para Metodologia e mediação pedagógica em AVAs 39 os mesmos. Após, pode-se realizar uma discussão no grupo maior, tentando desenvolver a “solução coletiva”, a qual será construída, tendo como base as soluções já propostas anteriormente. A Metodologia de identificação e resolução de problemas abrange: apresentação ou construção do problema (caso, pesquisa, vídeo, simu- lação etc.); realização de análise do contexto onde o problema está inserido; organização de ideias e conhecimento prévio do assunto individual- mente ou em pequenos grupos – brainstorming; proposição de “questões de aprendizagem” sobre aspectos do proble- ma através da discussão; análise e definição de como resolver o problema (quais as melhores estratégias); escolha das questões de aprendizagem que serão desenvolvidas pelo grande grupo e as que serão atendidas individualmente; discussão dos recursos necessários para a pesquisa e o local onde po- dem ser encontrados tais recursos; exploração do conhecimento obtido a partir das pesquisas, integrando o novo conhecimento no contexto do problema, gerando novas questões; interpretação dos resultados e formulação da(s) solução(s); avaliação das soluções encontradas; desenvolvimento da “solução coletiva”. Numa abordagem problematizadora é possível utilizar diferentes recur- sos tecnológicos, ou seja, a solução de situações problema; desafios e casos que podem ser construídos utilizando aplicativos genéricos (processador de textos, planilha de cálculo, gerenciador de apresentação), software de auto- ria, softwares específicos, softwares estatísticos, WWW, HTML, linguagens de programação, VRML, serviços disponibilizados pela web 2.0, tais como a cons- trução de blogs, flogs, wikis, flickers, entre outros; dependendo do tipo de situ- ação problema, desafio ou caso que foi proposto. Telepresença 40 Tanto nos projetos de aprendizagem, quanto na identificação e resolução de problemas, a construção do conhecimento ocorre a partir das interações, que são significadas pelo sujeito e nas relações que ele estabelece entre a nova informação e o conhecimento que possui, ocorrendo dessa forma a aprendizagem. Assim, podemos dizer que a aprendizagem possui uma di- mensão que é social, a qual se relacionam as trocas, a colaboração, a coope- ração e uma dimensão individual, que se relaciona a significação e sistemati- zação individual, conforme pode ser visto na figura a seguir. Pesquisa: análise do contexto, busca de referências, visitas, palestras Regula- ção, equilíbrio cognitivo Pertur- bação, desequi- líbrio cognitivo Problema Discussão Figura 1 – Processo de aprendizagem. (S CH LE M M ER e t a l., 2 00 2) Nas propostas metodológicas abordadas anteriormente são fundamen- tais a mediação pedagógica do professor e a possibilidade de interação entre os atores envolvidos. São essas premissas que fazem a diferença na quali- dade de um processo educacional, no qual se prioriza a aprendizagem e a cooperação. Durante a aprendizagem, é necessário um processo de reflexão do próprio sujeito sobre sua ação. O que muitas vezes ocorre é a imposição de uma única lógica responsável por transmitir a informação, em vez de pro- piciar o desenvolvimento lógico de cada um, o qual possibilitaria ao sujeito reconstruir conceitos, estabelecer relações, entender seu próprio processo de aprendizagem, melhorando sua autoestima. Essa preocupação é expressa por Papert (1994, p. 29), para quem “a melhor aprendizagem ocorre quando o aprendiz assume o comando”. Projetos de aprendizageme identificação e resolução de problemas podem ser viabilizados por meio do uso de ambientes tecnológicos baseados da web que permitam a constituição de comunidades virtuais de aprendizagem. Essas Metodologia e mediação pedagógica em AVAs 41 comunidades podem ser formadas por orientadores/articuladores e estudan- tes, caracterizando-se num espaço para partilhar recursos materiais e infor- mações que ambos possuem. Assim, os orientadores/articuladores também aprendem, ao mesmo tempo em que os estudantes atualizam continuamente tanto seus saberes “disciplinares”, ou seja, na disciplina em que são especialis- tas, como desenvolvem e transformam suas práticas pedagógicas. A mediação pedagógica tem o propósito de, por meio de uma relação dialó- gica, buscar compreender o que o sujeito conhece, como ele pensa, auxiliando-o a estabelecer relações entre o que conhece e o que deseja/precisa conhecer, problematizando de forma que o sujeito possa dar sentido e atribuir signifi- cado à nova informação. A mediação pedagógica, assim trabalhada, provoca a aprendizagem, contribui para o desenvolvimento da autonomia intelectual do sujeito levando-os a refletir sobre o que já conhece “certezas provisórias”e o que deseja conhecer “dúvidas temporárias”, a fim de que seja capaz de formular suas próprias questões de aprendizagem, despertando a curiosidade episte- mológica. A mediação pedagógica pode ser assim representada: Mediação pedagógica Problematização sobre o que o sujeito já conhece – ação questionadora que desperta a curiosidade – provocado- ra da aprendizagem Sujeito (conhe- cimento existente) Nova Informação Ação/ interação/reflexão – mobilização do pensamen- to para a aprendizagem Aprendi- zagem – ampliação do conhecimento Figura 2 – Processo de mediação pedagógica. Telepresença 42 A mediação pedagógica competente implica na apropriação, pelo profes- sor, de um saber-fazer que se constitui e se atualiza, permanentemente, em processos de formação continuada, tendo como subsídio a reflexão sobre essa prática num processo dialogado, a partir do estabelecimento de relações entre os saberes advindos dessa prática pedagógica, os saberes das teorias educacio- nais e os saberes da sua vivência/experiência, enquanto sujeito de aprendiza- gem num determinado contexto epistemológico e metodológico. Acompanhamento e avaliação da aprendizagem em AVAs No acompanhamento e avaliação da aprendizagem em AVAs, as formas, as modalidades e os critérios de avaliação devem estar em consonância com as concepções epistemológicas que norteiam as práticas e os processos de mediação pedagógica. A seguir são apresentadas algumas formas de avalia- ção que podem ser consideradas num processo avaliativo utilizando AVAs. Avaliação diagnóstica – realizada no início do processo formativo ou antecedendo-o, tem como objetivo identificar os conhecimentos, as competências e as necessidades dos sujeitos. Esse tipo de avaliação for- nece elementos para a avaliação prognóstica. A avaliação diagnóstica pode ser realizada por meio de entrevistas utilizando comunicadores instantâneos (MSN, Gtalk, Skype, entre outros) e questionários eletrôni- cos (web surveys). Avaliação prognóstica – realizada na sequência da avaliação diagnós- tica, com o objetivo de relacionar os dados coletados na avaliação diag- nóstica com a proposta formativa, a fim de orientar possíveis necessi- dades de ajustes, tanto do programa em relação aos conhecimentos, competências e necessidades atuais dos sujeitos, quanto destes em relação ao processo formativo, além de orientá-los quanto ao processo formativo no qual estarão inseridos. Avaliação formativa – realizada durante o desenvolvimento do pro- cesso formativo, o acompanhamento da aprendizagem pode ser re- alizado tendo como subsídio as diferentes feramenta disponíveis em AVAs, tanto em nível individual, quanto em nível coletivo tais como: diário de aprendizagem ou também denominado diário de bordo, mapa conceitual, ferramentas para interação síncrona (chats, webconferências, entre outras), ferramentas para interação assíncrona (fóruns, correio, Metodologia e mediação pedagógica em AVAs 43 entre outras) e ferramentas para o desenvolvimento de trabalho co- laborativo/cooperativo (resolução de desafios/problemas, casos, de- senvolvimento de projetos de aprendizagem, entre outras). Todas as produções individuais e coletivas, interações síncronas e assíncronas, resolução de desafios/problemas, casos, desenvolvimento de projetos de aprendizagem, autoavaliação, entre outras, compõe o portfólio de atividades em desenvolvimento pelo sujeito. Dessa forma a avaliação ganha caráter processual, continuado e formativo, com a preponde- rância dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos, privilegiando a interação e os procedimentos adotados em termos de qualidade cres- cente no domínio dos conhecimentos envolvidos. Essa avaliação da aprendizagem será realizada pelos professores/orientadores. Além da avaliação do professor/orientador, também é possível propor a autoavaliação do sujeito, objetivando identificar como ele percebe o seu processo de aprendizagem, além de uma avaliação do processo formativo (módulo) durante o seu desenvolvimento, com o objetivo de corrigir rumos e verificar novas tendências insurgidas no processo, para melhor atender às necessidades de formação dos sujeitos. Segundo Laguardia, Portela e Vasconcellos (2007) o acompanhamento e a avaliação por meio do uso de portfólio fornece “pistas” ao sujeito e ao pro- fessor/orientador sobre a aquisição do conhecimento e desenvolvimento de competências previstas no processo formativo. Ele tem um caráter dinâmico e interativo, colaborando para que o sujeito e o professor/orientador atuem conjuntamente na avaliação da aprendizagem. Dochy e Segers (2001) classificam os portfólios em: exemplar – coleção dos melhores e mais representativos trabalhos ou produtos produzidos ao longo de um dado período de tempo; holístico ou de processo – exemplos do desenvolvimento e progresso do aluno; combinado – uma combinação dos dois anteriores; produto – consiste apenas do produto do estudante. Otsuka e Rocha (2002) destacam o uso de tecnologias de agente de inter- face e mineração de dados como recursos empregados para avaliação forma- tiva alternativa. Avaliação somativa – segundo Laguardia, Portela, e Vasconcellos (2007) a avaliação somativa tem função classificatória e é realizada para saber se os sujeitos alcançaram os níveis de aprendizagem desejados. Na avaliação somativa on-line, as técnicas utilizadas são a análise das respostas aos ques- Telepresença 44 tionários de satisfação do sujeito (smile sheets); a comparação entre as res- postas aos testes feitos antes e após o curso; análise de artigos, documentos ou relatórios de trabalhos de campo escritos individualmente ou em grupo; e a autoavaliação, mais comum nas avaliações em ambientes colaborativos e participativos. A partir das opiniões dos sujeitos sobre conteúdos, atividades, atuação do professor-orientador e relevância dos conhecimentos para apli- cação no ambiente de trabalho, dispõe-se de material que orientará as mo- dificações tanto no conteúdo quanto na estratégia pedagógica. Além disso, os resultados obtidos na avaliação refletirão nas atividades relacionadas ao desenho do processo formativo, pois os resultados de um informam as ativi- dades do outro e, desse modo, o desenho e a implementação da educação on-line podem ser continuamente melhorados para atender às necessidades de uma comunidade de aprendizagem em mudança contínua. Embora a ava- liação somativa em ambientes virtuais restrinja-se, na maioria das vezes, à análise da pontuação obtida para aprovação, a disponibilidade de registros digitais das atividades dos sujeitos realizadas ao longo do curso e das ava- liações dos professores-orientadores abre possibilidades para a aplicação de métodos de análise qualitativos. O processo de acompanhamento
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