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GESTÃO ESTRATÉGICA DE RECURSOS HUMANOS Luciano Oliveira de Oliveira Gestão e responsabilidade social Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer a importância da cultura e da gestão no desenvolvimento da responsabilidade social nas organizações. Identificar as áreas de aplicabilidade da responsabilidade social das empresas. Demonstrar como as empresas podem utilizar a responsabilidade social como ferramenta estratégica. Introdução As organizações se desenvolvem de forma contínua, por meio das pessoas e do aprimoramento dos seus processos internos. No entanto, devido à grande evolução da sociedade industrial, acabaram assumindo respon- sabilidades maiores e inesperadas na construção do desenvolvimento econômico e social. Uma delas é a responsabilidade social. Neste capítulo, você vai estudar a respeito da importância de desen- volver a responsabilidade social nas organizações, além de verificar quais são as áreas em que se aplica. Ainda, você vai descobrir como as empresas podem utilizar a responsabilidade social como ferramenta estratégica. Papel da cultura e da gestão no desenvolvimento da responsabilidade social nas organizações De um modo geral, as empresas procuram desenvolver competências di- ferenciadas para concorrer no mercado em que atuam — estimulam ações e investem em áreas que identifi cam como potenciais e que possam trazer alguma vantagem competitiva. Nesse sentido, por meio das competências organizacionais, as empresas buscam aumentar cada vez mais a sua cadeia de valor. Essa cadeia de valor precisa ser mais sistêmica e convergente do que sequencial e linear, devido à abrangência necessária. Com essa nova forma de pensar, surge a responsabilidade social empresarial. Ou seja, a organização precisa estabelecer novos vínculos com o ambiente externo, e isso somente será possível com o desenvolvimento sustentável direcionado ao atendimento das solicitações da sociedade em geral (EON, 2015). Apesar de ser um tema bastante recente, a responsabilidade social exige um comportamento diferenciado das organizações. Empresas que investem em responsabilidade social são reconhecidas como socialmente responsáveis, o que consolida a sua marca e aumenta, por consequência, a fidelização dos seus clientes. Nesse contexto, a cultura organizacional possui um papel relevante na determinação das ações de responsabilidade social. Segundo Ashly (2002, p. 54): Só é possível compreender como as organizações vem concebendo e pon- do em prática sua responsabilidade perante os acionistas, colaboradores, demais stakeholders e a sociedade em geral se levarmos em conta que toda a organização faz parte de um contexto sociocultural mais amplo, o qual determina de modo importante tanto sua atividade quanto o modo pelo qual ela se relacionará com esse ambiente sociocultural. O papel da cultura nas estratégias organizacionais é preponderante na definição dos rumos que a organização vai tomar. A definição de políticas de investimentos terá como base a reflexão e intenção da empresa em tornar-se socialmente responsável. Para saber mais a respeito, acesse o link abaixo, que dá acesso a um artigo em que Juliana Cândido Custódio, Heitor Takashi Kato e Alcione Belache discorrem sobre a relevância da cultura organizacional na determinação das ações e de investimento com foco na responsabilidade social. https://qrgo.page.link/3DXvq A filosofia da responsabilidade social, como você pode ver, deve ser di- fundida em todos os níveis da organização (estratégico, tático e operacional). Assim, a conscientização de todos será efetiva, estruturada e sistêmica. Hoje, o processo de desenvolvimento organizacional está baseado na inovação e Gestão e responsabilidade social2 na criatividade. Esses fatores estão cada vez mais assimilados aos objetivos estratégicos de cada organização. Logo, pensar a organização de forma sus- tentável e saudável gera uma responsabilidade social empresarial abrangente e direcionada ao ambiente ecológico, social e ético. No universo econômico, você encontra o Estado, as empresas, as famílias, o mercado, etc. Esses elementos são considerados agentes econômicos, e cada um representa um composto de responsabilidades mediante a sociedade em geral. A responsabilidade social é praticamente exclusiva do Estado, por conta da força política, social e ética que tem. No entanto, as empresas começaram a ocupar um lugar muito importante nesse cenário, pois, entre outros motivos, são responsáveis pelo uso contínuo de muitos recursos naturais, tecnológicos, financeiros e humanos. É inevitável, assim, que se engaje em ações para a defesa e preservação do meio ambiente, justamente por ser um dos principais agentes econômicos e por alterar todo esse ambiente de forma contínua e indiscriminada. Levando em consideração esses fatores, a responsabilidade social empresarial deve promover o bem-estar da sociedade como um todo, de forma voluntária e sem o auxílio do Estado. A seguir e na Figura 1, você verá com mais detalhes quais são os atores envolvidos no processo de responsabilidade social empresarial. Acionistas e proprietários — a responsabilidade social deve ser apre- sentada aos indivíduos que investiram seu capital na organização, pois o lucro e a percepção do retorno do seu investimento proporcionam bem-estar. Funcionários — o bem-estar dos colaboradores da empresa também devem se manifestar neste contexto. Uma empresa que cuida da saúde de seus funcionários, aplica as leis trabalhistas de forma ética, investe em remunerações justas e garante um bom clima organizacional torna-se uma organização socialmente responsável. Meio ambiente — com a escassez cada vez mais evidente de recursos naturais, empresas responsáveis procuram direcionar suas atenções à proteção do meio ambiente. Consumidores e clientes — proporcionar aos clientes preços justos, propagandas éticas, produtos e serviços de qualidade, sem causar da- nos à saúde e ao bem-estar dos consumidores são ações de empresas responsáveis socialmente. Comunidade — as responsabilidades das empresas se estendem a organizações não governamentais, creches, asilos e hospitais de sua região. 3Gestão e responsabilidade social Fornecedores — a responsabilidade social pode ser disseminada entre empresas e fornecedores, através da honestidade e do sentimento de ganha-ganha, além da interação com fornecedores que incentivam a prática do uso de matérias-primas sustentáveis. Figura 1. Elementos que compõem a responsabilidade social empresarial. Fonte: Parente, Costa e Gelman (2007). A essência da responsabilidade social empresarial é promover o bem-estar interno e externo à organização. Gestão e responsabilidade social4 Áreas de aplicabilidade da responsabilidade social das empresas A responsabilidade social empresarial abrange estratégias de sustentabi- lidade que ultrapassam as fronteiras do desenvolvimento fi nanceiro. Há comprometimento com os efeitos ambientais e sociais que suas atividades podem ocasionar. Assim, pensar em responsabilidade social é pensar de forma indissociável em desenvolvimento econômico, proteção do meio ambiente e coesão social. Confira agora as áreas cujo investimento é necessário para que sejam alcançados os objetivos sociais almejados. 1. Área funcional econômica: demonstra o impacto da contribuição econômica da empresa à sociedade e a seu sistema econômico, em todos os níveis. ■ Disposição de bens e serviços relevantes às pessoas. ■ Criação de novas oportunidades e empregos. ■ Segurança e qualidade de vida no trabalho. ■ Remuneração justa. 2. Área de qualidade de vida: refere-se ao comprometimento da empresa diante da questão ambiental, que influencia diretamente na qualidade de vida da população. Está vinculada ao impacto que causa nos ecos- sistemas, ar, água e solo. ■ Gestão e descarte de resíduos. ■ Reciclagem do lixo. ■ Produção debens de qualidade. ■ Educação ambiental. ■ Utilização racional da água. ■ Projetos de preservação ambiental. 3. Área de investimentos sociais: a empresa utiliza recursos com o ob- jetivo de diminuir desigualdades, discriminações e pobreza. ■ Respeito sobre o equilíbrio entre vida pessoal e profissional de seus colaboradores. ■ Favorecimento da participação dos colaboradores em sindicatos. ■ Oferecimento de educação e formação continuada aos colaboradores. 5Gestão e responsabilidade social ■ Otimização e investimento em projetos educativos, culturais e ar- tísticos da comunidade. ■ Disponibilização de recursos para obras assistenciais. ■ Planejamento de ações de prevenção de doenças e promoção de saúde. 4. Área de solução de problemas: a empresa atua de modo direto com questões sociais, ajudando a identificar e resolver problemas, parti- cipando ativamente do planejamento a longo prazo da comunidade. ■ Combate ao trabalho infantil e ao trabalho forçado. ■ Planejamento da segurança local. ■ Atuação em atividades voltadas à melhoria da saúde da população. ■ Utilização de indicadores de saúde para identificação e tratamento de doenças de seus colaboradores, melhorando sua qualidade de vida e reduzindo o absenteísmo. ■ Condução de estudos voltados à identificação de problemas sociais. Como as empresas podem utilizar a responsabilidade social como ferramenta estratégica? O funcionamento das organizações ocorre a partir de um conjunto de relações entre elementos internos e externos, que constituem uma rede de relaciona- mento fundamental para o desenvolvimento das atividades. A responsabilidade social, então, constitui-se na obrigação da organização de exercer as suas atividades de maneira que contribua com os seus próprios interesses e com os interesses dos diferentes participantes dessa rede de relacionamento. Esses participantes, conhecidos como stakeholders, ou partes interessadas, são indivíduos, organizações ou grupos que, de alguma forma, são influen- ciados pelas ações de uma empresa. O relacionamento transparente e ético entre esses públicos e a definição de metas empresariais de desenvolvimento sustentável são fatores primordiais para o funcionamento satisfatório da orga- nização. Além disso, oferece uma imagem melhor aos clientes e o atendimento das necessidades sociais da comunidade. No contexto do comprometimento com a responsabilidade social, quatro opções estratégicas podem ser adotadas pelas organizações. Veja-as a seguir. Gestão e responsabilidade social6 1. Estratégia acomodativa: diretamente vinculada às responsabilida- des éticas, consiste em fazer apenas o mínimo que pode ser exigido eticamente. Pode, dessa forma, assumir compromissos éticos legais e econômicos. 2. Estratégia defensiva: ligada às responsabilidades legais da organiza- ção, é a realização do mínimo que a legislação exige. Assim, assume somente responsabilidades legais e econômicas. 3. Estratégia obstrutiva: relacionada somente às responsabilidades eco- nômicas da organização. Assim, recusa a participação em demandas sociais, atendo-se apenas às responsabilidades econômicas. 4. Estratégia proativa: refere-se às responsabilidades espontâneas e voluntárias. Assume liderança em iniciativas sociais e encarrega-se, voluntariamente, de responsabilidades éticas, legais e econômicas. Ainda, existem dois conceitos relevantes para o entendimento acerca da responsabilidade social: investimento social privado e social bussiness. In- vestimentos social privado é todo aquele investimento de caráter voluntário que utiliza recursos privados aplicados em projetos sociais, ambientais, cul- turais e científicos de interesse público. Devem ser planejados, monitorados e sistematizados, a fim de garantir a sua continuidade e o seu impacto positivo nas comunidades. A dimensão que esse conceito imprime as organizações vai além dos in- vestimentos. Se, por um lado, as empresas ampliam as suas ações no mercado tendo em vista uma imagem dinâmica e preocupada com o social, por outro, é estimulada pelo Estado por meio de benefícios fiscais, o que minimiza o im- pacto financeiro continuado (ASHLEY, 2002). Três pontos são relevantes aqui: 1. o caráter de planejamento e monitoramento das ações; 2. as estratégias delineadas pautadas em resultados eficientes e eficazes no impacto da transformação social; 3. o envolvimento da comunidade no desenvolvimento das ações. Esses aspectos garantem que essas ações não sejam simplesmente assistencialistas. 7Gestão e responsabilidade social Para saber mais sobre o investimento social privado, acesse o link abaixo, que contém um artigo publicado pela revista Socioambiental que traz aspectos esclarecedores acerca do investimento social privado e dos seus impactos nas relações empresariais e com a comunidade. https://qrgo.page.link/nGNQR O social business, ou negócio social, aproxima-se do conceito de redes sociais, mas podemos entender como premissa o uso das redes de consumi- dores, clientes, fornecedores, parceiros para buscar melhorias na equipe de suporte. Trata-se, portanto, da habilidade ou competência de uma organiza- ção ou empresa em utilizar a sua rede interna e externa para compreender melhor não somente as suas relações, mas os serviços prestados e produtos desenvolvidos. É no envolvimento e sugestões dessa rede que as empresas se adéquam a diferentes realidades, já que esse tipo de ferramenta permite identificar comportamentos e atuar diretamente com base nas mudanças dos consumidores; ainda, apoia a qualificação do seu atendimento em produtos e serviços, trazendo os seus parceiros e a comunidade interna e externa ao debate. No artigo “Social Business: como melhorar a comunicação e a colaboração dentro das empresas”, a autora Francine Bahiense discute o conceito e as suas particularidades, com foco em como pode servir como vantagem competitiva às organizações. Leia-o no link a seguir. https://qrgo.page.link/KbLXy Neste capítulo, você leu a respeito da importância de entender a responsa- bilidade social empresarial e o seu significado para as organizações. Devido ao alto índice de competitividade entre as organizações, as que se destacam são empresas que conseguem ir além do tradicional, além da preocupação interna dos seus processos e recursos. Empresas que ofertam assistências à sociedade, de forma a provocar o bem-estar de todos, tornam-se referência social para a comunidade, criando agregando mais valor aos seus resultados. Gestão e responsabilidade social8 Uma organização sem responsabilidade social pode ser exemplificada pela conduta de dois executivos da empresa norte-americana Beech-Nut. Eles foram presos depois de colocarem no rótulo de caixinhas de suco para crianças a informação de que a bebida era 100% natural. No entanto, os ingredientes eram químicos (SCHERMERHORN; HUNT; OSBORN, 2007). ASHLEY, P. A. Ética e responsabilidade social nos negócios. São Paulo: Saraiva, 2002. EON, F. O que é Responsabilidade Social? 2015. Disponível em: http://www.responsabili- dadesocial.com/o-que-e-responsabilidade-social/. Acesso em: 04 dez. 2016. PARENTE, J.; COSTA, G. P.; GELMAN, J. J. Varejo e responsabilidade social: visão estratégica e praticas no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2007. SCHERMERHORN JR, J. R.; HUNT, J. G.; OSBORN, R. N. Fundamentos de comportamento organizacional. Porto Alegre: Bookman, 2007. Leituras recomendadas CHIAVENATO, I. Administração: teoria, processo e prática. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. 9Gestão e responsabilidade social
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