Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Direitos da personalidade IBMEC 2020 Orlando Gomes: “Os direitos da personalidade são direitos considerados essenciais à pessoa humana, que a doutrina moderna preconiza e disciplina, a fim de resguardar a sua dignidade.” Gustavo Tepedino: “Compreendem-se, sob a denominação de direitos da personalidade, os direitos atinentes à tutela da pessoa humana, considerados essenciais a sua dignidade e integridade.” Titularidade dos direitos da personalidade - A pessoa humana como titular dos direitos da personalidade Enunciado 274 do Conselho da Justiça Federal - Os direitos da personalidade, regulados de maneira não exaustiva pelo Código Civil, são expressões da cláusula geral de tutela da pessoa humana, contida no art. 1º, III, da Constituição (princípio da dignidade da pessoa humana). Em caso de colisão entre eles, como nenhum pode sobrelevar os demais, deve-se aplicar a técnica da ponderação. - Direitos da personalidade e a pessoa jurídica Enunciado 286 do Conselho da Justiça Federal - Os direitos da personalidade são direitos inerentes e essenciais à pessoa humana, decorrentes de sua dignidade, não sendo as pessoas jurídicas titulares de tais direitos. Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade. É certo que a pessoa jurídica é merecedora de tutela pelo ordenamento, todavia, não se pode confundir esta tutela com aquela conferida à personalidade humana, mesmo nas hipóteses em que os interesses da pessoa jurídica apresentem similitude com aspectos da personalidade humana, especialmente em casos referentes à imagem, à honra e ao nome (empresarial). Superior Tribunal de Justiça - Súmula 227 - A pessoa jurídica pode sofrer dano moral. Breve histórico da proteção aos direitos da personalidade no Brasil Após a Segunda Guerra Mundial, a tutela dos direitos de personalidade tomou força em virtude da necessidade de valorização da dignidade da pessoa humana. Neste cenário, ocorreu a disseminação da categoria dos direitos da personalidade nas legislações, com especial destaque aos Códigos Civis italiano e português, passando a ser majoritário o entendimento de que a pessoa humana poderia ser tanto titular de direitos quanto objeto de proteção por parte do ordenamento jurídico. Código Civil de 1916 No Brasil, embora juristas de renome, como Teixeira de Freitas, Pontes de Miranda e Medeiros da Fonseca, já analisassem os direitos da personalidade, apenas nos anos 70, este tema passou a ocupar a atenção de um número maior de juristas, sendo possivelmente uma de suas causas o Anteprojeto Orlando Gomes de 1963, que contemplava em capítulo próprio os direitos da personalidade e destinava em local específico o direito ao nome, e a ausência de um tratamento específico para os direitos da personalidade no Código Civil de 1916. Observação: mesmo que de forma dispersa e implícita, ao longo do Código Civil de 1916, determinados artigos tratavam de bens da personalidade Constituição Federal de 1988 O marco da efetiva proteção dos direitos da personalidade é a Constituição Federal de 1988, visto que nela a dignidade da pessoa humana foi alçada a fundamento do Estado brasileiro (Art. 1º, III) e foram positivados no rol de direitos fundamentais o direito à inviolabilidade da vida privada, intimidade, honra e imagem das pessoas e o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente da violação destes bens (art. 5º, X). CRFB/88 - Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III - a dignidade da pessoa humana; Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal; Código Civil de 2002 - Um dos principais pontos positivos do Código Civil de 2002 foi a tutela dos direitos da personalidade em um capítulo próprio na parte geral, entre os artigos 11 e 21. - Ao tratar da integridade (art. 13), da imagem (art. 20) e da privacidade (art. 21), o legislador parece ter adotado uma postura bastante conservadora que, na atual conjuntura, vem sendo criticada pelos juristas filiados à metodologia civil constitucional. - Pouco diálogo com os novos instrumentos tecnológicos e a liberdade de expressão. Espécies de direitos da personalidade e o seu rol exemplificativo O direito à intimidade (art. 21) O direito à imagem (art. 20) O direito à honra (art. 20) O direito ao nome (arts. 16-19) O direito à vida e ao próprio corpo (arts. 13-15) Classificação dos direitos da personalidade Orlando Gomes utiliza uma classificação bipartite que divide os direitos da personalidade em: A)direitos à integridade física, compreendendo os direitos à vida e sobre o próprio corpo; B)direitos à integridade moral, englobando os direitos à honra, à liberdade, ao recato, à imagem e ao nome. Características dos direitos da personalidade Gerais Absolutos Necessários Vitalícios Essenciais Extrapatrimoniais Inalienáveis Imprescritíveis Intransmissíveis Irrenunciáveis Indisponíveis Francisco Amaral - esses direitos seriam indisponíveis porque não poderiam ser suscetíveis de alienação ou renúncia, mas essa indisponibilidade não seria absoluta, já que são admitidos acordos que têm por objeto esses direitos, como, por exemplo, a cessão de imagem para publicidade, a disposição de órgãos e tecidos para transplante e a venda de cabelo. Enunciado 04 do CJF - O exercício dos direitos da personalidade pode sofrer limitação voluntária, desde que não seja permanente nem geral. Se os direitos da personalidade são indisponíveis, como o seu titular pode participar de reality shows, ceder a sua voz e imagem para uso comercial e praticar esportes de luta violentos? Verifica-se, assim, que esta indisponibilidade não pode ser absoluta. Releitura ... Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária. PROTEÇÃO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei. A tutela inibitória tem como objetivos: (i) impedir a prática de ilícito e (ii) inibir a repetição ou a continuação da prática do ilícito. (Art, 497, CPC) A tutela reparatória - A injusta violação de um direito da personalidade gera por consequência o dever de compensar o dano moral sofrido e o dano patrimonial. COLISÃO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE E AS LIBERDADES FUNDAMENTAIS Limites aos direitos da personalidade Além das exceções previstas no início do artigo do art. 20 do CC/2002, o retrato de uma pessoa pode ser exibido quando justificado, segundo Orlando Gomes, por “sua notoriedade, o cargo que desempenha, exigência de política ou de justiça, finalidades científicas, didáticas ou culturais, ou quando a reprodução da imagem vier enquadrada na de lugares públicos ou de fatos de interesse público, ou que em público haja decorrido”. (Imagem x Liberdade) Critériospara ponderação - Lugar público - Pessoa pública - Interesse público - “(...) o interesse resultante do conjunto dos interesses que os indivíduos pessoalmente têm quando considerados em sua qualidade de membros da Sociedade e pelo simples fato de o serem.”(Celso Antônio Bandeira de Mello. Curso de Direito Administrativo. 18.ed. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 53.) - Interesse jornalístico - Finalidades científicas, didáticas ou culturais Enunciado 279 do Conselho da Justiça Federal – “A proteção à imagem deve ser ponderada com outros interesses constitucionalmente tutelados, especialmente em face do direito de amplo acesso à informação e da liberdade de imprensa. Em caso de colisão, levar-se-á em conta a notoriedade do retratado e dos fatos abordados, bem como a veracidade destes e, ainda, as características de sua utilização (comercial, informativa, biográfica), privilegiando-se medidas que não restrinjam a divulgação de informações.” Parâmetros constitucionais para orientar o intérprete nas hipóteses de colisão entre a liberdade de informação e expressão e os direitos da personalidade i) a veracidade do fato; ii) a licitude do meio empregado na obtenção da informação; iii) a personalidade pública ou estritamente privada da pessoa objeto da notícia; iv) o local do fato; v) a natureza do fato; vi) a existência de interesse público na divulgação em tese; vii) a existência de interesse público na divulgação de fatos relacionados com a atuação de órgãos públicos; e viii) a preferência por sanções a posteriori, que não envolvam a proibição prévia da divulgação. BARROSO, Luís Roberto. Colisão entre Liberdade de Expressão e Direitos da Personalidade. Critérios de Ponderação. Interpretação constitucionalmente adequada do Código Civil e da Lei de Imprensa. Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, n. 235, jan./mar. 2004. Colisão entre Liberdade de Expressão e Direitos da Personalidade. Critérios de Ponderação. Interpretação Constitucionalmente Adequada do Código Civil e da Lei de Imprensa Luis Roberto Barroso http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/article/view/451 23 A liberdade de expressão deve ser colocada em uma posição preferencial? Parte da doutrina de Direito Público afirma que as liberdades de informação e de expressão, por servirem de fundamento para o exercício de outras liberdades e direitos, deveriam desfrutar de uma posição preferencial em relação aos demais direitos fundamentais individualmente considerados. Alega-se que o legislador teria realizado no texto constitucional uma ponderação a priori em favor da liberdade de expressão. Dessa forma, o afastamento da primazia prima facie da liberdade seria exceção e o ônus argumentativo ficaria sob responsabilidade de quem sustentasse o direito oposto. Limitações à liberdade de expressão – CF, Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição. § 1º Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV. § 2º É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística. Supremo Tribunal Federal: Ação Direta de Inconstitucionalidade 4815 e Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 130. Daniel Sarmento: “a posição preferencial envolve o reconhecimento de uma prioridade prima facie das liberdades comunicativas em casos de colisão com outros princípios constitucionais, inclusive os que consagram outros direitos da personalidade. As liberdades de expressão e imprensa não são direitos absolutos, mas, pelo seu elevadíssimo peso na ordem dos valores constitucionais, tendem a prevalecer nos processos ponderativos” Luís Roberto Barroso: preferência por sanções a posteriori, que não envolvam a proibição prévia da divulgação. Fundamentos: 1) historicamente, o Brasil seria marcado por períodos de séria repressão à liberdade de expressão: “o passado condena. A história da liberdade de expressão no Brasil é uma história acidentada. A censura vem de longe”. 2) a liberdade de expressão seria o pressuposto para o exercício de outros direitos fundamentais. Nesse sentido, o próprio desenvolvimento da personalidade humana dependeria da livre circulação de fatos, informações e opiniões, numa visão alargada da cidadania. 3) a liberdade de expressão seria indispensável para o conhecimento da história, o progresso social e o aprendizado das novas gerações. (STF, ADIn 4.815, voto do Min. Luís Roberto Barroso.) ENUNCIADO 613 do Conselho da Justiça Federal – Art. 12: A liberdade de expressão não goza de posição preferencial em relação aos direitos da personalidade no ordenamento jurídico brasileiro. O caso do beijo no estacionamento Publicação não autorizada de imagem em revista de amenidades. Marcos Fábio Prudente (Marcos Pasquim) ajuizou ação indenizatória afirmando que, de forma inexplicável, sem sua autorização ou conhecimento, a revista Quem Acontece teria publicado, em maio de 2006, fotografias suas com intuito malicioso. Outras edições da mesma publicação teriam se referido ao autor por meio de palavras maliciosas, trazendo consequências penosas para seus familiares e abalando seu relacionamento amoroso. Argumentou que as fotografias foram utilizadas para fins lucrativos, pois a revista teria como objetivo aumentar suas vendas. Pleiteou indenização no valor de mil salários- mínimos, a devolução do negativo da fotografia e o término da divulgação das imagens. O caso do beijo no estacionamento “Ator de TV, casado, fotografado em local aberto, sem autorização, beijando mulher que não era sua cônjuge. Publicação em diversas edições de revista de fofocas.” “A existência do ato ilícito, a comprovação dos danos e a obrigação de indenizar foram decididas, nas instâncias ordinárias, com base no conteúdo fático-probatório dos autos.” “Por ser ator de televisão que participou de inúmeras novelas (pessoa pública e/ou notória) e estar em local aberto (estacionamento de veículos), o recorrido possui direito de imagem mais restrito, mas não afastado.” “Na espécie, restou caracterizada a abusividade do uso da imagem do recorrido na reportagem, realizado com nítido propósito de incrementar as vendas da publicação.” “A simples publicação da revista atinge a imagem do recorrido, artista conhecido, até porque a fotografia o retrata beijando mulher que não era sua cônjuge.” (Resp 1.082.878, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJe: 18.11.2008.) O caso do topless DIREITO CIVIL. DIREITO DE IMAGEM. TOPLESS PRATICADO EM CENÁRIO PÚBLICO. Não se pode cometer o delírio de, em nome do direito de privacidade, estabelecer-se uma redoma protetora em torno de uma pessoa para torná-la imune de qualquer veiculação atinente a sua imagem. Se a demandante expõe sua imagem em cenário público, não é ilícita ou indevida sua reprodução pela imprensa, uma vez que a proteção à privacidade encontra limite na própria exposição. (STJ. Recurso Especial nº 595.600. Relator Ministro Cesar Asfor Rocha. Data de Julgamento: 18/03/2004.) - Fato real ocorrido em lugar público. - Publicação em jornal local da imagem sem autorização da retratada.
Compartilhar