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EA D Avaliação em Educação Física na Escola 4 1. OBJETIVOS • Compreender e demonstrar o papel da avaliação da aprendizagem como apoio à melhoria do ensino da Edu- cação Física. • Compreender e discutir a avaliação como momento de diagnóstico da aprendizagem na Educação Física. • Caracterizar o processo de avaliação tendo em vista a es- pecificidade da Educação Física na escola. • Articular, no planejamento (de ensino e de aula), os objetivos, os conteúdos, a abordagem de ensino escolhida e a avaliação. 2. CONTEÚDO • Avaliação da aprendizagem na Educação Física: - Avaliação em Educação Física na perspectiva das três di- mensões: conceituais, procedimentais e atitudinais. © Fundamentos e Métodos do Ensino da Educação Física94 3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia as orientações a seguir: 1) No início desta unidade, você irá se deparar com a defi- nição e discussão da avaliação classificatória, um instru- mento de avaliação muito utilizado no passado e que, provavelmente, tenha participado de sua vida em algum momento. Em razão disso, consideramos pertinente que você realize uma análise dele a partir de sua experiência pessoal; para delinear seu caminho investigativo, sugeri- mos que responda às seguintes questões: 2) Como era realizada essa avaliação? Quais as emoções e resultados suscitados? Essa avaliação é comum no coti- diano das pessoas fora dos muros escolares? 3) Na apresentação da modalidade avaliativa intitulada avaliação formativa, destaca-se uma série de argumen- tos a respeito das suas características e importância, e, diante disso, há de se pensar a possibilidade de aplica- ção dessa modalidade no cotidiano escolar: haveria em- pecilhos para tal implementação? Sugerimos que você realize pesquisas a respeito desse tema na realização de seu estágio. 4) Dentre os instrumentos avaliativos que serão apresen- tados nesta unidade, citamos o uso de portfólios. Como esse instrumento é recente e carrega consigo uma série de peculiaridades, sugerimos que você pesquise algu- mas produções que tratam sobre ele e entenda como os instrumentos avaliativos sugerem a realização e criação de portfólios no ensino. 5) Ao se levar em conta a existência das dimensões proce- dimentais, atitudinais e conceituais em Educação Física, há de se considerar que cada uma delas possui finalida- des e pressupostos diferentes, e, diante disso, sugerimos que você pesquise algumas propostas de avaliação que possam ser utilizadas para dar conta de cada uma dessas dimensões. 95 Claretiano - Centro Universitário © U4 - Avaliação em Educação Física na Escola 6) Ao se referir às propostas dos PCNs para a avaliação em Educação Física Escolar no primeiro e segundo ciclos, este material lança algumas considerações sobre a mu- dança da organização seriada para a organização em ci- clos; essa mudança traz uma série de desdobramentos, dentre os quais citamos a adoção do regime de progres- são continuada, em especial quando da organização em ciclos. Diante disso, consideramos importante que você reflita sobre como se relacionam essas duas organiza- ções com o regime de progressão continuada. 4. INTRODUÇÃO À UNIDADE Chegamos à última unidade de nosso estudo. Durante nos- sa caminhada, conversamos sobre os significados e sentidos da educação segundo algumas concepções, vimos os conteúdos da Educação Física nas três dimensões (conceituais, procedimentais e atitudinais), na escola básica, e a Cultura Corporal de Movimento, entre outros temas essenciais para nossa formação e compreensão dos fundamentos e métodos que norteiam o ensino da Educação Física. Na unidade anterior, apresentamos algumas abordagens de ensino correntes nessa área, tendo a possibilidade de analisá-las e discuti-las. Agora, para o fechamento deste estudo, analisaremos a avaliação da aprendizagem em Educação Física na escola de En- sino Fundamental e veremos, em breve retrato histórico, a lógica classificatória, de mensuração e punição, que marcou o processo avaliativo no campo da Educação Física Escolar; em seguida, discu- tiremos a atual prática de avaliação desse componente curricular, ressaltando uma concepção de avaliação que propicie a retomada de ações que provoquem a melhoria da qualidade de ensino e a efetivação das aprendizagens escolares; para finalizar, apresenta- remos subsídios para a prática da avaliação em Educação Física, trazendo para reflexão a avaliação nas três dimensões de conte- údos (conceituais, procedimentais e atitudinais), bem como os © Fundamentos e Métodos do Ensino da Educação Física96 critérios avaliativos apresentados pelos Parâmetros Curriculares Nacionais de Ensino Fundamental. A respeito do processo de avaliar, cabe salientar que você já tem os conhecimentos necessários sobre esse assunto, pois já estudamos em algumas disciplinas do curso, como por exemplo a Didática, a Didática Geral, a Avaliação Escolar e Institucional; as- sim, esperamos que você traga, também, para este estudo o que aprendeu em outras disciplinas, pois isso o ajudará na compreen- são da avaliação da aprendizagem em Educação Física. 5. AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA Como você já tem conhecimento sobre o processo de avalia- ção, gostaríamos, então, que você refletisse e nos dissesse como concebe a avaliação da aprendizagem nas aulas de Educação Físi- ca, comparando suas ideias com as informações que apresentare- mos a seguir. O tema avaliação, no campo educacional, é considerado um dos assuntos mais polêmicos, estendendo-se, também, à área da Educação Física. Há muito tempo, a avaliação do processo de ensino-aprendizagem vem provocando o interesse de professores, pesquisadores da área das ciências humanas e da sociedade; na Educação Física, particularmente, as explicações teóricas sobre avaliação ainda apresentam limitações devido a um entendimento restrito sobre esta, com base em concepções tradicionais, que se mostram insuficientes para a compreensão do fenômeno educati- vo em uma perspectiva mais ampla. Os estudos sobre a avaliação da Educação Física na escola, no Brasil (década de 1970), remetem a uma prática com ênfase na medição, no desempenho das capacidades físicas e nas habili- dades motoras, tendo como objetivo atribuir uma nota, por meio da aplicação de testes e medidas, com critérios claros de classifi- 97 Claretiano - Centro Universitário © U4 - Avaliação em Educação Física na Escola cação e seleção dos alunos, uma vez que estes eram comparados a um ideal de desempenho esperado (DARIDO in DARIDO; RAN- GEL, 2005). Sobre esse tema, sugerimos o filme Trapaceiros (EUA, 2000), que trata da avaliação. Darido (in DARIDO; RANGEL, 2005) ainda aponta que, na es- cola pública, os alunos eram avaliados por meio de exercícios de verificação de força, como o abdominal, flexão no solo, no banco e na barra, e a classificação desses alunos era feita considerando a quantidade de repetições que eles haviam conseguido realizar, categorizadas por meio dos indicadores: a) fraco; b) regular; c) bom; d) excelente. Os alunos desconheciam os objetivos desses testes, que eram aplicados de forma mecânica, descontextualizada do progra- ma de ensino e aleatória. Seguindo esse modelo avaliativo, alguns professores, nas aulas de Educação Física, para punir a indisciplina, os erros ou a derrota dos alunos em uma atividade, aplicavam ma- ratonas de corrida em volta da quadra ou obrigavam-nos a realizar uma enorme quantidade de abdominais; essa prática avaliativa corresponde a um modelo tradicional de Educação Física. Esse modelo teórico de avaliação apenas fortaleceu ainda mais o fracasso, a discriminação, a punição, a evasão e a expulsão dos alunos, especialmente aqueles provenientes de classes sociais menos favorecidas economicamente (SOARES et al., 1992; DARI- DO; RANGEL, 2005). Para Luckesi (1995), nesse modelo, parece que a grande preocupação dosprofessores é classificar os alunos como fracos, médios e fortes, com base em notas ou conceitos, ou seja, o edu- cando é um “aluno nota 8” ou “4” ou “10”; é ótimo, regular ou pés- simo. Isso significa que não há avaliação propriamente dita, mas, © Fundamentos e Métodos do Ensino da Educação Física98 sim, a prática da classificação, que não direciona o aluno para um crescimento ou mesmo para um avanço, mas rotula-o como uma nota ou conceito. Para Soares et al. (1992), é preciso redimensionar o sentido burocrático de “dar nota”, fazendo-o retrato qualitativo da apren- dizagem do aluno; além disso, é preciso fazer da nota um resulta- do que garanta a constatação da aproximação ou distanciamento do eixo curricular privilegiado no projeto político-pedagógico da escola, e não um castigo ou compensação para o aluno. Nesse sen- tido, é preciso reconhecer que a avaliação não é mensuração, pois não basta medir para avaliar, uma vez que isso não leva em conta os meios que o aluno utiliza para chegar aos resultados. Nessa questão de avaliação escolar, um grave problema, que decorre dos procedimentos utilizados tradicionalmente, é que se avalia o aspecto cognitivo parcialmente, por meio de respostas que a criança apresenta às questões em sala de aula, e, fora des- ta, quando se avalia a aprendizagem motora, também só se pode considerá-la parcialmente. Os dados obtidos nesse processo se re- duzem, portanto, a dois aspectos somente, o que é muito pouco se comparado à complexidade da dimensão humana que a escola tem de considerar (FREIRE, 1992). Nesse contexto, Soares et al. (1992) alertam-nos que essa prática de avaliação em Educação Física estava assegurada, inclu- sive, pelas legislações, e tanto o Decreto nº 69.450/71, que trata de padrões de referência para o alcance dos objetivos da Educação Física, quanto a Lei nº 6.251/75, que estabelecia como objetivo básico da Política Nacional de Educação Física o aprimoramento da aptidão física na população, valorizam uma avaliação seletiva e classificatória nessa área. Sobre esse modelo de avaliação, Romanowski e Wachowicz (2005, p. 122) apontam: 99 Claretiano - Centro Universitário © U4 - Avaliação em Educação Física na Escola A escola utiliza essa sistemática permanentemente até em termos regimentais – define um padrão aceito e promove os julgamentos na avaliação, considerando esse padrão sem questionar o processo de aprendizagem propriamente dito, que é pessoal, portanto dife- renciado, por que cada aluno aprende diferencialmente em tempo, estilo e estratégias que lhe são próprios. A partir do final dos anos 1970, o modelo tradicional de Edu- cação Física recebeu muitas críticas, assim como a própria prática de avaliação. A proposta humanista de avaliação passou a valorizar os aspectos internos dos alunos, especialmente as dimensões psicoló- gicas, e, desse modo, tornou-se concreta a prática da autoavaliação nas aulas de Educação Física (DARIDO in DARIDO; RANGEL, 2005). De acordo com Brasil (1997), a autoavaliação é uma situação de aprendizagem em que o aluno desenvolve estratégias de aná- lise e interpretação de suas produções e dos diferentes procedi- mentos para se avaliar; essa prática é importante porque contribui para a construção da autonomia dos alunos, além de colaborar com a objetividade solicitada na avaliação, pois esta apenas po- derá ser constituída com a coordenação de diferentes pontos de vista, tanto do aluno quanto do professor. Em oposição ao modelo tradicional, propõe-se a abordagem crítica na educação, particularmente na Educação Física; em con- trapartida, Soares et al. (1992) defendem a proposta crítico-supera- dora em meados do final da década de 1980, a qual, em essência, se preocupava não apenas sobre como ensinar, mas também sobre como adquirimos os conhecimentos, valorizando a contextualização dos fatos e o resgate histórico. Portanto, a avaliação do ensinar e aprender caracterizava-se como um processo sistemático e inten- cional de atribuição de juízos de valor aos dados qualitativos e quan- titativos considerados importantes, tendo como eixo principal o cur- rículo expresso no Projeto Político-Pedagógico da escola. Percebemos que essa prática de avaliação em Educação Físi- ca se fundamenta em uma concepção de avaliação defendida por Luckesi (1995, p. 69, grifos nossos), segundo a qual a avaliação da © Fundamentos e Métodos do Ensino da Educação Física100 aprendizagem é entendida “[...] como um juízo de qualidade so- bre dados relevantes, tendo em vista uma tomada de decisão”. Essas três variáveis devem sempre permanecer juntas, para que o ato de avaliar cumpra seu papel. Vamos entender cada uma delas: a) Juízo de qualidade: juízos são afirmações ou negações sobre alguma coisa. Essas afirmações ou negações po- derão incidir sobre o aspecto substantivo ou adjetivo da realidade. O juízo que se faz sobre o aspecto subs- tantivo da realidade recebe a denominação de “juízo de existência” na medida em que a sua expressão pode ser justificada pelos dados empíricos da realidade. O juízo, porém, que expressa a qualidade do objeto que está ajuizado recebe o nome de “juízo de qualidade”, desde que incida sobre uma realidade atribuída ao ob- jeto. O juízo de existência pretende dizer o que o objeto é; o juízo de qualidade tem por objetivo expressar uma qualidade que se atribui a um objeto. Enquanto o juízo de existência é produzido numa relação direta do sujei- to com o objeto, o juízo de qualidade é produzido por um processo comparativo entre o objeto que está sendo ajuizado e um determinado “padrão ideal de julgamen- to” (LUCKESI, 1995, p. 69). b) Dados relevantes da realidade: a qualidade de um objeto não lhe será atribuída ao “bel-prazer” de quem o julga, mas, sim, a partir de caracteres que esse determinado objeto possua; essa qualidade está fundada em proprie- dades físicas, entendidas como “[...] um caráter efetivo e objetivo da realidade a partir do qual se pode estabele- cer a qualidade desse objeto” (LUCKESI, 1995, p. 70). Em relação à aprendizagem, as propriedades “físicas” são as condutas aprendidas e manifestadas pelos alunos. Sua aprendizagem destes será mais ou menos satisfatória na medida em que se aproximar mais ou menos do padrão ideal , da expectativa que se tem dessas condutas. c) Tomada de decisão: em relação à avaliação da aprendi- zagem, a tomada de decisão refere-se à decisão do que fazer com o aluno quando sua aprendizagem se mani- 101 Claretiano - Centro Universitário © U4 - Avaliação em Educação Física na Escola festa insatisfatória, e, caso não haja uma determinação sobre isso, significa que o ato de avaliar não completou o seu ciclo constitutivo. O que dizem Ballester et al. (2003, p. 44) é importante nesse contexto: Mudar os pontos de vista sobre avaliação implica mudar radical- mente muitas das percepções que temos sobre como ensinar para conseguir que os estudantes aprendam. Pensar na avaliação como eixo central do dispositivo pedagógico de um currículo é um ponto de vista nada habitual, mas é como acentuar um dos elementos curriculares que mais podem favorecer uma mudança na prática educativa de professores e no êxito das aprendizagens. Desse modo, nas aulas de Educação Física, a avaliação e a toma- da de decisões dirigidas à aprendizagem dos alunos devem ser vistas de forma inter-relacionada e como questões-chaves para o ensino. A prática da avaliação em Educação Física atualmente se tem voltado para a utilização de critérios relacionados à participação, interesse e frequência dos alunos nas aulas, em vez da valorização exclusiva dos resultados do desempenho deles em testes físicos e motores; entretanto, Darido (in DARIDO; RANGEL, 2005) aponta falhas em relação a alguns pontos: os alunos desconhecem os cri- térios utilizados pelos professores para avaliar, e há um uso quase exclusivo de um único instrumento avaliativo, que é a participação dos alunos nas aulas. Nesse aspecto, é importantedizer que os instrumentos avaliativos em Educação Física podem ir além desses critérios, envolvendo, também, provas teóricas, trabalhos escritos, gravações em vídeo etc. Outra questão em que devemos sempre pensar, em relação à Educação Física, é como avaliar a aprendizagem do movimento, uma vez que não é possível isolá-lo das dimensões de força mus- cular, resistência, ritmo, sentimentos, afetividade, cognição, equi- líbrio, vivências anteriores etc. Portanto, seja na aula de Educação Física, seja em outra dis- ciplina, é preciso verificar se os objetivos de ensino-aprendizagem, © Fundamentos e Métodos do Ensino da Educação Física102 propostos no programa de aprendizagem, estão ou não sendo atingidos, apontando quais os tipos de dificuldades e facilidades o aluno apresenta e por que apresenta. Contudo, isso não encer- ra a função avaliativa, pois o compromisso maior da avaliação é a melhoria do ensino e a garantia da aquisição de aprendizagens, e, para isso, é necessário analisar e propor revisões e encaminha- mentos necessários para que os objetivos de ensino-aprendizagem sejam atingidos. Assim, o processo final da avaliação culmina não na aprovação ou reprovação do aluno na disciplina ou matéria, mas em prescrições pedagógicas que possam tornar esse ensino mais efetivo (SOUSA, 2004). O que podemos fazer para mudar o processo avaliativo clas- sificatório? Um dos processos para a mudança na avaliação como pro- duto classificatório dos alunos e para o entendimento desta como apoio à melhoria do ensino e garantia da aquisição da aprendiza- gem é a prática da avaliação formativa. A avaliação formativa tem como um de seus defensores Per- renoud e caracteriza-se pela regulação da aprendizagem tanto por professores quanto por alunos, considerando os objetivos de ensi- no-aprendizagem estabelecidos. A regulação possibilita propor ao aluno novos desafios, conflitos cognitivos e ações com o conheci- mento em questão, de tal forma que este possa ser incorporado não como se apresenta, mas como um processo de constante con- quista do aluno, para melhorar e interagir com a cultura existente, caracterizando uma experiência singular, dividida com os demais colegas de turma, e transformando a aula em um ambiente de criação e não reprodução do conhecimento (ROMANOWSKI; WA- CHOWICZ, 2005). Romanowski e Wachowicz (2005) apontam, ainda, que a prática da avaliação formativa demanda o ajuste necessário tam- bém dos critérios de avaliação, incluindo os alunos para assumi- rem, com o professor, os riscos das decisões tomadas, uma vez 103 Claretiano - Centro Universitário © U4 - Avaliação em Educação Física na Escola que, com isso, o aluno passa a ser compreendido como um coope- rante no processo de ensino-aprendizagem, assumindo, também, um compromisso e seu papel na conquista do conhecimento. Soares et al. (1992) vão além da perspectiva de avaliação como melhoria da qualidade de ensino e garantia da aquisição de aprendizagens e entendem que o sentido da avaliação do proces- so de ensino-aprendizagem em Educação Física também deve ser o sentido de fazer que ela (a avaliação) sirva de referencial para a aná- lise da aproximação ou distanciamento do eixo curricular que nor- teia o Projeto Político-Pedagógico da escola, já que essa disciplina também traz contribuições para a construção coletiva desse projeto. 6. PRÁTICA DA AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA Por que avaliar? Essa questão é bastante pertinente, pois a avaliação, como já apontamos, não deve servir para classificar, rotular ou castigar os alunos, e sim para analisar se os objetivos de ensino-aprendizagem foram alcançados, bem como promo- ver ações para a melhoria da qualidade de ensino e aquisição das aprendizagens, além de referencial para verificação da concretiza- ção do Projeto Político-Pedagógico da escola. Assim, avaliar: • Constitui-se em um processo contínuo de diagnóstico da situação, contando com a participação coletiva de profes- sores, alunos e equipe pedagógica (coordenador pedagó- gico e direção da escola). A avaliação também deve possibilitar ao professor refletir sobre sua prática pedagógica, como suas ações, escolha de com- petências, objetivos, conteúdos e estratégias didáticas, o que é importante, pois, por meio dessa reflexão, o professor poderá reorganizar seu trabalho pedagógico, revendo propostas e ações, sempre visando à melhoria da qualidade de ensino e a aquisição da aprendizagem. © Fundamentos e Métodos do Ensino da Educação Física104 Para o aluno, a avaliação é fundamental porque é um mo- mento de análise de sua participação e de seu compromisso como cooperante nesse processo de ensino-aprendizagem, além de um espaço para a tomada de consciência de suas conquistas, di- ficuldades e possibilidades (DARIDO in DARIDO; RANGEL, 2005). Já para a escola, a avaliação permite reconhecer as prioridades, necessidades de reajustes e ações educacionais que precisam de maior apoio (BRASIL, 1997). Mais uma questão importante quando pensamos em ava- liação é: quem deve avaliar? Apenas os professores ou os alunos também? Os alunos devem ser convidados a participar do processo de definição dos critérios de avaliação e de seus rumos, a fim de se concretizarem ações e decisões conjuntas; dessa forma, o alu- no assume, com o professor, a responsabilidade pelo processo de ensino-aprendizagem. Para Darido (in DARIDO; RANGEL, 2005), os professores de- vem informar os alunos sobre suas dificuldades, os critérios qua- litativos de desempenho de cada um, o nível de aprendizagem, as necessidades de mudanças para a aquisição das aprendizagens, bem como os resultados já alcançados; também é importante pro- por a eles a autoavaliação, além da avaliação do trabalho pedagó- gico desenvolvido pelo professor. Como devemos avaliar? Dentre os vários instrumentos avaliativos, é importante o uso de registros sistemáticos em fichários, o uso de diários, a cons- trução de portfólios, além da autoavaliação e avaliação do traba- lho pedagógico de toda a equipe escolar. Cabe dizer que o uso de portfólios não se constitui em uma simples recopilação de trabalhos ou materiais colocados em uma pasta, de apontamentos e notas tomados em uma aula, de uma 105 Claretiano - Centro Universitário © U4 - Avaliação em Educação Física na Escola aula passada a limpo ou de uma coleção de lembretes colocados em um álbum; esse instrumento é um conjunto de diferentes ti- pos de documentos (anotações pessoais, experiências em aula, trabalhos pontuais, controles de aprendizagens, conexões com outros temas fora da escola etc.) que proporcionam evidências de conhecimentos construídos, estratégias utilizadas para aprender e disposição de quem elabora para continuar aprendendo (ALVES in ANASTASIOU; ALVES, 2005; HERNANDEZ, 2000). Os alunos podem ser avaliados por meio da observação das situações de vivência nas aulas, de perguntas e respostas formula- das durante estas, além da observação da participação, de entre- vistas, pesquisas, relatórios, apresentações, produção de textos, gravação em vídeo, resolução de problemas propostos, provas teóricas etc. É importante que você, como professor, não utilize apenas um instrumento avaliativo, mas uma diversidade deles, para que o aluno possa se expressar nas diversas formas de avaliação. O que avaliar? A avaliação em Educação Física não deve privilegiar apenas o aspecto de domínio motor, mas também as dimensões cognitiva (competências e conhecimentos), motora (habilidades motoras e capacidades físicas) e atitudinal (valores), verificando a expressão dos conhecimentos por parte do aluno nas linguagens: corporal, escrita e falada. Sabemos que essas três dimensões se encontram integradas, mas, no momento da avaliação, uma ou outra poderá ser enfatizada (DARIDO in DARIDO; RANGEL, 2005). A questão principal não está no instrumento avaliativo es- colhido, e sim no conceito e no sentido dados à avaliação, a qual deve ser de diagnósticodas situações de ensino e aprendizagem, com vistas à melhoria do ensino e garantia da aprendizagem por parte do aluno. © Fundamentos e Métodos do Ensino da Educação Física106 Quando devemos avaliar? Segundo Darido (in DARIDO; RANGEL, 2005), o professor deve, no processo de avaliação, responder às seguintes questões: a) O que sabem os alunos em relação ao que pretendo en- sinar? b) Quais são suas experiências anteriores em relação ao que pretendo ensinar? c) Quais são seus interesses? d) Quais são seus estilos de aprendizagem? Diante dessas questões e de suas respostas, você pode conhecer ainda mais seus alunos, com o objetivo de facilitar as aprendizagens deles. Esse levantamento de informações é conhe- cido como avaliação diagnóstica. A avaliação deve ser feita em todas as aulas e situações, em um processo contínuo, e, por isso, deve haver a valorização de uma avaliação formativa (como já apontamos); os resultados des- sa avaliação devem ser comunicados aos alunos, informando-lhes seus avanços e dificuldades. Além das avaliações diagnóstica e formativa, também pode- rá ser realizada, pelo professor, uma avaliação somativa, que se realiza ao final do processo. Além disso, ao avaliar, você também deve considerar as três dimensões dos conteúdos: conceitual, pro- cedimental e atitudinal, conforme estudamos na Unidade 2. Na avaliação da aprendizagem de conceitos (dimensão con- ceitual), a prova escrita mostra-se eficaz para avaliar o conheci- mento de um fato; entretanto, não é interessante que o aluno memorize esse fato ou conceito, mas, sim, o compreenda. Dessa forma, a melhor forma de avaliar a aprendizagem de conceitos é observar o uso destes nas várias situações e como os alunos os utilizam em suas explicações espontâneas (DARIDO in DARIDO; RANGEL, 2005; ZABALA, 1998). Assim, “[...] a avaliação deve consistir em observar o uso dos conceitos em trabalhos de equipe, debates, exposições e, sobretu- 107 Claretiano - Centro Universitário © U4 - Avaliação em Educação Física na Escola do, nos diálogos entre os alunos e entre o professor e os alunos” (DARIDO in DARIDO; RANGEL, 2005, p. 130). Se sua opção for pela aplicação de uma prova, até pelo tempo que demanda a observação de cada aluno, é importante mencionar que as questões não devem propor explicações sobre o entendimento ou compreensão dos conceitos, e sim a resolu- ção de um problema ou conflito apresentado; de toda forma, vale ressaltar que a prova não deve ser usada como único instrumento avaliativo da aprendizagem da dimensão conceitual. Na dimensão procedimental, que caracteriza o saber fazer, a avaliação deve privilegiar situações em que esse conhecimento pode ser aplicado, ou seja, transferido para a prática; desse modo, apenas quando os alunos dançam, jogam, ou fazem uma pesquisa é que podemos conhecer o domínio desses conhecimentos. Tanto nas habilidades motoras e capacidades físicas quanto nas tarefas cotidianas das aulas, é possível avaliar os alunos pelo seu progresso em testes físicos, sempre comparando seu resulta- do com ele próprio, e nunca com outro colega ou com um padrão previamente estabelecido (DARIDO in DARIDO; RANGEL, 2005). Além das habilidades motoras e capacidades físicas, a avaliação da dimensão procedimental implica fazer, também, um diagnóstico da capacidade e disponibilidade dos alunos em: a) pesquisar, coletar notícias; b) confeccionar livros e manuais; c) produzir textos com base em observações de suas e de outras atividades; d) organizar painéis, jogos ou atividades; e) debater ideias ou notícias; f) produzir jornais ou folhetos para serem distribuídos na comunidade de sua escola, entre outros. O grande desafio na avaliação é fazer dela um instrumento para a reflexão da ação docente, da aprendizagem dos alunos e, finalmente, para a melhoria da prática educativa na escola. © Fundamentos e Métodos do Ensino da Educação Física108 7. CRITÉRIOS AVALIATIVOS EM EDUCAÇÃO FÍSICA NO CONTEXTO DOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Segundo os Parâmetros Curriculares de Educação Física, a avaliação deve possibilitar dimensionar os avanços e dificuldades em relação ao processo de ensino-aprendizagem, com a intenção de melhoria deste. Eles estabelecem como critérios de avaliação para a Educação Física no primeiro ciclo: Enfrentar desafi os corporais em diferentes contextos como circuitos, jogos e brincadeiras – esse critério abrange a avalia- ção da segurança do aluno para experimentar, tentar e arris- car em situações que envolvam aprendizagem corporal. Par cipar de a vidades, respeitando regras e organização – nesse critério, o aluno será avaliado pela sua par cipação nas a vidades, respeitando regras e organização, u lizando os movimentos adequados à a vidade. Interagir com os colegas, sem discriminá-los por aspectos si- cos, sociais, culturais ou de gênero – o presente critério ava- lia se o aluno reconhece e respeita as diferenças individuais e se interage com os colegas durante as a vidades, auxiliando aqueles com mais difi culdade e aceitando auxílio daqueles que apresentam maior competência (BRASIL, 2000, p. 67). No segundo ciclo, os critérios para a avaliação em Educação Física na escola são: Enfrentar desafi os colocados em situações de jogos e compe- ções, respeitando as regras e adotando uma postura coope- ra va – esse critério tem como preocupação avaliar se o aluno aceita as limitações impostas pelas diversas situações de jogo, tolerando frustrações decorrentes de alguma situação da a - vidade, colaborando com os colegas e par cipando do jogo com entusiasmo. Estabelecer relações entre a prá ca de a vidades corporais e a melhoria da saúde tanto individual quanto cole va – esse critério pretende avaliar se o aluno reconhece os bene cios para a saúde por meio da prá ca regular de a vidades cor- porais. 109 Claretiano - Centro Universitário © U4 - Avaliação em Educação Física na Escola Valorizar e apreciar as manifestações da cultura corporal, iden fi cando suas possibilidades de lazer e aprendizagem – nesse critério pretende-se avaliar se o aluno reconhece as várias formas de expressão de cada cultura como fontes de aprendizagem de movimento e expressão, não discriminando produções culturais independente de razões sociais, étnicas e de gênero (BRASIL, 2000, p. 77). Um importante ponto a destacar é que os Parâmetros Curri- culares Nacionais (PCNs) organizam o ensino por ciclos, e não por séries; os ciclos mostram-se como forma de resistência à lógica da seriação e propõem alterar os tempos e os espaços da escola, formando o aluno para a autonomia e favorecendo, dessa forma, a auto-organização dos estudantes. Isso significa que, nos coleti- vos escolares, os estudantes poderão ter identidade, voz e voto, mostrando que é possível um ensino que parta da vida real, em vez de vivências que sejam imitação do real; portanto, um ensino que permita fazer da escola um tempo de vida, e não de prepara- ção para esta, permitindo que os estudantes construam sua vida escolar (FREITAS, 2003). 8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu desempenho no estudo desta unidade: 1) Quais são as principais diferenças entre a avaliação classificatória e a ava- liação formativa na Educação Física Escolar? Se tais diferenças não ficaram claras, sugerimos que você retome o estudo da unidade. 2) Lidamos, nesta unidade, com várias abordagens avaliativas presentes na Educação Física Escolar, e, servindo-se do estudo delas, você seria capaz re- digir um texto apresentando quais são os principais elementos que caracte- rizavam a avaliação classificatória nessa disciplina? Feitas as suas anotações, compare suas ideias com o conteúdo do Tópico 5. 3) Como você definiria o instrumento avaliativo portfólio? Compare sua res- posta com o conteúdo do Tópico Como devemos avaliar? 4) O que se busca avaliar, especificamente,nas dimensões procedimental, con- ceitual e atitudinal? Confira se sua resposta está compatível com o conteúdo do Tópico 6. © Fundamentos e Métodos do Ensino da Educação Física110 9. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nessa última unidade de nosso estudo, vimos que deve ser su- perada toda lógica de avaliação em Educação Física que privilegie a mensuração do conhecimento, a classificação e a rotulação dos alu- nos em aptos e não aptos, habilidosos ou menos habilidosos, bem como propostas que levem à punição dos comportamentos. É fundamental reconhecer que não há separação entre o cor- po e a mente, e que, nas aulas de Educação Física, também forma- mos um sujeito (por inteiro), e não apenas sua estrutura motora. A avaliação em Educação Física, assim como em todos os componentes curriculares, deve permitir um retrato da aprendiza- gem do aluno, uma reflexão sobre o trabalho pedagógico realizado na escola e uma análise dos objetivos educacionais propostos e ex- postos no Projeto Político-Pedagógico, de forma a mantê-lo como estrutura viva e referencial educativo da unidade escolar. Esse fun- damento da avaliação deve ser garantido para que seu objetivo maior se concretize: que ela seja concebida como um mecanismo de melhoria do ensino e garantia da aquisição das aprendizagens escolares. Nesse momento, vale lembrar das palavras de Freire (1992, p. 206), que diz: É importante não homogeneizar a classe. As crianças são diferen- tes no início e serão diferentes no final do processo educativo. Não adianta querer transformá-las em iguais segundo padrões estabe- lecidos. Quem é igual não tem o que trocar; por isso, é necessário conservar-se diferente. As relações, os direitos, as oportunidades, é que têm de ser iguais e não os gestos, os comportamentos, os pensamentos, as opiniões. Com esse pensamento de Freire, finalizamos nosso estudo acerca dos fundamentos e métodos para o ensino da Educação Fí- sica. Nossa intenção foi fornecer a você subsídios sobre esse com- ponente curricular para sua atuação na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental. 111 Claretiano - Centro Universitário © U4 - Avaliação em Educação Física na Escola Agora você continuará essa caminhada, colocando em sua prática pedagógica o que apreendeu e discutiu neste Caderno de Referência de Conteúdo. 10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, L. P. Portfólios como instrumentos de avaliação dos processos de ensinagem. In: ANASTASIOU, L. G. C.; ALVES, L. P. Processos de ensinagem na universidade: pressupostos para as estratégias de trabalho em aula. 5. ed. Joinville: Univille, 2005. BALLESTER, M. et al. Avaliação como apoio à aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2003. BRASIL. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: ensino fundamental – educação física. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 1997. DARIDO, S. C. Avaliação em educação física na escola. In: DARIDO, S. C.; RANGEL, I. C. A. Educação física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. FREIRE, J. B. Educação de corpo inteiro: teoria e prática pedagógica da educação física. São Paulo: Scipione, 1992. FREITAS, L. C. Ciclos, seriação e avaliação: confronto de lógicas. São Paulo: Moderna, 2003. HERNANDEZ, F. Cultura visual, mudança educativa e projeto de trabalho. Porto Alegre: Artmed, 2000. LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem escolar. São Paulo: Cortez, 1995. ROMANOWSKI, J. P.; WACHOWICZ, L. A. Avaliação formativa no ensino superior: que resistências manifestam os professores e os alunos? In: ANASTASIOU, L. G. C.; ALVES, L. P. Processos de ensinagem na universidade: pressupostos para as estratégias de trabalho em aula. 5. ed. Joinville: Univille, 2005. SOARES, C. L. et al. Metodologia do ensino da educação física. São Paulo: Cortez, 1992. SOUSA, C. P. (Org.). Avaliação do rendimento escolar. 12. ed. Campinas: Papirus, 2004. ZABALA, A. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.
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