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ESCOLA DOS ANNALES E O ENSINO DE HISTÓRIA: por uma História Problema

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Revista Acadêmica Eletrônica Sumaré 
10ª edição - ano 2014 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ESCOLA DOS ANNALES E O ENSINO DE HISTÓRIA: por uma História “Problema” 
 
 
 
Viviane Alves de Morais1 
 
 
 
 
 
1 Graduada e licenciada em História pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Graduada em 
Direito pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco/USP. Mestre em História Econômica pela FFLCH/USP. 
2 
 
 
 
 
Revista Acadêmica Eletrônica Sumaré 
10ª edição - ano 2014 
 
RESUMO: Este artigo tem como objetivo introduzir e discutir as características da linha 
historiográfica conhecida como Escola dos Annales, assim como analisar as mudanças em 
relação às perspectivas teóricas e metodológicas dos historiadores do século XIX. Pretende, 
ainda, apontar as influências que as concepções da Escola dos Annales exercem sobre as 
propostas para o ensino de História no Brasil na atualidade. 
PALAVRAS-CHAVE : Escola dos Annales; historiografia; metodologia; história-problema e 
Ensino de História. 
 
O objetivo deste artigo é refletir sobre alguns dos pontos que marcaram a Escola dos 
Annales considerando o exposto por Burke (1992 e 1997). Para tanto, iniciamos com uma 
citação em apud da obra de 1997: 
 
“Falar sobre a Escola dos Annales em apenas vinte minutos é como falar da criação do 
universo em uma única frase. Resumidamente, diríamos: 
No princípio, Heródoto disse que a História era a mãe de todas as ciências. E a História 
era toda cronologia, política, evento e narrativa. Então os homens do século XIX 
criaram o positivismo histórico sem ainda entenderem bem o que aquilo representaria; 
desde então, a História já não era mais tão somente evento e narrativa... 
E os franceses, no século XX, criaram a “história-problema”. E chamaram à análise 
histórica todas as outras ciências. E viram que aquilo era bom. 
A brincadeira com o nascimento da Escola dos Annales pode ter algo de exagero, mas 
traduz a essência das pretensões do grupo de historiadores formado a partir de quatro 
grandes nomes: Lucien Febvre, Marc Bloch, Fernand Braudel e Jacques Le Goff, cujas 
obras, unidas, sintetizam o espírito desta escola: 
Historiadores, sejam geógrafos. Sejam juristas, também, e sociólogos, e psicólogos.” 2 
 
Eis o fundamento dos Annales. Embora seja inexato afirmar que a historiografia que lhes 
antecede seja apenas cronologia, evento e política, esta foi a visão imputada aos historiadores 
 
2 Apud BURKE, Peter. A Escola dos Annales. São Paulo: Unesp, 1997. 
3 
 
 
 
 
Revista Acadêmica Eletrônica Sumaré 
10ª edição - ano 2014 
pelos pesquisadores de outras ciências humanas. A virada historiográfica da primeira geração 
dos Annales, capitaneada por Marc Bloch e Lucien Febvre, começou com a aproximação deste 
segundo aos estudos de Geografia desenvolvidos por Vidal de La Blache, enquanto Bloch 
aproximara-se mais dos estudos de Sociologia. Desse encontro de historiadores surgiu a ideia de 
ressuscitar uma antiga revista internacional dedicada à história econômica, que fora dirigida por 
Henri Pirenne, também integrante do grupo dos “Annale”, ainda nos anos vinte do século 
passado. Em 1928, surgia a revista Annales d’histoire économique et sociale. 
Em essência, a Revista dos Annales, como a chamamos em terras tupiniquins, sempre foi 
polo de projetos políticos, ligados à criação de grupos de pesquisa e formação de conhecimento 
que ampliaram o escopo de assuntos sobre os quais recai o interesse do historiador. A partir 
dessa Escola, nenhum recanto do conhecimento humano seria vedado ao estudo histórico. O 
limite à gama de assuntos pesquisados foi dado pela disputa de recursos entre os historiadores 
que se destacavam na formação de grupos de pesquisa e, principalmente, na construção de 
arcabouços teóricos capazes de organizar grandes linhas de pesquisa. 
Assim, essa é a essência da história-problema, proposição da primeira geração dos 
Annales que permeou a Escola até os anos oitenta. Para os pesquisadores dos Annales, o 
historiador deve indagar suas fontes a partir de um problema, seja ele qual for. É o problema que 
orienta a pesquisa; diferentemente do que pregava ao velho Seignobos3, os documentos não 
falam, independentemente, do método de tortura que se use. Com isso, a primeira grande 
novidade da pesquisa histórica francesa surge, justamente, com a possibilidade de uso de um 
mesmo documento para pesquisas de caráter diferente. 
Eis o projeto científico da Escola dos Annales: responder a inquietações do tempo 
presente indagando o passado, sem com isto incorrer em anacronismo. A ideia não é a busca de 
uma história mestre da vida, mas da compreensão sobre como funciona a sociedade humana em 
suas diversas conformações ao longo de períodos diferentes e sob óticas diferentes. A Escola dos 
Annales inaugurava, a partir de 1928, uma era de pluralidade de pesquisa, explodindo o saber 
histórico em inúmeros campos antes vedados aos pesquisadores da ciência histórica. 
 
3 Charles Seignobos, historiador francês que publicou um dos principais manuais sobre metodologia da História em 
termos positivistas: La Méthode historique appliquée aux science sociales. Paris: Alcan, 1901. 
4 
 
 
 
 
Revista Acadêmica Eletrônica Sumaré 
10ª edição - ano 2014 
No campo do Ensino Universitário, a mesma Escola que pregava o pluralismo da 
pesquisa científica erigiu, por motivos políticos, poderes nunca antes alcançados por uma Escola 
de pesquisa, conquistando os cargos de poder dentro das academias francesas. O maior expoente 
deste projeto de poder foi Fernand Braudel. Se a primeira geração dessa Escola interessava-se 
por Psicologia, Sociologia, Geografia e em menor escala pela Economia, Braudel extrapolou tais 
limites e adicionou elementos de Antropologia, Estatística e mesmo da Linguística. 
Além disso, Braudel recolocou o “problema” da história na análise da temporalidade, 
embora pareça óbvio que um dos materiais de trabalho do historiador é o tempo. No entanto, 
fatiar esse mesmo tempo em “temporalidades” requer compreender o desenrolar de fatos com 
naturezas diferentes, tarefa das mais complexas. Braudel foi o responsável pela introdução das 
“estruturas” no estudo da História. O tema, caro a qualquer historiador que possua apreço pelos 
estudos de tempo longo ou pelas macroalterações sociais desenvolveu-se pari passu à evolução 
da Antropologia de Levy Strauss. A pesquisa Braudeliana é o locus onde as fronteiras deixam de 
existir, interessando apenas a vontade de compreender as sociedades em sua inteireza4. Para 
executar um projeto tão abrangente, a solução braudeliana passou, obrigatoriamente, pela 
construção de uma Escola de pesquisa. 
A história, para o projeto de História Total encontrável em Braudel, depende de pesquisa 
qualitativa e quantitativa. Reconstruir o mundo dos homens em tempos passados só é possível 
quando se conhece o modo de agir, o modo de pensar e as estruturas sociais, econômica, 
geográficas, políticas e ambientais nas quais aquele homem viveu. Tarefa realmente homérica, 
diga-se de passagem; era preciso arregimentar braços e mentes para isso. Por trinta anos, Braudel 
se dedicou à pesquisa, à orientação e à influência sobre o campo de pesquisa. Um homem da 
História, mas essencialmente, um homem da Política Acadêmica, que delegou a seus discípulos, 
principalmente a Jacquer Le Goff, o peso de uma Escola de pesquisa acadêmica. 
Le Goff é o grande expoente da terceira geração dos Annales que interessava-se em 
pesquisar a micro História, a História da cultura, do corpo, das mentalidades, dos excluídos. 
Aqui encontra-se a mais exuberante explosão de temas pesquisados e, como consequência, 
verifica-se com clareza o problema da especialização. Quanto mais específico é o temado 
 
4 Para quem quiser conhecer o modo de pensar desse historiador, é imprescindível ler os primeiros capítulos da obra 
“O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrânico na época de Felipe II”, editada pela primeira vez em 1946: 
5 
 
 
 
 
Revista Acadêmica Eletrônica Sumaré 
10ª edição - ano 2014 
historiador, mais especializado ele se torna e maior é o perigo em distanciar-se da proposição de 
um problema de interesse relevante, afinal, por mais que a pesquisa deva interessar ao 
pesquisador, especialmente quando esta recebe financiamento público. 
Segundo Peter Burke, essa geração redescobriu a História das mentalidades, tentou 
empregar métodos quantitativos à História cultural e, finalmente, reagiu a tais métodos seja por 
meio da Antropologia Histórica, seja elo retorno à História Política.5 
 
Annales e o Ensino de História 
Diante desta breve exposição sobre alguns dos pontos que marcaram a Escola dos 
Annales, resta a pergunta que não cala para qualquer profissional do Ensino de História: Afinal, 
como eu uso isso em sala de aula? 
Sigamos os passos dos quatro centros de poder dessa Escola historiográfica. O primeiro 
elemento importante, que deve orientar a elaboração de cada plano de aula é: “Afinal, porque é 
que ensinarei esta matéria?”. A resposta imediata é: “ensino pois está no currículo oficial do 
MEC”. Entretanto, isso não é suficiente. Para despertar o interesse do aluno e, saliente-se que, 
embora não seja sempre alcançado, esse deve ser o fim, o tê-los perseguido pelo profissional do 
Ensino em todas as situações. 
Sendo objetivo inicial do Professor despertar o interesse, esse não pode se resumir à mera 
associação entre o ambiente em que o aluno vive e uma possível conexão com parte do tema 
estudado, isso seria subestimar a capacidade de compreensão do aluno, limitando-lhe as 
possibilidades de conhecimento e, principalmente, de formação. No primeiro momento, é 
necessário desvendar para elem um problema do mundo dos homens. “Os homens vivem assim e 
viveram assado. E, então, por que ocorria esse assado?” e aí sim, se questionado for o Professor 
sobre a utilidade daquele saber, poderá o Docente efetuar associação mais direta com o momento 
presente. É nesse momento que a erudição será fundamental, pois o argumento do Mestre é 
sempre o argumento do erudito, daquele que detém um baú de conhecimento e que pode abrir 
esse baú a qualquer momento para dele retirar a joia que se encaixe no momento correto. 
 
5 BURKE, Peter. Op. Cit, p. 80. 
6 
 
 
 
 
Revista Acadêmica Eletrônica Sumaré 
10ª edição - ano 2014 
Toda História, em sala de aula, deve ser História-problema. Sempre. Entretanto, isso não 
é suficiente. 
Em geral, o Professor de História apega-se ao manual, e não há problema algum nisso, 
principalmente em séries iniciais. Imaginar que o Docente que possui dez turmas diferentes 
preparará materiais diferentes para cada turma e dentro dessas para cada estágio de 
conhecimento, isso, é exigir dele mais do que se exige de um Médico plantonista da Rede 
Pública. O que não se pode fazer é permitir-se a heresia do abandono do estudo e, heresia 
máxima, o abandono da leitura. Aqui, também, os Annales são importantes no Ensino de 
História. Dada a variedade de áreas de estudo e o apego desses pesquisadores às fontes, as quais 
aparecem como estrela de seus artigos, o material produzido por essa Escola é sempre bem-vindo 
no ambiente escolar pois se presta tanto à elaboração de exercícios como ao preenchimento do 
baú de cada Professor. Aliás, a metáfora do baú é fundamental, não importa se o seu baú é feito 
de materialismo histórico, de História Política renovada ou de marxismo thompsoniano, a 
escolha é individual e cada Mestre a faz segundo seus interesses ideológicos, mas, esse baú deve 
ser preenchido com todo tipo de conhecimento, sempre, pois é o manto da erudição que torna o 
Professor um ser respeitável. 
Eis aqui o fundamento da relação entre academia e Ensino. A academia presta-se à 
formação do conhecimento e o Professor presta-se à digestão desse conhecimento. Digerir em 
sua acepção biológica, para conhecimentos simples, quase líquidos, um artigo, uma pesquisa, 
uma fonte nova, faça-se a pinocitose6 e, depois, transforme-se aquilo em um comentário, uma 
informação interessante, um tema para que seu aluno pesquise. Já para conhecimentos duros, 
complexos, caberá a fagocitose7 em seu sentido lato, é preciso degradar aquele conhecimento, 
transformando-o em várias partes, substâncias de diversas aulas ou mesmo de uma concepção de 
mundo a ser apresentada ao aluno ao longo de seu curso. 
Obviamente, não cabe ao espaço escolar o estudo de muitas das proposições de pesquisa 
dos Annales. Muitas vezes, não haverá maturidade do aluno para compreender in totum as 
proposições de determinados estudos, mas mesmo assim, é preciso demonstrar a eles que aquele 
assunto é, sim, objeto da análise histórica e que existem problemas da vida humana a ele 
 
6 Processo de digestão de líquidos e pequena partículas efetuado pelas células de um organismo. 
7 Processo de degradação e digestão de partículas sólidas ou de componentes complexos efetuado pelas células. 
7 
 
 
 
 
Revista Acadêmica Eletrônica Sumaré 
10ª edição - ano 2014 
relacionados. Eis aqui, possivelmente, a grande contribuição dos Annales ao Ensino de História: 
a de diversificar o conhecimento do Professor e do aluno, trazendo problemas muitas vezes ainda 
não pensados que permitirão a esse aluno, futuramente, compor sua visão de mundo e, quiçá, 
incorporar suas reflexões ao seu modo de agir para com o outro ao longo da vida. 
 
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 
BURKE, Peter. A Escola dos Annales (1929-1989): a revolução francesa da historiografia. São 
Paulo: Unesp, 1997 [Livro de introdução muito importante. Resumido, traz os principais autores 
e comentários às principais obras desta escola]. 
______(Org). A escrita da História: novas perspectivas. São Paulo: Unesp, 1992. [organizado 
por Burke, traz artigos sobre os novos objetos da historia, escrito por diversos autores, inclusive 
da 3ª geração dos Annales]. 
NORA, Pierre; LE GOFF, Jacques. História: novos objetos, novos problemas, novas 
abordagens. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1976. [feito por integrantes da terceira 
geração, dá o panorama dos estudos dos Annales através de artigos de autores diversos].

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