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PRINCÍPIOS BIOÉTICOS CONCEITOS

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PRINCÍPIOS BIOÉTICOS 
Prof. José Roberto Goldim 
Princípio da Autonomia
 
O Princípio do Respeito à Pessoa é central na Bioética. Tem algumas características que o 
compõe, tais como a privacidade, a veracidade e a autonomia. Este princípio recebeu diferentes 
denominações, tais como Princípio do Respeito às Pessoas, Princípio do 
Consentimento ou Princípio da Autonomia, de acordo com diferentes autores em diferentes 
épocas. A utilização deste conceito básico assume diferentes perspectivas, desde as mais 
individualista até as que inserem o indivíduo no grupo social. 
Uma das bases teóricas utilizadas para o princípio da Autonomia é o pensamento de John Stuart 
Mill (1806-1883). Este autor propôs que 
sobre si mesmo, sobre seu corpo e sua mente, o indivíduo é soberano. 
 
Em 1914, o Juiz Benjamim Cardozo, na sentença do caso Schloendorff, sobre uma cirurgia 
realizada com extensão superior à autorizada pela paciente, reforçou essa idéia. Na sua 
argumentação estabeleceu que: 
Todo ser humano de idade adulta e com plena consciência, tem o direito de decidir o que pode 
ser feito no seu próprio corpo. 
 
Kant, em sua obra Fundamentos da Metafísica dos Costumes, escrita em 1785, propôs o 
Imperativo Categórico. De acordo com esta proposta a autonomia não é incondicional, mas 
passa por um critério de universalidade. 
A autonomia da vontade é a constituição da vontade, pela qual ela é para si mesma uma lei - 
independentemente de como forem constituídos os objetos do querer. O princípio da autonomia 
é, pois, não escolher de outro modo, mas sim deste: que as máximas da escolha, no próprio 
querer, sejam ao mesmo tempo incluídas como lei universal. 
 
Para Emile Durkheim a Autonomia é a interiorização das normas. Jean Piaget caracterizava 
"Autonomia como a capacidade de coordenação de diferentes perspectivas sociais com o 
pressuposto do respeito recíproco". 
O Relatório Belmont, que estabeleceu às bases para a adequação ética da pesquisa nos Estados 
Unidos, denominava este princípio como Princípio do Respeito às Pessoas. Nesta 
perspectiva propunha que a autonomia 
incorpora, pelo menos, duas convicções éticas: a primeira que os indivíduos devem ser tratados 
como agentes autônomos, e a segunda, que as pessoas com autonomia diminuída devem ser 
protegidas. Desta forma, divide-se em duas exigências morais separadas: a exigência do 
reconhecimento da autonomia e a exigência de proteger aqueles com autonomia reduzida. 
 
 Uma pessoa autônoma é um indivíduo capaz de deliberar sobre seus objetivos pessoais e de 
agir na direção desta deliberação. Respeitar a autonomia é valorizar a consideração sobre as 
opiniões e escolhas, evitando, da mesma forma, a obstrução de suas ações, a menos que elas 
sejam claramente prejudiciais para outras pessoas. Demonstrar falta de respeito para com um 
agente autônomo é desconsiderar seus julgamentos, negar ao indivíduo a liberdade de agir com 
base em seus julgamentos, ou omitir informações necessárias para que possa ser feito um 
julgamento, quando não há razões convincentes para fazer isto. 
https://www.ufrgs.br/bioetica/privacid.htm
https://www.ufrgs.br/bioetica/autonomi.htm#respeito%20%C3%A0%20pessoa
https://www.ufrgs.br/bioetica/autonomi.htm#consentimento
https://www.ufrgs.br/bioetica/autonomi.htm#consentimento
https://www.ufrgs.br/bioetica/autonomi.htm#autonomia
https://www.ufrgs.br/bioetica/autonomi.htm#Mill
https://www.ufrgs.br/bioetica/autonomi.htm#Mill
https://www.ufrgs.br/bioetica/autonomi.htm#Cardozo
https://www.ufrgs.br/bioetica/autonomi.htm#Kant
https://www.ufrgs.br/bioetica/autonomi.htm#Kesselring
https://www.ufrgs.br/bioetica/autonomi.htm#Belmont
Nem todas as pessoas tem a capacidade de se auto-determinar. Esta capacidade matura 
durante a vida do indivíduo, e algumas pessoas perdem esta capacidade total ou parcialmente 
devido a doenças, distúrbios mentais ou circunstâncias que severamente restrinjam a liberdade. 
O respeito para com o imaturo e para com o incapaz pode requere sua proteção na medida que 
amadurecem ou enquanto estiverem incapazes." 
Beauchamp e Childress, reduziram o Princípio do Respeito à Pessoa para Autonomia. Estes 
autores admitem que a "autonomia tem diferentes significados, tão diversos como auto-
determinação, direito de liberdade, privacidade, escolha individual, livre vontade, comportamento 
gerado pelo próprio indivíduo e ser propriamente uma pessoa". 
O conceito de Autonomia adquire especificidade no contexto de cada teoria. Virtualmente, todas 
as teorias concordam que duas condições são essenciais à autonomia: 
o liberdade (independência do controle de influências) e 
o ação (capacidade de ação intencional). 
Um indivíduo autônomo age livremente de acordo com um plano próprio, de forma análoga que 
um governo independente administra seu território e estabelece suas políticas. Uma pessoa com 
autonomia diminuída, de outra parte, é, pelo menos em algum aspecto, controlada por outros ou 
é incapaz de deliberar ou agir com base em seus desejos e planos. Por exemplo, pessoas 
institucionalizadas, tais como prisioneiros ou indivíduos mentalmente comprometidos tem 
autonomia reduzida. A incapacidade mental limita a autonomia assim como a institucionalização 
coercitiva dos prisioneiros, porém estes indivíduos continuam a merecer o respeito como 
pessoas. 
Charlesworth introduz uma perspectiva social para a autonomia do indivíduo, podendo conduzir 
à própria noção de cidadania. Este autor afirma que 
Ninguém está capacitado para desenvolver a liberdade pessoal e sentir-se autônomo se está 
angustiado pela pobreza, privado da educação básica ou se vive desprovido da ordem pública. 
Da mesma forma, a assistência à saúde básica é uma condição para o exercício da autonomia. 
Kamii também coloca a autonomia em uma perspectiva de vida em grupo. Para esta autora, que 
é fiilada à corrente piagetiana, a autonomia significa o indivíduo ser governado por si próprio. É 
o contrário de heteronomia, que significa ser governado pelos outros. A autonomia significa levar 
em consideração os fatores relevantes para decidir agir da melhor forma para todos. Não pode 
haver moralidade quando se considera apenas o próprio ponto de vista. 
Tristram Engelhardt propôs uma alteração da sua definição do princípio da autonomia, escrita 
em 1986, para uma nova forma denominada de Princípio do Consentimento, na sua segunda 
edição (1996). 
...rebatizei o "princípio da autonomia" como o "princípio do consentimento" para indicar melhor 
que o que está em jogo não é algum valor possuído pela autonomia ou pela liberdade, mas o 
reconhecimento de que a autoridade moral secular deriva do consentimento dos envolvidos em 
um empreendimento comum. O princípio do consentimento coloca em destaque a circunstância 
de que, quando Deus não é ouvido por todos do mesmo modo (ou não é de maneira alguma 
ouvido por ninguém), e quando nem todos pertencem a uma comunidade perfeitamente 
integrada e definida, e desde que a razão não descubra uma moralidade canônica concreta, 
então a autorização ou autoridade moral secularmente justificável não vem de Deua, nem da 
visão moral de uma comunidade particular, nem da razão, mas do consentimento dos indivíduos. 
Nessa surdez a Deus e no fracasso da razão os estranhos morais encontram-se como indivíduos. 
 
O Princípio da Autonomia não pode mais ser entendido apenas como sendo a auto-determinação 
de um individuo, esta é apenas uma de suas várias possíveis leituras. A inclusão do outro na 
questão da autonomia trouxe, desde o pensamento de Kant, uma nova perspectiva que alia a 
https://www.ufrgs.br/bioetica/competen.htm
https://www.ufrgs.br/bioetica/autonomi.htm#Charlesworth,%20p.131
https://www.ufrgs.br/bioetica/autonomi.htm#Kamii
https://www.ufrgs.br/bioetica/autonomi.htm#Engelhardt
https://www.ufrgs.br/bioetica/alterid.htm
ação individual com o componente social. Desta perspectiva que surge a responsabilidade pelo 
respeito à pessoa, que talvez seja a melhor denominação para este princípio.Princípio da Beneficência 
 
O Princípio da Beneficência é o que estabelece que devemos fazer o bem aos outros, 
independentemente de desejá-lo ou não. É importante distinguir estes três 
conceitos. Beneficência é fazer o bem, Benevolência é desejar o bem e Benemerência é 
merecer o bem. 
Muitos autores propõem que o Princípio da Não-Maleficência é um elemento do Princípio da 
Beneficência. Deixar de causar o mal intencional a uma pessoa já fazer o bem para este 
indivíduo. Alguns denominam de beneficência positiva e negativa. 
As citações, listadas a seguir, demonstram as diferentes posições a respeito deste Princípio. 
Sir David Ross, que estabeleceu o conceito de dever prima facie, propunha que quando 
houver conflito entre a Beneficência e a Não-Maleficência deve prevalecer a Não-
Maleficência. 
Segundo Frankena (1963), "o Princípio da Beneficência não nos diz como distribuir o bem e o 
mal. Só nos manda promover o primeiro e evitar o segundo. Quando se manifestam exigências 
conflitantes, o mais que ele pode fazer é aconselhar-nos a conseguir a maior porção possível 
de bem em relação ao mal..." 
O Relatório Belmont seguiu a mesma tendência do pensamento de Frankena, isto é, incluía a 
Não-Maleficência como parte da Beneficência. O Relatório estabeleceu que duas regras gerais 
podem ser formuladas como expressões complementares de uma ação benéfica: 
a) não causar o mal e 
b) maximizar os benefícios possíveis e minizar os danos possíveis. 
Beauchamp e Childress distinguem a Beneficência da Não-Maleficência. Definem Beneficência 
como sendo uma ação feita no benefício de outros. 
O Princípio da Beneficência é que estabelece esta obrigação moral de agir em benefício dos 
outros. 
É importante não confundir estes dois últimos conceitos com a Benevolência, que é a virtude de 
se dispor a agir no benefício dos outros. 
A Beneficência no contexto médico é o dever de agir no interesse do paciente. O conflito não é 
entre a Beneficência e a Autonomia, mas sim entre o Paternalismo e a Autonomia. 
Princípio da Não-Maleficência 
 
O Princípio da Não-Maleficência é o mais controverso de todos. Muito autores o incluem 
no Princípio da Beneficência. Justificam esta posição por acharem que ao evitar o dano 
intencional o indivíduo já está, na realidade, visando o bem do outro. 
Parte da controvérsia pode ser atribuída à possibilidade de ocorrer uma situação de Slippery 
Slope. Isto ocorre quando uma ação, aparentemente de menor ou nenhuma repercussão, 
https://www.ufrgs.br/bioetica/naomalef.htm
https://www.ufrgs.br/bioetica/primafd.htm
https://www.ufrgs.br/bioetica/naomalef.htm
https://www.ufrgs.br/bioetica/bem.htm
https://www.ufrgs.br/bioetica/bem.htm
https://www.ufrgs.br/bioetica/belmont.htm
https://www.ufrgs.br/bioetica/beneprov.htm
https://www.ufrgs.br/bioetica/naomalef.htm
https://www.ufrgs.br/bioetica/beneprov.htm
https://www.ufrgs.br/bioetica/autonomi.htm
https://www.ufrgs.br/bioetica/benefic.htm
https://www.ufrgs.br/bioetica/slippery.htm
https://www.ufrgs.br/bioetica/slippery.htm
agravar-se progressivamente, com tendência a ocorrer cada vez mais, gerando malefícios não 
previstos inicialmente. As citações a seguir ilustram algumas idéias a respeito deste princípio. 
Hipócrates, ao redor do ano 430 aC, propôs aos médicos, no parágrafo 12 do primeiro 
livro da sua obra Epidemia: 
"Pratique duas coisas ao lidar com as doenças; auxilie ou não prejudique o paciente". 
Esta talvez seja a citação correta da sua famosa frase: Primum non nocere. Esta frase 
não consta em qualquer texto do Corpo Hipocrático. Vale lembrar que durante muito 
tempo pensou-se que todos os textos contidos nesta obra tivessem sido escritos por 
Hipócrates. Atualmente, sabe-se que o conjunto da obra foi escrito por vários autores 
em diferentes épocas. 
O Princípio da Não-Maleficência propõe a obrigação de não inflingir dano intencional. Este 
princípio deriva da máxima da ética médica "Primum non nocere". 
O Juramento Hipocrático insere obrigações de Não-Maleficência e Beneficência: 
"Usarei meu poder para ajudar os doentes com o melhor de minha habilidade e julgamento; 
abster-me-ei de causar danos ou de enganar a qualquer homem com ele." 
Princípio da Justiça 
 
Muitas pessoas confundem o significado dos termos Justiça e Direito. A Justiça é um princípio 
moral enquanto que o Direito o realiza no convívio social. Hartmann, em 1949, propôs que a 
justiça moral é individual e a justiça jurídica é social. A Justiça é mais ampla que o Direito. O 
Princípio da Justiça é normalmente interpretado através da visão da justiça distributiva. A 
perspectiva da justiça compensatória não é muito utilizada pelos diferentes autores da área da 
Bioética, especialmente os anglo-saxões. Os textos , a seguir, permitem ter uma idéia da 
concepção que diferentes autores dão ao Princípio da Justiça. 
Frankena, em 1963, se perguntava: 
"Quais são os critérios ou princípios de justiça ? Estamos falando de justiça 
distributiva, justiça na distribuição do bem e do mal. (...) A justiça distributiva é 
uma questão de tratamento comparativo de indivíduos. Teríamos o padrão de 
injustiça, se ele existe, num caso em que havendo dois indivíduos semelhantes, 
em condições semelhantes, o tratamento dado a um fosse pior ou melhor do que 
o dado ao outro.(...) O problema por solucionar é saber quais as regras de 
distribuição ou de tratamento comparativo em que devemos apoiar nosso agir. 
Numerosos critérios foram propostos, tais como: 
1. a justiça considera, nas pessoas, as virtudes ou méritos; 
2. a justiça trata os seres humanos como iguais, no sentido de distribuir 
igualmente entre eles, o bem e o mal, exceto, talvez, nos casos de 
punição; 
3. trata as pessoas de acordo com suas necessidades, suas capacidades 
ou tomando em consideração tanto umas quanto outras." 
Frankena WK. Ética.Rio de Janeiro: Zahar, 1981:61-2. 
O Relatório Belmont colocava a seguintes ponderações a respeito do princípio da justiça: 
https://www.ufrgs.br/bioetica/leiconce.htm
https://www.ufrgs.br/bioetica/leiconce.htm#hartmann
"Quem deve receber os benefícios da pesquisa e os riscos que ela acarreta ? 
Esta é uma questão de justiça, no sentido de 'distribuição justa' ou 'o que é 
merecido'. Uma injustiça ocorre quando um benefício que uma pessoa merece 
é negado sem uma boa razão, ou quando algum encargo lhe é imposto 
indevidamente. Uma outra maneira de conceber o Princípio da Justiça é que os 
iguais devem ser tratados igualmente. Entretanto esta proposição necessita uma 
explicação. Quem é igual e quem é não-igual ? Quais considerações justificam 
afastar-se da distribuição igual ? (...) Existem muitas formulações amplamente 
aceitas de como distribuir os benefícios e os encargos. Cada uma delas faz 
alusão a algumas propriedades relevantes sobre as quais os benefícios e 
encargos devam ser distribuídos. 
Tais como as propostas de que: 
 a cada pessoa uma parte igual; 
 a cada pessoa de acordo com a sua necessidade; 
 a cada pessoa de acordo com o seu esforço individual; 
 a cada pessoa de acordo com a sua contribuição à sociedade; 
 a cada pessoa de acordo com o seu mérito. 
The Belmont Report: Ethical Guidelines for the Protection of Human Subjects. 
Washington: DHEW Publications (OS) 78-0012, 1978 
Beauchamp e Childress entendem o Princípio da Justiça como sendo a expressão da 
justiça distributiva. Entende-se justiça distributiva como sendo a distribuição justa, 
equitativa e apropriada na sociedade, de acordo com normas que estruturam os termos 
da cooperação social. Uma situação de justiça, de acordo com esta perspectiva, estará 
presente sempre que uma pessoa receberá benefícios ou encargos devidos às suas 
propriedades ou circunstâncias particulares. 
Aristóteles propôs a justiça formal,afirmando que os iguais devem ser tratados de forma 
igual e os diferentes devem ser tratados de forma diferente. 
Beauchamp TL, Childress JF. Principles of Bioemdical Ethics. 4ed. New York: Oxford, 
1994:326-329. 
Texto de Goldim/97-98 
COMPILADOPOR PROF. MONIQUE MOURÃO 
https://www.ufrgs.br/bioetica/beneprov.htm
https://www.ufrgs.br/bioetica/risco.htm
https://www.ufrgs.br/bioetica/belmont.htm

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