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TÍTULO DA O BRA IBGC D iscute EVOLUÇÃO DO ARCABOUÇO REGULATÓRIO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA EDIÇÃO R Rum elenda num velique sundenis et plique int, accabor ibusdamus, et exerferrum erit mo modi unt, at molupiciet ium explia sequi alignatatae senisque cus ea as dolupis pa vi- tatiure net et doluptatur as eribeat aspelecabo. Hictur autenit, nus volorem sitaspedit quam re pre porunt fugiam, quoditiunt, comnim quam quam, volum elis ium earcia nulpa consenis id quam, con poribea nam rem ut la corent. Evolução do Arcabouço Regulatório de Governança Corporativa São Paulo | 2018 O IBGC é uma organização exclusivamente dedicada à promoção da governança corpo- rativa no Brasil e o principal fomentador das práticas e discussões sobre o tema no país, tendo alcançado reconhecimento nacional e internacional. Fundado em 27 de novembro de 1995, o IBGC – sociedade civil de âmbito nacional, sem fins lucrativos – tem o propósito de ser referência em governança corporativa, contri- buindo para o desempenho sustentável das organizações e influenciando os agentes da nossa sociedade no sentido de maior trans- parência, justiça e responsabilidade. Para mais informações sobre o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, visite o website <www.ibgc.org.br>. Para associar-se ao IBGC, ligue: (11) 3185-4200. Conselho de Administração PRESIDENTE Ricardo Egydio Setubal VICE-PRESIDENTES Henrique Luz e Monika Hufenüssler Conrads CONSELHEIROS Doris Beatriz França Wilhelm, Isabella Saboya, Israel Aron Zylberman, Leila Abraham Loria, Richard Blanchet e Vicky Bloch Diretoria Alberto Messano e Matheus Corredato Rossi Superintendência Geral Heloisa Bedicks http://www.ibgc.org.br CRÉDITOS Esta publicação foi desenvolvida a partir das discussões e análises de um grupo de trabalho formado por An- derson Felipe Aedo Pereira, Danilo Gregório, Fernando Silva Moreira dos Santos, Giovanni Paolo Falcetta, Laís Piasentini Oliva, Lucas Vaz Ferreira Pinto, Maiara Madureira e Valeria Café. Imagem da capa: Shutterstock. COORDENAÇÃO Maiara Madureira REDAÇÃO Giovanni Paolo Falcetta e Maiara Madureira AGRADECIMENTOS Ao grupo de trabalho, que dedicou, generosamente, seu tempo para o desenvolvimento deste documento. A Flavia Mouta, Juliana Bonacorsi de Palma, Karen Dagan, Marina Copola de Carvalho, Mercedes Stinco, Monica Carvalho e Paula Oda pela participação em audiência restrita que debateu o conteúdo do documento. Bibliotecária responsável: Mariusa F. M. Loução CRB – 8-9995 I59i Instituto Brasileiro de Governança Corporativa Evolução do arcabouço regulatório de governança corporativa. / Ins- tituto Brasileiro de Governança Corporativa. São Paulo, SP: IBGC, 2018. (Série: IBGC Discute) 65p. ISBN: 978-85-99645-65-9 1. Governança corporativa. 2. Regulação. I. Título. CDD-658.4 Sumário APRESENTAÇÃO 7 INTRODUÇÃO 9 1. INICIATIVAS DIVERSAS 13 1.1 Documentos de melhores práticas 14 1.1.1 IBGC 14 1.1.2 GT Interagentes 14 1.2 Autorregulação 15 1.2.1 ABRAPP, SINDAP e ICSS 15 1.2.2 AMEC 16 1.2.3 B3 17 1.3 Regulação 18 1.3.1 Regulamentação da Lei Anticorrupção (Lei n° 12.846/2013) 18 1.3.2 Guias CGU de Programas de Integridade 18 1.3.3 Lei das Estatais (Lei n° 13.303/2016) 19 1.3.4 CGPAR 20 1.3.5 CVM 20 2. AS PRÁTICAS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA NO NOVO CONTEXTO REGULATÓRIO 21 2.1 Medidas relacionadas à administração 22 2.2 Medidas relacionadas à fiscalização e controles 25 2.2.1 Código do IBGC e Código Brasileiro de Governança Corporativa – Companhias Abertas 25 2.2.2 Programa Destaque em Governança de Estatais 26 2.2.3 Novo Mercado 28 2.2.4 Regulamentação da Lei Anticorrupção e orientações da CGU para programas de integridade 28 2.3 Medidas de transparência 30 2.3.1 Interesse público 30 2.3.2 Responsabilização pelas informações prestadas 31 2.3.3 Pratique ou Explique 32 2.3.4 Informações sobre fiscalização e controle 32 2.3.5 Informações sobre composição e atuação da administração 32 3. OS MECANISMOS DE ENFORCEMENT 35 3.1 Sanção contratual 35 3.2 Mecanismos reputacionais 35 3.3 Responsabilidade objetiva 36 3.4 Acordos de leniência 38 PERSPECTIVA PRÁTICA 41 CONSIDERAÇÕES FINAIS 45 REFERÊNCIAS 47 ANEXOS Anexo 1 Quadro comparativo sobre composição do conselho de administração 53 Anexo 2 Quadro comparativo de práticas sobre composição, qualificação e competências para comitê de auditoria 57 Anexo 3 Lei Anticorrupção 59 Anexo 4 Histórico da Operação Lava Jato 63 EVOLUÇÃO DO ARCABOUÇO REGULATÓRIO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA 7 Apresentação A Apresentação A Operação Lava Jato, a maior investigação de corrupção da história do Brasil, vem trazen-do, desde 2014, luz para os casos de corrupção envolvendo os diversos entes governa- mentais e setores da iniciativa privada. Ao mesmo tempo, os recentes escândalos impactaram a sociedade na conscientização sobre a importância da governança corporativa, em uma inegável inquietação que mobilizou diversos atores da sociedade a buscar mecanismos para afastar – ou ao menos mitigar – desvios de conduta e atos ilícitos. Ainda que o Brasil já tivesse uma legislação e regulamentação com mecanismos para a responsabilização de envolvidos em casos de corrupção, foi esse cenário de escândalos que possibilitou observar um real avan- ço no arcabouço regulatório de combate à corrupção e a favor da governança corporativa. Esse documento tem como objetivo fazer um registro histórico do novo arcabouço de go- vernança corporativa aplicável às companhias de uma forma geral, focando no relato da cons- trução de diretrizes, seja de regulação, autorregulação ou documentos de melhores práticas. O olhar específico mergulhou nas novas regras aplicáveis às empresas estatais, que tiveram que adaptar suas estruturas e documentos à nova realidade trazida com a regulação, mas as empre- sas privadas também fizeram parte da construção do documento, uma vez que participaram ativamente das situações investigadas e também tiveram suas práticas questionadas, embora não sejam o principal objeto dessa narrativa. Por ser um movimento ainda recente da sociedade e um processo amplo e contínuo, esse trabalho concentrou-se em avaliar as discussões e a construção de estruturas e políticas no com- bate à corrupção e em prol da governança corporativa. Traz, ao final, questionamentos sobre os desafios que virão com tempo e o amadurecimento cultural e moral da sociedade, quanto à cons- ciência da importância das práticas de governança corporativa para objetivos de longo prazo. Introdução I EVOLUÇÃO DO ARCABOUÇO REGULATÓRIO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA 9 Introdução A Operação Lava Jato, maior investigação de corrupção da história do Brasil, deflagrada em 2014, motivou formadores de políticas públicas, órgãos de autorregulação, empre- sas e segmentos da sociedade civil organizada a buscarem na governança corporativa meca- nismos para evitar – ou ao menos mitigar – desvios de conduta e atos ilícitos. À medida que outras investigações como as Operações Zelotes µ e Greenfield £ ganharam força e novas fases da Lava Jato foram sendo inicia- das, essa busca se intensificou. Os efeitos da corrupção já somaram cifras astronômicas e afetaram não só as empresas estatais e privadas investigadas, mas também a sociedade como um todo e a própria imagem do país no exterior. Além do impacto financeiro, há também um relevante impacto reputa- cional. Desde 2012, o índice de percepção da corrupção (IPC) ¤ do Brasil, ava- liado pela Transparência Internacional, vem se deteriorando. Em 2017, o Brasil ficou na 96ª posição, junto com Colômbia, Indonésia, Panamá, Peru, Tailândia e Zâmbia, atrás de países como Timor Leste, Sri Lanka, Burkina Faso, Ruanda e Arábia Saudita, considerados menos corruptos. A percepção da corrupção ten- de a ser mais negativa quando existe um debate efetivo sobre o tema (algo que deveria ser visto como positivo), o que abre espaço para questionar o índi- ce. Contudo, é inegável que esse resultadoafeta a percepção de confiança no país e a reputação e valor das companhias, ainda que indiretamente. É complexo determinar o impacto da percepção de corrupção no valor das empresas, mas a queda no preço das ações de empresas listadas em bolsa nos permite ter µ Investiga esquema de corrupção de empresas e pessoas físicas para evitar autuações por sonegação fiscal e previdenciária. £ Apura desvios nos fundos de pensão de empresas estatais. ¤ O índice avalia a percepção de corrupção em uma escala que vai de zero (mais corrupto) a 100 (menos corrupto). A amostra de países analisados gira em torno de 175 a 180 países, que são ranqueados de acordo com sua pontuação. Assim, quanto mais próximo do início do ranking, menos corrupto o país é. Introdução I INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA10 uma noção do problema. Mesmo que diver- sas variáveis possam impactar o movimento acionário, fato é que as ações de emissão da JBS após a delação premiada de Joesley Batista tiveram uma desvalorização de mais de 31% em um único dia e que a Petrobras, após a deflagração da Operação Lava Jato, chegou a ter seu valor de mercado reduzido em 85,5% desde seu pico histórico, em 2008 µ. Também é difícil me- dir a geração de valor gerada pela adoção de boas práticas de governança corporativa, uma vez que tal análise envol- veria a exclusão de diversas variáveis, podendo distorcer resultados. Ainda assim, é perceptível a impor- tância que investidores e agentes de mercado atribuem a essas práticas, em especial quando há adesão a segmentos especiais de governan- ça corporativa. Os segmentos especiais da bolsa de va- lores brasileira – (Bolsa, Brasil e Balcão - B3) – Nível 1, Nível 2 e Novo Mercado – permitem o monitoramento das companhias listadas e o enforcement na hipótese de descumprimen- to das obrigações previstas nos respectivos regulamentos. Com efeito, 75% das ofertas públicas iniciais de ações (IPOs) foram rea- lizadas no nível mais alto, o Novo Mercado, desde sua criação, em 2000, o que demons- tra que a adesão a segmentos especiais é pra- ticamente uma exigência dos investidores. µ A máxima histórica foi registrada em 21 de maio de 2008, quando a estatal atingiu o valor de mercado de R$510,3 bilhões. Em 18 de janeiro de 2016, quando o valor das ações caiu a menos de R$ 5,00, a petroleira valia apenas R$ 73,7 bilhões. Conflito de interesses N o caso específico das estatais tem-se, além do impacto da corrupção, os efeitos da interferência governamental na administração das companhias e da falta de transparência quanto aos limites da atuação do Estado. Um exemplo dessa interferência foi a edição da Medida Provisória 579, de 2012 £, que criou as bases para a renovação dos con- tratos de concessão de usinas, distribuidoras £ Segundo a Medida Provisória 579, as concessões retornariam ao poder concedente se o concessionário não aceitasse uma remuneração a ser calculada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que incluiria somente custos de operação e manutenção. e transmissoras de energia elétrica, buscando uma redução média de 20% na tarifa de ener- gia dos consumidores em troca da renovação antecipada das concessões. A despeito de a medida atingir todo o setor e não apenas es- tatais, merece destaque o caso da Eletrobras. Na assembleia geral para deliberação da re- novação da concessão houve a participação da União, fato que foi inclusive considerado ilegal pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A autarquia condenou o acionista con- trolador ao pagamento de multa de R$ 500 mil por violação ao artigo 114, §1º da Lei nº 6.404/1976 – que dispõe sobre conflito de interesses. Além do impacto da corrupção, as empresas estatais sofrem com os efeitos da interferência governamental na administração das companhias e da falta de transparência quanto aos limites da atuação do Estado. Introdução I EVOLUÇÃO DO ARCABOUÇO REGULATÓRIO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA 11 Por que a Lava Jato? Para compreender a busca pelo reforço da governança de empresas estatais, é necessário ressaltar o papel da Operação Lava Jato. A maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro da história do país tem como foco os desvios de recursos, estimados em bilhões de reais, da maior estatal brasileira, a Petrobras. Dentre as diversas linhas de investigação, algumas têm relação direta com questões cruciais de governança corporativa: a indepen- dência e as responsabilidades do conselho de administração, notadamente no que se refere a funções de monitoramento e seleção de diretores. A Lava Jato investiga desde o cartel formado por empreiteiras contratadas pela Petrobras, até o pagamento de propinas a funcionários da empresa e pessoas “que integram ou estão relacionadas a partidos políticos responsáveis por indicar e manter os diretores da Petrobras”. Veja mais no anexo 4. ! Diante desse panorama e da percepção de que a responsabilização de agentes de governança µ e a adoção de efetivas práticas de conformidade (compliance) e de adminis- tração de conflitos de interesses poderiam ter mitigado o risco de práticas ilegais e a mag- nitude dos prejuízos, diversos agentes – polí- ticos, da sociedade e do mercado – passaram a se movimentar para promover mudanças no arcabouço de governança corporativa. O esfor- ço abrange não só a legislação e regulamenta- ção em vigor, mas também a autorregulação e outras iniciativas de adoção voluntária. Se, de um lado, as discussões tiveram início no âmbito das estatais, considerando os desvios causados por motivações políticas, a prestação de serviços públicos essenciais e o peso na economia brasileira, de outro, em- presas privadas também tiveram suas práti- cas questionadas uma vez que participaram ativamente dos fatos investigados pela Lava Jato e de outros escândalos. µ Agentes de governança são indivíduos e órgãos envolvidos no sistema de governança, como sócios, administradores, conselheiros fiscais, auditores, etc., conforme definição do Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa do IBGC (2015, p. 13). Iniciativas Diversas 1 EVOLUÇÃO DO ARCABOUÇO REGULATÓRIO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA 13 A governança corporativa passou a ser central na pauta de discussões de combate a corrupção, em relação tanto a estatais quanto a empresas privadas diante do cenário conturbado descrito anteriormente. Por isso, diversos agentes do mercado passaram a se mo- vimentar para fortalecer o arcabouço regulatório sobre o assunto. O tema, que já era prioritário para alguns agentes como o IBGC, a Associação de Investi- dores no Mercado de Capitais (AMEC) e a B3, em ações coordenadas ou isoladas, difundiu-se. Em 2013, líderes de 11 entidades ligadas ao mercado de capitais (Abrapp, Abrasca, ABVCap, Amec, Anbima, Apimec, B3, Brain, IBGC, Ibri e Instituto Ibmec) criaram o Grupo de Trabalho (GT) Interagentes, com o objetivo construir uma agenda positiva de governança cor- porativa e fortalecimento de mecanismos de proteção a investidores, visando a ampliação de fontes de financiamento e a atração de investimentos para o país. Na esfera pública, os Poderes Executivo e Legislativo deram andamento a processos nor- mativos que estavam suspensos, como a Lei Anticorrupção e sua regulamen- tação e o estatuto jurídico das estatais. Somente em 2015, mais de 140 proposições legislativas foram apre- sentadas, abordando pelo menos um dos seguintes temas: regras de licitação, financiamento eleitoral, corrupção ativa e passiva e crimes contra a adminis- tração pública &. Iniciativas Diversas 1 & M. Mohallem e C. Ragazzo (coordenadores), Diagnóstico Institucional: Primeiros Passos para um Plano Nacional Anticorrupção, 2017, p. 130. Iniciativas Diversas 1 INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA14 1.1 Documentos de melhores práticas D estacamos a seguir documentos cria-dos com o propósito essencialmente educativo por organizações privadas. Eles se diferem da regulaçãoe autorregulação tradi- cionais por não contarem com mecanismos formais de adesão nem de supervisão. 1.1.1 IBGC O Código das Melhores Práticas de Gover- nança Corporativa do IBGC é o documento mais completo sobre o tema e guia as dis- cussões em diversos fóruns especializados no assunto desde sua primeira edição, em 1999. Sua quinta edição foi lançada em 2015 e refletiu as preocupações e discussões le- vantadas por escândalos de corrupção envol- vendo agentes públicos e privados. O código buscou “estimular o uso consciente e efetivo de instrumentos de governança, focando a essência das boas práticas” &. A importância da ética foi tratada como uma das premissas do código e aspecto transversal a todos os princípios e práticas de governança, a partir da definição do concei- to de deliberação ética Ü. A palavra “ética” e suas variações (ético, antiético) aparecem trinta vezes nessa edição, contra três na edi- ção anterior, de 2009. Ü Uma deliberação ética é aquela que considera, em todo processo de tomada de decisão, tanto a identida- de da organização quanto os impac- tos das decisões sobre o conjunto de suas partes interessadas, a sociedade em geral e o meio ambiente, visando ao bem comum (IBGC, Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa, 2015, p. 17). & IBGC, Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa, 2015, p. 13. O IBGC também publicou documentos específicos para sociedades de economia mis- ta, três deles em 2015: uma carta de opinião, uma carta-diretriz e um caderno de boas práticas & – com o propósito de apresentar reco- mendações con- forme a realidade e necessidades ca- racterísticas dessas instituições, cons- tantemente sujeitas a interesses potencial- mente divergentes e conflitantes – do Estado e dos sócios privados. Em 2017, o IBGC desenvolveu publi- cações de orientação voltadas para órgãos de fiscalização e controle, como o guia de com- pliance e o guia para comitês de auditoria &. 1.1.2 GT Interagentes O GT Interagentes deu início ao desenvolvi- mento do Código Brasileiro de Governança Corporativa – Companhias Abertas & (CBGC) em 2014, inspirado pelo modelo “prati- que ou explique” µ, adotado por 45 de 56 códigos de dife- rentes mercados analisados. A percepção de que o mercado brasileiro precisava fortalecer suas práticas de governança o le- & IBGC, Carta de Opinião n. 3: Governança de Sociedades de Economia Mista, 2015; IBGC, Carta Diretriz n. 5: Sociedades de Economia Mista, 2015; IBGC, Caderno 14: Boas Práticas de Governança Cor- porativa para Sociedades de Economia Mista, 2015. & IBGC, IBGC Orienta: Compliance à Luz da Governança Corporativa, 2017; IBGC, IBGC Orienta: Orientações sobre Comitês de Auditoria, 2017. & GT Intera- gentes, Código Brasileiro de Governança Corporativa – Companhias Abertas, 2016. µ Na abordagem “pratique ou explique”, a companhia não precisa seguir a prática recomendada de boa governança, desde que apresente uma explicação para o não cumprimento. Iniciativas Diversas 1 EVOLUÇÃO DO ARCABOUÇO REGULATÓRIO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA 15 vou a seguir a mesma abordagem consagra- da internacionalmente. O Código Abrasca de Autorregulação e Boas Práticas das Companhias Abertas inspi- rou a estrutura do Código Brasileiro de Gover- nança Corporativa – Companhias Abertas, e o Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa, do IBGC, que acabava de ser ree- ditado, seu conteúdo. O Código Brasileiro de Governança Cor- porativa – Companhias Abertas é aplicável a companhias listadas em bolsas de valores, sejam elas estatais ou privadas. No entanto, alguns de seus trechos fazem menções espe- cíficas a empresas estatais, como o princípio 1.8: “A orientação das atividades da compa- nhia pelo acionista controlador, de modo que atenda ao interesse público que justificou a criação da sociedade de economia mista, deve ser conciliada com os interesses dos demais acionistas e investidores nos valores mobiliários da companhia (p. 26).” Práticas Recomendadas para Estatais 1.8.1 O estatuto social deve identificar clara e precisamente o interesse público que justificou a criação da sociedade de economia mista, em capítulo específico. 1.8.2 O conselho de administração deve monitorar as atividades da companhia e estabelecer políticas, mecanismos e controles internos para apuração dos eventuais custos do atendimento do interesse público e eventual ressarcimento da companhia ou dos demais acionistas e investidores pelo acionista controlador”. ! 1.2 Autorregulação N a seara da autorregulação, em que a adesão às regras é voluntária, mas su- jeita a um monitoramento formal e à aplicação de sanções em caso de descumprimento, me- recem destaque as atuações da Associação Bra- sileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (ABRAPP), da AMEC e da B3. As iniciativas da ABRAPP e da AMEC contemplam o papel dos investidores como fiscalizadores da atuação dos controladores e administradores, ao passo que as da bolsa de valores concen- tram-se nos controles internos das empresas µ. 1.2.1 ABRAPP, SINDAP e ICSS Em 2016, a ABRAPP, o Sindicato Nacional das Entidades Fechadas de Previdência Comple- mentar (SINDAP), e o Instituto de Certificação dos Profissionais de Seguridade Social (ICSS) lançaram o Código de Autorregulação em Governança de Investimentos, tendo como público-alvo os fundos de pensão. Ao elaborar o código e também criar um mecanismo de reconhecimento, que se daria por meio da concessão de um selo a quem voluntariamente aderisse ao Código e se submetesse a um processo de auditoria, a preocupação do trio de entidades foi “dar uma resposta à sociedade, tendo em vista os recentes acontecimentos envolvendo gestão de investimentos em Entidades Fe- chadas de Previdência Complementar (...) µ Embora tanto a iniciativa de ABRAPP, SINDAP e ICSS quanto a da AMEC sejam pontuadas neste capítulo, não trataremos especificamente de seus respectivos documentos ao analisar as regras e práticas do novo arcabouço de governança corporativa, devido às suas especificidades em não abordar exclusivamente companhias. Iniciativas Diversas 1 INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA16 diminuindo incertezas, contribuindo para aumentar a confiança de todos os agentes e, principalmente, dificul- tando a rotina daqueles que se beneficiavam com a falta de informação e simboliza- vam fonte de risco sistêmi- co contra a transparência de mercado” &. Assim, foram estabelecidos princípios como a manutenção de padrões elevados de ética e integridade e a ado- ção de “práticas que fortale- çam a relação fiduciária com os participantes, assistidos, patrocinadores, instituido- res, sociedade civil e demais partes interessadas” &. & ABRAPP, Código de Autorre- gulação em Governança de Inves- timentos, 2016, p. 3. Entidades já aderentes ao Código da ABRAPP: Centrus, Ceres, Derminas, Ecos, Faelba, Fundo Paraná, Mútuoprev, Previ, Regius, Sabesprev e VWPP. & ABRAPP, Código de Autorregula- ção em Go- vernança de Investimentos, 2016, p. 7. 1.2.2 AMEC A AMEC, que congrega investidores institu- cionais, especificamente gestores de fun- dos de ações e multimercados, e tem por objetivo atuar na defesa dos direitos dos acionistas minoritários das companhias abertas, divulgou o Código AMEC de Prin- cípios e Deveres dos Investidores Institucio- nais – Stewardship. Para a entidade, os investidores ins- titucionais precisariam demonstrar sua responsabilidade de forma mais adequada e assumir papel central na defesa da sus- tentabilidade do mercado financeiro. Nas palavras da própria AMEC, “[o] papel dos investidores institucionais não pode ser dissociado do dever fiduciário pactuado ao assumir a gestão de recursos em nome de Dentre as obrigações previstas no código da ABRAPP, destacam-se: • adoção de uma estrutura de governança contendo as atribuições de cada órgão relacionado às decisões de investimentos, definindoas regras a se- rem seguidas; • criação de uma política de investimentos, que deve abranger as etapas dos processos de gestão e monitoramento de investimentos; • segregação de funções entre responsáveis pela gestão e controle; e • elaboração de uma política de gestão de riscos, contendo os principais riscos identificados na gestão de investimentos e o seu processo de monitoramento e mitigação de perdas financeiras e danos de imagem, entre outros. ! um conjunto de indivídu- os. Eles são stewards dos recursos de terceiros. O que quer dizer que ‘tomam conta’ dos valores mobiliá- rios (...)” &. Diante disso, após a elaboração de uma minuta, submetida à discussão em audiência pública, e da realização de um roadshow e de deba- tes com a CVM, foi divulgado um documento reunindo um conjunto de princípios e orien- tações sobre a melhor forma de atender ao dever fiduciário. Além do documento com orientações, foi criado um mecanismo reputacional para reconhecer os investidores que, voluntaria- mente, aderissem ao Stewardship Code – o & AMEC, Código AMEC de Princípios e Deveres dos Investidores Institucionais – Stewardship, 2016, p. 5. Iniciativas Diversas 1 EVOLUÇÃO DO ARCABOUÇO REGULATÓRIO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA 17 Selo Stweardship. Dessa forma, a AMEC re- aliza, anualmente, o monitoramento dos investidores que aderirem ao Stewardship Code µ, premiando os melhores relatórios. µ Já aderiram ao Código da AMEC: Aberdeen Standard, Argucia Capital Management, BB DTVM, BNDESPAR, Bridge Trust, Cartica, Claritas, FUNCEF, Fundação CESP, Hermes, Itaú, Leblon Equities, Petros, Robeco, Santander Asset Management, Teorema, Victoire. Os princípios elencados pelo código da AMEC são : (i) implementar e divulgar um programa de stewardship; (ii) implementar e divulgar mecanismos de administração de conflitos de interesses; (iii) considerar aspectos ambientais, sociais e de governança (ASG) nos seus pro- cessos de investimento e atividades de stewardship; (iv) monitorar os emissores de valores mobiliários investidos; (v) ser ativo e diligente no exercício dos seus direitos de voto; (vi) definir critérios de engajamento coletivo; e (vvi) dar transparência às suas atividades de stewardship. ! 1.2.3 B3 1.2.3.1 Programa Destaque em Governança de Estatais Uma das principais autorreguladoras do mer- cado, a B3 criou um programa específico para estatais, como resposta à necessidade de recu- perar a imagem e a credibilidade destas em- presas. Em setembro de 2015, a bolsa lançou o Programa Destaque em Governança de Esta- tais (Destaque Estatal). Trata-se de um mecanis- mo de certificação das estatais que, voluntariamente µ, desejarem a ele aderir, adotando as práticas de gover- nança previstas. Os estudos para o projeto se iniciaram antes mesmo de a Operação Lava Jato vir à tona, mas as discussões foram lançadas em abril de 2015 e envolveram representantes de entes da federação, empresas estatais, entida- des de mercado e especialistas. O debate partiu de uma pesquisa rea- lizada pela B3 sobre os princípios interna- cionais sobre estatais, merecendo ênfase os da Organização para a Cooperação e Desen- volvimento Econômico (OCDE) e da Corpo- ração Andina de Fomento (CAF) e as práticas adotadas por outros países e companhias estrangeiras. 1.2.3.2 Novo Mercado Depois do lançamento do Programa Desta- que em Governança de Estatais, a B3 passou a conduzir discussões sobre a revisão do Novo Mercado, em 2016. Ao longo desse processo, percebeu-se uma grande preocupação com a evolução do segmento especial, cujas prá- ticas de governança estavam muito aquém daquelas previstas internacionalmente. O regulamento foi inteiramente refor- mulado, passando a ter um capítulo específico sobre fiscalização e controles e a exigir diver- sos documentos internos à companhia – com a definição, inclusive, dos respectivos conteú- dos mínimos esperados. µ Atualmente, há cinco estatais certificadas pelo Programa Destaque Estatal: Petrobras, Banco do Brasil, Eletrobras, BB Seguridade e Petrobras Distribuidora. Iniciativas Diversas 1 INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA18 1.3 Regulação N esta seção, elencamos leis, normas e orientações emanadas pelo Poder Executivo. 1.3.1 Regulamentação da Lei An- ticorrupção (Lei n° 12.846/2013) Em razão dos compromissos assumidos pelo Brasil frente a convenções internacionais, em especial a Convenção das Nações Uni- das contra Corrupção (UNODC), a Convenção Interamericana de Combate à Corrupção da Organização dos Estados Americanos (OEA) e a Convenção sobre o Combate da Corrup- ção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais da OCDE, foi proposta uma legis- lação específica para permitir a responsabilização de pesso- as jurídicas, nos âmbitos civil e administrativo µ, pela prá- tica de atos cometidos contra a administração pública na- cional ou estrangeira £. Após aproximadamente três anos de tramitação, em agosto de 2013, foi aprovada a Lei nº 12.846/2013, conhecida como Lei Anticorrupção. A responsabilização prevista nesta lei é objetiva, isto é, independe da de- monstração de dolo ou culpa na prática do ato lesivo à administração pública, e não exclui a responsabilidade individual subjetiva de seus dirigentes ou administradores ou de qual- quer outra pessoa física autora, coautora ou partícipe do ato ilícito. No entanto, foi em janeiro de 2015, após a repercussão da Operação Lava Jato, que a lei foi regulamentada em nível fede- ral, por meio do Decreto nº 8.420/2015. O decreto trouxe parâmetros pelos quais pro- gramas de integridade Ü instituídos pelas empresas devem ser avaliados para fins de redução de sanções ou celebração de acor- dos de leniência. 1.3.2 Guias CGU de Programas de Integridade A partir de 2015, o Ministério da Transparên- cia e a Controladoria-Geral da União (CGU) passou a publicar orientações, normas e pro- cedimentos complementares para avaliação de programas de integridade, em linha com a Lei nº 12.846 e o Decreto 8.420. Além da Portaria 909, de 2015, vale lembrar a série de guias contendo dispo- sições para auxiliar as empresas a criar ou aprimorar seus programas de integridade em consonância com as melhores práticas sobre o assunto, de modo a prevenir, detectar e remediar a ocorrência de atos lesivos à ad- ministração pública. O guia Programas de Integridade – Di- retrizes para Empresas Privadas, o primeiro da coleção, prevê cinco pilares dos programas de integridade, consolidando e reconhecen- do muitas das estruturas de compliance já utilizadas globalmente. µ Relembrando que, no Brasil, não há a responsabilidade criminal da pessoa jurídica (com exceção de questões ambientais). £ A lei se aproxima de outras legislações internacionais por sua aplicação extraterritorial - o que também é considerado uma inovação do diploma legal. Ü Conjunto de mecanismos e proce- dimentos internos de integridade, auditoria e incentivo à denúncia de irregularidades e na aplicação efeti- va de códigos de ética e de conduta, políticas e diretrizes com objetivo de detectar e sanar desvios, fraudes, irregularidades e atos ilícitos prati- cados contra a administração públi- ca, nacional ou estrangeira (Decreto nº 8.420/2015, art. 42). Iniciativas Diversas 1 EVOLUÇÃO DO ARCABOUÇO REGULATÓRIO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA 19 4o Regras e instrumentos 5o Monitoramento contínuo 3o Análise de perfil e riscos 2o Instância responsável 1o COMPROMETIMENTO E APOIO DA ALTA DIREÇÃO 5 pilares do PROGRAMA DE INTEGRIDADE Fonte: CGU, Programas de Integridade – Diretrizes para Empresas Privadas, 2015, p. 7. A CGU continua desenvolvendo publicações relacionadas aos programas de integrida- de da Lei Anticorrupção. Entre elas estão: • Guia Prático de Gestão de Riscos para a Integridade; • Manual Prático para Avaliação de Programas de Integridade em Processo Ad- ministrativo de Responsabilização de Pessoas Jurídicas;• Guia Prático de Implementação de Programa de Integridade Pública; • Manual para Implementação de Programas de Integridade no Setor Público; • Guia de Integridade Pública; • Guia de Implantação de Programa de Integridade em Empresas Estatais; • Cartilha - Integridade Para Pequenos Negócios, • Cartilha - Proteja a sua Empresa contra a Corrupção; • Cartilha - Empresas Brasileiras no Exterior; e • Guia Prático de Gestão de Riscos para a Integridade. Todos os guias podem ser consultados no website: <http://www.cgu.gov.br/Pu- blicacoes/etica-e-integridade/colecao-programa-de-integridade>. ! Cinco pilares do programa de integridade 1.3.3 Lei das Estatais (Lei n° 13.303/2016) A Lei de Responsabilidade de Estatais, pro- mulgada em 30 de junho de 2016, teve o objetivo de estabelecer o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de econo- mia mista e de suas subsidiárias, nos termos do artigo 173 da Constituição Federal de 1988. Contudo, como havia clamor popular para proteger as estatais de expropriações http://www.cgu.gov.br/Publicacoes/etica-e-integridade/colecao-programa-de-integridade http://www.cgu.gov.br/Publicacoes/etica-e-integridade/colecao-programa-de-integridade Iniciativas Diversas 1 INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA20 indevidas, a lei foi além do conteúdo mínimo obrigatório disposto pelo diploma cons- titucional µ e também previu regras relacionadas à transpa- rência e à organização interna de fiscalização e controles. O texto legal determi- nou que os entes federativos realizassem a regulamenta- ção da lei em até seis meses de sua promulgação, permi- tindo a criação de um regime simplificado para as estatais que tivessem apresentado receita operacional bruta inferior a R$ 90 milhões no exercício anterior. De modo geral, os decretos são bastante semelhantes à lei, dispensando as companhias menores das práticas cuja adoção não é obrigatória. 1.3.4 CGPAR Em paralelo ao trabalho legislativo, a União Federal passou a aproveitar melhor a Comis- são Interministerial de Governança Corpo- rativa e de Administração de Participações Societárias – a CGPAR. A comissão, composta pelos Ministros de Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão, da Fazenda e o Chefe da Casa Civil da Presidência da República, foi criada em janeiro de 2007 £ para tratar de matérias relacionadas à governança corporativa nas empresas estatais federais e da administra- ção de participações societárias da União. As primeiras resoluções da comissão re- lacionadas ao aprimoramento das práticas de governança corporativa foram divulgadas em dezembro de 2010 e tratavam dos órgãos de controles internos das estatais, em especial da auditoria interna, e das melhores práticas para o conselho de administração. A comissão só di- vulgou novas resoluções sobre o tema a partir de 2015 – foram mais de 15, desde então –, quando voltou a ser bastante ativa. 1.3.5 CVM Também merece destaque a movimentação da CVM como reguladora do mercado de capitais. A autarquia federal, cuja atuação abrange tanto empresas privadas quanto estatais, desde que tenham registro de com- panhia aberta, atualizou a Instrução CVM 480/2009, que trata do registro de emissores de valores mobiliários admitidos à negocia- ção em mercados regulamentados e de seu regime informacional, exigindo diversas informações adicionais relacionadas a gover- nança corporativa, inclusive no que se refere a controles internos. Dentre as novas exigências está a en- trega obrigatória do informe de governança corporativa, no qual as companhias devem dizer se praticam as recomendações do Có- digo Brasileiro de Governança Corporativa – Companhias Abertas, ou, se não as seguem, informar o porquê. O modelo “pratique ou explique” permite que a emissora tenha uma maior flexibilidade para a adoção das práticas recomendadas e que os investidores tenham um retrato mais fiel da realidade de gover- nança efetivamente adotada pelas empresas. Para as estatais, a CVM criou nova seção no formulário de referência para que fossem prestadas informações sobre as atividades de- senvolvidas para o atendimento ao interesse público que justificou sua criação e sobre o processo de formação de preços e regras apli- cáveis à fixação de tarifas. A exigência está em linha com o disposto no Programa Destaque em Governança de Estatais, elaborado pela B3, e com as recomendações já recorrentes no Ofício Circular CVM/SEP, divulgado anualmen- te com a finalidade de orientar as companhias sobre a prestação de informações. µ Segundo o artigo 173 da Consti- tuição Federal, o estatuto jurídico das estatais deveria dispor sobre (i) sua fun- ção social e as formas de fiscalização pelo Estado e pela sociedade; (ii) a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas privadas; (iii) licitação e contração de obras, serviços, compras e alienações, observados os princípios da administração pública; (iv) a constituição e o funcionamento dos conselhos de administração e fiscal; e (v) os mandatos, a avaliação de desempenho e a responsabilidade dos administradores. £ A Comissão foi criada por meio do Decreto nº 6.021/2007, que desenhou as linhas mestras de sua atuação. As Práticas de Governança Corporativa no Novo Contexto Regulatório 2 EVOLUÇÃO DO ARCABOUÇO REGULATÓRIO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA 21 As Práticas de Governança Corporativa no Novo Contexto Regulatório 2 O s pilares de governança corporativa, ilustrados pelo IBGC desde a primeira edição de seu código, permeiam as iniciativas regulatórias recentes. A cada reforma legislativa, publicação ou novo projeto de autorregulação, esses pilares são reforçados. De acordo com o Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa, os princípios básicos são: • Transparência: Consiste no desejo de disponibilizar para as partes interessadas as informações que sejam de seu interesse, e não apenas aquelas impostas por dispo- sições de leis ou regulamentos. Não deve restringir-se ao desempenho econômi- co-financeiro, contemplando também os demais fatores (inclusive intangíveis) que norteiam a ação gerencial e que conduzem à preservação e à otimização do valor da organização. • Equidade: Caracteriza-se pelo tratamento justo e isonômico de todos os sócios e de- mais partes interessadas, levando em consideração seus direitos, deveres, necessida- des, interesses e expectativas. • Prestação de contas (accountability): Os agentes de governança devem prestar con- tas de sua atuação de modo claro, conciso, compreensível e tempestivo, assumindo integralmente as consequências de seus atos e omissões e atuando com diligência e responsabilidade no âmbito dos seus papéis. • Responsabilidade corporativa: Os agentes de governança devem zelar pela viabili- dade econômico-financeira das organizações, reduzir as externalidades negativas de seus negócios e suas operações e aumentar as positivas, levando em consideração, As Práticas de Governança Corporativa no Novo Contexto Regulatório 2 INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA22 no seu modelo de negócios, os di- versos capitais (financeiro, manufa- turado, intelectual, humano, social, ambiental, reputacional etc.) no cur- to, médio e longo prazos. A prestação de contas e a responsabi- lidade corporativa foram os princípios mais fortalecidos no cenário pós Lava Jato. As no- vas práticas relacionadas a controles internos reforçam as consequências que os agentes de governança devem sofrer em razão de seus atos e omissões e permitem a redução das externalidades negativas no curto, médio e longo prazos. O informe do código de governança e toda a documentação exigida de estatais são exemplos de evolução no quesito transpa- rência. Por sua vez, o princípio da equidade é protegido à medida em que são criadas regras para maior representatividade de acionistas minoritários ou mesmo para a limitação da atuação de acionistas controla- dores, que poderiam agir em detrimento do µ “Art. 116. Parágrafoúnico. O acionista controlador deve usar o poder com o fim de fazer a companhia realizar o seu objeto e cumprir sua função social, e tem deveres e responsabilidades para com os demais acionistas da empresa, os que nela trabalham e para com a comunidade em que atua, cujos direitos e interesses deve lealmente respeitar e atender”. “Art. 154. O administrador deve exercer as atribuições que a lei e o estatuto lhe conferem para lograr os fins e no interesse da companhia, satisfeitas as exigências do bem público e da função social da empresa”. mercado, de seus acionistas, da concorrência e até mesmo de sua função social, conforme determinado pelos artigos 116 e 154 da Lei Societária (Lei nº 6.404/1976) µ. Descendo ao nível das práticas de go- vernança corporativa, que podem permear mais de um princípio, é possível agrupar os aprimoramentos em três grupos – admi- nistração, fiscalização e controles, e transpa- rência. Nas seções a seguir, destacaremos as principais alterações ocorridas em decorrên- cia dos acontecimentos pós 2014 no regime aplicável (ou potencialmente aplicável) às empresas estatais. 2.1 Medidas relacionadas à administração U m dos grandes problemas identifica-dos nas empresas estatais foi o risco político inerente às indicações para atuação em conselhos de administração e corpos exe- cutivos. A evolução foi no sentido de buscar a moralização das indicações, baseando-as em critérios objetivos e pré-definidos e de fazer com que as estatais passassem a ter conse- lhos que atuassem de forma alinhada ao in- teresse da companhia. No contexto brasileiro, as iniciativas públicas e privadas de aprimoramento de go- vernança corporativa avançaram no sentido de recomendar ou exigir que o conselho de administração observasse, em sua composi- ção, diversidade de experiências e qualifica- ções. Além disso, seus membros deveriam ter autoridade, experiência, competência e independência necessárias para realizar suas funções de orientação estratégica dos negó- cios e de acompanhamento das atividades da administração, além, é claro, de observar os deveres fiduciários impostos pela legisla- ção em vigor. Da mesma forma, a diretoria e o conselho fiscal devem ser compostos por pessoas qualificadas e comprometidas com o exercício de suas atribuições. Diante disso, de forma geral, o Código de Melhores Práticas de Governança Corporati- va do IBGC, o Código Brasileiro de Governan- ça Corporativa – Companhias Abertas, o Novo Mercado, a Lei nº 13.303/2016 e o Programa As Práticas de Governança Corporativa no Novo Contexto Regulatório 2 EVOLUÇÃO DO ARCABOUÇO REGULATÓRIO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA 23 Destaque em Governança de Estatais estabe- leceram dois componentes principais para tratar a questão: (i) a existência de um perfil para indicação de conselheiros, diretores e membros do conselho fiscal; e (ii) a verifica- ção da aderência dos candidatos aos requisi- tos previstos. Previu-se, assim, que, para a seleção de membros do conselho de administração, de seus comitês, da diretoria e do conselho fiscal, fossem estabelecidos critérios míni- mos relacionados à composição do órgão como um todo e aos indivíduos especifica- mente. Tais critérios deveriam constar do estatuto social ou da política de indicação da companhia. De modo específico, a Lei nº 13.303/2016 e o Programa Destaque em Governança de Estatais estabeleceram uma série de veda- ções para participação na alta administração da companhia. Representantes de Minis- térios ou Secretarias de Estado não podem participar do conselho de administração, e representantes de órgãos reguladores, di- rigentes estatutários de partidos políticos e titulares de mandatos no Poder Legislativo não podem assumir cargos no conselho de administração e diretoria. Requisitos para membros * Código de Melhores Práticas de Governança Corporativa do IBGC, Código Brasileiro de Governança Corporativa – Companhias Abertas, Novo Mercado, Programa Destaque em Governança de Estatais e Lei no 13.303/16 Além dos cuidados gerais com a in- dicação de administradores, cabe lembrar a exigência de que a composição do órgão conte necessariamente com membros inde- pendentes. O Novo Mercado, isoladamente, trouxe uma novidade: a forma de caracterização da independência de um membro. Enquanto os outros diplomas estabelecem que basta a de- claração em ata de que determinado membro é independente, o Regulamento do Novo Mer- cado passou estabelecer uma avaliação em três níveis: autodeclaração, avaliação do conselho de administração e deliberação assemblear. CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO COMITÊ DE AUDITORIA Código IBGC* 100% participação relevante 100% ou maioria coordenador independente CBGC* Maioria 1/3 Maioria coordenador independente Novo Mercado* Sem previsão 20% ou 2 1 ou mais mínimo de 3, sendo 1 independente Destaque Estatal* Sem previsão 30% Maioria 1 conselheiro independente Lei no 13.303/2016* Sem previsão 25% Maioria mínimo de 3, máximo de 5 EXTERNOS INDEPENDENTES INDEPENDENTES OUTRAS EXIGÊNCIAS As Práticas de Governança Corporativa no Novo Contexto Regulatório 2 INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA24 Considerando que o conselho de admi- nistração é um dos principais componentes de governança das companhias, buscou-se a construção de um órgão engajado e efe- tivo, cabendo destacar: (i) a necessidade de instituição de processo de avaliação da administração; (ii) a implantação de cultura de treinamento de administradores µ na posse e periodicamente, em relação a temas diversos como a Lei Societária, mercado de capitais, conformidade, etc; e (iii) a explici- Avaliação em três níveis do Novo Mercado Em primeiro lugar, o membro indicado ao conselho de administração deve fazer uma autoavaliação e declarar se é independente ou não. Caso se enquadre em uma das hipóteses que tem o potencial de colocar sua independência em xeque, deve funda- mentar sua interpretação. A autodeclaração do membro indicado ao conselho deve ser levada à adminis- tração da companhia – diretamente ao conselho de administração ou indiretamente ao comitê de elegibilidade. Estes órgãos seriam responsáveis por analisar a independência do candidato confirmando ou não a autodeclaração apresentada e a inserir sua conclu- são – também fundamentada – na proposta da administração para a assembleia geral. Por fim, a confirmação da independência viria com a deliberação assemblear, que teria, como subsídio para sua decisão, as declarações do candidato e do conselho de administração. Somente então haveria a identificação do membro independente tanto no formulário de referência como na ata da reunião que o elegeu. ! AUTOAVALIAÇÃO AVALIAÇÃO DO CONSELHO DELIBERAÇÃO EM ASSEMBLEIA CONSELHEIRO INDEPENDENTE DO NOVO MERCADO tação das responsabilidades do órgão em publicações do IBGC e no Código Brasileiro de Governança Corporativa – Companhias Abertas no que se refere a conduta ética nas organizações. µ Também já previstos no Código de Melhores Práticas de Governança Corporativa do IBGC, no Regulamento do Novo Mercado, no Código Brasileiro de Governança Corporativa – Companhias Abertas, no Programa Destaque em Governança de Estatais e na Lei nº 13.303/2016. As Práticas de Governança Corporativa no Novo Contexto Regulatório 2 EVOLUÇÃO DO ARCABOUÇO REGULATÓRIO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA 25 2.2 Medidas relacionadas à fiscalização e controles 2.2.1 Código do IBGC e Código Brasileiro de Governança Corporativa – Companhias Abertas O código do IBGC trouxe diversas recomen- dações e práticas relacionadas às funções de gerenciamento de riscos, controles in- ternos e conformidade (compliance), en- volvendo o conselho de administração, o comitê de auditoria, o conselho fiscal, a au- ditoria independente e a auditoria interna. Em comparação à edição de 2009, houve aumento da clareza sobre o que se espera de códigos de conduta, canais de denúncias e comitês de conduta. Compliance no sistema de governançacorporativa * O IBGC entende que comitês devem ser órgãos de assessoramento ao conselho de administração, formados por conselheiros, com exceção do comitê de conduta, que pode ser composto por membros da diretoria e outros níveis hierárquicos da organização. ** A intermediação entre a função de compliance e o conselho de administração pode ser feita pelo comitê de auditoria, quando existente. Fonte: IBGC, Compliance à Luz da Governança Corporativa, 2017, p. 22. Sócios Conselho FiscalAuditoria Independente Auditoria Interna C. Auditoria Comitês Diretor- -Presidente Diretores Secretaria de Governança PARTES INTERESSADAS R EGUL AMEN TAÇÃO (COMPULSÓRIA E FACULTATIVA) MEIO AMBIENTE Conselho de Administração Comitê de Conduta* Função de Compliance** As Práticas de Governança Corporativa no Novo Contexto Regulatório 2 INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA26 Tais práticas foram integradas, com adaptações decorrentes das discussões no âmbito do GT Interagentes, ao Código Bra- sileiro de Governança Corporativa – Com- panhias Abertas e ao Informe do Código de Governança, de modo que as companhias deverão se tornar transparentes quanto aos mecanismos adotados. 2.2.2 Programa Destaque em Governança de Estatais A B3 estabeleceu regras de fiscalização e con- troles bastante objetivas no Programa Desta- que em Governança de Estatais. O programa estabeleceu que a estrutura de controle deve estar em conformidade com os princípios do Committee of Sponsoring Organizations of the Treadway Commission (COSO), reconhe- cidos como modelo para o desenvolvimento, implementação e condução dos controles in- ternos e para a avaliação de sua eficácia, sen- do aplicados amplamente em todo o mundo. As medidas estabelecidas no programa determinam que os controles internos de- vem estar presentes em três linhas de defesa: (1ª) ação dos administradores e empregados, por meio da implementação cotidiana de controles internos; (2ª) função de compliance e riscos; e (3ª) auditoria interna e comitê de auditoria estatutário. 1a Linha de Defesa 2 a Linha de Defesa Modelo das três linhas de defesa Fonte: IIA, Declaração de Posicionamento do IIA: As Três Linhas de Defesa no Gerenciamento Eficaz de Riscos e Controles, 2013, p. 2. Órgão de Governança / Conselho / Comitê de Auditoria Alta Administração Controles da Gerência Medidas de Controle Interno Auditoria Interna Controle Financeiro Segurança Gerenciamento de Riscos Qualidade Inspeção Conformidade Regulador Auditoria Externa 3a Linha de Defesa As Práticas de Governança Corporativa no Novo Contexto Regulatório 2 EVOLUÇÃO DO ARCABOUÇO REGULATÓRIO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA 27 Controles internos e as três linhas de defesa • A implantação da primeira linha de defesa causa impacto no dia a dia da es- tatal e envolve a adoção cotidiana de controles internos por parte de todos os seus integrantes, além de uma segregação de funções que faça com que as decisões sobre matérias relevantes sejam levadas a instâncias mais altas dentro da companhia. • Já a implantação da segunda linha de defesa inclui a implantação da função de compliance e riscos com estrutura e atribuições suficientes para avaliar o cumprimento da legislação e regulamentação em vigor, bem como das polí- ticas e processos internos da estatal. • A terceira linha de defesa trata da criação de uma estrutura mais independen- te do dia a dia da companhia e, portanto, capaz de avaliar a efetividade dos processos de controle instalados. Com esse objetivo, a estatal deveria instalar uma auditoria interna e um comitê de auditoria estatutário (CAE). ! Com a preocupação de evitar a adoção de práticas de governança para “cumprir ta- bela” (“box ticking”), a B3 estabeleceu requi- sitos para que os responsáveis pela função de conformidade (compliance) e a auditoria interna atuassem de forma independente. Assim, a área responsável por compliance deve ser liderada por um diretor estatutá- rio com atuação independente, não pode acumular funções operacionais e financei- ras e deve possuir orçamento e estrutura adequados às suas atividades e ao porte da companhia, com adequação atestada pela auditoria interna e divulgada no formulário de referência. A auditoria interna, por sua vez, deve ser vinculada ao conselho de adminis- tração, diretamente ou por meio de um co- mitê de auditoria, dispor de titular protegido por mecanismos de independência e dispor de orçamento e estrutura suficientes ao de- sempenho de suas funções, com adequação atestada pelo comitê de auditoria estatutário. Em relação ao comitê de auditoria es- tatutário, sua adoção auxilia o conselho de administração no exercício de suas funções, permitindo que este tenha acesso a um re- lato detalhado sobre o monitoramento das atividades de auditoria. Para assegurar uma atuação completa e para evitar a proliferação de normas aplicáveis ao órgão, a B3 estabele- ceu que sua composição e atribuições devem observar a Instrução CVM 308/1999, alterada pela Instrução CVM 509/2011, que dispõe sobre o tema. Além disso, o órgão deve ser composto de maioria de integrantes indepen- dentes e contar com ao menos um membro independente do conselho de administração para garantir que os assuntos relevantes se- jam sempre levados a este colegiado. Além das estruturas de fiscalização e controles, o programa previu duas políticas essenciais para o estabelecimento de um processo sólido de tomada de decisões: a po- lítica de transações com partes relacionadas e a política de gerenciamento de riscos. A determinação de elaboração e im- plementação da política de transações com partes relacionadas visou garantir que (i) as transações fossem realizadas em linha com as condições pré-estabelecidas, no melhor interesse da estatal e adstritas ao escopo de seu objeto social; e (ii) fossem divulgadas detalhadamente com a tempestividade ade- quada. Já a política de gerenciamento de As Práticas de Governança Corporativa no Novo Contexto Regulatório 2 INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA28 riscos garante o estabelecimento prévio de um processo de identificação, mensuração, avaliação e monitoramento dos riscos a que determinada estatal está sujeita, guiando, assim, a atuação dos agentes de governança. 2.2.3 Novo Mercado O Regulamento do Novo Mercado tem o mesmo tom do Programa Destaque em Go- vernança de Estatais, determinando a adoção de medidas das três linhas de ação do COSO, como a adoção de um código de conduta, da função de conformidade (compliance), da au- ditoria interna e do comitê de auditoria. No entanto, dada a heterogeneidade das compa- nhias listadas no segmento, as práticas foram bastante simplificadas, a ponto de facilitar a adoção adequada por empresas de diferen- tes portes. Ainda assim, há a exigência de: (i) função de compliance que não acumule fun- ções operacionais ou financeiras; (ii) auditoria interna, que pode ser terceirizada; e (iii) um comitê de auditoria, estatutário ou não. 2.2.4 Regulamentação da Lei An- ticorrupção e orientações da CGU para programas de integridade A Lei Anticorrupção estipulou os potenciais atos lesivos à administração pública e tornou possível a aplicação de penalidades bastante severas àqueles que incorrem nas práticas ali descritas. No âmbito administrativo, por exemplo, as sanções podem chegar a 20% do faturamento bruto da pessoa jurídica do último exercício anterior ao da instauração do processo administrativo. Apesar de a lei ser tão severa, foram previstos mecanismos que podem, eventual- mente, mitigar as sanções aplicáveis: é o caso da existência de programas de integridade não obrigatórios que podem reduzir diretamente a multa em até 4% se implementados. As diretrizes para a implementação e avaliação desses programas de inte- gridade foram previstas no Decreto nº 8.420/2015 Ü. Segundo o decreto, não basta a existência e aplicação de um pro- grama de compliancequalquer; seria necessário que ele atendesse comprova- damente alguns requisitos e que fosse es- truturado, aplicado e atualizado de acordo com as características e riscos particulares às atividades de cada pessoa jurídica. O Guia de Integridade do Ministério da Transparência e Controladoria Geral da União (CGU), por sua vez, é outra fonte que pode ser utilizada pelas companhias para a implementação de programas de integrida- de. O guia – que também elucida que cada empresa deve criar ou adaptar o seu progra- ma às suas atividades, características e riscos particulares – trouxe orientações de como as empresas devem implementar e avaliar as políticas e procedimentos de controles inter- nos, listando os principais normativos que considera relevantes para o programa de in- tegridade e dando especial atenção a outros elementos importantes de um sistema robus- to de integridade, como comunicação e trei- namento, a utilização de canais de denúncias, a aplicação de eventuais medidas disciplina- res e a ocorrência de ações de remediação. As Práticas de Governança Corporativa no Novo Contexto Regulatório 2 EVOLUÇÃO DO ARCABOUÇO REGULATÓRIO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA 29 Ü Parâmetros de avaliação do programa de integridade, de acordo com o Decreto nº 8.420/2015 I comprometimento da alta direção da pessoa jurídica, incluídos os conselhos, evidenciado pelo apoio visível e inequívoco ao programa; II padrões de conduta, código de ética, políticas e procedimentos de integrida- de, aplicáveis a todos os empregados e administradores, independentemen- te de cargo ou função exercidos; III padrões de conduta, código de ética e políticas de integridade estendidas, quando necessário, a terceiros, tais como, fornecedores, prestadores de servi- ço, agentes intermediários e associados; IV treinamentos periódicos sobre o programa de integridade; V análise periódica de riscos para realizar adaptações necessárias ao programa de integridade; VI registros contábeis que reflitam de forma completa e precisa as transações da pessoa jurídica; VII controles internos que assegurem a pronta elaboração e confiabilidade de relatórios e demonstrações financeiras da pessoa jurídica; VIII procedimentos específicos para prevenir fraudes e ilícitos no âmbito de pro- cessos licitatórios, na execução de contratos administrativos ou em qualquer interação com o setor público, ainda que intermediada por terceiros, tal como pagamento de tributos, sujeição a fiscalizações, ou obtenção de autorizações, licenças, permissões e certidões; IX independência, estrutura e autoridade da instância interna responsável pela aplicação do programa de integridade e fiscalização de seu cumprimento; X canais de denúncia de irregularidades, abertos e amplamente divulgados a funcionários e terceiros, e de mecanismos destinados à proteção de denun- ciantes de boa-fé; XI medidas disciplinares em caso de violação do programa de integridade; XII procedimentos que assegurem a pronta interrupção de irregularidades ou infrações detectadas e a tempestiva remediação dos danos gerados; XIII diligências apropriadas para contratação e, conforme o caso, supervisão, de terceiros, tais como, fornecedores, prestadores de serviço, agentes intermedi- ários e associados; XIV verificação, durante os processos de fusões, aquisições e reestruturações so- cietárias, do cometimento de irregularidades ou ilícitos ou da existência de vulnerabilidades nas pessoas jurídicas envolvidas; XV monitoramento contínuo do programa de integridade visando seu aperfei- çoamento na prevenção, detecção e combate à ocorrência dos atos lesivos previstos no art. 5o da Lei no 12.846, de 2013; e XVI transparência da pessoa jurídica quanto a doações para candidatos e par- tidos políticos. As Práticas de Governança Corporativa no Novo Contexto Regulatório 2 INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA30 2.3 Medidas de transparência J á se transformou em chavão uma frase dita pelo ex-juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos (EUA), Louis Brandeis, ao defender a transparência no sistema financeiro de seu país: “a luz do sol é o melhor dos desinfetantes”. O disclosure, além de um dos pilares de governança corporativa, permeia quase todas as demais práticas, ao permitir a fiscalização da atuação dos administradores e controladores pelos acionistas e pelo mercado, ao propiciar bases para uma eventual responsabilização, e ao fornecer subsídios para o cálculo do risco do investimento e, assim, do valor da companhia. Ademais, no âmbito da regulação e au- torregulação, a transparência é essencial para permitir a verificação da adoção das estrutu- ras obrigatórias. Isso ficou bastante visível no Programa Destaque em Governança de Esta- tais, em que foi criada uma medida sobre o aprimoramento do formulário de referência prevendo, por exemplo, que a companhia divulgue informações sobre a avaliação da administração e treinamentos. Cabe lembrar, neste ponto, que a B3 pode determinar a divulgação de outros documentos que com- provassem a efetiva adoção das medidas con- templadas no programa. 2.3.1 Interesse público A Lei Societária (Lei nº 6.404/1976) permi- te que o Estado persiga o interesse público que justificou a criação da estatal, de modo que a interferência governamental é legal e legítima até certo ponto. No entanto, tal in- terferência deve ser limitada à “razão de ser” da empresa e o Estado pode ser responsabili- zado por abuso de poder de controle caso sua atuação vá além dos limites estabelecidos, nos termos do artigo 238 da Lei Societária. A transparência tem um papel essencial neste ponto: são as informações divulgadas ao mercado que permitem ao investidor ante- cipar o possível comportamento do acionista controlador, calcular o risco do investimento e realizar o desconto correspondente no va- lor de mercado de uma companhia. Quando o disclosure não é suficiente, a percepção de risco é maior e, consequentemente, o des- conto sobre o valor da companhia. Além disso, a identificação do interesse público que justificou a criação da empresa permite a atuação eficiente de órgãos como o conselho de administração, diretoria e conse- lho fiscal, e a fiscalização da atuação do con- trolador público e dos administradores pelos acionistas e demais interessados. Para o IBGC, a atuação das empresas estatais deve ser pautada pela consecução de um mandato e objetivos claramente delinea- dos e protegidos da interferência política do governo vigente. A quinta edição do Código das Melhores Práticas de Governança Corpo- rativa recomenda que “o interesse público da sociedade de economia mista seja claramen- te identificado em seu objeto social, em ca- pítulo específico do estatuto social, e receba ampla divulgação (p. 26)”. Desde a promulgação da Lei das Esta- tais (Lei nº 13.303/2016), a identificação do interesse público a ser perseguido pela estatal A transparência tem um papel essencial: são as informações divulgadas ao mercado que permitem ao investidor antecipar o possível comportamento do acionista controlador, calcular o risco do investimento e realizar o desconto correspondente no valor de mercado de uma companhia. As Práticas de Governança Corporativa no Novo Contexto Regulatório 2 EVOLUÇÃO DO ARCABOUÇO REGULATÓRIO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA 31 deve estar presente em diversos documentos, como no formulário de referência (na hipótese de companhias abertas), no informe de go- vernança corporativa, na carta anual subscrita pelos membros do conselho de administração (art. 8º, II da Lei nº 13.303/2016), e na carta anual de governança corporativa (art. 8º, VIII, da Lei nº 13.303/2016). A carta anual de políticas públicas, subscrita pelos membros do conselho de ad- ministração, e a carta anual de governança cor- porativa foram inseridas na Lei nº 13.303/2016 inspiradas na primeira minuta do Programa Destaque em Governança de Estatais. A minu- ta exigia maior transparência por meio de trêsdocumentos (além do relatório de sustentabi- lidade): o formulário de referência, que deve ser aprimorado em alguns pontos; o FAQ, um documento novo que deve trazer, de forma di- dática, perguntas e respostas sobre os limites de atuação da estatal; e a carta anual, subscrita pelos membros do conselho de administração, que devem se comprometer com as metas pú- blicas para o exercício social corrente. Ao longo das discussões, percebeu-se que havia proliferação de informações de mesmo conteúdo e natureza em documentos diferentes, o que não representava uma boa relação de custo-benefício. Diante disso, a B3 passou a exigir, na versão final do Programa Destaque em Governança de Estatais, apenas a carta anual subscrita pelo conselho de ad- ministração e aprimoramentos no formulário de referência. A lei manteve a previsão de duas cartas diferentes – o que era plenamente justificá- vel, tendo em vista que uma das cartas con- solidava as informações mais relevantes do formulário de referência, documento aplicá- vel exclusivamente às companhias abertas –, mas, considerando o mesmo problema iden- tificado pela B3, o Decreto nº 8.945/2016, que regulamentou a lei no âmbito federal, criou um documento único, abrangendo o conteúdo das duas cartas anuais. 2.3.2 Responsabilização pelas informações prestadas A principal preocupação da B3 e da Lei das Es- tatais – envolver e responsabilizar os membros do conselho de administração na definição e condução do interesse público que justificou a criação da estatal – acabou ensejando maior responsabilidade para os membros do órgão. Pela lei, eles somente seriam signatários dos compromissos de interesse público; pelo de- creto, e, consequentemente, pelo Programa Destaque em Governança de Estatais, eles passariam a ser responsáveis por todas as in- formações divulgadas: definição do interesse público, estrutura de controle, fatores de risco, dados econômico-financeiros, comentários dos administradores sobre o desempenho, políticas e práticas de governança corporativa e descrição da composição e da remuneração da administração. Além da definição do interesse público, praticamente todos os diplomas criaram novas fontes de informação sobre aspectos variados. Código de conduta, política de divulgação de informações, política de transações com partes relacionadas, entre outros, passaram a estar previstos, muitas vezes com um conteúdo mínimo, no Código Brasileiro de Governança Corporativa – Companhias Abertas, no novo Regulamento do Novo Mercado, e, especifica- mente, no Programa Destaque em Governan- ça de Estatais e na Lei nº 13.303/2016. A B3 exige carta anual de políticas públicas subscrita pelos membros do conselho de administração, além de informações extras no formulário de referência. A Lei das Estatais exige documento anual similar ao exigido pela B3. As Práticas de Governança Corporativa no Novo Contexto Regulatório 2 INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA32 2.3.3 Pratique ou Explique O Código Brasileiro de Governança Corporati- va – Companhias Abertas é a mais ampla me- dida relacionada à transparência. Por meio do informe de governança, as companhias abertas com ações listadas em bolsa passa- ram a ter que deixar claro ao mercado pra- ticamente todas as práticas adotadas. Neste documento, no entanto, ao invés de dar ampla liberdade para que a empresa preste informações, já há a indicação de quais estru- turas seriam ideais do ponto de vista de go- vernança corporativa, cabendo à companhia indicar se as adota ou justificar por que não as adota integralmente. 2.3.4 Informações sobre fiscalização e controle É possível notar que a transparência acaba sendo uma ferramenta bastante importan- te para todas as dimensões de governança corporativa, uma vez que permite que os acionistas, investidores e outros agentes acompanhem sua implementação. Permeando as práticas de fiscaliza- ção e controles por meio da transparência, a CVM passou a exigir, no quadro 5 do for- mulário de referência, que fossem contem- pladas informações sobre o programa de integridade, definido por meio do Decreto nº 8.420/2015. Neste ponto, independen- temente da estrutura adotada pela compa- nhia, o programa deve estar integralmente descrito no formulário, cabendo aos investi- dores avaliar sua adequação e suficiência e calcular o risco do investimento. O informe de governança e a Lei das Estatais vão na mesma linha. No entanto, enquanto a companhia tem liberdade para descrever suas práticas de controles internos no formulário de referência, no informe de governança, a companhia tem que esclare- cer se segue as práticas indicadas no Código Brasileiro de Governança Corporativa – Com- panhias Abertas ou justificar por que não as segue, demonstrando se há alguma alterna- tiva adotada. Já a carta de governança cor- porativa, exigida pela Lei nº 13.303/2016, e que também deveria contemplar infor- mações sobre controles internos, deixa a companhia livre para esclarecer as práticas adotadas, a despeito de ser utilizada para a verificação da adoção das estruturas obriga- tórias pela lei. O Programa Destaque em Governança de Estatais, por sua vez, exigiu a transparên- cia sobre os controles internos das estatais certificadas, determinando, ainda, a divul- gação do número de denúncias recebidas por descumprimento do código de conduta. A B3 utiliza as informações do formulário de referência e outros documentos públicos da empresa estatal para verificar o cumprimen- to das medidas previstas no programa. 2.3.5 Informações sobre composição e atuação da administração Quanto às informações sobre a administra- ção das estatais, o maior destaque se refere à divulgação do processo de escolha dos candi- datos à administração. Essa escolha deve ser fundamentada no processo de seleção, nos critérios previstos no estatuto social e na política de indicação, sendo que a transparência desse processo é essencial para permitir a verificação do cum- primento da política adotada. Dessa forma, tanto a lei como o progra- ma determinaram que haja uma instância responsável pela verificação da adequação do perfil dos indicados à referida política, qual seja, um comitê de indicação ou de elegibilidade. A ata desse comitê deve ser divulgada na íntegra, contemplando, inclu- sive, eventuais manifestações divergentes de seus membros. A Lei nº 13.303/2016 também se inspi- rou na versão inicial do Programa Destaque em Governança de Estatais no que tange à transparência da atuação dos órgãos de go- As Práticas de Governança Corporativa no Novo Contexto Regulatório 2 EVOLUÇÃO DO ARCABOUÇO REGULATÓRIO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA 33 vernança, por meio da divulgação de atas de reuniões. Dessa forma, a lei exige que as atas do comitê de auditoria estatutário sejam sempre divulgadas, podendo ser na forma de extrato quando envolverem assuntos sensíveis à companhia. Diante do risco de a empresa sempre divulgar atas no formato de extrato, a B3 criou um mecanismo diferente: determinou que os estatutos ou regimentos das empresas determinem que as atas (de quaisquer órgãos da administração) sejam divulgadas na íntegra diante da solicitação de um dos membros do órgão. Dessa forma, a defesa do interesse da companhia em não divulgar a informação cabe à maioria do cole- giado, que pode impedir a divulgação. Os Mecanismos de Enforcement 3 EVOLUÇÃO DO ARCABOUÇO REGULATÓRIO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA 35 O s mecanismos de enforcement podem envolver a responsabilização cível, penal, admi-nistrativa ou mesmo contratual. 3.1 Sanção contratual É o caso do Regulamento do Novo Mercado, em que a não adoção das estruturas de con-troles internos pode ensejar a aplicação de sanções, que vão desde a advertência até a deslistagem compulsória do segmento, obrigando o acionista controlador a realizar oferta pú- blica para adquirir as ações de titularidade dos demais acionistas por valor justo, determinado em laudode avaliação. A regra já é aplicável às companhias que se listarem no segmento após 2 de janeiro de 2018, mas para as companhias listadas antes desse período, a regra somente passará a ser exigida após a realização de assembleia geral ordinária em 2021. 3.2 Mecanismos reputacionais U m mecanismo bastante diferente é aplicado pela B3 no âmbito do Programa Desta-que em Governança de Estatais e pelo Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão no âmbito do Índice de Governança da Secretaria de Coordenação e Governança de Estatais (IG-SEST) Ü: considerando o impacto da corrupção na reputação das companhias, Os Mecanismos de Enforcement 3 Os Mecanismos de Enforcement 3 INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA36 Ü O IG-SEST é um instrumento desenvolvido pela Secretaria de Coordenação e Gover- nança das Empresas Estatais (SEST), que busca conformidade com as melhores práticas de mercado e maior nível de excelência para as empresas estatais federais de controle direto da União (dependentes e não dependentes). O objetivo do indicador é avaliar o cumprimento dos requisitos exigidos pela Lei nº 13.303/2016, regulamentada pelo Decreto nº 8.945/2016, e as diretrizes estabele- cidas nas Resoluções da CGPAR. Os ciclos de acompanhamento são trimestrais e o IG-SEST é apurado em três dimensões: i) gestão, controle e auditoria; ii) transparência das informações; e iii) con- selhos, comitês e diretoria. Cada dimensão é composta por blocos que, por sua vez, contêm itens de avaliação. Além disso, todos os grupamentos receberam “pesos” segundo o seu grau de relevância, acuidade e complexidade de execução, além de segmentação por setor de atuação e por porte das empresas. Assim, as empresas estatais são classificadas em quatro níveis de governança, conforme o índice obtido. o mesmo mecanismo passou a ser utilizado para tentar recuperar sua imagem, substi- tuindo um enforcement baseado em san- ções. As empresas que adotarem melhores práticas são reconhecidas por isso e o não cumprimento delas é divulgado, o que gera um custo de imagem para elas. No caso do IG-SEST, o enforcement se dá por meio da divulgação constante da nota relativa à avaliação da companhia – no caso de uma redução, fica visível para o mercado que a companhia deixou de atender os requi- sitos da lei. No caso do Programa Destaque em Governança de Estatais, a certificação é con- cedida com base em uma análise anual dos documentos da companhia, enviados e di- vulgados. O formulário de referência e a carta anual servem de base para a análise, e, caso se verifique que alguma prática não é mais adotada ou não é adotada de maneira efeti- va, a B3 poderá colocar a certificação em revi- são ou retirá-la. Além da análise anual da certificação, há um monitoramento periódico com base em comunicações da companhia ou em notí- cias divulgadas pelo mercado. A partir dessas notícias, a B3 pode colocar o certificado em revisão e até verificar se as práticas são efeti- vamente adotadas. 3.3 Responsabilidade objetiva U ma das novidades da Lei Anticorrup-ção relacionada ao enforcement é a possibilidade de responsabilização objetiva da pessoa jurídica, que pode ser multada pela prática de atos lesivos à administração por seus funcionários ou membros da admi- nistração, sem prejuízo da responsabilidade individual. Essa multa pode chegar a 20% do faturamento bruto da pessoa jurídica infrato- ra no último exercício anterior ao da instaura- ção do processo administrativo e não afasta outras sanções no âmbito judicial. Os Mecanismos de Enforcement 3 EVOLUÇÃO DO ARCABOUÇO REGULATÓRIO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA 37 Tanto no âmbito administrativo quan- to judicial as sanções podem ser aplicadas de forma isolada ou cumulativa, conforme a natureza e gravidade dos ilícitos praticados. Em quaisquer casos, a responsabilização ad- ministrativa ou judicial da pessoa jurídica não afasta o seu dever de reparar integralmente os danos causados à administração pública. Ademais, a aplicação das sanções previstas na Lei Anticorrupção não afeta os processos de responsabilização e aplicação de penalidades decorrentes de atos de improbidade adminis- trativa ou de atos ilícitos previstos em outras leis ou normas sobre licitações e contratos administrativos, como a Lei nº 8.666/1993 e a Lei nº 12.462/2011. Isso significa que a em- presa pode sofrer as sanções administrativas e continuar respondendo ações judiciais com diferente fundamento jurídico, mas baseado nos mesmos fatos. Além das penas severas, a Lei Anticor- rupção prevê a desconsideração da perso- nalidade jurídica nas hipóteses em que a empresa tenha sido utilizada com abuso de direito para facilitar, encobrir ou dissimular a prática dos atos ilícitos ou para provocar con- fusão patrimonial, sendo, neste caso, esten- didos todos os efeitos das sanções aplicadas Penalidades aplicadas com base na Lei Anticorrupção • Multas • Publicações extraordinárias GOVERNO FEDERAL OUTRAS ESFERAS ADMINISTRATIVAS 23 (R$ 12 milhões) 10 (R$ 6 milhões)7 4 * Números até janeiro de 2018. Fonte: Adaptado do Ministério da Transparência e Controladoria Geral da União (CGU) à pessoa jurídica aos seus administradores e sócios com poderes de administração. A possibilidade de aplicação de san- ções também acaba sendo reforçada à medida que o prazo prescricional dos atos previstos na Lei Anticorrupção é de cinco anos contados da data da ciência da infração pelo ente público responsável por requerer a aplicação das sanções; ou, no caso de infra- ção permanente ou continuada, do dia em que tiver cessado, sendo interrompido com a instauração de processo para apuração da infração. O prazo prescricional, portanto, só começa a correr quando o Poder Público tiver ciência dos fatos, independentemente de quando estes tenham ocorrido. Por fim, as sociedades controladoras, controladas, coligadas ou, no âmbito do respectivo contrato, as consorciadas são so- lidariamente responsáveis pela prática dos atos previstos na Lei Anticorrupção, sendo tal responsabilidade restrita ao pagamento da multa e reparação integral do dano. Isso tem impacto direto no método de organiza- ção societária das empresas e nas associações que são feitas com outras companhias, já que podem atrair responsabilidade por atos co- metidos em outras pessoas jurídicas. Os Mecanismos de Enforcement 3 INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA38 3.4 Acordos de leniência O s acordos de leniência são firmados pela autoridade de órgão ou entidade pública e a pessoa jurídica que cometeu ato ilícito contra a administração pública, nacio- nal ou estrangeira, mas se dispõe a auxiliar nas investigações. A celebração de tais acordos vem ala- vancando as investigações das autoridades públicas ao permitir a célere identificação dos ilícitos e dos demais envolvidos, ao mes- mo tempo em que garante a recuperação de ativos e exige que as pessoas jurídicas cola- boradoras cessem os ilícitos e adotem as me- lhores práticas de integridade. Com os acordos, as pessoas jurídicas colaboradoras têm obtido reduções conside- ráveis das multas aplicáveis e evitado sanções como a proibição de participar de licitações públicas, contratar com a administração pú- blica, bem como de receber incentivos, sub- sídios, subvenções, doações ou empréstimos de entidades da administração pública. A despeito de seus benefícios – para os infratores e para as investigações – a celebração de acordos de leniência não é tão simples, pois envolve, além do atendi- mento de outros requisitos, a colaboração efetiva com as investigações ou com o processo administrativo, sendo que dessa colaboração deve resultar a identificação dos envolvidos e a obtenção célere de evi- dências dos ilícitos. Fonte: CGU, 2018 Cessar a prática da irregularidade investigada Fornecer informações que comprovem a infração Cooperar com as investigações Admitir a participação na infração Isenção da obrigatoriedade de
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