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1 PARECER QUANTO AO OCORRIDO NO LABORATÓRIO REMÉDIOS & MEDICAMENTOS LTDA ATIVIDADE INDIVIDUAL – COMPLIANCE 2 3 Elaborado por: Paula Alves Rodrigues Disciplina: Compliance-0322-2_3 Turma: MBA Executivo em Direito – Business Law 4 Cabeçalho Órgão solicitante: Laboratório Remédios & Medicamentos Ltda Assunto: Trata-se de parecer referente ao ocorrido no Laboratório Remédios & Medicamentos Ltda. 5 Ementa No presente parecer, discorreremos sobre os seguintes tópicos: 1. análise das obrigações de Claudio como auditor e da empresa como empregadora; 2. análise da atuação da alta direção com base nos princípios do compliance e também da governança corporativa; 3. posicionamento informando se, na sua opinião, Claudio realmente deve obediência aos gestores da organização no caso apresentado e 4. posicionamento informando se, na sua opinião, o auditor interno tem a mesma independência do compliance officer. 6 Relatório Trata-se de parecer referente ao ocorrido no Laboratório Remédios & Medicamentos Ltda, em que o auditor interno Cláudio, ao descobrir que grande parte dos remédios injetáveis para crianças acima de 2 anos estava para vencer em 3 meses e, ao comunicar tal fato à alta direção, fora orientado a não tocar mais no assunto já que a data de vencimento dos medicamentos era conhecida no momento de sua compra, se tratando de uma estratégia comercial de melhor preço. Diante do ocorrido, fora solicitado o presente parecer para discorrer quanto aos seguintes tópicos: 1. análise das obrigações de Claudio como auditor e da empresa como empregadora; 2. análise da atuação da alta direção com base nos princípios do compliance e também da governança corporativa; 3. posicionamento informando se, na sua opinião, Claudio realmente deve obediência aos gestores da organização no caso apresentado e 4. posicionamento informando se, na sua opinião, o auditor interno tem a mesma independência do compliance officer. 7 Fundamentação Com o intuito de facilitar o entendimento das questõs apresentadas, o presente relatório se organizará através de tópicos, como veremos a seguir: 1. Análise das obrigações de Claudio como auditor e da empresa como empregadora. Daremos início ao presente parecer analisando e contextualizando as obrigações de Cláudio, na condição de auditor, e da empresa empregadora. A primeira questão a ser considerada é, de fato, a relação existente entre Cláudio e o Laboratório Remédios & Medicamentos Ltda. Isto porque Cláudio nada mais é que um funcionário do Laboratório, sendo, portanto, uma relação trabalhista em sua essência. Nesse sentido, devemos nos ater ao fato de que um dos requisitos da relação trabalhista, nos termos do artigo 3° da CLT, é a existência de SUBORDINAÇÃO entre as partes, ou seja, o funcionário é subordinado a seu empregador, cumprindo as obrigações por ele determinadas. Assim, ainda que Cláudio exerça a função de auditor interno, é certo que sua atuação não ocorre de maneira independente, haja vista a existência de vínculo empregatício entre as partes e da subordinação natural desta relação. Nesse sentido, entendemos que Cláudio exerceu plenamente sua função, tendo em vista que, como exposto na apostila do Curso, o setor de auditoria interna é responsável pela avaliação e pelo assessoramento da administração, posição na qual deve orientar a Organização quanto às melhores práticas e alertar à Alta Administração quanto a eventuais irregularidades, tendo cumprido com ambas obrigações, no limite que o vínculo empregatício e sua posição de vulnerabilidade na relação o permitiram. No entanto, observando o caso concréto sob a ótica da ética e moral, temos que o Sr. Cláudio como auditor interno da Companhia poderia realizar uma denúncia anônima para os órgãos competentes para a Fiscalização, ainad que tal atitude pudesse ser revertida contra si, uma vez que poderia custar- lhe o emprego. Quanto à Alta administração, não podemos dizer o mesmo, isto porque suas atitudes, desde a compra dos medicamentos até a orientação quando fora informada da irregularidade, foram completamente antiéticas, imorais e ilegais, atitudes não condizentes com as boas práticas de mercado, tratando-se 8 de verdadeira irresponsabilidade comercial cujas consequências comerciais, civis e criminais podem trazer grandes prejuízos à Companhia e à sua reputação. 2. Análise da atuação da alta direção com base nos princípios do compliance e também da governança corporativa; Sabe-se que um dos requisitos para o sucesso da implementação de programas de Governança Corporativa e de Compliance é o compromisso e a participação da Alta Direção com uma cultura organizacional ética, através de exemplos e atuação direta já que, como o ditado popular há muito nos ensinou, “o exemplo vem de cima”. Por esse motivo, sabemos que sem uma administração séria, qualificada, comprometida e participativa o sucesso da Companhia fica gravemente ameaçado. No caso concreto, o que vimos foi uma Alta Direção que prioriza algum ganho econômico em detrimento das boas práticas de mercado, da boa reputação da Companhia e da saúde de seus consumidores, e que multiplica tal entendimento, corrompendo inclusive o funcionário contratado pela Companhia para auditar seus produtos. Tais práticas não poderiam estar mais afastadas dos princípios básicos do Compliance e da Governança Corporativa que, como vimos, passam necessariamente pela atuação da Alta Direção, como nos ensina Giovanini (2017): “O sucesso de um Programa de Compliance estará nas mãos do “número um” da organização (dono, CEO, presidente ou equivalente). (...) O líder máximo da organização deve incorporar os princípios desse Programa e praticá-los sempre, não só como exemplo aguardado pelos demais, mas também para transformar, na realidade, sua empresa num agente ético e íntegro.” Como se vê, com a ausência de uma Alta Direção comprometida com práticas éticas e com o sucesso de um programa de integridade, a Organização dificilmente obterá êxito na implementação de políticas comercialmente aceitas e verá sua reputação, um ativo tão importante nos dias atuais, gradualmente se desintegrar. 9 3. Posicionamento informando se, na sua opinião, Claudio realmente deve obediência aos gestores da organização no caso apresentado Como abordado anteriormente no item “1” do presente relatório, a relação existente entre Cláudio e a Farmaceutica tem caráter empregatício, o que automaticamente o coloca numa posição de vulnerabilidade própria do empregado que pelos próprios princípios da relação de emprego está subordinado às ordens de seu empregador. Desse modo, entendo que Cláudio deve sim obediência aos gestores da Organização, na qualidade de empregado, ainda que exerça função de auditor interno que, na prática, o obriga a apresentar as irregularidades constatadas à Alta Direção, obrigação esta por ele cumprida. Outra seria a circunstância caso a Companhia possuísse um Comitê de Integridade ou um programa de Compliance ativo, situação em que Cláudio poderia apresentar sua constatação e que teriam o poder e independência necesários para resolver a questão. 4. Posicionamento informando se, na sua opinião, o auditor interno tem a mesma independência do compliance officer. Ao contrário do Auditor Interno, a função do Compliance Officer nasce imbuída de uma independência natural para a função, tendo em vista que, enquanto o Auditor Interno tementre suas obrigações apenas verificar a adequação dos produtos e serviços fornecidos pela Companhia, o Compliance Officer tem a missão de implantar o programa de Compliance e resguardar as regras e procedimentos por ele professados. O compliance Officer, ainda que atue como funcionário da Companhia, deve possuir total independência no exercício de sua função, de tal maneira que possa tomar decisões sem nenhum tipo de pressão dos outros órgãos da organização, bem como autoridade, para fazer valer posição ou recomendação, conforme material de apoio disponibilizado pelo Curso. Portanto, impossível definir a mesma independência entre o Auditor Interno e o Compliance Officer, haja vista que, conforme exposto, a função de Compliance Officer tem como princípio basilar sua independência em relação aos departamentos da Organização, mesmo à Alta Direção. 10 Em minha opinião, inclusive, o papel do Compliance Officer seria desempenhado por uma auditoria externa e completamente independente, com o intuito de garantir maior segurança e efetividade ao Programa de Integridade, bem como para afastar a possibilidade de uma interferência interna nos resultados ou providências, como ocorreu no caso objeto de análise. Considerações finais Diante do exposto e da análise realizada, conclui-se que, sendo Cláudio um auditor interno, funcionário da Farmaceutica, este cumpriu com seu míster ao informar a constatação da irregularidade à Alta Direção que, por sua vez, orientou-o a ignorar e esquecer-se do assunto, em clara atitude antiética cometida com o intuito de acobertar conduta comercial altamente questionável. Outro seria o cenário caso a companhia dispusesse de um programa de Integridade e Compliance, especificamente através da figura de um Compliance Officer, que teria a autonomia necessária para agir de maneira mais efetiva no caso concreto, tendo em vista a independência inerente a tal função. Como forma de precaução para casos análogos, o ideal é que o profissional Auditor Interno documente formalmente as constatações e suas orientações, de forma a resguardar-se e eximir-se de eventual responsabilidade em caso de utilização pela Companhia dos medicamentos cuja validade se encontra próxima. Já com relação à Companhia, para o caso em questão, Recomenda-se que a empresa Laboratório Remédios & Medicamentos Ltda invista na implementação de um programa de Governança Corporativa e Compliance, bem como em uma auditoria externa para seu desenvolvimento e acompanhamento, com o intuito de instituir um Código de Ética e novos procedimentos com o intuito de evitar novas ocorrências como o caso objeto de análise. 11 Referências bibliográficas GIOVANINI, Wagner. Programas de Compliance e Anticorrupção: importância e elementos essenciais. In: SOUZA, Jorge Munhós de; QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de (Org.). Lei Anticorrupcao e Temas de Compliance. 2. ed. Salvador: Juspodivm, 2017. p. 457-473. COELHO, Cláudio Carneiro Bezerra Pinto e JUNIOR, Milton de Castro Santos Junior. Compliance. Material de Apoio FGV, 2021.
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