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1 Docência para o Ensino Superior ORGANIZAÇÃO, LEGISLAÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O ENSINO SUPERIOR Profa. Dra. Lisienne de Morais Navarro Gonçalves Silva Profa. Me. Edna Barberato Genghini SILVA, Lisienne de Morais Navarro Gonçalves GENGHINI, Edna Barberato Organização, Legislação e Políticas Públicas para o Ensino Superior (livro-texto) / Lisienne de Morais Navarro Gonçalves Silva; Edna Barberato Genghini. – São Paulo: Pós-Graduação Lato Sensu UNIP, 2019. 127 p. : il. 1. Ensino superior. 2. Organização. 3. Políticas públicas. I. Silva, Lisienne de Morais Navarro Gonçalves. Genghini, Edna Barberato. II. Pós-Graduação Lato Sensu UNIP. III. Título. ORGANIZAÇÃO, LEGISLAÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O ENSINO SUPERIOR Professora conteudista: Lisienne de Morais Navarro Gonçalves Silva, professora universitária desde 1999, atuando como professora da educação presencial e a distância. Com experiência em todos os níveis da educação – Educação Infantil, Fundamental, Médio (na modalidade Magistério) e Superior. Gestora de escola de Educação Infantil por 15 anos, atualmente coordena o curso de Pedagogia, por 18 anos, da Universidade Paulista – UNIP, campus Alphaville. Mestre e doutora em Psicologia da Educação com especialização em Psicopedagogia, na qual atua até hoje. Coautora do livro “A Escola e o Aluno: Relações entre o sujeito-aluno e o sujeito-professor”. Desenvolve projetos para atender as comunidades da microrregião de Osasco que congrega os municípios de Barueri, Cajamar, Carapicuíba, Itapevi, Jandira, Osasco, Pirapora do Bom Jesus e Santana de Parnaíba. Coordena os Projetos: Oficinas Pedagógicas de Arte e Expressão – que trabalha com crianças com dificuldade de aprendizagem da região e Menos Um – de alfabetização de jovens e adultos da região. Participa do Grupo de Pesquisa Multiletramento na formação contínua de educadores, Diversidade e inclusão nas práticas sociais e Líder do Grupo de Linguagens Pedagógicas de Educação a Distância: Diversidade em Ação, da Universidade Paulista – UNIP registrados no CNPq. Realiza pesquisa na área, apresentando trabalhos em congressos nacionais e internacionais. Orienta pesquisas de graduação, de iniciação científica e pós-graduação da Universidade Paulista- UNIP. Professora colaboradora/coordenadora: Edna Barberato Genghini, professora universitária desde 2002. Atualmente no exercício da função de Coordenadora para todo o Brasil de três cursos ao nível de Pós- Graduação lato sensu: em Psicopedagogia Institucional, Docência para o Ensino Superior e em Formação em Educação a Distância, pela Universidade Paulista – UNIP EaD, onde também atua como Professora Adjunta, nas modalidades SEI e SEPI. É Diretora e Psicopedagoga da Mentor Orientação Psicopedagógica Ltda. Me. desde 1991. Possui graduação em Economia Doméstica – Faculdades Integradas Teresa D'Ávila de Santo André (1980), graduação em Pedagogia pela Universidade Guarulhos (1985), pós- graduação em Psicopedagogia pela Universidade São Judas (1987), Mestrado em Ciências Humanas pela Universidade Guarulhos (2002) e pós-graduação lato sensu em Formação em Educação a Distância pela Universidade Paulista – UNIP (2011). É autora e coautora de livros-texto para os cursos de pós-graduação lato sensu em Psicopedagogia Institucional, Docência para o Ensino Superior e Formação em Educação a Distância da UNIP EaD. Áreas de Interesse: Neurociências – Educação Inclusiva – Psicopedagogia Clínica e Institucional – Formação e Gestão em Educação a Distância – Formação de Docentes para o Ensino Superior. SUMÁRIO INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 6 1. ENSINO SUPERIOR NO BRASIL: ORIGENS E PANORAMA ATUAL ........................... 8 1.1 RETROSPECTIVA HISTÓRICA E PANORAMA DA EDUCAÇÃO SUPERIOR ...................................... 8 1.2 DADOS SOBRE A EXPANSÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL ............................................. 23 1.3 O AVANÇO DO ENSINO A DISTÂNCIA .................................................................................... 30 2. ESTRUTURA DO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO .................................................. 37 2.1 ORGANIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL ................................................................ 37 2.2 MODALIDADES DE ENSINO SUPERIOR ................................................................................. 44 2.3 PRINCÍPIOS E PROPOSTAS DA EDUCAÇÃO SUPERIOR ........................................................... 50 3. ESTUDO ANALÍTICO DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS NO BRASIL E SUAS TENDÊNCIAS NO MUNDO CONTEMPORÂNEO ..................................................................... 59 3.1 TENDÊNCIAS ATUAIS NA EDUCAÇÃO ................................................................................... 78 3.2 FORMAÇÃO DO ALUNO AUTOR ............................................................................................ 86 3.3 EDUCAÇÃO BRASILEIRA NA CONTEMPORANEIDADE .............................................................. 91 4. POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O ENSINO SUPERIOR .............................................. 102 4.1 ESTRATÉGIAS E PROJETOS PARA A EXPANSÃO DO ENSINO SUPERIOR ................................. 109 4.2 DEMOCRATIZAÇÃO DO ACESSO AO ENSINO SUPERIOR E INCLUSÃO SOCIAL ......................... 114 4.3 LEGISLAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL APLICADA AO EAD ..................................... 118 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................... 125 BIBLIOGRAFIA.......................................................................................................................... 126 APRESENTAÇÃO Caro aluno, Estamos em um tempo no qual a mudança e a transformação estão presentes, marcando o século XXI e, com isso, deparamo-nos com fenômenos políticos, econômicos e sociais que pedem um olhar mais crítico. Esse cenário afeta todos os setores da sociedade, inclusive a educação, a base estruturante de uma nação, sendo necessário que seus atores (professores, gestores e colaboradores) reflitam e se coloquem como agentes ativos. Esse livro-texto tem como objetivo dar subsídio para se pensar a educação e buscar atuar, em sala de aula, de maneira transformadora e consciente, entendendo o processo estando a par das leis e suas consequências no país. Ao longo dos textos, buscaremos levá-lo a entender o contexto socio-histórico e econômico que levaram a transformações tão fortes e suas consequências no mundo globalizado. Com a leitura e discussão desse texto, levaremos você a compreender a dinâmica da sociedade capitalista, chamada de sociedade da informação e do conhecimento rápido e imediatista. Nessa perspectiva, analisaremos a legislação brasileira educacional e a situação da aprendizagem de qualidade diante do direito à educação de qualidade estabelecida pela Constituição Federal de 1988 e demais leis, decretos e declarações. Assim, para que você consiga acompanhar a evolução e sistematizar o conhecimento, o livro-texto foi dividido em quatro partes, sendo a primeira o contexto histórico; a segunda as estruturas do ensino superior no Brasil; na terceira, veremos um panorama das políticas educacionais no Brasil e, na quarta, estarão presentes as políticas públicas. Desejamos um excelente estudo com contribuições pontuais e efetivas na sua formação. INTRODUÇÃO A educação é uma das fontes transformadoras de um país que garante o desenvolvimento, a democracia, os direitosde igualdade e de permanência, sustenta a paz e possibilita crescimento intelectual da população de uma sociedade. Sem educação, a população fica aleijada, sem argumento e força para mudança. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu artigo 26, afirma que todo ser humano tem direito à instrução gratuita nos graus elementares (obrigatória) e fundamentais. Uma instrução acessível e a superior baseada no mérito, sendo orientada para o desenvolvimento integral da personalidade e fortalecimento do respeito e liberdade do ser humano. A instrução deve promover a tolerância e a amizade entre os diferentes, tendo como base o respeito e a manutenção da paz. Esse e outros artigos garantem e afirmam a importância da educação gratuita e acessível a todos para uma sociedade igualitária. Embora as primeiras universidades tenham como marco inicial o primeiro milênio na Europa, a história nos mostra que, no século IV a. C., no norte do Egito, a cidade de Alexandria tornou-se o centro de conhecimento, com a construção da biblioteca por Ptolomeu, destacada como centro cultural de Roma e Atenas. Por reunir um número grande de documentos, foi considerada a primeira universidade, a qual formou cientistas tendo como exemplo Euclides e Arquimedes. Como vimos, caro aluno, a universidade era um espaço que buscava conhecimento, estudos, descoberta e pesquisa, um formato diferente do que vemos hoje. Faziam parte desse ambiente os estudiosos e ávidos do saber, uma população pequena que se juntava para estudos profundos sobre temas como matemática, astrologia e filosofia. Hoje a universidade é um espaço democrático, pertencente a todos, com diferentes objetivos, não necessariamente desbravar a magia do saber. Nesse ciclo de chegada das universidades, Bolonha (Itália) é a pioneira, seguida pela França ou Inglaterra (Oxford-1096) para alguns estudiosos, devido ao formato da universidade de Paris (França). Essas universidades serviram de modelo para as demais, no mundo inteiro. Na América do Sul, a primeira universidade foi na República Dominicana – Universidade de São Domingos (1538) – e depois no Peru (1551), seguidas pelo México, Bogotá, Cuzco, Havana, Santiago (1738) e no Brasil, se considerarmos as escolas superiores de Cirurgia na Bahia, em 1808, Direito em São Paulo e Olinda, em 1827, e universidades estruturadas apenas no século XX. Infelizmente, o Brasil foi o mais atrasado na implantação das universidades, realçando a falta de interesse da coroa e dos comandantes da época. Tivemos um início de interesse com a Companhia de Jesus, que criou os cursos de Filosofia e Teologia em 1572, e uma estagnada em 1759, com a expulsão dos jesuítas. A grande pergunta que permeará nossa conversa será “por que o Brasil demorou tanto para implantar a universidade? Quais interesses circundam essa lacuna intelectual na população?”. Tentaremos trazer uma reflexão sobre o tema fazendo com que você não apenas entenda a dinâmica política da educação, mas fazendo com que você entre na sala de aula com um olhar transformador. Pronto para começar os estudos? Vamos lá! 8 UNIDADE I 1. ENSINO SUPERIOR NO BRASIL: ORIGENS E PANORAMA ATUAL Se quisermos responder à pergunta: “porque o Brasil demorou tanto para implantar a universidade? Quais interesses circundam essa lacuna intelectual na população?”, teremos de fazer uma reflexão sobre o tema fazendo com que você, aluno, não apenas entenda a dinâmica política da educação, mas, também o faça a partir de um olhar crítico, transformador. 1.1 Retrospectiva histórica e panorama da educação superior Já vimos anteriormente que as universidades de Bolonha, França e Inglaterra foram os primeiros países a valorizarem a formação mais aprofundada. Comecemos esse capítulo com um pouco de imagens. Vejamos como eram as primeiras universidades do mundo: Universidade de Bolonha Fonte: <https://super.abril.com.br/>. Acesso em: 09/11/2018. https://super.abril.com.br/ 9 Universidade Oxford 1 Fonte:<https://www.ox.ac.uk/about/organisation/history?wssl=1> Acesso em: 09/11/2018. Universidade Oxford 2 Fonte:<https://www.indiatoday.in/education-today/scholarships/story/-want-to-study-in-oxford-university-apply-before-july- 31-for-rhodes-scholarship-1287017-2018-07-16> Acesso em: 09/11/2018. Universidade de Paris Fonte:< http://www.universidadesfrancesas.com.br/as-3-universidades-mais-antigas-da-franca/> Acesso em: 09/11/2018. Estudos mostram que a universidade, o espaço de pesquisa, ao encontro do saber sempre foi do interesse de poucos, de uma elite intelectual. Saber não era para todos, mas muito valorizado pela população de posses. https://www.ox.ac.uk/about/organisation/history?wssl=1 10 No século XII, encontravam-se em Paris escolas avançadas no conhecimento de arte, direito e medicina, deixando para a Europa um legado histórico de pesquisa e estudo. As universidades, em sua origem, sempre tiveram dois vieses, o de busca e de preservação do saber, um espaço que guarda um espírito de pesquisa e seriedade. Hoje, apenas algumas conservam esse aspecto. Cabe ressaltar o poder do clero sobre o saber. Por muito tempo a igreja era a detentora do espaço da investigação. As universidades foram espaços importantes para o avanço das ciências e de construção de espaço para compartilhar e desenvolver ideias novas. De acordo com Rashdall (1936), universidade tinha uma conotação de um amontoado de estudantes ou pessoas, mudando, no século XIII para um grupo de estudantes e mestres. Rashdall se interessou e estudou as universidades medievais e suas contribuições para o que temos hoje. Segundo esse autor, elas guardam mais histórias que as igrejas que tanto se estuda e visita. As universidades tiveram um marco importante para a burguesia e para a ciência e seu desenvolvimento. As instituições surgem para responder questões de interesse da elite. Portanto, vale ressaltar que as descobertas servem para o homem. O texto apresentado abaixo é interessante, pois traz uma visão sobre o interesse nas universidades. O autor focou sua pesquisa na história da universidade de Bolonha, considerada a primeira do mundo. Vale a pena! Boa leitura e aproveite esse momento de conhecer mais. A Universidade Medieval: Uma Memória1 The Medieval University: A Memory Terezinha Oliveira […] O primeiro fato ao estudar as origens das Universidades, o primeiro problema com o qual Savigny se depara é a dificuldade de se definir um fato específico que teria marcado o nascimento dessa Instituição. Do seu ponto de vista, essa origem pode ser explicada pela existência de um grande mestre, por um privilégio imperial, por uma concessão eclesiástica, enfim, nada assegura, com exatidão, o acontecimento que permitiu o nascimento dessa corporação. 11 É exatamente por causa dessa dificuldade que Savigny decide buscar as origens da Universidade na cidade de Bolonha, pois lá seria encontrado o documento mais antigo que legisla sobre a criação da primeira unidade dessa Instituição, a Universidade de Bolonha. Cumpre observar aqui que não podemos nos esquecer da formação desse intelectual. Trata-se, como já mencionamos, de um jurista, portanto, as leis constituem um elemento essencial de sua abordagem. Isso não quer dizer, contudo, que Savigny não possa ser encarado do ponto de vista da história, muito pelo contrário. O fato histórico do qual devo tratar é o privilégio concedido por Frederico I em novembro de 1158, na assembleia de Roncaglia. Embora Bolonha não tenha sido escolhida não tinha como não conceder-lhe esse privilégio. O privilégio foi estabelecido em favor daqueles que viajam com o intuito de estudar e os professores de direito são especialmentemencionados com palavras muito honrosas. […] Este privilégio tinha dois objetivos: em primeiro lugar concedia proteção especial aos estudantes estrangeiros que por amor a ciência enfrentavam tantas dificuldades. Eles tinham o direito de viajar livremente por toda parte, era proibido submetê-los a qualquer tipo de vexação sob pena de severíssimas punições, também não podiam ser acusados pelos delitos ou pelos erros de seus compatriotas. Existia, além disso, uma jurisdição particular fora da qual não poderiam ser conduzidos (SAVIGNY, 1844: 108-109). A passagem acima explicita claramente que os estudantes e mestres, especialmente os de direito, passaram a ter determinados privilégios que lhes possibilitaram se dedicarem com mais tranquilamente aos estudos. E um dos mais importantes privilégios nesse sentido foi a liberdade dada aos homens de saberes para que pudessem viajar livremente. Para nós, contemporâneos, esse direito é algo bastante estranho, na medida em que temos, em geral, inteira liberdade de viajar. Contudo, para o homem medieval isto era bem diferente, embora essa sociedade seja a de “andarilhos”, os homens não podiam viajar sem a autorização de seus senhores, fossem laicos ou eclesiásticos. Além disso, eram constantemente importunados nas paragens, nos pedágios. Ao dar liberdade de locomoção, Frederico I permite ao menos no âmbito da legislação, que os homens dedicados ao conhecimento não passassem mais por esses aborrecimentos. Paulo Nardi, um teórico contemporâneo, ao analisar as relações entre as Universidades e os poderes (laico e eclesiástico, entenda-se governo), chama-nos a atenção para a importância da lei de Frederico I, a Authentica Habita, mencionada por Savigny. Nardi, do mesmo modo que o jurista alemão considera que a primeira medida real de proteção “às gentes de estudo” foi tomada por Frederico I, em fins do século XII, por ocasião da promulgação de uma “constituição”, intitulada Authentica Habita, na qual se colocava sob proteção o saber científico e todos aqueles que se dedicassem a ele, fossem habitantes naturais da Itália ou estrangeiros. […] a Authentica Habita, uma constituição publicada pelo imperador Frederico I, o Barba Roxa, quando foi a Itália pela primeira vez para receber a coroa. Ele reuniu-se com os mestres e estudantes da escola de Direito em Maio de 1155, perto de Bolonha. Segundo o autor anónimo de ‘Carmen de gestis Frederici I’, aqueles suplicaram ao imperador que proibisse o exercício do direito de represália contra os escolares estrangeiros (captura de pessoas ou propriedade para satisfazer dívidas em que incorriam os seus compatriotas) e que lhes concedesse a todos liberdade de movimento << para que todos os homens 12 inclinados ao estudo sejam livres de ir e vir e vivam em segurança […] Frederico I, o Barba Roxa, publicou imediatamente a famosa constituição em que – em primeiro lugar – afirmava o valor preeminente do saber científico e reconhecia que todas as pessoas que, em busca desse saber, eram obrigadas a viver longe do seu país eram dignas de louvor e mereciam proteção (NARDI, 1996: 76). De acordo com o autor, as medidas promulgadas pela Authentica não foram totalmente respeitadas, inclusive em função das condições históricas da época. A insegurança que rondava as cidades, a rejeição aos estrangeiros, a pouca importância que a população citadina dava aos homens que se devotavam ao saber, os privilégios dos mestres e dos escolares em relação à população local, ou seja, um conjunto de condições e fatores obstaculizaram o livre cumprimento dessa lei. Contudo, isso não impediu que novas leis fossem criadas pelo rei, na Itália, visando a proteção das “gentes do saber”. Isso demonstra que se tratava de uma luta intensa para estabelecer e proteger o saber, pois, mesmo o rei não estava conseguindo. Em 1220, Frederico II edita uma nova lei para proteger as pessoas que se devotavam ao saber, especialmente as do Direito de Bolonha e de Nápoles. Aliás, há que se destacar um fato notável: o rei promulga essa lei no dia da sua coroação, o que demonstra a importância dessa instituição para o seu governo. No dia da sua da sua coroação, em 22 de Novembro de 1220, o imperador Frederico II promulgou a constituição denominada De statutis et consuetudinibus contra libertatem Eclesiae editis, em que se salvar guardavam as imunidades e privilégios do clero, e ordenou aos juristas de Bolonha que o integrassem no grande Corpus de Direito Romano. Ele mostrava, deste modo, que o poder político imperial continuava interessado nas escolas de Direito, no seguimento de uma tradição que já remontava à constituição Habita, mas que depressa foi interrompida pela guerra e pela crise dinástica que precedeu a sua ascensão ao trono. Mesmo assim, o imperador Frederico II não tinha intenção de competir com o Papa como protector do studium de Bolonha; tinha, porém, outros planos, mais ambiciosos – como viriam a mostrar os anos de sua enérgica governação da Itália. O seu primeiro acto importante no campo da política acadêmica foi a fundação do studium de Nápoles, com o objetivo de formar a classe dirigente do reino da Sicília – um território que não era menos querido a Frederico II do que o Sacro Império Romano. Em 1224, enviou uma carta a todos os dignatários do reino, na qual expunha as razões para a sua decisão e o modo como esta deveria ser posta em prática; esta carta fazia eco de partes da constituição Habita e seguia algumas de suas directivas. Mas por razões completamente diferentes: embora ambos os documentos mostrassem a intenção de proteger os estudantes e os professores em relação aos desconfortos do estatuto de estrangeiros (peregrini), a constituição Habita oferecia protecção a todos os centros de ensino possíveis e proibia represálias de qualquer espécie, ao passo que a <> de 1224 limitava essa protecção aos indivíduos que freqüentassem o studium de Nápoles. (NARDI, 1996: 84-85). Essa nova lei lembrava, em muitos aspectos, a Authentica. Todavia, ela está, efetivamente, mais dirigida ao ensino do direito, objetivando conservar os privilégios do clero na Universidade de Bolonha e proteger os alunos e os studia da Itália, em virtude, inclusive, da ambição política de Frederico II de expandir o seu Império. Nesse sentido, essa nova lei se diferencia da de 1155 uma vez que aquela estendia a proteção e o privilégio a todos os estudantes, inclusive aos estrangeiros e aos diferentes studia sob o governo de Frederico I. Disponível em: <Dialnet-AUniversidadeMedievalUmaMemoria-2227065.pdf>. Acesso em: 08/11/2018. 13 O texto nos possibilita entender o caminho percorrido pelas universidades e os interesses que guardavam o surgimento e a abertura das demais. Percebe-se que surgem das decadências das escolas religiosas devido a características econômicas e expansão do ocidente com busca de sujeitos competentes para o trabalho. De acordo com Charles e Verger (1996), as universidades herdam modelo de ensino de Platão e Aristóteles, que propunham ensinar para seus discípulos (alunos) seus conhecimentos. Um sistema resgatado por S. Tomás de Aquino, na tentativa de conciliar a fé com a razão, depois de estudar as obras de Aristóteles. Para Aquino, o conhecimento pode ser decorrente da fé ou da razão. Essa linha de ensino perde força com a chegada de Galileu e Descartes, que defendem a ideia de que as descobertas e pesquisas devem ser comprovadas por observação e experiência. Figura: S. Tomás de Aquino Figura: Galileu Galilei Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/. Fonte: http://www.filosofia.com.br/historia_show.php?id=67. Aquino e Galileu marcaram a ciência com suas ideias. O primeiro acreditando na fé e razão na ciência e o segundo na comprovação do que se pesquisa na ciência. Universidade era um espaço para estudantes e mestres aludindo à ideia de pesquisa,descoberta e transformação e, portanto, muito prestigiada e respeitada, pois admirava-se aqueles que decifravam o mistério do livro. Nessa época, nem todas universidades possuíam prédios próprios, entendendo que o temo http://www.filosofia.com.br/historia_show.php?id=67 14 universidade era utilizado para o agrupamento de mestres e alunos. Esse encontro, por vezes, acontecia nas casas dos professores, igrejas ou nas ruas e praças. Minogue (1981) ressalta que no início da Idade Média, a universidade estava muito ligada à igreja. Com o acesso ao conhecimento e estudos, os estudantes passaram a reivindicar o afastamento da igreja, pois buscavam liberdade para pesquisar e discutir assuntos diversos, sem alguém ou instituição restringindo o conhecer. Os estudos eram tão respeitados e valorizados que, de acordo com o autor, não se pensava em férias, apenas paradas para dias festivos, respeitados por toda a população. Podemos, então, entender que as universidades surgem do interesse de saber e conhecer, características filogenéticas do homem. O homem, curioso por natureza, busca compreender as coisas do mundo que o rodeia e desvendar mistérios transformando a vida e a sociedade de maneira que se beneficie. Assim, durante a Idade Média, a marca da universidade era um privilegio de poucos, contando com o apoio e reconhecimento da igreja e instituições que queriam ter o privilegio do saber. Alguns fatos valem ser ressaltados, como o desenvolvimento dos feudos, a exploração marítima, as cruzadas, que fizeram com que os homens tivessem Será que naquela época havia diploma? Bom, pelo que tenho lido, eles recebiam títulos. Título de Bacharel. Fonte: https://publicdomainvectors.org/pt/vetorial-gratis/Rapaz-pensando-em-quest%C3%A3o/70001.html 15 contato com culturas diferentes, desenvolvendo mais a curiosidade em entender e descobrir as coisas, ampliando seu olhar para o mundo. 1.2 Ensino superior – Contexto histórico A Europa foi o berço das universidades (Itália, França, Inglaterra e depois todo continente). O Brasil demorou em abrir universidades, por ser um país com nativos, cujos interesses estavam na convivência simples e natural. A tentativa de uma universidade no Brasil foi com os jesuítas em 1549, com o intuito de catequizar os nativos, explorar o espaço e integrá-los ao padrão europeu, considerado o certo e o melhor. A população brasileira, aos poucos, foi perdendo sua identidade e assumindo a dos portugueses. Com os jesuítas, o Brasil recebeu doutrina, religiosidade, moral e uma maneira de educar e aprender europeia. Tivemos no Brasil vários estudiosos para os quais a formalização dos estudos deveria ser na Europa (Portugal), mas essa oportunidade de estudo era para poucos, como membros da igreja e filhos de burocratas. Brasil, atrasado no caminho da intelectualidade, marcava seus estudos na literatura, deixando para trás as demais áreas, como geologia, botânica, astronomia e outras. Pelo tempo que os jesuítas ficaram no Brasil, somente os seminaristas e religiosos tinham acesso ao conhecimento, pois Portugal resistia em trazer conhecimento aprofundado à população devido à política de colonização e exploração. Para eles, não justificava uma universidade ou um aprofundamento do saber para os nativos. O ensino superior no Brasil teve seu início em 1808 com a família Real, que necessitava de infraestrutura para estadia no Brasil e atendimento à aristocracia que não podia estudar fora do país pelo bloqueio napoleônico. O rei D. João criou cursos isolados profissionalizantes de Medicina, Engenharia e Economia. Portugal resistia fortemente à implantação de universidades, pois temia perder o controle da colonização. 16 Alguns estudiosos e historiadores consideram a Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, fundada no Brasil em 1792, a primeira universidade trazida para o Brasil, pelo vice-rei D. Luís de Castro e, no mesmo ano, o ensino superior de engenharia. Esse feito do vice-rei de Portugal foi algo inusitado, haja vista que não era do interesse do governo Português instalar ensino superior no Brasil e sim distribuir bolsas, àqueles que eram convenientes a eles, de estudo em Portugal. As mudanças que ocorreram no Brasil foram decorrentes da necessidade de organização política, econômica, militar e judiciária para a instalação da família de D. João e sua comitiva. Embora o ensino superior continuasse por muitos anos como privilégio de poucos, ele foi sendo instituído por vários estados. Vejamos alguns, desconsiderando a Academia de Artilharia e Desenho de 1792: 1808 Academia dos Guardas-Marinhas Rio de Janeiro 1808 Academia Médica Cirúrgica Rio de Janeiro 1808 Escola de Cirurgia Bahia 1809 Colégio das Fábricas Rio de Janeiro 1810 Academia Real Militar Rio de Janeiro 1812 Curso de Agricultura Bahia A Academia dos Guardas-Marinhas, criada em Portugal em 1782 e instituída no Brasil em maio de 1808, formava oficiais para a defesa da coroa portuguesa. A academia ensinava ciências, matemática e estratégias militares, para formar oficiais do Exército, Marinha e Engenharia. Temos nessa instituição a junção entre Marinha e Exército em uma única instituição (“Academia Militar e de Marinha”). Em 1832, essa junção foi desfeita por falta de espaço, localizado no convento de São Bento, para acomodar os alunos. 17 Academia dos Guardas-Marinhas Em relação à Academia Médica Cirúrgica e a Escola de Cirurgia, destacamos que a medicina do século XVI ao XIX era praticada por físicos e cirurgiões barbeiros. Estes últimos usavam a mesma navalha de barbear para fazer uma cirurgia. No Brasil, as escolas médicas datam de 1808, por um decreto que estabeleceu o curso no hospital militar da Corte, deixando como responsável o médico José Correia Picanço. Como já mencionado anteriormente, os cursos superiores, até a chegada da família real, eram proibidos, sendo autorizados para melhor acolhimento da realeza. Por um tempo, a formação era em Coimbra. A grande maioria eram cirurgiões formados na prática, auxiliando os cirurgiões. Depois passavam por uma avaliação pelas autoridades e recebiam autorização para praticar a medicina. No Brasil, os primeiros cursos foram em hospitais militares da Bahia e Rio de Janeiro. Na Bahia, a escola de cirurgia destinava-se a instruir os que iriam exercer essa arte. No Rio de Janeiro encontrava-se a Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica, mais complexa, e o Hospital Real Militar, no antigo Colégio dos Jesuítas, perto da família Real, na Bahia. Academia Médica Cirúrgica Fonte:http://mapa.an.gov.br/index.php/menu-de-categorias-2/245-academia-militar-e-de-marinha. 18 Em 1808 foi permitida a criação de fábricas e espaço de manufaturas no Brasil. O Colégio das Fábricas foi fundado em 1809 para formar e artífices vindos de Portugal sob a direção de Sebastião Fábregas Surigué. Os mestres preparavam os alunos para as atividades e construção de fábricas. Nessa escola, as atividades eram variadas. Continha escola de tecido, bordados, desenho, música, tinturaria, tornearia, serralheria, ferraria, cartas e outras mais. A Academia Real Militar, criada em 1810, ministrava cursos de ciências, matemática e de observação, formando engenheiros, metalúrgicos, topógrafos, geógrafos habilitados aos estudos militares e à prática de trabalho. A vinda da família real trouxe grandes mudanças para o Brasil, devido à necessidade de conforto e atendimento adequado. O que até 1808 era proibido passou a ser permitido com a supervisão de militares e agentes do governo Fonte:http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/iah/pt/verbetes/escancimerj.htm Fonte: <http://mapa.an.gov.br/index.php/dicionario-periodo-colonial/155-colegio-das-fabricas>. Colégio dasFábricas 19 português, mas a didática era algo que não fazia parte da preocupação dos mestres. Não havia o interesse em uma ação que trouxesse crescimento profissional e nem melhor capacitação. O objetivo maior eram profissionais especializados, mas que não tivessem capacidade de contestar e reivindicar. As aulas eram orais, com exposição sobre rígida disciplina e punições caso fosse necessário e os manuais e livros não podiam ser mudados sem autorização dos militares. Um ensino voltado para interesse da corte e não do estudante ou população. Leia o texto de Sad de 2011 que traz um estudo minusioso de como era a educação nessa época. SAD, Ligia Arantes. A ACADEMIA MILITAR (1810-1838). Disponível <http://www.rbhm.org.br/issues/RBHM%20- %20vol.11,no23/10%20-%20Ligia.pdf>. Acesso em: 09/10/2018. O curso de Agricultura tinha o objetivo estimular os habitantes a se apropriarem do conhecimento das ciências naturais, pelo fato de a agricultura ter crescido e a população desconhecer processos e máquinas de trabalho eficientes. A coroa acreditava que, ao conhecer a natureza, o homem dominaria melhor os recursos que esta oferecia e desenvolveria um método de produção eficiente. 20 Como já mencionado e reafirmado em textos anteriores, a chegada da família real no Brasil abriu espaço para o crescimento do país, mesmo lento e sem grandes interesses de uma população letrada, pois passou a ser importante para eles que o Brasil fosse um lugar seguro e adequado para se viver na época e situação que eles estavam passando. Os diplomas eram concedidos, assegurando emprego e prestígio aos membros da sociedade. Mesmo com resistência, as universidades foram criadas e, a partir dessa iniciativa, foram se ampliando pelos territórios brasileiros. Fazendo uma retrospectiva da educação, vimos que os jesuítas promoviam a fé e buscavam educar os nativos, civilizá-los. Em 210 anos, os jesuítas tentaram organizar a educação, inclusive com ensino superior para formação de sacerdotes. O Marquês de Pombal, que administrava o império português, passou a não gostar dos resultados obtidos pelos ensinamentos dos jesuítas, que começavam a trazer conscientização e não apenas mão de obra sem contestação ou questionamentos. Em 1759, as escolas são fechadas e os jesuítas expulsos, pelo comando de Marquês de Pombal, trazendo anos de escuridão. Ele acabou com a organização educacional, tornando o país com uma educação precária, largado a professores despreparados. A situação passa a mudar com a chegada da família real. D. João VI desenvolve uma estrutura grandiosa para que sua família e assessores pudessem viver adequadamente. Com isso, pretendemos que você, aluno, possa compreender as questões políticas que envolvem a educação no Brasil. Fonte:http://mapa.an.gov.br/index.php/dicionario-periodo-colonial/165-curso-de-agricultura-da-bahia. Instrumento para lavrar a terra, em prancha, da Enciclopédia iluminista de Diderot e d’Alembert, publicada em Paris de 1751 a 1772 21 Abaixo, imagem de um diploma concedido. Diploma concedido – Imagem de 1844 Carta de Bacharel concedida a Julio Cesar Berenguer de Bittencourt pela Academia de Ciências Sociais e Jurídicas de Olinda, 14 de outubro de 1844. Fundo Itens Documentais. QN 68, 7, cod. 995, 1. Fonte:http://www.arquivonacional.gov.br/br/component/tags/tag/serie-imperio.html Durante todo o período colonial, várias vezes tentaram abrir universidades no Brasil, haja vista que os jesuítas tinham formação e levaram propostas para Portugal, mas não era conveniente que os nativos tivessem acesso a conhecimentos mais aprofundados. A educação liberta e não era do interesse dos colonizadores que essa liberdade chegasse no Brasil. Vale lembrar que a relação trabalho e educação era bem distinta, pois estamos falando de uma época em que o escravismo existia e o trabalho era dividido entre escravos e intelectuais. O trabalho escravo não tinha respeito social (manual e rude) e os trabalhos intelectuais eram ligados à república ou à elite metropolitana. O trabalho realizado na colônia por indivíduos livres era rejeitado, pois estava associado a trabalho realizado por escravos. Quando o trabalho era realizado por escravos, havia um intermediário e, quando realizado por pessoas livres, era tratado diretamente com elas, mas, como estava ligado a um trabalho realizado por escravos, não era reconhecido 22 socialmente. Isso está intimamente ligado às relações sociais nascidas da produção. Acesse o site abaixo e conheça a Revista Acadêmica n.º 1,de 1920: http://hemeroteca.ciasc.sc.gov.br/revistas/revistaacademica/REV1920001.pdf e no site <http://mapa.an.gov.br/index.php/dicionario/80- assuntos/producao/cronologia/508-periodo-joanino-1808-a-1822> você poderá ver as produções em ordem cronológica de 1808 e poderá ter uma ideia sobre as conquistas brasileiras no ano da chegada da família real. Até o fim do século XIX, a colônia portuguesa alegava que os ensinos superiores só poderiam existir se suas sedes fossem na corte. Com tantos argumentos contra, as autorizações não aconteciam. Em 1822, a independência não trouxe mudanças no ensino, pois a elite não via vantagem em abertura de universidade devido à facilidade de estudar em Lisboa. Estudos mostram que, entre 1808 e 1882, 24 projetos de abertura de universidades foram recusados por não haver interesse por parte de Portugal. Em 1850, algumas instituições foram abertas, bem como museus e centros científicos e o aumento das universidades era contido pela alegação de pouca verba, esbarrando no interesse político. O Brasil, até final do século XIX, contava com apenas 24 ensinos superiores, abrindo espaço para as escolas privadas, de elite e igreja, rompendo com o modelo das escolas regidas pelo governo, com destaque para as engenharias (1896, Mackenzie). Essa ideia trouxe debates contra e a favor, tendo uma elite laica e intelectualizada que defendia uma universidade pública com pesquisas. Em 1920, as discussões giravam em torno da função social da universidade, acreditando que ela deveria guardar a ciência e promover pesquisas para o bem social. Ela se transformaria em um centro de saber. Para Aranha (1996), as propostas feitas para educação no século XIX contribuíram para movimentos no século XX de escolas públicas e voltadas para pesquisa. Com o crescimento das indústrias no Brasil e o aumento demográfico, foram necessárias ações políticas voltadas a educação e formação. 23 1.2 Dados sobre a expansão do ensino superior no Brasil Dados mostram que, mesmo tendo aumentado o número de Instituições Superiores (IES) e de alunos matriculados na década de 1990, a taxa de escolarização ainda é baixa entre as idades de 18 e 24 anos. O Brasil em 2017 tinha 296 Instituições de Educação Superior pública e 2.152 privadas, equivalendo 87,9%. Do total de 2448 IES (públicas e privadas), 87,9 % são faculdades e 8,1% são universidades. As universidades, com origem no latim – universitas – têm autonomia de oferecer mais cursos, porque contemplam todas as áreas de estudos – humanas, exatas e biológicas e têm diferentes graus de pesquisa: graduação, pós- graduação (lato e stricto sensu), sendo que o stricto deve ter o mestrado e o doutorado. O corpo docente deve ter, no mínimo 1/3 de mestres e doutores e com trabalho em tempo integral, para efetuarem pesquisa e desenvolverem trabalhos de extensão. Em uma universidade pública, a grande maioria dos docentes são doutores, com raras exceções. Já nas universidades particulares, encontraremos, com frequência, docentes mestres. Faculdades têm seu foco em uma área de ensino, podendo ser, por exemplo, de humanas ou tecnologias. Não têm obrigação de oferecer cursos de extensão e nem é cobrada delas a pesquisa. Portanto, seus docentes podemter apenas uma pós-graduação lato sensu. O centro universitário não tem a complexidade da universidade. Sobretudo, tem mais exigência para sua abertura que para a faculdade. Precisa de 1/3 de Vejamos a diferença de Universidade, Faculdade e Centro Universitário. 24 docentes mestres e doutores e 1/5 precisa ser integral para pesquisa. Uma exigência menor que a da universidade. Por isso, a nomenclatura centro universitário. Na tabela abaixo, de 2016, você, aluno(a), pode fazer uma análise comparativa em relação a 2016 e 2017, sobre o exposto acima: Ao longo de 17 anos, de acordo com dados, o número de ensino superior aumentou e, consequentemente o de matrículas também, solicitando um olhar mais detalhado para esse fato, levando em consideração uma série de situações. O olhar de um pesquisador não deve ser míope e nem parcial, pois a pesquisa requer um certo distanciamento para que a visão seja imparcial e não fragmentada. 25 Fonte: BRASIL, Senso da educação superior. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/censo_superior/documentos/2018/censo_da_edu cacao_superior_2017-notas_estatisticas2.pdf>. O aumento das matrículas no Ensino Superior não garante a qualidade e nem a boa formação do cidadão brasileiro. Essa análise deve ser feita levando em consideração o ensino como todo o caminho a chegar na universidade, sendo que 74% das matrículas estão concentradas no setor privado, contando com o apoio do Programa Universidade para Todos (ProUni), o Programa de Financiamento Estudantil (FIES) e o programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). A rede privada tem crescido exponencialmente, sendo a responsável pelo acolhimento da maioria da população que busca continuar o ensino, o que leva, cada vez mais, a seu aumento no intuito de lucro. 26 Fonte: BRASIL, Senso da educação superior. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/censo_superior/documentos/2018/censo_da_edu cacao_superior_2017-notas_estatisticas2.pdf>. Quando verificamos o percentual de matrículas em ensino superior privado, temos uma noção do quadro que se apresenta no Brasil, em relação ao atendimento à população. O governo precisa desenvolver políticas públicas que atendam a população de maneira igualitária e equânime. No governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC), priorizou-se o que as indústrias necessitavam, trazendo políticas que atendessem às demandas, levando a flexibilização para as universidades privadas, tornando-as instituições voltadas apenas ao ensino. Para Agapito (2016), foi a partir de 2000 que o governo colocou mais força na expansão do ensino superior, com projetos, leis, decretos e incentivos, objetivando aumento de matrículas na IES, principalmente nas privadas, para atender às metas estipuladas pelo Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI). 27 O Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), que hoje integra o grupo Banco Mundial, criado em 1944, junto com o Fundo Monetário Internacional (FMI), na cidade de Bretton Woods, para auxiliar os países a se restabelecerem, têm como objeto financiar projetos e estabilizar o sistema monetário internacional, diante de um quadro de instabilidade financeira de vários países. Na década de 1980, o BM passou a exercer um papel importante na busca de restabelecimento econômico nos países em desenvolvimento, atrelando seu empréstimo a algumas metas que os países que recebessem o auxílio deveriam atingir. O Plano Nacional da Educação (PNE, 2001 – 2010) era a universalização do ensino superior, trazendo-o para perto do mercado de trabalho, produção do capital intelectual, apoio às universidades privadas, ensino a distância, propiciando que a população tivesse acesso ao ensino superior. 28 EDUCAÇÃO SUPERIOR NO PNE (2014-2024): APONTAMENTOS SOBRE AS RELAÇÕES PÚBLICO-PRIVADAS. Lalo Watanabe Minto […] PÚBLICO-PRIVADO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR: CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS Uma nova lógica de organização foi introduzida pela Reforma Universitária de 1968 (MARTINS, 2009), quando teve início uma expansão quantitativa do ensino superior privado, que se tornou predominante desde então. Essa expansão, porém, é uma das dimensões de um processo mais complexo, não seu único veículo, da mesma forma que a mercantilização não é exclusividade do setor privado (Minto, 2014, p. 250). Desde então, privatizar […] passou a denotar a organização e reorganização permanente do nível superior de ensino nas condições do novo padrão de acumulação capitalista pós-crise dos anos 1960/1970. A afirmação desse caráter privatista não deve, contudo, criar a ilusão de que o papel do Estado tenha sido diminuído ou neutralizado neste processo (MINTO, 2014, p. 263-264). O papel do Estado continua a ser decisivo na política educacional. Mas é um papel movente, que acompanha os conflitos de classe em sua dinâmica concreta na qual, em contextos como o predominante nas últimas duas décadas, sua posição é de estímulo à lógica privatizante. A reestruturação capitalista ampliou a heterogeneidade estrutural da base produtiva brasileira, alterando as formas de inserção das classes e frações de classes locais na dinâmica do novo padrão global de acumulação de capital. Nesse contexto, as próprias frações burguesas locais vêm patrocinando um conjunto de políticas que busca inviabilizar a universidade como uma instituição autônoma (Leher, 2010, p. 29). A tentativa é de inviabilizar todo um projeto histórico — classista (burguês), mas de base nacional democrática — recolocado em pauta no processo de democratização pós- 29 ditadura, para o qual a universidade tinha um papel a cumprir como centro estratégico de produção científico-tecnológica. Esvaziada desse papel, a heteronomia vem tornando-se o modo de ser da educação superior brasileira, num processo com dois sentidos principais: de reestruturação das universidades “de excelência”, assoladas pelas panaceias do eficientismo, do produtivismo e da administração gerencial, em que se valorizam aqueles setores e atividades mais afetas aos interesses dos grandes capitais; e de crescente mercantilização e vinculação com o capital financeiro internacional nas instituições de ensino superior (IES) privadas, em sua maioria não universitárias ou arremedos de universidades. […] Fonte: MINTO; Lalo Watanabe. Educação superior no PNE (2014-2024): apontamentos sobre as relações público-privadas. Disponível <http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v23/1809- 449X-rbedu-23-e230011.pdf>. Acesso em: 20/11/2018. O texto possibilita uma reflexão sobre ações políticas, dentro de um contexto sócio-histórico-político. Nenhuma ação é esvaziada de um interesse maior. Percebe-se que uma história de domínio leva anos, décadas e séculos para ser transformada e aparadas as arestas deixadas pelas ações inadequadas de poucos. A guerra gera desigualdades que perduram e enraízam de maneira a deixar cicatrizes por muitos anos. O ensino superior teve um crescimento devido à necessidade de se atender a uma exigência de um grupo financiador. Para que se continue a ter a garantia do empréstimo financeiro, o Brasil precisa provar ser capaz de cumprir metas. 30 1.3 O avanço do ensino a distância Estamos presenciando um cenário em que a tecnologia está muito presente no cotidiano da população. A informação pode ser obtida praticamente de maneira instantânea e a exigência da sociedade passa a ser de cidadãos proativos, atualizados. A globalização leva todos os setores a repensarem seus objetivos e ações, não sendo diferente na área da educação, que deve preparar para uma sociedade do conhecimento, que está em constante mudança e necessita de pessoas que acompanhem e sejam agentes dessa transformação. A Lei de Diretrizes e Basesda Educação Nacional, n.º 9394, de 20 de dezembro de 1996, flexibiliza a abertura de ensino a distância. Para fortalecer essa decisão, há o Decreto n.º 2.494/98 e a Portaria n.º 301/98, que responsabiliza a oferta da educação a distância pelas instituições públicas e privadas de ensino. A LDB n.º 9394/96 faz com que a educação a distância passe a ser uma modalidade concreta e não paliativa para a democratização do ensino. Com o incentivo oferecido pelo governo, ela passa a ser um meio de formação e de continuidade da formação inicial, com destaque aos cursos de licenciatura. Esse panorama sinaliza a impotência das instituições públicas em acolher a população pois, para que o acolhimento seja efetivado, existe o vestibular. O ensino superior a distância ganhou força no primeiro Plano Nacional de Educação (PNE, 2001-2010), que tinha concentradas suas ações no ensino superior para todos, pois a desigualdade social era muito visível e o analfabetismos ainda assustador. O PNE estava em busca da universalização do ensino, incentivando o ensino a distância, que sanaria algumas fragilidades encontradas no Brasil. Dessa forma, a educação deveria ser desenvolvida a qualquer custo e medidas foram tomadas na tentativa de melhorar do quadro que se apresentava. Cabe analisarmos o contexto em que se apresenta a educação a distância. 31 O quadro abaixo traz a possibilidade de analisar o sexo, o turno, a idade dos alunos do ensino a distância. Percebe-se que o sexo não é determinante na escolha da modalidade, mas a característica dos ingressantes é de pessoas mais velhas, sendo os cursos de licenciatura os mais procurados. Fonte: BRASIL, Senso da educação superior. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/censo_superior/documentos/2018/censo_da_edu cacao_superior_2017-notas_estatisticas2.pdf>. A educação a distância viabilizou que não só a distância não fosse empecilho de estudar como também a dinâmica do cotidiano não fosse um fator de separação da população com a formação e desenvolvimento. Deparamo-nos com o desafio de adequar a educação a distância à necessidade da sociedade tão complexa como o Brasil. Com a diversidade que caracteriza o país, a EaD deve pensar em como atingir a todos de maneira que promova o desenvolvimento efetivo. A educação a distância não é nova, mas o seu crescimento está sendo significativo, pela demanda de constante informação e formação. A educação presencial não está dando conta de atender às exigências em relação à rapidez da informação a ser adquirida, a qualidade com a qual ela é transmitida e o tempo disponível para estudo e deslocamento. Nesses casos, a EaD é uma alternativa para a democratização e acesso ao ensino. 32 A EXPANSÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL E A EAD: DINÂMICAS E LUGARES Kátia Morosov Alonso A discussão sobre a expansão da EaD no Brasil apresenta, de fato, contradições importantes sobre a qualidade do ensino superior, denotando algumas das estratégias do poder público para o incremento dos índices de acesso a esse nível de ensino. Se há, por um lado, programas de financiamento que canalizam recursos da esfera pública para a esfera privada, como o Programa Universidade Para Todos (PROUNI), a EaD é claramente tomada como modalidade de ensino para aceleração rápida da expansão de vagas no ensino superior. No mote da expansão da EaD, dois temas são recorrentes: a democratização do acesso ao ensino superior e a necessidade da formação dos profissionais da educação, como fator para melhoria da qualidade do ensino fundamental e médio. Importante frisar que a tônica das propostas, no âmbito da formação dos profissionais da educação, abarca as duas dimensões que são consensuais em se tratando da formação do professor: a inicial e a continuada. A formação inicial, como exposto no Documento da Conferência Nacional de Educação Básica (CONEB, 2008), 1 tem vinculação com a formação em nível superior. No caso da formação de professores, tal perspectiva tem origem nas lutas docentes das décadas de 1980/ 1990 e na própria “conformação” da carreira profissional que traz a formação inicial, em nível superior, como condição para se atingir patamares mínimos que a articulem – formação – e salário. Isto posto, se a concordância em torno desse assunto implica reconhecer a necessidade de expansão efetiva do sistema do ensino superior brasileiro, de modo que seja assegurada a formação inicial aos professores em exercício, bem como àqueles que fizerem a opção por esta carreira, teríamos aqui uma das primeiras questões a serem pensadas/discutidas no momento. Além da formação inicial, o documento da CONEB aponta também a formação continuada como uma das condições para a melhoria da qualidade da educação. Embora a ideia da educação continuada não esteja vinculada apenas às instituições de ensino superior, por se considerar que essa dimensão da formação profissional esteja integrada, 33 no caso dos professores, aos sistemas de ensino, há, de toda maneira, estreita ligação entre as dimensões de formação antes citadas e o ensino superior. A temática “Formação e expansão do ensino superior” é importante para discussão das propostas relacionadas à EaD, na medida em que se propõe estabelecer, minimamente, como se faz no documento da CONEB, os âmbitos da formação que poderiam, ou não, ser desenvolvidos por essa modalidade de ensino. […] Fonte: ALONSO, Kátia Morosov. A EXPANSÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL E A EaD: dinâmicas e lugares. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/es/v31n113/14.pdf>. Acesso em: 22/10/2018. Atividade de aplicação Diante do texto acima apresentado e sua leitura sobre assunto, elabore uma reflexão sobre a educação a distância e sua função social dentro nas perspectivas das políticas públicas no Brasil. Traga autores pertinentes ao tema. Nessa unidade você teve a oportunidade de entrar em contato com a história das universidades, conhecendo as que são consideradas pioneiras e o contexto histórico da educação no Brasil, que teve início com a chegada dos jesuítas, responsáveis pelas primeiras mudanças na formação dos nativos e, posteriormente, da família real que, por motivo de fuga de Portugal, deu continuidade a uma educação, embora tivesse uma concepção elitista. Entender o caminho percorrido para a conquista da escola faz com que entendamos a nossa educação e o que está por traz das decisões tomadas pela elite política que a rege. 34 A ideia de universidade para todos envolveu muitos anos e gerações, com ideia de um espaço laico para pesquisa. Essa luta, que demorou para chegar ao Brasil, teve como consequência a abertura de algumas universidades pela Europa e posteriormente nas Américas, chegando ao país em 1808, de maneira tímida e controlada. Percebemos que políticas públicas educacionais visam interesses de poucos, cabendo à população buscar seus direitos e exercer seus deveres para a conquista da educação igualitária e equânime. Você teve a oportunidade de conhecer a história do Ensino Superior sua expansão e o incentivo à educação a distância, para cumprir as metas dos Planos Nacionais da Educação (PNEs). Em relação à educação superior, os Planos Nacionais de Educação tomam como o Estado Neoliberal e buscam sanar as lacunas sociais existentes no Brasil, como a desigualdade e a falta de estrutura física e financeira para atender a uma situação legal de educação como direito de todos e continuidade dos estudos garantida, estipulada na Constituição Federal de 1988 e na LDB n.º 9394/96. Logo, com as metas estipuladas pelo PNE, abre-se possibilidade de atender à população dentro de sua complexidade e especificidade. Trouxemos textos importantes para sua formação e discussão sobre a relação entre educação, crescimento e desenvolvimento de um país. Esperamos que tenha aproveitado e que esselivro-texto seja apenas um começo na sua caminhada para o saber político educacional. Questão 1. Leia o texto abaixo com atenção De acordo com a UNESCO (1998), a tendência da Educação Superior constatada a partir da década de 1990, associada aos novos desafios resultantes do desenvolvimento das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTIC), fez com que as autoridades educativas tivessem que redefinir, do ponto de vista legal e pedagógico, o papel e a missão da Universidade para poder orientarem o desenvolvimento em função de novos enfoques e possibilidades. Ainda que, em linhas gerais, a globalização tenha afetado de forma diferenciada o sistema educacional dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, é possível detectar uma série de tendências comuns a esses países. 35 Segundo SEGRERA (2005), elas são: 1) mudanças na organização e no tipo de trabalho exigem um nível mais elevado de educação da força de trabalho e a requalificação permanente; 2) pressão crescente sobre os governos dos países em desenvolvimento para que estes invistam mais em educação, para poder preparar uma força de trabalho mais competitiva, produzir técnicas sofisticadas, que permitam competir num mercado mundial cada vez mais globalizado; 3) a complexidade crescente da educação superior, que tornou seus currículos mais diversificados e passou a requerer estudantes adeptos do domínio de novas tecnologias e vários idiomas; 4) o desenvolvimento da educação virtual, nem sempre com o objetivo de expandir a educação pelo menor custo, com a tendência da educação virtual vir a tornar-se a forma predominante de educação – em especial na educação superior; e, 5) as redes de informação globalizadas implicam a transformação da cultura mundial, ao tempo que os “excluídos” dessa “ordem mundial” se organizam em movimentos contrários à globalização e forçam que os maîtres du monde, isto é, líderes e responsáveis pelas políticas neoliberais, reconheçam que é necessário atenuar estas políticas a fim de reduzir suas consequências danosas. Fonte: HERMIDA, Jorge Fernando; BONFIM, Cláudia Ramos de Souza. A educação a distância: história, concepções e perspectivas. Disponível em: <https://www.fe.unicamp.br/pf-fe/publicacao/4919/art11_22e.pdf> De acordo com o texto apresentado, leia as afirmativas e assinale a correta: I. As discussões sobre a EaD no ensino superior vão além do seu espaço e características; II. As discussões sobre a EaD no ensino superior devem se guardar em suas especificidades, sem entrar em outros espaços de discussão. III. Para que a EaD seja aceita na sociedade é necessário que abandone a ideia de universalização do ensino e se atenha à necessidade da EaD. Assinale a alternativa correta: a) I, II e III estão corretas. b) II e III estão corretas. c) I e II estão corretas. d) Apenas a I está correta. e) Apenas a III está correta. 36 Resposta correta: d) Justificativa: a educação a distância, no nível superior, é uma modalidade relativamente nova, que deve ser discutida de maneira ampla, levando em consideração todos os aspectos da sociedade. Vale ressaltar que a modalidade de EaD está expandindo e tem uma aceitabilidade considerável. Questão 2. Em relação ao Plano Nacional da Educação, leia as assertivas abaixo: I. O Plano Nacional de Educação vigente de 2001 a 2010 foi considerado o primeiro plano aprovado por lei. Teve seu foco relativo à construção de políticas e programas que objetivaram a melhoria da educação… porque II. O que se tinha neste período era um país com uma considerável igualdade social com altos índices de analfabetismo e um crescimento considerável na procura das universidades. a) Assertivas I e II estão corretas e se complementam. b) Assertivas I e II estão incorretas. c) Assertiva I está correta e a II incorreta. d) As duas assertivas estão corretas, mas não se complementam. e) A assertiva I está incorreta e a II correta. Resposta correta: c) Justificativa: o Plano Nacional de Educação, vigente de 2001 a 2010, foi considerado o primeiro plano aprovado por lei e o quadro que se apresentava nessa época era de um país com uma considerável desigualdade social, altos índices de analfabetismo e poucas pessoas frequentando universidades. 37 UNIDADE II 2. ESTRUTURA DO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO Entender o contexto da Educação Superior no Brasil perpassa por interesses, movimentos, estratégias e estruturas para melhor organização das políticas públicas e interesse empresarial. O Ensino Superior oferece três opções de credenciamento e formação: faculdades, centro universitário e universidades, diferenciados pelo tipo de organização de cada instituição. As exigências para cada tipo de credenciamento diferem quanto a áreas disponibilizadas, professores pesquisadores e extensão. Faculdades oferecem menos cursos e não têm autonomia para abrir cursos, necessitando de autorização. A exigência de professores doutores também não é a mesma em relação aos centros universitários e universidades e o tempo de dedicação integral não é uma exigência. Centros universitários são bem próximos às universidades, com uma estrutura menor, oferecendo menos cursos de graduação e pós-graduação. Precisam ter 1/3 de professores doutores e mestres, como em uma universidade, porém com 1/5 dos professores com dedicação integral. Universidade é considerada como tal por abranger maior área de conhecimento, oferecendo cursos de pós-graduação lato e stricto sensu, com pelo menos quatro programas de pós e doutorado. É necessário ter pesquisa e extensão e 1/3 dos professores do quadro serem mestres e doutores com 1/3 dedicação integral. Todas as instituições começam como faculdade, podendo passar para centro universitário ou universidade com o tempo, ao atender as exigências do Ministério da Educação (MEC). As universidades devem possuir atividades de extensão e pesquisa, com um corpo docente de alta qualidade. 2.1 Organização do ensino superior no Brasil Entender a organização do Ensino Superior no Brasil é localizar o Brasil dentro de um espaço e tempo. 38 Brasil está em um continente reconhecido como de muita pobreza e diferenças sociais e econômicas que influenciam no objetivo e a ser atingido com um ensino superior. O Banco Mundial divulgou um documento no qual a América Latina tem um índice de desigualdade muito alto e acrescenta que: As crescentes taxas de pobreza do Brasil têm sido acompanhadas por um salto na taxa de desemprego, que cresceu quase seis pontos percentuais do primeiro trimestre de 2015 e chegou a 13,7% da população no primeiro trimestre de 2017.A miséria se distribui de forma desigual pelo país: afeta 6,1% dos cidadãos no Rio Grande do Sul, mas chega a 44,9% no Amapá. O problema é mais grave na zona rural, onde mais de um terço (38,1%) da população vive em pobreza, comparado a menos de um quinto (17,6%) nas áreas urbanas. Já a desigualdade social, depois de diminuir 8,5% entre 2001 e 2014, voltou a aumentar com a crise econômica a partir de 2015. O índice de Gini, que tinha caído de 59,4 para 51,5 no período, foi a 53,1 em 2016, tornando o desfile carnavalesco das classes sociais brasileiras cada vez mais estranho1. Com um índice alto de desigualdade, a universidade assume um papel importante no processo de inserção do cidadão no mundo do trabalho, consciente de sua função nesse espaço complexo e nada equitativo. Assim, deparamo-nos com a questão de assegurar conhecimento e condições de promover avanço e melhoria para a sociedade. O Brasil tem oportunizado à população estudar e seguir sua formação, mas a questão é com qual qualidade. Nas últimas décadas, o Brasil teve um aumento considerável de matrículas no Ensino Superior, mas ainda não atende à demanda e nem à condição de qualificar de maneiraefetiva para o trabalho e transformação do meio. Educação sendo entendida como direito de todos: ela não pode ser organizada de maneira a atender a uma sociedade mercadológica ou mesmo ser vista como curso de formação de mão de obra. As instituições podem ser classificadas em públicas ou privadas/particulares, conforme regido pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n.º 9394/96, sendo as públicas organizadas e supervisionadas pelos governos Estaduais, Municipais e Federal e os particulares por pessoas físicas ou jurídicas, que poderão ser subdivididas em comunitária ou cooperativa, organizadas por um grupo de pessoas físicas ou 1 Disponível em: <https://nacoesunidas.org/banco-mundial-alerta-para-desigualdades-de-renda-no- brasil/>. Acesso em: 20/12/2019. 39 jurídicas; confessional, por pessoa ou grupo física ou jurídica, com uma determinada orientação confessional e filantrópica, sem fins lucrativos, tendo como objetivo atender a uma comunidade carente. Conforme afirmado na LDB n.º 9394/96: Art. 16. O sistema federal de ensino compreende: I - as instituições de ensino mantidas pela União; II - as instituições de educação superior criadas pela iniciativa privada; III - os órgãos federais de educação. Art. 20. As instituições privadas de ensino se enquadrarão nas seguintes categorias: I - particulares em sentido estrito, assim entendidas as que são instituídas e mantidas por um ou mais pessoas físicas ou jurídicas de direito privado que não apresentem características dos incisos abaixo; II - comunitárias, assim entendidas as que são instituídas e mantidas por uma ou mais pessoas jurídicas, inclusive cooperativas de professores e alunos que incluam na sua entidade mantenedora representantes da comunidade; III - confessionais, assim entendidas as que são instituídas por grupos de pessoas jurídicas que atendem a orientação confessional e ideologia específicas e ao disposto no inciso anterior; IV - filantrópicas, na forma da lei (BRASIL, 1996). Dados apontam para um número considerável de Instituições de Ensino Superior (IES) particular em relação ao público, com o intuito de atender a uma fatia populacional considerável que não teve ou não tem oportunidade de completar seus estudos. O cenário brasileiro aponta para uma crise social e econômica muito forte, que está reduzindo a renda da população devido ao aumento do desemprego, Sabia que existe a Faculdade Integrada? A diferença é que todo IES, ao ser autorizado, começa como faculdade, podendo com o tempo ser mudado seu estatuto para faculdades integradas e criando novos cursos. Temos também as faculdades isoladas, que oferecem um ou dois cursos com estatutos próprios. Algo pequeno que atenda a uma fatia da população. 40 afetando a população mais carente de atenção e cuidado: pobres, negros, indígenas, quilombolas e mulheres. O caminho de crescimento do Brasil e da diminuição da desigualdade teve uma pausa entre 2016 e 2017 e, ao caminhar para uma população mais igualitária socioeconomicamente, tomou um novo rumo: o da busca de atender à economia mercadológica. Essa estagnação levou o Brasil de 10º para 9º lugar na lista de países com desigualdade: O número de pessoas pobres também cresceu no período. Havia 15 milhões de pessoas pobres no Brasil em 2017, o que corresponde a 7,2% da população - aumento de 11% em relação a 2016, quando havia 13,3 milhões. É considerado pobre quem sobrevive com renda de até US$ 1,90 por dia, cerca de R$ 7, conforme critério do Banco Mundial.2 Pesquisas mostram que o rendimento por pessoa teve uma queda, equivalendo ao ano de 2012, e o índice de pobreza aumentou. De acordo com a Agência Brasil, o que crescemos até 2012 foi se perdendo até 2017, caracterizando uma queda brutal. É nesse panorama difuso, Banco Mundial cobrando melhorias e empresas buscando profissionais a qualquer custo, que o Brasil se faz presente, por meio do desenvolver profissionais capacitados e atender a uma demanda de diplomas universitários. Ficam as IES nesse caminho de desenvolver competências e formar indivíduos para espaços diversos e com uma distância significativa de interesse. 2 Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2018-11/renda-recua-e- Brasil-se-torna-o-9%C2%BA-pa%C3%ADs-mais-desigual>. E as IES como ficam nisso? 41 A educação tem uma interferência forte no desenvolvimento econômico e estrutural de uma sociedade. Portanto, ao analisar a situação de um país, deve ser levada em conta a qualidade da educação e o preparo que ela oferece para a população. A educação guarda um espaço a ser privilegiado no processo de se fazer cidadãos participativos. Não são apenas disciplinas, conteúdo e conhecimento a que a escola deve se ater, mas em propiciar que o aluno aplique o que aprendeu em diferentes momentos e situações. Conhecer fazer, para ser um cidadão no sentido amplo de transformação social. Ser homem não depende do ensino superior, porém a universidade guia o conhecimento para agir dentro de uma determinada área, com possibilidade de pesquisa e melhoria do seu fazer. A promoção da autonomia deve ser o principal ponto a ser desenvolvido no futuro profissional, dando subsídio para que ele busque informações e conhecimentos para solucionar possíveis problemas que venham aparecer. Newman (2001) afirma ser a missão da universidade tornar o homem o mais independente possível. Desenvolver a autonomia para que ele saiba discernir o certo do errado e buscar a solução. A autonomia nas dimensões sociais, emocional, cultural, política e profissional é de extrema importância para que ele transite na sociedade e busque resoluções sempre que necessário. Educar para tornar o homem autônomo e preparado para problemas e situações diversas, essa deve ser a função primária da educação, em qualquer nível. A autonomia possibilita que o indivíduo entenda a dinâmica da sociedade e suas contradições, dentro das diferenças e das exigências. 42 Docência na universidade ultrapassa preparação para mundo do trabalho Elisabete Monteiro de Aguiar Pereira […] Docência na contemporaneidade Qual é o compromisso do professor universitário no atual período histórico? Vivemos hoje em uma sociedade em que, cada vez mais, se lida com grande volume e volatilidade de informações. Esta situação nos faz, mais uma vez, refletir sobre a importância de se transcender a transitoriedade da situação de sala de aula focada somente no conteúdo especificamente profissional e fazer dela a oportunidade para trabalhar uma formação mais completa do aluno, isto é, trabalhar a sua formação intelectual, moral e cultural. Isto reforça o compromisso do professor com a autonomia do aluno. Para tal, muitos professores precisam operar mudanças em seu sistema de valores sobre o que é a docência, o ensino e a aprendizagem. Mudanças em sua forma de ver o aluno, o conhecimento, a sociedade, ultrapassando o que são as necessidades imediatas destes para trabalhar as necessidades mais perenes da humanidade. A experiência de ensinar e aprender não é uma experiência de laboratório que se pode replicar, mas é única e se diferencia em cada situação pedagógica. Cada sala de aula é única, com diferentes alunos e situações específicas. A docência é uma atividade social e é direcionada de forma dialética, pelo e para os valores culturais de determinada sociedade em determinado contexto. No entanto, o que se processa na relação professor- aluno-conhecimento ultrapassa os limites do espaço da sala de aula e do tempo histórico em que ocorre a relação. É uma relação de reciprocidade onde professor e aluno se formam e se transformam. A relação do professor com o alunoé, na perspectiva heideggeriana, o que deve ser a ênfase da educação. Utilizando-se de uma alegoria descrita no livro O Ser e o Tempo, Heidegger (2006) associa a ação de educar à ação de “cuidar”. Heidegger descreveu por meio de uma alegoria mítica, que a educação, como a ação de cuidar, é algo que se desenvolve por toda a vida do indivíduo. A alegoria conta que o céu, a terra e o cuidado concorreram para dar origem ao homem. O cuidado ao tomar uma porção de terra nas mãos pediu ao céu que lhe insuflasse o espírito de vida para que este deixasse de ser inerte e se transformasse em ser vivente. Ao dar vida à porção de terra transformando-a em ser, o céu se sentiu criador da criatura, o que foi contestado pelo cuidado. Chamaram então uma outra entidade mítica, o tempo, para pôr fim à disputa. O tempo entendeu que a criatura deveria se chamar “homem”, pois provinha do húmus (terra) e que sua alma, dada pelo céu, deveria voltar para lá quando morresse, mas durante toda a vida deveria depender, permanentemente, do cuidado (educação). Podemos tomar emprestado esse conto mitológico de Heidegger para entender o valor e a importância da educação como processo contínuo de formação do homem. Em pesquisa desenvolvida por Feltram (2003) sobre as lembranças que diferentes profissionais tinham sobre um bom professor do tempo da universidade, a autora buscou conhecer especialmente os aspectos reconhecidos por estes como os mais estimuladores para o seu desenvolvimento pessoal e profissional. Feltran (2003) concluiu 43 que as características mais marcantes para os alunos não estavam apenas no trato do conteúdo (inegavelmente importante), mas na condição de ter levado o aluno à autonomia como pessoa e como profissional. Para a grande maioria dos docentes, a formação técnica do aluno é o que importa, é o objetivo da relação ensino-aprendizagem. A preocupação com a formação técnica leva, de forma consciente ou não, à exclusão dos valores éticos e estéticos, a privilegiar os benefícios econômicos e pouco dimensionar a necessidade de pensar as consequências sociais dos atos profissionais. A forma como as universidades se organizam e a forma como os professores desenvolvem as aulas e os conteúdos estão totalmente vinculadas à emergência da educação superior no período industrial. Nesse período as empresas começaram a demandar profissionais habilitados e capacitados para as suas necessidades, as quais passaram a ser tomadas como as necessidades da sociedade e confundidas com as necessidades de desenvolvimento das nações. Essa forma de ensino, que privilegiava a formação técnica, pragmática e utilitarista, fez com que se perdesse a preocupação com a formação do indivíduo. Ainda hoje os professores têm para si que formar bem os estudantes é dar-lhes condições de responderem ao mercado de trabalho, sem se questionarem que mercado é esse. A falta de preocupação com uma formação docente para a educação superior é indicativo de como a questão da formação do homem, nesse nível educacional, é pouco evidenciada. As instituições, de forma geral, permitem que seus professores aprendam a ministrar aulas por ensaio e erro, desconsiderando a responsabilidade de formação do aluno que a relação docente envolve. Essa forma de atuar na formação do estudante nos vem do entendimento utilitarista sobre o ensino superior e da organização dos cursos por meio de disciplinas técnicas, pragmáticas que tenham utilidade no mercado de trabalho. É fato que os grandes progressos proporcionados pela racionalidade científica dão respaldo a essa forma de ensinar, mas ela toma o estudante como sendo uma “peça” necessária para a engrenagem da maquinaria social e não como um indivíduo. É uma formação eficiente para o mercado, mas ineficiente para o ser humano, para a sociedade mais ampla e para a humanidade. Morin (2007) critica esse modelo de formação afirmando que ele proporciona uma capacidade mecanicista, disjuntiva e reducionista. Para ele, é uma capacidade normalmente cega, que destrói as possibilidades de compreensão, reflexão e a capacidade de julgamentos éticos, complexos e contextuais, tornando-os profissionais inconscientes da responsabilidade social e sem autonomia. Um comportamento docente que é determinante para os tempos atuais é o de assumir que ensinar é inserir o aluno na condição de criar e produzir seu conhecimento. O pensamento tradicional de transferência de conhecimento do professor para o aluno não tem mais lugar em quaisquer dos níveis de educação. Ao produzir seu conhecimento, o aluno adquire autonomia intelectual, pois o processo de aprender é composto por condições internas e externas, particulares do aluno, nas quais a qualidade da relação professor-aluno tem grande influência e se faz nos espaços da contradição entre os determinantes e as possibilidades. É acreditando que esse espaço é possível que se pode dizer da construção do pensamento autônomo do aluno. Agir e oportunizar reflexões profundas sobre a direção que o conhecimento toma ao ser construído e ao ser utilizado é uma das tarefas mais importantes da docência nos tempos atuais. […] 44 PEREIRA, Elisabete Monteiro de Aguiar. Docência na universidade ultrapassa preparação para mundo do trabalho. Disponível em: <https://www.revistaensinosuperior.gr.unicamp.br/artigos/docencia- na-universidade-ultrapassa-preparacao-para-mundo-do-trabalho>. Acesso em: 20/10/2018. Esse texto nos leva a uma reflexão sobre a função da universidade e do professor na formação do sujeito, no mundo da diversidade e da globalização. Entender a universidade dentro de sua organização é atentar-se para o papel do professor nessa dinâmica. As IES estão atendendo a essa demanda? Atividade de aplicação Após leitura do trecho do artigo apresentado “Docência na universidade ultrapassa preparação para mundo do trabalho”, elabore um texto que faça um paralelo entre a função da IES e dos professores dentro dessa complexidade social. Traga teóricos para dialogar com sua tese. 2.2 Modalidades de ensino superior Como vimos na história, a educação foi tomando formas diferentes de se apresentar, conforme interesse e necessidade da sociedade, acompanhando uma demanda e da sociedade. Ela já teve nomenclaturas diferentes como primário, ginásio, secundário e superior, como também já foi nomeada de 1º, 2º e 3º graus. Hoje, após a LDB n.º 9394/96, ela é denominada de Educação Básica e Ensino Superior, tendo uma estrutura e organização própria, de acordo com seus níveis. A educação no Brasil se divide em dois níveis, estipulado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, n.º 9394/96, sendo eles: Educação Básica e Ensino Superior 45 Educação Básica, organizada da seguinte maneira: EDUCAÇÃO BÁSICA EDUCAÇÃO INFANTIL ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO MÉDIO CRECHE PRÉ ESCOLA ANOS INICIAIS ANOS FINAIS Ensino Superior Tecnológico Cursos curtos Bacharel Exercício acadêmico ou profissional Licenciatura Magistério 46 As modalidades atendidas são: Presenciais, em que o aluno frequenta as aulas em um espaço específico, com hora e tempo estipulado. Educação a Distância (EaD), com flexibilidade de tempo, local e espaço, por intermédio de aulas a distância, podendo ter alguns encontros presenciais. Essa modalidade é marcada pela tecnologia de informação e comunicação. Educação Semipresencial, considerado uma educação a distância com algumas atividades obrigatórias presenciais. Ela não consta na LDB n.º 9394/96, mas é citada no artigo 8º da Resolução CNE n.º 2, de 26/6/97. Leia o texto abaixo, que elucida algumas questões importantes sobre a educação: SISTEMAS DE ENSINO O vocábulo
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