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DOCÊNCIA NA EDUCAÇÃO SUPERIOR
Profª. Cláudia de Fátima Ribeiro Basso
Profª. Laura Cristina Peixoto Chaves
Profª. Marcia Regina Selpa de Andrade
Centro de Formação 
Profissional SAPIENCE Ltda.
Dirigente
Prof. Ms. Kiliano Gesser
Equipe Administrativa
Prof. Carlos Alberto Alves de Oliveira
Prof. Dr. Carlo Enrico Bressiani
Prof. Ms. Kiliano Gesser
Coordenação Pedagógica
Profª Olga Sansão Gesser
Diagramação
Alexandre Adaime
2009
U n i v e r s i d a d e R e g i o n a l 
d e B l u m e n a u
Reitor
Prof. Dr. Eduardo Deschamps
Vice-Reitor
Prof. Dr. Romero Fenili
Pró-Reitora de Ensino de Graduação
Profa. Ms. Sônia Regina de Andrade
Pró-Reitor de Administração
Prof. Dr. Edesio Luiz Simionatto
Pró-Reitor de Pós-Graduação, 
Pesquisa e Extensão
Prof. Dr. Clodoaldo Machado
Divisão de Modalidades de Ensino
Coordenação Geral
Prof. Ms. Alexander Roberto Valdameri
Equipe Multidisciplinar Técnica
Airton Zancanaro
Alexandre Adaime
Gerson Luís de Souza
Léo Jonathan Fath
Equipe Multidisciplinar Pedagógica
Profa. Dra. Daniela Karine Ramos
Diego Fernando Negherbon 
Profa. Ms. Henriette Damm
Profa. Ms. Ida Luciana Martins Noriler
Profa. Lindamir Aparecida Rosa Junge 
Profa. Ms. Terezinha Vicenti 
Administrativo
Odair José Albino 
Viviane Alexandra Machado Saragoça
FURB – Universidade Regional de Blumenau
Divisão de Modalidades de Ensino
Rua Antônio da Veiga, 140
Bairro: Victor Konder
Blumenau – SC - 89012-900
Fone: (47) 3321-0577
E-mail: dme@furb.br
Site: www.furb.br/ead 
SAPIENCE Educacional
Rua Belarmino João da Silva, 52
Bairro: Santa Terezinha
Gaspar – SC – 89110-000
Fone: (47) 3330-5100
E-mail: secretaria@centrosapience.com.br 
Site: www.centrosapience.com.br 
 
Depósito legal na Biblioteca Nacional, conforme decreto nº 1825, 
de 20 de dezembro de 1907.
“Impresso no Brasil / Printed in Brazil”
Ficha catalográfica elaborada pela
 Biblioteca Universitária da FURB
 Basso, Cláudia de Fátima Ribeiro
 B322d Docência na educação superior / Cláudia de
 Fátima Ribeiro Basso, Laura Cristina Peixoto Chaves
 e Márcia Regina Selpa de Andrade. - Blumenau : Edifurb ;
 Gaspar : SAPIENCE Educacional, 2009. 
 109 p. : il. – (Pós-Graduação. Modalidade a distância)
 Bibliografia: p. 105-109. 
 ISBN: 973-85-7114-251-0 
 1. Professores universitários – Formação. 2. Ensino superior. 
 I. Chaves, Laura Cristina Peixoto. II. Andrade, Márcia Regina Selpa de.
 II. Título. 
CDD 378.124
Professora Cláudia de Fátima Ribeiro Basso
Natural de Brasília/DF. É Mestre em Educação pela UnB. Graduada em Pedagogia, especialista 
em Metodologia de Ensino. Atua como professora nas Faculdades Integradas Urubupungá/
SP, coordenadora de cursos de pós-graduação no Instituto de Educação Superior Unyahna 
de Barreiras/BA. Consultora educacional de escolas e prefeituras no Estado de São Paulo e 
Distrito Federal.
Professora Laura Cristina Peixoto Chaves
Natural de Cachoeira do Sul/RS. Mestre em Educação pela UnB. Graduada em Educação 
Física e Pedagogia. Especialista em Psicopedagogia, Supervisão Escolar e Educação Física 
Escolar. Assessora Pedagógica do Centro Sapience Educacional e consultora educacional. 
Atua na formação de professores da educação básica.
Professora Marcia Regina Selpa de Andrade
Professora e Assessora Pedagógica da Universidade Regional de Blumenau. É graduada em 
Pedagogia pela UNIPLAC, de Lages/SC (1988). Cursou duas especializações: a primeira em 
1992, na Área da Educação, “Dificuldades de Aprendizagem”, pela Universidade do Planalto 
Catarinense, e a segunda, em 2006, focada na Área de Educação e Saúde, em São Paulo, pela 
FioCruz, com a denominação “Curso de Ativação de Processos de Mudanças na Formação 
Superior de Profissionais de Saúde”. Em 2002, concluiu o Mestrado em Educação, realizado pela 
Universidade Regional de Blumenau. Atualmente é doutoranda do Programa de Pós-Graduação 
em Educação na Universidade Estadual de Campinas-Unicamp/SP, na área de currículo
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ....................................................................................................................9
1 EDUCAÇÃO SUPERIOR: HISTÓRIA, FUNÇÃO SOCIAL, 
 ORGANIZAÇÃO E REGULAÇÃO ...................................................................................... 11
1.1 HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL ..................................................12
1.2 FUNÇÃO SOCIAL DA EDUCAÇÃO SUPERIOR .............................................................32
1.3 ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASILEIRA ..........................................41
1.3.1 Organização Administrativa ...........................................................................................41
1.3.2 Organização Acadêmica................................................................................................42
1.3.3 Organização quanto à formação ...................................................................................45
1.4 REGULAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR ..........................................................................48
1.4.1 A Educação Superior na Legislação Brasileira ..............................................................48
1.4.2 Documentos que dão legitimidade à Instituição de Educação Superior .......................51
1.4.3 SINAES .........................................................................................................................53
2 OS ATORES DA EDUCAÇÃO SUPERIOR ........................................................................57
2.1 A IDENTIDADE E PROFISSIONALIZAÇÃO DO PROFESSOR .....................................58
2.1.1 Profissão, Professor, Docência: os acordos semânticos...............................................58
2.1.2 A Trajetória Histórica do Professor de Ensino Superior.................................................59
2.1.2.1 Modelo Jesuítico.........................................................................................................59
2.1.2.2 Modelos Francês e Alemão ........................................................................................60
2.1.2.3 Período da Ditadura Militar .........................................................................................60
2.1.2.4 Contexto Atual ............................................................................................................60
2.2 SABERES DA DOCÊNCIA ...............................................................................................61
2.3 ALUNO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR ..............................................................................64
2.3.1 Andragogia ....................................................................................................................64
2.3.2 As Características do Aluno Adulto................................................................................66
2.3.3 Preceitos para a Prática Docente ..................................................................................67
3 A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR .........73
3.1 PLANEJAMENTO EDUCACIONAL ..................................................................................74
3.1.1 Elementos do Plano da Disciplina .................................................................................78
3.1.1.1 Ementa .......................................................................................................................80
3.1.1.2 Unidades ....................................................................................................................80
3.1.1.3 Objetivos.....................................................................................................................81
3.1.1.4 Procedimentos de Ensino...........................................................................................87
3.1.1.5 Avaliação ....................................................................................................................893.1.1.6 Referências ..............................................................................................................101
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................105
APRESENTAÇÃO
Caro(a) aluno(a),
Bem-vindo(a) à disciplina Docência na Educação Superior.
Este é o nosso Caderno de Estudos, material elaborado com o objetivo de contribuir 
para a realização de seus estudos e para a ampliação de seus conhecimentos sobre Docência 
na Educação Superior.
Cabe a você administrar sua aprendizagem e determinar o tempo para seus estudos 
e aprofundamento dos temas tratados. Lembre-se, porém, de que há um prazo limite para a 
conclusão dos estudos. Você deverá realizar as avaliações presenciais nas datas previstas 
no cronograma do curso.
Os capítulos foram organizados de forma didática e complementar. Eles apresentam os 
textos básicos, com questões para reflexão e indicam outras referências a serem consultadas.
Desejamos a você um bom trabalho e que aproveite ao máximo o estudo dos temas 
abordados nesta disciplina!
11
11 EDUCAÇÃO SUPERIOR: HISTÓRIA, FUNÇÃO SOCIAL, ORGANIZAÇÃO E REGULAÇÃO
Objetivos de Aprendizagem
1. Caracterizar a educação superior no Brasil ao longo do seu processo 
histórico, bem como suas implicações no processo educativo do país 
e seus reflexos nas propostas das instituições atuais;
2. Situar o ensino superior no contexto educacional brasileiro e identificar 
sua função social;
3. Identificar as bases legais que fundamentam a educação superior 
no Brasil.
INTRODUÇÃO
Houve um tempo em que a educação superior no Brasil e no mundo 
era privilégio de um número bastante reduzido de pessoas da elite, que 
se diplomavam para exercer as profissões tradicionais – direito, medicina, 
engenharia – e também para as carreiras militares e religiosas. Há algumas 
décadas, porém, essa situação vem se modificando sensivelmente. Em razão 
das intensas mudanças sociais, culturais, políticas e econômicas da sociedade 
moderna, a educação superior se expandiu e o número instituições de ensino 
superior tem se multiplicado significativamente. Segundo dados do último Censo 
da Educação Superior, realizado em 2006 pelo INEP (Instituto Nacional de 
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), de 1997 a 2006 o índice 
de matrículas no ensino superior brasileiro aumentou 140%. O número de 
instituições acompanhou esse crescimento explosivo e registrou aumento de 
152% nesse mesmo período. 
Apesar de os índices serem bastante animadores, refletindo um setor 
amplo e com forte potencial de crescimento, não podemos nos iludir com 
essa vertiginosa expansão, pois eles ainda não são suficientes para atender 
à demanda do País. O número de estudantes matriculados ainda está muito 
aquém do necessário e, embora mais democrática, a educação superior no 
nosso país ainda não conseguiu atingir, de maneira significativa, as classes 
sociais menos privilegiadas. 
12 13
Docência na Educação Superior  FURB / SAPIENCEANOTAÇÕES Capítulo 1 
  Docência na Educação Superior ANOTAÇÕES
Mas você sabe quando e como surgiram as universidades? Qual a origem 
da expressão Universidade?
 A instituição que hoje é chamada de Universidade surgiu na Idade 
Média. Eram associações de estudantes e professores que obtinham seu 
reconhecimento formal através de bulas papais (documento selado com o timbre 
do papa) ou cartas concedidas por imperadores e reis. 
E sabe qual foi a primeira universidade do mundo? 
A primeira universidade de que se tem 
notícia surgiu na Bolonha, norte da Itália, 
no final do século XI. Embora os registros 
históricos sejam imprecisos, a data mais 
aceita é 1088, quando o ensino na cidade 
se tornou livre e independente das escolas 
religiosas. 
Naquela época, o conhecimento era privilégio de poucos e apenas quem 
podia pagar se associava a outros interessados para contratar um professor 
sobre alguns dos temas das chamadas “essências universais”. Daí o nome 
de “universidade” (FARIA, 2008).
A segunda foi a Universidade de Paris (Sourbonne), fundada em 1214. 
Esses dois estabelecimentos deram origem a vários outros na Europa. 
Embora fossem desvinculadas da Igreja, elas dependiam do aval do 
clero ou do governo para funcionar. A estrutura curricular era semelhante a das 
chamadas artes liberais, que se iniciou na Academia de Platão e atravessou a 
civilização romana: o trivium (estudos dedicados à linguagem: gramática, lógica 
e retórica) e o quadrivium (aritmética, geometria, astronomia e música).
Antes disso, 
as únicas instituições comparáveis às universidades eram 
os mosteiros que se dedicavam ao estudo da teologia, 
filosofia, literatura e eventos naturais sob o ponto de vista da 
religião, mas que, por muito tempo, foram os responsáveis 
pela preservação da cultura e dos conhecimentos da época. 
(FARIA, 2008, s/p).
Mas e no Brasil? Você sabe como começou essa história no nosso país? 
Esse é o nosso próximo assunto:
 A longa espera... 
Conforme já destacamos, nossa experiência no campo da educação 
superior é bem recente quando comparada com a européia, a norte-americana e 
Uma coisa podemos afirmar com segurança: num mundo cada vez mais 
competitivo, no qual a elevação do nível de escolaridade da população é um dos 
fatores decisivos para o desenvolvimento socioeconômico do país, a educação 
superior no Brasil ainda tem muito caminho pela frente. 
Além dessa significativa propagação, na medida em que a educação 
superior expandiu-se também se diversificou, tanto em relação aos estudantes 
(hoje provenientes das diferentes classes sociais), quanto à organização 
administrativa (públicas, privadas com ou sem fins lucrativos, comunitárias, 
confessionais e filantrópicas) e organização acadêmica (instituições 
universitárias e não-universitárias). Além disso, os cursos tradicionais se 
mantiveram, mas novos cursos foram criados, assim como novos modelos 
de oferta (presencial, a distância, concentrados...).
Apesar do reconhecimento de que todas estas transformações geraram 
significativos avanços na educação superior ao longo do tempo, há um discurso 
geral sobre a ineficiência desse nível de ensino, mais especialmente em relação 
à função que esse segmento deve desempenhar na atualidade. Você certamente 
já deve ter ouvido diversas vezes que a nossa educação superior está em crise, 
que não atende aos seus propósitos, que é elitizada e beneficia poucos, que é 
um ensino precário e de baixa qualidade, que não forma um cidadão capacitado 
para atuar no seu tempo, etc.
Essas questões têm chamado à atenção de estudiosos não só na área 
da Educação, mas também de outros segmentos da sociedade, pois atualmente 
há um notável reconhecimento mundial sobre importância de uma educação 
superior de qualidade para o crescimento do país. 
Nesse sentido, um dos caminhos viáveis para melhor compreensão e 
encaminhamento dessas questões é a análise histórica: é fundamental conhecer 
o contexto histórico no qual a educação superior se desenvolveu, para se 
pensar em medidas adequadas aos problemas que o ensino superior enfrenta 
na atualidade. 
Esse é o propósito essencial deste capítulo. Vamos percorrer os caminhos 
da educação superior ao longo da história, discutir sua função social e interpretar 
a legislação que a torna legítima, assim como suas lutas e transformações no 
transcorrer dos tempos. 
Desejamos que seus estudos sejam bastante proveitosos e o ajudem 
a compreender melhor as barreiras e desafios que foram e ainda estão sendo 
vencidos por esse importante segmento do ensino.
1.1 HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL
 
800 anos que separam duas histórias... 
A história da educação superior no Brasil é recente, se comparada à 
história do ocidente. Nossas instituições de ensino superior possuem apenas 
duzentos anos, enquanto as instituições universitárias mais antigas já se 
aproximam de seu primeiro milênio. 
14 15
Docência na Educação Superior FURB / SAPIENCEANOTAÇÕES Capítulo 1 
  Docência na Educação Superior ANOTAÇÕES
mesmo com a latino-americana. Ao contrário das Américas Espanhola e Inglesa, 
que tiveram acesso à educação superior ainda do século XVI, o Brasil teve que 
esperar até o final do século XIX para ver surgirem as primeiras instituições 
culturais e científicas desse nível. 
Era uma vez... a história começa mais ou menos assim:
Durante três séculos, as poucas iniciativas na área da educação no nosso 
país vieram dos jesuítas e eram mais voltadas para a doutrinação religiosa. 
Em princípio, com o propósito de formar novos padres, criaram as escolas 
de ordenação e, como ação secundária, ofereceram formação aos filhos dos 
colonos e aos mestiços. Já os altos funcionários da Igreja e da Coroa e os 
filhos dos grandes latifundiários tinham que ir à Europa para obter formação 
universitária. 
Eis que, passados três séculos, a família real chega ao Brasil e, com 
ela, as Escolas Régias Superiores. Contam que...
Somente em 1808, quando a família real estabeleceu-se no Brasil, é que 
surgiram as primeiras escolas superiores brasileiras. A criação dessas escolas 
nasceu da necessidade de se instituir uma infraestrutura adequada para o 
funcionamento do império. O objetivo, portanto, era formar profissionais para 
exercer os serviços públicos voltados à administração do país. Assim, foram 
criadas as primeiras instituições de cursos superiores, chamadas Escolas 
Régias Superiores. 
As primeiras Escolas Régias Superiores foram inspiradas nas 
universidades francesas. O modelo,
[...] foi o padrão francês de universidade napoleônica, não 
transplantado na totalidade, mas nas suas características de 
escola autárquica com uma supervalorização das ciências 
exatas e tecnológicas e a consequente desvalorização 
da filosofia, da teologia e das ciências humanas; com a 
departamentalização estanque dos cursos voltados para a 
profissionalização (MASETTO, 1998, p.10). 
A organização curricular era composta por:
[...] currículos seriados, programas fechados que constavam 
unicamente das disciplinas que interessavam imediata e 
diretamente ao exercício daquela profissão e procuravam 
formar profissionais competentes em uma determinada área 
ou especialidade (IDEM, p.10).
Como você pode observar, os cursos eram destinados diretamente à 
formação de profissionais que exerceriam uma determinada profissão.
O ensino superior brasileiro também foi influenciado pelo modelo alemão, 
criado no final do século XIX. O modelo foi criado quando surgiu na Alemanha 
um processo de edificação nacional. A Alemanha perdia o pioneirismo da 
Revolução Industrial, já iniciada na França e Inglaterra. O propósito do modelo 
era impulsionar o avanço da ciência por meio da pesquisa das questões 
nacionais. Era um esforço para eliminar a dependência e estruturar a autonomia 
nacional (PIMENTA; ANASTASIOU, 2002).
 Demorou, mas finalmente foi criada nossa primeira instituição de 
educação superior. Que instituição é essa?
No Brasil, a primeira instituição de educação superior foi a Escola de 
Medicina da Bahia, criada em 1808. Nesse mesmo ano foram criadas a Escola 
de Medicina do Rio de Janeiro e a Escola de Engenharia e Arte Militar, também 
no Rio de Janeiro. Depois vieram as faculdades de Direito de São Paulo e 
Olinda, em 1827. Mas a primeira universidade, com cursos em várias áreas, só 
surgiu um século depois. Mas essa é outra história, que veremos mais adiante.
Saiba Mais
O professor Luiz Antônio Cunha (1980), na obra A universidade 
temporã, faz uma alusão bem-humorada aos que lamentam o 
surgimento tardio desse grau de ensino no Brasil. Em sua visão, o 
ensino superior brasileiro no período colonial, inspirado na estrutura 
da Universidade de Coimbra (Portugal), foi muito bem organizado 
dentro dos moldes da época. Apesar de não ter o reconhecimento 
para diplomação dos seus estudantes pelo Estado português, o tinha 
do papa, pois fazia parte de uma estrutura educacional organizada em 
escala mundial pelas escolas jesuíticas espalhadas, padronizadas e 
sistematizadas na ratio studiorum - um plano de ensino que previa um 
currículo dividido em dois graus: o studia inferiora (que corresponde 
à atual educação básica), e o studia superiora (correspondente aos 
atuais estudos superiores). 
Em 1759 os jesuítas foram expulsos do Brasil, causando a 
desarticulação do sistema educacional da Colônia e, no seu lugar, 
foram criadas, tardiamente no Brasil, as aulas régias, baseadas no 
enciclopedismo. Segundo o autor, o fechamento dos colégios dos 
jesuítas correspondeu à abertura de aulas de matérias isoladas.
Quer saber mais? Acesse o site http://www.luizantonio.cunha.nom.br 
e conheça também outras obras do autor.
Vamos continuar nosso percurso histórico, pois conforme ensina a 
sabedoria popular, conhecer o passado nos ajuda a entender o presente e 
preparar o futuro. Então, em frente!
A história andou devagar, devagarzinho...
Retomando o curso da nossa história, constatamos que até a 
Proclamação da República, em 1889, a educação superior desenvolveu-se 
16 17
Docência na Educação Superior  FURB / SAPIENCEANOTAÇÕES Capítulo 1 
  Docência na Educação Superior ANOTAÇÕES
lentamente. Manteve-se limitada à formação dos profissionais liberais em 
instituições públicas isoladas (não-universitárias) e destinava-se aos filhos da 
aristocracia colonial, que não podiam mais estudar na Europa devido ao bloqueio 
de Napoleão. Com a Proclamação da República, foi liberada a existência de 
estabelecimentos particulares, que foram chamados de Faculdades Livres. 
Esse período deu início à história da educação superior privada no Brasil.
Moral da história...
 
Até aqui a educação superior no Brasil se consolidou como um 
modelo de instituição isolada, profissionalizante e elitista. Isso 
explica algumas das distorções que até hoje embasam nosso sistema 
educacional.
Ah, verifica-se também que a nossa história andou na rota contrária...
Outro fato que podemos afirmar é que a educação superior brasileira foi 
implantada na rota contrária de todos os demais países, pois primeiro criaram-
se as universidades e a partir delas as faculdades. No Brasil, a história foi 
diferente: primeiramente foram constituídas as faculdades isoladas para, bem 
depois, constituírem-se as universidades.
Chegamos à polêmica (talvez bizarra) história da primeira 
universidade criada no Brasil... o que nos aguarda? Estamos na década 
de 20... 
Contrariando o dito popular, dessa vez não é para inglês ver, mas 
para belga!
Existe uma clássica disputa histórica sobre essa questão, mas 
oficialmente a primeira universidade brasileira foi a Universidade do Rio de 
Janeiro (URJ), criada em 1920. Entretanto, segundo o professor da UNICAMP, 
Clayton Levy (2006), a URJ foi criada apenas “para belga ver”.
Saiba Mais
Em 1920, por ocasião das comemorações do Centenário da 
Independência, o Brasil recebeu a visita do rei o Rei da Bélgica, Rei 
Alberto I. Como Sua Alteza era uma pessoa de rara cultura, o governo 
brasileiro decidiu lhe conceder o título de Doutor Honoris Causa. 
Acontece, porém, que o título não podia ser outorgado por faculdades 
isoladas, somente por uma Universidade. Para resolver o problema, 
então, o presidente brasileiro reuniu os cursos superiores da cidade 
(a Escola Politécnica, a Faculdade de Medicina e a Faculdade de 
Direito) e criou Universidade do Rio de Janeiro (LEVY, 2006). 
Embora um tanto atípico ou até mesmo curioso, precisamos concordar:
Não fosse por aquela visita e a ingênua vaidade de um 
monarca ou o capricho de algum de seus cortesãos, a 
universidade brasileira talvez tivesse demorado mais 10 ou 
20 anos para ser criada. Cem anos depois da Independência 
e trinta e três anos depois da Proclamação da República, 
o Brasil ainda não possuía uma universidade. E ela só foi 
criada para atender às conveniências de um rei europeu. 
(BUARQUE, 2003, p.21).
Esse, segundo o autor, é um pecado original do qual ainda não nos 
livramos.A primeira universidade de fato! Estamos em 1934...
Somente em 1934, ou seja, 14 anos depois, o país ganhou de fato sua 
primeira universidade, criada e organizada de acordo com as normas do Estatuto 
das Universidades Brasileiras: a Universidade de São Paulo (USP). 
18 19
Docência na Educação Superior  FURB / SAPIENCEANOTAÇÕES Capítulo 1 
  Docência na Educação Superior ANOTAÇÕES
Saiba Mais
A primeira grande universidade brasileira nasceu em 1934, não 
mais pela vontade de um rei belga, aliado ao servilismo de políticos 
brasileiros. A Universidade de São Paulo resultou da vontade de 
intelectuais brasileiros aliados a intelectuais franceses. O Brasil passou 
a olhar para dentro, e não mais para fora. Os políticos servis foram 
substituídos por intelectuais acadêmicos, embora a forte dependência 
do exterior tenha continuado. Embora não mais servis, eles eram, 
ainda, fortemente influenciados pelo exterior.
Texto extraído do trabalho apresentado por Cristovam Buarque 
Conferência Mundial de Educação Superior + 5, UNESCO realizada 
em Paris, 23-25 de junho de 2003. Disponível em http://unesdoc.
unesco.org/images/0013/001363/136394por.pdf
As décadas de 40 a 60 foram marcadas pela criação de outras 
instituições de educação superior... Mais e mais universidades...
Nas décadas seguintes, diversas outras instituições de educação superior 
foram criadas no país. Surgiram universidades federais em todo o Brasil (pelo 
menos uma em cada estado), além de universidades estaduais, municipais e 
particulares.
Chegamos à década de 60 e daí? Chegamos ao período das 
manifestações estudantis e de muito mais...
Na década de 60 o Brasil sofreu profundas mudanças no seu contexto 
social, político e econômico. Em 1964 a nação viveu o golpe militar e um 
novo regime de governo foi instalado: o regime totalitário. Nesse período 
surgiu a necessidade de se formar mão de obra qualificada para atender à 
industrialização, fazendo com que a formação acadêmica se tornasse cada 
vez mais necessária.
Essa época foi marcada por um forte clima ideológico, e as 
universidades, que eram vistas como espaços privilegiados de conscientização, 
tornaram-se um importante cenário de mobilização social. Descontentes com 
o governo militar, milhares de estudantes saíram às ruas protestando contra a 
ditadura e lutando por uma educação superior crítica, democrática e a serviço 
dos interesses majoritários da população. As manifestações estudantis, no 
entanto, foram violentamente reprimidas pelo então governo, através de sua 
polícia, provocando mortes, prisões e desaparecimentos. As universidades 
foram invadidas e as entidades estudantis foram fechadas. Os ativistas 
foram perseguidos, professores foram afastados de seus cargos, cientistas e 
pesquisadores foram exilados. Foi implantada a censura e o meio acadêmico 
passou a ser rigorosamente vigiado.
Saiba Mais
Se você quer saber mais sobre esse período, acesse o site do Jornal da 
UFRJ: http://www.ufrj.br/docs/jornal/2008-dezembro_JornalUFRJ40.
pdf. Nele você vai encontrar uma série de reportagens que relembram 
alguns episódios marcantes dessa época sombria da nossa história.
Saiba Mais
“História da Universidade Regional de Blumenau - FURB
As solicitações para a implantação de unidades de Ensino Superior na 
região do Vale do Itajaí surgiram, em Blumenau, através de movimentos 
de opinião pública a partir de 1953, como objetivo de contribuir para o 
desenvolvimento da região e romper com a monopolização do ensino 
superior exercido pela Capital do Estado.
 
Durante dez anos, os debates e as reivindicações objetivaram sensibilizar 
os poderes públicos Estadual e Federal, com vistas à interiorização do 
ensino superior em Santa Catarina.
 
Esse processo de conscientização por um Ensino Superior no Vale do 
Itajaí despertou o movimento comunitário que decidiu criar, em Blumenau, 
a primeira unidade de Ensino Superior do interior do Estado de Santa 
Catarina, a Faculdade de Ciências Econômicas de Blumenau.
 
Assim, sobretudo, como fruto de um movimento comunitário, promulgou-
se, em 05 de março de 1964, a Lei Municipal Nº 1233, a qual criou a 
Faculdade de Ciências Econômicas de Blumenau, consagrando uma 
Aspiração Cultural encenada aos 02 de maio do mesmo ano, com a aula 
inaugural da primeira Faculdade do interior do Estado, proferida pelo 
então Professor, Alcides Abreu.
 
Em 20 de dezembro de 1967, através da Lei Municipal Nº 1458, institui-se 
a FUB - Fundação Universitária de Blumenau. Na mesma ocasião, pela 
Lei Municipal Nº 1459, são criadas as Faculdades de: Filosofia, Ciências 
e Letras de Blumenau e a de Ciências Jurídicas de Blumenau, sendo 
estas unidades integrantes da já nomeada Fundação.
 
Finalmente, em 13 de fevereiro de 1986, pela Portaria Ministerial Nº 117, 
o Ensino Superior, mantido pela FURB, é reconhecido e credenciado 
pelo Ministério da Educação como Universidade, passando, novamente, 
a Mantenedora a denominar-se: Fundação Universidade Regional de 
Blumenau, nossa conhecida FURB, conforme previa a Lei Nº 2.016 de 
22/07/1974, em seu Art. 3º.
 
A partir de 21 de março de 1995, pela Lei Complementar Municipal Nº 
20 21
Docência na Educação Superior  FURB / SAPIENCEANOTAÇÕES Capítulo 1 
  Docência na Educação Superior ANOTAÇÕES
80, a Universidade Regional de Blumenau figura como uma Instituição de 
Ensino Superior criada e mantida pela Fundação Universidade Regional 
de Blumenau.
 
A Fundação Universidade Regional de Blumenau - FURB é incluída como 
órgão autônomo na estrutura administrativa do Poder Executivo Municipal, 
uma instituição oficial de direito público. A FURB possui autonomia 
didático-científica, administrativa, de gestão financeira e patrimonial, 
conforme os seus Estatutos e Regimento Geral.”
A primeira das muitas reformas universitárias (talvez, a mais 
efetiva!)...
Diante desse contexto, o governo militar começou uma ampla reforma da 
educação superior, conhecida como Reforma Universitária. Nesse momento, 
segundo Buarque (2003), a universidade brasileira foi “destruída” e, ao mesmo 
tempo, “fundada”. 
Essa é uma afirmação aparentemente contraditória, não é mesmo? 
Vamos tentar entender melhor essa questão, segundo as palavras do próprio 
autor: 
Em 1964, a universidade brasileira foi paradoxalmente destruída e, ao 
mesmo
tempo, fundada. Destruída pela aposentadoria forçada de 
centenas de professores, exilados ou expulsos pela ditadura 
recém-instalada, que pôs fim também à liberdade de cátedra. 
Não foram poucos os alunos que perderam a vida nesse 
período sombrio. Ao mesmo tempo, ela foi fundada numa 
estrutura mais moderna e, pela primeira vez, tentou-se 
criar um sistema universitário nacionalmente integrado. 
(BUARQUE, 2003, p.21-22).
Essa estrutura mais moderna a que o autor se refere consolidou-se em 
1968, quando a Reforma Universitária empreendida pelos militares foi aprovada 
pelo Congresso Nacional, introduzindo modificações importantes na educação 
superior. A Reforma foi fruto de um acordo firmado entre o governo brasileiro e 
o norte-americano, através do Ministério da Educação (MEC) e da Agência dos 
Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). Com o acordo 
MEC-USAID, as instituições educacionais do país foram submetidas aos critérios 
e regras utilizados nas universidades dos Estados Unidos.
Universidade como ambiente prioritário ao desenvolvimento da 
Educação Superior... as consequências da Reforma...
A proposta revogou os dispositivos da Lei 4.024 de 1961, que faziam 
referência à educação profissional e apontou a universidade como ambiente 
prioritário ao desenvolvimento da Educação Superior, embora permitisse a 
existência dos estabelecimentos isolados. Dentre as proposições descritas 
estão a indissociabilidade entre o ensino e a pesquisa e o modelo organizacional 
único para as universidades públicas e privadas. A formação dos professores 
passou a ser diferenciada, com a criação das licenciaturas. O vestibular tornou-
se unificado para todos os cursosda mesma instituição e a extensão passou 
a ser obrigatória na rotina das universidades. A Reforma estabeleceu ainda a 
renovação periódica dos estabelecimentos de ensino superior e devolveu às 
instituições sua autonomia (científica, disciplinar, administrativa e financeira). 
Reforma, de fato!
Perceba que muito do que hoje se vivencia em termos de educação 
superior é fruto da Reforma da década de 60: indissociabilidade entre o ensino 
e a pesquisa; formação de professores através das licenciaturas, o vestibular 
unificado (embora esse já apresente elementos novos: cotas, por exemplo); 
renovação periódica (regulação da educação superior por meio das visitas da 
Comissão do MEC); autonomia universitária. 
Mesmo com todas as ressalvas ao regime ditatorial e centralizador 
vigente, é inegável que a reforma de 1968 representou um considerável avanço 
para a educação superior no Brasil, fazendo com que a universidade brasileira 
desse um grande salto quantitativo e qualitativo. Foi possivelmente:
O maior salto já ocorrido em qualquer país do mundo, na área 
da educação superior. Era como se quiséssemos recuperar, 
embora sem liberdade, os quinhentos anos que havíamos 
perdido (BUARQUE, 2003, p.21-22).
Para Pensar
Observe atentamente as imagens a seguir e reflita: nas décadas de 
60 e 70, o movimento estudantil universitário participou ativamente da 
vida política do país. Suas reivindicações, protestos e manifestações 
influenciaram significativamente os rumos da política nacional. E hoje? 
Como o movimento estudantil vem desempenhado seu importante 
papel social, político e econômico na sociedade brasileira? Pense 
sobre isso...
Imagens 
disponíveis em: 
http://tbn2.google.
com/images?q=tbn
:5zEmDB_80s0ND
M:http://www.ler- 
http://tbn2.google.
com/images?q
=tbn:3nPS49Z
OEVfKiM:http://
portalimprensa.uol.
com 
http://www.zaz.
com.br/istoe/
edicoes/2007/
imagens/
22 23
Docência na Educação Superior  FURB / SAPIENCEANOTAÇÕES Capítulo 1 
  Docência na Educação Superior ANOTAÇÕES
Conforme você deve ter observado, cada avanço, cada conquista, cada 
melhoria e crescimento da nossa educação superior foi resultado de muitas 
lutas, não é verdade? Mas vamos prosseguir. O que aconteceu a partir daí? 
Década de 70... a história é marcada pela expansão... o negócio 
parece bom!
Nos anos seguintes, ou seja, na década de 70, ocorreu no Brasil a 
chamada “explosão da educação superior”. O número de matrículas, segundo 
Souza (1997), subiu de 300.000 (1970) para um milhão e meio (1980). Esse 
período marcou profundamente a história da educação superior brasileira, pois 
foi uma época em que a universidade brasileira passou por um intenso processo 
de mudanças, tanto na sua concepção quanto na sua estrutura.
Nesse período houve um surpreendente crescimento do setor privado, 
pois como a pressão social para ampliação de vagas era grande e os 
estabelecimentos existentes não conseguiam atender a demanda, o governo 
permitiu que o Conselho Federal de Educação aprovasse milhares de cursos 
novos. 
Essa crescente “privatização”, porém, não foi acompanhada de um 
sistema eficiente de avaliação, tendo como consequência a proliferação de 
cursos de baixa qualidade misturados a cursos de excelência. 
Esse aumento expressivo, sem adequado planejamento, 
resultou em uma insuficiência de fiscalização por parte do 
poder público, uma queda da qualidade de ensino e a imagem 
“mercantilista” e negativa da iniciativa privada, que persiste 
até hoje, ao contrário do que prega a Lei de Diretrizes e Bases 
da Educação Superior, de 1968 (Lei nº 5.540/68) (SOUZA, 
1997, s/p). 
Uma característica marcante nessa década foi a transformação da 
educação superior em um negócio altamente rentável, pois as antigas 
universidades privadas, que eram basicamente mantidas pelas universidades 
confessionais (principalmente as católicas) e não-lucrativas, deram lugar às 
instituições criadas pela iniciativa empresarial, que visavam a obtenção de 
lucro para seus proprietários. Eram instituições voltadas exclusivamente ao 
atendimento da demanda e com padrões de qualidade bem heterogêneos 
(Andrade, 2004). As intenções, aos olhos de alguns, se alteraram. 
As novas instituições privadas, surgidas na década de 
setenta, passariam a organizar as suas atividades acadêmicas 
objetivando de forma prioritária a obtenção do lucro e da 
acumulação do capital (MARTINS, 1988, p.39, grifo nosso).
Todas as mudanças decorrentes desse período acabaram fragilizando 
o sistema educacional e desencadeando uma série de estudos e discussões 
acerca do controle de qualidade do ensino ministrado no país.
Para Pensar
Esse momento vivido na década de 70 parece tão atual, não é mesmo? 
Pense nisso!
Década de 80... o que aconteceu com a expansão? Desacelerou? 
Que história é essa?
Diferentemente das décadas anteriores, nos anos 80 houve uma 
desaceleração no processo de expansão da educação superior. Durante esse 
período, devido a forte crise econômica enfrentada pelo país, o crescimento da 
educação superior foi medíocre, chegando quase a uma situação de estagnação 
do número de matrículas na graduação. 
Assim, após viver uma ampla expansão durante os anos 70, na década 
de 80 o setor passou por um momento de franco desânimo. Com a crise 
econômica que se abateu sobre a América Latina, o sistema universitário público 
enfrentou anos de caos administrativo (subfinanciamento, crise de autoridade, 
desvalorização social). Foram promovidas manifestações frequentes pelos 
estudantes, docentes e servidores, mas não passaram de longas e frustrantes 
greves.
Os motivos que contribuíram para essa situação, segundo Braga e 
Tramontin (1991), foram: 
• a redução dos investimentos de recursos financeiros do governo 
no setor; 
• a política de contenção de cursos; a retração do mercado de 
trabalho; 
• a nova filosofia liberal, limitando a intervenção do Estado e da 
burocracia estatal.
 Diante do caos, uma nova reforma...
Em 1985 ocorreu uma tentativa, por parte do governo, de se realizar 
uma reforma universitária para corrigir os equívocos da Reforma de 1968. Foi 
instituída a Comissão Nacional para Reformulação da Educação Superior, que 
emitiu um relatório intitulado Uma Nova Política para a Educação Superior 
Brasileira. O Ministério da Educação recebeu a proposta da comissão, mas 
nenhum projeto de lei chegou a ser encaminhado ao Congresso Nacional. Não 
passou, então, de uma proposta, literalmente!
Um fato que marcou esse período foi a transformação de escolas 
isoladas em universidades particulares, até então privilégio apenas das 
instituições públicas e de algumas de natureza confessional. 
 
24 25
Docência na Educação Superior  FURB / SAPIENCEANOTAÇÕES Capítulo 1 
  Docência na Educação Superior ANOTAÇÕES
Nos aproximamos do final do século XX, qual será o rumo dessa 
história?
A situação permaneceu inalterada até a metade da década seguinte. 
Embora o número de matrículas da década de 90 tenha sido bem mais 
expressivo que o dos anos 80, manteve-se em níveis medíocres até 1993. 
Somente a partir de 1994 é que retomou a tendência anterior de crescimento, 
acelerando a partir de1997. 
A retomada do crescimento, entretanto, não foi suficiente para assegurar 
a democratização do acesso à educação superior, que ainda possui caráter 
excludente e discriminatório. Em razão das desigualdades sociais e da má 
distribuição de rendas históricas do nosso país, a grande maioria da população 
não consegue chegar a esse nível de ensino.
No início da década de 90, com a ascensão das políticas neoliberais 
no país, o Brasil passou por um intenso processo de modernização para se 
inserir no mundo globalizado. Durante esse processo, o governo implementou 
reformas em todas as esferas sociais, inclusive na educação superior, seguindo 
as recomendações do Banco Mundial, que defendia a privatização de empresas 
estatais e de serviços públicos de uma maneira geral. De acordo com essa 
orientação, o Estado deveria atender aoensino básico, deixando os demais 
níveis para a iniciativa privada.
O marco de referência dessas reformas foi a aprovação da Lei de 
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96), que você conhecerá 
melhor no decorrer desse caderno, quando abordaremos a forma de organização 
e regulação do ensino superior.
Para Pensar
Maioria é contra privatizações, aponta pesquisa
Carlos Marchi
Em 1994, uma pesquisa do Ibope sobre privatização registrou que 57% 
dos brasileiros eram a favor da privatização total ou parcial e só 31% eram 
contrários. Em 1995, outra pesquisa do Ibope atestou que 43% eram a favor 
das privatizações e 34% eram contrários. De lá para cá, isso mudou muito. 
Hoje, uma robusta maioria acha que a qualidade dos serviços prestados por 
empresas privatizadas piorou. Confira:
Em 2007 o instituto Ipsos, sob encomenda do jornal O Estado de São Paulo, 
realizou uma pesquisa sobre privatização com mil eleitores brasileiros em 
70 cidades e 9 regiões metropolitanas. Essa pesquisa apontou que 62% dos 
entrevistados é contra a privatização de serviços públicos. Apenas 25% dos 
eleitores brasileiros aprovam o método.
A análise do Ipsos frisou que a população brasileira se posicionou 
francamente contra as privatizações, mas, se os serviços forem bons ou 
trouxerem benefícios para as pessoas, essa postura pode ser revertida.
E você? O que você pensa a esse respeito? Em relação à educação superior, 
você é contra ou a favor da privatização?
Trechos da reportagem do jornal O Estado de São Paulo, em 
11 novembro de 2007. Disponível em: http://txt.estado.com.br/
editorias/2007/11/11/eco-1.93.4.20071111.17.1.xml
Vamos prosseguir nosso estudo.
 As consequências da política neoliberal para a educação superior. 
Isso dá história...
Para cumprir os acordos e as metas do Fundo Monetário Internacional 
(FMI), o governo brasileiro diminuiu drasticamente os investimentos públicos nas 
áreas da saúde, da cultura e da educação, inclusive no campo de produções 
científicas e tecnológicas das universidades.
Ao reduzir os investimentos financeiros na educação superior, o governo 
estimulou as universidades públicas a buscarem recursos no setor privado para 
o seu custeio, ou seja, transformou a universidade em uma prestadora de serviço 
subordinada às regras mercantilistas. Como consequência, “o conhecimento 
deixou de ser uma construção, um processo, passando a ser também uma 
mercadoria a ser negociada no mercado.” (CHAVES, 2006, p.6). 
Trata-se, enfim, de transferir a educação da esfera política 
para a esfera do mercado, negando sua condição de direito 
social e transformando-a em uma possibilidade de consumo 
individual, variável segundo o mérito e a capacidade dos 
consumidores. (GENTILLI, 1998, p.19).
ATENÇÃO: Temos aqui uma importante mudança de paradigma:
A educação, que até então era assumida como um “direito” passou a 
ser encarada como um “serviço”.
Com isso, estabeleceu-se uma nova identidade para a educação 
superior. Novos hábitos e novas práticas passaram a fazer parte do dia a dia 
das instituições, que ampliaram suas funções e começaram a cobrar pelas 
atividades realizadas (de ensino, pesquisa e extensão) de forma bastante 
natural, pois ficaram caracterizadas como “prestadoras de serviços”. Entre essas 
novas práticas, está o estabelecimento de convênios e contratos com empresas 
privadas, cobranças de taxas para cursos de pós-graduação lato sensu, venda 
de cursos de licenciaturas para prefeituras do interior dos Estados com recursos 
do FUNDEF (Fundo Nacional de Desenvolvimento do Ensino Fundamental), 
entre outros (CHAVES, 2006).
Política neoliberal 
é a que prega 
a diminuição 
do Estado na 
economia. É a 
política de recuo da 
participação estatal 
nas atividades 
econômicas de um 
país. A adoção de 
tal política favorece 
as privatizações.
26 27
Docência na Educação Superior  FURB / SAPIENCEANOTAÇÕES Capítulo 1 
  Docência na Educação Superior ANOTAÇÕES
Saiba Mais
Se você quiser se aprofundar nesse assunto, leia o artigo “Público 
ou mercantil”, do professor Emir Sader, disponível no site http://www.
aduff.org.br/manchetes/20040714_emirsader.htm
Chegou a vez da EaD... 
Outra característica marcante dos anos 90 foi o crescimento expressivo da 
educação a distância (EAD). Nesse período, a EAD avançou consideravelmente 
em termos de legalização, normatização e tecnologias. Um grande número 
de instituições de educação superior buscou, nesta modalidade, mais uma 
alternativa para oferta de seus cursos. 
Esse crescimento foi visivelmente impulsionado pela expansão da 
Internet junto às Instituições de Educação Superior, em 1994, e pela publicação 
da Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional (LDB), que oficializou 
a EaD como modalidade válida e equivalente para todos os níveis de ensino, 
em 1996.
No final da década, a educação a distância se desenvolveu 
consideravelmente com a criação das Universidades Abertas e Virtuais.
Você sabe o que é Universidade Virtual? Vale conferir...
Saiba Mais
A Universidade Virtual no Brasil*
A Universidade Virtual, entendida como ensino superior a distância 
com uso de Novas Tecnologias de Comunicação e Informação (NTIC), 
em especial a Internet e a videoconferência, surge no Brasil na 
segunda metade da década de 1990. Até este período, a modalidade 
da Educação a Distância (EAD) era utilizada principalmente para 
ofertar cursos livres de iniciação profissionalizante, dentro do conceito 
de educação aberta e com os recursos do ensino por correspondência; 
e para ofertar cursos supletivos, focados na complementação de 
estudos nos níveis de Ensino Fundamental e de Ensino Médio, 
utilizando materiais impressos e aulas transmitidas por televisão, em 
programas de telecurso.
* Trabalho apresentado no Seminário Internacional sobre Universidades 
Virtuais na América Latina, em 2003. Disponível em: http://www.
portaldeensino.com.br/ead_historico.pdf
Um novo “personagem” aparece na nossa história: PNE...
Em meio a essa realidade, o governo criou um plano com o objetivo de 
melhorar a qualidade de ensino no país: O PNE - Plano Nacional de Educação. 
Sua elaboração contou com a participação de mais de 60 entidades, entre 
sindicatos, associações, conselhos e secretarias de Educação. O plano foi 
enviado pelo governo federal ao Congresso Nacional em dezembro de 1997, 
aprovado no final de 2000 e sancionado em 9 de janeiro de 2001.
O PNE estabelece diretrizes, metas e prioridades para o setor 
educacional brasileiro, com um prazo de até dez anos para que todas 
sejam cumpridas.
No que se refere à Educação Superior, a primeira meta diz respeito à 
necessidade de sua ampliação, visto que, conforme já afirmamos anteriormente, 
o Brasil tem um dos índices mais baixos de acesso à Educação Superior na 
América Latina. O PNE, então, definiu como meta até 2010: 
 
Prover, até o final da década, a oferta de educação superior para, pelo 
menos, 30% da faixa etária de 18 a 24 anos. (BRASIL, 2001, p. 43).
Observe que a meta busca atingir a faixa etária dos 18 aos 24 anos. 
Isso significa dizer que as pessoas com mais de 24 anos, com 30, 40, 45 anos, 
que buscam hoje formação superior e que são em número significativo nas 
instituições, não interessam para fins de cumprimento da meta e aproximação 
do Brasil aos níveis de ensino de países mais desenvolvidos. Entenda bem: 
interessa sim, que todos estudem independente da idade, mas o parâmetro 
internacional estipula a faixa etária dos 18 aos 24 anos.
Para o cumprimento da meta, o plano ressalta a importância da 
contribuição do setor privado, com parâmetros de qualidade estabelecidos 
pelos sistemas de ensino, bem como da educação a distância, que possibilita 
a ampliação de atendimento nos cursos presenciais, regulares ou de educação 
continuada.
Entendimentos feitos, vejamos nossa posição:
A posição do Brasil no que se refere ao acesso 
da juventude ao nível superior, comparada com a de 
diversos países (em especial na América Latina), é 
no mínimo lamentável.O número de matriculados 
corresponde a cerca de 13% da população entre 20 
e 24 anos, muito inferior ao da Argentina (39%), Chile 
(37%), Bolívia (23%), França (50%), Espanha (46%) 
ou EUA (80%), país que caminha rapidamente para 
a universalização do ensino superior.
Fonte: 
EDUCAÇÃO: O 
FUTURO ESTÁ EM 
NOSSAS MÃOS. 
José Henrique 
Vilhena – Folha de 
São Paulo 
Disponível em:
 http://ensinando
administrativo. 
blogspot.com/ 
2008/12/educao- 
o-futuro-est-em- 
nossas-mos.html
Ilustração: Caco Villan
28 29
Docência na Educação Superior  FURB / SAPIENCEANOTAÇÕES Capítulo 1 
  Docência na Educação Superior ANOTAÇÕES
Saiba Mais
O Presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), prof. Edson 
Nunes, publicou o documento “Desafio Estratégico da Política Pública: 
O Ensino Superior Brasileiro”, em conjunto com os pesquisadores da 
UCAM, onde analisa o crescimento e o desenvolvimento do Ensino 
Superior no Brasil. De acordo com a pesquisa, o Brasil ainda ocupa 
uma posição frágil, senão vexatória, quando se comparam os números 
relativos a adultos brasileiros portadores de diploma superior com 
adultos de outros países selecionados. Esses dados apontam o quanto 
nos afastamos dos países centrais no que se refere aos termos de 
qualidade vida, capacidade técnica e índices de desenvolvimento 
humano. “A despeito desses números significativos, ao final do século 
XX, com pouco mais de 6% da população adulta com educação de 
educação superior, o Brasil se contrapunha ao Canadá que, com 
cerca de 40% de todos os adultos com educação superior, percentual 
superior ao dos Estados Unidos, Japão e de tantos outros países”.
Para ler o trabalho na íntegra, acesse a página do Observatório 
Universitário da Universidade Candido Mendes - http://www.
observatoriouniversitario.org.br
Surge um fato suspeito... qual será o fim dessa história?
Algumas estimativas apontam que em 2010 teremos aproximadamente 
23,8 milhões de jovens de 18 a 24 anos. E 30% disso é algo em torno de 7,1 
milhões, ou seja, temos o desafio de incluir 2,7 milhões de estudantes no ensino 
superior até 2010. Isso representa um crescimento médio de 10% ao ano a partir 
da base matriculada em 2005, conforme ilustra o gráfico a seguir:
Figura 1 Taxa de escolarização no ensino superior (fontes: IBGE e INEP/MEC)
No entanto, o Brasil apresenta uma queda no ritmo de crescimento das 
matrículas, que ficou estabilizada em 7%. Mantido o atual ritmo de crescimento, 
teremos 6,2 milhões de alunos em 2010. Todavia, alguns analistas do setor 
apontam que será muito difícil sustentar esse ritmo de crescimento e sinalizam 
para taxas máximas de 3%. Neste cenário, atingiríamos 5,2 milhões de 
matrículas em 2010. Os analistas mais otimistas apontam para 5,7 milhões. 
Diante disso, teremos um déficit de pelo menos 1,5 milhão de matrículas em 
2010, mantidas as condições atuais do segmento.
O final provisório da história: não há sinais de que o Brasil consiga 
atingir a meta do PNE, ou seja, inserir 30% de jovens da faixa etária de 18 a 
24 anos no ensino superior até 2010.
Conforme você pode perceber, a educação superior no Brasil chegou ao 
final da década com claros sinais de esgotamento. Terminamos o século XX com 
vários questionamentos sobre o futuro da educação superior no país. Expressões 
como a crise da universidade, universidade em questão, universidade em 
ruínas, universidade na penumbra, universidade na encruzilhada, naufrágio da 
universidade etc., passaram a fazer parte do vocabulário de estudiosos da área, 
demonstrando “suas preocupações com os novos desafios que estão sendo 
colocados para essa instituição no atual ambiente de globalização acelerada.” 
(LIMA, 2004). 
Século XXI: o que a história nos reserva?
O século XXI chegou, revelando um mundo novo e incerto. Muita coisa 
mudou e continuará mudando de forma acelerada. O conhecimento que o aluno 
adquiria no ensino superior para durar a vida inteira e assegurar o seu futuro 
sofre transformações constantes, precisando ser continuamente renovado para 
não se tornar ultrapassado. Além disso, não é mais propriedade específica 
das instituições de ensino. Hoje o conhecimento está em toda parte e alcança 
pessoas em qualquer lugar do planeta, por diferentes meios. As universidades, 
faculdades e centros universitários são apenas um desses meios. Nesse 
cenário de mudanças e incertezas, a universidade “deixou de ser a vanguarda 
do conhecimento, tendo perdido também a capacidade de assegurar um futuro 
exitoso a seus alunos” (BUARQUE, 2003, p.8). ATENÇÃO: isso representa 
outra mudança de paradigma!
Diante desse novo paradigma, chegamos ao início do século XXI com 
2.281 instituições de educação superior, 23.488 cursos e 4.880.381 estudantes, 
segundo dados do Censo da Educação Superior 2007, realizado pelo INEP. No 
que se refere à organização acadêmica, a maioria dos estudantes brasileiros está 
matriculada em universidades: 2.644.187. Os centros universitários registraram 
680.938 matrículas e as faculdades, 1.555.256.
Seguindo a tendência dos anos anteriores, as IES privadas continuam 
responsáveis pela oferta da maioria dos cursos. O maior número de faculdades 
(92,5%) e de centros universitários (96,7%) está vinculado ao setor privado, 
enquanto as universidades estão distribuídas em proporção aproximada entre 
setor público e o privado (52,5% e 47,5% respectivamente).
Fonte: Grupo 
ÂMALUS. 
Disponível em: 
http://www.
mgar.com.br/
mgPdf/2007_03_
Conspiracao.pdf
30 31
Docência na Educação Superior  FURB / SAPIENCEANOTAÇÕES Capítulo 1 
  Docência na Educação Superior ANOTAÇÕES
Esses dados confirmam o fato de que a educação superior no Brasil 
precisa dos dois sistemas, pois o ensino privado é uma peça fundamental para 
possibilitar a ampliação do acesso à educação superior. O grande desafio, porém, 
continua sendo a questão da qualidade, pois como já afirmamos anteriormente, 
temos um grande número de cursos de baixa qualidade misturado a cursos de 
excelência, independentemente do tipo de instituição: pública ou privada.
No entendimento do governo, a forma mais efetiva de enfrentar esse 
desafio é através da Reforma da Educação Superior.
Uma nova reforma... o que podemos esperar?
Diante dessa nova realidade o governo brasileiro, desde o final de 2003, 
vem trabalhando na proposta de uma nova reforma da educação superior. A 
proposta de Lei de Reforma da Educação Superior tem como um dos seus 
objetivos centrais a expansão da educação superior com qualidade e equidade. 
De acordo com a terceira versão do Anteprojeto da Reforma, concluído em julho 
de 2005, o Brasil precisa construir uma instituição de educação superior “que 
seja a expressão de uma sociedade democrática, multiétnica e pluricultural, 
inspirada nos ideais de liberdade, de respeito pela diferença e de solidariedade” 
(BRASIL/MEC, 2005, p. 10). E ainda, conclui o projeto, “uma instituição que se 
constitua numa instância de consciência crítica em que a coletividade encontre 
seu espaço para repensar suas formas de vida e suas organizações sociais, 
econômicas e políticas.” (IDEM, p.10).
Saiba Mais
Conheça o Anteprojeto de lei da reforma da educação superior 
na íntegra, acessando o site http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/
anteprojeto.pdf 
Há quem seja a favor, há que seja contra...
A proposta tem provocado discussões acirradas em diversos segmentos 
da sociedade e causado polêmica entre os educadores brasileiros: alguns 
apoiaram sem restrição as proposições governamentais do anteprojeto, 
defendendo, inclusive, sua implementação imediata por meio de Medida 
Provisória. Outros se manifestaram radicalmente contra, afirmando que é uma 
proposta tipicamente neoliberal e que pioraria as condições já precárias das 
universidades.
Como podemos notar, os desafios a serem enfrentados com a reforma 
são grandes e complexos. Mas, como afirma Lima (2004, s/p), “a idéia de 
reformar as instituições é sempre uma idéia atraente porque carrega em si a 
semelhança com modernizar, adequare rejuvenescer.” Nesse sentido, segundo 
Buarque (2003), essa não é a primeira vez que a universidade se vê diante 
da necessidade de mudar e nem será a primeira vez que ela irá superar suas 
dificuldades e se reorganizar para servir à humanidade. 
Após a nossa breve caminhada pela história da educação superior no 
Brasil, podemos facilmente comprovar essa afirmativa. Desde a chegada da 
Família Real, em 1808, até os dias atuais, a educação superior no nosso país 
passou por inúmeras mudanças. Nesses 200 anos de história, foram mais de 
10 reformas educacionais. 
De acordo com Lima (2004), no entanto, uma reforma universitária deve 
começar por uma definição consensual de qual deve ser a sua verdadeira 
missão. Para o autor, falta, no Brasil, a definição de um sistema de educação 
superior organicamente constituído. A esse respeito, afirma: 
Antes de avançarmos na discussão da reforma universitária 
o estado brasileiro necessita intermediar a construção de 
um novo pacto entre as universidades, o conjunto dos 
estabelecimentos de ensino superior e a sociedade, definindo 
uma nova estrutura para nosso sistema de educação 
superior que hoje se encontra esfacelado. É necessário 
que se estabeleça um novo acordo universitário que defina 
de maneira clara o papel e a missão do sistema de 
ensino superior frente os objetivos coletivos de construção 
de uma nação soberana e frente os nossos projetos de 
desenvolvimento econômico e social (LIMA, 2004, s/p, grifo 
nosso). 
O autor nos indica, portanto, que o primeiro passo é estabelecermos 
claramente a função da educação superior, de acordo com os interesses da 
sociedade na qual está inserida.
A propósito, esse é o nosso próximo tema. Qual o papel da educação 
superior na sociedade contemporânea? As instituições de ensino superior têm 
uma missão a cumprir na sociedade? Qual é a real finalidade da educação 
superior? Essas são as questões que buscaremos responder na nossa próxima 
seção. 
Antes, porém, que tal fazermos uma síntese do que aprendemos?
Nessa seção aprendemos que:
• A educação superior, no Brasil, nasceu há 200 anos e teve como 
principal objetivo a formação e reprodução das elites. 
• Historicamente a educação superior brasileira se consolidou como um 
modelo de instituto isolado, profissionalizante e elitista. 
• A educação superior no Brasil foi estruturada a partir de faculdades e 
escolas isoladas; somente depois surgiram as universidades. 
• Na medida em que a educação superior se expandiu, ela se diversificou: 
de institutos isolados, transformou-se em uma complexa rede de universidades, 
faculdades e centros universitários; o número de cursos também se multiplicou, 
assim como sua estrutura se modernizou.
32 33
Docência na Educação Superior  FURB / SAPIENCEANOTAÇÕES Capítulo 1 
  Docência na Educação Superior ANOTAÇÕES
• A educação superior no país teve origem pública (como iniciativa do 
Estado). Com o tempo, o setor privado elevou sua participação no mercado, 
enquanto o setor público teve sua participação reduzida. Atualmente, a educação 
superior no Brasil é um das mais privatizadas do mundo.
• A expansão das instituições privadas, apesar de ainda causar polêmica 
no setor, contribuiu para que o índice de matrículas na educação superior 
aumentasse consideravelmente. 
• Um importante fator que impulsionou o acesso à Educação Superior 
foi o crescimento expressivo da educação a distância (EAD). 
• Apesar da significativa expansão, o Brasil ainda ocupa uma posição 
frágil no cenário mundial: dos jovens que concluem o ensino médio, poucos 
conseguem chegar à universidade.
• Não houve um planejamento adequado para o aumento expressivo das 
instituições de ensino superior, resultando na proliferação de cursos de baixa 
qualidade. Atualmente, há um grande descontentamento com a qualidade dos 
cursos de nível superior no Brasil.
• A universidade contemporânea passa por momentos de profundas 
reflexões na busca de redefinir seu papel social (perdeu a exclusividade de ser o 
local de produção de conhecimento e preparação de mão de obra especializada). 
• Diante da atual fragilidade do sistema de educação superior no país, o 
governo brasileiro desenvolveu um projeto de Reforma da Educação Superior, 
que redefinirá os rumos da universidade brasileira. O objetivo central da proposta 
é a expansão com qualidade e equidade.
1.2 FUNÇÃO SOCIAL DA EDUCAÇÃO SUPERIOR
 A discussão sobre a função social da Educação Superior pode ser 
extraída da sua própria história. Nem poderia ser diferente. Assim, a partir de 
nossos estudos anteriores, podemos destacar algumas funções assumidas pela 
educação superior brasileira ao longo dos anos:
• Doutrinar com o propósito de formar novos padres.
• Formar profissionais para exercer os serviços públicos voltados à 
administração do país.
• Formar a elite para exercer as profissões liberais.
• Formar mão de obra qualificada.
• Articular formação acadêmica e industrial.
• Reproduzir a força de trabalho, conservar as classes sociais.
O fato é que chegamos aos dias atuais e não temos ainda muito claro a 
função da educação superior. Podem-se observar claramente distintas posições 
em relação às suas funções na sociedade contemporânea: há os que defendem 
como prioridade:
• a formação técnica e especializada do homem para o trabalho;
• os que defendem como suas funções básicas desenvolver a pesquisa 
científica além de formar profissionais e;
• os que ampliam essas funções, como é o caso da concepção proposta 
pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento 
Econômico) de 1987. 
Vamos detalhar cada uma das posições:
1) Formação técnica e especializada do homem para o trabalho 
Tradicionalmente, conforme afirma Dowbor (2001, p. 28),
a educação seria um instrumento destinado a adequar o 
futuro profissional ao mundo do trabalho, disciplinando-o, e 
municiando-o de certa maneira com conhecimentos técnicos, 
para que possa “vencer na vida”, inserindo-se de forma 
vantajosa no mundo como existe. Esta inserção vantajosa, 
por sua vez, asseguraria reconhecimento e remuneração, ou 
seja, “sucesso”. 
Esse modelo, segundo Brom (2006), é fruto de uma visão ultrapassada 
acerca da educação e do trabalho e de noções que exprimiam apenas o desejo 
da economia industrial de atender às suas necessidades mais urgentes. São 
idéias que ficaram enraizadas, gerando expectativas descabidas e equivocadas 
a respeito do papel da educação superior.
O mercado de trabalho, conforme argumenta o autor, é mais do que nunca 
mutante e instável. Assim, a educação superior ao preparar os estudantes para 
o atendimento das necessidades do mercado, prepara-os para uma realidade 
que em breve não mais existirá. Dessa forma,
o egresso da universidade, quando dotado exclusivamente 
de conhecimento instrumental, de utilização imediata, está 
condenado a uma curta vida profissional. A aquisição de 
conhecimentos técnicos e instrumentais, aliás, dispensa 
qualquer passagem pelo ensino superior. Não é preciso fazer 
faculdade para se conhecer um software ou uma nova técnica 
profissional. (BROM, 2006).
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Docência na Educação Superior  FURB / SAPIENCEANOTAÇÕES Capítulo 1 
  Docência na Educação Superior ANOTAÇÕES
2) Desenvolver a pesquisa científica além de formar profissionais
A posição anterior, ainda dominante, é contestada por outra visão, que 
defende a educação superior como local de produção do conhecimento, voltado 
para a garantia dos processos de humanização. A educação, nessa perspectiva, 
tem por finalidade preparar o aluno para exercer sua cidadania e não apenas 
formar um profissional integrado no mercado de trabalho. 
Nesse modelo, a educação superior tem como foco a inclusão e o 
desenvolvimento, conforme podemos observar nas idéias de Teixeira (1998, 
p. 35):
A função da universidade é uma função única e exclusiva. Não 
se trata, somente, de difundir conhecimentos. O livro também 
os difunde. Não se trata, somente, de conservar a experiência 
humana. O livrotambém a conserva. Não se trata, somente, 
de preparar práticos ou profissionais, de ofícios ou artes. A 
aprendizagem direta os prepara, ou, em último caso, escolas 
muito mais singelas do que as universidades.
Com essas palavras, o autor destaca uma das principais características 
da universidade: ser local de investigação e de produção do conhecimento.
3) Ampliam essas funções
E, finalmente, o outro modo de compreender o papel da educação 
superior encontra-se expresso no relatório da OCDE, de 1987, que atribui às 
universidades, dez funções principais: 
• educação geral pós-secundária; 
• investigação; 
• fornecimento de mão de obra qualificada; 
• educação e treinamento altamente especializados; 
• fortalecimento da competitividade da economia; 
• mecanismo de seleção para empregos de alto nível através da 
credencialização; 
• mobilidade social para os filhos e filhas das famílias operárias; 
• prestação de serviços à região e à comunidade local; 
• paradigmas de aplicação de políticas nacionais (ex.: igualdade de 
oportunidades para mulheres e minorias raciais); 
• preparação para os papéis de liderança social (Santos, 1995 p.189).
Em consonância com esse enfoque, a Conferência Mundial sobre o 
Ensino Superior, realizada em Paris, em outubro de 1998, ampliou ainda mais 
essas funções. Confira: 
Artigo 1 A missão de educar, formar e realizar investigações com os 
seguintes desdobramentos: 
(a) formar diplomados altamente qualificados;
(b) constituir um espaço aberto para formação superior que proporcione 
a aprendizagem permanente;
(c) promover, gerar e difundir conhecimentos por meio da investigação;
(d) ajudar a compreender, interpretar, preservar, reforçar, fomentar e 
difundir as culturas nacionais e regionais, internacionais e históricas, 
em um contexto de pluralismo e diversidade cultural; 
e) contribuir para proteger e consolidar os valores da sociedade; 
(f) contribuir para o desenvolvimento e melhoria da educação em todos 
os níveis.
Artigo 2 Função ética, autonomia, responsabilidade e prospectiva com 
os seguintes desdobramentos: 
(a) preservar e desenvolver suas funções fundamentais submetendo-as 
às exigências da ética e ao rigor científico e intelectual; 
(b) opinar sobre os problemas éticos, culturais e sociais com autonomia; 
(c) reforçar suas funções críticas e progressistas mediante uma análise 
constante das novas tendências sociais, econômicas e culturais e 
políticas; 
(d) utilizar sua capacidade intelectual e prestígio moral para defender e 
difundir ativamente os valores universalmente aceitos e em particular a 
paz, a justiça, a liberdade, a igualdade, e a solidariedade;
(e) desfrutar plenamente da liberdade acadêmica e autonomia;
(f) envolver-se com os problemas que afetam o bem-estar das comunidades. 
Quanta coisa, não? Mas não pode ser diferente. Vamos pensar em 
termos práticos. Um exemplo:
Uma pessoa está com um sério problema de saúde. O diagnóstico correto 
e o tratamento adequado poderão lhe devolver a esperança de viver. Precisará, 
portanto, da intervenção de um médico qualificado, ou seja, cuja formação 
em nível superior (graduação e pós-graduação) tenha sido de alta qualidade. 
Isso é muito, mas não é tudo! Esse médico precisará ser ético, responsável, 
comprometido com a sua vida e seu bem-estar, aberto a questionamentos e a 
novas aprendizagens. Também, atento, observador, crítico, valoroso, rigoroso... 
Então, com base nisso, pode-se afirmar que não é nem um pecado a 
educação superior ter como uma das suas prioridades a formação profissional 
ou para o mercado de trabalho, desde que o entendimento de profissional 
e mercado de trabalho contemple às exigências contemporâneas. Ninguém 
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Docência na Educação Superior  FURB / SAPIENCEANOTAÇÕES Capítulo 1 
  Docência na Educação Superior ANOTAÇÕES
deseja ser atendido por um médico “mal formado”, incapaz, por exemplo, de 
identificar um resfriado. Por outro lado, ninguém deseja ser atendido por um 
médico que desconsidere sua história, suas crenças e valores ou, que não 
aceite ser questionado. Ainda, que não saiba conversar, informar ou apontar 
caminhos ao paciente. Queremos médicos competentes e engajados com a 
promoção da saúde para todos. 
Esse foi apenas um exemplo para mostrar o quanto se faz necessário 
definir a função da educação superior, pois tal definição servirá como princípio 
primeiro para as decisões acerca de currículo, conteúdo, estratégias de ensino 
e avaliação, entre outros. Por exemplo, para formar um médico como o que 
descrevemos anteriormente, serão necessárias disciplinas específicas voltadas 
à atuação médica, mas também disciplinas que contemplem conteúdos sociais 
e humanos. Para entender melhor isso, leia a mensagem a seguir:
Terminada a última guerra mundial foi encontrada, num campo de 
concentração nazista, a seguinte mensagem dirigida aos professores: 
“Prezado Professor, 
Sou sobrevivente de um campo de concentração. Meus olhos viram o 
que nenhum homem deveria ver. Câmaras de gás construídas por engenheiros 
formados. Crianças envenenadas por médicos diplomados. Recém-nascidos 
mortos por enfermeiras treinadas. Mulheres e bebês fuzilados e queimados por 
graduados de colégios e universidades. Assim, tenho minhas suspeitas sobre 
a Educação. Meu pedido é: ajude seus alunos a tornarem-se humanos. Seus 
esforços nunca deverão produzir monstros treinados ou psicopatas hábeis. 
Ler, escrever e aritmética só são importantes para fazer nossas crianças mais 
humanas.” (DOWBOR, 2001, p. 21).
Para Pensar
“Se o conhecimento não serve para inserir os homens de forma 
consciente na sociedade, para que serve então”? 
Questionamento do cientista Emir Sader, em palestra proferida no 
Fórum Mundial da Educação (2003).
Chegando ao final dessa seção, faz-se necessário polemizar. 
Prepare-se!
Parece que conseguimos chegar a uma definição ideal acerca da função 
social da educação superior. Entretanto, não podemos fugir da nossa realidade.
Você já deve ter ouvido falar, por meio de comentários de professores de 
educação superior, que os alunos chegam a esse nível de ensino despreparados, 
não sabem escrever e nem ler, não pensam... Se isso for verdade, como atingir 
com essas pessoas o nível ideal de educação superior? Esse é o desafio da 
educação superior e o maior dilema com o qual se depara o professor. 
Além disso, esse é um assunto polêmico e árido. Veja:
Há quem defenda a seleção rigorosa dos ingressantes ao ensino superior. 
Ao não sabe ler, nem escrever e nem tantas outras coisas, a pessoa não poderá 
ingressar na educação superior. Você concorda com isso? 
Paralelo a isso, há quem diga que principalmente a rede privada está 
banalizando a educação superior, pois basta que o aluno tenha diploma de 
ensino médio e ele já está dentro. 
São questões polêmicas e não há respostas conclusivas sobre elas. Mas 
há aspectos legais a serem observados. Primeiro, educação é direito. Segundo, 
a educação brasileira está organizada em níveis sequenciais, ou seja, concluída 
uma etapa ou nível de ensino com a devida aprovação, o cidadão está apto 
a ingressar na próxima etapa ou nível. A negação a esse direito resultaria na 
condenação da etapa anterior – do ensino médio. E quem seria o culpado? 
O aluno! Ele deve pagar a conta? Se considerarmos coerente o ingresso na 
educação superior depois de comprovada competência, não deveríamos, 
também, exigir a existência de processo seletivo eliminatório da educação 
infantil para o ensino fundamental? E do fundamental para o ensino médio?
Mais uma para encerrar: há quem defenda o fechamento das instituições 
privadas de educação superior e, naturalmente, o fortalecimento da universidade 
pública. Essa medida é viável? Quem seriam os beneficiados com ela? Onde 
se encontra a solução?
Há instituições de educação superior tidas como de excelência no Brasil, 
como por exemplo, a Universidade de São Paulo (USP). Nela há vagas para 
toda a demanda de alunos provenientes do ensino médio? Não!Parece então, 
que a forma “mais justa” é selecionar os candidatos. Tendo em vista o rigor das 
provas de ingresso da USP, obviamente, os alunos que lá ingressarem têm alto 
potencial de aprendizagem, assim como alto grau de conhecimento. O que se 
espera deles? Que saiam de lá com alto grau de formação superior.
Mas isso não é a nossa realidade maciça. A maioria dos alunos 
ingressantes na educação superior vem de uma educação básica deficitária. 
O que se pode esperar deles? Que saiam da educação superior muito melhor 
do que entraram.
Nossa conclusão provisória: as instituições e professores que 
recebem esses alunos não podem ser omissas e tampouco irresponsáveis. 
Ingressar todos podem, mas sair somente quando os resultados desejados 
(refere-se aquilo que é essencial saber) forem atingidos. Um pacto pedagógico 
de comprometimento entre as partes envolvidas, talvez seja um caminho viável.
Por fim, sugerimos a leitura do texto do colunista da Revista Veja, Gustavo 
Ioshpe, conhecido pela sua capacidade de polemizar.
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Docência na Educação Superior  FURB / SAPIENCEANOTAÇÕES Capítulo 1 
  Docência na Educação Superior ANOTAÇÕES
Saiba Mais
 
Pelo direito à ruindade
Gustavo Ioschpe
“Se o aluno não está em universidade melhor, é sinal de que não tem 
condições intelectuais ou financeiras de chegar lá. A pergunta que faz sentido 
não é se seria melhor para esse aluno e para o país que ele cursasse a USP 
ou a faculdad'oréia aumentou sua taxa de matrícula universitária em 353%, a 
Turquia em 320%, Portugal em 255%, e assim por diante. O resultado é que 
vários países, inclusive aqueles que partiram de um patamar muito baixo, 
chegaram aos dias de hoje em condições de sonhar. O Chile, por exemplo, 
tem atualmente 48% dos seus alunos em idade universitária no ensino 
superior. O Líbano tem 46%. O Panamá tem 44%, o Uruguai tem 42%, a 
Venezuela tem 41%. A China vem assombrando o mundo com a rapidez da 
sua ascensão: de 6% de matriculados em 1999, passou para 22% em 2006. 
O Brasil foi mais uma vez a exceção negativa. Apesar de termos universidades 
tradicionais, no período 1980-1997 aumentamos nossa matrícula em apenas 
36%, e mesmo o crescimento acelerado nos últimos dez anos ainda nos 
deixa com apenas 24% de matrícula no ensino superior. Praticamente um 
terço dos países desenvolvidos e metade de vários dos nossos vizinhos 
continentais, portanto.
Estagnamos por três razões. A primeira é a péssima qualidade da educação 
básica, que gera um número pequeno de concluintes aptos a entrar no 
ensino superior. A segunda é o estrangulamento do modelo financeiro: as 
universidades públicas brasileiras estão entre as mais caras do mundo 
e sua replicação em escala é inviável, e falta renda na população para 
custear mais ensino privado. Finalmente, faltavam até há pouco opções de 
cursos superiores mais adaptadas às demandas desse novo contingente 
de estudantes, que querem programas mais curtos e mais direcionados às 
necessidades do mercado de trabalho, sem ter interesse em uma formação 
acadêmica, humanista. Nos países desenvolvidos, entre 15% e 30% da 
matrícula costuma ser nesses cursos mais curtos e profissionalizantes, 
contra 4% no Brasil.
Em um cenário como esse, de tremenda defasagem do Brasil em relação ao 
resto do mundo, deveríamos estar correndo a todo o vapor para recuperar o 
tempo perdido, focando na melhoria do ensino básico, na expansão das vagas 
em universidades públicas, na criação de mecanismos de financiamento 
das universidades privadas e em campanhas antievasão dos alunos já 
matriculados. 
Causa estranheza e certo desalento, portanto, que nesse cenário o Ministério 
da Educação tenha iniciado uma campanha para monitorar e eventualmente 
fechar os cursos de baixa avaliação institucional, primeiro na área de direito, 
agora na área de pedagogia. A ação parte do pressuposto de que esses 
maus cursos são uma arapuca, que enganam seus alunos oferecendo um 
ensino que não os prepara para nada. Seriam meras fábricas de diploma, 
prejudicando seus alunos e pondo em risco a sociedade atendida por seus 
formandos. É mais um caso do viés ideológico antiliberal contaminando uma 
área estratégica para o país.
A idéia de que os alunos são enganados não se sustenta. Quem está 
em idade universitária e já passou por todo o sistema de ensino, e 
trabalha para poder pagar suas mensalidades (dos sessenta cursos 
de pedagogia, 57 são privados; todos os oitenta de direito também), 
não é exatamente um ingênuo, uma criança perdida. Todas as 
instituições brasileiras passam por um amplo processo de avaliação, 
tanto externa como por meio de exames feitos pelos próprios alunos, 
e seus resultados estão disponíveis na internet. Quando um aluno se 
matricula em um curso barato de uma instituição de pouco prestígio, 
ele não está atrás de uma posição de presidente de empresa ou de 
eminência intelectual: ele quer subir um pouco na vida, ganhar um 
pouco mais. Como em qualquer área, há serviços melhores e piores, 
com preços correspondentes. Se o aluno não está em universidade 
melhor, é sinal de que não tem condições intelectuais ou financeiras 
de chegar lá. Sem a universidade ruim, esse aluno não cursará 
faculdade alguma. A pergunta que faz sentido não é se seria melhor 
para esse aluno e para o país que ele cursasse a USP ou a faculdade 
da esquina. A pergunta certa: é melhor que ele curse a faculdade da 
esquina ou faculdade nenhuma?
A resposta a essa pergunta é dada de forma categórica pelo mercado de 
trabalho. Uma pessoa com ensino superior concluído ganha cerca de três 
vezes mais do que outra que tenha cursado apenas alguns anos do ensino 
superior, e quase cinco vezes mais do que aquela que cursou somente 
o ensino secundário. Estudo recente aponta que a taxa de retorno a um 
diplomado de ensino superior – isto é, o aumento salarial decorrente desse 
nível de estudo, descontado o seu custo – é de incríveis 19% a 20% ao ano. 
Educação superior, no Brasil, é melhor do que qualquer investimento – e não 
precisa ser economista para ter esse conhecimento intuitivo. 
A idéia de que universidades, ou o sistema escolar como um todo, possam 
ser meras fábricas de diplomas é antiga. Sua formulação acadêmica 
já surgia na década de 70. Faz sentido imaginar que um empregador 
busque, no meio da incerteza do mercado de trabalho, um indicador 
para garantir a competência e a confiabilidade do futuro empregado. 
Um diploma seria esse indicador. A escola não agregaria muito em 
termos de conteúdo, mas seria mera ferramenta de sinalização, como 
que dizendo: “pode me contratar. Eu passei dez anos sem bater nas 
minhas professoras quando tirava nota baixa nem ficar pelado cada 
vez que me sentia atraído por uma coleguinha. Não vou espancá-lo 
se não me der um aumento, nem lhe causar processos de assédio 
sexual”. Se essa hipótese fosse correta, os salários das pessoas – 
com diploma e sem – tenderiam a seguir um padrão aleatório ao longo 
do tempo, à medida que a produtividade de cada uma determinasse 
seus ganhos. Em realidade, acontece exatamente o oposto: não só 
as pessoas com maior instrução recebem maiores salários ao longo 
de toda a vida como a diferença entre os com e os sem-instrução 
aumenta com o passar dos anos. O mercado de trabalho não paga 
maiores salários aos mais instruídos pela beleza do seu diploma: 
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paga mais porque essas pessoas vêm mais preparadas e aprendem 
mais com a sua experiência profissional. As reportagens e editoriais 
que reclamam dos bacharéis que viram donos de armazém cometem 
erro duplo: primeiro, ao retratarem a exceção como se fosse regra; 
segundo, por não entenderem que é preferível para o país ter um 
balconista com diploma superior a outro analfabeto. 
Os alunos que cursam faculdades ruins não estão sendo enganados nem 
vitimados. Estão dando duro para galgar o seu degrau na escada social, 
com poucos recursos

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