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2020.1 @cadernossistematizados contato@cadernossistematizado.com Caderno Sistematizado Lei Especial Estatuto do Desarmamento CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2020.1 1 ESTATUTO DO DESARMAMENTO – LEI 10.826/2003 APRESENTAÇÃO................................................................................................................................ 4 PARTE GERAL .................................................................................................................................... 5 1. EVOLUÇÃO LEGISLATIVA.......................................................................................................... 5 2. NOÇÕES PRELIMINARES .......................................................................................................... 5 3. COMPETÊNCIA PARA O JULGAMENTO .................................................................................. 6 4. NATUREZA DOS CRIMES .......................................................................................................... 7 5. BENS JURÍDICOS PROTEGIDOS .............................................................................................. 7 6. CLASSIFICAÇÃO DAS ARMAS DE FOGO ................................................................................ 7 ARMAS DE FOGO DE USO PERMITIDO ............................................................................ 7 ARMAS DE FOGO DE USO RESTRITO ............................................................................. 7 ARMAS DE FOGO DE USO PROIBIDO .............................................................................. 8 7. REGISTRO E PORTE DE ARMA DE FOGO .............................................................................. 8 1ª ETAPA: AQUISIÇÃO DA ARMA DE FOGO..................................................................... 8 2ª ETAPA: REGISTRO ......................................................................................................... 9 3ª ETAPA: AUTORIZAÇÃO PARA O PORTE...................................................................... 9 AUSÊNCIA DO REGISTRO OU DE AUTORIZAÇÃO PARA O PORTE E ADEQUAÇÃO TÍPICA ............................................................................................................................................ 11 REGISTRO DE ARMA DE FOGO E LEI MARIA DA PENHA ............................................ 13 8. POSSE X PORTE ....................................................................................................................... 13 9. POSSE DE ARMA DE FOGO EM ZONA RURAL ..................................................................... 14 DOS CRIMES E DAS PENAS ........................................................................................................... 16 1. POSSE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO ......................................... 16 PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES INCIAIS .......................................................... 16 OBJETIVIDADE JURÍDICA ................................................................................................. 16 CONDUTA ........................................................................................................................... 16 OBJETO MATERIAL ........................................................................................................... 17 ELEMENTO NORMATIVO DO TIPO.................................................................................. 17 SUJEITOS DO DELITO ...................................................................................................... 18 1.6.1. Sujeito ativo .................................................................................................................. 18 1.6.2. Sujeito passivo ............................................................................................................. 18 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .......................................................................................... 18 GUARDA DE ARMA DE FOGO COM REGISTRO VENCIDO .......................................... 19 AÇÃO PENAL...................................................................................................................... 20 ABOLITIO CRIMINIS TEMPORÁRIA ................................................................................. 20 PENA ................................................................................................................................... 21 2. OMISSÃO DE CAUTELA ........................................................................................................... 22 PREVISÃO LEGAL ............................................................................................................. 22 OBJETIVIDADE JURÍDICA ................................................................................................. 22 SUJEITOS DO DELITO ...................................................................................................... 22 2.3.1. Sujeito ativo .................................................................................................................. 22 2.3.2. Sujeito passivo ............................................................................................................. 22 ELEMENTO SUBJETIVO ................................................................................................... 22 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .......................................................................................... 22 FIGURA EQUIPARADA À OMISSÃO DE CAUTELA ........................................................ 23 2.6.1. Objetividade jurídica .................................................................................................... 23 2.6.2. Sujeitos do delito .......................................................................................................... 23 CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2020.1 2 2.6.3. Observações importantes ............................................................................................ 23 2.6.4. Consumação e tentativa .............................................................................................. 24 3. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO .................................................. 24 PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES ......................................................................... 24 OBJETIVIDADE JURÍDICA ................................................................................................. 24 SUJEITOS DO DELITO ...................................................................................................... 24 3.3.1. Sujeito ativo .................................................................................................................. 24 3.3.2. Sujeito passivo ............................................................................................................. 25 ELEMENTO NORMATIVO .................................................................................................. 25 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .......................................................................................... 25 OBSERVAÇÕES IMPORTANTES ..................................................................................... 25 3.6.1. Crime de perigo abstrato ............................................................................................. 25 3.6.2. Porte simultâneo de duas ou mais armas de fogo ...................................................... 26 3.6.3. Porte simultâneo: arma de fogo de uso restrito e de uso permitido ........................... 26 3.6.4. Porte de arma de brinquedo ........................................................................................ 26 3.6.5. Tipo misto alternativo ................................................................................................... 26 3.6.6. Porte ilegal de arma de fogo desmuniciada ................................................................26 3.6.7. Porte de munição e lesividade da conduta ................................................................. 26 3.6.8. Uso de munição como pingente e atipicidade ............................................................ 27 3.6.9. Porte e homicídio ou roubo .......................................................................................... 27 3.6.10. Porte ilegal e legítima defesa ...................................................................................... 27 4. DISPARO DE ARMA DE FOGO ................................................................................................ 27 PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES ......................................................................... 27 OBJETIVIDADE JURÍDICA ................................................................................................. 28 OBJETO MATERIAL ........................................................................................................... 28 SUJEITOS DO DELITO ...................................................................................................... 28 4.4.1. Sujeito ativo .................................................................................................................. 28 4.4.2. Sujeito passivo ............................................................................................................. 28 ELEMENTO ESPACIAL DO TIPO ...................................................................................... 28 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .......................................................................................... 28 OBSERVAÇÕES IMPORTANTES ..................................................................................... 29 4.7.1. Pluralidade de disparos ............................................................................................... 29 4.7.2. Veracidade do projétil .................................................................................................. 29 4.7.3. Crime mais grave e absorção ...................................................................................... 29 4.7.4. Porte ilegal e disparo de arma de fogo ....................................................................... 29 PENA ................................................................................................................................... 29 5. POSSE OU PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO OU PROIBIDO ...... 30 PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES ......................................................................... 30 OBJETIVIDADE JURÍDICA ................................................................................................. 31 SUJEITOS DO DELITO ...................................................................................................... 31 5.3.1. Sujeito ativo .................................................................................................................. 31 5.3.2. Sujeito passivo ............................................................................................................. 31 ELEMENTO NORMATIVO DO TIPO.................................................................................. 31 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .......................................................................................... 32 FIGURAS EQUIPARADAS ................................................................................................. 32 5.6.1. (I) Suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de indicação de arma de fogo ou artefato ........................................................................................................................... 32 CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2020.1 3 5.6.2. (II) Modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz ..................................................................................... 32 5.6.3. (III) Possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar ................................ 32 5.6.4. (IV) Portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado .................. 33 5.6.5. (V) Vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescente ....................................................................... 34 5.6.6. (VI) Produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo ...................................................................................................... 34 ROL DOS CRIMES HEDIONDOS ...................................................................................... 34 PENA ................................................................................................................................... 35 6. COMÉRCIO ILEGAL DE ARMA DE FOGO ............................................................................... 35 PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES ......................................................................... 35 OBJETIVIDADE JURÍDICA ................................................................................................. 36 SUJEITOS DO DELITO ...................................................................................................... 36 6.3.1. Sujeito ativo .................................................................................................................. 36 6.3.2. Sujeito passivo ............................................................................................................. 36 OBJETO MATERIAL ........................................................................................................... 36 ELEMENTO NORMATIVO .................................................................................................. 36 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .......................................................................................... 37 FIGURA EQUIPARADA ...................................................................................................... 37 ROL DOS CRIMES HEDIONDOS ...................................................................................... 37 PENA ................................................................................................................................... 37 7. TRÁFICO INTERNACIONAL DE ARMA DE FOGO .................................................................. 37 PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES ......................................................................... 37 OBJETIVIDADE JURÍDICA ................................................................................................. 38 OBJETO MATERIAL ........................................................................................................... 38 SUJEITOS DO DELITO ...................................................................................................... 38 7.4.1. Sujeito ativo .................................................................................................................. 38 7.4.2. Sujeito passivo ............................................................................................................. 38 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .......................................................................................... 38 FIGURA EQUIPARADA ...................................................................................................... 39 ROL DOS CRIMES HEDIONDOS ...................................................................................... 39 PENA ...................................................................................................................................39 TRÁFICO INTERNACIONAL DE MUNIÇÃO E PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA ......... 39 8. FIANÇA E LIBERDADE PROVISÓRIA ...................................................................................... 40 9. PERFIL BALÍSTICO ................................................................................................................... 40 10. JURISPRUDÊNCIA EM TESE ............................................................................................... 41 CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2020.1 4 APRESENTAÇÃO Olá! Inicialmente, gostaríamos de agradecer a confiança em nosso material. Esperamos que seja útil na sua preparação, em todas as fases. Quanto mais contato temos com uma mesma fonte de estudo, mais familiarizados ficamos, o que ajuda na memorização e na compreensão da matéria. O Caderno Legislação Penal Especial – Estatuto do Desarmamento possui como base as aulas do professor Cleber Masson, do Curso G7 Jurídico. Posteriormente, complementada com a aula do Professor Silvio Maciel. Dois livros foram utilizados para complementar nosso CS de Legislação Penal Especial: a) Legislação Criminal para Concursos (Fábio Roque, Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar) e b) Legislação Criminal Comentada (Renato Brasileiro), ambos da Editora Juspodivm. Na parte jurisprudencial, utilizamos os informativos do site Dizer o Direito (www.dizerodireito.com.br), os livros: Principais Julgados STF e STJ Comentados, Vade Mecum de Jurisprudência Dizer o Direito, Súmulas do STF e STJ anotadas por assunto (Dizer o Direito), bem como a Jurisprudência em Tese do STJ. Destacamos: é importante você se manter atualizado com os informativos, reserve um dia da semana para ler no site do Dizer o Direito. Ademais, no Caderno constam os principais artigos de lei, mas, ressaltamos, que é necessária leitura conjunta do seu Vade Mecum, muitas questões são retiradas da legislação. Como você pode perceber, reunimos em um único material diversas fontes (aulas + doutrina + informativos + súmulas + lei seca + questões) tudo para otimizar o seu tempo e garantir que você faça uma boa prova. Por fim, como forma de complementar o seu estudo, não esqueça de fazer muitas questões. É muito importante!! As bancas costumam repetir certos temas. Vamos juntos!! Bons estudos!! Equipe Cadernos Sistematizados. http://www.dizerodireito.com.br/ CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2020.1 5 PARTE GERAL 1. EVOLUÇÃO LEGISLATIVA O primeiro diploma legislativo a tratar sobre armas de fogo foi a Lei de Contravenções Penais, em seu art. 19, que foi parcialmente revogado (em relação às armas de fogo), mas continua válido no que se refere às armas brancas (dotada de ponta ou gume). Art. 19 - Art. 19. Trazer consigo arma fora de casa ou de dependência desta, sem licença da autoridade: Pena – prisão simples, de quinze dias a seis meses, ou multa, de duzentos mil réis a três contos de réis, ou ambas cumulativamente. Em 1997, editou-se a Lei 9.437 que tratava sobre armas de fogo. Note que o porte ilegal de arma de fogo, a posse ilegal de arma de fogo, antes meras contravenções, a partir de 1997, passaram a ser considerados como crime. Ressalta-se que todos os crimes estavam previstos no art. 10 da Lei (posse, porte, comércio, disparo etc.), sujeitos a uma mesma pena. Assim, tínhamos condutas de gravidades totalmente diferentes submetidas a uma mesma pena. Claramente, havia uma violação ao princípio da proporcionalidade e da individualização da pena (que também se dirige ao poder legislativo). Vejamos a redação do art. 10 da Lei 9.437/97, revogado pela Lei 10.826/03. Lei 9.437/97 Art. 10. Possuir, deter, portar, fabricar, adquirir, vender, alugar, expor à venda ou fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda e ocultar arma de fogo, de uso permitido, sem a autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar. Em 2003 foi editada a Lei 10.826/03, conhecida como Estatuto do Desarmamento, fruto de um processo de conscientização da retirada das armas de fogo de circulação, que revogou integralmente a Lei 9.437/97. O estatuto pune a posse (art. 12), porte (art. 14), posse/porte de uso proibido (art. 16), disparo (art. 15), comércio (art. 17), tráfico internacional (art. 18), atendendo à proporcionalidade e à individualização da pena. Em janeiro de 2019, editou-se o Decreto 9.685/2019 que regulamentava o registro, posse e comercialização de arma de fogo. Em maio, foi editado o Decreto 9.785/2019 (revogou o decreto de janeiro) que, por sua vez, foi revogado pelo Decreto 9.847/2019 de junho. Então, atualmente, o registro, posse e comercialização de arma de fogo é regulamentado pelo Decreto 9.847/2019. Em 2019, ainda, o Estatuto foi alterado pela Lei 13.870/2019 (autorização para a posse de arma de fogo abrange toda a extensão da propriedade rural, não apenas a sede), pela Lei 13.886/2019 (destinação das armas de fogo aprendidas) e pela Lei 13.964/2019 (Pacote Anticrime). 2. NOÇÕES PRELIMINARES CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2020.1 6 O Capítulo I do Estatuto do Desarmamento regulamenta o SINARM – Sistema Nacional de Armas, órgão instituído no Ministério da Justiça, no âmbito da Polícia Federal, com circulação em todo o território nacional. Antes, o controle de armas era exercido por cada Estado através da Polícia Civil. O art. 2º, parágrafo único é claro ao ressalvar que o Estatuto do Desarmamento não é aplicado ás Forças Armadas, observe: Art. 2º, Parágrafo único. As disposições deste artigo não alcançam as armas de fogo das Forças Armadas e Auxiliares, bem como as demais que constem dos seus registros próprios. Salienta-se que, atualmente, o Decreto 9.847/2019 regulamenta o SINARM e o Sistema de Gerenciamento Militar de Armas, o legislador optou por uma regulamentação da lei, conforme observamos, por exemplo, nos arts. 3º, parágrafo único, 4º, III, 4º, §8º, dentre outros. Art. 3º É obrigatório o registro de arma de fogo no órgão competente. Parágrafo único. As armas de fogo de uso restrito serão registradas no Comando do Exército, na forma do regulamento desta Lei. Todas as armas de fogo deverão ser cadastradas no SINARN (Sistema Nacional de Arma de Fogo) ou no SIGMA (Sistema de Gerenciamento Militar de Armas), é o Decreto 9.847/2019 que determina em qual sistema a arma será cadastrada. Obs.: Algumas provas (polícia, técnico, analista) costumam cobrar quais armas serão cadastradas no SINARN ou no SIGMA, por isso recomendamos a leitura atenta do Decreto, a depender do concurso escolhido. 3. COMPETÊNCIA PARA O JULGAMENTO Conforme visto, o controle de armas é feito pelo SINARM, órgão federal, entretanto a competência para julgar crimes relacionados ao Estatuto do Desarmamento, em regra, não é da Justiça Federal, mas da Justiça Estadual. Nesse sentindo: O objeto jurídico protegido pela Lei nº 10.826/03 é a incolumidade de toda a sociedade, vítima em potencial do uso irregular das armas de fogo, não havendo qualquer violação direta aos interesses da União, a despeito de ser o SINARM um ente federal”. (STJ, HC 57348/RJ, 5ª Turma, rel. Min. Gilson Dipp, j. 12/06/2006). O crime atingirá interesse federal, atraindo a competência da Justiça Federal quando, por exemplo, um oficial da Polícia Federal for flagrado em serviço portando arma raspada; ou quando se tratar de tráfico internacional de armas, cuja competência originária é da Justiça Federal, por ser crime à distância, envolver dois países, previsto em tratado ou convenção internacional. Ainda assim, no último caso, o simples fato de se tratar de arma estrangeira não é capaz de configurar o crime de tráfico internacional de armas. É preciso comprovar que a pessoa que estiver portando tenha sido a responsávelpela importação da arma (mesmo raciocínio do tráfico transnacional de drogas). CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2020.1 7 Salienta-se que o crime praticado por militar poderá ser julgado pela Justiça Militar, tendo em vista a ampliação do conceito de crime militar do art. 9º do CPM, alterado pela Lei 13.491/2017. 4. NATUREZA DOS CRIMES De acordo com o entendimento do STF e do STJ, todos os crimes do Estatuto do Desarmamento são crimes de perigo abstrato ou presumido, ou seja, haverá crime mesmo diante da ausência de perigo concreto/real. Presume-se abstratamente o perigo no tipo penal. Cita-se, como exemplo, o porte de uma caixa de munição que não causa perigo concreto, pois desacompanhada da suposta arma de fogo. Salienta-se que há doutrina (Luiz Flávio Gomes) sustentando a inconstitucionalidade dos crimes de perigo abstrato. No entanto, desde que estejam tipificando comportamentos comprovadamente perigosos, de acordo com as regras de experiência, não há qualquer inconstitucionalidade. 5. BENS JURÍDICOS PROTEGIDOS Tanto o STF quanto o STJ dividiram os bens jurídicos protegidos pelo Estatuto do Desarmamento em dois grupos, quais sejam: • Bem jurídico imediato ou principal – trata-se da incolumidade pública; • Bem jurídico mediato ou secundário – patrimônio, liberdade, vida, integridade física etc. 6. CLASSIFICAÇÃO DAS ARMAS DE FOGO O Estatuto separa as armas de fogo em três grandes grupos, a seguir veremos cada um deles. ARMAS DE FOGO DE USO PERMITIDO São aquelas cuja utilização pode ser autorizada tanto a pessoas físicas quanto a pessoas jurídicas. A relação das armas de fogo de uso permitido encontra-se no art. 2º, I do Decreto 9.847/2019. Por exemplo, revolveres até calibre 38 são de uso permitido. ARMAS DE FOGO DE USO RESTRITO CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2020.1 8 São as de uso exclusivo das Forças Armadas, de Instituições de Segurança Pública e de pessoas físicas ou jurídicas habilitadas, devidamente autorizadas pelo Comando do Exército, nos termos do art. 12, § 7º do Decreto 9.847/2019, com relação contida no art. 2º, II do mesmo diploma legal. Temos aqui: armas automáticas, K47. ARMAS DE FOGO DE USO PROIBIDO São aquelas em que há total vedação ao uso, o Decreto 9.847/2019 considera como aquelas as armas de fogo classificadas de uso proibido em acordos e tratados internacionais dos quais a República Federativa do Brasil seja signatária ou as armas de fogo dissimuladas, com aparência de objetos inofensivos. Cita-se, como exemplo, armas nucleares. 7. REGISTRO E PORTE DE ARMA DE FOGO São necessárias três etapas: compra da arma de fogo (1ª etapa), registro da arma de fogo (2ª etapa) e autorização para o porte (3ª etapa) 1ª ETAPA: AQUISIÇÃO DA ARMA DE FOGO A pessoa interessada na aquisição da arma de fogo, conforme disposto no art. 28 do Estatuto, deve ter mais de 25 anos, salvo quando for: • Integrante das Forças Armadas; • Integrante dos órgãos definidos no art. 144 da CF (polícia civil, polícia militar, polícia federal); • Integrante das guardas municipais das capitais dos Estados (pouco importante a população) e dos Municípios com mais de 500 mil habitantes; Refere-se aos incisos III e IV, do art. 6º do Estatuto. Salienta-se que no julgamento da ADI 5948, o Ministro Alexandre de Moraes, ad referendum do Plenário, determinou a IMEDIATA SUSPENSÃO DA EFICÁCIA das expressões das capitais dos Estados e com mais de 500.000 (quinhentos mil) habitantes , no inciso III, bem como o inciso IV, ambos do art. 6º da Lei Federal nº 10.826/20031. • Agentes operacionais da ABI e os agentes do Departamento de Segurança do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República; 1 Acompanhar o julgamento das ADI’s 5538 (http://www.stf.jus.br/portal/peticaoInicial/verPeticaoInicial.asp?base=ADIN&s1=5538&processo=5538) e 5948 (http://www.stf.jus.br/portal/peticaoInicial/verPeticaoInicial.asp?base=ADIN&s1=5948&processo=5948). http://www.stf.jus.br/portal/peticaoInicial/verPeticaoInicial.asp?base=ADIN&s1=5538&processo=5538 http://www.stf.jus.br/portal/peticaoInicial/verPeticaoInicial.asp?base=ADIN&s1=5948&processo=5948 CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2020.1 9 • Integrantes do quadro efetivo dos agentes e guardas prisionais, das escoltas de presos e as guardas portuárias; • Integrantes das carreiras de Auditoria da Receita Federal e da Auditoria-Fiscal do Trabalho, cargos de Auditor-Fiscal e Analista Tributário. Art. 28. É vedado ao menor de 25 (vinte e cinco) anos adquirir arma de fogo, ressalvados os integrantes das entidades constantes dos incisos I, II, III, V, VI, VII e X do caput do art. 6o desta Lei. Além da idade de 25 anos, é necessário atender determinados requisitos, são eles: • Comprovação de idoneidade • Ocupação lícita • Residência • Capacidade para manuseio da arma. Quando os requisitos legais estiverem presentes, o SINARM emitira autorização para a compra da arma de fogo. É uma autorização específica para a pessoa e para a arma. Igualmente, a compra de munição é específica para a arma de fogo autorizada, vejamos os parágrafos 2º e 3º do art. 4º do Estatuto: Art. 4º (...) § 1o O Sinarm expedirá autorização de compra de arma de fogo após atendidos os requisitos anteriormente estabelecidos, em nome do requerente e para a arma indicada, sendo intransferível esta autorização. § 2o A aquisição de munição somente poderá ser feita no calibre correspondente à arma registrada e na quantidade estabelecida no regulamento desta Lei. 2ª ETAPA: REGISTRO Após a aquisição da arma de fogo, o interessado deverá registrá-la perante o órgão competente. A definição do órgão competente está relacionada com a classificação da arma de fogo. Assim: • ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO: compete à Polícia Federal, após a anuência do SINARM, com validade em todo o território nacional; • ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO: compete ao Comando do Exército. A finalidade do registro é autorizar o proprietário a manter a arma de fogo no interior de sua residência, ou ainda em seu local de trabalho, desde que ele seja o titular ou responsável legal do estabelecimento ou empresa. 3ª ETAPA: AUTORIZAÇÃO PARA O PORTE CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2020.1 10 Para que a arma de fogo seja levada consigo em via pública ou em local distinto, será necessária a autorização para o porte, nos termos do art. 6º e seguintes do Estatuto do Desarmamento. Em regra, o porte é vedado em todo o território nacional, conforme se depreende do art. 6º, in verbis: Art. 6o É proibido o porte de arma de fogo em todo o território nacional, salvo para os casos previstos em legislação própria e para: Contudo, a autorização para o porte poderá ser concedida em algumas hipóteses, seja em caso de função do sujeito, seja em decorrência da obtenção de autorização junto à Polícia Federal, após a anuência do SINARM, desde que preenchidos os requisitos legais (art. 10) Art. 10. A autorização para o porte de arma de fogo de uso permitido, em todo o território nacional, é de competência da Polícia Federal e somente será concedida após autorização do Sinarm. § 1o A autorização prevista neste artigo poderá ser concedida com eficácia temporária e territorial limitada, nos termos de atos regulamentares, e dependerá de o requerente: I – demonstrar a sua efetiva necessidade por exercício de atividade profissional de risco ou de ameaça à sua integridade física; II – atender às exigências previstas no art. 4o desta Lei; III – apresentar documentação de propriedade de arma de fogo, bem como o seu devido registro no órgão competente. § 2o A autorização de porte de arma de fogo, prevista neste artigo, perderá automaticamente sua eficácia caso o portador dela seja detido ou abordado em estado de embriaguez ou sob efeito de substâncias químicas ou alucinógenas. Obs.:Mesmo no caso de porte funcional é necessário o cumprimento da 1ª e da 2ª etapa. Ressalta-se que o porte funcional, conforme entendimento do STJ (Info 554), não se estende aos aposentados, eis que não exercem mais a função pública Salienta-se que a autorização para o porte pode ser concedida com eficácia temporária e territorial, e perderá sua eficácia se o portador for detido ou abordado em estado de embriaguez ou sob o efeito de substâncias químicas ou alucinógenas. Outrossim, a autorização para o porte não permite o porte ostensivo da arma de fogo, ou de entrar ou com ela permanecer em locais públicos ou com aglomeração de pessoas, conforme dispõe o art. 20 do Decreto 9.847/2019. Quando se viola tal regra, haverá a cassação da autorização e apreensão da arma de fogo. CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2020.1 11 Art. 20. O titular de porte de arma de fogo para defesa pessoal concedido nos termos do disposto no art. 10 da Lei nº 10.826, de 2003, não poderá conduzi-la ostensivamente ou com ela adentrar ou permanecer em locais públicos, tais como igrejas, escolas, estádios desportivos, clubes, agências bancárias ou outros locais onde haja aglomeração de pessoas em decorrência de eventos de qualquer natureza. § 1º A inobservância ao disposto neste artigo implicará na cassação do porte de arma de fogo e na apreensão da arma, pela autoridade competente, que adotará as medidas legais pertinentes. § 2º Aplica-se o disposto no § 1º na hipótese de o titular do porte de arma de fogo portar o armamento em estado de embriaguez ou sob o efeito de drogas ou medicamentos que provoquem alteração do desempenho intelectual ou motor. Há, ainda, o porte de trânsito para desportistas, colecionadores e caçadores, o qual é concedido pelo Comando do Exército. Por fim, o porte na categoria “caçador de subsistência” poderá ser concedido pela Policia Federal aos residentes em áreas rurais que comprovem depender do emprego de arma de fogo para prover a subsistência alimentar familiar, desde que se trate de arma portátil, de uso permitido, de tiro simples, com um ou dois canos, de alma lisa e de calibre igual ou inferior a 16. AUSÊNCIA DO REGISTRO OU DE AUTORIZAÇÃO PARA O PORTE E ADEQUAÇÃO TÍPICA Para melhor compreensão, reproduzimos o quadro elaborado pelo Prof. Cleber Masson, observe: ESPÉCIE DE ARMA TIPIFICAÇÃO Arma permitida – ausência de registro Posse ilegal de arma de fogo (art. 12) Arma permitida – ausência de autorização para o porte Porte ilegal de arma de fogo (art. 14) Arma de uso registro – ausência de registro ou ausência de autorização para o porte Art. 16 Obs.: Com a Lei 13.497/2017 passou a ser considerado crime hediondo Atenção para o Info 597 do STJ, observe a explicação do Prof. Márcio Cavalcante (Dizer o Direito): Imagine a seguinte situação hipotética: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.826.htm#sart10 CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2020.1 12 João é Delegado de Polícia. Durante uma busca e apreensão realizada em sua residência para apurar crimes contra a administração pública, foi encontrada uma arma de fogo de uso permitido. A arma encontrada estava registrada em nome de outra pessoa (que não João) na "Divisão de Fiscalização de Armas e Explosivos do Rio de Janeiro". Vale ressaltar, no entanto, que a arma não possuía registro na Polícia Federal nem cadastro no SINARM, conforme exige o Decreto nº 5.123/2004, que regulamenta o Estatuto do Desarmamento. Diante disso, o Ministério Público denunciou João pela prática de posse irregular de arma de fogo, conduta prevista no art. 12 da Lei nº 10.826/2003. A defesa alegou que João, por ser Delegado de Polícia, possui porte de arma e que a falta de registro na Polícia Federal e cadastro no SINARM seria mera irregularidade administrativa. Argumentou-se também que poderia ser aplicado ao caso o princípio da adequação social. Por fim, afirmou-se que não existiu crime porque não houve ofensa ao princípio da lesividade. O STJ concordou com os argumentos da defesa? NÃO. Segundo decidiu o STJ: É típica e antijurídica a conduta de policial civil que, mesmo autorizado a portar ou possuir arma de fogo, não observa as imposições legais previstas no Estatuto do Desarmamento, que impõem registro das armas no órgão competente. Não se pode aplicar ao caso o princípio da adequação social. O princípio da adequação social, desenvolvido por Hanz Welzel, afasta a tipicidade dos comportamentos que são aceitos e considerados adequados ao convívio social. De acordo com o referido princípio, os costumes aceitos por toda a sociedade afastam a tipicidade material de determinados fatos que, embora possam se subsumir a algum tipo penal, não caracterizam crime justamente por estarem de acordo com a ordem social em um determinado momento histórico. A adequação social é um princípio dirigido tanto ao legislador quanto ao intérprete da norma. Quanto ao legislador, esse princípio serve como norte para que as leis a serem editadas não punam como crime condutas que estão de acordo com os valores atuais da sociedade. Quanto ao intérprete, esse princípio tem a função de restringir a interpretação do tipo penal para excluir condutas consideradas socialmente adequadas. Com isso, impede-se que a interpretação literal de determinados tipos penais conduza a punições de situações que a sociedade não mais recrimina. Assim, de acordo com este princípio, não se pode reputar como criminosa uma ação ou omissão aceita ou tolerada pela sociedade, ainda que formalmente subsumida a um tipo legal incriminador. Possuir arma de fogo sem registro no órgão competente e que somente foi descoberta após cumprimento de mandado de busca e apreensão não é conduta socialmente tolerável e adequada no plano normativo penal, mesmo que tenha sido praticada por um Delegado de Polícia. Por fim, analisando o fato sob a ótica do princípio da lesividade, tem-se que haver sim perigo à incolumidade pública, considerando que o objetivo do Estatuto do Desarmamento foi o de ter absoluto controle sobre as armas de fogo existentes no país. CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2020.1 13 Dessa forma, não se pode aplicar, ao caso concreto, o princípio da insignificância. Cuidado para não confundir com este outro julgado na prova: A Polícia, ao realizar busca e apreensão na casa de Pedro (Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado), lá encontrou uma pistola, de uso restrito (pistola calibre 9mm). Pedro não tinha autorização para possuir e guardar essa arma de uso restrito, mas argumentou que, por ser Conselheiro do TCE, é equiparado a magistrado e que, portanto, possui porte de arma. O Ministério Público não concordou com o argumento e denunciou Pedro pela prática do art. 16 do Estatuto do Desarmamento. Segundo a denúncia, Pedro, mesmo sendo equiparado a magistrado, não poderia possuir uma pistola calibre 9mm. Isso porque, de acordo com a Portaria ComEx n. 209 de 14.3.2014 (do Comando do Exército), os magistrados somente poderão adquirir, para uso particular, armas de uso restrito limitadas aos calibres ponto 357 Magnum e ponto 40. Logo, a pistola calibre 9mm está fora da autorização concedida pela Portaria. A questão foi julgada pelo STJ. Para o Tribunal, houve crime? NÃO. O Conselheiro do Tribunal de Contas Estadual que mantém sob sua guarda arma ou munição de uso restrito não comete o crime do art. 16 da Lei nº 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento). STJ. Corte Especial. APn 657-PB, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 21/10/2015 (Info 572). Ressalta-se que o Estatuto do Desarmamento prevê tipos penais preventivos, que criam uma espécie de obstáculos, o legislador antecipa a tutela penal. Assim, o legislador incrimina de forma autônoma um ato preparatório de determinado crime. Por exemplo, o porte ilegal de arma de fogo, isoladamente considerado, é umato preparatório para o roubo ou para o homicídio. REGISTRO DE ARMA DE FOGO E LEI MARIA DA PENHA Observe o disposto no art. 22 da Lei Maria da Penha: Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e (OU) familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras: I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente (Polícia Federal), nos termos da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003; Caso continue com a arma, praticará o crime de posse ilegal de arma de fogo. Por fim, a Lei 13.880/2019 incluiu como uma medida protetiva de urgência a apreensão imediata de arma de fogo sob posse do agressor (art. 18, IV da Lei da Maria da Penha). 8. POSSE X PORTE CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2020.1 14 Observe o quadro comparativo entre posse e porte de arma de fogo elaborado pelo Professor Márcio Cavalcante: POSSE PORTE Se o indivíduo tem direito à posse, significa que ele está autorizado a manter a arma de fogo exclusivamente no • interior de sua residência ou domicílio; ou • no seu local de trabalho (desde que seja ele o titular ou o responsável legal pelo estabelecimento ou empresa). Se o indivíduo tem direito ao porte, significa que ele está autorizado a carregar consigo a arma de fogo mesmo em outros ambientes que não sejam a sua residência ou trabalho. A autorização para posse é concedida por meio de certificado expedido pela Polícia Federal, precedido de cadastro no Sinarm. A autorização para o porte de arma de fogo de uso permitido é de competência da Polícia Federal e somente será concedida após autorização do Sinarm. É necessário que o interessado cumpra os requisitos previstos no art. 4º da Lei nº 10.826/2003. É necessário que o interessado cumpra os requisitos previstos no art. 10, § 1º, da Lei nº 10.826/2003. O titular deste direito recebe um documento chamado “certificado de registro de arma de fogo”. O titular deste direito recebe um documento chamado “porte de arma de fogo”. O indivíduo que possui ou mantém arma de fogo, acessório ou munição (de uso permitido) em sua residência ou trabalho, sem que tivesse autorização para isso (sem que tivesse certificado da Polícia Federal), comete o crime de posse irregular de arma de fogo (art. 12 da Lei nº 10.826/2003). O indivíduo que é encontrado com arma de fogo, acessório ou munição (de uso permitido) fora de sua residência ou local de trabalho sem que tivesse autorização para isso (sem que tivesse porte de arma), comete o crime de porte ilegal de arma de fogo (art. 14 da Lei nº 10.826/2003). 9. POSSE DE ARMA DE FOGO EM ZONA RURAL Explicação Dizer o Direito: É comum que a Polícia Federal conceda certificado de registro de arma de fogo para pessoas que moram em zona rural, tendo em vista que geralmente atendem aos requisitos do art. 4º da Lei nº 10.826/2003. Assim, essas pessoas ficam autorizadas a possuir arma de fogo em suas residências ou locais de trabalho. Ocorre que a estrutura do imóvel rural é diferente dos imóveis urbanos. Isso porque no imóvel rural é comum haver um local onde a família efetivamente mora, ou seja, onde dorme, faz as refeições, onde é o banheiro etc. Esse local é a casa, que é conhecida como “sede da propriedade”/ “sede da fazenda”. No entanto, essa casa (sede da propriedade) é o menor local do CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2020.1 15 terreno, existindo uma vasta área ao redor, onde os ocupantes do imóvel desenvolvem as atividades rurais, como plantações, criação de gado, de porcos, aves etc. Assim, a estrutura do imóvel rural é composta pela sede da fazenda e pelo terreno, sendo este último a maior extensão territorial. O art. 5º da Lei nº 10.826/2003 afirma que o titular do certificado de Registro de Arma de Fogo tem o direito de manter a sua arma de fogo “exclusivamente no interior de sua residência ou domicílio, ou dependência desses, ou, ainda, no seu local de trabalho, desde que seja ele o titular ou o responsável legal pelo estabelecimento ou empresa.” Não havia dúvidas de que uma interpretação teleológica permitia que concluíssemos que a autorização conferida pelo art. 5º abrangia tanto a sede da fazenda como o restante do terreno. No entanto, o legislador entendeu que seria mais adequado e seguro de que essa interpretação ficasse expressamente consignada na Lei e, portanto, inseriu um parágrafo ao art. 5º com essa informação. Confira: Art. 5º (...) § 5º Aos residentes em área rural, para os fins do disposto no caput deste artigo, considera-se residência ou domicílio toda a extensão do respectivo imóvel rural. (Incluído pela Lei nº 13.870/2019) Ex: João possui uma fazenda de 2 mil hectares onde cria 10 mil cabeças de gado. Ele possui um certificado de registro de arma de fogo. Isso significa que ele pode ficar com sua espingarda dentro da casa onde mora com a família (sede da fazenda) e pode andar com ela por toda a extensão dos 2 mil hectares de sua fazenda. CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2020.1 16 DOS CRIMES E DAS PENAS 1. POSSE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES INCIAIS O art. 12 do Estatuto do Desarmamento dispõe sobre o crime de posse irregular de arma de fogo de uso permitido, vejamos o dispositivo legal: Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa: Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. Destaca-se que a conduta descrita no art. 12 está relacionada à ausência de registro da arma de fogo, não há que se falar em porte, uma vez que a arma está na residência ou no local de trabalho. OBJETIVIDADE JURÍDICA Protege-se a incolumidade pública, mais especificamente a segurança pública. Além disso, tutela-se o controle sobre a propriedade de armas de fogo. Segundo o entendimento do STF e do STJ, protege-se reflexamente a vida, a integridade física, o patrimônio, a honra e a liberdade. CONDUTA O tipo penal descreve duas condutas: possuir e manter sob a guarda. Indaga-se as condutas possuir e mantar sob a guarda possuem o mesmo significado? 1ªC (Nucci) - possui e manter sob a guarda possuem o mesmo significado. O legislador apenas utilizou palavras sinônimas para descrever a mesma conduta. 2ªC (Capez) – são expressões distintas, assim: • Possuir significa estar na posse da própria arma; • Manter sob guarda significa guardar arma de terceiros. CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2020.1 17 Salienta-se que não é necessário contato físico entre o infrator e a arma para configuração do crime de posse ilegal de arma de fogo. OBJETO MATERIAL Considera-se objeto material a arma de fogo, a munição e acessórios. Ressalta-se que o art. 12 do Estatuto do Desarmamento é uma norma penal em branco que será complementada pelo art. 2º do Decreto 9.847/2019. Obs.: não há definição legal do que se entende por acessório. O juiz irá definir na análise do caso concreto. ELEMENTO NORMATIVO DO TIPO Também chamado de elemento espacial do tipo, é o que diferencia do porte. Observe a tabela. POSSE PORTE Ocorre na residência ou na dependência da residência do infrator (intramuros) Local do trabalho do infrator, desde que seja proprietário ou responsável legal. Em qualquer outro local. Imagine que João é gerente do posto de gasolina XX. Durante o dia Flávio faz a segurança armada do estabelecimento. Indaga-se: há crime? João e Flávio praticaram quais condutas?• João responderá por posso ilegal de arma de fogo, tendo em vista que é o responsável legal pelo posto de gasolina; • Flávio responderá por porte ilegal de arma de fogo, já que está portando em qualquer outro lugar (fora de sua residência e não é nem proprietário e nem responsável legal pelo posto de gasolina). Obs.: Importante lembrar que em áreas rurais, toda a propriedade rural, será considerada como residência para efeitos do Estatuto do Desarmamento. Ressalta-se que, de acordo com o entendimento do STJ, veículo não é residência, ainda que utilizado como instrumento de trabalho. Assim, caso seja encontrada uma arma dentro de um caminhão, o caminhoneiro cometerá o delito de porte ilegal de arma de fogo. Há ainda outro elemento normativo do tipo, consagrado na expressão “em desacordo com determinação legal ou regulamentar”. POSSE LEGAL POSSE ILEGAL CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2020.1 18 Trata-se de fato atípico, tendo em vista que o agente obteve o registro, seguindo as disposições legais. É o crime tipificado no art. 12 do Estatuto do Desarmamento. A entrega espontânea da arma extingue a punibilidade por posse ilegal de arma de fogo, nos termos do art. 32 do Estatuto do Desarmamento. Art. 32. Os possuidores e proprietários de arma de fogo poderão entregá-la, espontaneamente, mediante recibo, e, presumindo-se de boa-fé, serão indenizados, na forma do regulamento, ficando extinta a punibilidade de eventual posse irregular da referida arma. Obs.: De acordo com o entendimento do STJ, o que extingue a punibilidade é a entrega espontânea, quando a polícia encontra a arma, cumprindo mandado de busca e apreensão, haverá o crime. Por fim, o STJ (HC 94.673, STJ) a conduta de quem se dirige até a delegacia para entregar arma de fogo, não pode ser equiparada ao crime de porte ilegal, uma vez que tal comportamento é autorizado pelo Estado (Art. 30, 31 e 32 do Estatuto do Desarmamento). Falta a esta ação antinormatividade (aplicação da Teoria da Tipicidade Conglobante). SUJEITOS DO DELITO 1.6.1. Sujeito ativo Qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo, inclusive o proprietário da arma (pagou, mas não possui registro). Trata-se de crime comum ou geral. 1.6.2. Sujeito passivo É a coletividade. Portanto, estamos diante de um crime vago, ou seja, o sujeito passivo é um ente destituído de personalidade jurídica. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA É crime permanente, tendo em vista que a consumação se propaga no tempo, em razão da vontade do agente. Obs.: Por conta da permanência, devemos lembrar que: a) será possível a prisão em flagrante, enquanto não cessada a permanência; b) o curso do prazo prescricional somente se inicia com a cessação da permanência; c) sobrevindo lei penal mais gravosa, enquanto não cessada a permanência, poderá ser aplicada ao caso. Nesse sentindo, destacamos o Info 506 do STJ: Não é ilegal a prisão realizada por agentes públicos que não tenham competência para a realização do ato quando o preso foi encontrado em estado de flagrância. Os tipos penais previstos nos arts. 12 e 16 da CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2020.1 19 Lei n. 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento) são crimes permanentes e, de acordo com o art. 303 do CPP, o estado de flagrância nesse tipo de crime persiste enquanto não cessada a permanência. Segundo o art. 301 do CPP, qualquer do povo pode prender quem quer que seja encontrado em situação de flagrante, razão pela qual a alegação de ilegalidade da prisão - pois realizada por agentes que não tinham competência para tanto - não se sustenta. HC 244.016-ES, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 16/10/2012. Assim como outros crimes previstos no Estatuto do Desarmamento, a posse irregular de arma de fogo de uso permitido é crime de perigo abstrato/perigo presumido. Ou seja, o crime se consuma com a mera exposição do bem jurídico a uma probabilidade de dano, não se reclama o dano efetivo. Como a lei presume de forma absoluta o perigo ao bem jurídico, não cabe prova em contrário. Obs.: Apenas para relembrarmos, tratando-se de crime de perigo concreto é necessário a comprovação, não se presume. Além disso, é um crime de mera conduta ou de simples atividade, eis que o tipo penal se limita a descrever uma conduta, não há resultado naturalístico. O crime se consuma com a mera posse irregular, não importa a finalidade. É perfeitamente possível a tentativa, em tese. De acordo com Renato Brasileiro, “parte da doutrina prefere dizer que não é possível a tentativa. Isso porque na eventualidade de o agente ser surpreendido, enquanto tentava, por exemplo, adquirir ilegalmente uma arma de fogo de uso permitido para guardar em sua residência, o crime será o do art. 14, na forma tentada, e não o do art. 12 do Estatuto do Desarmamento” GUARDA DE ARMA DE FOGO COM REGISTRO VENCIDO A cada três anos, o titular da arma de fogo deve renovar o seu registro, nos termos do art. 5º, § 2º do Estatuto do Desarmamento, in verbis: Art. 5º, § 2o Os requisitos de que tratam os incisos I, II e III do art. 4o deverão ser comprovados periodicamente, em período não inferior a 3 (três) anos, na conformidade do estabelecido no regulamento desta Lei, para a renovação do Certificado de Registro de Arma de Fogo. Nos casos em que o agente mantém a arma de fogo, sem renovar o registro, o STJ entende que não há o crime do art. 12, mas mera infração administrativa. Vejamos, a sempre excelente, explicação do Prof. Márcio Cavalcante (Dizer o Direito) sobre o tema, no Info 572 do STJ: CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2020.1 20 Argumentos: • Não há dolo do agente que procede ao registro e, depois de expirado o prazo, é apanhado com a arma nessa circunstância. • Trata-se de uma irregularidade administrativa. Isso porque se a pessoa possui o registro da arma de fogo de uso permitido, significa que o Poder Público tem completo conhecimento de que ele possui o artefato em questão, podendo rastreá-lo, se necessário. Logo, inexiste ofensividade na conduta. • A mera inobservância da exigência de recadastramento periódico não pode conduzir à incriminação penal. Cabe ao Estado apreender a arma e aplicar a punição administrativa pertinente, não estando em consonância com o Direito Penal moderno deflagrar uma ação penal para a imposição de pena tão somente porque o indivíduo - devidamente autorizado a possuir a arma pelo Poder Público, diga-se de passagem - deixou de ir de tempos em tempos efetuar o recadastramento do artefato. Portanto, até mesmo por questões de política criminal, não há como submeter o paciente às agruras de uma condenação penal por uma conduta que não apresentou nenhuma lesividade relevante aos bens jurídicos tutelados pela Lei nº 10.826/2003, não incrementou o risco e pode ser resolvida na via administrativa. • O direito penal possui caráter subsidiário e de última ratio. AÇÃO PENAL É crime de ação penal pública incondicionada. ABOLITIO CRIMINIS TEMPORÁRIA O Estatuto do Desarmamento estabeleceu, em seu art. 30, um prazo de 180 dias para que os possuidores e proprietários de armas de fogo de uso permitido fizessem a solicitação de registro. Após sucessivas prorrogações, o prazo limite foi estipulado em 31 de dezembro de 2009, nos termos do art. 20 da Lei 11.922/20. Com base neste dispositivo, passou-se a entender que houve uma abolitio criminis temporária para o crime de posse irregular de arma de fogo de uso permitido. De fato, se o cidadão CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2020.1 21 foi flagrado com uma arma dessa espécie em sua residência, por exemplo, entre a entrada em vigor do Estatuto do Desarmamento e o dia 31 de dezembro de 2009, não poderia ser punido, pois ainda possuía prazo para efetuar a solicitação do registro da arma. Em sua redação originária, o Estatuto do Desarmamento autorizava essa abolitio criminis temporáriatambém para as condutas relacionadas às armas de uso restritos e àquelas que lhes são equiparadas por Lei, como as armas de numeração raspada, suprimida ou adulterada. Em relação a este tipo de arma, porém, a abolitio criminis temporária cessou no dia 23 de outubro de 2005. Nesse sentindo, a Súmula 513 do STJ: Súmula 513-STJ: A abolitio criminis temporária prevista na Lei n. 10.826/2003 aplica-se ao crime de posse de arma de fogo de uso permitido com numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado, praticado somente até 23/10/2005. Em suma: a) de 23 de dezembro de 2003 a 23 de outubro de 2005 a posse ilegal de arma permitida ou proibida não configurou crime; b) de 24 de outubro de 2005 a 31 de dezembro de 2009 a posse ilegal de arma permitida continuou a não configurar crime, mas a posse ilegal de arma proibida ou restrita (incluindo a arma permitida adulterada) passou a configurar crime; c) a partir de 1º de janeiro de 2010 a posse ilegal de arma permitida passou a configurar crime, mas a entrega espontânea à Polícia Federal constitui causa extintiva de punibilidade; d) o porte ilegal de qualquer arma sempre configurou crime, desde a entrada em vigor do Estatuto do Desarmamento. PENA A pena será de um a três anos e multa. Trata-se de crime de médio potencial ofensivo (pena de um a três anos), admitindo-se a suspensão condicional do processo, prevista no art. 89 da Lei 9.099/95. Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal). Salienta-se que, como a pena não ultrapassa quatro anos, o próprio delegado poderá arbitrar a fiança. Por fim, estando presentes os requisitos do art. 44 do CP, é perfeitamente possível que a pena seja convertida em restritiva de direitos, pois cabe a conversão quando a pena aplicada, ao crime doloso, sem violência ou grave ameaça, não ultrapassa quatro anos. CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2020.1 22 2. OMISSÃO DE CAUTELA PREVISÃO LEGAL O crime de omissão de cautela está previsto no art. 13 do Estatuto do Desarmamento, observe: Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessárias para impedir que menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora de deficiência mental se apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade: Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa. OBJETIVIDADE JURÍDICA Tutela-se a segurança pública, bem como a integridade física do menor de 18 anos e do portador de doença mental. SUJEITOS DO DELITO 2.3.1. Sujeito ativo Pode ser qualquer pessoa, trata-se de crime comum ou geral. 2.3.2. Sujeito passivo São sujeitos passivos: • A coletividade • O menor de 18 anos • O portador de doença mental ELEMENTO SUBJETIVO Os crimes do Estatuto do Desarmamento, em geral, são dolosos. Contudo, o crime de omissão de cautela é culposo, eis que é um típico caso de negligência. O proprietário da arma deixa de adotar as cautelas necessárias. Cita-se, como exemplo recente, o caso do adolescente de Goiânia que teve acesso à arma da mãe e atirou contra seus colegas de escola. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA É crime material, o qual depende da produção do resultado naturalístico. Assim, não basta que o agente seja negligente, é necessário que o menor ou que o portador de transtorno mental se apodere da arma. CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2020.1 23 É crime de perigo abstrato. É crime omissivo impróprio. Por fim, não admite tentativa. FIGURA EQUIPARADA À OMISSÃO DE CAUTELA O parágrafo único traz um crime diferente em que é aplicado a mesma pena do art. 13, vejamos: Art. 13, Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o proprietário ou diretor responsável de empresa de segurança e transporte de valores que deixarem de registrar ocorrência policial e de comunicar à Polícia Federal perda, furto, roubo ou outras formas de extravio de arma de fogo, acessório ou munição que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte quatro) horas depois de ocorrido o fato. Nos casos em que ocorre a perda, furto, roubo ou outra forma de extravio de arma de fogo, a empresa de segurança tem a obrigação de comunicar à autoridade competente em 24h, sob pena de responder pelo delito do art. 13, parágrafo único. 2.6.1. Objetividade jurídica Protege-se a veracidade dos cadastros de arma de fogo perante o SINARM e o registro perante o órgão competente (em regra, Polícia Federal). 2.6.2. Sujeitos do delito a) Sujeito ativo Trata-se de crime próprio ou especial, uma vez que somente pode ser praticado pelo proprietário da empresa ou pelo diretor responsável. b) Sujeito passivo É a coletividade (crime vago) 2.6.3. Observações importantes • As armas de fogo utilizadas pelas empresas de segurança e de transporte de valores deverão pertencer a elas, ficando também sob sua guarda e responsabilidade; • O registro e autorização para o porte, expedido pela Polícia Federal, deverão ser elaborados no nome da empresa. • A empresa deve apresentar ao SINARM, semestralmente, relação dos empregados habilitados a portar as armas, restrita ao serviço. Obs. Caso o funcionário da empresa seja surpreendido com a arma de fogo, fora do horário de trabalho, responderá por porte ilegal de arma de fogo. CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2020.1 24 2.6.4. Consumação e tentativa É um crime a prazo, em que o tipo penal condiciona a consumação do delito ao transcurso de determinado tempo. Assim, a consumação ocorrerá após o transcurso das 24h sem que haja a comunicação. Não admite tentativa, pois se trata de um crime omissivo próprio. 3. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES O delito de porte ilegal de arma de fogo de uso permitido está previsto no art. 14 do Estatuto do Desarmamento, vejamos: Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável, salvo quando a arma de fogo estiver registrada em nome do agente. (Vide Adin 3.112-1) Trata-se de crime de elevado potencial ofensivo, incompatível com os benefícios da Lei 9.099/95. Ressalta-se que o STF, na ADI 3.112/1, considerou o parágrafo único inconstitucional, pois, atualmente, apenas a CF pode dizer, de forma genérica e abstrata, que um crime é inafiançável. OBJETIVIDADE JURÍDICA Tutela-se a incolumidade pública, mais especificamente a segurança pública. SUJEITOS DO DELITO 3.3.1. Sujeito ativo É crime comum ou geral, podendo ser praticado por qualquer pessoa. Cuidado com o disposto no art. 20 do Estatuto do Desarmamento que traz uma causa de aumento de pena, quando o crime é praticado por um dos integrantes dos órgãos e empresas constantes nos arts. 6º, 7º e 8º da Lei. Art. 20. Nos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e 18, a pena é aumentada da metade se: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) I - forem praticados por integrante dos órgãos e empresas referidas nos arts. 6º, 7º e 8º desta Lei; ou (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art9 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art9 CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO2020.1 25 II - o agente for reincidente específico em crimes dessa natureza. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 3.3.2. Sujeito passivo É a coletividade, trata-se de crime vago. ELEMENTO NORMATIVO O tipo penal do art. 14 contém um elemento normativo, qual seja: “sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar”. Desta forma, conclui-se que é possível portar legalmente uma arma de fogo. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA É crime de mera conduta, pois se esgota no porte ilegal da arma de fogo. É crime de perigo abstrato. É possível a tentativa quando, por exemplo, o agente inicia os atos de execução, mas não logra êxito em adquirir a arma de fogo de uso permitido. OBSERVAÇÕES IMPORTANTES 3.6.1. Crime de perigo abstrato Significa que a lei presume, de forma absoluta, que a arma de fogo representa um perigo à segurança pública. O STJ, no Info 570, entendeu que é atípica a conduta de portar arma de fogo ineficaz. Vejamos a ótima explicação do Prof. Márcio Cavalcante (Dizer o Direito): http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art9 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art9 CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2020.1 26 3.6.2. Porte simultâneo de duas ou mais armas de fogo Prevalece o entendimento que o agente responde apenas por um crime, sendo que a pluralidade de armas influi na dosimetria da pena. Nesse sentindo, o HC 148.349/SP: HC 148.349/ SP – Informativo 448 STJ: O crime de manter sob a guarda munição de uso permitido e de uso proibido caracteriza-se como crime único, quando houver unicidade de contexto, porque há uma única ação com lesão de um único bem jurídico, a segurança coletiva, e não concurso formal. Salienta-se que o STJ entendeu que a conduta de portar uma arma de fogo de uso permitido e uma arma de fogo de uso proibido configura concurso formal de crimes. 3.6.3. Porte simultâneo: arma de fogo de uso restrito e de uso permitido Igualmente, prevalece o entendimento que irá responder por um único crime (o mais grave), a pluralidade de armas influirá na dosimetria da pena. 3.6.4. Porte de arma de brinquedo O mero porte de arma de brinquedo não é considerado crime, não houve a incriminação pelo Estatuto do Desarmamento, proíbe a fabricação, a importação, a exportação de réplicas de arma de fogo, nos termos do art. 26. Art. 26. São vedadas a fabricação, a venda, a comercialização e a importação de brinquedos, réplicas e simulacros de armas de fogo, que com estas se possam confundir. Parágrafo único. Excetuam-se da proibição as réplicas e os simulacros destinados à instrução, ao adestramento, ou à coleção de usuário autorizado, nas condições fixadas pelo Comando do Exército. 3.6.5. Tipo misto alternativo É aquele que contém dois ou mais núcleos, configurando um único crime quando for praticado contra o mesmo objeto material. 3.6.6. Porte ilegal de arma de fogo desmuniciada Entende-se que, por ser um crime de mera conduta, haverá crime. Nesse sentindo, o HC 95.073/MS (Info 699 do STF): Info 699 STF: Asseverou-se que o tipo penal do art. 14 da Lei 10.826/2003 comtemplaria crime de mera conduta, sendo suficiente a ação de portar ilegalmente a arma, ainda que desmuniciada. 3.6.7. Porte de munição e lesividade da conduta CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2020.1 27 A posse ou o porte apenas da munição (ou seja, desacompanhada da arma) configura crime. Isso porque tal conduta consiste em crime de perigo abstrato, para cuja caracterização não importa o resultado concreto da ação. O objetivo do legislador foi o de antecipar a punição de fatos que apresentam potencial lesivo à população, prevenindo a prática de crimes. STF. 2ª Turma. HC 119154, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 26/11/2013. STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1442152/MG, Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 07/08/2014. Obs.: O STJ (AgREsp 155.4212) possui julgados considerando atípico o porte de apenas um projetil, analisou o caso concreto. Aplicou o princípio da insignificância. 3.6.8. Uso de munição como pingente e atipicidade O STF considerou atípica a conduta do agente que portava uma munição como pingente, sem possuir arma de fogo. 3.6.9. Porte e homicídio ou roubo Tratando-se de posse ou porte ilegal de arma de fogo, exclusivamente, para a prática de homicídio ou roubo, ficará absorvida. Por outro lado, se o agente está posse ou porta ilegalmente uma arma e, eventualmente, prática um homicídio ou um roubo, haverá concurso material de crimes. 3.6.10. Porte ilegal e legítima defesa Em regra, o agente que age em legítima defesa utilizando arma de fogo sem registro poderá responder pelo crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo. Contudo, o crime poderá ser absorvido quando a conduta foi exclusiva para o ato de legítima defesa. 4. DISPARO DE ARMA DE FOGO PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES O art. 15 do Estatuto do Desarmamento consagra o delito de disparo de arma de fogo, vejamos: Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2020.1 28 O crime se aperfeiçoa com o disparo de arma de fogo ou, simplesmente, com o acionamento da munição (engatilhar a arma). Importante destacar a expressão “desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime”, a qual configura um crime expressamente subsidiário. Trata-se do princípio da subsidiariedade expressa na solução do conflito aparente de normas. Observe as seguintes hipóteses: • Agente dispara arma de fogo sem nenhum intuito, responderá pelo art. 15 do Estatuto do Desarmamento; • Agente dispara arma de fogo para matar outra pessoa, responderá por homicídio (art. 121 do CP). O disparo será absorvido pelo homicídio. OBJETIVIDADE JURÍDICA Protege-se a incolumidade pública, mais especificamente a segurança pública. OBJETO MATERIAL Apenas a munição, permitida ou proibida. SUJEITOS DO DELITO 4.4.1. Sujeito ativo É crime comum ou geral, tendo em vista que pode ser praticado por qualquer pessoa. Lembrar da causa de aumento do art. 20, vista acima. 4.4.2. Sujeito passivo É a coletividade, mas também serão vítimas as pessoas que suportaram o perigo. ELEMENTO ESPACIAL DO TIPO O disparo deve ocorrer em via pública ou em direção a ela, bem como em lugar habitado ou em suas adjacências. Portanto, o disparo de arma de fogo em lugar ermo é conduta atípica. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA É crime de mera conduta. Assim, será consumado com o disparo da arma de fogo ou com o acionamento da munição. Igualmente, é um crime de perigo abstrato. É, perfeitamente, cabível a tentativa. CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2020.1 29 OBSERVAÇÕES IMPORTANTES 4.7.1. Pluralidade de disparos Havendo pluralidade de disparos, no mesmo contexto fático, configura crime único. O número de disparos será utilizado para a dosimetria da pena. 4.7.2. Veracidade do projétil É preciso que realmente ocorra o disparo de uma arma de fogo. Assim, disparo de arma de borracha não configura este crime. 4.7.3. Crime mais grave e absorção O agente irá responder apenas pelo crime mais grave. O disparo fica absorvido. 4.7.4. Porte ilegal e disparo de arma de fogo Para determinar os crimes que o agente irá responder, é necessário analisar o contexto fático, a fim de determinar se há ou não ligação entre as condutas. Observe a seguir as seguintes hipóteses: 1ª HIPÓTESE – João está em sua residência, assistindo ao jogo de seu time de futebol. Após o gol, dirige-se até a rua e efetua um disparo para o alto. Em seguida, retorna para sua casa. Perceba que João portou ilegalmente a arma de fogoapenas com a finalidade de efetuar o disparo. Assim, o disparo irá absorver o porte ilegal. 2ª HIPÓTESE – João saiu de sua residência, com a arma de fogo, atravessou a cidade inteira para chegar ao estádio de futebol, após o jogo, novamente, atravessou a cidade para voltar para casa. Ocasião em que efetuou um disparo para o alto. Nesta hipótese, temos dois contextos distintos, por isso João irá responder pelos dois delitos (porte e disparo) em concurso material de crimes. PENA A pena é de dois a quatro anos. Portanto, trata-se de um crime de elevado potencial ofensivo. Assim, podemos concluir que: • Não é possível a transação penal, pois a pena máxima supera os dois anos; • Não é possível a suspensão condicional do processo, pois a pena mínima prevista para o crime ultrapassa um ano; • É muito provável que a pena seja convertida em restritiva de direitos, desde que cumpridos os requisitos legais; • Tendo em vista que a pena máxima não ultrapassa o patamar de quatro anos, o próprio delegado poderá arbitrar a fiança. CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2020.1 30 Obs.: o parágrafo único foi declarado inconstitucional pelo STF. Cabe sim fiança. 5. POSSE OU PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO OU PROIBIDO PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES A posse e porte ilegal de arma de fogo de uso restrito estão previstas no art. 16 do Estatuto do Desarmamento. Há nos incisos do parágrafo primeiro uma série de figuras equiparadas (veremos abaixo). Observe o dispositivo: Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. § 1º Nas mesmas penas incorre quem: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma de fogo ou artefato; II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz; III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar; IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado; V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescente; e VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo. § 2º Se as condutas descritas no caput e no § 1º deste artigo envolverem arma de fogo de uso proibido, a pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Quando a arma de fogo é de uso restrito, o crime será o mesmo tanto para a posse ilegal quanto para o porte ilegal. De outra banda, quando se trata de arma de fogo de uso permitido, os crimes serão distintos: posse ilegal (art. 12) e porte ilegal (art. 14) Perceba que a Lei nº 13.964/2019 modificou o art. 16 do Estatuto do para diferenciar arma de fogo de uso RESTRITO de arma de fogo de uso PROIBIDO. ESTATUTO DO DESARMAMENTO Antes da Lei 13.964/2019 ATUALMENTE Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art9 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art9 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art9 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art9 CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2020.1 31 transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido ou restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: (...) transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: (...) Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: (...) § 1º Nas mesmas penas incorre quem: (...) Não havia § 2º do art. 16. § 2º Se as condutas descritas no caput e no § 1º deste artigo envolverem arma de fogo de uso proibido, a pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. OBJETIVIDADE JURÍDICA Assim, como nos demais crimes do Estatuto protege-se a incolumidade pública, mais especificamente a segurança pública. SUJEITOS DO DELITO 5.3.1. Sujeito ativo Qualquer pessoa poderá praticar o delito do art. 16, pois se trata de crime comum ou geral. Aqui, novamente, aplica-se a regra do art. 20 do Estatuto, segundo a qual a pena será aumentada quando o crime for praticado por integrantes dos órgãos e empresas referidas nos arts. 6º, 7º e 8º. 5.3.2. Sujeito passivo É crime vago, assim o sujeito passivo será a coletividade. ELEMENTO NORMATIVO DO TIPO O tipo penal contém um elemento normativo, qual seja: sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar. Conclui-se, assim, que são possíveis o porte legal e a posse legal de arma de fogo de uso restrito quando o agente possuir autorização para tanto (porte) ou registrar (posse). A aquisição de arma de fogo de uso restrito deve ser concedida pelo Comando do Exército, e seu registro também será feito nesse órgão. Obs.: O porte funcional é válido para qualquer arma de fogo. Assim, é perfeitamente possível que porte uma arma de fogo de uso restrito. CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2020.1 32 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA É crime de perigo abstrato, a lei presume o perigo com a prática de qualquer uma das condutas descritas no art. 16. Igualmente, é um crime de mera conduta. Ou seja, basta a prática da conduta para que se presuma o perigo. O tipo penal limita-se a descrever a conduta, sem prever o resultado naturalístico. FIGURAS EQUIPARADAS Estão descritas nos incisos do parágrafo único do art. 16. Trata-se de crimes autônomos com condutas e objetos materiais próprios, para os quais se aproveitou a pena do art. 16, caput. Obs.: As condutas não precisam ser relacionadas a arma de fogo de uso restrito ou proibido. 5.6.1. (I) Suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de indicação de arma de fogo ou artefato É um dos incisos mais cobrados em prova. O tipo penal pune o responsável pela supressão (eliminação completa) ou alteração (mudança) da marca ou numeração. Na prática, é quase impossível identificar quem fez a supressão, por isso o legislador criou o inciso IV. 5.6.2. (II) Modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz Note que, aqui, há duas condutas distintas, vejamos: 1ªCONDUTA - Modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito. Cita-se, como exemplo, a conduta do agente que serra o cano de uma arma calibre 12. Pune-se apenas o responsável pela modificação, qualquer outra pessoa que a porte ou possua irá responder pelo caput do art. 16. 2ªCONDUTA
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