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RESENHA CRÍTICO-COMPARATIVA O POLITICO E A REPUBLICA DE PLATÃO

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RESENHA CRÍTICO-COMPARATIVA
Bibliografia:
PLATÃO. A República. Tradução J. Guinsburg. 1. Ed. São Paulo: Difusão europeia do livro, 1965 (Coleção clássicos Garner).
PLATÃO. Diálogos IV: Parmenides (ou das formas); Político (ou da realeza); Filebo (ou do prazer); Lísis (ou da amizade). Tradução Edson Bini. 1 Ed. São Paulo: Edipro, 2009 (Clássicos Edipro). 
Vitória Rocha[footnoteRef:1] [1: Vitória Souza Rocha ] 
Platão: Biografia e suas contribuições 
Filho de Ariston e Perictione nasceu como Aristócles, na erudita Atenas clássica entre 428 a.C e 427 a.C e se tornou um dos indeléveis nomes da filosofia ocidental. Suas obras são indubitavelmente importantes para a formação do pensamento e compreensão das origens da filosofia clássica.
Platão viveu durante o período áureo da democracia ateniense [footnoteRef:2] no seio de uma família aristocrata e tinha Sólon[footnoteRef:3] em sua arvore genealógica materna, portanto, tinha certa predisposição a vida política. No entanto, após a morte e execução de seu mentor Sócrates[footnoteRef:4], Platão se decepcionou com a política e voltou sua vida para o exercício da filosofia. Anos mais tarde fundaria a Academia, a primeira universidade da história. [2: Aqui se faz referência ao Período clássico da história da Hélade.] [3: Foi um grande Legislador de Atenas, quem empreendeu uma série de reformas políticas, sociais e econômicas na Polis. ] [4: Platão foi discípulo de Sócrates. O mentor foi executado por ser uma ameaça à democracia e sob alegação de corromper a juventude. ] 
A República: 
“A República” é segunda obra mais extensa de Platão e faz não somente uma reflexão voltada a política, mas também toda a harmonização da Polis em que o filósofo vivia. Nesse diálogo, o fundador da Academia torna seu mentor, Sócrates, a personagem principal e quem inicia o LIVRO I buscando entender o conceito de Justiça.
A Justiça é apresentada com diversas finalidades e obstinações pelas personagens, mas segundo a doutrina platônica, é a maior das virtudes que traria a felicidade completa. Seria uma característica individual a medida que também seria do coletivo, portanto, Sócrates inicia a descrição da República, a utopia platônica de uma cidade perfeita, a Calípolis. 
A cidade utópica narrada por Sócrates seria dividida em três classes sociais[footnoteRef:5], que receberiam educação segundo suas aptidões pelo próprio Estado: Aqueles que possuíssem alma de bronze seriam responsáveis pela subsistência da cidade, os que tivessem alma de prata seriam destinados à defesa e por fim, os dotados da alma de ouro a governariam. Seria essa a base da sofocracia onde o Filósofo governaria. [5: Essas três partes da sociedade também estão presentes em cada indivíduo, segundo a Teoria da Alma tripartite de Platão.] 
A teoria do rei-filósofo é defendida na República uma vez que faz duras críticas a repartição de poder que ocorre na democracia[footnoteRef:6]. Ele elucida que o governo da cidade precisa estar nas mãos daqueles que têm acesso ao mundo das ideias, amantes da verdade e conhecedores do bem em si. O discípulo de Sócrates faz uso da conhecidíssima “Alegoria da caverna” para demonstrar que os filósofos possuíam uma visão mais aguçada e preparo para cuidar da Pólis. Para tanto, os filósofos que governariam viveriam suas vidas em prol somente da comunidade, não possuiriam riquezas ou teriam família. Somente dessa forma, a felicidade coletiva proveniente da justiça seria realidade na Pólis. [6: ] 
O Político: 
 “O Político” é a obra na qual Platão busca definir o que é política e o homem político bem como suas características. O Livro se inicia através de um diálogo entre o Estrangeiro e seu discípulo, o jovem Sócrates, no qual estes discorrem sobre a divisão do trabalho teórico: A arte da apreciação e a arte da direção, sendo parte das características do homem político, o direcionamento dos demais. 
Durante a obra, o Estrangeiro alude ao Mito de Cronos ao contar sobre o período em que a humanidade era resguardada pelos deuses. Nesse espaço de tempo, os seres humanos viviam no ócio absoluto, uma vez que tudo que era necessário lhes era dado, viviam também em completa harmonia entre si e com as outras espécies. No entanto, no momento em que o Timoneiro abandonaria seu posto, o mundo seria invertido e o caos reinaria. Para restabelecer a ordem, cada nação necessitaria de um Timoneiro, que seria o político. Esse indivíduo, de indubitável importância seria incumbido de “cuidar do rebanho de seres humanos” como propriamente cita Platão através do Estrangeiro.
CONGRUÊNCIAS ENTRE A RÉPUBLICA E O POLÍTICO: 
Tanto na República quanto no livro O Político, Platão explicita a ideia que o governante deve possuir boa índole, para que consequentemente seu governo seja agradável e promova o bem comum. Essa afirmação é verdadeira uma vez que pode ser explicada através da definição platônica de justiça como uma virtude que sucede a felicidade na República. Ainda nesse sentido, no diálogo O Político, usa o Mito de Cronos para exemplificar um período em que os seres humanos gozavam de segurança e harmonia, após o fim desse ciclo, no mundo passa a imperar a desordem que só cessaria pela ação de um governante. Na república, onde se descreve a sociedade perfeita, a figura desse governante seria o filosofo. 
Ademais, a doutrina platônica coloca a dificuldade em encontrar tal governante superior entre o povo em ambas obras. Diante disso, em O Político, o filósofo ateniense se apega a ideia de uma legislação como a possível substituição para a falta do governante perfeito. Já na República, a falta do Rei-filósofo leva Platão a discorrer sobre a degeneração da política real. O declínio do governo começaria através de uma timocracia e o culto ao espírito guerreiro, logo após seria transformado em uma oligarquia, na qual o poder seria dos mais ricos e seria sucedido pela democracia. Nesse ponto da democracia é importante salientar as duras críticas feitas por Platão, tendo-se em vista que afirmava que a unidade total do povo seria incapaz de adquirir consciência política e seriam facilmente manipulados, levando a uma demagogia. Finalmente, em sua visão, os desmandos da democracia resultariam em uma tirania, onde o poder seria voltado para interesses próprios.
Traçando um panorama entre a realidade hodierna e os dois diálogos de Platão, é interessante perceber que a ideia da República não se concretiza na realidade brasileira, uma vez que o poder não é destinado somente aos filósofos, mas a maioria da população, isto é, qualquer um que atenda aos requisitos demonstrados no art. 14 da Constituição Federal brasileira. Quanto a semelhança a obra “O político”, os deveres do governante em oferecer segurança e orientação se evidenciam no papel não do homem político, mas do Estado na sua conjuntura. Destarte, a análise conjunta das duas obras apresentadas é de suma importância para compreensão da teoria política de um dos filósofos mais recorrentes da história, bem como para analisar as diferenças e semelhanças existentes entre sua tese e o contexto atual.

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