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[DISCIPLINA CONFORTO AMBIENTAL] 2012 AULA 01 - BIOCLIMATISMO Faculdade UNISUAM - Professora: Adriana Colafranceschi Durante Página 1 1. Arquitetura Bioclimática A Arquitetura bioclimática consiste em pensar e projetar um edifício considerando toda a envolvência climatológica e características ambientais do local em que se insere. Pretende-se assim otimizar o conforto ambiental no interior do edifício (o conforto térmico, lumínico, acústico, etc.) utilizando para isso apenas o design e os elementos arquitetônicos disponíveis. A Arquitetura Bioclimática permite integrar várias áreas do saber, criando modelos e projetos únicos para cada situação, podendo considerar, não só os aspectos climáticos como também aspectos ambientais, culturais e socioeconômicos. Com as suas raízes no empirismo das regras de boa arte dos nossos antepassados, a arquitetura bioclimática surgiu numa época em que a não existência de tecnologias que pudessem responder às necessidades de climatização e de iluminação obrigavam a uma construção eficiente e inserida no clima circundante. Cabe salientar que nessa época os materiais utilizados eram os materiais locais, o que permitia uma diversificação e uma exploração limitada de cada tipo de material. EXEMPLO DE ARQUITETURA BIOCLIMÁTICA CONSTRUÇÕES PROTEGIDAS DO SOL DO VERÃO PELAS ENCOSTAS DE PEDRA No verão quente e seco a inclinação mais alta dos raios solares era sombreada pela pedra evitando assim a incidência de raios solares nas habitações; já no inverno, a inclinação mais baixa do sol permitia sua entrada nas habitações aquecendo-as durante o dia. O calor armazenado nas rochas das encostas durante o dia era devolvido ao interior das habitações à noite, garantindo o conforto térmico. Percebe-se assim que um edifício bioclimático não tem que envolver despesas acrescidas visto não precisar de complicados dispositivos tecnológicos. Assim, o seu sucesso depende apenas da experiência, dos conhecimentos e da criatividade do seu projetista. No fundo, a Arquitetura Bioclimática é apenas um rótulo relativamente recente para classificar uma série de atitudes no processo de projeto. A vantagem da existência da Arquitetura Bioclimática enquanto área do saber são as progressivas sistematizações e evoluções dos objetivos a que se propõe: projetar, tendo em conta o aproveitamento energético potencial do local a que se destina. [DISCIPLINA CONFORTO AMBIENTAL] 2012 AULA 01 - BIOCLIMATISMO Faculdade UNISUAM - Professora: Adriana Colafranceschi Durante Página 2 ARQUITETURA BIOCLIMÁTICA COLONIAL BRASILEIRA Uso de Pátio Interno Vista do Pátio Interno Paço Imperial Utilização de telhas de barro, emprego de pé-direto alto, uso de pátio interno, uso de grandes vãos de ventilação e iluminação ARQUITETURA MODERNA BIOCLIMÁTICA BRASILEIRA Prédio do Ministério da Educação – Rio de Janeiro Uso de brises-soleils verticais e horizontais como linguagem arquitetônica e dispositivo para a proteção das fachadas da incidência solar; e uso de pilotis no térreo. Edifício no Parque Guinle (Lúcio Costa, 1948) - Laranjeiras – Rio de Janeiro Fechamentos semipermeáveis (cobogós); Áreas de serviços voltadas para as fachadas críticas; Uso de pilotis no pavimento térreo. [DISCIPLINA CONFORTO AMBIENTAL] 2012 AULA 01 - BIOCLIMATISMO Faculdade UNISUAM - Professora: Adriana Colafranceschi Durante Página 3 ARQUITETURA PÓSMODERNA BRASILEIRA – CONTRA EXEMPLOS Edifício sede da Petrobrás - Rio de Janeiro Prédio BNDES – Rio de Janeiro ARQUITETURA PÓSMODERNA BIOCLIMÁTICA BRASILEIRA Shopping Fashion Mall – Rio de Janeiro Linguagem arquitetônica pertinente em relação ao clima urbano local; uso de pátio interno de ventilação e iluminação, preocupação com conforto térmico e lumínico: redução significativa dos gastos energéticos; Hospital Rede Sarah - Rio de Janeiro (Arquiteto Lelé) Uso de muros permeáveis à ventilação [DISCIPLINA CONFORTO AMBIENTAL] 2012 AULA 01 - BIOCLIMATISMO Faculdade UNISUAM - Professora: Adriana Colafranceschi Durante Página 4 Dispositivos para a captação dos ventos integrados à arquitetura; Aproveitamento da luz natural como efetivo recurso terapêutico; Uso de muros permeáveis para permitir a entrada de ventilação natural ao edifício, Redução significativa do consumo energético do hospital; ARQUITETURA BIOCLIMÁTICA CONTEMPORÂNEA Universidade Tecnológica em Nanyang Telhado Jardim (Cingapura) (Corte esquemático) Emprego do conceito de “telhado jardim”, uso do apelo estético na concepção arquitetônica, redução do gradiente térmico do edifício e retardo do despejo de águas pluviais nas tubulações. Existem outras definições relacionadas com este tema, que trabalham no mesmo sentido e que importa distinguir aqui a título de informação: • Arquitetura solar passiva: é muito semelhante à Arquitetura Bioclimática com a única diferença de que apenas lida com os ganhos energéticos provenientes do Sol, enquanto que a Arquitetura Bioclimática pode incluir outras preocupações climáticas. • Design ativo ou Arquitetura solar ativa: Lida com meios mecânicos de baixo consumo energético, em geral associado ao uso de energias renováveis: ex. painéis solares, fotovoltaico, sistemas híbridos de arrefecimento por evaporação, etc. • Arquitetura Sustentável: Lida com o impacto ambiental de todos os processos envolvidos na construção de uma casa desde os materiais utilizados até as técnicas de construção passando pelo consumo de energia no processo construtivo e no edifício durante o seu tempo de vida. Este tipo de arquitetura abrange o conceito de arquitetura bioclimática. É difícil, no contexto de um projeto, separar estes quatro conceitos, portanto, abordaremos a arquitetura bioclimática englobando também a utilização de sistemas ativos, leiam-se mecânicos, a utilização de energias renováveis, e passaremos mesmo que de forma branda no conceito de arquitetura sustentável. A arquitetura sustentável preconiza a redução, reutilização e reciclagem dos recursos materiais a partir das crescentes responsabilidades sócio-ambientais e da evolução da racionalização dos processos construtivos [DISCIPLINA CONFORTO AMBIENTAL] 2012 AULA 01 - BIOCLIMATISMO Faculdade UNISUAM - Professora: Adriana Colafranceschi Durante Página 5 REDUÇÃO: (1) Consumo de energia elétrica; (2) Consumo de água; (3) Desperdícios dos materiais de construção e de formas para elementos estruturais, (4) uso de mão-de-obra humana etc. REUTILIZAÇÃO: (1) Captação de águas pluviais para uso nas edificações; (2) Uso de entulho de obra para aterramento de terrenos, enchimento de pisos; (3) Uso de telhas metálicas como fechamentos externos em canteiros de obras; RECICLAGEM: (1) Reciclagem do lixo; (2) Aproveitamento de madeira de demolição na fabricação de móveis etc. Como benefícios deste tipo de arquitetura referem-se como fator chave a obtenção de condições de conforto ambiental com o mínimo consumo de energia possível, implicando que os custos de manutenção deste tipo de edifícios em iluminação, ventilação e climatização sejam extremamente baixos. Ao complementar estas medidascom medidas ativas de retenção de energia solar como são o caso dos painéis solares para aquecimento de águas, dos painéis solares-fotovoltaicos para produção de energia elétrica, ou até mesmo de outras medidas como a produção de eletricidade a partir de energia eólica, pode-se conseguir que o edifício seja (quase) auto-suficiente em termos energéticos e com um conforto associado igual ou até mesmo superior ao de outro edifício convencional. Exemplo de Arquitetura Sustentável [DISCIPLINA CONFORTO AMBIENTAL] 2012 AULA 01 - BIOCLIMATISMO Faculdade UNISUAM - Professora: Adriana Colafranceschi Durante Página 6 2. Como construir Bioclimaticamente Um dos fatores chave para um design passivo eficaz e eficiente é a compreensão de que não existe uma solução ótima e aplicável a todas as situações, mas sim inúmeros mecanismos que devem ser selecionados no sentido de se encontrar uma solução adequada para determinado local. Existem alguns fatores que podem afetar esta escolha, como por exemplo: localização da construção (no campo ou na cidade), topografia do terreno (numa montanha ou numa planície), incidência solar (a quantidade de radiação solar recebida diariamente), ventos (a quantidade e velocidade de ventos disponíveis), etc. Assim, antes de traçar o primeiro rabisco da concepção arquitetônica que dará origem a edificação, deve-se ter como premissa um estudo do clima e do local do projeto. Uma boa arquitetura deverá assistir o programa e a análise climática, de forma a responder simultaneamente à eficiência energética e às necessidades de conforto ambiental do indivíduo que a ocupará. Como as variáveis climáticas irão influir diretamente no espaço arquitetônico construído, para tornar a etapa de análise mais clara e organizada, é conveniente dividir o clima em três escalas distintas, porém indissociáveis: MACROCLIMA, MESOCLIMA E MICROCIMA. MACROCLIMA: são as variáveis quantificadas em estações meteorológicas e podem descrever as características gerais de uma região em termos de sol, nuvens, temperatura, ventos, umidade e precipitações de chuva. No Brasil esses dados são publicados pelo Instituto Nacional de Meteorologia e são divulgados em nível de regiões: Norte, Sul, Nordeste, Sudeste, Centro-Oeste. Os Macroclimas brasileiros são: 1. Equatorial, 2. Semiárido, 3. Tropical, 4. Tropical de Altitude e 5. Subtropical, sendo o clima tropical o mais encontrado, inclusive no Rio de Janeiro. MESOCLIMA: são as variáveis em escala mais próxima ao nível da edificação, podendo ser identificadas por características regionais, como por exemplo, a localização dentro do estado (litoral ou campo), o tipo de vegetação principal (florestas ou áreas muito adensadas), o tipo de topografia local (regiões montanhosas, ou vales), local da construção (área rural ou urbana da cidade). EXEMPLOS DE MESOCLIMAS DO RIO DE JANEIRO: Alto da Boa Vista Baixada Fluminense (Nilópolis) [DISCIPLINA CONFORTO AMBIENTAL] 2012 AULA 01 - BIOCLIMATISMO Faculdade UNISUAM - Professora: Adriana Colafranceschi Durante Página 7 Floresta da Tijuca Bangu Aterro do Flamengo Lagoa Rodrigo de Freitas MICROCLIMA: são as variáveis do entorno imediato da edificação e podem ser concebidas e ou alteradas pelo arquiteto ou projetista de acordo com as suas necessidades projetuais, por estarem bem mais perto da edificação. O estudo das variáveis dessa escala é fundamental para o sucesso do projeto, pois uma série de variáveis climáticas do local pode induzir a soluções arquitetônicas mais adequadas ao bem estar dos usuários, ou seja: “Clima específico de uma área geográfica muito reduzida que se diferencia por circunstância de relevo ou urbanização do clima da região que a cerca”. (FAU-UFRJ, 2005) Portanto é preciso avaliar neste caso, apenas o impacto do entorno imediato à edificação – entorno natural, seja ele construído ou legislado, sobre o desempenho da construção. O que é indispensável é: conseguir identificar os elementos específicos deste entorno, capazes de modificar os dados climáticos padrão das estações meteorológicas. As Intervenções urbanas são elementos capazes de modificar dados climáticos: Aterros; Parques urbanos; Praças urbanas; Plantio de massas vegetais de grande porte; Aumento ou Redução da densidade construída das áreas urbanas; Construção de lagos ou lagoas artificiais (espelhos d´água), Construção de estradas, Retirada de vegetação nativa local, Sombreamento produzido por outras edificações do entorno, maior ou menor impermeabilização do solo urbano, etc. De forma resumida podemos dizer que são fatores determinantes do microclima urbano: 01- A situação geográfica; 02 - as fontes de calor e 03. Os poluentes. Como principais fontes de calor temos: 2.1 - Excesso de veículos motorizados nas vias de tráfego; 2.2 - Refrigeração e iluminação intensiva dos edifícios e espaços públicos; 2.3 - Elevada densidade demográfica; 2.4 - Impermeabilização dos solos urbanos [DISCIPLINA CONFORTO AMBIENTAL] 2012 AULA 01 - BIOCLIMATISMO Faculdade UNISUAM - Professora: Adriana Colafranceschi Durante Página 8 2.1. O CLIMA DO RIO DE JANEIRO No Estado do Rio de Janeiro, ocorre o predomínio dos climas tropical (nas áreas de baixadas) e tropical de altitude (nas regiões serranas). Mais precisamente na cidade do Rio de Janeiro existe a divisão do ano basicamente em 02 estações: (verões quentes e úmidos e invernos amenos com chuvas restritas). Ocorrem baixas amplitudes térmicas, é grande a influência da maritimidade e é constante a formação de “ilhas de calor” urbanas. ILHAS DE CALOR As ilhas de calor são consequências do planejamento mal elaborado. Apresentam-se com o aumento da temperatura do ar nas cidades em relação ao meio rural e às áreas menos urbanizadas. A substituição dos materiais naturais por grande quantidade de concreto (matéria-prima básica para casas, avenidas, prédios), altera o balanço da radiação solar da superfície local, provocando mudanças nos processos de absorção, transmissão e reflexão do calor. Isso aumenta a irradiação de calor para a atmosfera em comparação a outras regiões com cobertura vegetal, por exemplo. Vários fatores contribuem para o desenvolvimento de uma ilha de calor urbana, como a natureza e o uso do solo, a vegetação, a arquitetura, a localização geográfica, a topografia, o clima e a sazonalidade. Entretanto, algumas medidas podem diminuir o fenômeno, como o plantio de árvores em grande quantidade nas cidades, a criação de parques e áreas verdes, além da diminuição da poluição do ar, com o controle da emissão de poluentes pelos veículos e pelas indústrias. 2.2. PRINCIPAIS VARIÁVEIS CLIMÁTICAS PROXIMIDADE DE MASSAS DE ÁGUA - A água se aquece e se esfria mais lentamente que a terra, que ganha e perde calor mais rapidamente; BRISAS TERRA-MAR – PRINCÍPIO TERMODINÂMICO - A terra (continente) se aquece e se esfria mais rapidamente do que a água, que ganha ou perde calor mais lentamente devido aos [DISCIPLINA CONFORTO AMBIENTAL] 2012 AULA 01 - BIOCLIMATISMO Faculdade UNISUAM - Professora: Adriana Colafranceschi Durante Página 9 diferentes calores específicos. Durante o dia, a terra se aquece mais rapidamente que a água; e o ar, ao ascender da região mais fria para a mais quente, força uma circulação da brisa marítima no sentido mar-terra. À noite este sentido se inverte, pois a água, por demorar mais a esfriar que a terra, encontrar-se-á momentaneamente mais quente, gerando uma brisa terra-mar. Brisa Diurna – mar-terraBrisa noturna terra-mar ALTITUDE - A temperatura do ar tende a diminuir com o aumento da altitude; TOPOGRAFIA – Afeta diretamente a temperatura do ar, a nível local, pois um relevo acidentado pode se construir em uma barreira aos ventos, modificando, muitas vezes, as condições de umidade e de temperatura do ar em relação à escala regional. Planaltos, planícies, barreiras montanhosas e vales ou depressões (baixadas); 2.3. DIRETRIZES BÁSICAS DE PROJETO BIOCLIMÁTICO Diante da Multiplicidade climática brasileira, as recomendações projetuais bioclimáticas são igualmente diversificadas, mas de uma maneira geral podem ser resumidas: 1. Inclinações das coberturas de acordo com o regime pluviométrico local; 2. Implantação do edifício de acordo com a orientação solar; 3. Proteções de fachadas de acordo com a incidência solar local; 4. Disposição das janelas (fenestração) de acordo com os ventos dominantes locais; 5. A influência do entorno construído local na nova edificação. Todavia, as decisões projetuais, tendo por base a influência do clima local sempre vão considerar as 02 (duas) situações principais abaixo: 1. As condições climáticas mais frequentes durante o ano; 2. As estações críticas, ou seja, os extremos do verão e do inverno; 2.4. CONCEITOS BÁSICOS RADIAÇÃO SOLAR A radiação solar depende de dois fatores: a trajetória do Sol e a duração da exposição solar. Sendo o Sol a maior fonte de energia utilizada na arquitetura bioclimática, é muito importante ter uma idéia da sua trajetória e do número de horas de Sol recebidas ao longo do dia e do ano. [DISCIPLINA CONFORTO AMBIENTAL] 2012 AULA 01 - BIOCLIMATISMO Faculdade UNISUAM - Professora: Adriana Colafranceschi Durante Página 10 TRANSLAÇÃO DA TERRA E LOCALIZAÇÃO DOS TÓPICOS É a trajetória solar que define a duração da exposição solar, e o ângulo de incidência dos raios solares que determinam a intensidade da radiação. No movimento de translação, a terra percorre sua trajetória elíptica em um plano inclinado de 23 o 27’, em relação ao plano de equador. É esse ângulo que define a posição dos trópicos e isto faz com que os dois hemisférios terrestres recebam quantidades distintas de radiação solar ao longo do ano, caracterizando as estações pelos solstícios de verão e de inverno (“a” e “c”) e pelo equinócios de primavera e de outono (“b” e “d”) A energia solar recebida por qualquer superfície pode chegar de três modos distintos radiação direta, a forma de radiação mais intensa, ou por radiação difusa, que no fundo é a radiação que foi difundida em todas as direções pelas moléculas de ar e por partículas que compõem a atmosfera, ou ainda por através da radiação refletida por outras superfícies. A trajetória aparente do sol varia de acordo com as estações do ano e ocorre em função da inclinação do eixo de rotação da Terra. Essas variações aparentes dos percursos solares nas diferentes estações do ano acarretam projeções de sombras que também se modificam constantemente, variando tanto de acordo com o horário do dia quanto com as estações do ano. SOLSTÍCIO DE INVERNO SOLSTÍCIO DE VERÃO EQUINÓCIO DE OUTONO EQUINÓCIO DE PRIMAVERA [DISCIPLINA CONFORTO AMBIENTAL] 2012 AULA 01 - BIOCLIMATISMO Faculdade UNISUAM - Professora: Adriana Colafranceschi Durante Página 11 TRAJETÓRIA DO SOL NOS SOLSTÍCIOS E EQUINÓCIOS Trajetória solar no solstício de verão; Trajetória solar nos equinócios (outono e primavera); Trajetória solar no solstício de inverno. SOLSTÍCIO VERÃO - Época do ano em que a trajetória aparente do Sol corresponde a seu percurso mais próximo da terra (ocorre no dia 22/12) SOLSTÍCIO INVERNO - Época do ano em que a trajetória aparente do Sol corresponde a seu percurso mais afastado da Terra (ocorre no dia 21/06) A Incidência solar nos solstícios é perpendicular sobre os Trópicos de Capricórnio (em 22/12) e o de Câncer (em 21/06), definindo os dias mais longos e mais curtos do ano. EQUINÓCIOS - Datas do ano em que o percurso solar se caracteriza por oferecer a mesma duração do dia e da noite em toda a Terra (12 horas). A incidência solar nos equinócios é perpendicular sobre a linha do Equador. O equinócio de Outono ocorre em 22/03 e o de Primavera em 23/09. TEMPERATURA É a variável climática mais conhecida e de fácil medição, sua variação na superfície da terra resulta basicamente dos fluxos de grandes massas de ar e da diferente recepção da radiação do sol de local para local. A temperatura depende essencialmente da radiação solar, do vento, da altitude e da natureza do solo. O Sol aquece a atmosfera indiretamente visto que o solo acumula a energia solar que recebe e reemite o calor por radiação e convecção. A propagação deste calor é então assegurada ou por condução, ou por difusão, através da turbulência do ar, ou seja, através do vento. Durante o dia, como resultado de uma maior quantidade de radiação direta incidente, a temperatura tem tendência a subir, acontecendo o inverso à noite. Para estudar o comportamento térmico de uma casa, torna-se então importante conhecer os modos de transmissão de calor. Como acabamos de ver, o calor transmite-se essencialmente de três modos diferentes: - Condução: O calor propaga-se através de continuidades materiais. Cada material tem o seu coeficiente de condução de calor que indica se o material é bom condutor térmico, ou se por outro lado é um bom isolante. [DISCIPLINA CONFORTO AMBIENTAL] 2012 AULA 01 - BIOCLIMATISMO Faculdade UNISUAM - Professora: Adriana Colafranceschi Durante Página 12 - Convecção: O calor transfere-se de um meio sólido para um fluido que escoa sobre esse sólido. Se este escoamento/movimento tiver uma origem natural, devido a gradientes de temperatura (o ar frio é mais denso e desce, o quente é menos denso e sobe) a convecção chama-se natural. Se a convecção tiver origem em ventos, ou em ventoinhas diz-se que é forçada e é também mais eficiente. - Radiação: Todos os corpos emitem radiação eletromagnética cuja intensidade depende da sua temperatura. Este modo não precisa de nenhum meio para se propagar e é o modo através do qual a energia solar alcança a terra. VENTO O vento resulta da deslocação de uma massa de ar majoritariamente na horizontal, de uma zona de alta pressão (ar mais frio e pesado) para uma zona de baixa pressão (ar quente e leve). Vários parâmetros afetam a sua existência e a sua velocidade que, em geral aumenta com a altitude sendo a topografia é um destes fatores. Através de diagramas do tipo “rosa-dos-ventos”, o arquiteto pode conhecer as probabilidades de ocorrência de vento para as principais orientações e suas velocidades. Este instrumento pode auxiliar o projetista na colocação de aberturas, de forma aproveitar o vento fresco no período quente e evitar o vento forte no período frio, pois o vento é geralmente uma vantagem no Verão visto que permite arrefecer a atmosfera, mas é uma desvantagem no Inverno visto ser um dos fatores que contribui para o arrefecimento dos edifícios por convecção. UMIDADE O ar é composto por uma mistura de ar seco e vapor de água. A umidade traduz qual a percentagem de água que o ar contém e o seu valor é influenciado não só pela temperatura do ar, mas também pelo volume de precipitações, pela vegetação, pelo tipo de solo e pelas condições climáticas tais como os ventos e a exposição solar. A umidade influencia diretamente a sensação de bem estar visto que uma das formas do corpo regular a temperatura do corpo passa pela evaporação. Em altas umidades temos mais dificuldade em evaporar o suor, aumentando a sensação de desconforto térmico. A umidade relativa tende a aumentar quando há diminuição da temperatura e, diminuir quando há aumento da temperatura.Em locais com alta umidade, a transmissão de radiação solar é reduzida porque o vapor de água e as nuvens a absorvem e redistribuem na atmosfera refletindo uma parte de volta ao espaço. 1- Em locais com ar muito seco, os dias tendem a ser muito quentes e as noites muito frias; 2- Em locais úmidos, as temperaturas extremas tendem a ser atenuadas, não havendo grande variação térmica entre temperatura diurna e noturna; ÁGUA Em pequena ou em larga escala as massas de água têm uma grande influência sobre o microclima de um local visto que regulam as flutuações de temperatura agindo como tampões térmicos. [DISCIPLINA CONFORTO AMBIENTAL] 2012 AULA 01 - BIOCLIMATISMO Faculdade UNISUAM - Professora: Adriana Colafranceschi Durante Página 13 De fato, a vaporização da água é um processo endotérmico, ou seja, retira energia do meio ambiente. Essa energia chama-se energia de vaporização. Assim, quando a água evapora permite certo arrefecimento da zona circundante. Foram já utilizados por diversas vezes dispositivos que ao pulverizarem um local permitem a diminuição da temperatura de alguns graus. Um exemplo disto é o calçadão de Bangu, onde em 2002, foram instalados aspersores de água para amenizar a temperatura do local, reconhecidamente um dos pontos mais quentes da cidade do Rio de Janeiro. Calçadão de Bangu e seus Aspersores de Água VEGETAÇÃO A vegetação em arquitetura bioclimática é muito útil visto proteger de forma sazonal os edifícios, refrescá-los através da evapo-transpiração e filtrar o pó em suspensão no ar. Todavia é preciso ter em atenção à escolha das plantas tendo em consideração os objetivos pretendidos, ou seja, escolher vegetação de folha caduca (plantas que perdem as folhas durante o inverno) para sombrear no Verão, mas não no Inverno. Em locais arborizados, a vegetação pode interceptar entre 60% e 90% da radiação solar, causando uma redução substancial da temperatura da superfície do solo. Isso acontece porque o vegetal absorve parte da radiação solar para seu metabolismo (fotossíntese). A parcela de calor emitida da árvore para o solo também é menor que a céu aberto. Além disso, o movimento do ar entre as folhas retira grande parte do calor absorvido pelo sol. (Lamberts, 2004 p. 35) A VEGETAÇÃO E A RADIAÇÃO SOLAR [DISCIPLINA CONFORTO AMBIENTAL] 2012 AULA 01 - BIOCLIMATISMO Faculdade UNISUAM - Professora: Adriana Colafranceschi Durante Página 14 INÉRCIA TÉRMICA Um corpo aquece quando a temperatura do meio que o envolve sobe. Se a temperatura sobe lentamente é dito que o corpo tem uma grande inércia térmica enquanto se a temperatura subir rapidamente diz-se que o corpo tem baixa inércia térmica. Portanto, a inércia térmica depende então grandemente dos materiais utilizados na construção do edifício. Este conceito é muito importante em casas bioclimáticas. Se elas tiverem uma baixa inércia térmica vão reagir rapidamente à radiação solar aquecendo rapidamente durante o dia, mas também arrefecendo rapidamente à noite. Por outro lado, casas com grande inércia térmica vão se manter mais tempo frescas durante o dia, enquanto armazenam calor, que vão libertar lentamente à noite. Deste modo há então dois conceitos que importa referir: retardo ou atraso (da temperatura interior em relação à temperatura exterior) e amortecimento (os picos de temperatura interior são amenizados). INÉRCIA TÉRMICA – AMORTECIMENTO E RETARDO O Arquiteto pode ainda tirar proveito da inércia térmica da terra para amenizar as temperaturas no interior da edificação, pois o solo se mantém em temperaturas mais amenas que o ar exterior, após ser aquecido pelo sol, retendo o calor por muito mais tempo que uma habitação convencional. Esse calor armazenado no solo pode ser útil em locais onde as noites são frias, mas os dias são quentes, ou seja, onde há grande amplitude diária de temperatura. Se a edificação for integrada a terra (edificações semi-enterradas, taludes, coberturas com terra), poderá absorver esse calor nos horários mais quentes do dia, possibilitando conforto ao usuário ao liberar o calor somente nos horários mais frios da noite. EFEITO DE ESTUFA É o fenômeno em que a radiação entra num local, mas não consegue voltar a sair, aquecendo assim o local em causa. Locais fechados por vidros são particularmente sujeitos a este fenômeno, visto o vidro ter um comportamento curioso em relação à radiação. O vidro é transparente para a radiação no espectro do visível, mas é opaco para radiação com comprimento de onda mais elevado. O que acontece quando os raios solares entram numa casa é que vão aquecer os objetos que depois emitem radiação no espectro do infravermelho (maior comprimento de onda) que não consegue sair, ficando [DISCIPLINA CONFORTO AMBIENTAL] 2012 AULA 01 - BIOCLIMATISMO Faculdade UNISUAM - Professora: Adriana Colafranceschi Durante Página 15 assim a energia retida no interior. Este tipo de efeito é muito útil nas estações frias visto permitir armazenar calor. Exemplos frequentes são precisamente as estufas ou áreas envidraçadas que têm de ser muito bem protegidas prevendo um sombreamento e ventilação adequada, sobretudo em climas quentes, pois nestes casos, obtém-se uma temperatura interna consideravelmente mais elevada do que a externa. DESENHO ESQUEMÁTICO DO “EFEITO ESTUFA” As radiações infravermelhas emitidas por corpos aquecidos são impedidas de sair das estufas pelo vidro ou plástico usados para construir essas edificações SENSAÇÃO TÉRMICA É uma indicação da percepção subjetiva da temperatura do ar, que pode diferir da temperatura real devido a fatores climáticos como a umidade do ar, sua densidade e a velocidade do vento; SENSAÇÃO TÉRMICA E FATORES ATMOSFÉRICOS: 1. Ausência de nuvens - Reduz a capacidade de retenção da umidade do ar pela atmosfera, que evapora mais rápido e agrava a sensação de secura; 2. Excesso de nuvens - Acumula a umidade do ar produzindo a sensação de abafamento (mormaço) em dias quentes. EFEITOS FISIOLÓGICOS DA BAIXA UMIDADE DO AR: Dificuldade para respirar e ressecamento das mucosas, com possíveis sangramentos nos horários críticos; Ações corretivas - Uso de aparelhos umidificadores ou bacias com água e toalhas molhadas nos ambientes de permanência prolongada. (sensação típica encontrada em Brasília) [DISCIPLINA CONFORTO AMBIENTAL] 2012 AULA 01 - BIOCLIMATISMO Faculdade UNISUAM - Professora: Adriana Colafranceschi Durante Página 16 ANEXOS – OUTROS EXEMPLOS DE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL Construções sustentáveis: Conceito: “Utilizar os recursos disponíveis no presente sem esgotá- los e comprometer o meio ambiente das gerações futuras”. (Relatório Bruntland – 1987) [DISCIPLINA CONFORTO AMBIENTAL] 2012 AULA 01 - BIOCLIMATISMO Faculdade UNISUAM - Professora: Adriana Colafranceschi Durante Página 17 Obviamente como foi dito anteriormente, os esquemas apresentados acima, são somente algumas das inúmeras possibilidades de como uma casa pode ser. A forma, as técnicas e materiais podem e devem ser combinados da melhor maneira que convier; mais uma vez, uma construção sustentável não tem receita pronta, apenas diretriz a serem levadas em consideração na hora de projetar. A permeabilidade do solo deve ser um aspecto significante em um projeto sustentável. Proporcionar espaços livres, vegetados e permeáveis faz com que os ambientes que circundam o edifício sejam mais frescos, criando microclimas que aproximam a vida natural doedifício e dão vazão à água que se acumula no chão deixando os espaços mais salubres.
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