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CITOLOGIA E EMBRIOLOGIA Organizador Severo de Paoli Doutorado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) em ciências da saúde Especialização e mestrado em morfologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Professor titular Ili de biologia celular e embriologia e histologia da Universidade Estácio de Sá no Rio de Janeiro Pesquisador convidado no laboratório de radiofarmácia experimental da UERJ ser edur.ac Jr, gente criando o futuro @ Pearson abdr~ SUMÁRIO Apresentação ........................................................................................... IX Prefácio ....................................................................................................... XI Unidade 1 Células em dose: biologia e microscopia ............... 1 As células em close: unidade e diversidade da vida .................. .3 Histórico ...................................................................................................... 3 A diversidade da vida ............................................................................. 8 A diversidade celular .............................................................................. 9 Componentes básicos das células .................................................. 13 Procariotos e eucariotos .................................................................... 14 Nucleadas, membranosas e dotadas de um citoesqueleto ..... 16 Origem virai? .......................................................................................... 20 Vírus desafiam a definição e a classificação da vida ................ 21 Microscopia de luz e de elétrons ...................................................... 26 Componentes do microscópio óptico e suas funções ............ 26 Microscopia de polarização .............................................................. 29 Microscopia de contraste .................................................................. 31 Microscopia de fluorescência ........................................................... 37 Microscopia confocal .......................................................................... 41 Descrição dos princípios básicos de microscopia eletrônica ... .45 Métodos para o estudo de células e tecidos ............................... 57 Coleta de material biológico ............................................................ 57 Preparação para microscopia elet rônica ...................................... 61 Citoquímica ............................................................................................ 62 Unidade 2 As membranas e organelas membranosas da célula .................................................................................................. 71 Definição, composição e aspectos funcionais das biomembranas ..................................................................................... 73 As membranas biológicas ................................................................. 73 Definição e aspectos funcionais das biomembranas .............. 75 Composição lipídica e organização estrutural... ........................ 78 Composição proteica da membrana ............................................. 84 Constituição dos diversos órgãos .................................................. 233 Formação do processo notocordal e da notocorda ............... 233 Da quarta a oitava semana do desenvolvimento embrionário ...................................................................................... 241 Aspectos do embrião na quarta semana .................................. 242 Aspectos do embrião na quinta semana ................................... 244 Aspectos da sexta semana .............................................................. 246 Aspectos da sétima semana ........................................................... 247 Aspectos da oitava semana ............................................................ 247 Circulação placentária ...................................................................... 251 Funções da placenta .......................................................................... 254 Membrana amniocoriônica e decídua ....................................... 257 Cordão umbilical ................................................................................ 257 Alantoide ............................................................................................... 259 Reação decidual .................................................................................. 260 Referências ............................................................................................. 263 APRESENTAÇÃO Nos catálogos de livros universit:írios, há vários títulos Clija pri- meira edição saiu há 40, 50 anos, ou mais. São livros que, graças à identificação da edição na capa (e somente a ela), têm sua idade reve- lada. E, ao contrário do que muitos podem imaginar, isso não é um problema. Pelo contrário, são obras conhecidas, adotadas em diversas instituições de ensino, usadas por estudantes dos mais diferentes per- fis e reverenciadas pelo que representam para o ensino. Qual o segredo de sucesso desses livros? O que eles têm de diferente <le vários outros que, embora tenham tido boa aceitação cm um primeiro momento, não foram tão longe? Em poucas pala- vras, esses livros se adaptaram ús novas realidades ao longo do tempo, entendendo as mudanças pelas quais a sociedade - e, con- sequentemente, as pessoas - passava e as novas necessidades que se apresentavam. Para que isso fique mais claro, vamos pensar no seguinte: a maneira como as pessoas aprendiam matcmát ica na década de 1990 é igual ao modo como elas aprendem hoje? Embora os ali- cerces da disciplina permaneçam os mesmos, a resposta é: não! Nesse intervalo de tempo, ocorreram mudanças significativas - a Internet se consolidou, os celulares se popularizaram, as redes so- ciais surgiram etc. E todas essas mudanças repercutiram no modo de vida das pessoas, que se tornou mais nípido e desafiador, mu- dando os fundamentos do processo de ensino/aprendizagem. Foi com base nisso que nasceu a Bibliografia Universitária Pcar- son (BUP). Concisos sem serem rasos e simples sem serem sim- plistas, os livros que compõem esta série são baseados na premissa de que, para atender sob medida às necessidades tanto dos alunos de graduação como das instituições de ensino - independente- mente de eles estarem envolvidos com ensino presencial ou a dis- tância - , é preciso um processo amplo e ílexível de construção do saber, que leve em conta a realidade cm que vivemos. Assim. as obras apresentam de maneira clara os principais conceitos dos temas propostos, trazendo exatamente aquilo que o estudante precisa saber, complementado com aprofundamentos e PREFÁCIO Este livro é destinado a apresentar a embriologia e a biologia celular a todos os estudantes univers itários interessados na área biomédica. Nenhum conhecimento prévio sobre esse assunto é exigido para o entendimento desta obra, que apresenta um conteú- do bastante abrangente e didático ao seu aprendizado. Já no iníc io do século XX sabia-se que as funções dos seres vivos, desde os unicelulares até as plantas e os animais superiores, só poderiam ser entendidas por meio do estudo de suas células. Nesse sentido, a leitura das diferentes unidades deste livro permi- tirá ao aluno concluir que as células reali zam seus mecanismos básicos, utilizando os mesmos tipos de organelas celulares e mo- léculas, e que essas estruturas desempenham as mesmas fünções em todos os seres vivos. Esse é o motivo pelo qual é tão importan- te estudar e pesquisar a biologia celular, pois ao mesmo tempo em que as células são unidades, elas também manifestam a diversidade da vida. O progresso desse ramo da ciência toma-se cada vez mais evi- dente no século XXI, contando com novas descobertas e perspecti- vas sobre o câncer; as variabi lidades genéticas que influenciam um tratamentofarmaco lógico mais adequado; o uso da biotecnologia para a produção de novos medicamentos, dentre e les a insulina; a prática forense como uma ferramenta indispensável para identifi- car possíveis suspeitos criminais e também um clássico exemplo para determinar a paternidade ou a maternidade de uma pessoa. Na Unidade 1 estudarem os as semelhanças e as diferenças en- tre as células, além dos diversos tipos de microscópios, desde o mais tradicional até a lguns dos mais sofisticados, que hoje possi- bilitam observar detalhes inimagináveis das moléculas e seus ar- ranjos dentro das células . Na Unidade 2 veremos as organelas que formam as células, sua organização molecular e o funcionamento dessas unidades fundamentais da vida. A Unidade 3 foi dedicada ao núcleo celular, que apesar de ser conhecido desde o século XIX, ainda hoje é o menos compreendido. -------------- U N 1 D A D E Células em close: biologia e • • m1croscop1a Objetivos de aprendizagem • Entender ,1 céluld como unidade estrutural e funcional da vida e as diferenças entre as células procarióticas e eucarioticas. Compreender a estrutura e a função dos diversos componentes da rede de filamentos e t(rbulos que íorm.:irn o esqueleco celular. Aprofundar o conhecimento das organelas membranosas envolvidcJS na f abricaçao celular de moléculas, na digestdo e na respiraçao. li Conhecer os componentes e os princípios de funcionamento de al- guns dos microscópios mais utilizados no estudo da biologia celular. Conhecer maneiras de coletar e p1epilr<1r material biológico para a observação em m croscóp10. Temas 1 - As células em close: unidade e diversidade da vida Identificar os principais componentes das rélulds e diferenciar as celu- las procar1ótic c:is dc:is eucarióticas. 2 - Microscopia de luz e de elétrons Conhecer os componentes e os principies de funcionamento de ai guns ·Jcs '11'Cr"'scopios Mais uti"zado<- r ') est ido da biolog a celu ar 3 - Métodos para o estudo de células e tecidos Conhect "l ir •iras de coletar e pre1- 1rar rr l r d b1ológ1co para a observaçiio em rnrcroscópio. Introdução Existem célula~ rncJrroscópicas, como a gema do ovo, que podem ser vistas ,1 olho desarfT'ado, rna~ r ão poderíamos ver cl mu1or .i deis celulas sem a inven çâo e o de~envolvrmento dos mrc.roscop os fsses aparelhos revelaram à As células em dose: unidade e diversidade da vida Histórico Células em close: b1olog1a e microscopia E O primeiro registro de um microscópio composto data de 1595 aproximadamente. Esse aparelho foi construído pelo holandês Zacharias Janssen, que contou com a ajuda de seu pai, Hans Janssen. Ele ampliava os objetos até 10 vezes (RANDl; DAVIDSON, 20 12; CHATTERJEE et ai., 2012; LING, 2007). A invenção do microscópio no século XVII colocou ao alcance da vista humana todo um mundo microscópico que até então ninguém conhecia, porque era invisível. Os primeiros microscopistas se mara- vilharam com as estruturas novas que se revelaram a seus olhos. O padre jesuíta Athanasius Kircher ( 1601-1680), de Fulda, na Ale- manha, em 1658, mostrou que diversas criaturas vivas se desenvol- viam em tecidos em decomposição (BERGER, 1999). Na mesma época, o naturalista holandês Jan Swammerdam (1637-1680) descre- veu corpúsculos vermelhos e ovais no sangue e observou que um em- brião de rJ é composto por "partículas globulares" (MAZZARELLO, 1999). Seu "Livro da natureza" (Bíblia Natural) tem abundantes exemplos de estudos microscópio admiráveis, com ênfase na estrutura anatômica de diversos insetos ao longo dos estágios de seu desenvol- vimento (FOURNI ER, 1990). O "minúsculo mundo novo" foi explorado pelo também holandês Antonie van Leeuwenhoek ( 1632- 1723). Sob o microscópio, ele ob- servou uma série de pa11ículas que se moviam. Se a matéria não viva era incapaz de se mover sozinha, essas paitículas deveriam, então, ser organismos vivos. Foi o que Van Leeuwenhoek concluiu em uma car- ta que enviou à Royal Society, em 1676. A partir de então, ele publi- cou uma série de artigos nos quais descreveu muitas formas de "animálculos" ou microrganismos. Van Leeuwenhoek foi o primeiro a desenhar espermatozoides e protozoários (RANDI; DAVIDSON, 2012; MAZZARELLO, 1999). Porém, a primeira descrição de uma célula foi feita em 1665 pelo físico inglês Robert Hooke (1635- 1702). Ele ficou conhecido também como um excelente microscopista e mostrou como o mi- croscópio podia ser útil aos naturalistas. Nesse ano de 1665, Hooke publicou uma obra intitulada Micrographia. Nela, o físico inglês descreveu as unidades microscópicas que formam uma fa- tia de cortiça e chamou essas unidades de células. O que Hooke Celulas em close biologia e m1croscop1a e uma evidência da geração espontânea, doutrina segundo a qual a vida pode surgir da matéria inanimada. Deveria, então, existir uma continuidade entre a matéria não viva e a viva, pois a natureza não dá saltos. Contudo, os experimentos do naturalista italiano Lazzaro Spallanzani ( 1729-1799) mostraram que organismos se originam de outros organismos. Devemos, assim, considerar que existe uma descontinuidade entre a matéria inanimada e a vida. Um século depois, a noção de geração espontânea foi novamente refutada pe- los experimentos do microbiologista francês Louis Pasteur (MAZZARELLO, 1999). Mesmo assim, ainda houve pesquisado- res, como o escocês Charlton Bastian, que não se mostravam con- vencidos e seguiram se dedicando a esse tema (CARVELHO; PRESTES, 2012). Assim , no iníc io do século XIX os pesquisadores estavam con- vencidos da ex istência de uma unidade fundamental da vida e bus- cavam encontrar qual era ela (MAZZARELLO, 1999). O francês Henri Milne-Edwards, em 1823, estudou diversos órgãos animais e humanos e observou "glóbulos" nas artérias, nas membranas do intestino e em células do cérebro. Ele sugeriu que a estrutura bási- ca dos tecidos dos animais era um conjunto de glóbulos. No entan- to, no ano seguinte dois pesquisadores mostraram que ao menos uma parte dos glóbulos observados ao microscópio por outros não passavam de artefatos. Além disso, Milne-Edwards acreditava que esses glóbulos tinham o mesmo tamanho em todos os tecidos, o que tornava suas observações questionáveis (TA$KA YA, 201 3). Nessa mesma época, outro francês, Henri DutTOchet ( 1776- -184 7), propôs que as células, que deviam ser semelhantes em plantas e animais, eram não somente as unidades estruturais, mas também a unidade fisiológica do organismo (HARRJS, 1999). Para Dutrochet, a diferença entre os corpos inorgânicos e os orgâ- nicos estava na natureza destes, vesicular: são sacos ou cavidades preenchidas por solução aquosa. Ele chegou a essa conclusão es- tudando os movimentos da água e de solutos para dentro e para fora das células. Mas, ao contrário de Theodor Schwann, Dutro- chet não disse ter visualizado a membrana. Dutrochet, bem como seu contemporâneo François Raspai) ( 1794-1878), também defenderam que novas células só podem se originar de outras células. Raspai! foi o primeiro a dizer " toda célula é derivada de outra célula", a pa11ir das conclusões tiradas Células em close: biologia e microscopia e Somente nos anos de 1838 e 1839 é que a teoria celular foi oficialmente formulada. O botânico Matthias Jakob Schleiden ( 1804-1881) concluiu, em 1838, que a estrutura das plantas é composta de células e produtos das células. o ano seguinte, o zoólogo Theodor Schwann ( 1810-1882) chegou à mesma conclusão. Mas Schleiden achava que a geração das células começava com a formação de um núcleo de cristalização dentro da substân- cia intracelular (citoplasto). Esse material condensado aumentaria progressivamente para formar urna nova célula. No entanto, nos anos 1850, os trabalhos de Robert Rernak ( 1815-1865), Albert Kõlliker ( 18 17-1 905) e Rudolf Virchow ( 1821-1902) mostraram definitivamente que células são formadas pela divisão de células preexistentes (MAZZARELLO, 1999).Os constituintes básicos da célula seriam uma parede ou uma membrana, uma substância viscosa (protoplasma ou cito- plasma) e o núcleo. Com o tempo, os biólogos descobriram que o c itoplasma não é uma solução aquosa homogênea. Corantes passaram a ser usados no estudo das células . Em 1870, foi in- troduzida a lente de imersão a óleo. A técnica de corte com micrótomo foi desenvolvida, e novos métodos de fixação fo- ram criados. Com todo esse desenvolvimento, no final do século XIX diver- sas organelas celulares tinham sido identificadas. O retículo endo- plasmático foi descoberto em 1897 e as mitocôndrias e o complexo golgicnsc em 1898. Observando a divisão celular, Walther Flem- ming ( 1843-1905) descobriu a "cromatina". Flemming descreveu e batizou a mitose. Ele observou ainda, em células de salamandras, a segregação dos cromossomos, com cada cromátide migrando para um polo oposto do núcleo, durante essa divisão. Quando tal processo foi descrito também em plantas, estavam assentadas as bases para a compreensão das unidades que compõem tudo que é vivo na Terra. No entanto, com todo o conhecimento acumulado desde então sobre essas unidades da vida, uma pergunta muito importante per- manece sem resposta: como surgiu a primeira célula? Célul.is em close: biologia e m1croscop1a e Figura 1.1 Todos os organismos vivos são feitos de células. Uma colônia de bactérias, uma borboleta, uma rosa e um golfinho têm células como suas unidades de estrutura e funcionamento. Todas usam basicamente as mesmas reações químicas para sobreviver, crescer e se reproduzir e operam de acordo com os mesmos princípios gerais. Fonre: Knorre/Balazs Kovacs lmages/Prezoom.nl/Willyam Bradberry/Shutterstock. Células só podem ser geradas pela divisão de outras células, herdando assim suas características. Isso faz com que, na biologia, as questões sobre o presente sempre estejam ligadas a questões sobre o passado. O conhecimento atual sobre a forma como as células funcionam revela uma parte da história da vida na Terra, levando-nos a pensar em como e quando surgiram as primeiras células vivas no planeta. A diversidade celular Todas as células existentes hoje evoluíram de uma célula ancestral que surgiu entre 3,5 e 3,8 bilhões de anos atnís, mas têm tamanhos, fonnas e funções variadas. Vamos começar pelo tamanho. Células de bactérias medem alguns micrômetros: são aproximadamente 25 ve- zes menores que a espessura de wn fio de cabelo. Já um ovo de rã, que também é uma única célula, tem aproximadamente 1 milímetro. Observe a Figura 1.2. Nela você vê diversos tipos de células com diferentes tamanhos, compare-as você mesmo. Celulas em close: biologia e m1croscop1a E curtas, chamadas dendritos, que lembram os galhos de uma árvo- re. O "corpo" da célula parece pequeno quando comparado à ex- tensão do axônio. Assim, o neurônio lembra uma árvore; já o paramécio (Para- meci11111) lembra uma escova, com a célula coberta por cílios que batem de fonna sinuosa e fazem a célula gigante se mexer. Uma célula vegetal em uma camada da superficie da planta é como um prisma imóvel protegido por uma caixa de celulose. A bactéria Bdel/ovibrio parece um minúsculo torpedo de sals i- cha, com seu flagelo que bate fazendo que se movimente. O neu- trófilo, por sua vez, é uma célula que migra através dos tecidos e muda de forma constantemente ao fagocitar restos metabólicos, organ ismos invasores e células mortas ou agonizantes. Considerando apenas as bactérias, também encontramos diversi- dade não somente de tamanho como também de fonna. Na fif,rura 1.3, vemos três fonnas da mesma célula (ALBERTS et ai. , 2010). Figura 1.3 Bactérias em formas típicas: esfera (cocos). bastão (bacilos) e espiral (espiroquetas). Todas estão desenhadas em escala. As células em espiral são as que causam a sífilis, uma doença venérea. Cocos Screpcococcus pneumonioe Scaphylococcus Sarcina aureus ventriculi Fonte: Designua/Shuuerstock. Função Bacilos Outros ____..,,---~ Solmonello typhi ~ Closcridium botulinum Vib110 choleroe Helicobocrer pylori Treponema pallidum Em organismos unicelulares, suas células únicas têm de desem- penhar todas as tarefas necessárias à sobrevivência e à reprodução. A seguir, na Figura 1.4, vemos uma amostra da diversidade de célu- las de protozoários. e l'iulJ> 1:111 clo:.1 l 1olog1a e m1croscop1a E Nos organismos pluricelulares, as células desempenham fun- ções específicas. É como se existisse uma divisão de trabalho en- tre elas. Algumas se especializam tanto que se tornam incapazes de se reproduzir e dependem de outras células para atender a suas necessidades básicas. É o caso dos neurônios. Mas, por outro lado, existem as que são especializadas na reprodução do organismo - chamadas de células gcrminat ivas - e formam óvulos e esperma- tozoides (ALBERTS ct ai., 2010). Metabolismo As atividades e os requerimentos químicos para o metabolis- mo das células também variam. Há células que dependem de oxi- gênio para viver. Para outras, esse gás é mortal. Algumas, como as de bactérias cianofíceas e plantas, são capazes ele fabricar o pró- prio alimento (sintetizam glicose) usando gás carbônico, água e os raios de sol. Outras dependem de moléculas produzidas por outras células. Existem, ainda, as que são verdadeiras fábr icas especiali- zadas na produção de substâncias como hormônios, amido, gordu- ra, pigmentos. Podemos ver as células musculares, por sua vez, como moto- res que queimam combust ível para realizar trabalho mecân ico. No coração, por exemplo, encontramos as células marca-passos, ca- pazes de gerar os impulsos elétricos que fazem o coração periodi- camente se contrair. Na enguia, células musculares modificadas agem como geradores de eletricidade (ALBERTS ct ai., 201 O). Componentes básicos das células Células são "pequenas unidades delimitadas por membranas e preenchidas por uma solução aquosa concentrada de subst<incias químicas, dotadas da extraordinária capacidade de criar cópias de si mesmas crescendo e se dividindo em duas" (ALBERTS et ai., 20 10, p. 1). Mesmo com toda a diversidade que vimos em termos de tama- nho, forma e função, todas as células têm os mesmos componen- tes básicos. Essas estruturas, chamadas organoides, são fo rmadas por moléculas que part ic ipam cios mesmos tipos de reações quími - cas cm todos os organismos conhecidos. Todas as células têm uma membrana plasmática que separa seu interior do ambiente circundante. Essa membrana individualiza as células e é uma condição para que elas existam como uma solução aquosa independente do meio circundante. Células em close: b1olog1a e microscopia E Os procariontes são os organismos mais simples que existem hoje, provavelmente os mais semelhantes à célula ancestral. Ape- sar de terem DNA como repositório da informação genética, eles não têm núcleo individualizado por um envoltório nuclear nem organelas ("compartimentos" que desempenham funções específi- cas). Assim, neles os cromossomos não são separados do citoplas- ma por membranas. No lugar do núcleo, há um nucleoide. O DNA é circular e não se associa a proteínas (histonas) nem se condensa formando cro- mossomos quando a célula se divide. Além dessa molécula de DNA, as células bacterianas podem ter plasmídeos no citoplasma. Seus ribossomos são livres. Não existe separação entre os proces- sos de duplicação do DNA, síntese de RNA (ou transcrição) e síntese de proteínas (tradução). Essas células também não contam com um envoltório extrace- lular, com uma cápsu la feita de proteínas ou uma parede construí- da com glicosaminoglicanos. Suas membranas plasmáticas têm grande quantidade de moléculas de lipopolissacarídeo (açúcar + gordura). São essas moléculas que protegem, por exemplo, as bac- térias que vivem em nosso intestino contra o ataque das enzimas hidrolíticas e dos sais biliares. O citoplasma dos procariotos também não é dividido em com- partimentosnos quais se executam funções especializadas. Não vamos encontrar nele tampouco um citoesqueleto. Essas células não são capazes de fazer endocitose nem exocitose (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2005). As moléculas da cadeia respiratória, respon- sáveis pela respiração celular, estão localizadas em uma invagina- ção da membrana chamada de mesossomas. Frequentemente partem da superficie das células procarióticas prolongamentos fi lamentosos: fimbrias e Aagelos. Os flagelos são estruturas rígidas, formadas por três espirais de flagelina polime- rizada e, na ponta, um gancho. Servem para a bactéria se aproxi- mar de nutrientes ou para se afastar de substâncias tóxicas. Já as fimbrias são mais curtas e mais finas que os flagelos e promovem a aderência das bactérias às células hospedeiras ou a transferência de DNA entre duas bactérias durante a conjugação. As células procarióticas são geralmente esféricas ou têm forma de bastonete. Essa configuração é mantida pela parede extracelu- lar, que é rígida e protege as bactérias das variações que ocorrem CéluJ,1s em close: biologia e m1Croscop1a E Nas células que as englobaram, as bactérias conseguiram não sofrer a digestão intracelular que geralmente ocorre quando uma substância ou bactéria é fagocitada, e algumas dessas bactérias eram fotossintéticas, e encontraram nutrientes e abrigo. As células, por sua vez, ganharam um suprimento extra de energia. Com o tempo e a evolução, as bactérias perderam parte de seus genes e se especia- lizaram na produção de energia para a célula. Outros de seus genes foram incorporados às receitas genéticas das células "hospedeiras". Os cloroplastos, organelas membranosas que contêm a clorofila e são responsáveis pela fotossíntese, teriam surgido de maneira pare- cida a partir de outro grupo de bactérias. As membranas celulares de células eucarióticas têm um reforço extracelular, que é composto por glicoproteínas, glicolipídios, pro- teoglicanas e glicosaminoglicanas (glicocálix) ou celulose e pectina (parede celular). Sua membrana plasmática é feita de fosfolipíd ios, glicolipídios, colesterol, glicoproteínas e proteogl icanas. São células que apresentam muitas membranas, as quais fo r- mam compartimentos que separam os processos metabólicos. Na Figura 1.6, vemos uma representação da célula eucariótica. Figura 1.6 Vemos as diversas organelas membranosas existentes; cada uma desempenha uma função ligada à sobrevivencía e à reprodução da célula. Reticulo ----~ endoplasmático liso Fone e: Snapgalleria/Shunerstock. Membrana } Nuclear Poro Nuclear Núcleo Nucléolos Complexo deGolgi Vacúolo Retículo endoplasmático rugoso Figura 1.8 Muitos componentes celulares sao produzidos no retículo endoplasmàuco. Neste esquema exemplos de células de animais. vegetais e bactérias. Fome: AnJs1a/Shull1?1Stock. Um conjunto de sacos achatados fechados por membranas forma o complexo de Golgi. Ele recebe e , com frequência, modifica as moléculas que o retículo endoplasmático produz. Veja na Figura 1.9 uma microfotografia da representação desse complexo. Figura 1.9 Complexo de Golgi. O complexo de Gol91 consme em pilhas de bolsas achatadas denominadas cisternas. Um lado do complexo de Golg1 fica voltado para o retículo endoplasmático; o outro lado fica voltado para a membrana plasma t1ca _ ... • Ot050I Fonre: Stanfield PO 14. p 38! Células em close: b1olog1a e m1croscop1a E No lugar disso, o núcleo seria um grande vírus de DNA que se tornou hospedeiro permanente de células procariotas. É uma ide ia ousada e controversa , mas uma evidência para essa hipótese esta- ria na semelhança e na proximidade evolutiva entre o gene da en- zima DNA polimerase do vírus bactcriófago T4 e os genes para essa enzima tanto em eucariotos quanto nos vírus que infectam eucariotos (VILLARREAL, 2004) . Vírus desafiam a definição e a classificação da vida Vimos que as células são as unidades fundamenta is da vida e, em parle, caracterizam-se pelo seu metabolismo, ou sej a, pelas ativida- des que ocorrem dentro delas para mantê-las vivas, fazê-las crescer e se reproduzir. Corno devemos então classificar os vírus, que têm pouco mais que um ácido nucleico (DNA ou RNA) protegido por uma capa de prote ína? Eles devem ser considerados vivos? Como as células são os " tijolos" básicos com os quais se constro- em os organismos, seres desprovidos de células não deveriam ser inc luídos na á rvore da vida, formada por seres unicelula res e plu- rice lulares. Essa árvore se divide cm três domínios: as cubactérias, o grupo mais antigo, cujas células são mais próximas da célula ancestral; as "arqueobactérias" (Archaea), microrganismos que são capazes de viver em ambientes extremamente quentes, ácidos ou frios; e os eucario tos (E11ka1J1a), que te riam di vergido das ar- qucobacté rias menos de 2 bilhões de anos atrás. Nessa á rvore não fo i reservado espaço para " parasitas ce lu- lares obrigatórios" (JUNQUE IRA; CARNEIRO, 2005). De fa to, os vírus parasitam todos os aspectos biomolcc ul ares ela vida: dependem da célula hospedeira pa ra conseguir a matéria- -prima e a energia necessári as para a fa bricação ele seu ácido nucle ico, a lém de a fa bri cação, o processamento e o transporte de suas prote ínas e qualquer a ti vidade necessária a sua proli fe- ração (VI LLARREA L, 2004). Os vírus são incapazes de se replicar sozinhos, mas podem fazer isso usando células vivas, que são profundamente afetadas por eles (V ILLARREAL, 2004). Se re tiram1os a ênfase do meta- bolismo próprio e a colocarmos na capacidade ele comandar a pró- pri a replicação, a distância entre os vírus e os organismos celula res fi ca menor. Priorizando o metabolismo, a distância aumenta. As- sim é que, desde que foram descobertos, os vírus têm sido coloca- dos do lado de lá ou ele cá ela fronte ira que separa a vida da matéria inerte. Vejamos um pouco dessa história . Células em close: biologia e microscopia E Mas, em 1935, Wendell M. Stanley e seus colegas, na institui- ção que hoje é a Universidade Rockefeller, em Nova York, conse- guiram pela primeira vez cristalizar o vírus do mosaico do tabaco. E viram que os vírus eram pacotes de moléculas complexas, mas desprovidas de sistemas essenciais para a manutenção das ativida- des metabólicas. Esse trabalho rendeu a Stanley, em 1946, o Prê- mio obel de Química. Pesquisas feitas por Stanley e outros verificaram que os vírus são compostos por ácidos nucleicos (DNA ou RNA) envolvidos em uma capa de proteína, que também pode conter proteínas virais ligadas à infecção das células hospedeiras. Descrito assim, um vírus parece mais um aparato químico que um organismo (VILLARREAL, 2004). Logo, porém, a balança voltou a pender para o lado dos vírus como seres vivos. Em 1944, Theodore Avery e colegas publica- ram a descoberta de que o DNA era o material genético. Em 1952, Alfrcd Hershey e Martha Chase mostraram que o ácido nucleico era o componente virai responsável pelas infecções. E, por fim, cm 1953, James Wàtson e Francis Crick anunciaram a elucidação da estrntura em dupla hélice do DNA e sugeriram a existência de um mecanismo elegante para ela se copiar. Foi fácil associar vírus, ácidos nucleicos e genes. Mas os vírus deixaram de ser vistos como os organismos mais primitivos para se tomarem uma metáfo ra, sendo encarados como "genes vivos" (LÓPEZ- -GARCIA, 2012). Com o tempo, as ideias de que os vírus estavam na origem da vida foram abandonadas. Avanços na bioquímica e na biologia molecular levaram à visão dos vírus como parasitas moleculares obrigatórios. Eles passaram a ser considerados entidades biológi- cas que, como os genes, podem evoluir, mas não podem se auto- copiar e sustentar. Além disso, a descoberta de que algumas moléculas de RNA têm atividade catalítica, ou seja, também podem funcionar como enzimas além de repositório de receitas genéticas, levou os pes- quisadores a pensar que uma molécula desse tipo estivessena ori- gem da vida (LÓPEZ-GARCIA, 20 12; WOESE, 2002). O RNA ribossômico é uma molécula central para a transfor- mação das receitas genéticas em proteínas e para a organização da célula; é func ionalmente constante e relativamente imune às mu- danças evolutivas. Sua sequência mudou de fonna relativamente lenta ao longo da evolução. Foi pela comparação de moléculas desse tipo de RNA que a árvore da vida separou-se em três ramos Celulas em c1o~e b1oloo•a e m1croscop.;:; E O Mimivirus apresenta a fomia esquematizada na Figura 1.1 O, a seguir. Fonre: bs1p/Geuy lrnagcs Em 2014, os biólogos evolucionistas franceses Jcan-Michcl Claverie e Chantal Abcrgcl, da Universidade de Aix-Marseille, França, anunciaram a descoberta na Sibéria ele um vírus de 1,5 ~1111 ele comprimento, maior até mesmo que algumas bactérias. O Pit/Jovirus siberic11111 estava congelado na camada de per111c!fros1 fazia 30 mil anos, mas, ao ser descongelado, foi capaz de infec- tar suas hospedeiras (amebas). Saiba mais Segundo o portal Brasil Escola. permafrosc (do inglês perm: permanente + frosr: congelado). cuja traduçao ao português se d~ com a palavra pergelisso· lo. é um tipo de solo congelado formado na regiao do Ártico. ~ constituído por terra, gelo e rochas que ficam permanentemente congelados. Existiram vírus celulares. Será que devemos continuar tomando os vírus corno parasitas celulares obrigatórios? Eles não seriam mais que isso? Para alguns pesquisadores, todos os vírus ou algu- mas familias de vírus representam o quarto domínio da vida. Os vírus seriam "organismos que codificam capsidcos", diferentes das células, organismos que codificam ribossomos. Células em dose: b1olog1a e microscop1a E A parte mecânica é o corpo do microscópio. A forma de seus componentes pode variar; existem diversos modelos desse equipa- mento, cada um com design próprio (TABOGA; VlLAMAIOR, 2007). Mas todos têm os mesmos componentes básicos. Na extre- midade inferior, há uma base (também chamada de pé) que serve para apoiar toda a sua estrutura na mesa ou na bancada onde será usado. Essa base precisa ser suficientemente grande e pesada para garantir que o microscópio fique equilibrado. Ela evita vibrações e sustenta todas as partes (mecânicas e ópticas) do equipamento (RANDI; DAVIDSON, 2012; HÕFLING; GONÇALVES, 2008). Na parte de c ima, o microscópio tem um tubo metálico, o "ca- nhão''. Nele vamos encontrar as lentes que formam a ocular. Pode- mos mover a mesa (também chamada platina) para cima e para baixo usando os parafusos de foco: o parafuso macrométrico e o parafuso micrométrico. O macrométrico faz a mesa deslizar uma grande amplitude e rapidamente. Quando queremos um ajuste mais fino, temos de usar o parafuso micrométrico (RAN DJ; DAVIDSON, 2012; HÕFLING; GONÇALVES, 2008). A seguir os componentes de um microscópio. P latina - plataforma na qual são colocadas as preparações a serem observadas. Tem no centro uma abertura - janela da pla- tina - destinada à passagem dos raios luminosos. A preparação é fixada por duas molas ou pinças. Revólver - suporte de objetivas, fixado à extremidade inferior do tubo, que serve para facilitar a substituição de uma objetiva por outra, colocando-as por rotação em posição de observação. Tubo ou canhão - suporte cilíndrico da ocular. Parafuso macrométrico ou das grandes deslocações - per- mite movimentos de grande amplitude, rápidos, por desloca- ção vertica l da platina. Parafuso micrométrico ou de focagem lenta - permite mo- vimentos lentos da deslocação da platina para focagens mais precisas. Vamos calibrando nossos movimentos à medida que aprende- mos a usar o microscópio e nos familia rizamos com o aumento dos objetos que proporciona. Na parte de baixo do tubo você encontra as objetivas, rosquea- das no "revólver" - outro dispositivo que é móvel. Com ele, podemos trocar as objetivas. Entre a base e o canhão, encontra- mos a "mesa" ou "platina" do microscópio. Nessa plataforma Ao ligar o microscópio, a luz parte da fonte, é direcionada pela lente condensadora, atravessa o material e as objetivas e então passa pela ocula r. Lembre-se de que a iluminação parle de baixo para cima. Ao chegar ao material em análise, a luz pode sofrer absorção ou refração, produzindo contrastes entre o objeto e o meio onde e le cstú. As lentes oculares têm como função principal ampliar a imagem produzida pela lente objetiva, projetando essa imagem a uma distância de 25 cm do observador. Essa é a distância rninima de visão distinta de nosso olho. Conseguimos ver como distintas, em uma distância pa- dr'Jo de 25 cm (distâ11cia 111í11i1110 de vis<io disti111a), linhas claras e es- curas separadas por 0,2 mm (FA RINA, 201 O, p. 9). O máximo de aumento que vamos conseguir usando o microscó- pio de luz é de aproximadamente 1.000 vezes e uma resolução de 0,2 micrômetros. Compare esse valor com a resolução do olho humano, que é de 0,2 milímetros. Com o microscópio eletrônico, temos uma resolução melhor que 0,2 nanômetros e um aumento de mais de um milhão de vezes, 1.000 vezes mais que o do microscópio óptico. Essa diferença se deve ao comprimento de onda do elétron, que é muitas ordens de grandeza menor que o da luz (FARINA, 20 1 O, p. 1 O). Como nosso objetivo é obter boas imagens, precisamos centra- lizar o fe ixe de luz. Essa centralização é chamada de iluminação de Kõhler, e diminui a ocorrência de aberrações e irregularidades no caminho da luz (TA BOGA; VlLAMAIOR, 2007). Vamos ver agora que existem microscópios de luz especia is. Neles, filtros e sistemas de lentes selecionam algum tipo de luz e são posicionados para aumentar o contraste nas imagens, que de- vem ser interpretadas de acordo com as técnicas usadas. Vamos conhecer então quatro tipos de microscopia especial: a microscopia de polarização, a microscopia de contraste de fase, a microscopia de fluorescência e a microscopia confocal. Microscopia de polarização As ondas de luz solar ou da luz de uma lâmpada elétrica comum vibram em todos os planos. Um filtro, chamado de polarizador, pode selecionar um único plano de vibração para a luz, que passa a ser uma luz polarizada. No microscópio de polarização, esse filtro fica entre a fonte de luz e o condensador, na snída do campo luminoso, ou no plano focal anterior do condensador (RANDI; DAVIDSON, 20 12). Os componentes ópticos do microscópio devem ser feitos Link As prestigiosas revistas NarureCell Biology. Nature Methods e Nature RMews Molecular Cell Biology reuniram no site a seguir marcos da história da microscopia de luz. Uma linha do tempo com 21 itens é organizada a partir da própria invenção dos Janssen em t 595 e vai até o microscópio de depleção estimulada da emissão (STED, acrónimo em inglês), que não é afetado pelo limite imposto pela difração da luz. calculado por Ernst Abbe no século XIX. <www.nature.com/ milestones/milelight/ index.html>. Células em close· biologia e microscopia E fenômeno conhecido como retardo óptico (RANDI; DAVIDSON, 201 2). Essa diferença de velocidade entre os raios também é impor- tante para a formação da imagem que conseguimos com o micros- cópio de polarização. A microscopia de polarização nos permite usar corantes para intensificar a birrefringência dos materia is. O colágeno, por exem- plo, é uma molécula birrefringente que mostra um brilho caracte- rístico quando observada por esse equipamento. Mas podemos intensificar sua birrefringência antes da observação faze ndo oco- lágcno reagir com os corantes )(y /idine Poncea11 ou Picrosiri11s. Depois de corada, a molécula chega a mostrar cores de interferên- c ia, as quais ajudam a inte rpretar os graus de agregação e organi- zação das moléculas no tecido em que se encontram (TABORGA; VILAM AIOR, 2007). O azul de toluidina é outro corante usado para aumentar a birrefringência em estudos sobre o arranjo e o grau de agregação molecular dacromatina e da matriz extracelular (TABORGA; VILAMAIOR, 2007). Em alguns de seus arranjos possíveis, as moléculas de DNA, celulose ou colágeno, por exemplo, são anisotrópicas. Também podemos observar pelo microscópio de polarização a maneira como mudanças no ambiente fisico (na temperatura ou na acidez do meio, por exemplo) a lteram esses arranjos das moléculas ou de las com outras moléculas (RANDI ; DAVIDSON, 20 12). Pode- mos então dize r que usamos esse tipo de microscopia para conhe- cer o arranjo molecular de estruturas biológicas . Agora vamos ver como funciona a microscopia de contraste. Microscopia de contraste Materiais biológicos vivos, quando observados no microscópio convencional, mostram pouca variação na absorção da luz. Se as ondas luminosas chegam à ocular da maneira como saem do objeto transparente, e las terão brilho uniforme e não poderão revelar aspec- tos da estrutura do objeto. A imagem do objeto não é completamente invisível: fechando a abertura do sistema ou desfocando a objetiva, melhoramos um pouco sua visua lização (OLDFIELD, 200 1). Para conseguir boas imagens de mate ri a l vivo, temos de usar a lguns " truques". Uma maneira de faze r isso é provocando mu- danças de fase ou absorção d ife rencia l entre as ondas de luz que atr avessam ou refletem o materia l em observação. Essa técnica é usada na microscopia de contraste. Células em close· b1clo91a e microscopia E do seu gradiente óptico. As ondas podem ser adiantadas ou atrasa- das ou, ainda, mudar de caminho, de forma independente uma da outra. Qualquer diferença de índice de refração ou de topografia provocará uma diferença de fase, a qual, no analisador, será trans- formada em contraste preto e branco, se a luz for monocromática, ou em diferenças de cores, se a luz for branca (MANNHEIMER, 2002). Depois, a luz entra na objetiva. No plano foca l posterior dessa lente, as frentes de onda atravessam outro prisma. Nesse momen- to, elas são recombinadas e podem não ter mais as características que tinham ao ser divididas. Podem ter mudado de comprimento de onda ou de fase. Para que possam causar interferência, essas frentes de onda têm de ser colocadas no mesmo plano de vibração. Isso acontece quando passam pelo ana lisador, colocado depois do segundo prisma (RANDI; DAV IDSON, 2012) . Sendo assim, no momento em que a imagem inte rmediária se forma no diafragma da ocular, a interferência vai se manifes- tar como diferenças de intens idade ou cores em pequenos deta- lhes na imagem. Se não existir diferença entre os caminhos das duas frentes de onda, ocorrerá extinção, ou seja, escuridão. Ha- vendo diferença de traje tória, a imagem vai brilhar e até mostrar cores. Daí é que a técnica tira seu nome. Ela só mostra gradien- tes ópticos ou diferenças no cam inho da luz nos espécimes rela- c ionados com diferenças de espessura ou de índices de refração (OLDFlELD, 200 l ). Um lado do detalhe vai se mostrar mais claro e o outro, mais escuro. Esse efeito de sombra faz a imagem parecer tridimens ional sem ser; então, a imagem formada na verdade é pseudotridimensio- nal. O pseudorre lcvo aparente é somente um efeito das diferenças de espessura óptica no objeto, pois, cm quase todos os casos, não indica nenhum perfil topográfico do espécime. Temos de levar isso em consideração no momento de interpretar as imagens. Esse microscópio não requer objetivas especiais, mas o revól- ver deve conter ranhuras para alojar os prismas de interferência, os quais promovem a visualização do material. O condensador, por sua vez, tem de ser em carrossel para que os prismas possam ser !Tocados. Cada objetiva tem uma abertura numérica diferente e, devido a isso, um limite de resolução próprio, por isso também requer seu próprio prisma (TABOGA; VILAMAIOR, 2007; OLDF!ELD, 2001 ). Celulas em close· boologoa e 1111croscop1a E para a melhor combinação de resolução, contraste e profundidade de campo; na otimização de deslocamento do prisma combinador; e na conferêncía da oríentaçào espacial do espécime para a obtenção dos cfeítos de contraste desejados (OLDFIELD, 2001 ). ão precisamos corar os materiais biológicos para observá-los com essa técníca, usada para monitorar culturas celulares, por exem- plo, ou ínspecionar tecidos. A microscopia DIC também é usada para estudar a morfologia e a taxonomia de pequenas larvas, ácaros e ou- tros ectoparasitas microscópicos (ARNlSON ct ai., 2004). Em segui- da, vamos conhecer outra técnica de microscopia que cria contraste. Microscopia de contraste de modulação de Hoffman Como na microscopia DIC, o contrasrc de modulação de Hoffinan é feíto para transfomiar gradientes ópticos em diferenças de íntensi- dade lumínosa. Mas essa transfonnação acontece de outra fonna. É uma técnica que se baseia no princípio de iluminação oblíqua do ob- jeto. Robert Hoffman a desenvolveu em 1975 e a patenteou cm 1978 (RANDI; DAVIDSON, 20 12). Veja a Figura 1.1 2, a seguir. Figura 1.12 M1croscóp10 de modulaçao. Fonte; adap:ada de Rando e Da11 dson !2012, p. 15 7) Lamina Placa com fenda Células em close biologia e m1croscop1a E também podem ser observados. Por isso, essa técnica serve para a observação de células cult ivadas em frascos plásticos. Na microscopia DIC, conforme vimos, esse tipo de materia l não pode ser ana lisado. Mas o uso da microscopia de Hoffman também tem suas des- vantagens. Precisamos ter um cuidado especia l ao interpretar as imagens geradas por ela, por serem pscudotridimensionais. Para obter bons resultados, a inda é necessário cuidado no posiciona- mento do objeto, porque esse sistema é mais sensível a gradientes ópticos perpendiculares ao comprimento da fenda. Outra desvan- tagem é que funciona bem para objetos espessos, mas não para observar células achatadas ou prolongamentos celulares muito fi- nos, como os dentritos dos neurônios, ou prolongamento do corpo neural estendido, chamado axônio. Microscopia de fluorescência Esse tipo de microscopia tornou-se a ferramenta padrão em biologia celular para a obtenção de imagens 3D de células intac- tas, com destaque para a microscopia de fluorescência confocal (RANDI; DAVIDSON, 2012; EGNER; HELL, 2005). Com ela, conseguimos aumentar o contraste nas imagens que visualizamos das células sem fazer cortes nem fixação do material. É o único modo de microscopia de luz em que a imagem é formada por emissão de luz (RANDI; DAVIDSON, 2012). A microscopia de fluorescência baseia-se em uma propriedade fís ica de a lgumas moléculas: e las absorvem a luz em um determi- nado comprimento de onda e em item luz com comprimento de onda maior e nível energético mais baixo que o da luz absorvida. Os elétrons que ficam nas camadas energéticas mais externas des- sas moléculas são excitados quando a molécula absorve determi- nados comprimentos de onda. Excitados, esses e létrons passam para camadas de níveis ener- géticos mais altas. Depois, quando passa a excitação, eles retor- nam à camada de energia na qual estavam. Nesse momento, emitem luz. Como parte da energia vira calor, a luz que os e létrons emitem em seu retorno tem menos energia e, consequentemente, comprimento ele onda mais longo que o da luz absorvida (RANDI; DAVIDSON, 2012). Devido a essa propriedade, uma estrutura fluorescente brilha quando é colocada contra um fundo escuro. Quanto mais escuro Células em cio , L olcq1 l e m1croscop 'l E Entre esses dois filtros, vamos encontrar um espelho dicro- mático (ou espelho dicroíco). Esse espelho fica posicionado cm um ângulo de 45º no tubo do microscópio. Ele é feito de cama- das muito finas de filtros de interferência, e geralmente reflete comprimentos de onda mais curtos e transmite os comprimentos de onda mais longos. Isso s ignifica que o espelho, nesse s istema, é res ponsável pe lo desvio da luz que saí da fonte de iluminação na direção das lentes objetivas e , ao mesmo tempo, pela trans-missão da luz emitídn pelo composto fluorescente. Essa luz en- tão atinge o filtro de barragem e, depois, os olhos do observador ou o sensor de urna câmera. Os filtros de excitação e de barragem, juntamente com o es- pelho dicromático. formam um cubo. O cubo de um microscópio de fluorescência pode, por exemplo, conter um filtro de excita- ção que permite a passagem de comprimentos de onda (À) entre 51 O nm e 560 nm, um filtro de emissão que deixa passar somente À maiores que 590 nm, e um espelho que reflete a luz entre À = 490 nm e À = 565 nm, transmitindo os comprimentos de onda restantes (RANDI; DAVIDSON, 2012). Precisamos dos cubos com filtros e espelhos nesse equipamen- to porque usamos fontes de iluminação com brilho intenso, como lâmpadas de arco de mercúrio ou xenônio. Mas a emissão de fluo- rescência pode ser a té 106 vezes menos intensa, e o microscópio tem de ser capaz de detectá-la. Também é necessário eliminar a luz refletida pela superf1eic do material, pela lâmina e pela lamí- nula. Essa luz não pode chegar ao sistema de detecção da fluores- cência; e la deve ser bloqueada. Além disso, o espelho dicromático não re fl ete 100% da luz que passa pelo filtro de excitação. Uma pequena porcentagem dos com- primentos de onda selecionados pode ser transmitida através does- pelho, refle tindo e difratando nas superfici cs do revestimento do cubo e atingindo o caminho óptico de emissão de fluorescência, dai a necessidade do filtro de barragem. Na saída da fonte de luz, em geral há filtros de densidade neutros, que podem ser colocados no caminho óptico para diminuir a intensidade do brilho e, portanto, a incidência de luz sobre o objeto (RANDI ; DAVIDSON, 20 12). Os microscópios de fluorescência costumam ser construidos para trabalhar com uma fonte que emite luz acima do revólver (epi-iluminação), mas abaixo da posição do tubo onde se forma a imagem inte rmediária (ou da lente do tubo, no caso de óptica Células em close: biologia e m1croscop1a E Um fluorocromo muito conhecido é o laranja de acridina, que se liga aos ácidos nucleicos. No DNA, esse composto promove uma fluorescência amarelo-esverdeada; o RNA fica avermelha- do. A eosina pode ser usada para aumentar a fluorescência natu- ral da e lastina. A microscopia de fluorescência nos dá a possibilidade de quanti- ficar os componentes que observamos. Essas informações quan- titativas podem ajudar tanto na compreensão do funcionamento normal das células quanto na detecção e na investigação de pro- blemas de saúde. "Outra aplicação da microscopia de fluo- rescência, que não pode ser negligenciada, é a de anticorpos a tluorocromos e a utilização desses na imunocitoquímica e nos pro- cessos de hibridização i11 situ fluorescente (FISH)" (TABOGA; Vl LAMAIOR, 2007). Para podermos usar um só aparelho na visual ização de compo- nentes celulares ligados a diversos ftuoróforos, os microscópios de fluorescência costumam ser equipados com diferentes cubos, cada um contendo um conjunto específico de fi ltros e espelho. Microscopia confocal O microscópio confocal foi concebido nos anos 1950 por Marvin Minsky para conseguir imagens de eventos biológicos que só ocor- rem em sistemas vivos. Ele queria observar redes neurais em prepa- rações não coradas de tecido cerebral. Em 1957, Minsh.ry patenteou o conceito. Cerca de 1 O anos depois, M. David Egger e Mojmir Petran desenvolveram um microscópio confocal de múltiplos feixes e disco giratório, mas as pesquisas com esse equipamento não pararam por aí (GRÕTZNER, 2012; WRJGHT; WRJGHT, 2002). No começo dos anos l 970, Paul Davidovits e M. David Eggcr, na Universidade Yale, construíram o primeiro microscópio confo- cal a laser mecanicamente varrido (escaneado - sca1111er). Em 1973, foram publicadas as primeiras fotomicrografias reconhecí- veis de células feitas com o novo equipamento. No final da déca- da, avanços tecnológicos em diversas áreas (computação, laser e softwares para produzir imagens digitais) foram usados para de- senvolver ainda mais os microscópios confocais em laboratórios de ponta no mundo. E no final dos anos 1980, esse equipamento passou a ser vendido (WRIGHT; WRJGHT, 2002). Nos anos 1990, outros avanços tecnológicos nas áreas das mi- croscopias óptica e e letrônica foram usados para melhorar o Celulas em e 05l bu lo Ji<l e> micros opia E Um feixe de luz de frequência única (laser ou fonte de excita- ção) atravessa a abertura do pinho/e que fica cm um plano confo- cal com o ponto onde o espécime é varrido e com uma segunda abertura, outro pinho/e, que fica na frente do detector do tubo mul- tiplicador (G RÕTZNER, 20 12). O laser é refletido por um espelho dicromático (ou dicroi- co) e varrido através do espécime cm um plano focal definido. Isso faz com que a fluorescência secund{1ria que é emitida de pontos do espécime, todos no mesmo plano foca l, volte e pas- se at ravés do mesmo espel ho dicromático. Então ela é focali- zada como um ponto confocal no detector ela abertura do pinho/e (GRÕTZNER, 20 12). Como o feixe ele iluminação diverge acima e abaixo do plano focal do espécime. as áreas que estão fora desse plano são menos iluminadas, diminuindo a quantidade de informação que parte de- las. Tanto a iluminação quanto os sistemas de detecção são foca- dos na mesma área cio espécime (WRIGHT; WR IGHT, 2002). A iluminação do espécime é feita por varredura, usando um cone de laser muito pequeno como fonte de luz para escanear o material. Esse cone de iluminação chega a ter apenas 0,25 µm ou 250 nm de diâmetro e 0,5 µm ou 500 nm de profundidade cm sua máxima intensidade de brilho. Isso depende cio design do micros- cópio, do comprimento de onda ele luz, das lentes objetivas e de características elas próprias amostras observadas (WRJGHT; WRIGHT, 2002). Outra característica importante ela iluminação na microscopia confocal é que e la é sequencial, e não simultânea. O espécime é escancado (varrido) pelo cone de iluminação ponto a ponto - um ponto por vez. Como a iluminação, o detector e o espécime ficam no mesmo foco, eles são considerados confocais (WRlGHT; WRlGHT, 2002). Isso faz com que as imagens geradas por esse tipo de microscópio tenham grande contraste e resolução. Uma grande quantidade de fluorescência é emitida em pontos acima e aba ixo do plano focal da objetiva, mas essa fluorescên- c ia não é confocal com o pinho/e. Como apenas uma pequena fração da emissão de fluorescência que fica fora de foco é emiti- da de volta através da abertura do pinho/e, a maior parte dessa luz não é detectada pelo tubo fotomultiplicador e, consequente- mente. não participa da imagem resultante. Células em closc b1olog1n em croscop a E Uma vantagem da microscopia confocal é que nela podemos usar amostras preparadas para a microscopia de fluorescência con- vencional, sabendo que vamos chegar a melhores resultados. Com ela, é possível obter imagens de espécimes fixados e de células ou tecidos vivos. Apesar de sua excelente resolução, o microscópio ele- trônico só pode ser usado para analisar materiais que são cortados e fixados, ou seja, não pode ser usado na observação de células ou tecidos vivos (GRÔTZNER, 20 12; WRlGHT; WR IGHT, 2002). Por exemplo, a microscopia confocal, juntamente com fluo- róforos como a diclorodihidroftuorcsccína e a lucigenina, tem sido usada em estudos do papel de espécies reativas de oxigê- nio ("radicais li vres") no metabolismo de células animais e ve- getais (ZHANG; GUTTERMAN, 2007; FOREMAN et ai., 2003). Com essa técnica, esses processos podem ser estudados i11 vivo, de modo não invasivo. Usando imagens cm série obtidas cm sequência de diferentes planos de uma amostra, podemos construir imagens tridimensio- nais e observar essas imagens tridimensionais cm movimento. Esse método de microscopia tem, portanto, muitas aplicações em biologia celular, e tem sido cada vez mais usado pelos pesquisado- res (GRÕTZNER, 2012). Umagrande contribuição dos microscópios de fluorescência é proporcionar imagens tridimensionais (30) e altamente específicas de estruturas cm uma escala abaixo do mícron (cm nanômctros) em células vivas. O desenvolvimento de proteínas fluorescentes e de diversos outrns marcadores fluorescentes facilitou e acelerou a ado- ção dessa forma de microscopia, que se tornou a ferramenta mais usada para obter imagens das células. Suas variantes confocal e multifotônica, particulannente, se destacam pela capacidade de for- necer rapidamente imagens tridimensionais (EGNER; HELL, 2005). Vejamos cm seguida, em linhas gerais, como funcionam os microscópio eletrônicos. Descrição dos princípios básicos de microscopia eletrônica A invenção do microscópio eletrônico é considerada uma das mais significativas do século XX. Tanto é que seu inventor, Ernst Ruska, dividiu, cm 1986, o Prêmio Nobel de Física com os inventores do microscópio de varredura por tunclamento, Gerd Células em close: b1olog1a e microscopia E A microscopia e letrônica é a técnica que combina métodos sen- s íve is para detectar prote ínas com informações detalhadas sobre os compartimentos intracelulares. Por isso, é peça-chave na definição de padrões de distribuição intracelulares de proteínas, por exem- plo. O uso da microscopia eletrônica cm biologia celular é muito difundido e deve se desenvolver ainda mais (CHATTERJEE et ai. , 20 12; KOSTER; KLUMPERMAN, 2003). Novos métodos para estudar a identidade em estrutura fina dos compartimentos intracelulares envolvidos por membranas vêm surgindo. Os métodos para localizar moléculas de interesse nesses compartimentos também têm se ampliado e aperfeiçoado. E, ain- da, vêm se desenvolvendo técnicas que acrescentam uma dimensão extra às imagens do microscópio eletrônico: a tomografia e letrôni- ca (TE) para imagens tridimensionais, e a microscopia correlativa, que integra a obtenção de imagens em células vivas com a micros- copia eletrônica (KOSTER; KLUMPERMAN , 2003). Como outros microscópios, o e letrônico precisa de urna fonte emissora das ondas que vão interagir com o mate rial a ser anali- sado. Essas fontes são chamadas de ondas de matéri a, porque emitem e létrons (partículas elementares que têm massa e carga e létrica), e não luz. Uma corrente elétrica passa por um filamento de tungstênio, que é dobrado cm fomia de V e é aquecido até ficar com uma tempera- tura de 2700 K (ºCclsius = k - 273, 15). Quando o filamento atinge essa temperatura, os átomos que estão ligados a ele de fo rma mais fraca emitem elétrons. Esses elétrons são acelerados e viajam em d ircção a uma placa, o a nodo, que tem um ori li cio no meio. Para que todos os elétrons emitidos sejam aproveitados, uma capa protetora, chamada 1Ve/111elt, fica entre o filamento e o anodo. Essa capa protetora evita que os elétrons se choquem corn o ano- do. Ela é polarizada com carga negativa, e, por isso, repele os elétrons da borda do seu orificio. Como resultado, os elétrons são desviados e c ruzam s uas trajetórias em um ponto intermediário entre o 1Ve/111elt e o anodo. Assim se forma uma concentração de e lé trons em um a re- g ião muito próxima, com diâmetro d 0 , que se torna uma fonte pontual para o s istema ópt ico do microscópio e le trôni co . Par- tindo desse ponto, o feixe diverge e é ace lerado em direção ao anodo. Esses e létrons são submetidos a voltagens da ordem de (élul.is em close: b101091a e , -ro1cop1a E Um fe ixe que passa pelo centro da lente não percebe um cam- po magnético sígni ficativo e não sofre desvio. Desse modo, fei- xes de elétrons que partem oriundos do mesmo ponto se reencontram cm uma região dístante da lente magnética. O cru- zamento do feixe que crnza o eixo óptico no foco com o feixe que passa pelo centro da lente define, por sua vez, a localização do plano ímagem (MATTOSO FILHO; CEZAR, 2012). Exístcm três modalidades princípais de microscopia clctrôní- ca: a microscopia eletrônica de transmíssão (MET), a microscopía eletrônica de varredura (M EV) e a microscopia eletrônica de transmissão e varredura (METV). Vamos ver aqui, a seguir, como funcionam as duas primeiras modalidades. Microscópio eletrônico de transmissão O microscópio eletrônico de transmissão é uma coluna manti- da cm alto vácuo por uma série de bombas. Nela, vamos encontrar um canhão de elétrons, um sistema de lentes condensadoras, uma lente objetiva, lentes intermediárias e uma lente projetora. Nos modelos modernos, o canhão é a única lente eletrostática do apa- relho. A corrente necessária para as lentes funcionarem é forneci- da por um sistema de alta tensão com grande estabilidade elétrica; oscilações de energia comprometeriam as imagens produzidas (M/\TTOSO FILHO; CEZAR, 2012; MANN HEIMER, 2002). Nesse tipo de microscópio, lentes eletrônicas são usadas para concentrar o feixe na amostra formando uma imagem dela. Essas lentes podem ser eletrostáticas, magnéticas e especiais, como as len- tes de quadnipolo. As mais usadas hoje são ns magnéticas, porque são estáveis e capazes de produzir umn distâncín focal menor. Mns, como vimos, o canhão de elétrons, onde fica o filamento, é conside- rado como n primeira lente do microscópio eletrônico, uma lente eletrostática (FARI A, 201 O, p. 12). O aumento da ímagem na microscopia MET segue princípio semelhante ao do microscópio óptico. A imagem produzida pela lente objetiva será o objeto para a lente intermediária e assim por diante (se houver outras lentes) até formar uma imagem final. Essa imagem aparece na tela fluorescente que os elétrons atingem de- pois de passar pela lente projetora. Ela também pode ser capturada por uma câmera (do tipo CCD). A colisão pode, ainda, remover do processo um elétron localizado cm um nível de energia mais baixo. Se isso acontece, elétrons de níveis de energia mais alta tendem a ocupar o estado de energia mais baixo. É como se a natureza tentasse sempre minimizar a ener- gia dos sistemas. Para ocupar um estado de energia mais baixo, o elétron de energia mais alta deve ter a diferença de energia entre o nível no qual ele se encontra e o nível para o qual se dirige. A ener- gia liberada nesse processo pode gerar dois sinais: um füton com um comprimento de onda associado na faixa dos raios X (0,02 a 2,5 nm) e um elétron Auger (MATIOSO FILHO; CEZAR, 20 12). Elétrons Auger levam o nome do tisico francês que descobriu, nos anos 1920, o fenômeno no qual eles se formam. O fóton de raios X pode ser absorvido por um elétron excitado de energia mais alta. A energia desse elétron, somada à energia que absorve do fóton, pode ser suficiente para libertá-lo do campo de energia potencial do átomo. E ele é ejetado da amostra. Como normalmente têm baixa energia, esses elétrons se espa- lham. Apenas os que partem de uma camada muito fina - de 1 nm de espessura abaixo da superficie do material observado - é que podem ser detectados. Por isso, a técnica que utiliza esses sinais é considerada um ti po de espectroscopia de superfic ie (MATIOSO FILILO; CEZAR, 201 2). Tanto os elétrons secundários quanto os Auger são sinais úteis na caracterização elementar das amostras por espectroscopia. Mas, normalmente, a espectroscopia Auger não é usada nos microscópios eletrônicos encontrados no mercado por custar muito caro. Contudo, existem equipamentos à venda fe itos exclusivamente para uso dessa técnica (MATIOSO FILHO; CEZAR, 2012). Os sinais costumam ser detectados quando emergem da superfl- cic superior da amostra. Porém, se ela for fina (aproximadamente 50 nm), outros sinais também vão emergir da superficie inferior da amostra. esse caso, os elétrons que não interagiram com a amostra também vão compor o feixe transmitido. Os elétrons provenientes das interações elásticas constituem os fe ixes difratados, e os que interagiram de forma inelástica formam os feixes espalhados. Cada um desses feixes transmitidos tem características próprias, únicas,que determi nam a maneira como são usados na microscopia eletrô- nica de transmissão (MATIOSO FTU IO; CEZAR, 20 12). Bloqueando os fe ixes que sofrem difração e os que são espa- lhados pela abertura da lente objetiva, garantimos que a imagem formada na tela fluorescente ( écran) seja composta somente pelo feixe transmitido. O fundo nesse tipo de imagem costuma ser Cé utas em dose b o oq1a em cros<.l 1- ")E Microscópio eletrônico de varredura Paralelamente ao desenvolvimento do microscópio eletrônico de transmissão, surgiu o microscópio elelrônico de varredura. De acordo com Mannhcimcr (2002), foi o primeiro aparelho baseado cm um novo conceito na visualização de microcstruturas depois de quatro séculos. A sonda que faz a varredura é um feixe de elétrons. Em princípio, qualquer fenômeno lisico com o qual seja possível provocar uma resposta localizada no objeto e adquirir um sinal correspondente pode ser visualizado com esse microscópio (MANNH El MER, 2002). Esse equipamento, como vamos ver, não tem objetiva. Não é por ela que veremos as imagens: mas sim projetadas cm um monitor. Por isso, ele não tem o limite de resolução que o uso da objetiva impõe na microscopia de luz. O aumento que conseguimos com o MEV não é resultante de difração nem envolve lentes. A resolução depende ape- nas do tamanho da sonda com a qual fazemos a varredura. Essa sonda dever ser a menor possível (MANNHEIMER, 2002). Quando preparamos um material para ser observado sob o mi- croscópio óptico, temos de garantir que ele possa ser atravessado pela luz. 1 o caso do microscópio de varredura, não. O material não será atravessado pela luz, mas, sim, avaliado por sua superfí- cie (CASTRO, 200 1 ). A imagem do microscópio eletrônico de varredura fomia-sc de maneira diferente da imagem obtida no microscópio de luz ou 110 microscópio eletrônico de transmissão. Esse último nos fornece imagens diretas, formadas por raios que atravessam a amostra, passam por lentes e formam uma imagem real cm uma tela ou virtual em uma lente ocular. Usando a varredura, vamos obter imagens indiretas. A luz não segue um caminho óptico entre a amostra e a imagem; o sistema de geração e o sistema de visua li - zação da imagem são separados. A imagem, nesse equipamento, é fomrnda pelo mapeamento de interações dos elétrons com a superficie da amostra ou do objeto ana- lisado. Um feixe de elétrons primários varre a superfície da amostra, gerando sinais secundários que modulam a intensidade de um tubo de raios catódicos, o qual, por sua vez, produz a imagem do objeto. Digitalizada, a imagem adquirida pode ser modificada por mé- todos de processamento de imagem. Os mais comuns são ajustes de brilho e de contraste e a amplificação não linear (ajuste gama), usados para compensar as grandes diferenças de brilho que podem ocorrer na amostra: regiões mais escuras são amplificadas mais fortemente que regiões mais claras. Como a imagem é gerada por na superfície da amostra. Por isso, o limite de resolução desse microscópio é determinado pelo diâmetro da região da amostra que emite o sinal considerado quando excitado pelo feixe primú- rio (MANNHEIMER, 2002). A resolução desses microscópios costuma ser de 0,2 mm. Esse é o tamanho dos pontos que formam a imagem (pixel). Para o mapeamento ser ótimo, os pontos da amostra precisam correspon- der aos pontos da imagem. E para isso, o feixe deve ter um diâme- tro desse tamanho. Se for maior, perde-se resolução porque vários pontos vão ser excitados ao mesmo tempo. Por outro lado, se o feixe for mais fino que isso, vai gerar um sinal fraco. O diâmetro ideal do feixe ocorre em função do aumen- to que usamos. Tem de ser ajustado a ele. A resolução e o contraste estão intimamente ligados: só podemos resolver estruturas que apresentam bom contraste (MANNHEIMER, 2002). A coluna do MEV possui três lentes eletromagnéticas: duas condensadoras e uma objeti va. As condensadoras desmagnificam o ponto luminoso do canhão. Essa dcsrnagnifieação é limitada pela perda de elétrons que acontece de maneira inevitável quando aumentamos a convergência das lentes. A terceira lente, a objeti- va, focaliza o feixe de elétrons sobre a amostra. A distância focal dessa lente pode mudar muito, porque a distância da amostra até a lente, conhecida como distância de trabalho, varia de alguns milí- metros a alguns centímetros (MANNHEIMER, 2002). A variação da distância foca l muda a convergência do feixe e, como consequência, a profundidade de campo. Por isso, perto das lentes nesse microscópio vamos encontrar um conjunto de bobi- nas astigmadoras, que também são encontradas no microscópio eletrônico de transmissão. Outro conjunto de bobinas, as de vnrre- dura, faz o escnneamento da amostra com o feixe de elétrons (MANNHEIMER, 2002). Da mesma maneira como o diâmetro do feixe, a velocidade de varredura influencia a resolução. Varredura rápida, cm modo TV, é útil quando fazemos observações preliminares da amostra cm tempo real. Ou quando estamos selecionando uma área de interes- se. Para obter uma relação sinal/ruído adequada, é preciso aumen- tar a corrente e, consequentemente, o diâmetro do feixe. Além disso, monitores operam com menor número de linhas, resultando em imagens com resolução modesta (MANNHEIMER, 2002). O microscópio eletrônico de varredura tem resolução ele 1 O nanômetros, o que faz dele uma ferramenta muito importante nas ~~~-em~'-º-~-~-º~-ª-e_m_•c_rc~__,ü)~ amostra e também na detecção e na amplifi cação dos sinais pelos detectores. A relação s inal/ruído influencia a qualidade da ima- gem. Por isso, temos de usar o feixe de elétrons de maior inten- sidade possível, e têm sido usadas fontes de elétrons diferentes do filamento de tungstênio. Um problema desse detector é que ele também adquire e detecta os elétrons retroespalhados que são emitidos na direção do cintila- dor. Se o potencial de 1 O kV é desligado, aparece wna imagem ori- ginada por uma pequena porcentagem dos elétrons retrocspalhados. Por isso, o detector de Everhart-Thornlcy tem s ido substituído por detectores específicos, que são colocados acima da amostra, na re- gião onde a densidade desses elétrons retrocspalhados é máxima (MANNHEIMER, 2002). Métodos para o estudo de células e tecidos Vamos começar estudando métodos para coletar material bio- lógico. Essa é uma etapa fundamental no estudo de células e teci- dos. Ela define as maneiras como serão analisadas as preparações. Como as células de diferentes tecidos se organizam de diferentes maneiras, vamos usar métodos diferentes também para coletar esse tipo de material. Células do sangue, que não são grudadas umas nas outras, são coletadas de maneira diferente de células do coração, por exemplo, que fom1am um todo funcional (sincício). Coleta de material biológico Montagem total Usamos esse método quando vamos estudar um material fino e transparente, que pode ser colocado sobre a lâmina e então fixado e corado. As células ficam inteiras, e podemos fazer medidas e quantificações. É usado com órgãos de insetos, bem como com mesentérios e membranas fetai s de vertebrados. Esfregaço Com esse método, dispomos células livres, que são encontra- das nos fluidos do corpo dos organismos, para observação com microscopia de luz. Esses fluidos são o sêmen, a linfa, a hemolinfa, o sangue e o liquor. Cé ula~ em close· r- 1 IO a •mero e• ·a) E Decalque Retiramos um pedaço do órgão de um animal que desejamos estudar. Lavamos com uma solução de sal a face que foi cortada, removendo o sangue que fica no local. Secamos o material cm um papel-filtro. Em seguida, com uma pinça, pressionamos o pedaço de órgão contra uma lâmina. Repetimos o processo, como se esti- véssemos carimbando a lâmina. Desse jeito, os núcleos das célu- las ficam decalcados (impressos) sobre o vidro e podem, então, ser fixados e corados. Esse método é usado para estudar ou analisar quantidade de DNA, interações do DNA com proteínas,textura da cromatina e imagens de fenótipos nucleares. Corte histológico Dependendo do que vamos analisar sob o microscópio, tere- mos de manter intactas as relações entre as células e a topografia do tecido. Para isso, precisamos fazer cortes muito finos (da or- dem de 5 µm a 7 ~1m de espessura) dos tecidos. E depois coloca- mos esses cortes finos sobre lâminas. Para fazermos esse corte especial, o material que vamos anali- sar deve ser tratado primeiro. Esse tratamento pode ser pela inclu- são cm parafina, resina ou gelatina. O material também pode ser congelado. Usando qualquer tratamento desses, vamos deixar o preparado duro o suficiente para ser cortado no aparelho chamado micrótomo, capaz de fazer cortes da espessura de micrômetros de que precisamos. A inclusão cm parafina é o procedimento mais usado. Como a parafina não é solúvel cm água, o material biológico tem de ser desidratado antes de ser parafinado. Fazemos a desidratação usan- do uma série crescente de álcool etílico, isto é, colocando o mate- rial em soluções com concentrações cada vez maiores de úlcool. Em seguida, vamos banhar o material cm xilol ou benzeno para fazer seu clareamcnto. Depois desse banho, mergulhamos a prepara- ção cm parafina líquida. À medida que o xilol evapora, a parafina se infiltra. Tenninada essa etapa, colocamos o material cm preparação cm uma caixa com parafina fundida, deixando a caixa cm tempera- tura ambiente. Fom1a-sc então um bloco que pode ser cortado no micrótomo. Por fim, colocamos os cortes feitos pelo micrótomo cm lâminas e podemos corá-los para a observação. Tabela 1.1 Principais etapas de processamento de um fragmento de orgão maciço para obtenção de cor tes histológicos de rotina. Etapa do Agente Tempo médio Função principal processamento Fixação Formalina a 10% 12 a 24 horas (depen Preservação dos caracteres dendo do material) estruturais Lavagem Agua corrente Dobro do tempo da Remoção do excesso de fixador fixação Série crescente de Desidratação álcool etílico (70%, 80%, 1 hora em cada banho Retirada da água dos tecidos 95%e 100%) Promover a retirada do álcool e Clarificação ou Xilol, benzeno ou permitir que a parafina penetre 30 a 60 minutos no tecido. Remove gordura dos diafanização tolueno (vários banhos) tecidos, deixando-os u anslúcidos Promover a entrada da parafina Infiltração Parafina líquida (60 ºC. 2 a 3 horas na intimidade dos tecidos. para vários banhos) depois de solidificada constituir o bloco histológico Parafina pura ou Depois de solidificada a parafina. Emblocamento acrescida de cera de Alguns minutos abelha ( 1O:1) facilna o corte histológico Microtomia Micrótomo Indiferente Promover cones finos do tecido a ser estudado Distensão do Indiferente Distensão e pesca do cone em Banho-maria cone lâmina histológica Secagem Estufa a 37 ·c 12 horas Adesão dos cor tes na lâmina Depende do protocolo Evidenciar seletivamente as Coloraçcio Corantes específicos de coloração a ser es truturas teciduais e celulares utilizado Bálsamo do Canadá ou Preservação do material entre Montagem resinas sintéticas A1guns minutos lâmina e lamínula Fonte; Ta boga e Vilama101 (2007. p 41 ). Preparação para microscopia eletrônica Como o poder de resolução do microscópio eletrônico é mui- tas vezes superior ao do microscópio de luz (como vimos quando tratamos de microscopia), precisamos de cortes ultrafinos ao usar esse equipamento em nossas observações. Com isso, algumas Células em close biologia e microscopia E Para as reações citoquímicas corarem aquilo que queremos co- rar, a coleta e a fixação do material devem ser muito bem-feitas. Um desafio especial nessa área é localizar compostos de baixo peso mo- lecular, porque, com frequência, são solúveis cm água e solventes orgânicos. E são solubilizados pelos procedimentos normalmente usados para fixar e desidratar as amostras (DASH EK, 2000). A citoquím ica ganhou impulso com o desenvolvimento do mi- croscópio de fl uorescência e o microscópio confocal (DASHEK, 2000). As reações citoquímicas são classificadas cm três tipos, de acordo com a natureza das reações envolvidas: reações citoquími- cas mediadas por ligações eletrostáticas; reações citoquímicas mediadas por ligações covalentes; e reações citoquímicas media- das por interações hidrofóbicas. Reações citoquímicas mediadas por ligações eletrostáticas Por afinidade eletrostática, um corante ionizado cm uma solu- ção com pH adequado reage com o substrato, que tem carga iônica oposta. Existem dois tipos opostos de reações aqui: a acidofilia e a basofilia. Nas reações acidófilas, um substrato carregado de fom1a posi- tiva (ou catiônico) reage com um corante carregado negativamen- te (aniônico). Uma ligação iônica fomrn um composto colorido, unindo corante e substrato. Exemplos de corantes desse tipo são o Xylidine, o Siri11s Real e a eosina. Todos reagem com proteínas e outros elementos celulares que têm carga positiva. Nas reações de basofilia acontece o contrário: um substrato de carga negativa (aniônico) reage com um corante de carga positiva (catiônico). A reação do corante se dá com grupamentos ionizá- veis dos tecidos que adquirem carga negativa, como os grupamen- tos fosfato presentes nos ácidos nucleícos e os grupamentos carboxila das proteínas. Exemplos desses corantes são o azul de toluidina, o azu l de meti leno e o azul de Alcian. Reações citoquímicas mediadas por ligações covalentes São reações citoquimicas frequentes, porque na célula existem muitas moléculas com ligações covalentes. a maioria dos casos, a reação precisa ser facilitada por uma molécula de componente Citoquímica enzimática Podemos usar reações citoquímicas para estudar a atividade de enzimas i11 situ, ou seja, na célula viva. Para isso, depois de obtem1os um fragmento do tecido que vamos investigar, colocamos esse frag- mento cm um ambiente de incubação junto com o substrato da enzi- ma em estudo. Durante a incubação, a enzima desempenha sua atividade. No final do processo, vamos encontrar um precipitado in- solúvel, produto da reação da enzima com seu substrato. Para preservar a integridade molecular da enzima, devemos escolher o corte por congelamento e um método suave de fixação, além de controlar o pH. lmunocitoquímica Anticorpos podem ser usados para loca lizar e corar moléculas específicas em regiões específicas de células e tecidos. Eles são como mísseis guiados para um alvo. E podemos acoplar aos anti- corpos marcadores, os quais podem ser detectados. Existem mui- tos tipos de mnrcadores. Sun escolha vai depender do tipo de molécula-alvo e do tipo de microscópio a ser usado para observar o material. Esse método é uma maneira de descobrirmos relações entre a molécula cm análise e outros componentes da célula. Anticorpos policlonais 11ers11s monoclonais É grande a quantidade de moléculas que os anticorpos '·ma- cam'', ou seja, o repertório deles é amplo. Por outro lado, eles são a ltamente específicos. Essa é a chave para a eficiência dos anticor- pos i11 viro, nos organismos em funcionamento. E é isso que os torna atraentes como reagentes em laboratórios de pesquisa ou análises clínicas (RITTER, 2000). Se o organismo de um animal for invadido por uma bactéria. por exemplo, como parte da resposta à invasão, os linfócitos 8 reativos aos antígenos são ativados. Depois de ativadas, essas cé- lulas se multiplicam, isto é, passam por uma expansão c lonai. Quando se tornam células maduras do plasma sanguíneo, cada clone desse tipo de linfócito (chamado plasmócito) produz uma molécula de anticorpo específica. No caso da bactéria, como diversas moléculas de s ua cé lula servem como antígenos, uma resposta policlonal é deflagrada: diversos plasmócitos originados por linfócitos B reativos vão Mas, nesse acoplamento, radicais reativos reagem com grn- pos químicos dos anticorpos (e das proteínas
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