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2018 Sociologia da Educação Profª. Ana Cláudia Moser Prof. Márcio José Cubiak Copyright © UNIASSELVI 2018 Elaboração: Profª. Ana Cláudia Moser Prof. Márcio José Cubiak Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 306.43 M899s Moser, Ana Cláudia Sociologia da educação / Ana Cláudia Moser, Márcio José Cubiak – Indaial: UNIASSELVI, 2018. 211 p.; il. ISBN 978-85-515-0165-8 1. Sociologia – Brasil 2. Educação – Sociologia I. Cubiak, Márcio José II. Centro Universitário Leonardo da Vinci III aprESEntação “A educação é a arma mais poderosa que podemos usar para mudar o mundo”. Nelson Mandela Prezado acadêmico! Iniciaremos agora mais uma etapa de sua jornada de formação com a disciplina Sociologia da Educação. Através dos estudos desta disciplina, você será apresentado a um conjunto de conceitos de teorias que contribuirão para ampliar seus conhecimentos acerca das relações sociais que envolvem educação e sociedade, bem como contribuirão para apresentar a você formas diferentes para analisar e compreender os fenômenos educacionais dos processos mais amplos de socialização à educação escolar. Na Unidade 1 dedicaremos nossos esforços a compreender como se constroem os problemas sociológicos, a escola e a educação como campos de estudo da sociologia. Partindo desse cenário, apresentaremos as relações entre sociedade e educação e o desenvolvimento das teorias que formaram o campo da Sociologia da Educação. Na sequência, apresentaremos as discussões que dão conta das noções de sala de aula, dos sujeitos da educação e das relações entre sociedade e cultura. O panorama das teorias sociológicas que abordam elementos fundamentais para a Sociologia da Educação será apresentado na Unidade 2. Nesta unidade, você conhecerá as reflexões sobre educação e sociedade nas teorias dos clássicos: Augusto Comte, Émile Durkheim, Karl Marx e Max Weber; e dos contemporâneos: Talcott Parsons, Antônio Gramsci, Louis Althusser, Karl Mannheim, Norbert Elias, Michel Foucault e Anthony Giddens. Além destas teorias, apresentaremos o desenvolvimento teórico da Sociologia da Educação no Brasil. Na Unidade 3 serão abordados temas relevantes para a Sociologia da Educação, como as questões que envolvem estudos culturais, pós- colonialismo, Estado, instituições sociais, desigualdade social-escolar, violência, trabalho e tecnologias. Os autores IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI VII UNIDADE 1 - RELAÇÕES ENTRE SOCIOLOGIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO .................1 TÓPICO 1 - O OLHAR DA SOCIOLOGIA SOBRE SOCIEDADE, ESCOLA E EDUCAÇÃO ...............................................................................................3 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................3 2 PROBLEMAS SOCIOLÓGICOS .....................................................................................................3 3 MÉTODOS E PROBLEMAS SOCIOLÓGICOS ...........................................................................7 4 ESCOLA E EDUCAÇÃO COMO CAMPOS DA SOCIOLOGIA ..............................................15 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................22 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................25 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................26 TÓPICO 2 - AS CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO ...............................29 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................29 2 A SOCIOLOGIA E A SOCIEDADE ................................................................................................29 3 O QUE É A SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO? .............................................................................35 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................40 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................42 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................43 TÓPICO 3 - OS DESDOBRAMENTOS DAS CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO NA COMPREENSÃO DOS SUJEITOS E DA CULTURA NA EDUCAÇÃO.........................................................45 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................45 2 SALA DE AULA E SUJEITOS DA EDUCAÇÃO..........................................................................45 3 SOCIEDADE E CULTURA ...............................................................................................................53 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................58 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................60 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................61 UNIDADE 2 - PERCURSOS TEÓRICOS DA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO .....................63 TÓPICO 1 - PRIMEIRA GERAÇÃO DE SOCIÓLOGOS: DURKHEIM, MARX E WEBER ...................................................................................65 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................65 2 ÉMILE DURKHEIM ...........................................................................................................................66 2.1 DURKHEIM E A EDUCAÇÃO ....................................................................................................72 3 KARL MARX (1818-1883) ..................................................................................................................74 3.1 MARX E A EDUCAÇÃO ..............................................................................................................784 MAX WEBER (1864-1920) ..................................................................................................................81 4.1 A SOCIOLOGIA COMPREENSIVA DE WEBER ......................................................................82 4.2 WEBER E A EDUCAÇÃO ............................................................................................................87 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................90 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................91 Sumário VIII TÓPICO 2 - GERAÇÃO DA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX: MANNHEIM, PARSONS, ELIAS, GRAMSCI, ESCOLA DE FRANKFURT, HABERMAS E ALTHUSSER ......................................................93 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................93 2 KARL MANNHEIM: PLANEJAMENTO E TÉCNICA SOCIAL ...............................................93 2.1 TALCOTT PARSONS: AÇÃO E SISTEMA SOCIAL ................................................................96 2.2 NORBERT ELIAS: CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLOGIA PROCESSUAL PARA A EDUCAÇÃO ........................................................................................99 2.3 ANTONIO GRAMSCI: HEGEMONIA E EDUCAÇÃO HUMANÍSTICA ............................101 2.5 ESCOLA DE FRANKFURT: A TEORIA CRÍTICA E AS CONTRIBUIÇÕES DE ADORNO PARA A SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO .......................................................105 2.4 JURGEN HABERMAS: RACIONALIZAÇÃO E AÇÃO COMUNICATIVA ........................107 2.5 LOUIS ALTHUSSER: IDELOGIA E APARELHOS IDEOLÓGICOS DE ESTADO ..............110 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................113 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................119 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................120 TÓPICO 3 - GERAÇÃO DA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX: BOURDIEU, HABERMAS E GIDDENS ....................................................................123 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................123 2 PIERRE BOURDIEU ...........................................................................................................................123 2.1 ELEMENTOS PARA PENSAR A EDUCAÇÃO EM BOURDIEU ..........................................126 2.2 JÜRGEN HABERMAS: RACIONALIZAÇÃO E AÇÃO COMUNICATIVA ........................129 2.3 ANTHONY GIDDENS ..................................................................................................................134 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................141 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................143 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................144 UNIDADE 3 - A SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE ...............147 TÓPICO 1 - ESTUDOS CULTURAIS, MULTICULTURALISMO E EDUCAÇÃO ..................149 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................149 2 ESTUDOS CULTURAIS E AS SUAS RELAÇÕES COM A EDUCAÇÃO ...............................150 2.1 OS ESTUDOS CULTURAIS ..........................................................................................................150 3 CONTRIBUIÇÕES DOS ESTUDOS CULTURAIS PARA O CAMPO DA EDUCAÇÃO ................................................................................................................158 4 MULTICULTURALISMO E EDUCAÇÃO .....................................................................................160 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................166 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................169 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................170 TÓPICO 2 - A SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL .....................................................171 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................171 2 TEORIAS E PESQUISAS SOBRE EDUCAÇÃO NO BRASIL ..................................................171 3 CONTRIBUIÇÕES DE FLORESTAN FERNANDES PARA A SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL ............................................................................173 4 AS CONTRIBUIÇÕES DE FERNANDO DE AZEVEDO PARA A COMPREENSÃO DA EDUCAÇÃO COMO FATO SOCIAL ...................................................174 5 AS CONTRIBUIÇÕES DAS TEORIAS MARXISTAS NA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA ......................................................................................................176 6 EDUCAÇÃO E REPRODUÇÃO SOCIAL: O CASO DAS DESIGUALDADES SOCIAIS E A EDUCAÇÃO NO BRASIL ......................................................................................177 IX LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................181 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................188 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................189 TÓPICO 3 - TEMAS DA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO ..........................................................191 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................191 2 A RELAÇÃO EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA ...............................................................................191 2.1 AVANÇOS E DESAFIOS DO ENSINO DE SOCIOLOGIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA .....196 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................200 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................201 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................203 X 1 UNIDADE 1 RELAÇÕES ENTRE SOCIOLOGIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS Esta unidade tem por objetivos: • compreender a construção dos problemas sociológicos; • analisar a escola e educação como campos de estudo da sociologia; • apresentar o contexto do desenvolvimento da Sociologia da Educação; • conhecer as relações entre sociedade, educação e escola; • analisar as relações entre sala de aula e os sujeitos da educação; • compreender as relações entre sociedade e cultura. A primeira unidade está dividida em três tópicos. Ao fim de cada um deles, você encontrará um resumo dos conteúdos e autoatividades que contribuirão para a reflexão e análise dos temas abordados. TÓPICO 1 – O OLHAR DA SOCIOLOGIA SOBRE SOCIEDADE, ESCOLA E EDUCAÇÃO TÓPICO 2 – AS CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO TÓPICO 3 – OS DESDOBRAMENTOS DAS CONTRIBUIÇÕES DA SOCIO- LOGIA DA EDUCAÇÃO NA COMPREENSÃO DOS SUJEI- TOS EDA CULTURA NA EDUCAÇÃO 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 O OLHAR DA SOCIOLOGIA SOBRE SOCIEDADE, ESCOLA E EDUCAÇÃO 1 INTRODUÇÃO O primeiro tópico da Unidade 1 apresentará a você o contexto de desenvolvimento da Sociologia, as formas de construção dos problemas sociológicos e as teorias produzidas para analisar esses questionamentos. A educação e a escola como objetos de estudo da Sociologia também ganham espaço nesse tópico. O objetivo central é proporcionar ferramentas teóricas que permitam a você relembrar como a Sociologia constrói seus objetos e como o desenvolvimento da Sociologia como ciência levou à compreensão das relações entre sociedade e educação. 2 PROBLEMAS SOCIOLÓGICOS Nesta primeira etapa de seu livro de estudos, vamos apresentar algumas noções introdutórias e básicas para a compreensão da Sociologia. Tratar desta disciplina implica adentrar o universo das ciências sociais, do qual ela faz parte. Newton Freire-Maia (1998, p. 24) diz que a ciência é um “[...] conjunto de descrições, interpretações, teorias, leis, modelos etc., visando ao conhecimento de uma parcela da realidade” pelo emprego de “metodologia especial”, a metodologia científica. No modelo atual de ciência, o seu resultado deve ser a produção de conhecimento reconhecido. Este tipo de conhecimento “distingue-se por um grau de certeza alto, desfrutando assim de uma posição privilegiada com relação aos demais tipos de conhecimento” (CHIBENI, 2004, p. 1). FONTE: FREIRE-MAIA (1998); CHIBENI (2004) DICAS As ciências sociais representam uma parte do campo científico no interior da ciência. E como se divide a ciência? Não é possível encontrar um consenso sobre esta identificação, sempre dependendo da posição do cientista. Para as UNIDADE 1 | RELAÇÕES ENTRE SOCIOLOGIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO 4 autoras Lakatos e Marconi (1995), é possível perceber a classificação da ciência entre ciências formais e as factuais. As primeiras são focadas no estudo de ideias, de situações abstratas, sem necessariamente ter relações com a realidade, utilizando a lógica, fórmulas e teoremas para comprovar suas hipóteses. As segundas se referem às ciências dedicadas aos fatos naturais e sociais, recorrendo às observações e experimentações. Seus resultados e suas hipóteses, quase sempre, são provisórios. Como podemos perceber, as ciências sociais são classificadas como factuais. Observe a figura a seguir: FIGURA 1 - CLASSIFICAÇÃO DA CIÊNCIA DE ACORDO COM LAKATOS E MARCONI FONTE: Disponível em: <https://livrepensamento.com/2013/08/19/sobre-porque-a-ciencia-e-a- unica-forma-de-conhecimento-que-vale-a-pena/>. Acesso em: 22 fev. 2018. CIÊNCIAS FACTUAIS SOCIAIS NATURAIS Lógica Física Química Direito Economia Sociologia Política Biologia e outros Antropologia Cultural Psicologia Social MatemáticaFORMAIS Mas, como perceber as Ciências Sociais? Esse conjunto de disciplinas científicas se volta aos fenômenos sociais – coletivos ou individuais. Quer dizer, o objeto das ciências sociais ou humanas é o homem na sociedade. Elas são disciplinas autônomas, mas estão em complexo inter-relacionamento entre si, havendo certa complementaridade (LAKATOS, 1990). Para o professor Pérsio Santos de Oliveira (2001), as ciências sociais pesquisam e estudam o comportamento humano social e suas várias formas de organização. Seus objetivos se voltam à ampliação do conhecimento sobre o ser humano em suas interações sociais, contribuindo para um entendimento ampliado das sociedades e seus processos sociais. TÓPICO 1 | O OLHAR DA SOCIOLOGIA SOBRE SOCIEDADE, ESCOLA E EDUCAÇÃO 5 E a Sociologia? Como dissemos, ela é uma das ciências sociais. Como as demais disciplinas desse campo, seu interesse está nos fenômenos e processos sociais. Mas o que lhe torna específica? Ressaltamos duas formas de caracterizar e definir a Sociologia. Falamos de seu objeto – sociedade, interações, comportamentos – e a maneira pela qual percebe este objeto, empregando um olhar científico. Os autores que discutem o que é a Sociologia, qual seu papel e objeto de estudo enfatizam essas duas dimensões quando escrevem sobre esta disciplina. A Sociologia é o que é, possui uma identidade própria, em razão de seu objeto e de seus métodos empregados. Neste sentido, Pérsio Santos de Oliveira (2001) escreveu que a Sociologia estuda as relações sociais e as maneiras pelas quais nos associamos a partir das interações sociais. Ela abrangeria, ainda, o estudo da divisão dos grupos sociais, das dinâmicas de mudanças sociais e dos processos de competição, cooperação e conflitos presentes nas sociedades, porém, não é um consenso sociológico aquilo que se considera como o essencial nessas relações, se é a sociedade ou o indivíduo. Isto é, se as interações, relações ou estruturas sociais, ou as ações ou comportamento social e individual. Para o sociólogo inglês Anthony Giddens (2004, p. 24): A Sociologia é o estudo da vida social humana, dos grupos e das sociedades. [...] seu objeto de estudo é o nosso próprio comportamento. A abrangência do estudo sociológico é extremamente vasta, incluindo desde a análise de encontros ocasionais entre indivíduos na rua até a investigação de processos sociais globais. Como indicou Zygmunt Bauman (2010, p. 26), “[...] a Sociologia pensa de forma relacional para nos situar em redes de relações sociais”. O que quer dizer relacional? Tem a ver com relação, contato, interação, associação. Por meio deste olhar relacional, a Sociologia promoveu um encontro entre indivíduo e sociedade, sem necessariamente enfatizar um ou outro, mas sim, as suas redes ou teias de relações, fundamentadas na interdependência. Mas o comportamento e as instituições sociais são variados e historicamente localizados. A interação social se desenrola no plano da vida concreta, real. E para analisá-la e compreendê-la é preciso realizar um exercício de conceitualização teórica; a partir disto, é possível manejar conceitos-chave para entender os sistemas sociais (GIDDENS, 2004). Neste sentido, a natureza da Sociologia e do conhecimento sociológico é complexa. Numa situação de interação social se fazem presentes uma série de variações e combinações possíveis de pensamento e de ação social e de maneira simultânea. Além disso, existe uma série de instituições sociais que concorrem e requerem a atenção do indivíduo, interferindo na sua forma de pensar e agir. As causas dos fenômenos sociais e suas relações com os meios e os fins das ações individuais e coletivas também estão sujeitas a essa pressão multidimensional. Não existem causas únicas. UNIDADE 1 | RELAÇÕES ENTRE SOCIOLOGIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO 6 Desta forma, a Sociologia produz “um comentário permanente das experiências surgidas em relações sociais e uma interpretação dessas experiências com referência aos outros e às circunstâncias sociais em que as pessoas se encontram” (BAUMAN, 2010, p. 285). Ela é um olhar disciplinado para como as pessoas, instituições ou fenômenos sociais procedem no cotidiano, resultando na produção de esquemas, de “mapas” teóricos que estão além de experiências individuais e sociais, isto é, não se confundem com uma opinião. É neste sentido que ressaltamos a dimensão científica da Sociologia. Destarte, para além desse olhar para as interações, comportamentos, processos e fenômenos sociais, ela tem um caráter científico, como já dissemos. Por isso, podemos pensar a Sociologia como um conjunto de conceitos, de técnicas e de métodos de investigação produzidos para explicar a vida social (MARTINS, 1994). Raymond Aron (1999, p. 7) diz que: A Sociologia é o estudo, que pretende ser científico, do social enquanto social, seja no nível elementar das relações interpessoais, seja no nível macroscópico de vastos conjuntos, como as classes, as nações, as civilizações, ou, para empregar a expressão corrente, as sociedades globais. Para este autor, a Sociologia se volta a aspectos micro ou macro do comportamento e da vida social,sendo diferente do senso comum em razão dos métodos e abordagens científicos que podem ser empregados. Ainda em relação a essa dimensão da Sociologia, outro sociólogo, Zygmunt Bauman (2010, p. 11), escreveu que ela é: “[...] uma prática disciplinada, dotada de um conjunto próprio de questões nas quais aborda o estudo da sociedade e das relações sociais. [...]. Mas, também, representa considerável corpo de conhecimento acumulado ao longo de sua história”. Portanto, a Sociologia é um campo autônomo de estudos estruturado em torno de modelos teóricos, abordagens e métodos de pesquisa. Isso implica reconhecer que a Sociologia é uma ciência que não tem um enfoque apenas, uma única via, sendo marcada pela diversidade. Para a professora Eva Maria Lakatos (1990, p. 22-23), a Sociologia é o estudo: científico das relações sociais, das formas de associação, destacando-se os caracteres gerais comuns a todas as classes de fenômenos sociais, fenômenos que se produzem nas relações de grupos entre seres humanos. Estuda o homem e o meio humano em suas interações recíprocas. A Sociologia não é normativa, nem emite juízos de valor sobre os tipos de associação e relações estudados, pois se baseia em estudos objetivos que melhor podem revelar a verdadeira natureza dos fenômenos sociais. Assim, entre seu objeto e método, a Sociologia deve ser encarada como “estudo do homem e do universo sociocultural tomando como e em suas inter- relações analisando os diversos fenômenos sociais” (LAKATOS, 1990, p. 24). Portanto, a Sociologia capta uma imagem mais ampla sobre “porque somos como somos e porque agimos como agimos” (GIDDENS, 2004, p. 24). Tais práticas dependem dos hábitos e modos de vida adotados pelos indivíduos. Não só eles TÓPICO 1 | O OLHAR DA SOCIOLOGIA SOBRE SOCIEDADE, ESCOLA E EDUCAÇÃO 7 as “utilizam” em sua atividade, como também essas práticas de vida constituem a própria atividade (GIDDENS, 2004). É fundamental entender que em sociedade as pessoas interagem em contextos de intensas relações sociais interdependentes. Daí, tendemos à rotinização e padronização das nossas condutas através de mecanismos de socialização. Toda atividade humana é sujeita à rotinização, a partir de sua repetição e padronização na vida diária, seja comportamental ou institucional (BERGER, 1976). Da mesma forma, tudo aquilo que se relaciona à dimensão humana social e cultural não pode ser reduzido em sua complexidade. As condutas e os valores humanos possuem múltiplas dimensões e podem ser estudados a partir de distintos pontos de vista. Eles não são fixos e cada vez mais permeados por contextos transnacionais. Em sua trajetória, é possível perceber que a Sociologia se volta o tempo todo para os problemas que o homem enfrenta no dia a dia de sua vida em sociedade (TOMAZI, 1993, p. 15), sendo uma espécie de ciência da crise. Mas a natureza da Sociologia envolve um processo metodológico que resulta em olhar além das fachadas e do senso comum. Essa perspectiva envolve a suspensão do mundo ordinário para pensá-lo em termos relacionais, processuais e históricos (BURKE, 2003). Dito de outra forma: o conhecimento sociológico não se confunde com o senso comum, com opinião. E é a respeito dos métodos e da natureza do conhecimento sociológico que as páginas seguintes se ocupam. 3 MÉTODOS E PROBLEMAS SOCIOLÓGICOS Anthony Giddens (2004, p. 510) ressalta que a Sociologia é um “esforço científico, envolve métodos sistemáticos de investigação empírica, análise de dados e avaliação à luz de evidências e argumentos lógicos”. Como se percebe, é um trabalho realizado em distintas etapas a partir da escolha de um objeto de interesse até sua publicação e discussão. A natureza da Sociologia está no tipo de conhecimento produzido pelo emprego de métodos científicos sobre seu objeto de estudo. E para compreender como se realiza a prática sociológica, é importante certa intimidade com a sua linguagem, empregando adequadamente as categorias. O prisma sociológico procura constituir panoramas amplos, abertos e emancipados da existência diária. Ela tem um DNA muito característico da modernidade ocidental, um viés crítico do cotidiano na direção da compreensão das interações e inter-relações humanas (BERGER, 1976). As Ciências Sociais, e a Sociologia em particular, surgem num ambiente estimulado por ideias evolucionistas e positivistas de ciência. A inspiração para os métodos que foram definidos para o trabalho e a perspectiva sociológica UNIDADE 1 | RELAÇÕES ENTRE SOCIOLOGIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO 8 foram aqueles que eram empregados pelas Ciências Naturais, como a Biologia. O resultado foi a incorporação de algumas premissas elementares para a pesquisa com caráter científico. Os primeiros sociólogos, pela tarefa que possuíam de estabelecer as bases da disciplina, se ocuparam de traçar os objetivos e fronteiras desse novo campo que emergiu no século XIX. A neutralidade e a objetividade se tornaram regras metodológicas e posturas esperadas por parte do sociólogo. Evolucionismo 1. Nome genérico das diversas doutrinas ou teorias filosóficas que utilizaram o transformismo biológico ou que se desenvolveram apoiadas nele. O que têm em comum é o fato de constituírem um relativismo orientado no tempo para um absoluto incognoscível (Spencer) ou místico (Teilhard de Chardin). 2. Concepção biológica segundo a qual todas as espécies derivam umas das outras por um processo de transformação natural. 3. Doutrina filosófica segundo a qual a evolução constitui a lei geral dos seres (matéria, vida, espírito e sociedades), capaz de reger, por conseguinte, tanto as ciências quanto a própria moral. 4. Para Charles Darwin (1809-1882), célebre por ter criado a teoria segundo a qual "a luta pela vida e a seleção natural são consideradas como os mecanismos essenciais da evolução dos seres vivos", é a ideia de seleção natural que se encontra no cerne da questão da evolução: os organismos vivos formam populações denominadas espécies e apresentam "variações": graças a essas variações, certos indivíduos são melhor "adaptados" a seu meio e engendram uma descendência mais numerosa. A seleção natural designa o conjunto dos mecanismos que fazem a triagem entre os melhores indivíduos: assim, graças à “luta pela vida, as populações evoluem lentamente, isto é, se transformam e se diversificam produzindo formas cada vez mais complexas” (p. 70). Positivismo (fr. positivisme) I. Sistema filosófico formulado por Augusto Comte, tendo como núcleo sua teoria dos três *estados, segundo a qual o espírito humano, ou seja, a sociedade, a cultura, passa por três etapas: a teológica, a metafísica e a positiva. As chamadas ciências positivas surgem apenas quando a humanidade atinge a terceira etapa, sua maioridade, rompendo com as anteriores. Para Comte, as ciências se ordenaram hierarquicamente da seguinte forma: matemática, astronomia, física, química, biologia, sociologia; cada uma tomando por base a anterior e atingindo um nível mais elevado de complexidade. A finalidade última do sistema é política: organizar a sociedade cientificamente com base nos princípios estabelecidos pelas ciências positivas. 2. Em um sentido mais amplo, um tanto vago, o termo "positivismo" designa várias doutrinas filosóficas do séc. XIX, como as de Stuart Mill, Spencer, Mach e outros, que se caracterizam pela valorização de um método empirista e quantitativo, pela defesa da experiência sensível como fonte principal do conhecimento, pela hostilidade em relação ao *idealismo, e pela consideração das ciências empírico-formais como paradigmas de cientificidade e modelos para as demais ciências. Contemporaneamente, muitas doutrinas filosóficas e científicas são consideradas "positivistas" por possuírem algumas dessas características, tendo este termo adquirido uma conotação negativa nesta aplicação (p. 153). FONTE: Marcondes e Japiassu (2001) DICAS TÓPICO 1 | O OLHAR DA SOCIOLOGIA SOBRE SOCIEDADE, ESCOLA E EDUCAÇÃO 9 Paraos positivistas, como Auguste Comte e Émile Durkheim, por exemplo, a sociedade era regida por leis gerais que podiam ser apreendidas de maneira objetiva, isto é, tornada uma coisa, um objeto, percebida como externa à própria sociedade. Para isso, era fundamental a postura da neutralidade científica: Significa que a concepção positivista é aquela que afirma a necessidade e a possibilidade de uma ciência social completamente desligada de qualquer vínculo com as classes sociais, com as posições políticas, os valores morais, as ideologias, as utopias, as visões de mundo. Todo esse conjunto de elementos ideológicos, em seu sentido amplo, deve ser eliminado da ciência social (LÖWY, 1985, p. 39). Portanto, para a corrente sociológica do positivismo, o sociólogo deve despir-se de si mesmo, de sua subjetividade, deixar de lado suas origens e experiências para dedicar-se objetivamente ao fato social estudado. Ele deve se empenhar em mostrar a realidade da maneira mais fidedigna possível. O pesquisador deve emancipar-se de suas pré-noções, sobrando apenas o indivíduo- cientista. Ainda do ponto de vista da Sociologia clássica, outra contribuição pioneira foi dada por Max Weber em sua Sociologia compreensiva. Criticando o pressuposto positivista da neutralidade, ele vai questionar esse exercício de abstração de si que o sociólogo deveria realizar para as suas investigações em torno do objeto estudado. Para Weber, a própria realidade já seria uma construção social, impregnada de valores, portanto, a Ciência não estava livre dessas cargas subjetivas (WEBER, 2001). Com isso, podemos deduzir que as pesquisas de caráter científico sempre realizam e têm início com uma seleção e recorte de determinadas dimensões da realidade. Quando você, acadêmico, define o seu objeto de estudo, o curso universitário que irá cursar, escolhe aquele que você conhece e lhe dá satisfação. Ao definir o objeto de um Trabalho de Conclusão de Curso, por exemplo, não nos dedicamos a pesquisar aquilo que nos é desconhecido ou desinteressante. Nós fazemos escolhas com base em nossos valores. Essas escolhas devem ser trabalhadas cientificamente. Para isso, empregamos as abordagens e métodos. Eles são a base e o fundamento para dar início à reflexão sistemática sobre determinados problemas sociológicos. E entre a escolha e o problema sociológico, precisamos ter em mente que este não se confunde com um problema social. Qual é a diferença entre um problema sociológico e um problema social? No interior desse espaço social, um problema sociológico liga-se a uma extensa rede relacional de profissionais e outros problemas já elaborados. Ao modelar seu objeto e problemática sociológica, o pesquisador precisa observar essa UNIDADE 1 | RELAÇÕES ENTRE SOCIOLOGIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO 10 bagagem de problemas anteriores. Isso porque os problemas não estão isolados, mas, antes, articulados com o trabalho contínuo da Sociologia. Em alguns casos, ao ler os trabalhos de seus pares, o sociólogo pode descobrir ou prestar atenção para diferentes pontos de vista sobre o seu objeto de estudo (GIDDENS, 2004). Um problema social pressupõe a existência de um esforço anterior, de um ‘trabalho social’ voltado ao seu reconhecimento e legitimação. Esses problemas existem em relação a contextos sociais e históricos específicos, variando conforme as épocas e regiões, podendo desaparecer. Para que seja considerado relevante, não basta que um problema afete a vida de grupos, é fundamental que ele ganhe dimensão pública. A partir de então, ele pode ser assumido pelo agente estatal, que desenvolve iniciativas visando mitigá-lo na forma de políticas (LENOIR, 1998). Por exemplo, o analfabetismo é um problema social. Mas um sociólogo não pode, nem quer saber tudo acerca do analfabetismo. Ele delimita seu interesse. O pesquisador, ao voltar-se para um problema, não está buscando a sua solução, apesar de que o resultado de sua pesquisa possa contribuir para tal. Desta forma, o problema sociológico de uma pesquisa deve fazer o papel de fio condutor da pesquisa, a questão inicial deve ajudar a progredir nas leituras e na coleta de dados exploratória. Para tanto, ele deve transformar esse problema em uma questão com a qual o pesquisador tentará expressar o mais precisamente possível o que ele busca conhecer, elucidar, compreender melhor (QUIVY; CHAMPEGAUDT, 1998). O que é o método? Segundo Lakatos e Marconi (1995, p. 83), trata-se de: [...] um conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo – conhecimento válido e verdadeiro –, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista. E existe um método comum compartilhado pela Sociologia? Segundo Lakatos e Marconi (1990), os procedimentos próprios das Ciências Sociais são variados. Em razão dessa amplitude, os autores sugerem pensar a questão dos métodos a partir de dois níveis: 1) Métodos de abordagem 2) Métodos de procedimento. Qual é a diferença entre eles? O primeiro é a abordagem de nível mais amplo de uma pesquisa. É um recurso de abstração macro a respeito dos fenômenos sociais. Vejamos o quadro a seguir: TÓPICO 1 | O OLHAR DA SOCIOLOGIA SOBRE SOCIEDADE, ESCOLA E EDUCAÇÃO 11 QUADRO 1 - EXEMPLOS DE MÉTODOS DE ABORDAGEM MÉTODO DESCRIÇÃO Indutivo A aproximação dos fenômenos caminha geralmente para planos cada vez mais abrangentes, indo das constatações mais particulares às leis e teorias (conexão ascendente). Exemplo de Método Indutivo: A ave 1 tem duas asas A ave 2 tem duas asas A ave 3 tem duas asas A ave n tem duas asas Conclusão: toda ave tem duas asas FONTE: Disponível em: <https://goo.gl/pmQx3E>. Acesso em: 22 fev. 2018. Dedutivo Ele parte das teorias e leis, na maioria das vezes prediz a ocorrência dos fenômenos particulares (conexão descendente). Exemplo de Método Dedutivo: Todo homem é mortal Pedro é homem Logo, Pedro é mortal FONTE: Disponível em: <https://goo.gl/vcqCdu>. Acesso em: 22 fev. 2018. Hipotético- dedutivo Ele se inicia pela percepção de uma lacuna nos conhecimentos, acerca da qual formula hipóteses e, pelo processo de inferência dedutiva, testa a predição da ocorrência de fenômenos abrangidos pela hipótese. Exemplo de Método Hipotético-Dedutivo: - Toca o despertador e o dia está escuro; - Hipótese de causa: amanheceu e o sol está encoberto; - Efetivo secundário: se o sol está encoberto, é possível que haja chuva; - Teste do efeito secundário: estende-se a mão. Se molhar, a hipótese é válida, se não molhar, busca-se outra hipótese: - o relógio está certo? - apenas há nuvens e não está chovendo? - falseamento da hipótese válida: há algo ou alguém jogando água na minha mão, (ar condicionado, lavagem)? - A hipótese continuará válida enquanto resistir aos testes. FONTE: Disponível em: <https://image.slidesharecdn.com/16-omtodo- cientfico-111015210455-phpapp02/95/16-o-mtodo-cientfico-21-728.jpg?- cb=1318712731>. Acesso em: 22 fev. 2018. UNIDADE 1 | RELAÇÕES ENTRE SOCIOLOGIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO 12 Dialético Procura analisar o mundo dos fenômenos através de sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno e da mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade. Exemplo de Método Dialético: FONTE: Disponível em: <https://goo.gl/HHH8cb>. Acesso em: 22 fev. 2018. - Ideia Inicial; - Pergunta. - Junção Das Ideias ; - Conclusão. - Nova Ideia; - Resposta. SínteseTese Antítese FONTE: Lakatos e Marconi (2001, p. 116) QUADRO 2 - EXEMPLOS DE MÉTODOS DE PROCEDIMENTO O segundo indica os procedimentos que serão empregados para viabilizar a pesquisa. São operações mais concretas de uma investigação, com finalidade mais restrita em termos de explicação geral dos fenômenos. MÉTODO DESCRIÇÃO Histórico “[...] o método histórico consiste em investigar acontecimentos, processos e instituições do passado para verificar a sua influência na sociedade de hoje, pois as instituições alcançaramsua forma atual através de alterações de suas partes componentes, ao longo do tempo, influenciadas pelo contexto cultural particular de cada época” (LAKATOS; MARCONI, 2001, p. 107). Exemplo do Método Histórico: Para compreender a noção atual de família e parentesco, pesquisa-se no passado os diferentes elementos constitutivos dos vários tipos de família e as fases de sua evolução social; FONTE: Disponível em: <https://goo.gl/soX56J>. Acesso em: 22 fev. 2018. TÓPICO 1 | O OLHAR DA SOCIOLOGIA SOBRE SOCIEDADE, ESCOLA E EDUCAÇÃO 13 Comparativo “[...] este método realiza Comparações, com a finalidade de verificar similitudes e explicar divergências. O método comparativo é usado tanto para comparações de grupos no presente, no passado, ou entre os existentes e os do passado, quanto entre sociedades de iguais ou de diferentes estágios de desenvolvimento” (LAKATOS; MARCONI, 2001, p. 107). Exemplo de Método Comparativo: Modo de vida rural e urbana no Estado de São Paulo; características sociais da colonização portuguesa e espanhola na América Latina. FONTE: Disponível em: <https://goo.gl/dUUqAw>. Acesso em: 22 fev. 2018. Monográfico “Partindo do princípio de que qualquer caso que se estude em profundidade pode ser considerado representativo de muitos outros ou até de todos os casos semelhantes, o método monográfico consiste no estudo de determinados indivíduos, profissões, condições, instituições, grupos ou comunidades, com a finalidade de obter generalizações” (LAKATOS; MARCONI, 2001, p. 108). Exemplo de Método Monográfico: Estudo de delinquentes juvenis; da mão de obra volante; do papel social da mulher [PRESOTTO, Zélia Maria Neves] FONTE: Disponível em: <https://goo.gl/sLVB7e>. Acesso em: 22 fev. 2018. Estatístico “[...] o método estatístico significa redução de fenômenos sociológicos, políticos, econômicos etc. a termos quantitativos e a manipulação estatística, que permite comprovar as relações dos fenômenos entre si, e obter generalizações sobre sua natureza, ocorrência ou significado” (LAKATOS; MARCONI, 2001, p. 108). Exemplo do Método Estatístico: Verificar a correlação entre nível de escolaridade e número de filhos; pesquisar as classes sociais dos estudantes universitários. FONTE: Disponível em: <https://goo.gl/CfZgCo>. Acesso em: 22 fev. 2018. UNIDADE 1 | RELAÇÕES ENTRE SOCIOLOGIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO 14 Tipológico De inspiração weberiana, “Apresenta certas semelhanças com o método comparativo. Ao comparar fenômenos sociais complexos, o pesquisador cria tipos ou modelos ideais, construídos a partir da análise de aspectos essenciais do fenômeno. A característica principal do tipo ideal é não existir na realidade, mas servir de modelo para a análise e compreensão de casos concretos, realmente existentes” (LAKATOS; MARCONI, 2001, p. 109). Exemplo de Método Tipológico: Estudo de todos os tipos de governo democrático, do presente e do passado, para estabelecer as características típicas ideais da democracia. Fonte: Disponível em: <https://goo.gl/BUVmoS>. Acesso em: 22 fev. 2018. Funcionalista Utilizado pelo antropólogo Bronislaw Malinowski, “o método funcionalista estuda a sociedade do ponto de vista da função de suas unidades, isto é, como um sistema organizado de atividades” (LAKATOS; MARCONI, 2001, p. 110). Exemplo do Método Funcionalista: Análise das principais diferenciações de funções que devem existir num pequeno grupo isolado, para que o mesmo sobreviva; averiguação da função dos usos e costumes no sentido de assegurar a identidade cultural de um grupo. FONTE: Disponível em: <https://goo.gl/DVT2WH>. Acesso em: 22 fev. 2018. Estruturalista Desenvolvido por Lévi-Strauss. O método parte da investigação de um fenômeno concreto, eleva-se a seguir ao nível do abstrato, por intermédio da constituição de um modelo que represente o objeto de estudo, retornando por fim ao concreto, dessa vez como uma realidade estruturada e relacionada com a experiência do sujeito social. [...] o método estruturalista caminha do concreto para o abstrato e vice-versa, dispondo, na segunda etapa, de um modelo para analisar a realidade concreta dos diversos fenômenos” (p. 111). Exemplo do Método Estruturalista: Estudo das relações sociais e a posição que estas determinam para os indivíduos e os grupos, com a finalidade de construir um modelo que passa a retratar a estrutura social onde ocorrem tais relações. FONTE: Disponível em: <https://goo.gl/UJkDEM>. Acesso em: 22 fev. 2018. FONTE: Lakatos e Marconi (2001) TÓPICO 1 | O OLHAR DA SOCIOLOGIA SOBRE SOCIEDADE, ESCOLA E EDUCAÇÃO 15 Vale indicar outra distinção importante para as Ciências Sociais, no tocante ao aspecto metodológico. Trata-se do enfoque de uma pesquisa. Como dissemos, uma investigação na área da Ciência Política parte de um método mais geral, a sua abordagem. E para a realização da pesquisa, existe uma outra diferenciação que implica escolhas na definição dos métodos de procedimento. Esses enfoques são o quantitativo e o qualitativo. Segundo a pesquisadora Maria Cecília de Souza Minayo (2001), a pesquisa qualitativa “responde a questões muito particulares”. Se interessa pelo que não pode ser reduzido a quantidades. Aborda a qualidade dos fenômenos, trabalhando o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. Este enfoque “aprofunda-se no mundo dos significados das ações e relações humanas, um lado não perceptível e não captável em equações, médias e estatísticas (MINAYO, p. 22-23). A pesquisa quantitativa se interessa mais pela quantidade. Para João José Saraiva da Fonseca (2002), os resultados da pesquisa quantitativa podem ser quantificados. Trabalha-se com amostras grandes e consideradas representativas da população, “os resultados são tomados como se constituíssem um retrato real de toda a população alvo da pesquisa” (FONSECA, 2002, p. 20). Tem interesse na objetividade. Influenciada pelo positivismo, considera que a realidade só pode ser compreendida com base na análise de dados brutos, recolhidos com o auxílio de instrumentos padronizados e neutros (FONSECA, 2002). Para finalizar, indicamos a reflexão de Anthony Giddens (2004) a respeito dessa falta de homogeneidade na Sociologia. Ele argumenta que essa falta de unidade e sua imagem caótica não depõem contra a Sociologia, que se ocupa dos indivíduos em sociedades. Pelas características do objeto da Sociologia, a lógica das ciências naturais impede uma perspectiva mais ampla e, também, mais restrita dos fenômenos sociais. Sendo o comportamento humano multifacetado, é bastante improvável que fosse entendido em suas dinâmicas tomando apenas um único tipo de análise. Da mesma forma, a variedade de visões sociológicas estimula a capacidade imaginativa que é essencial ao trabalho do sociólogo. Outro desdobramento positivo desta variedade é a reflexão constante dos dilemas teóricos elementares do seu objeto. 4 ESCOLA E EDUCAÇÃO COMO CAMPOS DA SOCIOLOGIA Prezado acadêmico! Considerando o exposto no tópico anterior, vamos buscar compreender as relações estabelecidas entre a Sociologia e a educação considerando tanto a educação como a escola como campos de estudo. UNIDADE 1 | RELAÇÕES ENTRE SOCIOLOGIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO 16 Inicialmente, vamos relembrar que o objetivo da Sociologia reside na compreensão das relações sociais, e as possibilidades de realizar tal tarefa podem partir de análises micro ou macro. Por essa razão, vamos nos deparar com diferentes caminhos para analisar as relações entre escola, educação e sociedade. Em alguns desses caminhos, autores procuram partir de fenômenos sociais específicos para compreender as relações sociais, e em outros casos buscam compreender a influência exercida pela sociedade em relações específicas. Tendo em vista essas característicasdas análises sociais, nos deparamos aqui com dois campos de estudo da Sociologia: escola e educação. Como a sociedade é formada por um emaranhado de relações sociais – incluindo interações e disputas –, é fundamental que ao refletir sobre a educação e escola como campos de estudo, fiquemos atentos para não reduzir essas categorias a espaços isolados. Não podemos colocá-los em caixinhas fechadas sem receber e/ou exercer influência em relação às demais relações sociais, mas sim buscar compreendê-los como elementos integrantes da sociedade e que exercem grande influência em nossas vidas. Nesse contexto, muitos estudos da Sociologia da Educação recorrem ao conceito de reprodução social para dar conta das dinâmicas referentes à escola e à educação. Por reprodução social entendemos os meios pelos quais são produzidas e reproduzidas as relações sociais. Em outras palavras, a reprodução social representa a forma pela qual a sociedade reproduz as relações que mantêm as estruturas sociais já existentes. A escola contribui para a reprodução social na medida em que são compartilhados conteúdos, normas e valores que permitem a inserção do indivíduo na vida em sociedade, e, ao fazer isso, reproduz os papéis, hierarquias e desigualdades presentes na estrutura social. A reprodução social merece atenção nesse momento, pois os trabalhos desenvolvidos nesse sentido marcaram o início da produção sistemática de conhecimento no campo da Sociologia da Educação. É importante considerar, ao vislumbrar escola e educação como campos da sociologia, o reconhecimento dos esforços, especialmente a partir do século XX, que levaram sociólogos como Pierre Bourdieu a compreender o domínio da escola nas relações que configuram a reprodução social. Esses estudos identificaram como a reprodução social nas escolas foi fundamental para a compreensão dos processos de socialização dos jovens (SPOSITO, 2003). IMPORTANT E TÓPICO 1 | O OLHAR DA SOCIOLOGIA SOBRE SOCIEDADE, ESCOLA E EDUCAÇÃO 17 Prezado acadêmico! Você já parou para pensar na influência que a educação exerce sobre sua vida? Nas diferentes possibilidades de aprender e ensinar com as quais você teve contato ao longo de sua história? Na relevância do papel desempenhado pelas escolas que você frequentou ao longo de sua vida escolar? Ou ainda, na relevância da educação e da escola para a sociedade? Como descrevemos até o momento, essas questões e outras tantas fazem parte das reflexões acadêmicas que buscam analisar as múltiplas relações sociais que influenciam e que exercem influência sobre a educação. Sobre a educação como processo de socialização e sobre a educação escolar. É importante levar em consideração que a educação, inicialmente relacionada à escola, se desenvolve em outros espaços sociais. Ocorre ao longo de nossa vida, afinal estamos sempre aprendendo e, especialmente com as crianças, ocorre em todo momento em que elas, em contato com outros sujeitos, incorporam padrões de comportamento. Outros pontos importantes para compreender a escola e a educação como campos da Sociologia: a educação difere no tempo e no espaço e a educação representa os esforços para a socialização das gerações futuras. Quando nos referimos às diversas representações de educação, afirmamos que, ao longo da história, observamos diferentes processos ligados à educação, da mesma forma que em diferentes sociedades também observamos diferentes formas de educar. Além disso, podemos identificar diferentes formas de educar dentro de uma sociedade. Em outras palavras: não existe uma única educação. Contudo, devemos destacar uma característica comum nas formas de educação: todas buscam moldar o indivíduo para os padrões sociais vigentes. A concepção da educação como socialização remete à noção do sujeito como ser social. Nesse sentido, é através da educação que nos submetemos às regras, hierarquias e padrões sociais para viver em grupo (PILETTI, 2004). Na próxima unidade esses temas serão abordados de forma mais detalhada a partir dos estudos das teorias de Pierre Bourdieu sobre a educação. Na próxima unidade, esses temas serão abordados de forma mais detalhada a partir dos estudos das teorias de Émile Durkheim sobre a educação, bem como das diversas teorias desenvolvidas no âmbito das Ciências Sociais, que nos auxiliam na compreensão da educação em nossa sociedade. ESTUDOS FU TUROS ESTUDOS FU TUROS UNIDADE 1 | RELAÇÕES ENTRE SOCIOLOGIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO 18 É possível sintetizar os esforços para a compreensão da educação em nossa sociedade – sem ambição de abranger a totalidade – diferenciando as abordagens clássicas e as abordagens contemporâneas. Nas abordagens tradicionais da Sociologia da Educação, a escola e a família são responsáveis pela integração do indivíduo à sociedade e, por esta razão, a socialização possui centralidade. Já nas análises contemporâneas, a centralidade muda de foco para a integração de normas e culturas dominantes e para outras funções da escola, como os processos de seleção e aprendizagem (BARRÉRE; SEMBEL, 2006). Mesmo não havendo uma única forma de educar, a educação escolar é fundamental para a concretização do processo de socialização e para a conformação dos padrões sociais. Por esta razão, a escola é um espaço importante para o desenvolvimento de tal tarefa. Nesse contexto, é natural questionar o papel da escola e suas representações na sociedade, como podemos observar na tirinha da personagem Mafalda: FIGURA 2 - REFLEXÃO SOBRE O PAPEL DA ESCOLA FONTE: Disponível em: <http://1.bp.blogspot.com/_PFSjpW_RCHU/THUwN3EKM5I/ AAAAAAAAAD8/JlQFtCskRhw/s1600/MAFA.jpg>. Acesso em: 22 jan. 2018. TÓPICO 1 | O OLHAR DA SOCIOLOGIA SOBRE SOCIEDADE, ESCOLA E EDUCAÇÃO 19 Outra possibilidade de distinguir os trabalhos resultantes dos estudos da Sociologia da Educação são as categorias de análise: a escola como categoria analítica e a escola como unidade empírica. Essa diferenciação é importante para compreendermos que o estudo sociológico da escola possui relevância mesmo quando não é objeto de estudo empírico. E também é importante considerar a influência dos fatores externos nas escolas quando ela se torna unidade empírica de um estudo (SPOSITO, 2003). As diferentes funções da escola também merecem nossa atenção: A escola, como uma das instituições mais importantes do contexto social, carrega importantes funções, dentre as quais podemos destacar a política, organizacional e formativa, pois cabe a essa instituição o papel de educar os cidadãos. Isto significa dizer que o projeto educacional de uma escola deve visar, dentre outros objetivos, transmitir o conjunto de valores de uma determinada cultura. Isso possibilita uma coesão e sincronia entre os indivíduos de uma sociedade de modo a haver um consenso no julgamento moral das ações cotidianas (ROBLE, 2008, p. 17). Aqui resgatamos o reconhecimento de que na escola se desenvolvem dois processos fundamentais para a sociedade, o compartilhamento dos saberes acumulados através das gerações, especialmente na expectativa da inclusão futura no mercado de trabalho, e a formação de um espaço de convivência com outros indivíduos. Além disso, a escola é uma instituição que regula a vida coletiva. A escola, por exemplo, além de ser um espaço da teoria e da prática pedagógica, é, antes, um local de convivência coletiva. Assim, até mesmo essas teorias e práticas pedagógicas precisam compreender as bases das relações entre os homens para poder melhor orientar as ações referentes ao cotidiano escolar (ROBLE, 2008, p. 7). O espaço da convivência pública se dá na escola. É na escola que se desenrola grande parte de nossas lembranças da infância, isto porque nosso primeiro contato com a sociedade sem o amparo de nossa família se dá na escola. Enquanto na família, esfera privada, contamos com o apoio e aceitação, na escola, esfera pública, percebemos que é necessário formar nossos espaços e a viver em conjunto, bem como compreendemosque precisamos interagir com a hierarquia social já estabelecida (ROBLE, 2008). Prezado acadêmico! Vale aqui atentar para os conceitos de esfera pública e privada. Assim como outros conceitos sociológicos, as noções de público e privado recebem contornos diferentes de acordo com as interpretações de diferentes autores, porém, de maneira geral, a noção de esfera privada diz respeito a espaços de interação restritos e de certa liberdade, por exemplo, o espaço da casa e as relações familiares, como também a noção de trabalho e empresas com fins lucrativos no âmbito do capitalismo. Já a noção de público remete à variedade de interações sociais, como as relações estabelecidas na escola, na política e com o Estado. UNIDADE 1 | RELAÇÕES ENTRE SOCIOLOGIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO 20 A escola, entendida como espaço físico institucionalizado para a educação formal, também é espaço da educação informal e da educação não formal. E como podem se desenvolver ações de educação não formal nas escolas? Através das formas institucionalizadas de participação, como conselhos, fóruns e assembleias. No Brasil, essas instâncias de participação ainda são pouco articuladas. Na maioria das vezes, organizadas pela gestão da escola, que elabora pautas, agenda as reuniões etc. Então como, nesse contexto, ocorre a educação não formal? O caráter educativo que essa participação adquire, quando ela ocorre em movimentos sociais comunitários, organizados em função de causas públicas, prepara os indivíduos para atuarem como representantes da sociedade civil organizada. E os colegiados escolares são uma dessas instâncias (GOHN, 2006, p. 33). Dessa forma, entendemos como educação formal as atividades educacionais desenvolvidas no contexto do sistema educacional – desde a Educação Infantil ao Ensino Superior – submetidas à legislação vigente e desenvolvidas no âmbito das políticas públicas educacionais. Já a educação não formal remete a outros processos de socialização que ocorrem, por exemplo, na família, onde são socializadas normas, valores e aspectos culturais fundamentais para a vida em sociedade. Para compreender e/ou relembrar as noções de público e privado na teoria sociológica, leia o artigo: “Esfera pública e esfera privada: uma comparação entre Hannah Arendt e Jürgen Habermas”, de Lucas Correia Carvalho. Resumo: Este artigo discute e compara as noções de esfera privada e esfera pública em Hannah Arendt e Jürgen Habermas, tomando como base as concepções de práxis política e ação comunicativa, respectivamente. Nesse sentido, os diferentes diagnósticos dos autores referentes à esfera pública na sociedade contemporânea, “declínio” para Arendt e “mudança estrutural” para Habermas, indicam, simultaneamente a esse processo, a interferência de uma racionalidade técnica de adequação meio e fins na práxis política e na ação comunicativa. FONTE: CARVALHO, Lucas Correia. Esfera pública e esfera privada: uma comparação entre Hannah Arendt e Jürgen Habermas. Revista Habitus: revista eletrônica dos alunos de graduação em Ciências Sociais – IFCS/UFRJ, Rio de Janeiro, v. 6, n. 1, p. 38-52, dez. 2008. Semestral. Disponível em: http://www.habitus.ifcs.ufrj.br/. Acesso em: 14 fev. 2018. DICAS TÓPICO 1 | O OLHAR DA SOCIOLOGIA SOBRE SOCIEDADE, ESCOLA E EDUCAÇÃO 21 Como vimos até aqui, a escola e a educação são campos de estudo da Sociologia e as análises desenvolvidas nesses trabalhos contribuem para ampliar nossa reflexão a respeito das relações entre educação e sociedade. Os questionamentos levantados são variados e dizem respeito desde questões mais amplas até questões específicas das formas de socialização e do cotidiano escolar. Bem como, questionam o papel da educação para a manutenção ou transformação da estrutura social. Para conhecer mais sobre as discussões realizadas a partir das noções de educação formal e não formal, leia o artigo intitulado “O papel da educação formal e informal: educação na escola e na sociedade”, de Rosane Kloh Biesdorf. Resumo: A educação informal sempre ocupou um papel fundamental na sociedade, é ela que norteia o bom relacionamento entre os indivíduos. Já a educação formal possui a função de preparar o educando para atuar efetivamente junto à sociedade, para tanto oferece o conhecimento científico. Na atualidade, percebe-se que a educação informal parece pouco importar, a família está deixando que a escola eduque os seus filhos, já a escola está limitada e não preparada para esta função. O educador está preparado apenas para atuar no processo de ensino-aprendizagem, quando este se depara com atos de indisciplina em sala de aula, sente-se limitado, e seu trabalho é fortemente prejudicado. Educandos, com problemas de relacionamento e indisciplina em sala de aula, são frutos de uma sociedade onde a família está repassando à escola o papel de educar, estabelecer limites, já a escola não está preparada e não possui autoridade para tal ato. Fonte: BIESDORF, Rosane Kloh. O papel da educação formal e informal: educação na escola e na sociedade. Itinerarius Reflectionis, [S.l.], v. 7, n. 2, p. DOI 10.5216/rir.v1i10.1148, ago. 2011. ISSN 1807- 9342. Disponível em: <https://www.revistas.ufg.br/rir/article/view/20432>. Acesso em: 14 fev. 2018. Entre os muros da escola (2009) – Direção: Laurent Cantet François Marin (François Bégaudeau) trabalha como professor de língua francesa em uma escola de Ensino Médio, localizada na periferia de Paris. Ele e seus colegas de ensino buscam apoio mútuo na difícil tarefa de fazer com que os alunos aprendam algo ao longo do ano letivo. François busca estimular seus alunos, mas o descaso e a falta de educação são grandes complicadores. FONTE: Disponível em: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-58151/>. Acesso em: 23 jan. 2018. Escritores da liberdade (2007) – Direção: Richard La Gravenese Uma jovem e idealista professora chega a uma escola de um bairro pobre, que está corrompida pela agressividade e violência. Os alunos se mostram rebeldes e sem vontade de aprender, e há entre eles uma constante tensão racial. Assim, para fazer com que os alunos aprendam e também falem mais de suas complicadas vidas, a professora Gruwell (Hilary Swank) lança mão de métodos diferentes de ensino. Aos poucos, os alunos vão retomando a confiança em si mesmos, aceitando mais o conhecimento, e reconhecendo valores como a tolerância e o respeito ao próximo. DICAS DICAS UNIDADE 1 | RELAÇÕES ENTRE SOCIOLOGIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO 22 Escola [...] Vamos tentar entrar nessa instituição e analisar como se dão – em alguns casos, como deveriam ser – as relações entre os públicos escolares e as comunidades que a escola atende. Em alguns momentos veremos nela mais que ensino e instrução. Veremos educação, no sentido atribuído por Durkheim: uma geração adulta efetivamente educando novas gerações para o trabalho e para a vida. Em outros momentos veremos muita instrução e ensino, mas pouca educação. Em outros veremos omissão e em outros, ainda, pura e simplesmente deseducação. Ou alguém acha que pode ser chamada de instituição educacional uma escola que vende diplomas? Primeiramente, vamos olhar para a escola e entendê-la em suas relações de trabalho. Posteriormente, vamos olhar para o os públicos escolares e como se dão as relações entre eles e entre eles e a sociedade mais ampla. Por último, perguntaremos pelo lugar da escola na estrutura social e dos profissionais do ensino na educação, isto é, como a escola constitui ou não uma instância educadora e como os professores se constituem – ou deveriam se constituir – como mediadores culturais na escola. Você trabalha ou estuda? Observe como, de modo geral, as pessoas se referem à escola em relação ao trabalho. Certamente você mesmo já perguntou a alguém ou alguém já perguntou a você: “você trabalha ou só estuda?” Pode ser que, em resposta, você possa dizer que só “trabalha” ou só “estuda”. Pode ser, também, que você diga que o batente é mais pesado: “trabalha”e “estuda”. É até possível que você conheça aquela pergunta de gosto mais que duvidoso que circula amplamente em tom de brincadeira séria: “a sua mãe não trabalha, só dá aulas?” É curioso como o senso comum formulou entre nós uma concepção de “estudo” como não trabalho, o que não é difícil entender. A palavra “trabalho’ vem do latim vulgar trípãlíãre, que é o mesmo que torturar com o trípãlíum, que quer dizer instrumento de tortura. O sentido original da palavra “trabalho”, portanto, diz respeito ao sofrimento, ao castigo, à tortura. Mas nós encontramos Merlí (2015) – Criado por Héctor Lozano (2015). Merlí Bergeron (Francesc Orella) é um professor de filosofia nada convencional, que precisa reorganizar sua vida pessoal enquanto tenta de todas as formas mostrar para as pessoas a importância da filosofia. Para alguns parentes e colegas de trabalho, no entanto, ele é motivo de escândalo. Para seus alunos e seu filho gay, Merlí é uma inspiração. LEITURA COMPLEMENTAR TÓPICO 1 | O OLHAR DA SOCIOLOGIA SOBRE SOCIEDADE, ESCOLA E EDUCAÇÃO 23 essa visão de trabalho como sofrimento e castigo também na matriz religiosa da cultura judaico-cristã. Afinal, não está nas Sagradas Escrituras a descrição de que Deus, por punição ou pelo pecado, condenou sua criatura a ganhar o pão com o suor do próprio rosto? Já a palavra “escola” vulgarmente conhecida como lugar onde se “estuda”, tem sentido bem diferente. Originária do latim schola, que por sua vez deriva do grego scholé, escola significava ócio dedicado ao estudo, ocupação literária. Ou seja, somente podia ir para a escola ou dedicar-se ao cultivo do espírito quem fosse ocioso, isto é, aquele que estivesse livre do trípãlíum. O tempo passou e a concepção de “trabalho” mudou radicalmente. Do sentido original de sofrimento e castigo ficou a crítica marxista à forma alienada de trabalho no sistema capitalista. Foi com a ética calvinista, a partir da Reforma Protestante, no século XVI, que começou a haver um deslocamento do sentido original de punição e tortura para uma concepção de trabalho como vocação, esforço e recompensa. Para os calvinistas, a recompensa do trabalho incessante e da riqueza acumulada pelo trabalho era o Reino dos Céus. O trabalho, dizia Calvino, dignifica e enobrece o homem, e o resultado do trabalho bem realizado poderia ser indício de manifestação da graça divina. Ao trabalho, portanto, porque o ócio é o maior dos pecados! Entretanto, apesar de a escola moderna ter nascido temporaneamente à afirmação do calvinismo na Europa, de essa escola ter se constituído como um espaço de disciplina, organização e método, ela não se livrou do entendimento original de lugar do ócio, o avesso do trabalho. Entre nós essa imagem é ainda muito forte, inclusive porque até recentemente a escola era lugar apenas daqueles que não precisavam investir grande parte do seu tempo na provisão de subsistência e porque é frágil a nossa herança calvinista. Quais são as implicações disso? Em primeiro lugar, deve-se ter clareza de que os exercícios de reflexão, produção e sistematização e conhecimento são trabalho, e trabalho pesado, trabalho intelectual-braçal! Como ainda é frágil essa percepção, prevalece entre nós uma sumária desvalorização do trabalho pedagógico como trabalho intelectual produtivo. Podemos observar que há um paradoxo no debate sobre a educação e escola no Brasil manifesto num amplo discurso que diz valorizar a educação como instrumento fundamental de reconstrução social, mas num contexto de intensa precarização das condições de trabalho docente, de desvalorização do professor como profissional da educação, de uma cultura escolar assentada na concepção de magistério como sacerdócio, tudo isso combinado com um brutal estado de desigualdades sociais e econômicas. Em segundo lugar, é preciso desvincular a produção de conhecimento dos usos imediatos que dele são feitos. É forte entre nós uma visão impregnada de um pragmatismo mecanicista que não vê sentido em se ocupar com questões que não se ligam ao imediatamente vivido. No mundo das sociedades sem escolas a educação está voltada para o atendimento das necessidades imediatas, mas as UNIDADE 1 | RELAÇÕES ENTRE SOCIOLOGIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO 24 sociedades modernas exigem mais que a solução de problemas imediatos. Quanto maior o espaço de mobilidade geográfica (trânsito entre ambientes diferentes) e de mobilidade social (trânsito entre diferentes esferas sociais), menor é o domínio do tipo de questão que cada qual vai enfrentar logo adiante. No mundo globalizado, esses problemas estão sempre se renovando e a reflexão sistemática é a única forma de se preparar para enfrentá-los. Nesse contexto, a produção e sistematização de conhecimento não podem ficar restritas às necessidades imediatas, o que resultaria inevitavelmente no seu empobrecimento, reduzido a mera informação mercadológica, instrumento utilitário das ações conjunturais. Em terceiro lugar, é forçoso reconhecer que o trabalho é ação e reflexão sobre a natureza e sobre nós mesmos. Ora concentramos os componentes do trabalho nas atividades físicas e mecânicas, ora os concentramos nos elementos intelectuais, ou ainda, acumulamos as duas dimensões do trabalho. Não se pode diminuir a importância do trabalho intelectual para o entendimento das complexas teias de relações que se estabelecem no mundo moderno. Compreender essas teias não é apenas entender como as ideias se relacionam, mas sobretudo entender qual é o mundo do qual essas ideias brotam e como elas podem ou não exercer influências nele. FONTE: SOUZA, João Valdir Alves de. Introdução à sociologia da educação. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2015. 25 Nesse tópico você estudou que: • A Sociologia é um dos campos das Ciências Sociais. • A Sociologia se ocupa de pensar e refletir sobre as relações sociais e as maneiras de interação, associação, conflito e mudança nas sociedades e entre os indivíduos. Ela é um olhar científico, metodológico e relacional a respeito da dimensão social dos grupos humanos. • Para realizar suas investigações, a Sociologia emprega métodos científicos, voltados a delimitar o interesse do sociólogo e do seu objeto de pesquisa. Isso implica em distinguir a natureza do conhecimento sociológico do senso comum. • Escola e educação são campos da Sociologia, porém não podem ser considerados isoladamente. É necessário compreender a influência da educação e da escola na formação dos indivíduos e na estrutura social e as influências dos fatores externos sobre a escola e a educação. • A escola representa o espaço mais comum da educação, porém não é o único. A educação está presente em outros espaços sociais, nas diferentes formas de socialização. • A educação pode ser analisada através de teorias tradicionais com foco na socialização e através das teorias tradicionais com foco na socialização, e através das teorias contemporâneas com a incorporação de discussões acerca da integração de normas e culturas e das funções da escola. • A escola pode ser entendida como categoria analítica ou como unidade empírica. Essa diferenciação é fundamental para atender à relevância do estudo sociológico da escola. RESUMO DO TÓPICO 1 26 1 A afirmação “não existe uma única educação” remete à compreensão da diversidade de atores e processos envolvidos na educação. Além disso, remete à compreensão da diversidade da educação em diferentes tempos e espaços. Partindo desse princípio, assinale a alternativa correta: a) ( ) As diferentes formas de educação têm em comum a formação do indivíduo para se adequar à sociedade. b) ( ) Cada período histórico é representado por diferentes objetivos e padrões estabelecidos através da educação. c) ( ) O objetivo da educação varia em cada sociedade, porém as formas de educar se repetem. d) ( ) A noção de socialização representa uma categoria analítica oposta à de educação em todas as sociedades. 2 A escola é considerada uma das instituiçõesde maior relevância na sociedade, pois apresenta funções política, organizacional e formativa e recai sobre ela a responsabilidade de educar os cidadãos para a vida em sociedade através da transmissão do conjunto de valores de uma determinada cultura. Considerando esse contexto, assinale as sentenças com V para verdadeiras e F para falsas: ( ) A transmissão de valores contribuiu para a coesão e sincronia dos indivíduos na sociedade. ( ) Ao educar os cidadãos, a escola se concentra na formação para o mercado de trabalho, deixando outras relações em segundo plano. ( ) Através das ações desenvolvidas na escola é formado um consenso coletivo para o julgamento de questões morais. ( ) A escola é espaço da teoria e da prática pedagógica e também um local da convivência coletiva. Agora assinale a alternativa que representa a alternativa correta: a) ( ) F – F – V – F. b) ( ) V – F – V – V. c) ( ) F – V – F – F. d) ( ) V – V – F – V. 3 A produção do conhecimento sociológico exige o emprego de métodos científicos. Uma das primeiras tarefas no processo de investigação é definir e delimitar o problema sociológico. Este, por sua vez, não se confunde com um problema social. Em relação a essa discussão, associe os itens, utilizando o código a seguir: AUTOATIVIDADE 27 I – Problema sociológico. II – Problema social. ( ) Diz respeito a uma estratégia, delimitando um fio condutor que permite a progressão das etapas exigidas pela investigação científica. ( ) Diz respeito menos ao objetivo de encontrar soluções para os problemas do que a questão dos resultados planejados e produzidos. ( ) Diz respeito a um esforço ou trabalho social de construção coletiva voltada a chamar a atenção de autoridades e atores sociais de uma comunidade. Agora, assinale a sequência que apresenta a alternativa CORRETA: a) ( ) II, I e II. b) ( ) I, I e II. c) ( ) I, II e I. d) ( ) II, II e I. 28 29 TÓPICO 2 AS CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO O segundo tópico será dedicado à apresentação dos caminhos percorridos pela Sociologia da Educação como campo do saber. Nossa ambição, nesse material, é apresentar a você, prezado acadêmico, enfoques teóricos, partindo da Sociologia da Educação que contribuam para a sua formação acadêmica e futura atuação profissional. Por esta razão, apresentaremos o cenário das investigações no âmbito da educação e algumas teorias que contribuíram para a formação desse campo do saber. 2 A SOCIOLOGIA E A SOCIEDADE Aquilo que se concebe como sociedade depende do tipo de abordagem e enfoque sociológico. Já comentamos que esta ciência não possui uma unidade teórica, nem mesmo metodológica. Seria possível, até mesmo, falar em sociologias, no plural. Isso resultou em conceitos e destaques diferenciados para caracterizar a sociedade. Do ponto de vista da Sociologia clássica, o papel da sociedade está em direta relação com outra categoria elementar: a de indivíduo. De certa forma, essa discussão sobre a força da sociedade ou do indivíduo foi e ainda é um dos motores da Sociologia. Trata-se de uma discussão complexa, representando um dos aspectos mais importantes da Sociologia. Em relação a esta dicotomia, segundo a Sociologia pioneira, podemos indicar a existência de duas maneiras iniciais de perceber a sociedade: uma perspectiva holista e outra, individualista. Na primeira, encontramos autores como Auguste Comte, Émile Durkheim e Karl Marx; na segunda, o exemplo é Max Weber. Mas, o que significam estes dois termos? Primeiro, eles representam dois paradigmas. O que significa isso? UNIDADE 1 | RELAÇÕES ENTRE SOCIOLOGIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO 30 Desta explicação inicial, voltamos à questão do que é a sociedade para a Sociologia clássica. Tomando esses paradigmas, podemos indicar que para Durkheim, Comte e Marx, a sociedade prevalecia sobre o indivíduo. Para Weber, no entanto, o indivíduo teria um papel ativo, percebido a partir de um enfoque individualista em que a sociedade se relacionava com os indivíduos, mas estes não eram “invisíveis”. Vamos explicar mais detalhadamente. Trata-se do paradigma holista. O paradigma holista Auguste Comte (1798-1857) percebia a sociedade a partir de um modelo mecânico, em que as partes dessa mecânica se encaixam e permitem o seu funcionamento. Mas uma forma mais adequada seria a de pensar a sociedade como um organismo que pode tanto ser saudável como doente. A articulação funcional dessas partes interdependentes é o que determinaria a saúde-doença das sociedades. Elas seriam constituídas por núcleos permanentes, como a família e a propriedade, que devem promover o progresso. Entender racionalmente a sociedade implicava, na perspectiva positivista, apontar intervenções ou reformas sociais para a boa saúde do organismo ‘sociedade’. A Sociologia deveria apontar soluções para os dilemas e problemas sociais que afetavam a funcionalidade e a ordem das sociedades, que levariam à desordem, ao conflito e revolução. A Sociologia daquela época tinha uma função mais ideológica ou intervencionista. Auguste Comte pensou a aplicação dos conhecimentos positivos na resolução de conflitos e na reorganização e reforma das sociedades. A ideia da Sociologia comteana era de intervenção social. A imagem de uma sociedade em transformação levou Comte a indicar, através de sua reflexão, formas para superar tais problemas e reorganizar a sociedade. Ele procurou conciliar, em sua proposta política de reforma social, elementos da política conservadora, como a defesa da ordem, e da corrente liberal ou progressista, como a necessidade de progresso (MARCONDES; JAPIASSU, 2001). Um paradigma é uma categoria que nos auxilia a pensar a história e as dinâmicas da ciência. De acordo com um dos conceitos mais conhecidos, elaborado por Thomas Kuhn, ele pode ser entendido como tipos de “realizações científicas universalmente reconhecidas que, por um certo tempo, fornecem problemas e soluções-modelo para uma comunidade de profissionais” (KUHN, 1997, p. 13). Noutras palavras, os paradigmas científicos representam modelos que se tornaram referências básicas no interior de um campo da ciência. Por este caminho, o holismo e o individualismo metodológico representaram modelos para a produção do conhecimento sociológico (KUHN, 1997). DICAS TÓPICO 2 | AS CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO 31 Para dar conta dessa complexidade, Comte dividiu a Sociologia em dois campos de estudo: a estática e a dinâmica social. - A sociologia da estática social se debruça sobre a ordem e a coesão das sociedades. Procura investigar aquilo que mantém as sociedades unidas. Se interessa pelo estudo do consenso social, apontando os elementos que o determinam. - A sociologia das dinâmicas sociais se volta para as mudanças e os progressos sociais em torno das leis gerais das sociedades. Se volta para as diversas etapas do desenvolvimento histórico, voltando-se para as causas das mudanças sociais (COMTE, 1988). Émile Durkheim (1858-1917) foi influenciado por ideias de Comte e de sua filosofia positivista. A partir de sua sociologia, como Durkheim entendia o indivíduo e a sociedade? A pergunta que Durkheim tenta responder é sobre como é possível a sociedade? Para nos debruçarmos na sua obra e ideia de método sociológico, devemos entender que o indivíduo só pode ser explicado pela sua inserção numa sociedade. E esta prescinde do indivíduo, já que quando este nasce encontra a sociedade "pronta". Ou, conforme ressaltou Raymond Aron (1999, p. 464), "[...] o indivíduo nasce da sociedade, e não a sociedade nasce do indivíduo”. O indivíduo perde-se no interior dessa totalidade social. Ela antecede e é independente do indivíduo. A sociedade pode ser percebida como um grande organismo social que deve funcionar corretamente. Esta ideia de organismo mostra o impacto das ciências naturais no vocabulário e linguagem da Sociologia naquele período do século XIX e início do XX. Da mesma forma, as sociedades eram
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