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11.5 Comparação da Distribuição Rel~tiva de Receitas e Despesas
Fiscais em Relação ao produto Regional (Ver 11.4) . 644
44
1 .
Espaço, Regiões
e Economia Regional
Corlos Maurício de C. Ferreira
1.1. INTRODUÇÃO
Para se compreenderem os propósitos e o lugar ocupado pela Econo-
mia Regional nos estudos econômicos e no âmbito da teoria econômica
~ ral, é necessária uma introdução conceitual que esclareça o conteúdo
I,s categorias básicas de análise desse ramo da economia, tais como "espa-
ç , economia espacial" e "economia regional". Esses conceitos se consoli-
daram, particularmente, na década de 1950.
Alguns aspectos da análise espacial merecem destaque para que possa-
mos melhor entender sua importância e suas limitações. Por isso discutir-
~ r-ã, posteriormente, o descaso dos economistas clássicos pelas contri-
huições dos teóricos da Economia Espacial Clássica, já que para eles a
t .mporalidade mostrou ser muito mais básica que a categoria espaço.
A "História" contaria mais que a "Geografia". Mas, a ênfase na tempera-
!idade girava em torno do pressuposto da universalidade das leis econô-
micas clássicas, o que viria a ser negada pela Escola Histórica Alemã,
contestando a incondicionalidade das leis econômicas, quer no espaço,
quer no tempo, elevando o condicionamento geográfico ao nível de impor-
t, ncia do condicionamento histórico. Em suma, as leis econômicas gerais
lt m de ser vistas criticamente e suas aplicações adaptadas à realidade de
l.lda país e às fases históricas em que se encontram.
No exercício desse esforço de avaliação crítica das teorias econômicas
Kl'rais, Wilhelm Roscher e A. Schãffle (PONSARD 26:23), membros da
Escola Histórica Alemã da segunda metade do século XIX, se dedicaram
'numeração dos fatores locacionais peculiares a cada país, em cada época,
que explicariam as vantagens comparativas de um país ou região par"a
que ali se localizassem atividades produtivas.
45
Em fins do século XIX e início do século XX consolidam-se a tradição
e liderança germânicas nas teorias da economia espac~~l, cu!._asidéias se~i-
nais já haviam sido, firmemente, lançadas por Von Th~nen.'· ~ a.leenfatlzar
que, ao lado da discussão da relevância .das ,~ategonas anal\tl~as ~spaço
e tempo, surge/uma outra que, no plano Clentlf1~o, assume ~ maior I,m~or-
tância, ou seja, o conteúdo doutrinário e ideológico das teorias e.cono~lIcas
em geral, inclusive as teorias da Economia EspaciaL ~ssa d_Iscussao s.e
estende aos dias atuais em um processo constante de modlÍlcaçoes e re.defi-
nições nas categorias espaço e região, em direção a uma ciência regional
de cunho holístico e interdisciplinar.
A História das Doutrinas Econômicas revela que a preeminência ingl~-
sa, no início do século XIX, levou seus principais teórico~ da Economl.a
à formulação de "leis" econômicas que, enfim, consubstanclavam as co~dl-
ções sociais, políticas e institucionais da Inglater:a, bem .como refletla~
os interesses desse país no campo econômico. E a partir d.a pe~cepçao
desses condicionamentos que os autores alemães da Escola Hlstónca c~n-
testam os fundamentos teóricos dos clássicos ingleses. A po ição de vários
desses autores alemães refletia as reações da Alemanha dependente, subde-
senvolvida, agrária e feudal, bem como política, social c cconon:icamente
dividida, do século XIX. Remontando-se à época de Von Thune?, nos
fins do século XVIII e início do século XIX, não se podem descons.ld:rar,
também as influências que as idéias dos cameralistas c dos SOCialistas
utópico; exerceram sobre ele ao lado da.s de Adam ~mith. " .
O aprofundamento da análise crítica das teo~la: e~onomlcas gerais
e daquelas que enfatizam as conseqüências das dlstan~las, do custo ~e
transporte, da localização geográfica e da conc~ntraçao, e ~glomera?a?
das atividades no espaço geográfico, como as reorras economl.cas .espaClais
e regionais, converge, na atualidade, para as questõe_s e~trutur~ls e lnerent~s
à organização capitalista de produção: a conce~traçao lndus~nal, a c~ntrah-
zação do capital nas mãos de um número :e.duzido de c~plt.ahsta , a co?cen-
tração e aglomeração geográficas das atividades econom~cas, as des~g~~l-
dades na distribuição pessoal e regional da renda e da nque~a., a div~sao
social e a discriminação da classe trabalhadora e estamentos sociais marg1l1a-
lizados do capitalismo, a concorrência intercapitalista e o progresso tecno-
lógico como forma de dominação etc. .' .
O descaso com os aspectos espaciais das teorias economlcas, c.om
o planejamento regional e com as conseqü~ncias regionais das políticas
macroeconômicas é ainda mais grave, devido ao fato de se c?locare~
em segundo plano as questões doutrinárias e ideológicas da Teoria Econo-
':-Veja capítulo 2.
46
11\ i a Espacial. A teoria econômica espacial adiciona às discussões de cunho
'Ininentemente locacionais, outras que Raymond Barre chama de "estru-
(uras de enquadramento" e François Perroux de "instituições": regras
do jogo político, hábitos e gostos dos consumidores, comportamento
1.\5 elites intelectual e financeira, padrões de governo, atitudes da comuni-
d ide, constumes, religião, legislação, organização comunitária e operária
('I '.
A Economia Espacial e a Economia Regional fornecem elementos
ubstanciais para o entendimento dos processos de consolidação das ativi-
ti ides nas regiões. A concentração do capital industrial e a aglomeração
d.lS atividades econômicas em poucas localizações geográficas distribuídas
rrcgularmente representam, de fato, os problemas centrais da Economia
Espacial e Regional, de tal forma que os problemas de desenvolvimento
() io-econômico regional são também problemas de localização.
Neste sentido existem conceitos básicos, fundamentais para a análise,
uvaliação e discussão das teorias e métodos da Economia Regional e dos
processos de planejamento discutidos na próxima seção.
1.2. CONCEITOS
1.2.1. Economia Espacial
Na concepção de HOOVER (14:3-13) a Economia Espacial se refere
.1 análise da questão "o que" está "onde" e "por quê". Cumpre à análise
espacial estudar os tipos específicos de atividades econômicas, suas locali-
znções em relação a outras atividades econômicas, ou seja, questionar
os problemas relativos à proximidade, concentração e dispersão das ativida-
d e às semelhanças ou diferenças dos padrões de distribuição geográfica
dessas atividades. Para se realizar a análise espacial é necessário conven-
ci nar unidades básicas de observação adequadas: a um nível maior de
.\gregação dos pontos do espaço geográfico-político-administrativo de um
11. ís, essas unidades constituem, por exemplo, regiões ou áreas metropo-
lltanas: a nível microgeográfico constituem zonas, áreas e locais específicos.
Na análise espacial são feitas duas distinções essenciais: a análise loca-l~~~ :
cional e a análise regional (FRIEDMAN 8:77). A análise regional - y
ou seja, quando a preocupação é com os agrupamentos ou aglomerações
de atividades econômicas, sociais, políticas e administrativas imer-rela-
.ionados e próximos, dentro de áreas geográficas que constituem subes-
I aços contínuos do espaço nacional- utiliza "recursos analíticos macroe-It
-onôrnic ~;' e métodos e modelos a~~, por exemplo, o~ V
47
multiplicadores de Kahn e Keynesianos de emprego e renda, as contri-
buições das teorias de desenvolvimento de Lewis, Myrdal, Furtado, Kal-
dor, entre várias outras contribuições da Economia. As áreas geográficas
ou subespaços nacionais que constituem o objeto de preocupação da análise
regional são as "regiões econômicas". As regiões ou su bespaços nacionais
contínuos são considerados subsistemas inter-relacionados; assim, admi-
te-se que as regiões não são isoladas umas das outras, influenciando-se
reciprocamente. Neste sentido, a análise econômica inter-regional pressu-
põe fluxos comerciais, financeiros, transferências de mão-de-obra, de capi-
tal e tecnológicas entre as regiões.
A análise regional, por conseguinte, trata de relações estruturais com-
plexas dentro das regiões e entre as regiões, tendo como unidade básicaum conjunto contínuo e contíguo' de pontos do espaço geográfico que
se denomina região. Como veremos, o conceito de região é controvertido
e variado.
fi Se a análise regional investiga padrões locacionais ou a organização
I
das estruturas espaciais, a análise locacional se refere à decisão de "onde
1I localizar-se", dos agentes econômicos (empresas, famflias e decisores go-
ij vernamentais das diversas esferas de governo), relativa a uma unidade
econômica pública ou privada em um espaço geográfico contínuo. Seu
objetivo é pesquisar localizações alternativas em pontos quaisquer do espa-
ço, visando à eficiência econômica (custoS mínimos, ou lucros, ou vanta-
gens máximas) da unidade em questão. "A análise locacional é microeco-
nôrnica" e se utiliza das contribuições teóricas marginalistas conveõcionm,
~b~ disponha, também, de contribuições próprias como na análise
weberiana clássica da localização industrial, herdada de Wilhem Launhardt
(PONSARD 26:27) e baseada no equilíbrio físico de um sistema de forças
e nos preços relativos das tarifas de transportes, denominada localização
da firma individual orientada pelo transporte (triângulo locacional).
1.2.2. Economia Regional
A Economia Regional, do ponto de vista da Economia e, segundo
DUBEY (6:3-8), "é o estudo da diferenciação e inter-relação de áreas em
/' 11{ um universo, onde os recursos estão distribuídos desigualmente e são
I. I imperfeitamente móveis, com ênfase particular na aplicação ao planeja-
mento dos investimentos em capital social básico, para mitigar os proble-
mas sociais criados por essas circunstâncias".
Esta definição ressalta que a Economia Regional deve analisar o fenô-
meno espacial como um processo que visa à alocação eficiente de recursos
com fins alternativos, de forma convencionaL A definição de Vinod Dubey
48
I " ntudo, .contest~da por aut~res como PERLOFF (23:37-62)
li I , em ensaios anteriores aos escntos por Vinod Dube ',' . .ibilid d d . y, Ja msistia na
11\1 SI I I a e e Isolar a análise regional devido ao seu profundo ítdi . li cara er
11I 'r ISClp I~ar. Ainda mais, cabe ao analista regional opinar sobre os
I "~ alter.n~t.lvos a serem atingidos pela economia regional e que afetam
I di ~ol1lblhdade relativa dos recursos e o nível de bem-estar econômico
I 1 ial da !,o~ulaç~o da região. Uma tarefa de tamanha magnitude exige
I 10 peraçao interdisciplinar.
ti .3. Região
~ _elemento básico da análise regional é, obviamente, o conceito
di' r glao. Convém analisá-lo com maiores detalhes.
Segu~do Benjamin Higgins "poucos esforços em toda a história dos
11111reendimentos científicos mostraram ser tão estéreis como a tentativa
til' :ncontrar uma definição universal aceitável de região. O fracasso reflete
II ~lInples fato de que nenhum conceito de região pode satisfazer ao
nusrno tempo, a geógrafos, cientistas políticos, economistas, antropól~gos
111" (HIGGINS 12:37-62).
I' Walt.er Stõhr argumenta que o "delineamento de região é algo como
I ( I cussao s?bre o significado de palavras. O delineamento não passa
di' um e~ercíclO a~adêmico, a menos que uma função, ou propósito especí-
~.I 0, seja d~ter,mmado: O. e.spa~o é uo: el~mento contínuo e qualquer
1 .0 parcial e u~a simplificação seletiva, ..Implicando um propósito ao
1111 luir a~gumas co~sas e exc~uir outras" (STOHR 33:63-82).
M~ltos estudl~s.os aceitam que o conceito de região, a escolha de ~'
1I11~onjunto de reglOes, de seus limites, de sua estrutura interna e hierar- 1I
quização etc., dependem do problema particular a ser examinado (ISARD
t ). Isard, por outro lado, chama a atenção para o fato de que a região
pud ser tanto um conceito abstrato quanto uma realidade concreta. De
t :1: Cla~.~e ~onsard afirma que todo conceito de espaço (e, por via
dI onsequencia todo conceito de região) é, necessariamente, o resultado
ti ' um ?rocesso d~ ~bstração, independentemente desse processo ter seus
I'lOcedlmentos originados na matemática, na psicologia, na biologia ou
11I qualque~ outra disciplina. "Mas em certos enfoques, a região, seja
11111~ conc~lto ou como realidade concreta, desaparece num passe de
I~"~.lca e deixa como resíduo um conjunto contínuo de pontos no espaço.
I N enfoque tem alto ~rau de abstração mas, contudo, é bastante pro-
11I1~sorpara o desenvolvimento do conceito de região" (ISARD 17). Este
Ultimo t~a~amento do problema da conceituação de região parece estar
111 posiçao ao tratamento pragmático dos autores, anteriores, Higgins
49
d or vários estudiosos de análise regional.
e Stõhr, sendo advoga o p iro de reai - dá então ênfase na desco-
f b o conceito e regiao a" 1Outro en oque so re c- 1" o "melhor conjunto possíve, ",' o" 'ImutaVe ,
berta de um conjunto otirn ,~ 'elevante para todos os proble-
para várias finalida~es" ,de reglOes, que seja r
mas espaciais e regl~~als, _ _ d fato antagônicas, mas se completam,
Estas duas poslçoes nao sao, ,e, 'a outra visa à especulação pura
, íonal e pratica
Uma visa a ser operacl com o bem-estar geral da sociedade e, por
daqueles que se, pr~ocupam d ma ciência social geral, integrada,
conseguinte, raClOClllam e,m ,te~mos e u
única, indivisível e interdlsclplmar. 1 ' o conceito de região deve
Um aspecto importante a re~sa tar e qd
u
: regiões que condicionam
di " ' estruturas internas a, Dser mamico, pOIS as dif m o decorrer do tempo, o
- d ' eas se mo 1 icam coas extensoes e suas ar : 'de regiões interdependentes
di o sistema ou conjuntomesmo mo o, se a tera ..• 'a suas configurações no espaço
de um dado espaço e, em consequenCl ,
geográfico, d a o econômico e região
Um dos conceitos ~em elaborr~~:so:ese~~a~çois Pcrroux e J acques
econômica é o desenvolVido pelos p 1 m conceito de espaço
, OUX (25'21-36)4 desenvo ve u
Boudevl11e, PERR d ' 1 - e interdependências em um sen-
" 'do a estu ar as re açoes " d
economl~o.' visan 'I' do-se do instrumental matem~tlco e
tido genenco e abstrato, uti izan d PerrouX há uma diferença
di -" De acor o com ,"espaço de n lmensoes, .' "geonômicos", ou, economlCOS e os espaços
essencial entre os espaços ,,' 'os" são "e paços abstra-
'f' b ' Os espaços economlC
espaços geogra lCOS anais" d l-que se referem aos diversos
ituíd conjunto e re açoestos", constitUi os por ,,',' 'e políticos interdependentes
.' SOCiaiS mstltUClOnalS
fenômenos economl~os, 1 1" ão em eixos cartesianos ortogonais (que
sem envolver, contu o, a oca,lzdaça de uma figura ou de um
SI) e um ponto,
fazem noventa graus entre. , lítica euclidiana por meio de
lona geometna ana 1 , ,sólido qua quer, com _ a os de "n dimensões", sendo' n maior
duas ou três coordenadas, Sao esp ç se espaço não podem ser
• d 1 f que os pontos nes
do que tres, e ta orma id s atividádes econômicas, so-f te Neste senti o, a ,
localizado~ ,geogr_al;,am~n '1' das" tendo apenas uma dimensão econo-
ciais e pohtlcas sao des oca lza,' econômicos abstratos se
, 1 lí ' Os diversos espaços
mica, SOCla ou P? mca. d "n dimensões" representam,
- e os pontos nesses espaços e , '
superpoem, d fi de mercadonas e serviços-bi ções e uxos
em geral, certas c~~ ma econômicos em três categorias:
Perroux classifica os esp~ç~s lano ou programa de ação;
a) espaço econômico defmldo por um p f as' e
b) espaço econômico como um campo de orç :
c) espaço econômico como um agregado homogêneo-
50
espaço homogêneo é constituído por elementos que apresentam
I 11,\ terísticas semelhantes, O espaço polarizado é constituído por focos
1111 1 se concentram as atividades econômicas, sociais, políticas e adrninis-
11 ativas, inter-relacionados com outros pontos do espaço em uma relação
dto dominação - ou seja, os pontos dominantes de maior concentração
.I,. atividades impõem regras e extraem benefícios dos demais, Assim,
\I ' paço polarizado é heterogêneo e as diversas partes que o compõem
,I complementares, mantêm troca entre si e, especialmente, com o pólo
.lominante (ou foco de desenvolvimento) de uma maneira mais intensa
do que com outros pontos, que, como veremos adiante, são representações
ihstratas de centros ou cidades de diversos tamanhos,O espaço definido
por um plano ou programa corresponde às áreas nas quais suas várias
I artes são dependentes de uma decisão central. Refere-se às unidades
.I espaço econômico que visam ao mesmo objetivo, que têm o mesmo
pl no e .estão subordinadas à mesma coordenação,
Nesses espaços abstratos, as regiões constituem pontos contínuos Ir
" ontíguos. o espaço, por outro lado, se compõe de conjuntos de regiões,
A classificação das regiões segue a mesma adotada para os espaços, Assim,
n. três tipos de regiões são: regiões homogêneas, regiões polarizadas e
regiões-plano ou programa,
Como observa MEYER (22:315), e como veremos posteriormente
l' m maiores detalhes, as três definições tradicionais e tipos de regiões
não são mutuamente exclusivas, De fato, as diversas formas de classificação
de regiões ou os diversos tipos de regiões, não passam de simples variações
do critério de homogeneidade. A questão é, realmente, estabelecer que
tipo de homogeneização se deseja obter. Em suma, quando se identifica V
e se delimita uma região, ressaltam-se suas características essenciais marcan-
tCS, que a diferem de outras regiões e a igualam a um outro conjunto
de regiões, A delimitação das regiões e a identificação de suas características
fundamentais, por meio dos métodos de regionalização, como os contidos
110 Capítulo 10, é essencial para analisar suas potencialidades e as dispari-
dades econômicas entre elas,
Qualo objetivo e a importância primordial dessa conceituação abstrata
de "espaço econômico" e "região econômica?
A importância primordial é chamar a atenção para o seguinte: os
fatos e os fenômenos econômicos, sociais, políticos e institucionais, que
ocorrem em uma área geográfica, são o resultado de fenômenos econô-
micos, sociais, políticos e institucionais que transcendem essa área geográ-
fica; e com os quais estão intimamente correlacionados e quase sempre
subordinados, Em uma organização capitalista de produção, as desigual-
dades inter-regionais de renda e de riqueza e as desigualdades pessoais
51
intra-regionais (isto é, dentro das próprias regiões) são, em grande parte,
uma conseqüência inerente e estrutural dessa forma de organização da
produção. Em suma, uma região não pode ser compreendida, analisada
e transformada em seus aspectos econômicos, sociais, políticos e institu-
cionais separadamente do contexto nacional (BECKER 2:43-62).
Jacques Boudeville insiste, contudo, que, na diferenciação entre espa-
ços geográficos e espaços econômicos é sempre recomendável sermos cau-
telosos, pois é indispensável considerar-se a característica geográfica, ou
seja, a localização bem definida da região dentro dos limites político-admi-
nistrativos da nação; argumenta que o espaço econômico é o resultado
da aplicação de um espaço matemático abstrato em um espaço geográfico
concreto (BOUDEVILLE 4:1).
Segundo Perroux, classificam-se os espaços econômicos em:
a) espaços homogêneos;
b) espaços polarizados;
c) espaços definidos por um plano, ou espaços-programa.
Boudeville, assim, insiste na necessidade do ponto de vista operacional
e prático de situar geograficamente as regiões, de tal modo que as análises
sócio-econômicas e o planejamento regional dessas áreas se refiram de
modo efetivo aos habitantes dessas regiões. O conceito de região tem
de atender a três requisitos básicos de definição de um objeto: um princípio
finalístico ou teleológico, a descrição material do objeto e as relações
do objeto com os demais.
O princípio [inalístico ou teleológico sugere que o conceito de região
adotado tem como pré-requisito um objetivo anteriormente estabelecido.
Desse modo, quando se regionaliza o espaço geográfico, ou seja, se divide
um país ou uma unidade de uma federação, em subespaços ou subáreas,
torna-se indispensável precisar-se o objetivo ou a finalidade que se deseja
atingir com essa divisão. O que se infere desse princípio é que um conjunto
de regiões (e cada região) tem sua existência vinculada a uma finalidade
predeterminada, "particularmente no caso das regiões para fins de planeja-
mento". Ressaltando ainda mais este aspecto, antes de se iniciar a divisão
do espaço geográfico em regiões, é fundamental a determinação da utiliz~-
ção prática que se pretende com essa divisão. Como vimos, tal procedi-
mento é coerente com a recomendação dos autores pragmáticos, que não
se apegam à busca do melhor conjunto de regiões para várias finalidades.
A descrição material do objeto é uma recomendação para caracterizar
os aspectos sociais e econômicos de cada região, e compará-Ias com as
demais. As regiões homogêneas cumprem essa recomendação, através 'do
procedimento de comparação de características marcantes que distinguem
um conjunto de regiões.
52
. :inalme?te,. cumpr~ ~essaltar as inter-relações e interdependências
1It1 I~~economIcas, políticas, institucionais, administrativas etc., entre
I r gioes e, eve~tualme~te, ~ais ~atos dentro das próprias regiões. Esses
10 s enfoques Illter-reglOnaIs e Illtra-regionais, que resultam n di . _
dI) 'f' . _ a IVIsao
paço geogra ICO em reglOes polarizadas constituídas de "fo dI 'S I' "f ' cos e
I I, nvo. vimenro e suas ormas de relacionamento com suas áreas perifé-
I \, adJacen~es, formando um "sistema de equilíbrio de forças", como
11' rem teorias e modelos das ciências exatas, como a física e a matemática.
Dessa forrna, também, as regiões podem ser classificadas em três
d, o _essencIaIS, aos quais podem ser convertidos outros tipos de regiões
11"' ao. ,
a) regiões homogêneas;
b) regiões polarizadas;
c) regiões de planejamento.
Em seguida aos primeiros conceitos básicos da ciência regional vamos
II~(.rnar ao te~a do de:caso pelos aspectos espaciais, ou seja, pelos :spectos
I vindos da llltroduçao das conseqüências das distâncias e dos custos
dI' transportes na análise econômica, em panícular, outrora e na atualidade.
1.3. O DESCASO PELO FENÔMENO ESPACIAL
No início do século XIX Johann Heinrich von Thünen '.
I " di' o pnmeiro
li, te~ncos a ocalização, escreve Sua obra mestra "Der Isolierte Staat
IfI BezIehung auf Landwirstschaft und NationalõkomI'e" (O E dI j d -,. - sta o
(~a o em Relaçao a Agncultura e à Economia Nacional). Seus seguidores
Wtlhelm.R~sc~er e A. Schãffle, adeptos da Escola Histórica Alemã, pesqui~
~n a eXIstencIa de leis naturais na evolução espacial das estruturas econô-
IIIl~as. Outros ~utores como Ure, E. A. Ross e Frederik S. Hall realizam
1/ ,t,agens exaustivas dos f~:ores locacionais, que sugerem as vantagens e
li SV~ntagens de uma regiao para receber atividades industriais, agrope-
11. nas e outras.
~ntretanto, os economistas da Escola Clássica negligenciaram a di-
11Insa~ espaço, em seus estudos econômicos, e se refugiaram num mundo
IIwavIlhoso sem dime~s?es espaciais, nas palavras de ISARD (15).
" Par~ce~nos necessano escl~r~cer que estarnos entendendo por econo-
1I11:~tasclassIc~s .. Karl Marx delimitou, cuidadosamente, a escola de pensa-
menro econon:Ico que denominou da clássica, de Sir William Petty
(1:23-87) a R~cardo .(1772-1823) na Inglaterra, e de Boisguillebert
(I >46,-1714) a SIsmondI (1773-1842) na França (MEEK 21 :232). A Escola
l~ss~ca.a ~ue estamos nos referindo inclui, também, particularmente,
dehmItaçao proposta por Keynes, ou seja, o período após Ricardo,
53
. . ões de John S. Mill (1806-73), Walras
e inclui, por exemplo, as co~t~I~~i4) Edgeworth (1845-1926), Pareto .
(1834-1910), Marshall (18 - . 'ou 1877-1959).
(1848-1923), Cassel (1866-1945) ~ PIg ( ocupações no" processo de. Clá focalizou suas pre d
A Economia assica " d di 'buição do produto gera o.
evolução das atividades economlcas e a Is.tnd s como leis imutáveis e. - foram entrOnlZa a
Muitas de suas propos~çoes CHARDSON 27:15). O descaso com
eternas de validade universal (RI, . aço geográfico se origina,
, . .d d onomlcas no esp
a distribuição das atrvi a es ec uma equalização dos preços
I d . - de que deve ocorrer f .também, a suposlçao . d re'ncia perfeita e da per eitad . d d eglme e concor Ddos fatores, a V!D a o r ., d nulos de transportes.essemobilidade dos fatores, admmn o.-sedcustosd - "per capita" entre asd d 'eis e pro uçaov modo, as desigualda es os nlv. Marshall na linha da tradição
1· . d automaticamente., 1regiões seriam e imma as .' , cia da dimensão tempora
, . f' va a rnaror Importan l' .
anglo-saxonlca, rea.lrma _ acial (ISARD 17 :24). Os autores c asslCOS
em detrimento da dlmensao esp _ " os como predominantes na
\ id os fatores nao-economlC 1 l' -
\
' tendiam a consi erar . d ivid d econômicas. A oca izaçao
I d d - spacial as atlVI a es , .
\ explicação o pa rao e siderações não-economlcas
dos recursos naturais é dada, enqua~to as cdon. 0- es onde viver trabalhar
d d . ndo assim as ecis 'eram pondera as, etermma , 'h' d (RICHARDSON 27:16).
duzi observa RlC ar son 1e mesmo pro uzrr, como . d s economistas da Esco a
b iculo ao mteresse oUm importante o stac , . .' deriva do fato de que a
bl conomlCOS espaCiais f 'Clássica pelos pro emas e. . de difícil aplicação aos eno-
. - d E 1 Margmahsta se torna , .contribUlçao a sco a d . . hipótese da concorrenCla. . . e além o mais, a
menos econômiCOS espaciais, .' s deslocamentos ~o
. sustentáveL PrimeirO, 9--.--- - di
Perfeita se mostra m . d t' uos e variações Iscretas.!.,'. l' or movimentos escon in " f' d
geograflco se rea izam P. - d 1 Íi ão "ótima e en irn, a- - - -' d .nação a oca Izaça '. d
\1
' de tal forma que a eterrru ," difícil de ser analisa a
. ,_ ",' " das atividades economlcas e " .
I distnbUlçao otima . . - ue é o aparato que leva a maximi-
d .,' de substltUlçao, q '1'Por meio o prinCipIO . d 1 ção de recursoS na ana isedici d d lucro na teOria a a oca .zação con iciona a o d E ia Espacial se caracteriza por. r ta Segun o a conom "[ri -econômica margma IS· do; d'd fato de que a própria ncçao
I f . - de merca o eVI o ao , .
\ diversas imper elçoes ' _ ono olística às firmas proxlmas
1\ da distância" confere uma proteçao m P
• dos consumidores. , . [ística constituem uma exceção
Os teóricos da concorrenCla mo.noP
l
o I E H Chamberlain em
. lássicos. Partlcu armente .' d'
entre os economistaS c .' "trata explicitamente, a ana-
"The Theory of Monopolistic Compe:lt1on 'estudos dá "diferen-
. m elemento Importante nos . d d
lise espacial, mas como u d b lho ressalta a necesslda e e
d "Contu o seu tra a dciação dos pro utos . , " monopolística no estu o
fi' se recorrer à análise espacial da concorrenCla
, da Economia Espacial (ISARD 16:27).
54
ma das reações às idéias dos economistas da Escola Clássica surgiria r
11111 , Escola Histórica Alemã. Esta reação pode nos levar a entender
11 111 .d mínio da contribuição germânica nas teorias da Economia Espacial
.I", ulo XIX e início do século XX.
A Escola Histórica Alemã atingiu seu auge na segunda metade do
1111 XIX. Ela advogava que a economia como fenômeno social não
I d •.vincula do organismo político-social-institucional e somente pode \
"1 .ntendida e analisada se for pesquisada como elemento da ordem
111 ,I inter-relacionada com os costumes, a lei, a educação, a política
.1 r ligião. A economia sofre mutações à medida que os fenômenos j
111111 quais ela se inter-relaciona intimamente, também evoluem histori-
I unente. Com esse enfoque, ela contesta a validade universal que se preten- '/
di. , tribuir aos postulados da Economia Clássica e preconiza a validade
I l.uiva das leis econômicas, no tempo e no espaço.
Ainda mais, as distorções no processo de distribuição das atividades,
'IIH' e constituem os grandes problemas regionais, se acumulam lenta-
111 '11 c, a longo prazo, de modo que tendem a ser subestimados. Borts
itein se referem àquelas distorções, que afetam o desenvolvimento econô-
'"" o regional, como um processo semelhante aos deslocamentos de geleiras
1.\ ier-like movements) (RICHARDSON 27:18). Por outro lado, Beck-
III ••nn em seu "Location Theory" (BECKMANN 3:3-7) conclui dizendo
'I"l' stamos ainda começando a entender o impacto econômico do cresci-
1111'" o sobre a localização. Isto nada mais é que o reflexo do descaso
um os problemas de localização espacial das atividades.
Finalmente, uma questão importante é que os economistas clássicos,
111111 seus colegas da atualidade, se interessavam pelos problemas funda-
nu-utais de sua época. Devemos recordar que a Economia trata de escolhas
'1l1l' levam ao melhor uso de recursos escassos, sendo que o tempo e
1 energia humanos são fatores escassos (FETTER 7). Assim, devemos
I rrar que os economistas focalizem suas atenções nos principais proble-
II"I~da época em que vivem.
Na agenda dos economistas clássicos estavam problemas cruciais co-
I \11: "salários adequados para os empregados, rejeição da "lei dos cereais"
( orn Law), a regulamentação das condições de trabalho de mulheres
crianças, a abolição dos dízimos (tributo que consistia na décima parte
10 produto da terra ou de negócios, pagos para manter a igreja), o controle
.10 abusos do sistema bancário, o aumento das oportunidades educacio-
/I is, a abolição das sinecuras de um governo da aristocracia, a ampliação
10 direito do voto" (FETTER 7 :139). Nesta ótica, é possível entender-se
55
que os problemas relativos à distribuição das ativ.idades ,ec~nô~icas não
. lugar de destaque entre os economistas clássicos .:'ocupanam um
Sobre tema correlato ao tratado neste capítulo e at.ribuin~o a alguns
autores clássicos preocupação com a dimensão espacial, vep: SMOL-
KA(32). ]OHNSON (18:30-40) defende a tese de que a ~nglaterra,desde
1500, já possuía uma bem estruturada distribuiç~o e~paClal de mercad~s
urbanos para seus produtos agrícolas. Esta orga~lzaçao. d~ espaço ec?no-
mico da Inglaterra nos idos de 1500 foi uma das pre-c~ndlçoes q.ue exph~am
por que esse país liderou o desenvolvimento econômico mundial nos secu-
los XVIII e XIX. , .
Se os problemas decorrentes da organização do espa~o economlc,o
-. " de fato em um empecilho ao desenvolvimento econo-nao se COnStItulram, , .
mico daquele país, este, também, poderia ter sido um, outro mOtl~O para
o descaso dos economistas clássicos ingleses pelo fenomeno esp~clal. Os
motivos do desinteresse dos economistas clássicos não são perfeaame.nte
1 O Há muito campo ainda, de investigação histórica para se precisarc ar s., . I P ,
a negligência dos autores clássicos com a dime~são espa.C!~. orem, o
problema das desigualdades da distribuição espacial das atividades se tor-
nou grave nos dias atuais. ... .
Apesar do desenvolvimento da ciê~cia ~egi~na~, as disparidades SOCI~IS
e econômicas inter-regionais e intra-regionais nao tem despertado, todavia,
uma atenção especial e conduzido a políticas econômicas capazes de superar
tal desafio. . . 1
As várias razões que explicam o descaso, tanto pela economia espaCla
como pelos fenômenos espaciais, o qual vem se estendendo ao .Iongo
dos anos, sugerem que as desigualdades regionais de renda e de nqueza
56
'I. resultam do descaso teórico com a economia espacial, mas é o resultado
d.1 tendência à concentração, à centralização e à aglomeração geográfica
d.L própria organização capitalista de produção (HOLANDA FILHO
11:10-20). As teorias que almejam explicar as causas e conseqüências do
d I envolvimento regional, por exemplo, podem ser divididas em dois
w· ndes grupos: teorias que demonstram a tendência natural à forte concen-
trnção geográfica das atividades econômicas e teorias que demonstram
.,~ condições e tendências de reversão da concentração ou de desconcen-
Ir, ção das atividades econômicas.
/ As flutuações cíclicas, as crises conjunturais e as circunstâncias ocasio-
nadas pelas necessidades de estabilização econômica - em particular das
(1(' nomias menos desenvolvidas - têm imposto e condicionado a ênfase
li, s políticas macroeconômicas em detrimento do planejamento setorial
(' regional. Como nos séculos passados, as agendas de políticas econômicas
~,todominadas por problemas gerais macroeconômicos da economia polí-
ti a e, por outro lado, nas fases de rápida acumulação de capital, os
investimentos em infra-estrutura se concentram nas regiões mais dinâmicas
I r critérios de eficiência,e nas fases de regressão econômica surgem
os argumentos e fortes demandas de apoio às atividades e às áreas mais
desenvolvidas.
As realidades sociais e econômicas das economias mundiais e em
p rticular as do terceiro mundo, ratificam as conclusões das teorias concen-
tracionistas, o que não impede a ocorrência de uma relativa dispersão
ti desenvolvimento. O desenvolvimento econômico de uma nação capita-
lista ora se difunde geograficamente, ora se concentra, parecendo constituir
Um padrão de desigualdade regional que pode ser representado por curvas
em S deitado, contendo no eixo das abcissas o tempo e no eixo das
ordenadas (o eixo vertical) uma medida qualquer ou indicador do grau
ti concentração das atividades econômicas. Nessas circunstâncias, as dis- [
I aridades regionais de renda e riqueza se agravam e se amenizam em
ielos e fases históricas que se sucedem concentrando e dispersando o
desenvolvimento sem, contudo, garantir uma tendência inquestionável
da reversão da concentração das atividades econômicas no espaço geo-
I-Iráfico, ou provar a inexorabilidade das desigualdades.
WILLIAMSON (34:63-116) desenvolveu um estudo teórico e empí-
rico, que se tornou clássico, tentando demonstrar que existe um padrão
l' mum no comportamento das desigualdades regionais em todos os países.
Inspirado, possivelmente, na Parábola de Kuznets (BACHA 1:79-115),
que postula a existência de uma relação na forma de um U invertido
entre a desigualdade econômica e o PNB "per capita", de tal forma que
,l distribuição pessoal da renda melhora com o desenvolvimento econô-
57
. . b êm a redu ão das desigualdades region~ismico, W illiamson requer, tam e I'. ç ôrnico O padrão descnto
.. desenvo VImento eco no . .
internas na~lOnaI~ com o. desi ualdades aumentam nos primórdios
é de um U invertido, ou seja, as g,.. máximo e come-
d di' to econorruco, atmgem um
do processo e esenvo vI~e~ d I contudo não parece surgir esponta-
çam a reduzir. Este padrao. I I~a , as'profundas e rápidas transfor-
conomias capIta istas e com d ._
nean:ente nasl~ . s da atualidade que perpetuam as vantagens as regioesmaçoes tecno ogica ,
ricas. _ é diíícil imaginar a relativa ineficácia das políticas
Neste. contexto, n~o e. I: o desafio da ciência regional, em encontrar
e do. planejamento regIOnaIS d se uilíbrios ou disparidades regionais de
caminhos para contor~ar '" Te qb' cenário acima descrito revelad I· t econorruco am em, o
esenvo vimen o . .. , em parte aparente porquedos problemas espaCIaIS e" I
que o escaso com I' t sócio-econômico é estrutura. idê . d . ai do desenvo VImen o
a mC1 encia eSIgu líticas e medidas estritamentee não pode ser solucionada, apenas, com po
econômicas. f . e a conceituação de região e
Fi~a.lmente, .va~e a_pe:a u:a a:;z~:o ~~o controversos, também, pelo
o exercício de delimitação d g, . b a redução das desigual-
fato de influírem nas concl~s~es emp:n~as so t~: as regiões. Dependendo
d di' nto SOCIO-economICOen d
dades e esenvo VIme . I . _ os indicadores estatísticos o
da divisão do espaço naclOdn.a e~d r~glOeS'gionais de desenvolvimento se
rau de desigualdades ou Ispan a ~s re
:lteram, mostrando desequilíbrios maiores ou menores.
1.4. AS DESIGUALDADES DA DISTRIBUIÇÃO DAS
ATIVIDADES
1.4.1. O Fenômeno da Concentração
A concentração das atividades em pontos do espaço g~ográfico-~eo~~~
. - se torna uma preocupaçao crescenco-adrninistrativo de uma naçao'
l
. . m exemplo da ocorrência
I . I' dores O Brasi se constitui u
po íticos e p aneja . . . H dd d Thompson comentam que:de sérios desequilíbrios regIOnaIS. a .. a e
(HADDAD & ANDRADE 10: 9-54).··· ,
. d . - dentro de um mesmo paIS,"O fenômeno da existência e reglOe~ ,', bastante
' . d desenvolvimento economIco, eque mostram diferentes ruveis e " d íses que freqüente-
d· d O Brasil e um os paIse ,conhecido em to o o mun o.
. ., . d desi Idades regionais em alguns países socialistas, veja,". Com relação à incidência as eSlg~~) .
por exemplo, GRUCHMAN (9:79- .
58
/111'11( " é mencionado como exemplo nos estudos de desigualdades regio-
li 11 Como um caso de dualismo extremamente grave, onde as diferenças
"'1/ micas e sociais entre o Norte, Nordeste e o Centro-Sul são bem
"1'11. , seja em termos absolutos, seja em termos relativos, por cornpa-
""I( • situação em outros países".
Um fato evidente, mas nem sempre considerado em todas as suas
IIIII~ qüências, é que as atividades econômico-sociais Ocupam um dado
lI/H,'" 110 espaço geográfico e aparecem concentradas em alguns pontos
,11 ~ o espaço. Conhecer as causas e as repercussões dessas ocorrências
/1\ c tornando indispensável para o planejamento econômico e social.
di paridades dos níveis de desenvolvimento e os crescentes problemas
1/11, 11 S advindos do crescimento acelerado das populações das cidades,
" v d ao intenso processo de migrações rurais-urbanas, colocam-se entre
I 1'1 incipais problemas do desenvolvimento sócio-econômico.
A teorias que procuram explicar as localizações das atividades sociais
I I unôrnicas e suas concentrações em pontos discretos do espaço geográ-I,. u, pesquisam os fatores da atração e repulsão daquelas atividades, com
III.,~ o na fricção que a distância (o custo e o sacrifício em se deslocar
"li espaço) imprime à distribuição das atividades. A interação entre esses
11/01 'S, atraindo ou repelindo as atividades sócio-econômicas, as distribui
I "li LO O espaço geográfico em análise, indicando as causas que as levam
t '"1) ntrar-se ou dispersar-se. Tal interpretação dos fenômenos econô-
/tlll os espaciais leva à aplicação do tipo "mecanicista", característica de
I I1I1Smodelos da Economia Espacial Clássica. Esses modelos eram sub-
/t1l'lll a criteriosas provas matemáticas e usualmente se apoiavam em
11111 I ruções geométricas, como acontece na obra seminal de August Lõsch
( 1'10 )-1945) "Die Rãumliche Ordnung der Wirtschaft" "A Organização
, 11.1 'ial da Economia" (vide Capítulo 2).
Além do mais, uma vez que as teorias clássicas da economia espacial
I tI',II11 ênfase às explicações das causas que conduzem as atividades produ-
1I ,I~,em geral a localizarem-se concentradamente em alguns sítios privile-
"Ios, era comum a prática de enumeração, classificação, taxonomias
, Ilpol gias dos chamados fatores locacionais. Essa prática se fundamenta
11 t Iltls a de fatores econômicos e extra-econômicos que atraem as ativida-
I io-econômicas.
A questões referentes à concentração e dispersão das atividades assu-
111111/ na sua projeção histórica do presente, uma posição de destaque,
111 medida em que elas chamam a atenção para a tendência à aglomeração
I t atividades produtivas. Este fenômeno estrutural assume papel de gran-
1 11,1 'vância na compreensão das disparidades de desenvolvimento econô-
1111 I) ntre regiões. As teorias recentes da economia regional acrescentam
59
conceitos novos e uma visão interdisciplinar para analisar as desigualdades
regionais de renda, riqueza e crescimento econômico. O conhecido con-
ceito de "pólos de crescimento", por exemplo, - que na terminologia
de François Perroux", principal divulgador das teorias do desenvolvimento
regional polarizado a partir da década de 1950, se torna "pôle de develop-
ment" e "pôle de croissance" - encontra suas origens nos estudos da
tendência à aglomeração das teorias clássicas da economia espacial, em
processo de aprimoramento ao longo da história da ciência regional.
Enfim, a realidade é que a distribuição dos benefícios do desenvol-
vimento econômico entre os subespaços ou regiões de uma nação não
é equitativa e muitas vezes se deteriora com a passagem do tempo ou,
então, mantém um significativo distanciamento no nível de desenvolvi- .
mento entre as regiões dominantes e as periféricas (SANTOS 29:104-27).
Essa evolução desfavorável da incidência do desenvolvimento econô-
mico sobre o espaço geográfico e político-administrativo resultou, atual-
mente, em um dos grandes desafios em muitos países em desenvolvimento
como o Brasil, tanto do ponto de vista da eqüidade e justiça social como
das possibilidadesde desenvolvimento a longo prazo.
Finalmente, é também interessante observar que, do ponto de vista
de algumas contribuições teóricas recentes, inspirado no enfoque mar-
xista, o espaço deve ser entendido como um tipo de mercadoria capitalista
incluída no processo de acumulação e valorização do capital. Neste sentido,
o espaço e a região não são objetos empíricos observados e geograficamente
determinados, independentemente dos interesses das classes sociais, e não
podem substituir a análise de dois atores econômicos fundamentais: o
capital e o trabalho. MARKUSEN (20:33-55) enfatiza que a discussão
do tema "sugere várias conclusões para a análise da economia política
do desenvolvimento regional. Primeiro, o argumento que para os econo-
mistas políticos as regiões não existem como uma categoria abstrata, impli-
ca que o desenvolvimento regional não pode ser discutido ou estudado
abstratamente. As regiões não se desenvolvem; as relações sociais dentro
das regiões e entre as regiões é que se desenvolvem. Teorizar sobre os
caminhos do desenvolvimento capitalista em uma região requer uma análise
empírica que identifique as estruturas cultural, política e econômica que
evoluíram historicamente, tanto dentro da região como em relação a outras
regiões; segundo, os economistas políticos regionais devem tentar fazer
". As idéias iniciais de Perroux sobre a Teoria dos Pólos de Crescimento, que sucedem
a sua Teoria da Economia DOlPinante, estão expostas na edição em língua portuguesa
da coletânea de seus artigos(24) traduzida da 2~ edição em língua francesa, Pans, 1964.
Os principais artigos são: "Os espaços econômicos", "O conceito de Pólo de Crescimento"
e "A empresa motriz na região e a região motriz".
60
II a?álise com maior rigor, evitando o fetichismo do espaço _ isto
, considerar as regiões como se elas fossem sinônimo de classes econô-
III I ,da própria economia ou de grupos culturais. A literatura da econo-
li' II política sobre desenvolvimento, regionalismo e mesmo urbanismo
I I repleta com esses enganos".
Além do mais, as regiões apenas passam a constituir uma entidade
lI"tI ica. e. de. pla~ejam~~to relevante quando existe o regionalismo que
1I1\1~ relvmdlcaçao política de um grupo social e que ressalta os conflitos
111 ,[lI de .uma ~~ea geográfica, que constitu~m a preocupação central
I, I norma política regional e o elemento crucial para mobilizar o poten-
1 li le transformações e desenvolvimento regional".
s métodos de regionalização clássicos, que são exercícios de delirni-
11\.\) das regiões econômicas, são apresentados no capítulo 10, como
/111 lodos de anális: regional de utilização prática variada, compatíveis com
IIlIdt s dos conceitos de espaço e discutidos neste capítulo.
I ) 1 ·;tor interessado pode consultar outrascontribuiçôes recentes de economia olítica
"111 nal, tais como: SLATER (31:76-105); LIPIETZ (19:66-94)· HECHT (11~201-9)
, RUEDA & BUSTAMANTE (28). ,.
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