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1 MISCO Flávia Demartine Mortalidade Materna Mortalidade materna A morte materna é qualquer morte que ocorre durante a gestação, parto ou até 42 dias após o parto. Ela pode ser decorrente de qualquer causa relacionada ou agravada pela gravidez, porém não devida a causa acidentais ou incidentais. Em torno de 92% das mortes maternas são causas evitáveis e ocorrem, principalmente, por hipertensão, hemorragia ou infecções. A mortalidade materna é indicador de desigualdade social. Suas vítimas são principalmente as mulheres pobres, as negras e aquelas com assistências inadequadas à saúde durante a gravidez, o parto e o puerpério. Todos os dias, aproximadamente 830 mulheres morrem por causas evitáveis relacionadas à gestação e ao parto no mundo. O índice de mortalidade está em 64,5 óbitos para cada 100 mil nascidos vivos – número bem acima da meta firmada com Organização das Nações Unidas (ONU), que é de 30 óbitos para cada 100 mil nascidos vivos até 2030, conforme os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. O Ministério da Saúde divulgou um número otimista: em 27 anos – de 1990 a 2017 – a mortalidade materna sofreu uma redução de 55%. No entanto, os números mostram que o índice voltou a crescer lentamente desde 2013, passando de 62,1 para 64,5 óbitos maternos a cada 100 mil nascidos vivos, em 2017. Segundo o Ministério da Saúde além de ações de enfrentamento da mortalidade materna e fortalecimento da atenção à saúde materno-infantil, esta sendo investido na qualificação e monitoramento das informações sobre óbito materno e infantil, com acompanhamento contínuo das ocorrências. Em 2009, apenas 55,3% dos óbitos maternos eram investigados. Já em 2017, esse percentual passou para 91%, o que demonstra uma ampliação no espectro observado. A ocorrência da Mortalidade Materna está diretamente ligada às condições de vida e trabalho, a valorização da mulher na sociedade e às desigualdades, discriminações e injustiças sociais que dificultam ou impedem o acesso a serviços de saúde de qualidade. Cuidados antes, durante e após o parto podem salvar a vida de mulheres e recém-nascidos. Entre 2016 e 2030, como parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), a meta é reduzir a taxa global de mortalidade materna para menos de 70 por cada 100 mil nascidos vivos. Mulheres negras tem risco 2 a 7 vezes mais elevado do que mulheres brancas. Mulheres de menor escolaridade tem um risco 5 vezes mais elevado do que mulheres de maior escolaridade. Quase todas as mortes maternas (99%) ocorrem em países em desenvolvimento. Em termos absolutos, é um evento raro na maioria dos países, porém Inaceitável e Evitável. É uma grave violação dos direitos das mulheres. Os diferenciais entre os países e regiões evidenciam que grande parte das mortes por causas maternas podem ser evitadas. Sua ocorrência desestrutura a família, ameaça a sobrevivência do recém-nascidos e dos seus irmãos, pela ausência desta mãe, aumentando a pobreza. Classificação das CAUSAS de mortalidade materna 1. Morte materna obstétrica direta Corresponde aos óbitos codificados na CID 1 0 como: - Gravidez ectópica, aborto e as complicações destes agravos. - Hipertensão gestacional, pré-eclâmpsia, eclampsia, tromboses, infecções por outras causas, etc. - Diabetes mellitus gestacional. - Ruptura prematura de membranas, descolamento prematuro de placenta, hemorragias, obstrução do trabalho de parto, ruptura de útero, complicações pulmonares ou cardíacas devido ao TP, complicações da anestesia, infecção puerperal, etc. - Neoplasia de placenta. - Transtornos mentais associados ao puerpério. - Osteomalácia puerperal. 2. Morte materna obstétrica indireta Corresponde aos óbitos codificados na CID 1 0 como: - Hipertensão pré-existente, doenças cardíacas e renais pré- existentes ou adquiridas. - Diabetes mellitus pré-existente. - Desnutrição na gravidez. - Doenças infecciosas e parasitárias complicando a gravidez, anemia, doenças endócrinas, etc. - Tétano. - AIDS. 3. Morte materna não obstétrica 4. Mortalidade de Mulheres em Idade Fértil CAUSAS da mortalidade materna Países de menor renda: hemorragias, sepse, aborto, pré- eclampsia/eclampsia, trabalho de parto obstruído, complicações do aborto. Países de maior renda: embolia pulmonar obstétrica, hemorragia, hipertensão específica da gravidez, 2 MISCO Flávia Demartine infecção/sepse, complicações de anestesias, cardiomiopatia, diabetes. CAUSAS NO BRASIL 1 ª: Hipertensão (pré-eclâmpsia e eclampsia); 2ª: Hemorragias graves (principalmente após o parto); 3ª: Infecções (normalmente depois do parto); 4ª: Abortos inseguros. Mortalidade materna Razão da mortalidade materna: Relaciona as mortes maternas obstétricas direta e indiretas com o número de nascidos vivos, e é expresso por 100.000 nascidos vivos. Como é calculada a razão de mortalidade materna: O nível de mortalidade materna é maior do que o descrito, devido a problemas na qualidade de informações. Nem todas as mortes maternas são notificadas adequadamente na declaração de óbito, nem todos os óbitos são registrados. A implementação da investigação de óbitos de mulheres em idade fértil, permitiu conhecer melhor a magnitude da morte materna. A partir de análises das condições em que e como morrem as mulheres, pode-se avaliar o grau de desenvolvimento de uma determinada sociedade. Razões de Mortalidade Materna(RMM) elevadas são indicativas de precárias condições socioeconômicas, baixo grau de informação e escolaridade, dinâmicas familiares em que a violência está presente e, sobretudo, dificuldades de acesso a serviços de saúde de boa qualidade. NOTIFICAÇÃO DO ÓBITO MATERNO 15/12/1999 – Portaria n.º 1.399 - estabelece que a vigilância epidemiológica da mortalidade infantil e materna é uma das atribuições do município, cabendo a ele garantir estrutura e equipes compatíveis com o exercício dessas atividades. 28/05/2003 - Portaria n.º 653 - estabelece que o óbito materno passa a ser considerado evento de notificação compulsória, tornando obrigatória a investigação, por parte de todos os municípios, dos óbitos de mulheres em idade fértil cujas causas possam ocultar o óbito materno. 05/06/2008 - Portaria GM No 1119 - Regulamenta que a Vigilância de Óbitos Maternos deve ser realizada por profissionais de saúde designados pelas autoridades de vigilância em saúde da esfera municipal, estadual, do Distrito Federal e federal para todos os eventos confirmados ou não, independentes do local de ocorrência. No Brasil, dois fatores dificultam o real monitoramento do nível e da tendência da mortalidade materna: Subinformação: é o preenchimento incorreto das declarações de óbito, quando se omite que a morte teve causa relacionada à gestação, ao parto ou ao puerpério. Isso ocorre pelo desconhecimento dos médicos quanto ao correto preenchimento da declaração de óbito e quanto à relevância desse documento como fonte de dados de saúde. Sub-registro: é a omissão do registro do óbito em cartório, frequente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, seja pela dificuldade de acesso aos cartórios, pela existência de cemitérios irregulares ou à falta de informação da população quanto à importância da declaração de óbito como instrumento de cidadania. Notificação do óbito materno: A notificação do óbito se faz pelo preenchimento e encaminhamento da Declaração de Óbito gerada na fonte notificadora para a Secretaria Municipal de Saúde. Declaração de Óbito (DO): é o documento padrão do Sistema de Informações sobre Mortalidade, que tem como finalidade cumprir as exigências legais de registro de óbitos, atender aos princípios de cidadania e servir como fonte de dados para as estatísticas de saúde. O preenchimento dos dadosconstantes na Declaração de Óbito é da responsabilidade do médico que atestou a morte, conforme a Resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1779/2005 Artigo 1º. INVESTIGAÇÃO do óbito materno A investigação de óbito materno permite: Revisão dos procedimentos adotados em várias etapas. Discussão sobre a necessidade de planejar novas condutas e processos para garantir a qualidade da assistência. Avaliar trajetórias de eventos durante a assistência à gravidez, parto e puerpério, possibilita perceber que se outro caminho tivesse sido escolhido em várias etapas, a vida da mulher poderia ter sido preservada. 3 MISCO Flávia Demartine A investigação de óbitos de mulheres em idade fértil foi estabelecida pela Portaria nº. 653/MS, de 28 de maio de 2003. Objetivos da Investigação: Natureza do óbito: Triagem dos óbitos declaradamente maternos, dos não- maternos e dos presumíveis, e preenchimento da ficha de investigação. Investigação de todos os óbitos de MIF para identificação de mortes maternas não declaradas. Circunstâncias em que ocorreu o óbito: Verificação das condições de assistência à mulher. Identificação das características da estrutura social (família e comunidade). Avaliação dos aspectos da prevenção da morte: definição da evitabilidade do óbito materno. Identificação dos fatores de evitabilidade: 1- da comunidade e da mulher; 2- profissionais; 3- institucionais; 4- sociais; 5- intersetoriais; 6- inconclusivos; 7- ignorados. Informação Participação na correção das estatísticas oficiais facilitando o fortalecimento dos sistemas de informações; Divulgação de relatórios para todas instituições e órgãos competentes que possam intervir na redução das mortes maternas. Educação Promoção da discussão de casos clínicos nos comitês hospitalares; Promoção do debate sobre a persistência dos índices altos de MM a partir de evidências epidemiológicas; Promoção do debate sobre a problemática da mortalidade materna através da realização de eventos de prevenção, de programas de reciclagem e de educação continuada e da produção de material educativo. Definição de Medidas Preventivas Elaboração de propostas de medidas de intervenção para a redução do óbito materno a partir do estudo de todos os casos. Mobilização Promoção da interlocução entre todas as instituições pertencentes a qualquer dos poderes públicos ou setores organizados da sociedade civil, com a finalidade de garantir a execução das medidas apontadas. Fichas de investigação do óbito materno Estes instrumentos de investigação permitem orientar e organizar a coleta de dados sobre óbitos maternos. As fichas de investigação de óbito materno devem ser aplicadas para toda mulher grávida no momento da morte ou nos 12 meses anteriores a esta. - Apresentam em sua composição campos referentes à identificação do óbito, os dados pessoais da falecida, a história obstétrica, antecedentes pessoais, as críticas dos familiares ao atendimento, a história das internações, os dados da assistência, as condições do recém nato e o laudo de necropsia. Ficha de Investigação de Óbito Materno Identificação de possível óbito materno Aplicar esta ficha a todo óbito de Mulher em Idade Fértil (MIF), entre 10 e 49 anos de idade. Ficha de Investigação de Óbito Materno Serviço de Saúde Ambulatorial A Ficha M1 destina à investigação nos serviços ambulatoriais (atenção básica, urgência e emergência), isto é, onde não ocorre internação da gestante para atendimento, antes e/ou durante a doença que causou a morte. Ficha de Investigação de Óbito Materno Serviço de Saúde Hospitalar M2 A Ficha M2 se destina à investigação no serviço hospitalar, onde a falecida foi internada antes ou durante a doença que a levou à morte. Ficha de Investigação de Óbito Materno Entrevista domiciliar A Ficha M3 permite coletar informações por meio de entrevista com familiares ou amigos da falecida sobre as características e condições de vida da falecida e da família, a atenção à saúde prestada à mulher durante a gravidez e as críticas ao atendimento. Ficha de Coleta de Dados de Laudo de Necropsia Óbito materno Esta Ficha M4 permite a transcrição de dados do laudo de necropsia e dos registros disponíveis nos encaminhamentos do corpo ao IML ou SVO. Análise do caso Após coleta de informação nos serviços de saúde, no domicílio da falecida e no laudo de necropsia, a equipe de Vigilância de Óbitos deve analisar e concluir cada caso, utilizando um enfoque de evitabilidade. O emprego de uma ficha padronizada para esta tarefa pode identificar se o óbito foi investigado e facilitar a comparação de resultados no nível nacional. A análise de evitabilidade do óbito, a identificação de problemas e as intervenções necessárias são registradas na Ficha de Investigação do Óbito Materno – Síntese, Conclusões e Recomendações. Ficha de Investigação de Óbito Materno Síntese, conclusões e recomendações 4 MISCO Flávia Demartine Esta ficha tem dupla função: registrar a análise ou fechamento do caso que foi investigado e registrar os dados que serão digitados no módulo da “Investigação do óbito materno” do SIM. PREVENÇÃO óbito materno Qualidade da Assistência na prevenção da gravidez Qualidade da Assistência durante a gravidez Qualidade da Assistência no parto e trabalho de parto Qualidade da Assistência durante o puerpério
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