Buscar

500 anos o Brasil Império na TV

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 73 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 73 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 73 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

CADERNOS DA TV ESCOLA 
 
500 anos: o Brasil Império na TV 
Minha sugestão é fazer uma abertura, com o texto de Introdução, e depois fazer um 
link para cada episódio. Relaciono aqui os títulos dos episódios: 
 
Introdução 
A corte desembarca na colônia 
Rebeliões do império 
O Brasil dos viajantes 
O reino do café 
A capital do império 
A Guerra do Paraguai 
A modernidade chega a vapor 
A abolição 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CADERNOS DA TV ESCOLA 
 
500 anos: o Brasil Império na TV 
 
 
Peça comemorativa da chegada do príncipe-regente D. João ao Brasil. A América está representada na figura de uma índia 
que se coloca aos pés da Corte Portuguesa. (Relevo em alabastro, Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro). 
 
Para uma parcela considerável dos homens que 
habitavam o Império do Brasil, e também para umas 
poucas mulheres, os anos que se seguiram à abdicação 
do primeiro imperador foram anos vividos 
intensamente. […] no dizer de um contemporâneo, 
[foram] anos de ação, de reação e, por fim, de 
transação. Foram também anos de levantes, revoltas, 
rebeliões e insurreições. De sonhos frustrados e de 
intenções transformadas em ações vitoriosas. Foram 
sem dúvida anos emocionantes para aqueles que 
viviam no Império do Brasil. 
Ilmar R. de Mattos, O tempo saquarema. São Paulo, 
Hucitec, 1987, pp. 1-2 
 
Introdução 
 
Muitos estudos históricos interpretam o período em que o Brasil foi um império em 
uma perspectiva política. É comum nos livros didáticos uma análise em que predominam 
fatos e datas considerados relevantes, protagonizados por personagens ilustres, e uma 
considerável quantidade de tramas de bastidores, sem falar em discussões em torno de 
partidos políticos (como conservador ou liberal etc.). Nessa visão da história, parece que só 
os grandes homens e seus feitos têm importância. Mas será que a história do império 
brasileiro se resume a isso? Será que apenas os grandes homens decidiram os destinos do 
país e só é possível entender a história a partir de fatos políticos significativos? 
Na verdade, é possível compreender o Brasil Império de outra maneira. Mas mesmo 
assim, é importante saber como foi construída essa versão historiográfica predominante. 
Pois a elite política, preocupada em justificar sua escolha pela monarquia, utilizou a história 
como um dos meios para legitimar sua opção. E a principal ferramenta desse processo de 
ideologização foi a criação, em 1838, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, cujo 
objetivo era estabelecer o arcabouço de uma história nacional. Com a participação direta do 
imperador, inclusive com financiamento oficial, o instituto também visava determinar quais 
eram os caracteres culturais genuinamente brasileiros, ou seja, as “feições” da 
nacionalidade. 
Para a elite intelectual – na qual se destacava o historiador Varnhagen –, o eixo 
central que permitia entender a história do Brasil passava necessariamente pelo Estado 
nacional. Este era o sujeito da história, encarregado de fazer a defesa da unidade política do 
país e do modelo monárquico de governo, ao mesmo tempo tido como responsável pela 
unidade cultural e pela afirmação de uma identidade nacional. A monarquia era apresentada 
como sistema ideal para encaminhar a transição no sentido de uma sociedade 
verdadeiramente civilizada, nos moldes europeus. Para essa elite, era preocupante o grande 
contingente de escravos e excluídos, na medida em que se acreditava que eles não podiam 
participar ativamente da construção de uma sociedade civilizada. Pelo contrário, na sua 
visão, os negros seriam os responsáveis pelo atraso do país. A monarquia constitucional, 
dominada por essa elite branca, aparecia como o único regime capaz de assegurar a 
realização do seu projeto político, apresentado como o ideal de toda a nação. 
Procuramos aqui questionar e tentar quebrar os “quadros de ferro” dessa 
historiografia, conforme expressão utilizada por Capistrano de Abreu. Nossa proposta não é 
desconsiderar os fatos políticos, mas mostrá-los como resultado da ação de muitos sujeitos, 
evidenciando como a política está presente nos atos cotidianos de todos aqueles que 
viveram naquele período. Política aqui entendida não apenas como a política partidária, 
palco de ação de ministros e deputados que dirigiam os negócios do governo, mas também 
como uma prática presente nos grandes salões pelos quais circulavam damas e cavalheiros, 
na roda de capoeira ou de batuque, nas conversas dos botequins, dentro das casas em que 
viviam mulheres e crianças excluídas da cena política tradicional, nas igrejas e irmandades 
religiosas, nas ruas onde circulavam os negros escravos, vendendo quitutes, buscando água 
nos chafarizes, carregando compras das sinhazinhas, ou mesmo nas roças, no convívio 
sempre conflituoso entre escravos e homens livres. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CADERNOS DA TV ESCOLA 
 
500 anos: o Brasil Império na TV 
 
 
Aclamação de D. João VI no Paço Real. Gravura de Jean-Baptiste Debret in: Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, Vol. 2, p. 605. 
 
A corte desembarca na colônia 
 
Rio de Janeiro: sede da monarquia 
(Des)encontros culturais 
Diversidade da vida cotidiana: textos para debate 
Sugestão de atividade 
Filmografia 
Bibliografia 
 
A transferência da corte para o Brasil, em 1808, trouxe profundas transformações à 
situação colonial, em decorrência das medidas econômicas e políticas tomadas pelo 
príncipe regente, como a decretação da abertura dos portos, a assinatura dos tratados de 
1810 com a Inglaterra e a elevação do país a Reino Unido. Essas medidas oficiais 
geralmente são vistas como provocadoras das mudanças que resultaram na independência 
brasileira. Neste texto serão evidenciadas importantes mudanças que ocorreram também em 
outros níveis, e que foram tão intensas e influentes quanto as resoluções e decretos oficiais, 
contribuindo de forma decisiva para o estabelecimento de novos padrões sociais, bem 
como, sobretudo, para a ruptura da condição de país colonizado. 
É importante perceber que a prática política não se fazia presente apenas nos 
gabinetes, nas assembléias e nos órgãos de governo. Ao contrário do que se imagina 
comumente, ela era exercida não só pelos dirigentes políticos oficiais, como deputados e 
senadores, mas também pelos populares que se reuniam nas esquinas, pelas elegantes 
senhoras que freqüentavam as suntuosas festas da corte e pelos escravos festejando nas 
senzalas com seus batuques e cantorias. 
Além disso, a criação de órgãos públicos e o funcionamento pleno da máquina 
burocrático-administrativa estatal propiciaram uma convivência com as autoridades, com 
diferentes procedimentos e práticas, estabelecendo uma relação de maior intimidade da elite 
colonial com o poder. As novas instituições, a circulação de jornais e a criação de 
estabelecimentos de ensino estimularam diferentes formas de sociabilidade. Essa relação 
cotidiana com a corte e com o aparato que a cercava estabeleceu alterações profundas na 
sensibilidade da elite brasileira, modificando suas concepções acerca do papel representado 
pela colônia até então e firmando, aos poucos, a noção de que o Brasil poderia se 
autogovernar. 
A seguir serão analisados alguns aspectos das mudanças realizadas na fisionomia do 
Rio de Janeiro nesse período, como a introdução dos chamados “melhoramentos urbanos”, 
enfocando também algumas transformações operadas na vida cotidiana da cidade e da sua 
população em função da vinda da corte e dos nobres portugueses. 
 
Rio de Janeiro: sede da monarquia 
 
Apesar das melhorias feitas pelos vice-reis no final do século 18, o Rio de Janeiro, 
em 1808, ainda era, na visão dos nobres portugueses recém-chegados, uma cidade precária: 
destituída de palácios, de ruas estreitas e malcheirosas, com seus esgotos a céu aberto, suja 
e descuidada. A vinda da corte provocou uma série de transformações, alterandodiversos 
aspectos da vida colonial. Charcos foram drenados, as ruas, depois de ampliadas, ganharam 
calçadas – por exemplo, a rua Direita, no centro, foi toda modernizada – e novos bairros – 
como Glória, Flamengo e Botafogo – foram praticamente criados. Esse processo 
intensificou-se principalmente após a chegada da missão artística francesa, em 1816, 
quando a cidade começou a adquirir um ar europeu (veja também Episódio 3 – O Brasil dos 
viajantes). Para se ter uma idéia do seu crescimento, basta observar o aumento 
populacional: o número de habitantes passou de 50 mil pessoas para 110 mil em apenas dez 
anos. 
A chegada de D. João VI não transformaria apenas o aspecto da cidade. Houve a 
implantação de todo o aparato administrativo e político da metrópole, aproximando a elite 
local dos círculos de poder metropolitano, bem como dos ritos e cerimoniais da corte. 
Segundo Lilia Schwarcz, 
 
[...] entraria no Brasil, também, toda uma agenda de festas e uma etiqueta real que, 
abaixo do equador, ganhou um colorido ainda mais especial. Com efeito, vêm junto 
com a burocracia lusitana os te-déuns, as missas de ação de graças, as embaixadas, 
as grandes cerimônias da corte. A construção de monumentos, arcos de triunfo e a 
prática das procissões desembarcam com a família real, que tentou modificar sua 
situação desfavorecida repatriando o teatro da corte e instaurando uma nova “lógica 
do espetáculo” que tinha, entre outros, os objetivos de criar uma memória, dar 
visibilidade e engrandecer uma situação, no mínimo, paradoxal. (Schwarcz, 1998, 
p. 36). 
 
A presença da corte na cidade fez, portanto, aumentar a quantidade de festejos 
públicos, pois a monarquia aproveitava todos os pretextos para promovê-los. Eram, por 
exemplo, aniversários, casamentos, nascimentos (e até funerais) da família real – 
cerimônias cheias de pompa e luxo às quais o povo assistia admirado. 
A vida cultural e o movimento intelectual da cidade intensificaram-se. Criaram-se o 
Jardim Botânico, a Biblioteca Real, a Imprensa Régia, escolas e cursos superiores foram 
instituídos, jornais, lançados, e um maior número de livros começou a circular.Aos poucos, 
os hábitos culturais foram mudando. Mais bailes e banquetes começaram a ser promovidos 
– principalmente quando a nobreza se propunha a receber algum membro da família real. O 
Teatro São João foi inaugurado em outubro de 1813, e a partir daí, o Rio de Janeiro 
começou a receber diversas companhias européias de ópera. Além dos espetáculos teatrais, 
a sociedade carioca também promovia saraus literários, jogos de salão ou mesmo pequenos 
concertos de câmara. 
Tudo isso provocou uma redefinição na conduta da elite do Rio de Janeiro. Com a 
vinda da corte, esse grupo começou a vislumbrar a perspectiva de juntar à sua força 
econômica uma maior participação política. Os membros da elite aproximaram-se da 
realeza, financiaram obras públicas e filantrópicas, comportavam-se como fidalgos, 
refinando suas vestes e gestos. Nesse jogo de troca de favores, recebiam em contrapartida 
privilégios, terras, isenções, direitos de exploração, títulos etc. Era uma espécie de 
aprendizado de participação no jogo político, vivenciando a proximidade com o centro de 
poder, interferindo nas decisões importantes. Com essa convivência ganhavam experiência 
política e autoconfiança. 
A vinda da corte provocou, portanto, um choque cultural em vários setores da 
sociedade carioca, que podia ser percebido nos pequenos detalhes da vida cotidiana, no 
convívio com a nobreza, na presença de estrangeiros que visitavam a cidade (coisa rara até 
então), na influência da moda francesa, nos novos costumes. Nesse sentido, a cultura 
tornava-se um instrumento da política, e o conhecimento, uma forma de poder. 
No entanto, as mudanças não foram capazes de suprimir os velhos costumes, nem 
de apagar completamente os traços característicos da velha cidade. Os antigos festejos de 
rua continuaram a se realizar, servindo de principal forma de entretenimento para as 
camadas mais pobres da população. Assim, apesar do ar de civilidade que o Rio de Janeiro 
adquiria com os novos bairros, o cosmopolitismo dos viajantes, a variedade de produtos e 
as novas práticas culturais, ainda conservava muito da antiga cidade colonial. Pelas ruas se 
ouvia o vozerio das quituteiras e negras de ganho, o soar dos tambores nos lundus e 
batuques, as brigas em torno dos chafarizes e os cânticos e rezas das festas religiosas de 
cunho mais popular, em que o sagrado e o profano se mesclavam, como nas folias do 
divino Espírito Santo, ou na queima do Judas, aos sábados de aleluia, quando ao primeiro 
toque dos sinos anunciando a ressurreição ouviam-se por toda a cidade as explosões de 
fogos e os clamores do povo. 
As festas populares não eram bem vistas pelas autoridades. Os viajantes são 
pródigos em descrever, às vezes chocados e escandalizados, as diversões dos negros, 
escravos ou forros, reunidos defronte das vendas, ou mesmo nas ruas. Ou seja, apesar dos 
novos ares, os costumes dos escravos continuavam permeando as práticas culturais que 
ocorriam na cidade, lembrando concretamente quais eram os limites e até onde as 
mudanças podiam ocorrer (veja também Episódio 5 – A capital do Império). Se o gosto 
pelo luxo e pelo conforto se enraizava nos hábitos da elite, costumes que ela considerava 
rudes e grotescos persistiam no seio do povo. 
 
(Des)encontros culturais 
 
Embora seja importante levar os alunos a compreender os motivos que fizeram a 
Coroa optar pela transferência da corte para o Brasil e saber detalhes do reinado de D. João, 
bem como sua volta a Portugal e o papel de D. Pedro na regência, há aspectos históricos 
importantes, menos factuais e mais voltados para o domínio da cultura que costumam ser 
pouco explorados nos livros didáticos. 
Podemos imaginar, por um lado, como se sentiram os nobres e o restante da 
comitiva portuguesa diante de sua chegada ao Rio de Janeiro; e, por outro, o que pensaram 
os habitantes do Rio de Janeiro e como perceberam a vinda da corte para a colônia. Em 
meio a uma atmosfera calorosamente festiva, contra o pano de fundo de uma cidade de 
paisagens belíssimas e natureza tropical exuberante e pródiga, não teriam passado 
despercebidos, aos olhos da comitiva real, as feições, os traços e o tom escuro da pele 
daqueles rostos que gritavam e acenavam entusiasticamente. As pomposas comemorações 
também não conseguiam esconder a verdadeira cara da cidade colonial com todas as suas 
mazelas. As luxuosas colchas de seda e os panos de veludo estendidos sobre os portais e 
janelas das residências, as ruas adornadas com areia branca, folhas perfumadas e vistosas 
bandeiras coloridas, as guirlandas de flores e ramagens e as lanternas acesas que enfeitavam 
os principais logradouros, apesar de disfarçar, não eram capazes de ocultar dos recém-
chegados uma cidade despojada, acanhada, malcheirosa, com ruas estreitas e esburacadas, 
vivendas simples e modestas, sem ornatos ou detalhes arquitetônicos elaborados. 
A população da cidade, por sua vez, embora extasiada com a visão do cortejo real, 
examinava, admirada e curiosa, a estranha gente de casaca, vestes ornadas, adereços, 
chapéus tricornes e criados fardados. Apesar da perplexidade diante do fausto e da pompa 
dos recém-chegados, o povo não deixaria de observar, comentar e se divertir com o aspecto 
desajeitado de D. João VI, o choro inconformado de Dona Carlota Joaquina, os gritos 
desvairados de Dona Maria I e as cabeças raspadas das nobres e damas de companhia 
devido à epidemia de piolho ocorrida a bordo, na viagem. O estranhamento era mútuo. 
 
[BOX] 
Diversidade da vida cotidiana: textos para debate 
 
Tendo em mente as informações apresentadas até aqui, proponha aos alunos uma 
comparação de trechos dos livros de Lethold & Rango – dois prussianos que estiveram no Rio de 
Janeiro em 1819 – e de Oliveira Lima, a fim de perceberalgumas sutilezas do fenômeno de 
transformações e permanências culturais ocorridas nessa fase: 
Há relativamente muito mais luxo aqui que nas mais importantes cidades da Europa. Com 
dinheiro compram-se artigos da moda, franceses e ingleses; em suma, tudo. O mundo 
elegante veste-se, como entre nós, segundo os últimos modelos de Paris. Os homens, apesar 
do grande calor, usam casaca e capas das mais finas telas e meias brancas de seda […]. 
Também trazem as chamadas capas escocesas importadas da Inglaterra. Têm elas gola alta e 
pala grande, não são forradas e a fazenda é de padrões coloridos e quadriculados, para o 
verão, de tessitura resistente. Achei demasiado vistosa essa indumentária, que lembra um 
robe de chambre. Levada a cavalo e de guarda-sol aberto sobre a cabeça, ainda parece mais 
ridícula. […]. O luxo das mulheres é indescritível. Jamais encontrei reunidas tantas pedras 
preciosas e pérolas de extraordinária beleza quanto nos beija-mãos de gala e no teatro, por 
certo as únicas ocasiões em que elas se exibem e dão asas a sua faceirice. Seguem o gosto 
francês ousadamente decotadas. Os vestidos são bordados de ouro e prata. Sobre a cabeça 
colocam quatro ou cinco plumas francesas, de dois pés de comprimento, reclinadas para 
frente, e, sobre a fronte, como em torno do pescoço, e em um dos braços, diademas 
incrustados de brilhantes e pérolas, alguns de excepcional valor. (Lethold, T. Von & Rango, 
L. von, 1966, p. 31) 
Oliveira Lima nos oferece o contraponto das observações registradas pelos prussianos, 
quando descreve o movimento e a presença dos negros nas ruas do Rio de Janeiro, nos levando a 
perceber que nem tudo eram estrangeirices nos hábitos e costumes da população da cidade: 
Como, sem faltar à verdade […], expulsar do tablado fluminense da época esse mundo 
animado de barbeiros ambulantes armados de medonhas navalhas, cesteiros vendendo os 
samburás que teciam, mercantes de galinhas, de caça, de palmito, de leite, de capim para 
forragem, de milho, de carvão, de cebolas e alhos, de sapé para colchões, quitandeiras de 
angu e café, carregadores, condutores de carros de boi que chiavam desesperadamente pelas 
ruas sem calçamento ou guarnecidas de lajes […]. Assim perpassava o incessante 
movimento popular de negra algazarra e negra alegria. (Lima, M. de Oliveira, 1996, p. 595) 
Ao analisar com os alunos os dois depoimentos, explore as ambigüidades desse momento 
histórico tão rico e complexo, observando que apesar de ter provocado uma série de mudanças na 
colônia, a chegada da corte não se constituiu numa ruptura. Como outros fatos históricos, tais 
mudanças não ocorreram súbita e repentinamente; ao contrário, desenrolaram-se em processos 
longos e complexos, entremeados de permanências e continuidades. 
Laura de Mello e Souza ressalta que “a vinda da família real seria, sem dúvida, um ponto de 
inflexão. Mas nunca de ruptura […]. Uma vida de corte, europeus em maior número e a presença 
mais efetiva do Velho Continente não bastariam para dar homogeneidade às normas de conduta 
[…]” (Mello e Souza, 1997, p. 444). Enquanto a civilité se espraiava no âmbito das elites, a vida 
cotidiana das camadas populares livres e dos escravos prosseguia na sua violenta luta diária pela 
sobrevivência. 
 
 
Sugestão de atividade 
Proponha aos alunos que façam uma entrevista com algum estrangeiro que 
conheçam. As perguntas podem girar em torno da vida cotidiana no país de origem, 
vestuário, hábitos, festividades religiosas e populares, a adaptação ao Brasil, a opinião do 
entrevistado a respeito de nossos costumes e modo de vida etc. O objetivo é orientar a 
reflexão sobre a diversidade cultural, ajudando os estudantes a entender o significado de 
choque, estranhamento e assimilação de comportamentos e hábitos no processo de 
convivência de culturas distintas. 
 
Filmografia 
Carlota Joaquina, a princesa do Brasil. Direção: Carla Camurati, 1994. 
 
Bibliografia 
LETHOLD, T. von & RANGO, L. von. O Rio de Janeiro visto por dois prussianos 
em 1819. São Paulo, Nacional, 1966. 
LIMA, M. de Oliveira. D. João VI no Brasil: 1808-1821. Rio de Janeiro, Topbooks, 
1996. 
MELLO E SOUZA, Laura. (org.). História da vida privada no Brasil, vol. 1. São 
Paulo, Companhia das Letras, 1997. 
NEVES, Lúcia Maria B. P. das & MACHADO, Humberto Fernandes. O Império do 
Brasil. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999. 
NIZZA DA SILVA, Maria Beatriz. Cultura e sociedade no Rio de Janeiro (1808-
1821). São Paulo, Nacional, 1977. 
SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do imperador. D. Pedro II, um monarca nos 
trópicos. São Paulo, Companhia das Letras, 1998. 
CADERNOS DA TV ESCOLA 
 
500 anos: o Brasil Império na TV 
 
 
Batalha dos Farrapos, de José Wasth Rodrigues, 1937. 
 
Rebeliões do império 
 
Um império luso-brasileiro 
O processo de consolidação da monarquia no Brasil 
Sob o signo da pluralidade 
Sugestão de atividade 
Filmografia 
Bibliografia 
 
A maioria dos livros didáticos aborda a independência do Brasil a partir da 
evocação de personagens ilustres, como D. Pedro e José Bonifácio, e de uma sucessão de 
acontecimentos políticos que teriam resultado no “grito do Ipiranga”. Nesses livros, a vinda 
da corte portuguesa é assumida como um marco inicial no processo de emancipação 
política, tendo possibilitado o estabelecimento de todo o aparato jurídico-administrativo na 
colônia e desencadeado medidas importantes, como por exemplo a abertura dos portos. A 
discussão aqui apresentada, longe de privilegiar datas e fatos considerados marcantes no 
desenrolar do processo de independência, busca ressaltar que desde finais do século 18 a 
elite já vinha discutindo opções políticas para a colônia. Assim, as decisões não foram 
tomadas de última hora, sob pressão (como pode parecer a partir da leitura de alguns 
autores), e a opção pelo regime monárquico fazia parte de um projeto bem pensado e 
discutido pela elite local. No entanto, a elite não era homogênea, e as reações à implantação 
de um sistema monárquico escravista não se fizeram tardar. Durante todo o período 
regencial, revoltas e insurreições irromperam por diversas províncias, mostrando 
claramente as insatisfações locais, bem como o desejo de participação política de outros 
segmentos da sociedade. 
Para entender a independência, é necessário vê-la não só do ponto de vista interno – 
como fruto dos acontecimentos políticos mais imediatos daquele período –, mas também 
como resultado de um processo de maiores dimensões, mais extenso e profundo, que foi a 
crise do antigo sistema colonialista. É importante considerar que a desagregação do mundo 
colonial ocorreu em função de um conjunto maior de fatores, que englobaram desde as 
transformações no sistema capitalista, de modo mais amplo, até a crise do poder absoluto 
dos reis, a difusão das idéias ilustradas, o período pombalino e as revoltas e sedições que 
ocorreram no Brasil no final do século 18, nas quais se questionou a condição colonial e a 
sujeição em relação à metrópole. 
As insatisfações locais contra o pacto colonial e o poder soberano da metrópole 
permitiram que os protestos e críticas que circulavam no dia-a-dia pelas diversas províncias 
ganhassem corpo e se transformassem em movimentos organizados contra o sistema. Parte 
da elite colonial, influenciada pelo ideário liberal francês que varria a Europa na época, e 
espelhando-se na independência americana, encontrava-se disposta a rebelar-se contra a 
Coroa, apoiando a autonomia política. Assim, ao final do século 18, no Brasil, corriam 
idéias separatistas e republicanas – a exemplo das que fundamentaram a Inconfidência 
Mineira e a Revolta dos Alfaiates na Bahia, em 1798. 
No entanto, após a Revolução Francesa e o levante dos escravos ocorrido no Haiti, 
em 1792, as idéias da ilustração e o republicanismo passaram a ser vistos com desconfiança 
por boa parte da elite colonial brasileira. Amedrontados com a crescente politizaçãode 
estratos “médios” da sociedade, com a participação de populares e escravos em confrontos 
armados e o conseqüente questionamento em relação à escravidão, os senhores recuaram. 
Ficava evidente, para estes, que tais motins eram extremamente perigosos e ameaçavam a 
ordem vigente. Enquanto nos botecos das esquinas se discutiam as questões políticas do 
momento e espalhavam-se as notícias de levantes nas outras províncias, nas ruas irrompiam 
conflitos em que portugueses eram hostilizados e os impostos e taxas, contestados. Os 
espaços para a participação política de homens brancos livres e pobres, escravos e negros 
forros começavam a ser abertos, tornando claro para a elite que só a força poderia conter o 
que ela costumava chamar de “gente amotinada e turbulenta”. 
Entretanto, nem todos concordavam com a idéia de que o rompimento definitivo em 
relação a Portugal era a solução. Uma determinada parte da classe dominante pensava de 
forma bem diferente: para ela, idéias de transformações políticas radicais e o perigo de uma 
sublevação racial no Brasil obrigavam-na a buscar com a Coroa uma solução de 
compromisso que conciliasse os interesses. Segundo o historiador Kenneth Maxwell, “o 
estabelecimento da monarquia no Brasil representava uma solução negociada bem-vinda e 
esperançosa, que oferecia a oportunidade de mudanças políticas sem desintegração social” 
(Maxwell, 1999, p. 188). 
 
Um império luso-brasileiro 
 
No final do século 18, alguns aspectos e princípios do sistema colonial começaram a 
ser repensados pelos portugueses. Diante de uma conjuntura adversa – com os 
questionamentos em torno do poder absoluto do rei, a divulgação dos ideais liberais e as 
ameaças de fracionamento do reino –, surgiu em Portugal a idéia de formação de um vasto 
e poderoso império, fundado em bases distintas das que regiam até então as relações entre a 
metrópole e a colônia. O projeto, de cunho reformista e respaldado pela burguesia 
mercantil, formada por famílias importantes e poderosas, foi estimulado por D. Rodrigo de 
Souza Coutinho, herdeiro político e intelectual de Pombal, que ficou à frente do governo 
em dois períodos: 1796-1803 e 1807-1812. 
Suas idéias fundamentavam-se em um programa de mudanças que buscava 
reorganizar o império em bases mais rentáveis, criando novas oportunidades no setor de 
produção agrícola e repensando sua estrutura política. Segundo Iara Lins Souza “essa 
reestruturação política articulava-se com uma valorização do Brasil, considerado uma 
solução para as dificuldades econômicas lusas” (Souza, 2000, p. 16). A própria instalação 
do centro de poder na principal colônia foi uma tese defendida por alguns intelectuais e 
políticos durante esse período – bem anterior portanto à chegada da família real em 1808. 
Assim, a transferência da corte portuguesa para o Brasil, que muitos autores apresentam 
como uma idéia de última hora, fruto das pressões inglesas, já fora aventada anteriormente, 
e era recorrente em Portugal sempre que alguma dificuldade política, administrativa ou 
econômica se apresentava (veja também Episódio 1 – A corte desembarca no Brasil). 
O projeto de um império luso-brasileiro, amadurecido desde o final do século 18 e 
início do 19 pelos portugueses, ganhou adeptos também entre a elite brasileira. Formada em 
instituições como a universidade de Coimbra, ou mesmo educada nos colégios religiosos no 
Brasil, leitora das obras de políticos e filósofos franceses, essa elite ficou conhecida como a 
geração de 1790, e dela fizeram parte, dentre outros, José Bonifácio de Andrada e Silva e 
Diogo Feijó. Também eles defendiam a criação de um vasto império, concordando que se 
Portugal desse oportunidades para seus irmãos de além-mar, não seria necessário um 
desligamento radical, como ocorrera com as colônias norte-americanas. 
Discutida intensamente, a idéia de um império luso-brasileiro baseava-se no 
estabelecimento de uma unidade política e mercantil alicerçada na monarquia e centrada na 
figura do rei. O Brasil foi visto como o sustentáculo desse império, e ao final do século 18 
havia, tanto no reino quanto na colônia, quem pensasse que mudanças econômicas e 
políticas, inspiradas no reformismo ilustrado, conseguiriam manter a unidade do império 
português. Para levar adiante esse projeto, era imprescindível contar com uma certa unidade 
entre os setores da elite colonial, principalmente no momento em que propostas de cunho 
mais radical começavam a ganhar corpo em terras brasileiras. 
 
O processo de consolidação da monarquia no Brasil 
 
Em princípios da década de 1820 a situação política era confusa no Brasil. Apesar 
de lutarem contra a tirania econômica, contra as medidas políticas repressoras e arbitrárias 
das cortes reunidas em Lisboa e de concordarem com o esgotamento do sistema colonial, 
grupos sociais diversos tinham propostas variadas acerca de como poderia se organizar o 
país após a emancipação. José Murilo de Carvalho afirma que “a decisão de fazer a 
independência com a monarquia representativa, de manter unida a ex-colônia, de evitar o 
predomínio militar, de centralizar as rendas públicas etc. foram opções políticas entre 
outras possíveis na época” (Carvalho, 1980, p. 20). 
Segundo o mesmo autor, a elite política brasileira, apesar de não se constituir em 
um bloco monolítico, apresentando divergências e conflitos internos, e mesmo sendo 
composta por elementos de diferentes setores – proprietários de terras, padres, militares, 
magistrados e outros profissionais liberais –, possuía alguma homogeneidade. Essa relativa 
unidade foi favorecida por um processo de socialização e construção ideológica, por meio 
da educação formal em universidades como a de Coimbra e instituições similares da 
colônia, da ocupação em atividade burocráticas e de mecanismos de treinamento. Tudo isso 
acabou por garantir a viabilização do seu projeto político. 
Desse modo, se por um lado não havia uma coesão que favorecesse a ação conjunta 
e coordenada, por outro havia consenso ideológico e o sentimento de que dependia da 
própria elite manter a união territorial e definir a natureza política do governo. Fica 
evidente que a instalação de um Estado centralizado, sob regime monárquico, em que 
persistia o trabalho escravo – caminho diverso do que seguiram as ex-colônias espanholas, 
que adotaram a república e libertaram os escravos após longas e sangrentas lutas populares 
–, não foi uma questão de acomodação, ou mesmo de falta de opção. Foi, antes, uma 
escolha bem pensada e defendida com vigor. Essa opção de certa forma garantiria uma 
transição pacífica e asseguraria privilégios, preservando a ordem interna e, sobretudo, a 
manutenção das instituições tradicionais. 
Mas essa não seria uma tarefa fácil. Em meio à vastidão de um território cheio de 
contrastes e problemas, era necessário construir um país, adotar um sistema que agregasse 
as partes dispersas em torno de um centro, conciliar propostas divergentes, submeter e 
aniquilar, mesmo que pela força, ideais conflitantes com seus interesses, como por exemplo 
os que propugnavam a implantação de um regime republicano e o fim do trabalho escravo. 
Portanto (diversamente do que se costuma afirmar), a estabilidade política do país 
não ficou completamente definida no 7 de setembro de 1822. Decretada a independência, o 
poder concentrou-se nas mãos de um grupo reduzido da elite, o que acirrava as diferenças 
internas entre as facções mais liberais e os conservadores. Nesse contexto, as camadas 
populares foram excluídas da participação política, em detrimento da cidadania. Assim, 
pode-se perceber que a independência não alterou significativamente o panorama que 
vigorou durante todo o período colonial, pois o país continuou como exportador de 
produtos agrícolas e economicamente dependente da Inglaterra. A organização do trabalho 
seguiu sendo baseada na mão-de-obra escrava e a estrutura produtiva permaneceucalcada 
no latifúndio e na monocultura, limitando as oportunidades e a melhoria das condições de 
vida das camadas pobres e livres, que se viam sem perspectivas diante da impossibilidade 
de acesso à terra, do escravismo e do domínio dos grandes proprietários. 
Esse quadro se agravava em função da complexidade dos conflitos internos e da 
heterogeneidade e particularidade da situação das províncias. Era de se esperar que, em 
meio a tantas contradições, a consolidação da monarquia escravista proposta pela elite não 
se desse de forma tranqüila. De fato, nas duas décadas seguintes à independência, 
sucederam-se lutas e sublevações, desmistificando a visão apresentada por alguns autores 
de que a trajetória de formação do Brasil foi pacífica e destituída de lutas populares, 
violência ou derramamento de sangue. 
Recheado de revoltas e rebeliões nas províncias, que se prolongaram por uma 
década além de sua maioridade, esse momento da história do Brasil patenteia a existência 
de diferentes propostas políticas para o país, as profundas desigualdades sociais e sobretudo 
o desejo de participação de outras camadas da sociedade. Enquanto “uns ressentiam-se da 
excessiva centralização e pleiteavam um regime federativo, outros propunham a abolição 
gradual da escravidão, demandavam a nacionalização do comércio, chegando a sugerir a 
expropriação dos latifúndios improdutivos” (Costa, 1979, p. 12). 
 
 
[BOX] 
Sob o signo da pluralidade 
 
A composição social dos participantes das rebeliões provinciais variava caso a caso. Alguns 
eram membros da própria elite, que, junto às camadas médias, absorviam e pregavam os ideais do 
liberalismo de forma mais radical, ou lutavam por maior autonomia para as províncias e contra a 
concentração de poder – esse foi o caso da Confederação do Equador ou mesmo da Revolução da 
Farroupilha. Em outras situações, tratava-se de índios e mestiços que, vivendo em condições 
miseráveis, insurgiram-se contra os desmandos do governo central e as péssimas condições de vida, 
como ocorreu na revolta conhecida por Cabanagem. E havia ainda o caso de escravos, como no 
caso dos malês, que condenados à opressão e sujeição, se rebelaram na Bahia em defesa da fé 
muçulmana e do fim da escravidão, espalhando o pânico entre os senhores proprietários. 
 
 
Assim, para aqueles que estavam no governo, a dispersão e as constantes lutas entre 
as diversas facções nas províncias sinalizavam como ameaçadoras e perigosas, pois 
poderiam significar desunião, desagregação política ou mesmo um desejo de mudanças 
mais profundas no sistema. Era necessário, segundo diziam alguns representantes da elite 
dirigente da época, parar o “vulcão revolucionário” que ameaçava as instituições, controlar 
e dominar a “canalha africana”. Assustados com o radicalismo de alguns grupos e com o 
aumento do número de revoltas, depredações, agressões e agitações de rua, e sob o pretexto 
de restauração da ordem no país, os grupos que estavam à frente do poder durante o período 
regencial articularam uma reação em grande escala, com a elaboração de leis repressivas 
mais fortes, perseguição, prisão e deportação de líderes radicais e a organização de milícias 
civis (que resultariam depois na criação da Guarda Nacional). 
O caráter violento das medidas repressivas que se abateram sobre os movimentos 
provinciais e as manifestações de rua, ou mesmo individualmente sobre políticos de 
oposição, evidenciavam para a elite que seu projeto político estava ameaçado. Nos anos que 
se seguiram, 
 
[...] tratava-se de armar o poder de condições para pôr fim à agitação. A ordem, a 
paz, a tranqüilidade foram palavras acolhidas por toda parte, por toda a parte 
encontrando receptividade, ganhando adeptos. Na mesma marcha, as alterações 
eram gradativamente introduzidas, para reforço da autoridade central […]. 
Preparava-se o caminho para o novo sistema com o restabelecimento do Império na 
pessoa do herdeiro ainda menor. Depois da Maioridade, a curtos intervalos, eles 
viriam dar a ilusão da ordem na economia e nas finanças, a ilusão do progresso. 
(Sodré, 1978, p. 248). 
 
Sugestão de atividade 
Trabalhe a iconografia da proclamação da independência difundida em livros 
didáticos. Utilize telas mais conhecidas, como Independência ou morte, de Pedro Américo, 
ou a Proclamação da independência, de François René Moreaux, orientando os alunos a 
observar e escrever sobre a paisagem retratada, o lugar que as pessoas ocupam no contexto 
geral do quadro, sua expressão facial, gestos, vestimentas, adornos etc. A classe pode 
refletir e escrever sobre qual a idéia da independência que os pintores tentaram transmitir 
com seus quadros. Feita a tarefa, fale um pouco da visão não oficial do episódio, 
promovendo um debate que explore as observações mais interessantes, as críticas ou 
mesmo as opiniões conflitantes do grupo. 
 
Filmografia 
Um certo capitão Rodrigo. Direção: Anselmo Duarte, 1972. 
Anahy de las Missiones. Direção: Sérgio Silva, 1998. 
 
Bibliografia 
CARVALHO, José Murilo de. A construção da ordem. Rio de Janeiro, Campus, 
1980. 
COSTA, Emília Viotti da. Da monarquia à república. São Paulo, Ciências 
Humanas, 1979. 
HOLANDA, Sérgio Buarque de. História geral da civilização brasileira, t. 2, vol. 
2. São Paulo, Difel, 1967. 
MAXWELL, Kenneth. “A geração de 1790 e a idéia do império luso-brasileiro.” In: 
Chocolate, piratas e outros malandros. Ensaios tropicais. Rio de Janeiro, Paz e 
Terra, 1999. 
MOTA, Carlos Guilherme. 1822. Dimensões. São Paulo, Perspectiva, 1972. 
PRADO Jr., Caio. Evolução política do Brasil. São Paulo, Brasiliense. 1975. 
SODRÉ, Nelson Werneck. As razões da independência. Rio de Janeiro, Civilização 
Brasileira, 1978. 
SOUZA, Iara Lis C. A independência do Brasil. Rio de Janeiro, Zahar, 2000. 
CADERNOS DA TV ESCOLA 
 
500 anos: o Brasil Império na TV 
 
 
Página do diário da viagem de Hercule Florence, de 1825 a 1829. (In: O Brasil de hoje no espelho do século XIX, de 
Maria de Fátima G. Costa. São Paulo, Estação Liberdade, 1995) 
 
O Brasil dos viajantes 
 
Tema para debate: relação do homem com a natureza 
Uma expedição científica pelo interior do Brasil: organização e cotidiano 
As grandes expedições da primeira metade do século 19 
As obras de Debret e Rugendas 
Estudo de imagens 
Natureza e civilização 
Sugestão de atividade 
Filmografia 
Bibliografia 
 
A partir da segunda metade do século 18 e início do 19, na Europa, houve uma 
mudança de sensibilidade em relação à natureza, resultando numa afirmação das ciências 
naturais. Assistia-se ao incremento das expedições científicas, dirigidas para as Américas, 
África e Oceania, com o intuito de pôr à prova teorias, coletar espécimes para os museus ou 
mesmo descobrir, para um mercado europeu em expansão, novas oportunidades comerciais. 
O imenso território brasileiro, praticamente inexplorado, despertava a curiosidade 
dos europeus interessados em estudar a natureza tropical e o homem sul-americano. Quase 
todos aportavam no Rio de Janeiro e de lá buscavam traçar itinerários por caminhos ainda 
não percorridos. Ao final de alguns anos de viagem, regressavam a seus países de origem 
para escrever não apenas obras científicas, mas também, principalmente, os famosos diários 
de viagem, que deleitariam os leitores impossibilitados de conhecer os trópicos. 
Esses naturalistas coletavam plantas e animais em grandes quantidades para os 
museus de história natural que os financiavam, ajudavam a desenvolver a mineralogia, a 
paleontologia e a astronomia e levavam artistas em suas expedições para retratar a 
paisagem e a gente local. Conforme publicavam seus estudos na Europa, fomentavam a 
vinda de novos viajantes e, no decorrer do século 19, todas as regiões do Brasil foram por 
eles visitadas. Além das expedições de cunho científico, vários estrangeiros que aqui 
vinham, a negócios ou a passeio, escreveram relatos sobre o país naprimeira metade do 
século, a exemplo de John Mawe, John Luccock, Maria Graham, Henry Koster, dentre 
muitos outros. Relatos que vão se constituir numa documentação significativa sobre a 
sociedade do Brasil Império (ressalvando contudo o fato de que suas observações foram 
feitas sob uma ótica eurocêntrica). 
 
[BOX] 
Tema para debate: relação do homem com a natureza 
 
Esse é um tema propício para debater com os alunos a relação do homem com a natureza, 
mostrando que diferentes percepções e sensibilidades se desenvolveram na história dos grupos 
humanos. Ele trará melhores resultados se abordado interdisciplinarmente e, nesse sentido, o 
professor de história pode trabalhar em conjunto com o de ciências para definir, juntamente com os 
alunos, o perfil de um ambientalista na atualidade, comparando-o com o cotidiano de um viajante 
naturalista, como o descrito a seguir. 
 
 
Uma expedição científica pelo interior do Brasil: organização e cotidiano 
 
Uma expedição podia exigir meses de preparo. Era preciso definir o itinerário, 
contratar tropeiros e guias, comprar provisões, organizar o material científico e os 
instrumentos de medição e de trabalho para os botânicos e zoólogos, tais como mapas, 
microscópios e materiais especiais para conservar os espécimes coletados. Precisava-se, 
portanto, de uma considerável soma de dinheiro a fim de financiar a aventura, e muitas das 
expedições foram subsidiadas por governos europeus. Os viajantes que vinham por conta 
própria procuravam vender o material recolhido para os museus, dando assim 
prosseguimento às suas andanças. 
Além do mais, uma expedição também precisava contar com o apoio oficial do 
governo imperial, pois o deslocamento pelo interior do país dependia do deferimento de 
licenças especiais, vistos de entrada, permanência e saída etc. Era importante que esses 
viajantes sempre levassem consigo as famosas cartas de recomendação, pois a população 
do interior e as autoridades locais viam os estrangeiros com certa desconfiança. 
O cotidiano de um viajante naturalista era determinado por seus objetivos 
científicos. Não havia dia em que não fizesse algum tipo de investigação. Durante a noite, 
anotava no diário o que fora feito, bem como as impressões gerais, e ainda preparava e 
empacotava os animais e plantas coletados. O naturalista viajante organizava e classificava 
as observações de modo a, quando regressasse à sua terra natal, poder revisá-las e trabalhá-
las. Em uma expedição bem-sucedida como a de Spix e Martius, em que – coisa rara – não 
se perdeu nenhuma caixa de material, foram reunidas 6.500 espécies de vegetais, formando 
um herbário de 20 mil exemplares prensados, e uma centena de plantas vivas, levadas para 
o Jardim Botânico de Munique. A coleção zoológica, apesar de menor devido às 
dificuldades de coleta de animais, também comportava centenas de espécimes, além do 
material mineralógico e paleontológico, bem como uma coleção etnográfica (objetos e 
utensílios principalmente de índios). 
O cotidiano era marcado, de um lado, pelo enlevo na contemplação da natureza, e, 
de outro, por inúmeros acidentes que colocavam a vida dos membros da expedição em 
perigo, tais como a travessia de rios, a perda de equipamento, as dificuldades de obter 
provisões, picadas de cobra, afogamentos, ferimentos etc. Todos eram unânimes em 
reclamar dos pequenos insetos que infernizavam o dia-a-dia: pulgas, baratas, carrapatos, 
aranhas, formigas etc. Isso sem mencionar o horror aos esturros de onças, as chuvas 
torrenciais que destruíam as coleções e, principalmente, as doenças, sobretudo as febres 
malignas. Desse modo, a viagem do naturalista parecia transitar entre o paraíso e o inferno 
– de fato, as imagens preferidas para representar a natureza tropical e a relação do homem 
civilizado com ela. 
 
As grandes expedições da primeira metade do século 19 
 
Apesar de se falar muito nos viajantes e na sua importância para a história do Brasil, 
este é um tema não muito explorado pelos livros didáticos. Assim, a seguir, serão 
apresentadas algumas informações básicas sobre as principais expedições que percorreram 
o país no início do século 19, que servirão de subsídio para desenvolver as atividades 
propostas. 
 
Príncipe Maximiliano. Sua expedição teve início em 1815, percorrendo a mata 
costeira do litoral do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia, penetrando também em direção 
a Minas Gerais. Ele voltou à Europa em 1817, com farto material coletado, publicando em 
1820 e 1821 o livro Viagem ao Brasil nos anos de 1815 a 1817, ricamente ilustrado. Seus 
principais interesses se concentraram em aspectos da cultura indígena – etnografia, traços 
fisionômicos, diferenças culturais, linguagem e vocabulário –, e ele procurou conhecer e 
observar tanto os índios aculturados e aldeados quanto os que ainda estavam em estado 
selvagem (alguns, como os botocudos, considerados bravos e temíveis, despertaram 
particular interesse do príncipe, que deles coletou um material de valor inestimável). Sua 
visão sobre os nativos – que era aliás também a idéia corrente em sua época – apoiava-se 
no antagonismo entre civilização e barbárie, mas isso não o impediu de legar diversas 
contribuições aos estudos etnográficos das populações indígenas. 
 
Spix e Martius. Esta foi sem dúvida uma das expedições mais importantes da 
época, por ter gerado um volume enorme de informações sobre o Brasil. Os dois estudiosos 
chegaram ao Rio de Janeiro em julho de 1817, como membros da missão austríaca que 
acompanhava a princesa Leopoldina, e permaneceram na cidade por seis meses, preparando 
o itinerário da viagem, a ser iniciada em dezembro. Auxiliados por tropeiros e guias 
nativos, Spix e Martius percorreram mais de 10 mil quilômetros do território brasileiro em 
cerca de três anos. Passaram por São Paulo e Minas Gerais (Vila Rica e Distrito 
Diamantino) e seguiram rumo norte, atravessando o São Francisco na fronteira com Goiás, 
de onde partiram para o litoral, cruzando a província baiana. Chegaram a Salvador e 
excursionaram por Ilhéus, depois foram rumo noroeste, cruzando os sertões de 
Pernambuco, Piauí e Maranhão (em São Luís ambos adoeceram, quedando-se por algum 
tempo na cidade). Em julho de 1819 navegaram até Belém, lançando-se em uma extensa 
viagem pela bacia amazônica. Separaram-se nessa região para fazer pesquisas nos rios 
Amazonas, Negro, Solimões e Japurá, aproximando-se das fronteiras do Peru e da 
Colômbia. Voltaram a Belém em abril de 1820, de onde partiram para a Europa. 
Entre 1823 e 1831 foram editados os três volumes da Viagem ao Brasil, com um 
atlas de estampas litografadas, bem como um compêndio com músicas indígenas e canções 
populares (lundus). Spix morreu ainda jovem, mas Martius, que por ocasião de seu regresso 
estava com 26 anos, viveu até os setenta anos, e dedicou praticamente toda sua vida ao 
estudo do Brasil, conquistando papel de destaque na produção científica européia. 
 
Georg Heinrich von Langsdorff. Langsdorff chegou ao Brasil em 1813, como 
cônsul-geral da Rússia. Durante os sete primeiros anos em que permaneceu no país, 
recebeu numerosos naturalistas, estimulando a troca de conhecimentos e orientando as 
expedições. Em sua casa no Rio de Janeiro e na fazenda da Mandioca, Langsdorff abrigava 
estudiosos de diversas nacionalidades que se encontravam em trânsito ou se preparavam 
para percorrer o interior do Brasil em alguma expedição. Em 1824 ele organizou sua 
própria expedição, percorrendo a região de Minas Gerais. (Dela fez parte o desenhista 
Rugendas, que depois abandonaria o grupo para seguir viagem sozinho.) 
Langsdorff não desistiu de fazer uma grande viagem pelo interior. Para isso 
conseguiu financiamento do czar e contratou o jovem artista Adrien Taunay, bem como 
Hercule Florence, além de um naturalista e um botânico. Partiram do Rio de Janeiro para 
São Paulo em 1825, e de lá para o Mato Grosso, seguindoo caminho das monções pelos 
rios Tietê, Paraná e seus afluentes, em direção aos afluentes do rio Paraguai. Seria uma 
viagem trágica, marcada pela morte de Adrien Taunay, afogado no rio Guaporé, e também 
pela perda de razão do próprio Langsdorff. No último trecho da viagem, em que 
percorreram os afluentes do Amazonas, febres intermitentes acometeram os membros do 
grupo. Quando chegaram a Belém, em setembro, alugaram um brigue que os levou de volta 
ao Rio de Janeiro. Langsdorff voltou para a Europa, mas nunca mais recuperou a sanidade. 
Parte da expedição pode ser acompanhada no diário de Hercule Florence: Viagem fluvial do 
rio Tietê ao Amazonas. 
 
Outras expedições. Além dos naturalistas, muitos estrangeiros viajaram pelo país e 
escreveram diários relatando suas impressões sobre a natureza tropical, os hábitos sociais 
pitorescos e exóticos e a vida cotidiana – por vezes divulgando na Europa uma imagem não 
exatamente fidedigna do Brasil. Destacam-se, dentre outros, Maria Graham, Henry Koster, 
Saint Hilaire, J. E. Pohl, Gardner, Daniel Kidder e Castelnau. Além dos diários, uma série 
de viajantes também deixou suas impressões registradas na forma de gravuras, pinturas e 
aquarelas, a exemplo de Thomas Ender, Émil Taunay, Hercule Florence, Charles Landseer, 
Henry Chamberlain, Jean-Baptiste Debret e Johann Moritz Rugendas. Muitos deles vieram 
como membros da missão artística francesa (1816) ou da missão austríaca (1817). A 
produção desses artistas foi tão significativa que marcaria para sempre o imaginário popular 
sobre a vida do período. Mas o olhar com que retrataram o país é um tanto ambíguo, pois 
apesar de tentarem ser fiéis à observação, eles não conseguiram deixar de imprimir em suas 
imagens uma certa concepção etnocêntrica acerca da nossa sociedade. Tanto os viajantes 
como os artistas objetivavam publicar na Europa os conhecidos “álbuns pitorescos”, dos 
quais os de Debret e Rugendas são exemplos perfeitos. 
 
As obras de Debret e Rugendas 
 
Debret chegou ao Brasil em 1816 como membro da missão artística francesa, e 
viveu sobretudo dos quadros históricos e retratos da família real que pintou. Em 1827 
realizou uma longa viagem, em direção ao Rio Grande do Sul. Viveu no Brasil durante 
quinze anos, voltando à França após a abdicação de D. Pedro, em 1831, para organizar o 
material coletado e publicar os três volumes de sua obra Viagem pitoresca e histórica ao 
Brasil, entre 1834 e 1839. 
Apesar de ser mais conhecido por sua obra de cronista da vida urbana, Debret não 
foi apenas o pintor de cenas do cotidiano, hábitos da vida doméstica e atividades 
profissionais das camadas populares; foi também um sagaz espectador do cerimonial da 
corte, representando aspectos da vida da elite política e catalogando, além de eventos 
importantes, todas as peculiaridades de uma corte sui generis, onde a uniformes e trajes de 
gala, ricos adornos e festas suntuosas se contrapunha a realidade da escravidão. Suas telas, 
gravuras e desenhos revelam um pintor preocupado em reproduzir com exatidão aspectos 
da natureza e da paisagem do país, o que o leva a retratar, com sensibilidade, a exuberância 
e beleza da terra, a diversidade dos animais e a riqueza da fauna brasileira. O valor da sua 
obra está não só na forma como consegue apreender o todo e o pormenor, mas ainda na 
diversidade dos temas que retrata. 
Esses aspectos estão presentes também na obra de Rugendas, que esteve no Brasil 
em duas ocasiões. Em 1822, aos dezenove anos, como desenhista da equipe de Langsdorff, 
recolheu material para sua Viagem pitoresca através do Brasil. Com o propósito de 
enriquecer seu conhecimento, em 1831 iniciou uma grande viagem pelas Américas, 
passando por México, Chile, Peru, Bolívia, Argentina e Uruguai, e fazendo uma escala de 
pouco mais de um ano – entre 1845-1846 – no Rio de Janeiro. Esse périplo frutificou em 
uma obra momentosa, que soma, entre pinturas a óleo, aquarelas e desenhos, cerca de 6 mil 
peças. 
A produção de Debret e Rugendas é riquíssima em termos de variedade temática: 
florestas virgens, animais e plantas, paisagens naturais, tipos humanos e cenas urbanas. 
Nestas últimas destacam-se os meios de transporte, divertimentos populares, alimentos 
consumidos na cidade, aspectos das casas e construções, vendedores de rua, hábitos 
domésticos etc. Essas figuras triviais flanando pelas ruas e o registro de seus costumes 
constituem um excelente material para o estudo do Brasil Império. 
 
[BOX] 
Estudo de imagens 
 
É muito comum a utilização nos livros didáticos de imagens do tempo dos viajantes, 
principalmente gravuras de Debret e Rugendas. No entanto, quase sempre essas gravuras aparecem 
apenas para ilustrar a história do Brasil no período, e pouca atenção tem se dado para a iconografia 
como um importante documento a ser trabalhado em sala de aula. Nesse sentido, é interessante 
explorar essas imagens, decompô-las em seus vários aspectos e discutir com os alunos o olhar que 
orientou aquela composição. Elas representam, em muitos sentidos, o imaginário europeu sobre o 
Brasil, ao mesmo tempo que, ambiguamente, fazem um interessante registro de como era a vida 
cotidiana nas nossas grandes cidades e os principais valores então vigentes. 
Selecione imagens de Debret e Rugendas presentes nesses livros e interprete-as como 
documentos da vida cotidiana na primeira metade do século 19. Proponha aos alunos complementar 
esse trabalho com redações ou desenhos (numa atividade interdisciplinar com Arte), especificando 
detalhes desse cotidiano, as relações de trabalho, a arquitetura, a natureza e outros elementos que 
quiserem abordar. 
 
 
Natureza e civilização 
 
Uma das questões centrais a permear a obra de viajantes e naturalistas diz respeito à 
maneira como foram representados a natureza e o grau de desenvolvimento dos habitantes 
do Brasil, criando-se uma poderosa imagem de um país que engatinhava em termos de 
civilização, ideal tão caro às nossas elites. Revelava-se ainda a vastidão desértica do 
interior do Brasil, como que a confirmar o distanciamento entre o litoral e o sertão. 
Um bom exemplo dessa discussão, travada pelos próprios brasileiros no âmbito 
literário, é o romance Inocência, de visconde de Taunay. Tendo como cenário o sertão do 
Mato Grosso, e por trama a relação romântica entre Cirilo e Inocência, acompanham-se os 
passos de um viajante naturalista, Meyer, servindo de pano de fundo para a apresentação 
das idéias do autor sobre o tema do atraso cultural. 
 
Sugestão de atividade 
Praticamente nenhuma região do Brasil deixou de ser visitada por algum viajante no 
século 19. Nesse sentido, é um exercício importante saber quais viajantes percorreram a 
região de sua escola e que registros foram deixados, discutindo-os com os alunos. Isso 
constitui excelente oportunidade para pesquisar a história do local em que vivem. 
 
Filmografia 
Inocência. Direção: Walter Lima Júnior, 1983. 
 
Bibliografia 
BELUZZO, Ana Maria de Moraes (coord.). O Brasil dos viajantes. São Paulo, 
Odebrecht, 1994. 
HOLLANDA, Sérgio Buarque de. História geral da civilização brasileira, t. 2, vol. 
3. São Paulo, Difel, 1976. 
KOMISSAROV, Boris M. (org.) A expedição Langsdorff ao Brasil (1821-1829). 
São Paulo, Livro Arte, 1988. 
LISBOA, Karen Macknow. A nova Atlântida de Spix e Martius: natureza e 
civilização na viagem pelo Brasil. São Paulo, Hucitec, 1997. 
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Brasil dos viajantes. Revista da USP, n.º 30, 
jun.-ago. 1996. 
CADERNOS DA TV ESCOLA 
 
500 anos: o Brasil Império na TV 
 
 
Carregadores de café, gravura de Paul Harro-Harring, 1840. (In: História da vida privada no Brasil, vol. 2, organizado 
por Luiz Felipe de Alencastro. São Paulo, Companhia das Letras, 1997. 
 
O reino do café 
 
O cotidiano numa fazenda de café do vale do Paraíba 
Propostas e soluções para a carência de mão-de-obra 
As colônias de parceria 
Sugestão de atividadeBibliografia 
 
Durante a segunda metade do século 19, o café representou não só o principal 
produto de exportação do país, gerador de riquezas e divisas, como também o elemento 
responsável pela formação da elite econômica e política que dominou o Segundo Reinado. 
Fonte de riqueza e poder, sua produção contribuiu para a constituição das imensas fortunas 
dos famosos barões do café, verdadeira aristocracia que se converteu no sustentáculo 
político do império até a sua queda. 
Ao longo de seu reinado, D. Pedro II distribuiu generosamente títulos nobiliárquicos 
entre os grandes fazendeiros, políticos influentes e ocupantes de cargos importantes. Eram 
viscondes, marqueses e sobretudo barões, grau mais baixo na hierarquia, formando, nas 
palavras de Lilia Schwarcz, uma verdadeira “corte de selecionados” (Schwarcz, 1998, p. 
175) (veja também Episódio 5 – A capital do Império). A concessão dessas honrarias pelo 
imperador baseava-se em critérios vagos e subjetivos como “serviços prestados ao Estado”, 
e se constituía numa arma política poderosa, pois sua distribuição era manipulada de modo 
a compensar eventuais insatisfações e calar as críticas. A atribuição de títulos e 
condecorações também engordava as rendas do Tesouro, pois exigia o pagamento de taxas 
e impostos referentes aos direitos de uso do cargo. Nas derradeiras décadas do império, à 
medida que a marcha dos cafezais avançava e o produto assumia posição de destaque para a 
economia nacional, aumentava a atribuição de títulos. Nos últimos anos do seu reinado, 
entre 1878 e 1889, Pedro II teria feito, ainda segundo a mesma autora, 370 barões 
(Schwarcz, 1998, p. 175). 
Os barões do café assim dominaram a política ao final do império, ocupando cargos 
importantes no governo. Fosse do alto das suas tribunas, com seus longos e pomposos 
discursos, fosse em conversas mais íntimas, sussurradas ao pé do ouvido, e investidos dos 
cargos de deputados, senadores, ministros, juízes ou mesmo assessores do imperador, os 
grandes cafeicultores faziam pressão constante para viabilizar seus interesses. 
Mas a vida desses barões, em finais da década de 1870, não era assim tão tranqüila 
como pode parecer à primeira vista. Grandes impasses sociais e políticos se apresentavam, 
além de graves questões econômicas. O país estava mergulhado em dificuldades financeiras 
e dívidas decorrentes da guerra contra o Paraguai (veja também Episódio 6 – A guerra do 
Paraguai). O crescimento das cidades e os novos investimentos capitalistas – que geraram 
o estabelecimento de pequenas fábricas, a instalação de serviços públicos, as melhorias 
urbanas e a construção de ferrovias – exigiam novas formas de comportamento e adaptação 
às mudanças e novidades. Finalmente, a proibição do tráfico negreiro, em 1850, 
praticamente condenara a escravidão à ilegalidade, sem falar que nas ruas das grandes 
cidades do império o movimento abolicionista crescia dia a dia, angariando cada vez mais 
adeptos – e isso criava a necessidade de alternativas para solucionar a questão da mão-de-
obra (veja também Episódio 8 – A Abolição). 
De todos, esse era, para os cafeicultores, o problema mais urgente a ser resolvido. 
Extinto o tráfico negreiro, as discussões da elite acerca da substituição do braço escravo 
atravessaram toda segunda metade do século 19. As alternativas e soluções motivaram 
acirrados debates. Tanto nas tribunas políticas e associações de classe como nas ruas, as 
propostas apontavam em várias direções, mas não resta dúvida que a imigração estrangeira 
era uma das mais fortes candidatas a substituir a extenuante labuta diária dos escravos nas 
fazendas cafeicultoras. 
 
[BOX] 
O cotidiano numa fazenda de café do vale do Paraíba 
 
Em função das transformações ocorridas a partir da segunda metade do século 19, com a 
extinção do tráfico, o gênero de vida que se desenvolveu nas regiões produtoras de café teve 
características peculiares. Ao lado de fazendas onde o trabalho escravo convivia com a imigração 
crescente (como no oeste paulista), havia aquelas quase exclusivamente dependentes da mão-de-
obra africana (como a que se formou inicialmente na região fluminense e no vale do Paraíba). 
Os primeiros tempos de expansão do café foram árduos. Um assentamento típico começaria 
com o desmatamento de grandes áreas de mata virgem a machadadas, abrindo uma clareira junto a 
um rio a fim de suprir água para o uso das pessoas e animais e os trabalhos da fazenda, para então 
construir os edifícios principais: a sede, a senzala e os galpões que contornavam um enorme pátio 
onde o café era secado. Num segundo quadrilátero, externo, eram erguidos os estábulos, chiqueiros, 
galpões e as casas de capatazes, feitores e outros trabalhadores livres que serviam no local. 
A área da sede parecia uma pequena cidade. Em boa parte das fazendas de café havia 
marcenaria, enfermaria, ferraria, armazém, capela e outros edifícios que, cercados por altas 
muralhas, davam ao visitante a impressão de uma fortaleza. A casa principal era construída em 
tijolo ou taipa, com um grande número de janelas que se abriam para a frente do prédio, enquanto 
na parte de trás geralmente era erguida uma varanda, de onde se podia observar o grande pátio 
formado pelos galpões e a senzala. O interior era composto de inúmeros aposentos, e gozava de 
relativo conforto, chegando, em algumas casas, a ser decorado com requinte. Móveis, cristais, 
tapeçarias, porcelanas, pratarias e os mais diversos objetos, na sua maioria de procedência européia, 
enfeitavam as residências mais ricas. 
A vida, dependendo das posses do fazendeiro, transcorria em meio ao azáfama de uma 
multidão de cativos e serviçais que, sob as ordens da senhora, atendiam as necessidades da casa. As 
cozinheiras corriam pela cozinha para preparar o almoço, que era servido por volta das nove horas; 
escravos circulavam pela casa num vaivém contínuo com jarras e bacias d’água destinadas à 
cozinha e à higiene dos senhores; amas amamentavam as crianças pequenas enquanto outras 
escravas costuravam, e as crianças brincavam à espera da hora das lições, ministradas por 
professores particulares. Do lado de fora, pajens cuidavam dos animais e preparavam os farnéis para 
a próxima viagem do senhor, enquanto marceneiros, ferreiros e outros empregados realizavam, nos 
galpões e oficinas, suas tarefas diárias. Por volta das cinco da tarde, com a chegada da noite, o chá 
era servido, seguido de conversas íntimas ou uma eventual partida de cartas. 
A senzala, como em toda grande propriedade, era suja e escura, sem janelas e com chão de 
terra batida. Nela amontoavam-se cestos, potes de barro, esteiras, uns poucos objetos pessoais e os 
instrumentos de tortura que castigavam os escravos desobedientes, preguiçosos ou afoitos. Durante 
o dia permanecia quieta e sem movimento, enquanto seus habitantes estavam trabalhando na sede 
ou nos cafezais. À noite agitava-se e se enchia de sons e animação, com o batuque dos tambores, 
cânticos e danças. A vestimenta dos escravos se resumia, na maioria das vezes, a uma tanga ou 
calça velha para os homens, e a uma saia e bata para as mulheres. Nos dias de festa ou de visitas 
importantes recebiam roupas novas e adereços que serviam para mostrar o prestígio e o poderio do 
seu senhor. A alimentação era à base de feijão, angu de milho, farinha de mandioca e eventualmente 
carne-seca. 
Além das doze a catorze horas de trabalho penoso expostos ao sol e à chuva no cafezal, os 
escravos ainda tinham de cuidar dos animais da fazenda, da horta e do pomar, e durante a noite 
preparar os alimentos para eles mesmos e os animais. Nos campos o trabalho era exaustivo e 
envolvia a limpeza dos cafezais e a colheita dos frutos maduros. Os escravos eram também 
responsáveis pelo processo de beneficiamento, etapa em que os grãos eram lavados e encaminhados 
ao terreiro para secar por aproximadamente dez dias. Depois de seco, o café era descascadoe 
separado por tamanho, sendo posteriormente ensacado. Estava então pronto para torrefação ou 
comercialização in natura. 
 
Propostas e soluções para a carência de mão-de-obra 
 
Depois de muitas pressões internacionais, principalmente por parte da Inglaterra, o 
tráfico de escravos africanos, em 1850, foi definitivamente proibido (veja também Episódio 
8 – A Abolição). Para os grandes proprietários o problema era de extrema gravidade. Como 
ressaltou Eduardo Silva, “o sistema [escravista] em si, solidamente implantado desde os 
primórdios da colonização, perdera o segredo da sua própria reprodução” (Silva, 1997, p. 
105). A questão que se impôs foi: como manter residências, lojas, propriedades, enfim, toda 
economia funcionando sem o braço escravo? 
Nesse momento de crise, era urgente uma alternativa, sobretudo para os fazendeiros 
de café, cuja produção se constituía praticamente no sustentáculo da economia brasileira. 
No começo, para manter suas propriedades, eles recorreram à compra de escravos de outras 
regiões do país, principalmente do Nordeste, onde a lavoura canavieira encontrava-se em 
declínio. Apesar de sanar momentaneamente a questão, o tráfico interprovincial não 
resolveu o problema, pois os preços subiram assustadoramente, alcançando cifras 
inimagináveis (veja também Episódio 8 – A Abolição). Basta dizer que entre 1850 e 1880 
houve um aumento cerca de 600%! 
Indecisos diante da nova realidade que se apresentava, os grandes proprietários 
começaram a pensar em diferentes alternativas para o problema, quase todas elas baseadas 
na imigração. Se para alguns a solução passava pela vinda de asiáticos, conhecidos como 
coolies – chineses e indianos que trabalhariam em regime de semi-escravidão, recebendo 
salários baixíssimos –, para outros grupos a melhor proposta continuava sendo a de 
arregimentar imigrantes europeus. Estes, engajados por contrato, prestariam serviços nas 
fazendas de café, a exemplo do que já havia sido tentado pelo senador Vergueiro em fins da 
década de 1840. Uma outra sugestão era a importação de africanos livres, braços já 
comprovadamente eficientes no trabalho da lavoura. 
Mas os debates e as propostas não estavam restritos apenas aos barões do café ou 
seus representantes. Outros grupos sociais e diferentes facções políticas também se 
expressavam e apresentavam possíveis soluções. Para alguns governantes e senhores de 
engenho nordestinos, a idéia mais exeqüível era a o aproveitamento da força de trabalho 
nacional. Pensando sobretudo nos altos custos que envolviam os projetos de imigração e 
nas dificuldades que vinham enfrentando com a lavoura da cana em franco declínio, eles 
defendiam que, mediante treinamento e educação adequados, brasileiros livres suprissem as 
necessidades de mão-de-obra. Mas no outro extremo do país, representantes das colônias de 
imigrantes alemães que haviam se estabelecido com sucesso no Rio Grande do Sul nas 
décadas anteriores defendiam a idéia da imigração de europeus. Estes, ao contrário do que 
preconizavam os cafeicultores, não trabalhariam nas grandes lavouras de café, cujas safras 
eram voltadas para o mercado externo, mas em pequenas propriedades que visariam a 
produção para o consumo interno. 
Por trás de cada proposta havia idéias e concepções diferentes acerca do futuro do 
país. Alguns analisavam o problema apenas sob o prisma econômico: o que precisava ser 
resolvido era a “carência de braços”. Para outros grupos da elite, o problema era mais 
abrangente: a questão não se restringia à substituição do trabalho escravo, mas estava 
relacionada com a própria composição étnica e cultural da país. Baseados nas teorias 
científicas então em voga, eles condenavam a idéia da vinda dos coolies, considerando-os 
“uma raça inábil e fraca para o serviço do campo”. Os asiáticos seriam, segundo 
concepções da época, “culturalmente inferiores”, e acabariam por promover o “cruzamento 
de raças disparatadas”, resultando na “mongolização do país”. 
Enfim, nas palavras de alguns grandes proprietários, o ideal seria a vinda da 
“imigração branca, européia, livre e inteligente”. Esta sim, “altiva, cheia de ardor no 
trabalho e industriosa”, capaz de contribuir para o progresso e civilização do Brasil. 
Percebe-se, portanto, que além dos fatores econômicos e políticos, o debate nessa fase 
envolvia também questões teóricas e dogmas científicos e intelectuais mais amplos. Raça, 
religião e cultura constituíam importantes elementos a serem incluídos no debate. 
 
As colônias de parceria 
 
A imigração estrangeira não era novidade. Desde as primeiras décadas do século 19, 
pequenos núcleos de colonos, alguns com apoio do governo, estabeleceram-se no Espírito 
Santo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e outras províncias. A partir de 1847, o senador 
Vergueiro tentou, na fazenda Ibiacaba, a introdução de colonos alemães e suíços, sob o 
sistema de parceria. Convivendo lado a lado com a escravidão, o sistema adotado por 
Vergueiro espalhou-se por várias fazendas de café, com apenas pequenas variações. 
Os colonos eram arregimentados na Europa mediante promessas de terras e bons 
lucros. Após a assinatura de um contrato, que estabelecia as obrigações e os direitos de 
parte a parte, os imigrantes partiam para o Brasil. As despesas da viagem, o traslado até a 
fazenda, assim como um adiantamento em dinheiro, até que o colono pudesse se manter, 
eram obrigação dos fazendeiros. Cada família ficava responsável pelo cultivo de 
determinado número de pés de café e pela colheita e beneficiamento do seu produto. Os 
imigrantes também tinham direito de plantar para seu sustento em terrenos determinados 
pelos fazendeiros. Após comercializar a safra, o proprietário era obrigado a entregar ao 
colono metade do lucro líquido referente às terras por ele trabalhadas. Quanto à dívida com 
as despesas iniciais feitas pelo proprietário (viagem, transporte e outras), deveria ser 
saldada pelo colono com acréscimos que variavam de 6% a 12% de juro. Os estrangeiros 
tinham de se conduzir disciplinadamente e a saída definitiva da fazenda só era permitida 
após comunicado por escrito e o pagamento de todas as dívidas. 
Em resumo, o imigrante chegava na fazenda de café endividado, mas esperançoso 
de que conseguiria pagar as dívidas num curto prazo, devido às promessas feitas no 
momento do recrutamento. No entanto, nem tudo ocorria como prometido pelos agentes 
que os aliciavam na Europa. Insatisfações e críticas, tanto por parte dos proprietários 
quanto dos colonos, marcaram essa experiência. Em torno de 1856 começaram a circular 
notícias de descontentamento dos imigrantes. Os colonos questionavam o cálculo do 
rendimento do café produzido, a cobrança de comissões, os custos do transporte até o porto 
de Santos, as taxas de conversão de suas dívidas em moeda nacional, dentre outras queixas. 
No final de 1856 a fazenda de Ibiacaba foi palco de uma revolta dos colonos. Além de 
espalhar o medo entre os fazendeiros – pois a revolta na fazenda de Vergueiro não foi a 
única –, o sistema de parceria demonstrava, para os proprietários, que as soluções para a 
criação de uma força de trabalho eficaz e que suportasse um nível de exploração próximo 
da escrava estavam ainda longe de serem alcançadas. 
A década de 1870, com os fazendeiros certos da iminência da abolição, começava 
com previsões de crise de mão-de-obra. Em 1884 a Assembléia de São Paulo aprovou 
medida que concedia passagens gratuitas para imigrantes destinados à agricultura. Ao final 
da década de 1880, em torno de 100 mil imigrantes, predominantemente italianos, estavam 
assentados nos estabelecimentos agrícolas de São Paulo – quase o dobro de escravos 
empregados nas fazendas de café em 1885. Entre 1884 e 1914, chegaram a São Paulo cerca 
de 900 mil imigrantes, a maioria como mão-de-obra barata para as fazendas de café, o que 
assegurou, do ponto de vista dos senhores, uma transição mais tranqüilapara o fim da 
escravidão, bem como condições favoráveis para uma expansão continuada da produção 
cafeeira. 
 
Sugestão de atividade 
Explore a relação entre literatura e história, estimulando a leitura e discussão de 
romances ambientados no mundo rural desse período, a exemplo de O tronco do ipê, de 
José de Alencar, A escrava Isaura, de Bernardo Guimarães; livros de memórias como No 
tempo de dantes, de Maria Paes de Barros; ou crônicas sobre o tema, como as publicadas 
em Cidades mortas e Onda verde, de Monteiro Lobato. Nessas obras pode-se discutir o 
cotidiano da vida nas grandes fazendas, a sociabilidade familiar, o papel das mulheres e 
crianças, as relações sociais entre a casa-grande e a senzala, além do trabalho rural, dos 
hábitos alimentares, das formas de vestimenta, dos valores sociais etc. 
É importante fazer com que os alunos relatem suas observações, destacando as 
diferenças entre o mundo urbano e o rural, para se iniciar um processo de discussão sobre a 
especificidade do problema agrário na história do Brasil. Inicialmente, realize com a classe 
um levantamento da situação agrária da região, o tipo de propriedade predominante, o que 
se produz e para quê (exportação ou consumo local), se há conflitos pela posse da terra, 
qual o regime de trabalho predominante, se houve migração estrangeira em massa para a 
região, dentre outros aspectos. 
 
Bibliografia 
COSTA, Emília Viotti da. Da senzala à colônia. São Paulo, Livraria Ciências 
Humanas,1982. 
DAVATZ, Thomaz. Memórias de um colono no Brasil. São Paulo, Edusp/Itatiaia, 
1980. 
HOLANDA, Sérgio Buarque de. História geral da civilização brasileira, vol 5. São 
Paulo, Difel, 1976. 
MAURO, Frédéric. A vida cotidiana no tempo de D. Pedro II. São Paulo, 
Companhia das Letras, 1991. 
PRADO Jr., Caio. História econômica do Brasil. São Paulo, Brasiliense, 1978. 
SCHWARCZ, Lilia M. As barbas do imperador. São Paulo, Companhia das Letras, 
1998. 
SILVA, Eduardo. Dom Obá II d’África, o príncipe do povo. Vida, tempo e 
pensamento de um homem livre de cor. São Paulo, Companhia das Letras, 
1997. 
STOLCK, Verena. Cafeicultura: homens, mulheres e capital (1859-1980). São 
Paulo, Brasiliense, 1986. 
TAUNAY, Affonso de E. História do café no Brasil, t. 3, vol. 5, Rio de Janeiro, 
Departamento Nacional do Café, 1939. 
CADERNOS DA TV ESCOLA 
 
500 anos: o Brasil Império na TV 
 
 
Rua Direita, no Rio de Janeiro, em 1825. No centro e ao fundo, a Igreja da Ordem Terceira do Carmo e a Capela de 
Ordem do Carmo. Litografia aquarelada de Johann Moritz Rugendas (In: Malerische Reise in Brasilien, 1832). 
 
A capital do império 
 
A corte e seus bailes elegantes 
O Rio de Janeiro dos cortiços e da “África Pequena” 
Duas cidades tão próximas e tão distantes 
Sugestão de atividade 
Filmografia 
Bibliografia 
 
Não há como negar que durante todo o período imperial o Rio de Janeiro foi o 
centro dinâmico do Brasil. Para a corte convergiam as atenções do resto do país. Sua 
população cresceu de 137 mil habitantes, em 1838, para 235 mil, em 1870. Como vimos, 
com a vinda da família real para o Brasil a cidade passou por transformações em seu 
aspecto físico, e uma série de melhoramentos foram implementados. Apesar dos esforços 
no sentido de mudar a face colonial e dotar a cidade de melhor infra-estrutura, o Rio de 
Janeiro continuou, até o início do século 20, sendo vista como uma cidade “enferma”, que 
não provia sua crescente população de serviços básicos, e que era ciclicamente visitada por 
diversas moléstias, como febre amarela, varíola e cólera, dentre outras. 
A despeito de todas as mudanças operadas na feição da cidade e nos costumes da 
população, durante o reinado de D. Pedro II várias das marcas deixadas pelo passado 
colonial – a mais contundente delas sendo a escravidão – continuavam a incomodar a 
sensibilidade da elite brasileira e dos viajantes estrangeiros que visitavam o país. O mundo 
do trabalho calcado na mão-de-obra negreira não apenas separava e marginalizava escravos 
e homens livres, mas praticamente criara duas cidades, que só se cruzavam em alguns 
poucos momentos. Havia o Rio de Janeiro representado pela rua do Ouvidor, com suas 
estrangeirices, bailes de gala, intrigas da corte, óperas e audições musicais (embora não 
deixasse de sofrer também com suas epidemias e doenças), e o Rio dos cortiços, com suas 
festas populares alegres e ruidosas, misturas de línguas africanas e tipos físicos, brigas de 
capoeiras e forte influência da cultura africana. 
Não obstante a segregação e a rígida estrutura da sociedade brasileira no século 19, 
o convívio entre as diversas camadas sociais se dava de forma complexa, fugindo a todos os 
esboços que se possa tentar montar. Na aparente dicotomia que essa sociedade sui generis 
apresentava, lacunas abriam espaços para variados tipos de relacionamento, que fugiam ao 
senso comum. Formas de socialização permitiam o convívio de elementos culturais 
diversos, dando um caráter ímpar ao Brasil imperial. Mas o colorido e o movimento das 
ruas, com os vendedores ambulantes e negras quituteiras entoando seus pregões, os 
senhores de casaca dirigindo-se a suas lojas e escritórios, senhoras indo à igreja ou às 
compras e o aspecto exuberante da natureza tropical que encantava os visitantes não 
conseguiam apagar as contradições de uma estrutura rigidamente hierarquizada e desigual, 
onde a mão-de-obra escrava se constituía na base de toda a máquina produtiva. 
Como conciliar o desejo de fixar uma imagem de civilização diante de tal realidade? 
Se por um lado a corte se pretendia sofisticada e culta, seguindo a etiqueta e os padrões de 
comportamento europeus, por outro esbarrava nos limites evidentes que a escravidão lhe 
impunha. Assim, o novo império que se configurava não só se constituiria a partir da 
tradição e das normas de conduta das casas imperiais européias, como também somaria a 
esses elementos da cultura local traços de uma sociedade marcada pela herança colonial, 
pela escravidão e por uma natureza e geografia diversas, que lhe conferiam características 
absolutamente únicas. 
A seguir, serão apresentados alguns aspectos dessa sociedade que crescia tão plena 
de contradições, mostrando o distanciamento existente entre os dois mundos: o da elite e o 
das camadas populares livres e escravos. 
 
A corte e seus bailes elegantes 
 
Apesar de, na maturidade, Pedro II se revelar retraído e discreto, não eram poucas 
as oportunidades festivas na corte. Tudo se apresentava como motivo para comemoração. 
Havia aparições públicas, cerimônia do beija-mão, cortejos reais, festas em datas cívicas, 
coroações, batizados e casamentos. Além das cerimônias e comemorações oficiais, as 
festividades religiosas tradicionais – procissões, novenas – e as profanas – como 
cavalhadas, corridas de touros etc. – movimentavam a vida social da elite. No âmbito mais 
restrito, as famílias abastadas divertiam-se em bailes, saraus literários, concertos, 
banquetes, peças teatrais, corridas do Prado Fluminense, regatas no Botafogo e passeios 
pela rua do Ouvidor. 
Até meados da década de 1860, antes da Guerra do Paraguai, houve um período em 
que a sociedade foi acometida por uma “febre” de saraus, concertos e bailes. Inspirados nas 
festas parisienses do Segundo Império, organizavam-se no Rio de Janeiro inúmeras 
sociedades e clubes, nos diversos bairros, que periodicamente promoviam eventos 
dançantes. Também faziam enorme sucesso os bailes oferecidos pelas principais famílias da 
corte, que, às vezes, abriam os salões das suas residências em dias fixos da semana. 
Era nos bailes que a elite experimentava toda a frivolidade dessa vida mundana. 
Vestia-se e penteava-se segundo a última moda em Paris, e seguia, em nome da 
“civilidade”, regras e padrões de etiqueta que eram divulgados nos manuais de bons 
costumes, muito lidos na época. Nos saraus serviam-se pratos requintados; dançavam-se

Outros materiais