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CADERNOS DA TV ESCOLA 500 anos: o Brasil Império na TV Minha sugestão é fazer uma abertura, com o texto de Introdução, e depois fazer um link para cada episódio. Relaciono aqui os títulos dos episódios: Introdução A corte desembarca na colônia Rebeliões do império O Brasil dos viajantes O reino do café A capital do império A Guerra do Paraguai A modernidade chega a vapor A abolição CADERNOS DA TV ESCOLA 500 anos: o Brasil Império na TV Peça comemorativa da chegada do príncipe-regente D. João ao Brasil. A América está representada na figura de uma índia que se coloca aos pés da Corte Portuguesa. (Relevo em alabastro, Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro). Para uma parcela considerável dos homens que habitavam o Império do Brasil, e também para umas poucas mulheres, os anos que se seguiram à abdicação do primeiro imperador foram anos vividos intensamente. […] no dizer de um contemporâneo, [foram] anos de ação, de reação e, por fim, de transação. Foram também anos de levantes, revoltas, rebeliões e insurreições. De sonhos frustrados e de intenções transformadas em ações vitoriosas. Foram sem dúvida anos emocionantes para aqueles que viviam no Império do Brasil. Ilmar R. de Mattos, O tempo saquarema. São Paulo, Hucitec, 1987, pp. 1-2 Introdução Muitos estudos históricos interpretam o período em que o Brasil foi um império em uma perspectiva política. É comum nos livros didáticos uma análise em que predominam fatos e datas considerados relevantes, protagonizados por personagens ilustres, e uma considerável quantidade de tramas de bastidores, sem falar em discussões em torno de partidos políticos (como conservador ou liberal etc.). Nessa visão da história, parece que só os grandes homens e seus feitos têm importância. Mas será que a história do império brasileiro se resume a isso? Será que apenas os grandes homens decidiram os destinos do país e só é possível entender a história a partir de fatos políticos significativos? Na verdade, é possível compreender o Brasil Império de outra maneira. Mas mesmo assim, é importante saber como foi construída essa versão historiográfica predominante. Pois a elite política, preocupada em justificar sua escolha pela monarquia, utilizou a história como um dos meios para legitimar sua opção. E a principal ferramenta desse processo de ideologização foi a criação, em 1838, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, cujo objetivo era estabelecer o arcabouço de uma história nacional. Com a participação direta do imperador, inclusive com financiamento oficial, o instituto também visava determinar quais eram os caracteres culturais genuinamente brasileiros, ou seja, as “feições” da nacionalidade. Para a elite intelectual – na qual se destacava o historiador Varnhagen –, o eixo central que permitia entender a história do Brasil passava necessariamente pelo Estado nacional. Este era o sujeito da história, encarregado de fazer a defesa da unidade política do país e do modelo monárquico de governo, ao mesmo tempo tido como responsável pela unidade cultural e pela afirmação de uma identidade nacional. A monarquia era apresentada como sistema ideal para encaminhar a transição no sentido de uma sociedade verdadeiramente civilizada, nos moldes europeus. Para essa elite, era preocupante o grande contingente de escravos e excluídos, na medida em que se acreditava que eles não podiam participar ativamente da construção de uma sociedade civilizada. Pelo contrário, na sua visão, os negros seriam os responsáveis pelo atraso do país. A monarquia constitucional, dominada por essa elite branca, aparecia como o único regime capaz de assegurar a realização do seu projeto político, apresentado como o ideal de toda a nação. Procuramos aqui questionar e tentar quebrar os “quadros de ferro” dessa historiografia, conforme expressão utilizada por Capistrano de Abreu. Nossa proposta não é desconsiderar os fatos políticos, mas mostrá-los como resultado da ação de muitos sujeitos, evidenciando como a política está presente nos atos cotidianos de todos aqueles que viveram naquele período. Política aqui entendida não apenas como a política partidária, palco de ação de ministros e deputados que dirigiam os negócios do governo, mas também como uma prática presente nos grandes salões pelos quais circulavam damas e cavalheiros, na roda de capoeira ou de batuque, nas conversas dos botequins, dentro das casas em que viviam mulheres e crianças excluídas da cena política tradicional, nas igrejas e irmandades religiosas, nas ruas onde circulavam os negros escravos, vendendo quitutes, buscando água nos chafarizes, carregando compras das sinhazinhas, ou mesmo nas roças, no convívio sempre conflituoso entre escravos e homens livres. CADERNOS DA TV ESCOLA 500 anos: o Brasil Império na TV Aclamação de D. João VI no Paço Real. Gravura de Jean-Baptiste Debret in: Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, Vol. 2, p. 605. A corte desembarca na colônia Rio de Janeiro: sede da monarquia (Des)encontros culturais Diversidade da vida cotidiana: textos para debate Sugestão de atividade Filmografia Bibliografia A transferência da corte para o Brasil, em 1808, trouxe profundas transformações à situação colonial, em decorrência das medidas econômicas e políticas tomadas pelo príncipe regente, como a decretação da abertura dos portos, a assinatura dos tratados de 1810 com a Inglaterra e a elevação do país a Reino Unido. Essas medidas oficiais geralmente são vistas como provocadoras das mudanças que resultaram na independência brasileira. Neste texto serão evidenciadas importantes mudanças que ocorreram também em outros níveis, e que foram tão intensas e influentes quanto as resoluções e decretos oficiais, contribuindo de forma decisiva para o estabelecimento de novos padrões sociais, bem como, sobretudo, para a ruptura da condição de país colonizado. É importante perceber que a prática política não se fazia presente apenas nos gabinetes, nas assembléias e nos órgãos de governo. Ao contrário do que se imagina comumente, ela era exercida não só pelos dirigentes políticos oficiais, como deputados e senadores, mas também pelos populares que se reuniam nas esquinas, pelas elegantes senhoras que freqüentavam as suntuosas festas da corte e pelos escravos festejando nas senzalas com seus batuques e cantorias. Além disso, a criação de órgãos públicos e o funcionamento pleno da máquina burocrático-administrativa estatal propiciaram uma convivência com as autoridades, com diferentes procedimentos e práticas, estabelecendo uma relação de maior intimidade da elite colonial com o poder. As novas instituições, a circulação de jornais e a criação de estabelecimentos de ensino estimularam diferentes formas de sociabilidade. Essa relação cotidiana com a corte e com o aparato que a cercava estabeleceu alterações profundas na sensibilidade da elite brasileira, modificando suas concepções acerca do papel representado pela colônia até então e firmando, aos poucos, a noção de que o Brasil poderia se autogovernar. A seguir serão analisados alguns aspectos das mudanças realizadas na fisionomia do Rio de Janeiro nesse período, como a introdução dos chamados “melhoramentos urbanos”, enfocando também algumas transformações operadas na vida cotidiana da cidade e da sua população em função da vinda da corte e dos nobres portugueses. Rio de Janeiro: sede da monarquia Apesar das melhorias feitas pelos vice-reis no final do século 18, o Rio de Janeiro, em 1808, ainda era, na visão dos nobres portugueses recém-chegados, uma cidade precária: destituída de palácios, de ruas estreitas e malcheirosas, com seus esgotos a céu aberto, suja e descuidada. A vinda da corte provocou uma série de transformações, alterandodiversos aspectos da vida colonial. Charcos foram drenados, as ruas, depois de ampliadas, ganharam calçadas – por exemplo, a rua Direita, no centro, foi toda modernizada – e novos bairros – como Glória, Flamengo e Botafogo – foram praticamente criados. Esse processo intensificou-se principalmente após a chegada da missão artística francesa, em 1816, quando a cidade começou a adquirir um ar europeu (veja também Episódio 3 – O Brasil dos viajantes). Para se ter uma idéia do seu crescimento, basta observar o aumento populacional: o número de habitantes passou de 50 mil pessoas para 110 mil em apenas dez anos. A chegada de D. João VI não transformaria apenas o aspecto da cidade. Houve a implantação de todo o aparato administrativo e político da metrópole, aproximando a elite local dos círculos de poder metropolitano, bem como dos ritos e cerimoniais da corte. Segundo Lilia Schwarcz, [...] entraria no Brasil, também, toda uma agenda de festas e uma etiqueta real que, abaixo do equador, ganhou um colorido ainda mais especial. Com efeito, vêm junto com a burocracia lusitana os te-déuns, as missas de ação de graças, as embaixadas, as grandes cerimônias da corte. A construção de monumentos, arcos de triunfo e a prática das procissões desembarcam com a família real, que tentou modificar sua situação desfavorecida repatriando o teatro da corte e instaurando uma nova “lógica do espetáculo” que tinha, entre outros, os objetivos de criar uma memória, dar visibilidade e engrandecer uma situação, no mínimo, paradoxal. (Schwarcz, 1998, p. 36). A presença da corte na cidade fez, portanto, aumentar a quantidade de festejos públicos, pois a monarquia aproveitava todos os pretextos para promovê-los. Eram, por exemplo, aniversários, casamentos, nascimentos (e até funerais) da família real – cerimônias cheias de pompa e luxo às quais o povo assistia admirado. A vida cultural e o movimento intelectual da cidade intensificaram-se. Criaram-se o Jardim Botânico, a Biblioteca Real, a Imprensa Régia, escolas e cursos superiores foram instituídos, jornais, lançados, e um maior número de livros começou a circular.Aos poucos, os hábitos culturais foram mudando. Mais bailes e banquetes começaram a ser promovidos – principalmente quando a nobreza se propunha a receber algum membro da família real. O Teatro São João foi inaugurado em outubro de 1813, e a partir daí, o Rio de Janeiro começou a receber diversas companhias européias de ópera. Além dos espetáculos teatrais, a sociedade carioca também promovia saraus literários, jogos de salão ou mesmo pequenos concertos de câmara. Tudo isso provocou uma redefinição na conduta da elite do Rio de Janeiro. Com a vinda da corte, esse grupo começou a vislumbrar a perspectiva de juntar à sua força econômica uma maior participação política. Os membros da elite aproximaram-se da realeza, financiaram obras públicas e filantrópicas, comportavam-se como fidalgos, refinando suas vestes e gestos. Nesse jogo de troca de favores, recebiam em contrapartida privilégios, terras, isenções, direitos de exploração, títulos etc. Era uma espécie de aprendizado de participação no jogo político, vivenciando a proximidade com o centro de poder, interferindo nas decisões importantes. Com essa convivência ganhavam experiência política e autoconfiança. A vinda da corte provocou, portanto, um choque cultural em vários setores da sociedade carioca, que podia ser percebido nos pequenos detalhes da vida cotidiana, no convívio com a nobreza, na presença de estrangeiros que visitavam a cidade (coisa rara até então), na influência da moda francesa, nos novos costumes. Nesse sentido, a cultura tornava-se um instrumento da política, e o conhecimento, uma forma de poder. No entanto, as mudanças não foram capazes de suprimir os velhos costumes, nem de apagar completamente os traços característicos da velha cidade. Os antigos festejos de rua continuaram a se realizar, servindo de principal forma de entretenimento para as camadas mais pobres da população. Assim, apesar do ar de civilidade que o Rio de Janeiro adquiria com os novos bairros, o cosmopolitismo dos viajantes, a variedade de produtos e as novas práticas culturais, ainda conservava muito da antiga cidade colonial. Pelas ruas se ouvia o vozerio das quituteiras e negras de ganho, o soar dos tambores nos lundus e batuques, as brigas em torno dos chafarizes e os cânticos e rezas das festas religiosas de cunho mais popular, em que o sagrado e o profano se mesclavam, como nas folias do divino Espírito Santo, ou na queima do Judas, aos sábados de aleluia, quando ao primeiro toque dos sinos anunciando a ressurreição ouviam-se por toda a cidade as explosões de fogos e os clamores do povo. As festas populares não eram bem vistas pelas autoridades. Os viajantes são pródigos em descrever, às vezes chocados e escandalizados, as diversões dos negros, escravos ou forros, reunidos defronte das vendas, ou mesmo nas ruas. Ou seja, apesar dos novos ares, os costumes dos escravos continuavam permeando as práticas culturais que ocorriam na cidade, lembrando concretamente quais eram os limites e até onde as mudanças podiam ocorrer (veja também Episódio 5 – A capital do Império). Se o gosto pelo luxo e pelo conforto se enraizava nos hábitos da elite, costumes que ela considerava rudes e grotescos persistiam no seio do povo. (Des)encontros culturais Embora seja importante levar os alunos a compreender os motivos que fizeram a Coroa optar pela transferência da corte para o Brasil e saber detalhes do reinado de D. João, bem como sua volta a Portugal e o papel de D. Pedro na regência, há aspectos históricos importantes, menos factuais e mais voltados para o domínio da cultura que costumam ser pouco explorados nos livros didáticos. Podemos imaginar, por um lado, como se sentiram os nobres e o restante da comitiva portuguesa diante de sua chegada ao Rio de Janeiro; e, por outro, o que pensaram os habitantes do Rio de Janeiro e como perceberam a vinda da corte para a colônia. Em meio a uma atmosfera calorosamente festiva, contra o pano de fundo de uma cidade de paisagens belíssimas e natureza tropical exuberante e pródiga, não teriam passado despercebidos, aos olhos da comitiva real, as feições, os traços e o tom escuro da pele daqueles rostos que gritavam e acenavam entusiasticamente. As pomposas comemorações também não conseguiam esconder a verdadeira cara da cidade colonial com todas as suas mazelas. As luxuosas colchas de seda e os panos de veludo estendidos sobre os portais e janelas das residências, as ruas adornadas com areia branca, folhas perfumadas e vistosas bandeiras coloridas, as guirlandas de flores e ramagens e as lanternas acesas que enfeitavam os principais logradouros, apesar de disfarçar, não eram capazes de ocultar dos recém- chegados uma cidade despojada, acanhada, malcheirosa, com ruas estreitas e esburacadas, vivendas simples e modestas, sem ornatos ou detalhes arquitetônicos elaborados. A população da cidade, por sua vez, embora extasiada com a visão do cortejo real, examinava, admirada e curiosa, a estranha gente de casaca, vestes ornadas, adereços, chapéus tricornes e criados fardados. Apesar da perplexidade diante do fausto e da pompa dos recém-chegados, o povo não deixaria de observar, comentar e se divertir com o aspecto desajeitado de D. João VI, o choro inconformado de Dona Carlota Joaquina, os gritos desvairados de Dona Maria I e as cabeças raspadas das nobres e damas de companhia devido à epidemia de piolho ocorrida a bordo, na viagem. O estranhamento era mútuo. [BOX] Diversidade da vida cotidiana: textos para debate Tendo em mente as informações apresentadas até aqui, proponha aos alunos uma comparação de trechos dos livros de Lethold & Rango – dois prussianos que estiveram no Rio de Janeiro em 1819 – e de Oliveira Lima, a fim de perceberalgumas sutilezas do fenômeno de transformações e permanências culturais ocorridas nessa fase: Há relativamente muito mais luxo aqui que nas mais importantes cidades da Europa. Com dinheiro compram-se artigos da moda, franceses e ingleses; em suma, tudo. O mundo elegante veste-se, como entre nós, segundo os últimos modelos de Paris. Os homens, apesar do grande calor, usam casaca e capas das mais finas telas e meias brancas de seda […]. Também trazem as chamadas capas escocesas importadas da Inglaterra. Têm elas gola alta e pala grande, não são forradas e a fazenda é de padrões coloridos e quadriculados, para o verão, de tessitura resistente. Achei demasiado vistosa essa indumentária, que lembra um robe de chambre. Levada a cavalo e de guarda-sol aberto sobre a cabeça, ainda parece mais ridícula. […]. O luxo das mulheres é indescritível. Jamais encontrei reunidas tantas pedras preciosas e pérolas de extraordinária beleza quanto nos beija-mãos de gala e no teatro, por certo as únicas ocasiões em que elas se exibem e dão asas a sua faceirice. Seguem o gosto francês ousadamente decotadas. Os vestidos são bordados de ouro e prata. Sobre a cabeça colocam quatro ou cinco plumas francesas, de dois pés de comprimento, reclinadas para frente, e, sobre a fronte, como em torno do pescoço, e em um dos braços, diademas incrustados de brilhantes e pérolas, alguns de excepcional valor. (Lethold, T. Von & Rango, L. von, 1966, p. 31) Oliveira Lima nos oferece o contraponto das observações registradas pelos prussianos, quando descreve o movimento e a presença dos negros nas ruas do Rio de Janeiro, nos levando a perceber que nem tudo eram estrangeirices nos hábitos e costumes da população da cidade: Como, sem faltar à verdade […], expulsar do tablado fluminense da época esse mundo animado de barbeiros ambulantes armados de medonhas navalhas, cesteiros vendendo os samburás que teciam, mercantes de galinhas, de caça, de palmito, de leite, de capim para forragem, de milho, de carvão, de cebolas e alhos, de sapé para colchões, quitandeiras de angu e café, carregadores, condutores de carros de boi que chiavam desesperadamente pelas ruas sem calçamento ou guarnecidas de lajes […]. Assim perpassava o incessante movimento popular de negra algazarra e negra alegria. (Lima, M. de Oliveira, 1996, p. 595) Ao analisar com os alunos os dois depoimentos, explore as ambigüidades desse momento histórico tão rico e complexo, observando que apesar de ter provocado uma série de mudanças na colônia, a chegada da corte não se constituiu numa ruptura. Como outros fatos históricos, tais mudanças não ocorreram súbita e repentinamente; ao contrário, desenrolaram-se em processos longos e complexos, entremeados de permanências e continuidades. Laura de Mello e Souza ressalta que “a vinda da família real seria, sem dúvida, um ponto de inflexão. Mas nunca de ruptura […]. Uma vida de corte, europeus em maior número e a presença mais efetiva do Velho Continente não bastariam para dar homogeneidade às normas de conduta […]” (Mello e Souza, 1997, p. 444). Enquanto a civilité se espraiava no âmbito das elites, a vida cotidiana das camadas populares livres e dos escravos prosseguia na sua violenta luta diária pela sobrevivência. Sugestão de atividade Proponha aos alunos que façam uma entrevista com algum estrangeiro que conheçam. As perguntas podem girar em torno da vida cotidiana no país de origem, vestuário, hábitos, festividades religiosas e populares, a adaptação ao Brasil, a opinião do entrevistado a respeito de nossos costumes e modo de vida etc. O objetivo é orientar a reflexão sobre a diversidade cultural, ajudando os estudantes a entender o significado de choque, estranhamento e assimilação de comportamentos e hábitos no processo de convivência de culturas distintas. Filmografia Carlota Joaquina, a princesa do Brasil. Direção: Carla Camurati, 1994. Bibliografia LETHOLD, T. von & RANGO, L. von. O Rio de Janeiro visto por dois prussianos em 1819. São Paulo, Nacional, 1966. LIMA, M. de Oliveira. D. João VI no Brasil: 1808-1821. Rio de Janeiro, Topbooks, 1996. MELLO E SOUZA, Laura. (org.). História da vida privada no Brasil, vol. 1. São Paulo, Companhia das Letras, 1997. NEVES, Lúcia Maria B. P. das & MACHADO, Humberto Fernandes. O Império do Brasil. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999. NIZZA DA SILVA, Maria Beatriz. Cultura e sociedade no Rio de Janeiro (1808- 1821). São Paulo, Nacional, 1977. SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do imperador. D. Pedro II, um monarca nos trópicos. São Paulo, Companhia das Letras, 1998. CADERNOS DA TV ESCOLA 500 anos: o Brasil Império na TV Batalha dos Farrapos, de José Wasth Rodrigues, 1937. Rebeliões do império Um império luso-brasileiro O processo de consolidação da monarquia no Brasil Sob o signo da pluralidade Sugestão de atividade Filmografia Bibliografia A maioria dos livros didáticos aborda a independência do Brasil a partir da evocação de personagens ilustres, como D. Pedro e José Bonifácio, e de uma sucessão de acontecimentos políticos que teriam resultado no “grito do Ipiranga”. Nesses livros, a vinda da corte portuguesa é assumida como um marco inicial no processo de emancipação política, tendo possibilitado o estabelecimento de todo o aparato jurídico-administrativo na colônia e desencadeado medidas importantes, como por exemplo a abertura dos portos. A discussão aqui apresentada, longe de privilegiar datas e fatos considerados marcantes no desenrolar do processo de independência, busca ressaltar que desde finais do século 18 a elite já vinha discutindo opções políticas para a colônia. Assim, as decisões não foram tomadas de última hora, sob pressão (como pode parecer a partir da leitura de alguns autores), e a opção pelo regime monárquico fazia parte de um projeto bem pensado e discutido pela elite local. No entanto, a elite não era homogênea, e as reações à implantação de um sistema monárquico escravista não se fizeram tardar. Durante todo o período regencial, revoltas e insurreições irromperam por diversas províncias, mostrando claramente as insatisfações locais, bem como o desejo de participação política de outros segmentos da sociedade. Para entender a independência, é necessário vê-la não só do ponto de vista interno – como fruto dos acontecimentos políticos mais imediatos daquele período –, mas também como resultado de um processo de maiores dimensões, mais extenso e profundo, que foi a crise do antigo sistema colonialista. É importante considerar que a desagregação do mundo colonial ocorreu em função de um conjunto maior de fatores, que englobaram desde as transformações no sistema capitalista, de modo mais amplo, até a crise do poder absoluto dos reis, a difusão das idéias ilustradas, o período pombalino e as revoltas e sedições que ocorreram no Brasil no final do século 18, nas quais se questionou a condição colonial e a sujeição em relação à metrópole. As insatisfações locais contra o pacto colonial e o poder soberano da metrópole permitiram que os protestos e críticas que circulavam no dia-a-dia pelas diversas províncias ganhassem corpo e se transformassem em movimentos organizados contra o sistema. Parte da elite colonial, influenciada pelo ideário liberal francês que varria a Europa na época, e espelhando-se na independência americana, encontrava-se disposta a rebelar-se contra a Coroa, apoiando a autonomia política. Assim, ao final do século 18, no Brasil, corriam idéias separatistas e republicanas – a exemplo das que fundamentaram a Inconfidência Mineira e a Revolta dos Alfaiates na Bahia, em 1798. No entanto, após a Revolução Francesa e o levante dos escravos ocorrido no Haiti, em 1792, as idéias da ilustração e o republicanismo passaram a ser vistos com desconfiança por boa parte da elite colonial brasileira. Amedrontados com a crescente politizaçãode estratos “médios” da sociedade, com a participação de populares e escravos em confrontos armados e o conseqüente questionamento em relação à escravidão, os senhores recuaram. Ficava evidente, para estes, que tais motins eram extremamente perigosos e ameaçavam a ordem vigente. Enquanto nos botecos das esquinas se discutiam as questões políticas do momento e espalhavam-se as notícias de levantes nas outras províncias, nas ruas irrompiam conflitos em que portugueses eram hostilizados e os impostos e taxas, contestados. Os espaços para a participação política de homens brancos livres e pobres, escravos e negros forros começavam a ser abertos, tornando claro para a elite que só a força poderia conter o que ela costumava chamar de “gente amotinada e turbulenta”. Entretanto, nem todos concordavam com a idéia de que o rompimento definitivo em relação a Portugal era a solução. Uma determinada parte da classe dominante pensava de forma bem diferente: para ela, idéias de transformações políticas radicais e o perigo de uma sublevação racial no Brasil obrigavam-na a buscar com a Coroa uma solução de compromisso que conciliasse os interesses. Segundo o historiador Kenneth Maxwell, “o estabelecimento da monarquia no Brasil representava uma solução negociada bem-vinda e esperançosa, que oferecia a oportunidade de mudanças políticas sem desintegração social” (Maxwell, 1999, p. 188). Um império luso-brasileiro No final do século 18, alguns aspectos e princípios do sistema colonial começaram a ser repensados pelos portugueses. Diante de uma conjuntura adversa – com os questionamentos em torno do poder absoluto do rei, a divulgação dos ideais liberais e as ameaças de fracionamento do reino –, surgiu em Portugal a idéia de formação de um vasto e poderoso império, fundado em bases distintas das que regiam até então as relações entre a metrópole e a colônia. O projeto, de cunho reformista e respaldado pela burguesia mercantil, formada por famílias importantes e poderosas, foi estimulado por D. Rodrigo de Souza Coutinho, herdeiro político e intelectual de Pombal, que ficou à frente do governo em dois períodos: 1796-1803 e 1807-1812. Suas idéias fundamentavam-se em um programa de mudanças que buscava reorganizar o império em bases mais rentáveis, criando novas oportunidades no setor de produção agrícola e repensando sua estrutura política. Segundo Iara Lins Souza “essa reestruturação política articulava-se com uma valorização do Brasil, considerado uma solução para as dificuldades econômicas lusas” (Souza, 2000, p. 16). A própria instalação do centro de poder na principal colônia foi uma tese defendida por alguns intelectuais e políticos durante esse período – bem anterior portanto à chegada da família real em 1808. Assim, a transferência da corte portuguesa para o Brasil, que muitos autores apresentam como uma idéia de última hora, fruto das pressões inglesas, já fora aventada anteriormente, e era recorrente em Portugal sempre que alguma dificuldade política, administrativa ou econômica se apresentava (veja também Episódio 1 – A corte desembarca no Brasil). O projeto de um império luso-brasileiro, amadurecido desde o final do século 18 e início do 19 pelos portugueses, ganhou adeptos também entre a elite brasileira. Formada em instituições como a universidade de Coimbra, ou mesmo educada nos colégios religiosos no Brasil, leitora das obras de políticos e filósofos franceses, essa elite ficou conhecida como a geração de 1790, e dela fizeram parte, dentre outros, José Bonifácio de Andrada e Silva e Diogo Feijó. Também eles defendiam a criação de um vasto império, concordando que se Portugal desse oportunidades para seus irmãos de além-mar, não seria necessário um desligamento radical, como ocorrera com as colônias norte-americanas. Discutida intensamente, a idéia de um império luso-brasileiro baseava-se no estabelecimento de uma unidade política e mercantil alicerçada na monarquia e centrada na figura do rei. O Brasil foi visto como o sustentáculo desse império, e ao final do século 18 havia, tanto no reino quanto na colônia, quem pensasse que mudanças econômicas e políticas, inspiradas no reformismo ilustrado, conseguiriam manter a unidade do império português. Para levar adiante esse projeto, era imprescindível contar com uma certa unidade entre os setores da elite colonial, principalmente no momento em que propostas de cunho mais radical começavam a ganhar corpo em terras brasileiras. O processo de consolidação da monarquia no Brasil Em princípios da década de 1820 a situação política era confusa no Brasil. Apesar de lutarem contra a tirania econômica, contra as medidas políticas repressoras e arbitrárias das cortes reunidas em Lisboa e de concordarem com o esgotamento do sistema colonial, grupos sociais diversos tinham propostas variadas acerca de como poderia se organizar o país após a emancipação. José Murilo de Carvalho afirma que “a decisão de fazer a independência com a monarquia representativa, de manter unida a ex-colônia, de evitar o predomínio militar, de centralizar as rendas públicas etc. foram opções políticas entre outras possíveis na época” (Carvalho, 1980, p. 20). Segundo o mesmo autor, a elite política brasileira, apesar de não se constituir em um bloco monolítico, apresentando divergências e conflitos internos, e mesmo sendo composta por elementos de diferentes setores – proprietários de terras, padres, militares, magistrados e outros profissionais liberais –, possuía alguma homogeneidade. Essa relativa unidade foi favorecida por um processo de socialização e construção ideológica, por meio da educação formal em universidades como a de Coimbra e instituições similares da colônia, da ocupação em atividade burocráticas e de mecanismos de treinamento. Tudo isso acabou por garantir a viabilização do seu projeto político. Desse modo, se por um lado não havia uma coesão que favorecesse a ação conjunta e coordenada, por outro havia consenso ideológico e o sentimento de que dependia da própria elite manter a união territorial e definir a natureza política do governo. Fica evidente que a instalação de um Estado centralizado, sob regime monárquico, em que persistia o trabalho escravo – caminho diverso do que seguiram as ex-colônias espanholas, que adotaram a república e libertaram os escravos após longas e sangrentas lutas populares –, não foi uma questão de acomodação, ou mesmo de falta de opção. Foi, antes, uma escolha bem pensada e defendida com vigor. Essa opção de certa forma garantiria uma transição pacífica e asseguraria privilégios, preservando a ordem interna e, sobretudo, a manutenção das instituições tradicionais. Mas essa não seria uma tarefa fácil. Em meio à vastidão de um território cheio de contrastes e problemas, era necessário construir um país, adotar um sistema que agregasse as partes dispersas em torno de um centro, conciliar propostas divergentes, submeter e aniquilar, mesmo que pela força, ideais conflitantes com seus interesses, como por exemplo os que propugnavam a implantação de um regime republicano e o fim do trabalho escravo. Portanto (diversamente do que se costuma afirmar), a estabilidade política do país não ficou completamente definida no 7 de setembro de 1822. Decretada a independência, o poder concentrou-se nas mãos de um grupo reduzido da elite, o que acirrava as diferenças internas entre as facções mais liberais e os conservadores. Nesse contexto, as camadas populares foram excluídas da participação política, em detrimento da cidadania. Assim, pode-se perceber que a independência não alterou significativamente o panorama que vigorou durante todo o período colonial, pois o país continuou como exportador de produtos agrícolas e economicamente dependente da Inglaterra. A organização do trabalho seguiu sendo baseada na mão-de-obra escrava e a estrutura produtiva permaneceucalcada no latifúndio e na monocultura, limitando as oportunidades e a melhoria das condições de vida das camadas pobres e livres, que se viam sem perspectivas diante da impossibilidade de acesso à terra, do escravismo e do domínio dos grandes proprietários. Esse quadro se agravava em função da complexidade dos conflitos internos e da heterogeneidade e particularidade da situação das províncias. Era de se esperar que, em meio a tantas contradições, a consolidação da monarquia escravista proposta pela elite não se desse de forma tranqüila. De fato, nas duas décadas seguintes à independência, sucederam-se lutas e sublevações, desmistificando a visão apresentada por alguns autores de que a trajetória de formação do Brasil foi pacífica e destituída de lutas populares, violência ou derramamento de sangue. Recheado de revoltas e rebeliões nas províncias, que se prolongaram por uma década além de sua maioridade, esse momento da história do Brasil patenteia a existência de diferentes propostas políticas para o país, as profundas desigualdades sociais e sobretudo o desejo de participação de outras camadas da sociedade. Enquanto “uns ressentiam-se da excessiva centralização e pleiteavam um regime federativo, outros propunham a abolição gradual da escravidão, demandavam a nacionalização do comércio, chegando a sugerir a expropriação dos latifúndios improdutivos” (Costa, 1979, p. 12). [BOX] Sob o signo da pluralidade A composição social dos participantes das rebeliões provinciais variava caso a caso. Alguns eram membros da própria elite, que, junto às camadas médias, absorviam e pregavam os ideais do liberalismo de forma mais radical, ou lutavam por maior autonomia para as províncias e contra a concentração de poder – esse foi o caso da Confederação do Equador ou mesmo da Revolução da Farroupilha. Em outras situações, tratava-se de índios e mestiços que, vivendo em condições miseráveis, insurgiram-se contra os desmandos do governo central e as péssimas condições de vida, como ocorreu na revolta conhecida por Cabanagem. E havia ainda o caso de escravos, como no caso dos malês, que condenados à opressão e sujeição, se rebelaram na Bahia em defesa da fé muçulmana e do fim da escravidão, espalhando o pânico entre os senhores proprietários. Assim, para aqueles que estavam no governo, a dispersão e as constantes lutas entre as diversas facções nas províncias sinalizavam como ameaçadoras e perigosas, pois poderiam significar desunião, desagregação política ou mesmo um desejo de mudanças mais profundas no sistema. Era necessário, segundo diziam alguns representantes da elite dirigente da época, parar o “vulcão revolucionário” que ameaçava as instituições, controlar e dominar a “canalha africana”. Assustados com o radicalismo de alguns grupos e com o aumento do número de revoltas, depredações, agressões e agitações de rua, e sob o pretexto de restauração da ordem no país, os grupos que estavam à frente do poder durante o período regencial articularam uma reação em grande escala, com a elaboração de leis repressivas mais fortes, perseguição, prisão e deportação de líderes radicais e a organização de milícias civis (que resultariam depois na criação da Guarda Nacional). O caráter violento das medidas repressivas que se abateram sobre os movimentos provinciais e as manifestações de rua, ou mesmo individualmente sobre políticos de oposição, evidenciavam para a elite que seu projeto político estava ameaçado. Nos anos que se seguiram, [...] tratava-se de armar o poder de condições para pôr fim à agitação. A ordem, a paz, a tranqüilidade foram palavras acolhidas por toda parte, por toda a parte encontrando receptividade, ganhando adeptos. Na mesma marcha, as alterações eram gradativamente introduzidas, para reforço da autoridade central […]. Preparava-se o caminho para o novo sistema com o restabelecimento do Império na pessoa do herdeiro ainda menor. Depois da Maioridade, a curtos intervalos, eles viriam dar a ilusão da ordem na economia e nas finanças, a ilusão do progresso. (Sodré, 1978, p. 248). Sugestão de atividade Trabalhe a iconografia da proclamação da independência difundida em livros didáticos. Utilize telas mais conhecidas, como Independência ou morte, de Pedro Américo, ou a Proclamação da independência, de François René Moreaux, orientando os alunos a observar e escrever sobre a paisagem retratada, o lugar que as pessoas ocupam no contexto geral do quadro, sua expressão facial, gestos, vestimentas, adornos etc. A classe pode refletir e escrever sobre qual a idéia da independência que os pintores tentaram transmitir com seus quadros. Feita a tarefa, fale um pouco da visão não oficial do episódio, promovendo um debate que explore as observações mais interessantes, as críticas ou mesmo as opiniões conflitantes do grupo. Filmografia Um certo capitão Rodrigo. Direção: Anselmo Duarte, 1972. Anahy de las Missiones. Direção: Sérgio Silva, 1998. Bibliografia CARVALHO, José Murilo de. A construção da ordem. Rio de Janeiro, Campus, 1980. COSTA, Emília Viotti da. Da monarquia à república. São Paulo, Ciências Humanas, 1979. HOLANDA, Sérgio Buarque de. História geral da civilização brasileira, t. 2, vol. 2. São Paulo, Difel, 1967. MAXWELL, Kenneth. “A geração de 1790 e a idéia do império luso-brasileiro.” In: Chocolate, piratas e outros malandros. Ensaios tropicais. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1999. MOTA, Carlos Guilherme. 1822. Dimensões. São Paulo, Perspectiva, 1972. PRADO Jr., Caio. Evolução política do Brasil. São Paulo, Brasiliense. 1975. SODRÉ, Nelson Werneck. As razões da independência. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1978. SOUZA, Iara Lis C. A independência do Brasil. Rio de Janeiro, Zahar, 2000. CADERNOS DA TV ESCOLA 500 anos: o Brasil Império na TV Página do diário da viagem de Hercule Florence, de 1825 a 1829. (In: O Brasil de hoje no espelho do século XIX, de Maria de Fátima G. Costa. São Paulo, Estação Liberdade, 1995) O Brasil dos viajantes Tema para debate: relação do homem com a natureza Uma expedição científica pelo interior do Brasil: organização e cotidiano As grandes expedições da primeira metade do século 19 As obras de Debret e Rugendas Estudo de imagens Natureza e civilização Sugestão de atividade Filmografia Bibliografia A partir da segunda metade do século 18 e início do 19, na Europa, houve uma mudança de sensibilidade em relação à natureza, resultando numa afirmação das ciências naturais. Assistia-se ao incremento das expedições científicas, dirigidas para as Américas, África e Oceania, com o intuito de pôr à prova teorias, coletar espécimes para os museus ou mesmo descobrir, para um mercado europeu em expansão, novas oportunidades comerciais. O imenso território brasileiro, praticamente inexplorado, despertava a curiosidade dos europeus interessados em estudar a natureza tropical e o homem sul-americano. Quase todos aportavam no Rio de Janeiro e de lá buscavam traçar itinerários por caminhos ainda não percorridos. Ao final de alguns anos de viagem, regressavam a seus países de origem para escrever não apenas obras científicas, mas também, principalmente, os famosos diários de viagem, que deleitariam os leitores impossibilitados de conhecer os trópicos. Esses naturalistas coletavam plantas e animais em grandes quantidades para os museus de história natural que os financiavam, ajudavam a desenvolver a mineralogia, a paleontologia e a astronomia e levavam artistas em suas expedições para retratar a paisagem e a gente local. Conforme publicavam seus estudos na Europa, fomentavam a vinda de novos viajantes e, no decorrer do século 19, todas as regiões do Brasil foram por eles visitadas. Além das expedições de cunho científico, vários estrangeiros que aqui vinham, a negócios ou a passeio, escreveram relatos sobre o país naprimeira metade do século, a exemplo de John Mawe, John Luccock, Maria Graham, Henry Koster, dentre muitos outros. Relatos que vão se constituir numa documentação significativa sobre a sociedade do Brasil Império (ressalvando contudo o fato de que suas observações foram feitas sob uma ótica eurocêntrica). [BOX] Tema para debate: relação do homem com a natureza Esse é um tema propício para debater com os alunos a relação do homem com a natureza, mostrando que diferentes percepções e sensibilidades se desenvolveram na história dos grupos humanos. Ele trará melhores resultados se abordado interdisciplinarmente e, nesse sentido, o professor de história pode trabalhar em conjunto com o de ciências para definir, juntamente com os alunos, o perfil de um ambientalista na atualidade, comparando-o com o cotidiano de um viajante naturalista, como o descrito a seguir. Uma expedição científica pelo interior do Brasil: organização e cotidiano Uma expedição podia exigir meses de preparo. Era preciso definir o itinerário, contratar tropeiros e guias, comprar provisões, organizar o material científico e os instrumentos de medição e de trabalho para os botânicos e zoólogos, tais como mapas, microscópios e materiais especiais para conservar os espécimes coletados. Precisava-se, portanto, de uma considerável soma de dinheiro a fim de financiar a aventura, e muitas das expedições foram subsidiadas por governos europeus. Os viajantes que vinham por conta própria procuravam vender o material recolhido para os museus, dando assim prosseguimento às suas andanças. Além do mais, uma expedição também precisava contar com o apoio oficial do governo imperial, pois o deslocamento pelo interior do país dependia do deferimento de licenças especiais, vistos de entrada, permanência e saída etc. Era importante que esses viajantes sempre levassem consigo as famosas cartas de recomendação, pois a população do interior e as autoridades locais viam os estrangeiros com certa desconfiança. O cotidiano de um viajante naturalista era determinado por seus objetivos científicos. Não havia dia em que não fizesse algum tipo de investigação. Durante a noite, anotava no diário o que fora feito, bem como as impressões gerais, e ainda preparava e empacotava os animais e plantas coletados. O naturalista viajante organizava e classificava as observações de modo a, quando regressasse à sua terra natal, poder revisá-las e trabalhá- las. Em uma expedição bem-sucedida como a de Spix e Martius, em que – coisa rara – não se perdeu nenhuma caixa de material, foram reunidas 6.500 espécies de vegetais, formando um herbário de 20 mil exemplares prensados, e uma centena de plantas vivas, levadas para o Jardim Botânico de Munique. A coleção zoológica, apesar de menor devido às dificuldades de coleta de animais, também comportava centenas de espécimes, além do material mineralógico e paleontológico, bem como uma coleção etnográfica (objetos e utensílios principalmente de índios). O cotidiano era marcado, de um lado, pelo enlevo na contemplação da natureza, e, de outro, por inúmeros acidentes que colocavam a vida dos membros da expedição em perigo, tais como a travessia de rios, a perda de equipamento, as dificuldades de obter provisões, picadas de cobra, afogamentos, ferimentos etc. Todos eram unânimes em reclamar dos pequenos insetos que infernizavam o dia-a-dia: pulgas, baratas, carrapatos, aranhas, formigas etc. Isso sem mencionar o horror aos esturros de onças, as chuvas torrenciais que destruíam as coleções e, principalmente, as doenças, sobretudo as febres malignas. Desse modo, a viagem do naturalista parecia transitar entre o paraíso e o inferno – de fato, as imagens preferidas para representar a natureza tropical e a relação do homem civilizado com ela. As grandes expedições da primeira metade do século 19 Apesar de se falar muito nos viajantes e na sua importância para a história do Brasil, este é um tema não muito explorado pelos livros didáticos. Assim, a seguir, serão apresentadas algumas informações básicas sobre as principais expedições que percorreram o país no início do século 19, que servirão de subsídio para desenvolver as atividades propostas. Príncipe Maximiliano. Sua expedição teve início em 1815, percorrendo a mata costeira do litoral do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia, penetrando também em direção a Minas Gerais. Ele voltou à Europa em 1817, com farto material coletado, publicando em 1820 e 1821 o livro Viagem ao Brasil nos anos de 1815 a 1817, ricamente ilustrado. Seus principais interesses se concentraram em aspectos da cultura indígena – etnografia, traços fisionômicos, diferenças culturais, linguagem e vocabulário –, e ele procurou conhecer e observar tanto os índios aculturados e aldeados quanto os que ainda estavam em estado selvagem (alguns, como os botocudos, considerados bravos e temíveis, despertaram particular interesse do príncipe, que deles coletou um material de valor inestimável). Sua visão sobre os nativos – que era aliás também a idéia corrente em sua época – apoiava-se no antagonismo entre civilização e barbárie, mas isso não o impediu de legar diversas contribuições aos estudos etnográficos das populações indígenas. Spix e Martius. Esta foi sem dúvida uma das expedições mais importantes da época, por ter gerado um volume enorme de informações sobre o Brasil. Os dois estudiosos chegaram ao Rio de Janeiro em julho de 1817, como membros da missão austríaca que acompanhava a princesa Leopoldina, e permaneceram na cidade por seis meses, preparando o itinerário da viagem, a ser iniciada em dezembro. Auxiliados por tropeiros e guias nativos, Spix e Martius percorreram mais de 10 mil quilômetros do território brasileiro em cerca de três anos. Passaram por São Paulo e Minas Gerais (Vila Rica e Distrito Diamantino) e seguiram rumo norte, atravessando o São Francisco na fronteira com Goiás, de onde partiram para o litoral, cruzando a província baiana. Chegaram a Salvador e excursionaram por Ilhéus, depois foram rumo noroeste, cruzando os sertões de Pernambuco, Piauí e Maranhão (em São Luís ambos adoeceram, quedando-se por algum tempo na cidade). Em julho de 1819 navegaram até Belém, lançando-se em uma extensa viagem pela bacia amazônica. Separaram-se nessa região para fazer pesquisas nos rios Amazonas, Negro, Solimões e Japurá, aproximando-se das fronteiras do Peru e da Colômbia. Voltaram a Belém em abril de 1820, de onde partiram para a Europa. Entre 1823 e 1831 foram editados os três volumes da Viagem ao Brasil, com um atlas de estampas litografadas, bem como um compêndio com músicas indígenas e canções populares (lundus). Spix morreu ainda jovem, mas Martius, que por ocasião de seu regresso estava com 26 anos, viveu até os setenta anos, e dedicou praticamente toda sua vida ao estudo do Brasil, conquistando papel de destaque na produção científica européia. Georg Heinrich von Langsdorff. Langsdorff chegou ao Brasil em 1813, como cônsul-geral da Rússia. Durante os sete primeiros anos em que permaneceu no país, recebeu numerosos naturalistas, estimulando a troca de conhecimentos e orientando as expedições. Em sua casa no Rio de Janeiro e na fazenda da Mandioca, Langsdorff abrigava estudiosos de diversas nacionalidades que se encontravam em trânsito ou se preparavam para percorrer o interior do Brasil em alguma expedição. Em 1824 ele organizou sua própria expedição, percorrendo a região de Minas Gerais. (Dela fez parte o desenhista Rugendas, que depois abandonaria o grupo para seguir viagem sozinho.) Langsdorff não desistiu de fazer uma grande viagem pelo interior. Para isso conseguiu financiamento do czar e contratou o jovem artista Adrien Taunay, bem como Hercule Florence, além de um naturalista e um botânico. Partiram do Rio de Janeiro para São Paulo em 1825, e de lá para o Mato Grosso, seguindoo caminho das monções pelos rios Tietê, Paraná e seus afluentes, em direção aos afluentes do rio Paraguai. Seria uma viagem trágica, marcada pela morte de Adrien Taunay, afogado no rio Guaporé, e também pela perda de razão do próprio Langsdorff. No último trecho da viagem, em que percorreram os afluentes do Amazonas, febres intermitentes acometeram os membros do grupo. Quando chegaram a Belém, em setembro, alugaram um brigue que os levou de volta ao Rio de Janeiro. Langsdorff voltou para a Europa, mas nunca mais recuperou a sanidade. Parte da expedição pode ser acompanhada no diário de Hercule Florence: Viagem fluvial do rio Tietê ao Amazonas. Outras expedições. Além dos naturalistas, muitos estrangeiros viajaram pelo país e escreveram diários relatando suas impressões sobre a natureza tropical, os hábitos sociais pitorescos e exóticos e a vida cotidiana – por vezes divulgando na Europa uma imagem não exatamente fidedigna do Brasil. Destacam-se, dentre outros, Maria Graham, Henry Koster, Saint Hilaire, J. E. Pohl, Gardner, Daniel Kidder e Castelnau. Além dos diários, uma série de viajantes também deixou suas impressões registradas na forma de gravuras, pinturas e aquarelas, a exemplo de Thomas Ender, Émil Taunay, Hercule Florence, Charles Landseer, Henry Chamberlain, Jean-Baptiste Debret e Johann Moritz Rugendas. Muitos deles vieram como membros da missão artística francesa (1816) ou da missão austríaca (1817). A produção desses artistas foi tão significativa que marcaria para sempre o imaginário popular sobre a vida do período. Mas o olhar com que retrataram o país é um tanto ambíguo, pois apesar de tentarem ser fiéis à observação, eles não conseguiram deixar de imprimir em suas imagens uma certa concepção etnocêntrica acerca da nossa sociedade. Tanto os viajantes como os artistas objetivavam publicar na Europa os conhecidos “álbuns pitorescos”, dos quais os de Debret e Rugendas são exemplos perfeitos. As obras de Debret e Rugendas Debret chegou ao Brasil em 1816 como membro da missão artística francesa, e viveu sobretudo dos quadros históricos e retratos da família real que pintou. Em 1827 realizou uma longa viagem, em direção ao Rio Grande do Sul. Viveu no Brasil durante quinze anos, voltando à França após a abdicação de D. Pedro, em 1831, para organizar o material coletado e publicar os três volumes de sua obra Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, entre 1834 e 1839. Apesar de ser mais conhecido por sua obra de cronista da vida urbana, Debret não foi apenas o pintor de cenas do cotidiano, hábitos da vida doméstica e atividades profissionais das camadas populares; foi também um sagaz espectador do cerimonial da corte, representando aspectos da vida da elite política e catalogando, além de eventos importantes, todas as peculiaridades de uma corte sui generis, onde a uniformes e trajes de gala, ricos adornos e festas suntuosas se contrapunha a realidade da escravidão. Suas telas, gravuras e desenhos revelam um pintor preocupado em reproduzir com exatidão aspectos da natureza e da paisagem do país, o que o leva a retratar, com sensibilidade, a exuberância e beleza da terra, a diversidade dos animais e a riqueza da fauna brasileira. O valor da sua obra está não só na forma como consegue apreender o todo e o pormenor, mas ainda na diversidade dos temas que retrata. Esses aspectos estão presentes também na obra de Rugendas, que esteve no Brasil em duas ocasiões. Em 1822, aos dezenove anos, como desenhista da equipe de Langsdorff, recolheu material para sua Viagem pitoresca através do Brasil. Com o propósito de enriquecer seu conhecimento, em 1831 iniciou uma grande viagem pelas Américas, passando por México, Chile, Peru, Bolívia, Argentina e Uruguai, e fazendo uma escala de pouco mais de um ano – entre 1845-1846 – no Rio de Janeiro. Esse périplo frutificou em uma obra momentosa, que soma, entre pinturas a óleo, aquarelas e desenhos, cerca de 6 mil peças. A produção de Debret e Rugendas é riquíssima em termos de variedade temática: florestas virgens, animais e plantas, paisagens naturais, tipos humanos e cenas urbanas. Nestas últimas destacam-se os meios de transporte, divertimentos populares, alimentos consumidos na cidade, aspectos das casas e construções, vendedores de rua, hábitos domésticos etc. Essas figuras triviais flanando pelas ruas e o registro de seus costumes constituem um excelente material para o estudo do Brasil Império. [BOX] Estudo de imagens É muito comum a utilização nos livros didáticos de imagens do tempo dos viajantes, principalmente gravuras de Debret e Rugendas. No entanto, quase sempre essas gravuras aparecem apenas para ilustrar a história do Brasil no período, e pouca atenção tem se dado para a iconografia como um importante documento a ser trabalhado em sala de aula. Nesse sentido, é interessante explorar essas imagens, decompô-las em seus vários aspectos e discutir com os alunos o olhar que orientou aquela composição. Elas representam, em muitos sentidos, o imaginário europeu sobre o Brasil, ao mesmo tempo que, ambiguamente, fazem um interessante registro de como era a vida cotidiana nas nossas grandes cidades e os principais valores então vigentes. Selecione imagens de Debret e Rugendas presentes nesses livros e interprete-as como documentos da vida cotidiana na primeira metade do século 19. Proponha aos alunos complementar esse trabalho com redações ou desenhos (numa atividade interdisciplinar com Arte), especificando detalhes desse cotidiano, as relações de trabalho, a arquitetura, a natureza e outros elementos que quiserem abordar. Natureza e civilização Uma das questões centrais a permear a obra de viajantes e naturalistas diz respeito à maneira como foram representados a natureza e o grau de desenvolvimento dos habitantes do Brasil, criando-se uma poderosa imagem de um país que engatinhava em termos de civilização, ideal tão caro às nossas elites. Revelava-se ainda a vastidão desértica do interior do Brasil, como que a confirmar o distanciamento entre o litoral e o sertão. Um bom exemplo dessa discussão, travada pelos próprios brasileiros no âmbito literário, é o romance Inocência, de visconde de Taunay. Tendo como cenário o sertão do Mato Grosso, e por trama a relação romântica entre Cirilo e Inocência, acompanham-se os passos de um viajante naturalista, Meyer, servindo de pano de fundo para a apresentação das idéias do autor sobre o tema do atraso cultural. Sugestão de atividade Praticamente nenhuma região do Brasil deixou de ser visitada por algum viajante no século 19. Nesse sentido, é um exercício importante saber quais viajantes percorreram a região de sua escola e que registros foram deixados, discutindo-os com os alunos. Isso constitui excelente oportunidade para pesquisar a história do local em que vivem. Filmografia Inocência. Direção: Walter Lima Júnior, 1983. Bibliografia BELUZZO, Ana Maria de Moraes (coord.). O Brasil dos viajantes. São Paulo, Odebrecht, 1994. HOLLANDA, Sérgio Buarque de. História geral da civilização brasileira, t. 2, vol. 3. São Paulo, Difel, 1976. KOMISSAROV, Boris M. (org.) A expedição Langsdorff ao Brasil (1821-1829). São Paulo, Livro Arte, 1988. LISBOA, Karen Macknow. A nova Atlântida de Spix e Martius: natureza e civilização na viagem pelo Brasil. São Paulo, Hucitec, 1997. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Brasil dos viajantes. Revista da USP, n.º 30, jun.-ago. 1996. CADERNOS DA TV ESCOLA 500 anos: o Brasil Império na TV Carregadores de café, gravura de Paul Harro-Harring, 1840. (In: História da vida privada no Brasil, vol. 2, organizado por Luiz Felipe de Alencastro. São Paulo, Companhia das Letras, 1997. O reino do café O cotidiano numa fazenda de café do vale do Paraíba Propostas e soluções para a carência de mão-de-obra As colônias de parceria Sugestão de atividadeBibliografia Durante a segunda metade do século 19, o café representou não só o principal produto de exportação do país, gerador de riquezas e divisas, como também o elemento responsável pela formação da elite econômica e política que dominou o Segundo Reinado. Fonte de riqueza e poder, sua produção contribuiu para a constituição das imensas fortunas dos famosos barões do café, verdadeira aristocracia que se converteu no sustentáculo político do império até a sua queda. Ao longo de seu reinado, D. Pedro II distribuiu generosamente títulos nobiliárquicos entre os grandes fazendeiros, políticos influentes e ocupantes de cargos importantes. Eram viscondes, marqueses e sobretudo barões, grau mais baixo na hierarquia, formando, nas palavras de Lilia Schwarcz, uma verdadeira “corte de selecionados” (Schwarcz, 1998, p. 175) (veja também Episódio 5 – A capital do Império). A concessão dessas honrarias pelo imperador baseava-se em critérios vagos e subjetivos como “serviços prestados ao Estado”, e se constituía numa arma política poderosa, pois sua distribuição era manipulada de modo a compensar eventuais insatisfações e calar as críticas. A atribuição de títulos e condecorações também engordava as rendas do Tesouro, pois exigia o pagamento de taxas e impostos referentes aos direitos de uso do cargo. Nas derradeiras décadas do império, à medida que a marcha dos cafezais avançava e o produto assumia posição de destaque para a economia nacional, aumentava a atribuição de títulos. Nos últimos anos do seu reinado, entre 1878 e 1889, Pedro II teria feito, ainda segundo a mesma autora, 370 barões (Schwarcz, 1998, p. 175). Os barões do café assim dominaram a política ao final do império, ocupando cargos importantes no governo. Fosse do alto das suas tribunas, com seus longos e pomposos discursos, fosse em conversas mais íntimas, sussurradas ao pé do ouvido, e investidos dos cargos de deputados, senadores, ministros, juízes ou mesmo assessores do imperador, os grandes cafeicultores faziam pressão constante para viabilizar seus interesses. Mas a vida desses barões, em finais da década de 1870, não era assim tão tranqüila como pode parecer à primeira vista. Grandes impasses sociais e políticos se apresentavam, além de graves questões econômicas. O país estava mergulhado em dificuldades financeiras e dívidas decorrentes da guerra contra o Paraguai (veja também Episódio 6 – A guerra do Paraguai). O crescimento das cidades e os novos investimentos capitalistas – que geraram o estabelecimento de pequenas fábricas, a instalação de serviços públicos, as melhorias urbanas e a construção de ferrovias – exigiam novas formas de comportamento e adaptação às mudanças e novidades. Finalmente, a proibição do tráfico negreiro, em 1850, praticamente condenara a escravidão à ilegalidade, sem falar que nas ruas das grandes cidades do império o movimento abolicionista crescia dia a dia, angariando cada vez mais adeptos – e isso criava a necessidade de alternativas para solucionar a questão da mão-de- obra (veja também Episódio 8 – A Abolição). De todos, esse era, para os cafeicultores, o problema mais urgente a ser resolvido. Extinto o tráfico negreiro, as discussões da elite acerca da substituição do braço escravo atravessaram toda segunda metade do século 19. As alternativas e soluções motivaram acirrados debates. Tanto nas tribunas políticas e associações de classe como nas ruas, as propostas apontavam em várias direções, mas não resta dúvida que a imigração estrangeira era uma das mais fortes candidatas a substituir a extenuante labuta diária dos escravos nas fazendas cafeicultoras. [BOX] O cotidiano numa fazenda de café do vale do Paraíba Em função das transformações ocorridas a partir da segunda metade do século 19, com a extinção do tráfico, o gênero de vida que se desenvolveu nas regiões produtoras de café teve características peculiares. Ao lado de fazendas onde o trabalho escravo convivia com a imigração crescente (como no oeste paulista), havia aquelas quase exclusivamente dependentes da mão-de- obra africana (como a que se formou inicialmente na região fluminense e no vale do Paraíba). Os primeiros tempos de expansão do café foram árduos. Um assentamento típico começaria com o desmatamento de grandes áreas de mata virgem a machadadas, abrindo uma clareira junto a um rio a fim de suprir água para o uso das pessoas e animais e os trabalhos da fazenda, para então construir os edifícios principais: a sede, a senzala e os galpões que contornavam um enorme pátio onde o café era secado. Num segundo quadrilátero, externo, eram erguidos os estábulos, chiqueiros, galpões e as casas de capatazes, feitores e outros trabalhadores livres que serviam no local. A área da sede parecia uma pequena cidade. Em boa parte das fazendas de café havia marcenaria, enfermaria, ferraria, armazém, capela e outros edifícios que, cercados por altas muralhas, davam ao visitante a impressão de uma fortaleza. A casa principal era construída em tijolo ou taipa, com um grande número de janelas que se abriam para a frente do prédio, enquanto na parte de trás geralmente era erguida uma varanda, de onde se podia observar o grande pátio formado pelos galpões e a senzala. O interior era composto de inúmeros aposentos, e gozava de relativo conforto, chegando, em algumas casas, a ser decorado com requinte. Móveis, cristais, tapeçarias, porcelanas, pratarias e os mais diversos objetos, na sua maioria de procedência européia, enfeitavam as residências mais ricas. A vida, dependendo das posses do fazendeiro, transcorria em meio ao azáfama de uma multidão de cativos e serviçais que, sob as ordens da senhora, atendiam as necessidades da casa. As cozinheiras corriam pela cozinha para preparar o almoço, que era servido por volta das nove horas; escravos circulavam pela casa num vaivém contínuo com jarras e bacias d’água destinadas à cozinha e à higiene dos senhores; amas amamentavam as crianças pequenas enquanto outras escravas costuravam, e as crianças brincavam à espera da hora das lições, ministradas por professores particulares. Do lado de fora, pajens cuidavam dos animais e preparavam os farnéis para a próxima viagem do senhor, enquanto marceneiros, ferreiros e outros empregados realizavam, nos galpões e oficinas, suas tarefas diárias. Por volta das cinco da tarde, com a chegada da noite, o chá era servido, seguido de conversas íntimas ou uma eventual partida de cartas. A senzala, como em toda grande propriedade, era suja e escura, sem janelas e com chão de terra batida. Nela amontoavam-se cestos, potes de barro, esteiras, uns poucos objetos pessoais e os instrumentos de tortura que castigavam os escravos desobedientes, preguiçosos ou afoitos. Durante o dia permanecia quieta e sem movimento, enquanto seus habitantes estavam trabalhando na sede ou nos cafezais. À noite agitava-se e se enchia de sons e animação, com o batuque dos tambores, cânticos e danças. A vestimenta dos escravos se resumia, na maioria das vezes, a uma tanga ou calça velha para os homens, e a uma saia e bata para as mulheres. Nos dias de festa ou de visitas importantes recebiam roupas novas e adereços que serviam para mostrar o prestígio e o poderio do seu senhor. A alimentação era à base de feijão, angu de milho, farinha de mandioca e eventualmente carne-seca. Além das doze a catorze horas de trabalho penoso expostos ao sol e à chuva no cafezal, os escravos ainda tinham de cuidar dos animais da fazenda, da horta e do pomar, e durante a noite preparar os alimentos para eles mesmos e os animais. Nos campos o trabalho era exaustivo e envolvia a limpeza dos cafezais e a colheita dos frutos maduros. Os escravos eram também responsáveis pelo processo de beneficiamento, etapa em que os grãos eram lavados e encaminhados ao terreiro para secar por aproximadamente dez dias. Depois de seco, o café era descascadoe separado por tamanho, sendo posteriormente ensacado. Estava então pronto para torrefação ou comercialização in natura. Propostas e soluções para a carência de mão-de-obra Depois de muitas pressões internacionais, principalmente por parte da Inglaterra, o tráfico de escravos africanos, em 1850, foi definitivamente proibido (veja também Episódio 8 – A Abolição). Para os grandes proprietários o problema era de extrema gravidade. Como ressaltou Eduardo Silva, “o sistema [escravista] em si, solidamente implantado desde os primórdios da colonização, perdera o segredo da sua própria reprodução” (Silva, 1997, p. 105). A questão que se impôs foi: como manter residências, lojas, propriedades, enfim, toda economia funcionando sem o braço escravo? Nesse momento de crise, era urgente uma alternativa, sobretudo para os fazendeiros de café, cuja produção se constituía praticamente no sustentáculo da economia brasileira. No começo, para manter suas propriedades, eles recorreram à compra de escravos de outras regiões do país, principalmente do Nordeste, onde a lavoura canavieira encontrava-se em declínio. Apesar de sanar momentaneamente a questão, o tráfico interprovincial não resolveu o problema, pois os preços subiram assustadoramente, alcançando cifras inimagináveis (veja também Episódio 8 – A Abolição). Basta dizer que entre 1850 e 1880 houve um aumento cerca de 600%! Indecisos diante da nova realidade que se apresentava, os grandes proprietários começaram a pensar em diferentes alternativas para o problema, quase todas elas baseadas na imigração. Se para alguns a solução passava pela vinda de asiáticos, conhecidos como coolies – chineses e indianos que trabalhariam em regime de semi-escravidão, recebendo salários baixíssimos –, para outros grupos a melhor proposta continuava sendo a de arregimentar imigrantes europeus. Estes, engajados por contrato, prestariam serviços nas fazendas de café, a exemplo do que já havia sido tentado pelo senador Vergueiro em fins da década de 1840. Uma outra sugestão era a importação de africanos livres, braços já comprovadamente eficientes no trabalho da lavoura. Mas os debates e as propostas não estavam restritos apenas aos barões do café ou seus representantes. Outros grupos sociais e diferentes facções políticas também se expressavam e apresentavam possíveis soluções. Para alguns governantes e senhores de engenho nordestinos, a idéia mais exeqüível era a o aproveitamento da força de trabalho nacional. Pensando sobretudo nos altos custos que envolviam os projetos de imigração e nas dificuldades que vinham enfrentando com a lavoura da cana em franco declínio, eles defendiam que, mediante treinamento e educação adequados, brasileiros livres suprissem as necessidades de mão-de-obra. Mas no outro extremo do país, representantes das colônias de imigrantes alemães que haviam se estabelecido com sucesso no Rio Grande do Sul nas décadas anteriores defendiam a idéia da imigração de europeus. Estes, ao contrário do que preconizavam os cafeicultores, não trabalhariam nas grandes lavouras de café, cujas safras eram voltadas para o mercado externo, mas em pequenas propriedades que visariam a produção para o consumo interno. Por trás de cada proposta havia idéias e concepções diferentes acerca do futuro do país. Alguns analisavam o problema apenas sob o prisma econômico: o que precisava ser resolvido era a “carência de braços”. Para outros grupos da elite, o problema era mais abrangente: a questão não se restringia à substituição do trabalho escravo, mas estava relacionada com a própria composição étnica e cultural da país. Baseados nas teorias científicas então em voga, eles condenavam a idéia da vinda dos coolies, considerando-os “uma raça inábil e fraca para o serviço do campo”. Os asiáticos seriam, segundo concepções da época, “culturalmente inferiores”, e acabariam por promover o “cruzamento de raças disparatadas”, resultando na “mongolização do país”. Enfim, nas palavras de alguns grandes proprietários, o ideal seria a vinda da “imigração branca, européia, livre e inteligente”. Esta sim, “altiva, cheia de ardor no trabalho e industriosa”, capaz de contribuir para o progresso e civilização do Brasil. Percebe-se, portanto, que além dos fatores econômicos e políticos, o debate nessa fase envolvia também questões teóricas e dogmas científicos e intelectuais mais amplos. Raça, religião e cultura constituíam importantes elementos a serem incluídos no debate. As colônias de parceria A imigração estrangeira não era novidade. Desde as primeiras décadas do século 19, pequenos núcleos de colonos, alguns com apoio do governo, estabeleceram-se no Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e outras províncias. A partir de 1847, o senador Vergueiro tentou, na fazenda Ibiacaba, a introdução de colonos alemães e suíços, sob o sistema de parceria. Convivendo lado a lado com a escravidão, o sistema adotado por Vergueiro espalhou-se por várias fazendas de café, com apenas pequenas variações. Os colonos eram arregimentados na Europa mediante promessas de terras e bons lucros. Após a assinatura de um contrato, que estabelecia as obrigações e os direitos de parte a parte, os imigrantes partiam para o Brasil. As despesas da viagem, o traslado até a fazenda, assim como um adiantamento em dinheiro, até que o colono pudesse se manter, eram obrigação dos fazendeiros. Cada família ficava responsável pelo cultivo de determinado número de pés de café e pela colheita e beneficiamento do seu produto. Os imigrantes também tinham direito de plantar para seu sustento em terrenos determinados pelos fazendeiros. Após comercializar a safra, o proprietário era obrigado a entregar ao colono metade do lucro líquido referente às terras por ele trabalhadas. Quanto à dívida com as despesas iniciais feitas pelo proprietário (viagem, transporte e outras), deveria ser saldada pelo colono com acréscimos que variavam de 6% a 12% de juro. Os estrangeiros tinham de se conduzir disciplinadamente e a saída definitiva da fazenda só era permitida após comunicado por escrito e o pagamento de todas as dívidas. Em resumo, o imigrante chegava na fazenda de café endividado, mas esperançoso de que conseguiria pagar as dívidas num curto prazo, devido às promessas feitas no momento do recrutamento. No entanto, nem tudo ocorria como prometido pelos agentes que os aliciavam na Europa. Insatisfações e críticas, tanto por parte dos proprietários quanto dos colonos, marcaram essa experiência. Em torno de 1856 começaram a circular notícias de descontentamento dos imigrantes. Os colonos questionavam o cálculo do rendimento do café produzido, a cobrança de comissões, os custos do transporte até o porto de Santos, as taxas de conversão de suas dívidas em moeda nacional, dentre outras queixas. No final de 1856 a fazenda de Ibiacaba foi palco de uma revolta dos colonos. Além de espalhar o medo entre os fazendeiros – pois a revolta na fazenda de Vergueiro não foi a única –, o sistema de parceria demonstrava, para os proprietários, que as soluções para a criação de uma força de trabalho eficaz e que suportasse um nível de exploração próximo da escrava estavam ainda longe de serem alcançadas. A década de 1870, com os fazendeiros certos da iminência da abolição, começava com previsões de crise de mão-de-obra. Em 1884 a Assembléia de São Paulo aprovou medida que concedia passagens gratuitas para imigrantes destinados à agricultura. Ao final da década de 1880, em torno de 100 mil imigrantes, predominantemente italianos, estavam assentados nos estabelecimentos agrícolas de São Paulo – quase o dobro de escravos empregados nas fazendas de café em 1885. Entre 1884 e 1914, chegaram a São Paulo cerca de 900 mil imigrantes, a maioria como mão-de-obra barata para as fazendas de café, o que assegurou, do ponto de vista dos senhores, uma transição mais tranqüilapara o fim da escravidão, bem como condições favoráveis para uma expansão continuada da produção cafeeira. Sugestão de atividade Explore a relação entre literatura e história, estimulando a leitura e discussão de romances ambientados no mundo rural desse período, a exemplo de O tronco do ipê, de José de Alencar, A escrava Isaura, de Bernardo Guimarães; livros de memórias como No tempo de dantes, de Maria Paes de Barros; ou crônicas sobre o tema, como as publicadas em Cidades mortas e Onda verde, de Monteiro Lobato. Nessas obras pode-se discutir o cotidiano da vida nas grandes fazendas, a sociabilidade familiar, o papel das mulheres e crianças, as relações sociais entre a casa-grande e a senzala, além do trabalho rural, dos hábitos alimentares, das formas de vestimenta, dos valores sociais etc. É importante fazer com que os alunos relatem suas observações, destacando as diferenças entre o mundo urbano e o rural, para se iniciar um processo de discussão sobre a especificidade do problema agrário na história do Brasil. Inicialmente, realize com a classe um levantamento da situação agrária da região, o tipo de propriedade predominante, o que se produz e para quê (exportação ou consumo local), se há conflitos pela posse da terra, qual o regime de trabalho predominante, se houve migração estrangeira em massa para a região, dentre outros aspectos. Bibliografia COSTA, Emília Viotti da. Da senzala à colônia. São Paulo, Livraria Ciências Humanas,1982. DAVATZ, Thomaz. Memórias de um colono no Brasil. São Paulo, Edusp/Itatiaia, 1980. HOLANDA, Sérgio Buarque de. História geral da civilização brasileira, vol 5. São Paulo, Difel, 1976. MAURO, Frédéric. A vida cotidiana no tempo de D. Pedro II. São Paulo, Companhia das Letras, 1991. PRADO Jr., Caio. História econômica do Brasil. São Paulo, Brasiliense, 1978. SCHWARCZ, Lilia M. As barbas do imperador. São Paulo, Companhia das Letras, 1998. SILVA, Eduardo. Dom Obá II d’África, o príncipe do povo. Vida, tempo e pensamento de um homem livre de cor. São Paulo, Companhia das Letras, 1997. STOLCK, Verena. Cafeicultura: homens, mulheres e capital (1859-1980). São Paulo, Brasiliense, 1986. TAUNAY, Affonso de E. História do café no Brasil, t. 3, vol. 5, Rio de Janeiro, Departamento Nacional do Café, 1939. CADERNOS DA TV ESCOLA 500 anos: o Brasil Império na TV Rua Direita, no Rio de Janeiro, em 1825. No centro e ao fundo, a Igreja da Ordem Terceira do Carmo e a Capela de Ordem do Carmo. Litografia aquarelada de Johann Moritz Rugendas (In: Malerische Reise in Brasilien, 1832). A capital do império A corte e seus bailes elegantes O Rio de Janeiro dos cortiços e da “África Pequena” Duas cidades tão próximas e tão distantes Sugestão de atividade Filmografia Bibliografia Não há como negar que durante todo o período imperial o Rio de Janeiro foi o centro dinâmico do Brasil. Para a corte convergiam as atenções do resto do país. Sua população cresceu de 137 mil habitantes, em 1838, para 235 mil, em 1870. Como vimos, com a vinda da família real para o Brasil a cidade passou por transformações em seu aspecto físico, e uma série de melhoramentos foram implementados. Apesar dos esforços no sentido de mudar a face colonial e dotar a cidade de melhor infra-estrutura, o Rio de Janeiro continuou, até o início do século 20, sendo vista como uma cidade “enferma”, que não provia sua crescente população de serviços básicos, e que era ciclicamente visitada por diversas moléstias, como febre amarela, varíola e cólera, dentre outras. A despeito de todas as mudanças operadas na feição da cidade e nos costumes da população, durante o reinado de D. Pedro II várias das marcas deixadas pelo passado colonial – a mais contundente delas sendo a escravidão – continuavam a incomodar a sensibilidade da elite brasileira e dos viajantes estrangeiros que visitavam o país. O mundo do trabalho calcado na mão-de-obra negreira não apenas separava e marginalizava escravos e homens livres, mas praticamente criara duas cidades, que só se cruzavam em alguns poucos momentos. Havia o Rio de Janeiro representado pela rua do Ouvidor, com suas estrangeirices, bailes de gala, intrigas da corte, óperas e audições musicais (embora não deixasse de sofrer também com suas epidemias e doenças), e o Rio dos cortiços, com suas festas populares alegres e ruidosas, misturas de línguas africanas e tipos físicos, brigas de capoeiras e forte influência da cultura africana. Não obstante a segregação e a rígida estrutura da sociedade brasileira no século 19, o convívio entre as diversas camadas sociais se dava de forma complexa, fugindo a todos os esboços que se possa tentar montar. Na aparente dicotomia que essa sociedade sui generis apresentava, lacunas abriam espaços para variados tipos de relacionamento, que fugiam ao senso comum. Formas de socialização permitiam o convívio de elementos culturais diversos, dando um caráter ímpar ao Brasil imperial. Mas o colorido e o movimento das ruas, com os vendedores ambulantes e negras quituteiras entoando seus pregões, os senhores de casaca dirigindo-se a suas lojas e escritórios, senhoras indo à igreja ou às compras e o aspecto exuberante da natureza tropical que encantava os visitantes não conseguiam apagar as contradições de uma estrutura rigidamente hierarquizada e desigual, onde a mão-de-obra escrava se constituía na base de toda a máquina produtiva. Como conciliar o desejo de fixar uma imagem de civilização diante de tal realidade? Se por um lado a corte se pretendia sofisticada e culta, seguindo a etiqueta e os padrões de comportamento europeus, por outro esbarrava nos limites evidentes que a escravidão lhe impunha. Assim, o novo império que se configurava não só se constituiria a partir da tradição e das normas de conduta das casas imperiais européias, como também somaria a esses elementos da cultura local traços de uma sociedade marcada pela herança colonial, pela escravidão e por uma natureza e geografia diversas, que lhe conferiam características absolutamente únicas. A seguir, serão apresentados alguns aspectos dessa sociedade que crescia tão plena de contradições, mostrando o distanciamento existente entre os dois mundos: o da elite e o das camadas populares livres e escravos. A corte e seus bailes elegantes Apesar de, na maturidade, Pedro II se revelar retraído e discreto, não eram poucas as oportunidades festivas na corte. Tudo se apresentava como motivo para comemoração. Havia aparições públicas, cerimônia do beija-mão, cortejos reais, festas em datas cívicas, coroações, batizados e casamentos. Além das cerimônias e comemorações oficiais, as festividades religiosas tradicionais – procissões, novenas – e as profanas – como cavalhadas, corridas de touros etc. – movimentavam a vida social da elite. No âmbito mais restrito, as famílias abastadas divertiam-se em bailes, saraus literários, concertos, banquetes, peças teatrais, corridas do Prado Fluminense, regatas no Botafogo e passeios pela rua do Ouvidor. Até meados da década de 1860, antes da Guerra do Paraguai, houve um período em que a sociedade foi acometida por uma “febre” de saraus, concertos e bailes. Inspirados nas festas parisienses do Segundo Império, organizavam-se no Rio de Janeiro inúmeras sociedades e clubes, nos diversos bairros, que periodicamente promoviam eventos dançantes. Também faziam enorme sucesso os bailes oferecidos pelas principais famílias da corte, que, às vezes, abriam os salões das suas residências em dias fixos da semana. Era nos bailes que a elite experimentava toda a frivolidade dessa vida mundana. Vestia-se e penteava-se segundo a última moda em Paris, e seguia, em nome da “civilidade”, regras e padrões de etiqueta que eram divulgados nos manuais de bons costumes, muito lidos na época. Nos saraus serviam-se pratos requintados; dançavam-se
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